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Conceito Obrigação é a relação jurídica que, unindo dois ou mais sujeitos, faz com que um tenha o dever de adimplir uma prestação em benefício do outro. Tipos de obrigação Existem 3 tipos de obrigação: o Civil: débito + responsabilidade. o Natural: débito sem responsabilidade (ex.: dívida de jogo/aposta). o De garantia: responsabilidade sem débito (ex.: seguro). Débito x Responsabilidade O conceito de débito não se confunde com o de responsabilidade. Vejamos DÉBITO RESPONSABILIDADE Existência de uma dívida. Possibilidade de cobrança em juízo. Quando o débito e a responsabilidade estão presentes em uma obrigação, recaindo ambos sobre a pessoa do devedor, diz-se que essa obrigação é PERFEITA. Ao revés, se numa relação obrigacional houver a presença de um dos elementos sem a do outro (débito sem a consequente responsabilidade), a obrigação será considerada IMPERFEITA. Elementos São elementos da relação obrigacional Das Obrigações PARTE ESPECIAL SUJEITOS Credor(es) e devedor(es). OBJETO É a prestação (dar, fazer ou não fazer alguma coisa), que deve ter conteúdo patrimonial e ser lícita, possível e determinada ou determinável. VÍNCULO JURÍDICO Contratos, declarações unilaterais da vontade, atos ilícitos etc. Esquematizando: Class if icação Obrigação de dar É o compromisso de entrega (ex.: compra e venda) ou restituição (ex.: comodato) de coisas. o Dar coisa certa: a prestação é definida pelo gênero, quantidade e qualidade da coisa a ser entregue. o Dar coisa incerta: a prestação será apenas definida pelo gênero (o que?) e pela quantidade (quantos?). A obrigação de dar coisa incerta nasce incerta, mas para ser cumprida precisa ser especificada (torna-se certa). Em regra, a escolha da qualidade na obrigação genérica caberá ao devedor. Em caso de perecimento (destruição total) ou deterioração (destruição parcial) da coisa, devem ser observadas as seguintes regras SEM CULPA DO DEVEDOR COM CULPA DO DEVEDOR ENTREGAR PERECIMENTO Resolve-se a obrigação. Resolve + perdas e danos. DETERIORAÇÃO Resolve, OU Abatimento. Resolve + perdas e danos, OU Abatimento + perdas e danos. RESTITUIR PERECIMENTO Resolve-se a obrigação. Resolve + perdas e danos. DETERIORAÇÃO Recebe a coisa no estado em que se encontra. Resolve + perdas e danos, OU Abatimento + perdas e danos. Dicas o O devedor é responsável apenas até a entrega. o Havendo culpa (dolo + culpa), há perdas e danos. Obrigação de fazer Realizar uma atividade ou serviço em prol do credor. o Obrigação de fazer fungível: não se exige qualquer qualidade especial do devedor. o Obrigação de fazer infungível: obrigação intuitu personae ou personalíssima, porque há uma demanda de qualidades especiais do devedor. Observa as seguintes regras INFUNGÍVEL OU PERSONALÍSSIMA Seu inadimplemento pode acarretar perdas e danos. FUNGÍVEL OU PESSOAL Em caso de mora ou inadimplemento, o credor poder mandar terceiro executar à custa do devedor (sem prejuízo da indenização). Obrigação de não fazer Compromisso de abstenção por parte do devedor de realizar alguma atividade que em tese seria lícito a ele realizar. Serão sempre infungíveis. O inadimplemento ocorre quando o devedor “faz” . Observa as seguintes regras QUANDO NÃO DÁ PRA DESFAZER Com culpa → resolve + perdas e danos. Sem culpa → resolve. QUANDO DÁ PRA DESFAZER O credor pode exigir seu desfazimento ou desfazer às suas custas (sem prejuízo das perdas e danos devidas pelo culpado). Demais modalidades de obrigações Obrigação simples: um sujeito passivo e um objeto. Obrigação composta: multiplicidade de sujeitos ou de objetos. Objetivamente compostas (multiplicidade de objetos): o Obrigação alternativa. o Obrigação cumulativa. o Obrigação facultativa. Subjetivamente compostas (multiplicidade de sujeitos): o Obrigações divisíveis ou fracionárias. o Obrigações indivisíveis. o Obrigações solidárias. o Obrigações alternativas. Obrigações objetivamente compostas Obrigação alternativa: o devedor se liberará pagando qualquer das prestações ajustadas, sendo que a escolha entre as prestações alternativas, em regra, será deste. Observa as seguintes regras SEM CULPA Perda de uma