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Tutoria 2 Palavra-Chave: P1 (22/05/2023) - Promoção e Prevenção Salvam Vidas!!!! Conceber a Vigilância em Saúde e seus componentes como órgãos estruturantes do SUS. Vigilância em saúde: do que estamos falando? A vigilância em saúde tem por objetivo a observação e análise permanentes da situação de saúde da população, articulando-se em um conjunto de ações destinadas a controlar determinantes, riscos e danos à saúde de populações que vivem em determinados territórios, garantindo- se a integralidade da atenção, o que inclui tanto a abordagem individual como coletiva dos problemas de saúde. A partir da década de 1960, a vigilância é tomada como um instrumento para a Campanha de Erradicação da Varíola em todo o mundo. É nessa mesma década que a Organização Mundial da Saúde atribui o qualitativo “epidemiológico” ao termo vigilância. Em 1968, na 21º Assembleia Mundial da Saúde, há uma ampla discussão sobre a ampliação da vigilância no campo da saúde, sendo recomendado a sua utilização não só para monitorar as doenças transmissíveis, mas também as não transmissíveis e os fatores de risco. Quais são os componentes da vigilância em saúde? São as ações de vigilância, promoção, prevenção e controle de doenças e agravos à saúde, devendo-se constituir em espaço de articulação de conhecimentos e técnicas. O conceito de vigilância em saúde inclui: a vigilância e o controle das doenças transmissíveis; a vigilância das doenças e agravos não transmissíveis; a vigilância da situação de saúde, vigilância ambiental em saúde, vigilância da saúde do trabalhador e a vigilância sanitária. Onde devem ser desenvolvidas as ações da vigilância em saúde? A vigilância em saúde deve estar cotidianamente inserida em todos os níveis de atenção da saúde. A partir de suas específicas ferramentas as equipes de saúde da atenção primária podem desenvolver habilidades de programação e planejamento, de maneira a organizar os serviços com ações programadas de atenção à saúde das pessoas, aumentando-se o acesso da população a diferentes atividades e ações de saúde. Como buscamos a integralidade da vigilância com a atenção à saúde? A Vigilância em Saúde, visando a integralidade do cuidado, deve inserir- se na construção das redes de atenção à saúde, coordenadas pela Atenção Primária à Saúde. A integração entre a Vigilância em Saúde e a Atenção Primária à Saúde é condição obrigatória para a construção da integralidade na atenção e para o alcance dos resultados, com desenvolvimento de um processo de trabalho condizente com a realidade local, que preserve as especificidades dos setores e compartilhe suas tecnologias, tendo por diretrizes: I – Compatibilização dos territórios de atuação das equipes, com a gradativa inserção das ações de vigilância em saúde nas práticas das equipes da Saúde da Família; II – Planejamento e programação integrados das ações individuais e coletivas; III – Monitoramento e avaliação integrada; IV – Reestruturação dos processos de trabalho com a utilização de dispositivos e metodologias que favoreçam a integração da vigilância, prevenção, proteção, promoção e atenção à saúde, tais como linhas de cuidado, clínica ampliada, apoio matricial, projetos terapêuticos e protocolos, entre outros; V – Educação permanente dos profissionais de saúde, com abordagem integrada nos eixos da clínica, vigilância, promoção e gestão. As ações de Vigilância em Saúde, incluindo-se a promoção da saúde, devem estar inseridas no cotidiano das equipes de Atenção Primária – Saúde da Família, com atribuições e responsabilidades definidas em território único de atuação, integrando os processos de trabalho, planejamento, monitoramento e avaliação dessas ações. Como fortalecer as ações de vigilância em saúde junto às equipes de saúde da família? Uma das estratégias indutoras é a incorporação do agente de combate às endemias (ACE), ou dos agentes que desempenham essas atividades, mas com outras denominações, na atenção primária junto às equipes de saúde da família, sendo agregadas ações como controle ambiental, endemias, zoonoses e controle de riscos e danos à saúde. A incorporação do ACE nas equipes de saúde da família pressupõe a reorganização dos processos de trabalho, com integração das bases territoriais dos agentes comunitários de saúde e do agente de combate às endemias, com definição de papéis e responsabilidades, e a supervisão dos ACE pelos profissionais de nível superior da equipe de saúde da família. A Portaria n° 1.007/GM/MS, de 4 de maio de 2010, define critérios para regulamentar a incorporação do