das prestações → a obrigação concentra-se na restante. Perda de ambas as prestações → extinguir-se-á a obrigação. CULPA DO DEVEDOR + ESCOLHA DO DEVEDOR Perda de uma das prestações → a obrigação se concentra na restante. Perda de ambas as prestações → dever-se-á analisar qual a prestação que por último se perdeu, sendo obrigado o devedor a pagar o equivalente mais perdas e danos quanto a esta. CULPA DO DEVEDOR Perda uma das prestações → o credor poderá escolher entre a prestação restante ou o equivalente mais perdas e danos. + ESCOLHA DO Perda de ambas as prestações → o credor escolherá qualquer delas (equivalente mais perdas e danos). CREDOR Obrigação cumulativa: o devedor será obrigado a pagar todos os objetos determinados. Observa as seguintes regras SEM CULPA DO DEVEDOR Perda de uma das prestações → a obrigação se extinguirá parcialmente e se tornará uma obrigação simples. Perda de ambas as prestações → extinguir-se-á a obrigação para ambas as partes. COM CULPA DO DEVEDOR Perda de uma das prestações → este deverá pagar o equivalente mais perdas e danos em relação ao objeto que se perdeu e, ainda, adimplir a prestação restante. Perda de ambas as prestações → este deverá pagar o equivalente mais perdas e danos em relação a todos os objetos que se perderam. Obrigação facultativa: eventualmente o devedor pode se valer da prestação secundária (subsidiária) para adimplir a obrigação. Observa as seguintes regras OBJETO SECUNDÁRIO Perda com culpa ou sem culpa do devedor → haverá apenas a extinção de seu direito potestativo de optar entre quaisquer das prestações. OBJETO PRINCIPAL Perda sem culpa do devedor → extingue-se a obrigação, já que ele, por evidente, não terá interesse em adimplir o objeto secundário e nem poderá ser constrangido a tanto. Perda com culpa do devedor → o devedor poderá escolher entre pagar o equivalente mais perdas e danos ou entregar o objeto subsidiário. REGRA GERAL: divisibilidade de uma obrigação. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolve em perdas e danos. A SOLIDARIEDADE NÃO SE PRESUME Obrigações subjetivamente compostas Obrigações divisíveis ou fracionárias: terão seu objeto dividido de acordo com o número de credores ou devedores que se fizerem presentes (a obrigação é rateada entre as partes). Obrigações indivisíveis: a prestação poderá ser exigida em sua integralidade, pela impossibilidade de fracionamento do objeto. Tem como objeto um bem indivisível. Pluralidade de devedores na obrigação indivisível: qualquer deles poderá ser demandado a pagar a dívida por inteiro. O devedor da obrigação indivisível que a paga se sub-rogará no direito de crédito, passando a ocupar então o lugar do credor originário. Observa as seguintes regras o Se o objeto da obrigação indivisível se perder sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação. o Se a perda se der com culpa do devedor, dever-se-á pagar o equivalente mais perdas e danos. Pluralidade de credores na obrigação indivisível: poderá cada um destes exigir a dívida inteira, sendo que o devedor se desonera somente se o Pagar todos em conjunto. o Pagar a um deles e obter caução de ratificação dos demais. De qualquer forma, os outros credores poderão cobrar daquele que recebeu. Obrigações solidárias: no polo passivo, aquele que somente seria responsável por pagar a sua parte poderá ser responsável pela dívida inteira. No campo ativo, aquele que deveriareceber a sua parte poderá exigir a dívida como um todo. Quem pagar ou receber a dívida toda, terá de ajustar suas contas com os codevedores ou cocredores. Qualquer deles que receber ou pagar acarretará a extinção da solidariedade. A morte de um dos devedores ou credores solidários extingue a solidariedade em relação aos herdeiros desse falecido. Entretanto, se além de solidária a obrigação for também indivisível, permanecerá para os herdeiros a possibilidade de cobrar a dívida por inteiro ou a responsabilidade pela dívida integral. ROTEIRO 7 – Obrigações OBRIGAÇÕES INDIVISÍVEIS E OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS Obrigações Solidárias Obrigações Indivisíveis - Importa os sujeitos da relação - Importa o objeto da prestação (que é indivisível) - Cada devedor paga por inteiro porque deve Integralmente - Cada devedor paga por inteiro em razão da impossibilidade de dividir a coisa devida em partes Resulta da lei ou da vontade. - Justifica-se pela indivisibilidade da obrigação, pois o objeto da mesma é insuscetível de fracionamento - A solidariedade se mantem mesmo na sua conversão em perdas e danos. - Termina quando a obrigação se converte em perdas e danos, pois estas são fracionadas. OBRIGAÇÕES SOLIDÁRIAS 1 Conceito Obrigação solidária é aquela em que, havendo vários devedores, cada um responde pela dívida inteira, como se fosse o único devedor. Se a pluralidade for de credores, pode qualquer deles exigir a prestação integral, como se fosse único credor (art. 264). A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes (art. 265). Carlos Roberto Gonçalves) Art. 264 CC/02: Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. 2 Características: a) pluralidade de credores (solidariedade ativa), ou de devedores (Solidariedade passiva) b) integralidade da prestação; c) corresponsabilidade dos interessados. Satisfeita a obrigação devida, liberam-se todos os codevedores perante o credor. Mas o que solve pode reaver dos demais as quotas de cada um (corresponsabilidade). Da mesma forma, o credor que recebe sozinho o pagamento fica obrigado perante os demais, aos quais deve prestar contas, pelas quotas de cada um. 2 Não se presume Art. 265 CC/02: A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. Solidariedade é exceção. Se não tiver nada na lei ou não mencionar nada em contrato, a obrigação pode ser fracionada entre credores e devedores. 3 Esquema SOLIDARIEDADE ATIVA SOLIDARIEDADE PASSIVA Dispositivo Art. 267 CC/02 Art. 275 CC/02 Conceito Mais de um credor, podendo cada um cobrar a dívida toda. Mais de um devedor, cada qual responsável pela dívida toda Rateio Art. 272: O credor solidário que recebe algo, tem que pagar a cota-parte para os demais Art. 283: O devedor solidário que pagar a dívida inteira, pode exigir a cota parte dos demais devedores. Inoponibilidade de exceções pessoais a terceiros Art. 273: A um dos credores solidários não pode o devedor opor as exceções pessoais oponíveis aos outros. Ex: Carlos, Léo e Cris são credores solidários de R$ 5.000,00 de Ramires. Carlos cobra Ramires e este alega que não o pagará porque Léo lhe deve R$ 5.000,00. Isso não é possível. Só será possível se Léo cobrar Ramires. Nesse caso, Ramires poderá alegar a exceção pessoal. (Exceção de compensação). Art. 281: O devedor demandado pode opor ao credor as exceções que lhe forem pessoais e as comuns a todos; não lhe aproveitando as exceções pessoais a outro co-devedor. Ex: Maria é credora de Neuza e Daniel (devedores solidários), no valor de R$ 5.000,00. Maria cobra Neuza, que não pode alegar que não pagará porque Maria deve para Daniel e que pretende a compensação. Ela tem que pagar Maria. Só se Maria cobrar diretamente a Daniel, é que este poderá alegar a compensação em seu favor. 4 Processo Art. 268 CC. Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar. Enquanto não houver processo, o devedor pode pagar a dívida para quaisquer dos credores solidários. Mas depois que houver processo, somente o que processou é que pode dar quitação válida. Só quem entrou com o processo pode dar quitação. 5 Perdas e danos Art. 271 CC/02: Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade. Poliana e Tiago tinham que entregar um cachorro, que vem a morrer por culpa deles e a obrigação se transforma em perdas e danos no valor de R$ 10.000,00. Ambos continuam solidários no valor das perdas e danos. Quaisquer dos dois pode ser chamado para pagar a dívida inteira. 6 Litígio entre co-credor e devedor Se o co-credor perder, perde sozinho a ação. Mas se ganhar, ganha para todo mundo (todos os co-credores serão beneficiados. Art. 274 CC/02: O julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais, mas o julgamento favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal que o devedor tenha direito de invocar em relação a qualquer deles. 