Agente de Combate às Endemias – ACE ou dos agentes que desempenham essas atividades, mas com outras denominações, na atenção primária à saúde para fortalecer as ações de vigilância em saúde junto às equipes de Saúde da Família. Quais são as ações de cada componente da vigilância em saúde? A vigilância epidemiológica é um “conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual ou coletiva, com a finalidade de se recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos”. Seu propósito é fornecer orientação técnica permanente para os que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de ações de controle de doenças e agravos. Tem como funções, dentre outras: coleta e processamento de dados; análise e interpretação dos dados processados; divulgação das informações; investigação epidemiológica de casos e surtos; análise dos resultados obtidos; e recomendações e promoção das medidas de controle indicadas. A vigilância da situação de saúde desenvolve ações de monitoramento contínuo do país /estado /região /município /território, por meio de estudos e análises que revelem o comportamento dos principais indicadores de saúde, priorizando questões relevantes e contribuindo para um planejamento de saúde mais abrangente. A vigilância em saúde ambiental visa ao conhecimento e à detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes do ambiente que interferiram na saúde humana; recomendar e adotar medidas de prevenção e controle dos fatores de risco, relacionados às doenças e outros agravos à saúde, prioritariamente a vigilância da qualidade da água para consumo humano, ar e solo; desastres de origem natural, substâncias químicas, acidentes com produtos perigosos, fatores físicos, e ambiente de trabalho. A vigilância em saúde do trabalhador caracteriza-se por ser um conjunto de atividades destinadas à promoção e proteção, recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho. A vigilância sanitária é entendida como um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, na produção e circulação de bens e na prestação de serviços de interesse da saúde. Abrange o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e o controle da prestação de serviços que, direta ou indiretamente, se relacionam com a saúde. Outro aspecto fundamental da vigilância em saúde é o cuidado integral com a saúde das pessoas por meio da promoção da saúde. Essa política objetiva a promover a qualidade de vida, empoderando a população para reduzir a vulnerabilidade e os riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes – modos de viver, condições de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura e acesso a bens e serviços essenciais. As ações específicas são voltadas para: alimentação saudável, prática corporal/atividade física, prevenção e controledo tabagismo, redução da morbimortalidade em decorrência do uso de álcool e outras drogas, redução da morbimortalidade por acidentes de trânsito, prevenção da violência e estímulo à cultura da paz, além da promoção do desenvolvimento sustentável. Como o SUS se organiza para enfrentar as emergências em saúde pública? Para o enfrentamento das emergências em saúde pública nas diferentes esferas de gestão, o sistema de saúde conta com uma rede integrada de unidades de alerta e resposta, denominada Rede de Alerta e Resposta às Emergências em Saúde Pública (Rede Cievs), e tem como objetivo a detecção das emergências, a avaliação contínua de problemas que possam constituir emergências de saúde publica e o gerenciamento, coordenação e apoio às respostas desenvolvidas nas emergências. O Sistema Nacional de Vigilância Sanitária, dentro do seu campo de competência, detecta emergências em saúde pública e define ações de intervenção, por intermédio de: I – Rede de Comunicação em Visa (RCvisa), que notifica surtos relacionados a alimentos; II – Farmácias Notificadoras, que comunicam eventos adversos e queixas técnicas em relação ao consumo de medicamentos; III – Hospitais-sentinela, que comunicam eventos adversos e queixas técnicas relacionados a produtos e equipamentos de saúde; IV – Notivisa, que notifica eventos adversos e queixas técnicas relacionados com os produtos sob vigilância sanitária, quais sejam: a) medicamentos, vacinas e imunoglobulinas; b) artigos médico-hospitalares; c) equipamento médico-hospitalar; d) sangue e componentes; e) agrotóxicos; V – Centro de Informações Toxicológicas, que notifica intoxicações e envenenamentos; VI – postos da Anvisa em portos, aeroportos e fronteiras, que notificam eventos relacionados a viajantes, meios de transporte e produtos; VII – Rede