7 Regras para solidariedade Passiva 7.1 Agravamento da dívida solidária Nenhum devedor solidário pode agravar a dívida para os demais, sem o consentimento deles. Ex: tem cinco devedores solidários de Ana. Um deles se encanta com Ana e diz que eles pagarão 12.000 para ela. Art. 278 CC/02: Qualquer cláusula, condição ou obrigação adicional, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes. 7.2 Perdas e danos por um dos co-devedores Art. 279 CC/02: Só quem deu causa às perdas e danos deve pagá-las sozinho. Ex: Carlos e Salomão são devedores de Leandro, no valor de R$ 5.000,00. Salomão pega o dinheiro para pagar Leandro e por descuido, perde o dinheiro. Ambos respondem pelo principal (5.000,00), mas só Salomão deve perdas e danos. 7.3 Regresso contra quem se aproveitou da dívida Art. 285 CC/02: Se a dívida solidária interessar exclusivamente a um dos devedores, responderá este por toda ela para com aquele que pagar. Regra é que o devedor solidário que pagar a dívida tem direito de regresso contra os co-devedores na cota-parte correspondente. Regra: rateio do art. 283. Maria e Roberto são devedores solidários de Sofia. Maria paga tudo. Tem direito de regresso da metade de Roberto. Porém, se Roberto é avalista de uma dívida de Maria e ela pagar a obrigação, não terá direito de regresso contra Roberto. Questões: Obs.: A profa dará visto; 1) Diferencie a obrigação solidária da obrigação indivisível. 2) Kleber emitiu uma Nota Promissória no valor de R$ 10.000,00, em favor do credor Carlos. O credor exigiu avalistas. Por esse motivo, Sandra e Wilson avalizaram a cambial. No vencimento, porém, o devedor não pagou a dívida. a) Há solidariedade nesse caso? b) Se Carlos executar o avalista Wilson, ele terá direito de regresso? c) Se Carlos executar a avalista Sandra, ela terá direito de regresso? d) Se Carlos executar Kleber, ele terá direito de regresso? CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES QUANTO AO FIM A QUE SE DESTINA Referência para o conteúdo a seguir: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil: direito das obrigações - parte geral, v. 5. As obrigações podem se diferenciar quanto ao fim a que se destina. Nesse sentido, a obrigação pode ser de meio, de resultado e de garantia. - Obrigação de Meio Obrigações quanto ao fim a que se destina - Obrigação de Resultado - Obrigação de garantia 1) Obrigação de Meio: O devedor promete empregar seusconhecimentos, meios e técnicas para a obtenção de determinado resultado, sem no entanto, responsabilizar-se por ele. Ex: Advogados: Conforme expõe Gonçalves, não se obrigam a vencer a causa, mas a bem defender os interesses dos clientes. Como o advogado não se obriga a obter ganho de causa para o seu constituinte, fará ele jus aos honorários advocatícios, que representam a contraprestação de um serviço profissional, ainda que não obtenha êxito, se agir corretamente, com diligência normal na condução da causa. Médicos: O objeto do contrato médico não é a cura (o que seria uma obrigação de resultado), mas a prestação de cuidados conscienciosos, atentos, e, de acordo com as aquisições de ciência. Comprometem-se a tratar o cliente com zelo, utilizando-se dos recursos adequados, não se obrigando, contudo, a curar o doente. Serão, pois, civilmente responsabilizados somente quando ficar provada qualquer modalidade de culpa: imprudência, negligência ou imperícia. (GONÇALVES). 2 Obrigação de resultado “O devedor dela se exonera somente quando o fim prometido é alcançado. Não o sendo, é considerado inadimplente, devendo responder pelos prejuízos decorrentes do insucesso”. Exemplo: Cirurgia plástica Jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: O STJ firmou o entendimento de que a cirurgia plástica gera obrigação de resultado. Veja-se: “Os procedimentos cirúrgicos de fins meramente estéticos caracterizam verdadeira obrigação de resultado, pois neles o cirurgião assume verdadeiro compromisso pelo efeito embelezador prometido (REsp 1.180.815, DJe 26-8-2010). “Entende-se também que o transportador assume uma obrigação de resultado: transportar o passageiro são e salvo, e a mercadoria sem avarias, ao seu destino. A não obtenção desse resultado importa o inadimplemento das obrigações assumidas e a responsabilidade