Nacional de Investigação de Surtos em Serviços de Saúde (RENISS), com estrutura técnico operacional para investigar e interromper surtos em serviços de saúde. A vigilância em saúde e o planejamento A vigilância em saúde detém conhecimentos e metodologias que auxiliam a gestão para o conhecimento da realidade, identificação de problemas, estabelecimento de prioridades de atuação e melhor utilização dos recursos em busca de resultados efetivos, fundamentais para a elaboração do planejamento. A análise da situação de saúde permite a identificação, descrição, priorização e explicação dos problemas de saúde da população, por intermédio da: • caracterização da população: variáveis demográficas (número de habitantes com distribuição por sexo, idade, local de residência, fluxos de migração, etc.); variáveis socioeconômicas (renda, inserção no mercado de trabalho, ocupação, condições de vida, etc.); variáveis culturais (grau de instrução, hábitos, comportamentos, etc.); • caracterização das condições de vida: ambientais (abastecimento de água, coleta de lixo e dejetos, esgotamento sanitário, condições de habitação, acesso a transporte, segurança e lazer); características dos sujeitos (nível educacional, inserção no mercado de trabalho, tipo de ocupação, nível de renda, formas de organização social, religiosa e política); • caracterização do perfil epidemiológico: indicadores de morbidade; indicadores de mortalidade; • descrição dos problemas: O quê? (problema); Quando? (atual ou potencial); Onde? (territorialização); Quem? (que indivíduos ou grupos sociais). Detectar a importância do conhecimento da história natural da doença e mecanismos de transmissão das doenças infecciosas com potencial epidêmico. A história natural de uma doença é uma descrição, ou seja, algo que possui uma evolução, do processo de adoecimento de um indivíduo até sua cura ou morte. Trata-se de um estudo que acaba sendo um instrumento necessário, pois aponta quais métodos podem ser utilizados na prevenção e no controle. Nessa tarefa, podemos dizer que a visão de unicausalidade da doença é desconsiderada, pois para a história natural da doença existem vários fatores na causa de uma doença, ou seja, sua origem e determinação é multicausal. A história natural da doença é todo tipo de interação entre três elementos: É importante levar em consideração também as características do meio ambiente que facilitam o estímulo patológico, passando pela resposta do homem ao estímulo e pelas alterações consequentes da enfermidade, recuperação ou morte. A cada um dos elementos é apontado um conjunto de características. Vejamos o exemplo da história natural da sífilis, dos autores Leavell e Clarck: Quando a defesa do organismo do homem é baixa, há certas doenças que podem contaminá-lo facilmente. Um indivíduo que não tem o cuidado de se proteger ao ter relação sexual ou que tem relação com diversos parceiros sem proteção, que sai com prostitutas e não toma os devidos cuidados, que não é fiel à esposa ou ao marido tem mais risco de contrair doenças sexualmente transmissíveis, seja ela sífilis, Aids ou qualquer outra. É importante dizer que, na expressão “história natural da doença”, a palavra “natural” refere-se ao lado biológico da doença. Ela não deve ser considerada como oposição ou até mesmo como uma negação à questão histórica/ social da doença. Na verdade, aqui o natural (biológico) e o social têm, cada um, seu papel e não se excluem. Dizendo de outra maneira, para definirmos quais são os atos preventivos em relação a uma determinada enfermidade, é preciso estar ciente de alguns aspectos: • os fatores de risco que contribuem para que a doença aconteça; • os sintomas que um indivíduo com determinada doença pode apresentar; • como se manifesta a evolução da doença ao longo do tempo. Conhecendo esses aspectos, fica mais fácil traçar um plano de combate e prevenção à doença. Mas o conceito de história natural da doença ainda não está terminado! Existem duas fases importantes, que conheceremos a seguir. Fases da história natural da doença A história natural da doença possui dois períodos, que acontecem de forma subsequente: • período epidemiológico; • período patológico. Durante a fase epidemiológica, conhecida também como pré- patológica, a doença ocorre quando há uma ruptura no equilíbrio da saúde do hospedeiro, que acaba sendo influenciada pelos determinantes que contribuem para que a doença aconteça, especialmente quando o hospedeiro está exposto a certos riscos, como os que vimos na aula passada. O período patológico vem a seguir, quando: • já ocorreu a