pelo dano ocasionado. Não se eximirá da responsabilidade provando apenas ausência de culpa. Incumbe-lhe o ônus de demonstrar que o evento danoso se verificou por força maior, causa estranha ao transporte e equiparada ao fortuito, culpa exclusiva da vítima ou, ainda, fato exclusivo de terceiro”. ”A jurisprudência, inclusive a do Superior Tribunal de Justiça, tem considerado causa estranha ao transporte, equiparável ao fortuito, disparos efetuados por terceiros contra os trens, ou pedras que são atiradas nas janelas ferindo passageiros ou, ainda, disparos efetuados no interior de ônibus, inclusive durante assaltos aos viajantes”. 3) Obrigação de garantia “É a que visa a eliminar um risco que pesa sobre o credor, ou as suas consequências. Embora este não se verifique, o simples fato do devedor assumi-lo representará o adimplemento da prestação. Constituem exemplos dessa obrigação a do segurador e a do fiador”. (Carlos Roberto Gonçalves). CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES QUANTO AOS ELEMENTOS ACIDENTAIS DO NEGÓCIO JURÍDICO São três os elementos acidentais do negócio jurídico: a condição, o termo e o encargo ou modo. Quantos aos referidos elementos, as obrigações classificam-se em puras e simples, condicionais, a termo e modais ou com encargo. 1) Obrigações puras e simples São as não sujeitas a condição, termo Ou encargo. São as que produzem efeitos imediatos, logo que contraídas. Ex: Aberto e aprovado o testamento, opera-se imediatamente o efeito do ato, tornando-se o beneficiário proprietário perfeito do aludido bem. 2 Obrigações condicionais são aquelas cujo efeito está subordinado a um evento futuro e incerto. Art. 121 CC/02: “Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto”. Exemplo: A se obriga a dar um carro a seu filho, se ele passar em certo vestibular. 3 Obrigação a termo (ou a prazo) “É aquela em que as partes subordinam os efeitos do negócio jurídico a um evento futuro e certo. Termo é o dia em que começa ou se extingue a eficácia do negócio jurídico. Termo convencional é a cláusula contratual que subordina a eficácia do negócio a evento futuro e certo. Difere da condição, que a subordina a evento futuro e incerto”. Exemplo: Maria se obriga a pagar uma Nota Promissória à Helena em 01/01/2024. Vencida a obrigação, o devedor se constitui em mora, independentemente de interpelação. 4 Obrigação modal (com encargo ou onerosa) “É a que se encontra onerada por cláusula acessória, que impõe um ônus ao beneficiário de determinada relação jurídica. Trata-se de pacto acessório às liberalidades (doações, testamentos), pelo qual se impõe um ônus ou obrigação ao beneficiário. É admissível, também, em declarações unilaterais da vontade, como na promessa de recompensa, e raramente nos contratos onerosos (pode ocorrer na compra e venda de um imóvel, com o ônus de franquear a passagem ou a utilização por terceiros, por ex.)”. Exemplo: Pérsio doa um imóvel à Tïto, para que nele seja construída uma escola. Roteiro 8 Fonte utilizada neste roteiro: GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil: direito das obrigações – parte geral. 19. Ed. São Paulo: Saraiva, v. 5. ADIMPLEMENTO, EXTINÇÃO E TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES PAGAMENTO DAS OBRIGAÇÕES “O principal efeito das obrigações é gerar para o credor o direito de exigir do devedor o cumprimento da prestação, e para este o dever de prestar. (...) Cumprida, esta se extingue. A extinção da obrigação é, portanto, o fim colimado pelo legislador”. 1 Conceito de Pagamento “A extinção dáse, em regra, pelo seu cumprimento, que o Código denomina pagamento. Embora essa palavra seja usada, comumente, para indicar a solução em dinheiro de alguma dívida, o legislador a empregou no sentido técnicojurídico de execução de qualquer espécie de obrigação”. Pagamento corresponde ao cumprimento ou adimplemento da obrigação. É o cumprimento da obrigação, ou seja, é dar, fazer ou não fazer algo, conforme convencionado. 2 Elementos do pagamento Para que haja pagamento, é necessário observar os seguintes elementos: a) Quem paga: O devedor (principal interessado) ou terceiro interessado (avalista, fiador, sub-locatário) ou até mesmo, terceiro não interessado (pai, mãe, por causa de aspectos morais). Art. 304 CC/02: Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Parágrafo único. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste. O terceiro interessado (avalista, por exemplo) tem direito de efetuar o pagamento da obrigação, sub-rogando-se, pleno jure, nos do credor (CC, art. 346, III). A sub-rogação transfere-lhes todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo credor, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores (art. 349). Se o devedor tiver meios para ilidir a ação do credor, totalmente, como a arguição de prescrição ou decadência, compensação, novação etc., não ficará obrigado a reembolsar aquele que pagou (CC, art. 306). O terceiro só terá direito a reembolso até a importância que realmente aproveite ao devedor A recusa do credor em receber o pagamento oferecido pelo devedor ou por qualquer outro interessado lhes dá o direito de pro- mover a consignação. Porém, pode o credor recusar o pagamento por terceiro se a obrigação, por sua natureza, tiver de ser cumprida pelo devedor (intuitu personae ou personalíssima). b) Quem recebe o pagamento (a quem se paga): Ao credor ou a quem o representa. Art. 308 CC/02: O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito. Art. 310 CC/02: Não vale o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu. “O pagamentoefetuado a quem não desfruta dessas qualidades é indevido e propicia o direito à repetição”. c) Como paga (objeto do pagamento) Art. 313 CC/02: O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. d) Prova do pagamento (quitação) Art. 319: O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada. Regra: o pagamento não se presume. Deve ser provado pela regular quitação fornecida pelo credor. Assim, a quitação (recibo de pagamento) deverá ser dada, portanto, por escrito, público ou particular. Dispensa a quitação: a) quando a dívida é representada por título de crédito, que se encontra na posse do devedor; b) quando o pagamento é feito em quotas sucessivas, existindo quitação da última. e) Local do pagamento (onde se paga) Art. 327 CC/02: Efetuarseá o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. Quando o pagamento tiver que ser feito no domicílio do devedor, dizse que a dívida é quesível, devendo o credor buscar, procurar o pagamento no domicílio daquele. “Quando se estipula, como local do cumprimento da obrigação, o domicílio do credor, dizse que a dívida é portável, pois o devedor deve levar e oferecer o pagamento nesse local”. f) Momento do pagamento (quando paga) Art. 331 CC/02: Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigilo imediatamente. Regra: O pagamento deve ser feito no vencimento. Exceção a essa regra: antecipação do vencimento, nos casos expressos em lei; outra, referente ao pagamento antecipado, quando o prazo houver sido estabelecido em favor do devedor. 2 Modalidades de pagamento 2.1 Pagamento direto Pode ser direto ou indireto. Pagamento direto: o cumprimento da obrigação ocorre nos moldes em que foi acordado. Pagamento indireto: o cumprimento da obrigação é feito de forma diversa da acordada. Casos de pagamento indireto: pagamento em consignação, a novação, a compensação, a transação etc. 2.2 Pagamento Indireto 2.1 Pagamento em consignação “Pagar não é apenas um dever, mas também um direito do devedor. Se não for possível realizar o paga mento diretamente ao credor, em razão de recusa injustificada deste em receber, ou de alguma outra circunstância, poderá valerse da consignação em pagamento, para não sofrer as consequências da mora”. O pagamento em consignação consiste no depósito, pelo devedor, da coisa devida, com o objetivo de liberarse da obrigação. É meio indireto de pagamento, ou pagamento especial. (Art. 334 CC/02). Fundamentos legais da Consignação Arts. 334 a 345 CC/02 (direito material) Arts. 539 a 549 CPC/2015 (direito processual). A ação de consignação em pagamento deve ser proposta pelo devedor contra o credor, em casos onde o credor se recusa a receber o valor de dívida ou exige valor superior ao devido do devedor, além de outros casos admitidos em lei. Fatos que autorizam a consignação: Art. 335 CC/02: apresenta um rol não taxativo: I - se o credor não puder, ou, sem justa causa, recusar receber o pagamento, ou dar quitação na devida forma; II - se o credor não for, nem mandar receber a coisa no lugar, tempo e condição devidos; III - se o credor for incapaz de receber, for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; IV - se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento; V - se pender litígio sobre o objeto do pagamento. 2.2 Pagamento com sub-rogação no Direito das Obrigações O pagamento com subrogação permite que se efetue o pagamento de uma dívida, substituindose o sujeito da obrigação, mas sem extinguila, visto que a dívida será considerada extinta somente em face do credor primitivo, porém, remanesce os direitos obrigacionais do novo titular do crédito, que subrogase no lugar daquele. Ex: O avalista que paga a obrigação no lugar do devedor originário, subrogase no direito de crédito, em face desse devedor, passando a ocupar, com o pagamento, a posição de credor da obrigação. “A extinção obrigacional ocorre somente em relação ao credor, que fica satisfeito. Nada se altera para o devedor, que deverá pagar ao terceiro, sub‐rogado no crédito”. 2.3 Imputação do pagamento “A imputação do pagamento consiste na indicação ou determinação da dívida a ser quitada, quando uma pessoa se encontra obrigada, por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, e efetua pagamento não suficiente para saldar todas elas”. Art. 352 CC/02: A pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, tem o direito de indicar a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. Exemplo de caso em que se justifica a imputação do pagamento: “Se, por vários títulos de dívida líquidos e certos, já vencidos, devo alguém cinquenta, cento e cinqüenta e duzentos reais, e ofereço em pagamento importância inferior à soma dos débitos, importa saber, no caso de o credor aceitála, em qual destes deve ser imputado o pagamento. Sendo de cinquenta reais a oferta, é preciso decidir se estão destinados a extinguir a dívida desse valor ou se constituem pagamento parcial de qualquer das outras”. (Orlando Gomes) A imputação ao pagamento ocorrer mediante acordo entre as partes ou por previsão legal. https://pt.wikipedia.org/wiki/Pagamento_(direito) https://pt.wikipedia.org/wiki/D%C3%ADvida https://pt.wikipedia.org/wiki/Obriga%C3%A7%C3%A3o Art. 355 CC/02: Se o devedor não fizer a indicação do art. 352 (imputação), e a quitação for omissa quanto à imputação, esta se fará nas dívidas líquidas e vencidas em primeiro lugar. Se as dívidas forem todas líquidas e vencidas ao mesmo tempo, a imputação farseá na mais onerosa. 2.4 Dação em Pagamento Regra: o credor não é obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa (CC, art. 313). Porém, se o credor aceitar uma coisa no lugar de outra, ocorre a dação em pagamento. “A dação em pagamento é um acordo de vontades entre credor e devedor, por meio do qual o primeiro concorda em receber do segundo, para exonerá‐lo da dívida, prestação diversa da que lhe é devida (art. 356)”. Art. 356 CC/02: O credor pode consentir em receber prestação diversa da que lhe é devida. Outra forma de pagamento indireto. PRODUZEM O MESMO EFEITO DO PAGAMENTO 1 Novação “Novação é a criação de obrigação nova, para extinguir uma anterior. É a substituição de uma dívida por outra, extinguindose a primeira. Ocorre, por exemplo, quando o pai, para ajudar o filho, procura o credor deste e lhe propõe substituir o devedor, emitindo novo título de crédito. Se o credor concordar, emitido o novo título e inutilizado o assinado pelo filho, ficará extinta a primitiva dívida, substituída pela do pai. A novação não produz, como o pagamento, a satisfação imediata do crédito, sendo, pois, modo extintivo não satisfatório. Tem natureza contratual, operandose em consequência de ato de vontade dos interessados, jamais por força de lei”. 2 Compensação Compensação é meio de extinção de obrigações entre pessoas que são, ao mesmo tempo, credor e devedor uma da outra. Acarreta a extinção de duas obrigações cujos credores são, simultaneamente, devedores um do outro. É modo indireto de extinção de obrigações, sucedâneo do pagamento, por produzir o mesmo efeito deste. Art. 368 CC/02: Se duas pessoas forem ao mesmo tempo credor e devedor uma da outra, as duas obrigações extinguemse, até onde se compensarem. Objetivo da compensação: “eliminar a circulação inútil da moeda, evitando duplo pagamento. Se, por exemplo, José é credor de João da importância de R$ 100.000,00 e este se torna credor do primeiro de igual quantia, as duas dívidas extinguemse automaticamente, dispensando o duplo pagamento. Nessecaso, temos a compensação total. Se, no entanto, João se torna credor de apenas R$ 50.000,00, ocorre a compensação parcial”. 3 Confusão “A obrigação pressupõe a existência de dois sujeitos: o ativo e o passivo. Credor e devedor devem ser pessoas diferentes. Se essas duas qualidades, por alguma circunstância, encontraremse em uma só pessoa, extinguese a obrigação, porque ninguém pode ser juridicamente obrigado para consigo mesmo ou propor demanda contra si próprio”. Art. 381 CC/02: “Extinguese a obrigação, desde que na mesma pessoa se confundam as qualidades de credor e devedor”. “Na compensação, há dualidade de sujeitos, com créditos e débitos opostos, que se extinguem reciprocamente, até onde se defrontarem. Na confusão, reúnemse numa só pessoa as duas qualidades, de credor e devedor, ocasionando a extinção da obrigação. Em geral, a confusão resulta da herança. O caso mais comum é o do filho que deve ao pai e é sucessor deste. Morto o credor, o crédito transferese ao filho, que é exatamente o devedor. Operase, nesse caso, a confusão, desaparecendo a obrigação”. 4 Remissão das dívidas “Remissão é a liberalidade efetuada pelo credor, consistente em exonerar o devedor do cumprimento da obrigação. É o perdão da dívida”. Art. 385 CC/02: “A remissão da dívida, aceita pelo devedor, extingue a obrigação, mas sem prejuízo de terceiro”. O remitido (devedor) pode recusar o perdão e consignar o pagamento. Logo, tratase de negócio jurídico bilateral. Outras formas de extinção da obrigação A obrigação pode extinguirse por meios anormais, ou seja, sem pagamento, como no caso de impossibilidade de execução sem culpa do devedor, da prescrição, da nulidade ou anulação etc. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES Conforme relata GONÇALVES, o crédito é bem de caráter patrimonial suscetível de transferência. 1 Cessão de Crédito “Cessão de crédito é negócio jurídico bilateral, pelo qual o credor transfere a outrem seus direitos na relação obrigacional. Tratase de um dos mais importantes instrumentos da vida econômica atual, especialmente na modalidade de desconto bancário, pelo qual o comerciante transfere seus créditos a uma instituição financeira”. A cessão de crédito pode se dar tanto de forma onerosa como gratuita. Pode caracterizar, também, dação em pagamento A alienação onerosa assemelhase a uma venda, desempenhando papel idêntico a esta. A cessão, contudo, tem por objeto bem incorpóreo (crédito), enquanto a compra e venda destinase à alienação de bens corpóreos. Responsabilidade do cedente Art. 295 CC/02: na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que se não responsabilize, fica responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de máfé. A responsabilidade imposta pela lei ao cedente não diz respeito à solvência do devedor. Por esta o cedente não responde, correndo os riscos por conta do cessionário, salvo estipulação em contrário (CC, art. 296). 2 Assunção de Dívida (Cessão de débito) “Tratase de negócio jurídico pelo qual o devedor transfere a outrem sua posição na relação jurídica. Ocorre frequentemente na venda do fundo do comércio, em que o adquirente declara assumir o passivo, e na cessão de financiamento para aquisição da casa própria. Na adequada definição de Pontes de Miranda, é “o negócio jurídico bilateral pelo qual o novo devedor fica no lugar de quem o era” (Tratado de direito privado, Rio de Janeiro, Borsoi, v. 13, p. 257). Art. 299 CC/02: “é facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava”. Requer anuência expressa do credor.
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