contaminação e a doença já se desenvolveu; • os sintomas da doença começam a se manifestar; • o corpo começa a sofrer com as perturbações causadas pelo hospedeiro. Se não houver tratamento durante a fase do desenrolar fisiopatológico e clínico da doença, o quadro da enfermidade pode evoluir para sequelas permanentes ou até a morte. Mas antes, devemos lembrar que os determinantes que influenciam a contaminação de um indivíduo não possuem uma única causa, nem ela é determinada por um único fator. A contaminação ocorre por um agregado de condições e influências, que são sociais, econômicas, ambientais, políticas ou culturais, como vimos na aula anterior sobre o processo saúde-doença. Sendo assim, dentro do nosso exemplo, seguem as condições e influências, e de que tipo são: • fator cultural: desmame precoce etc. • fator social, político e econômico: baixo poder aquisitivo etc. • fator ambiental: uso de água contaminada etc. E qual a relação desses fatores com a diarreia? O desmame precoce deixa o bebê desprotegido, já o leite materno imuniza o bebê contra muitas doenças. Caso a família não tenha condições financeiras de comprar alimentos como frutas, carne, legumes, por exemplo, ou não tenha tido acesso a educação de qualidade, que é uma questão social, ela terá seus hábitos de higienecotidianos afetados. Afinal, sabemos como é importante o hábito de lavar as mãos antes das refeições ou após usar o banheiro. E muitas vezes, algumas pessoas não aprenderam a ter esse hábito, uma questão de educação ou de cultura. Na zona rural, por exemplo, muitas vezes é utilizada a água de rios, que pode estar contaminada por lixo ou dejetos. Esses são apenas exemplos para você entender melhor a influência de cada fator, que pode ser um risco, mas não é o único. Assim, vemos que é importante conhecer a forma pela qual as doenças se manifestam, quando nos baseamos nos fatores que as provocam, para que possamos tomar as atitudes corretas na hora do tratamento e da prevenção. A epidemiologia se desenvolveu a partir do estudo dos surtos de doenças transmissíveis e da interação entre agentes, vetores e reservatórios. A descrição das circunstâncias associadas ao aparecimento de epidemias nas populações humanas – guerra, migração, fome e desastres naturais –, tem aumentado a capacidade de controlar a dispersão das doenças transmissíveis através da vigilância, prevenção, quarentena e tratamento. As doenças transmissíveis são uma ameaça à saúde dos indivíduos e têm potencial de ameaçar a segurança das populações. Enquanto os países em desenvolvimento continuam a lutar contra as doenças transmissíveis, as mortes por doenças crônicas estão aumentando rapidamente, especialmente nos centros urbanos. Apesar de os países desenvolvidos terem proporcionalmente menor mortalidade por doenças transmissíveis, eles ainda sofrem com a morbidade elevada por este tipo de doença. Por exemplo, nos países desenvolvidos, as infecções do trato respiratório superior causam mortalidade importante apenas nos grupos etários extremos (crianças e idosos). Entretanto, a morbidade associada é substancial e afeta todos os grupos etários (Figura 7.2). O uso de métodos epidemiológicos na investigação e controle das doenças transmissíveis ainda é um desafio para os profissionais de saúde. As investigações devem ser feitas rápida e frequentemente com recursos limitados. As consequências de uma investigação de sucesso são recompensadoras, mas a falha em agir efetivamente pode ser perigosa. Na pandemia de AIDS, 25 anos de estudos epidemiológicos ajudaram a caracterizar o agente, o modo de transmissão e os meios efetivos de prevenção. Entretanto, apesar desse conhecimento, em 2006 a estimativa da prevalência global de HIV foi de 38,6 milhões de casos, com 3 milhões de óbitos a cada ano. Modo de transmissão do agente: O modo de transmissão é a forma em que o agente infeccioso se transporta do reservatório ao hospedeiro. Os principais mecanismos são os seguintes: 1. Transmissão direta: é a transferência direta do agente infeccioso por uma porta de entrada para que se possa efetuar a infecção. É denominada também transmissão de pessoa a pessoa. Isso pode acontecer através da dispersão de gotículas (gotas de flugge ou perdigotos) nas conjuntivas ou nas membranas mucosas do nariz ou da boca ao espirrar, tossir, cuspir, falar ou cantar, e pelo contato direto como tocar, beijar, ou ter relações sexuais. No caso das micoses sistemáticas, a transmissão ocorre por exposição direta de tecido suscetível a um agente que vive normalmente sob a forma saprófita no solo. 2. Transmissão indireta: a. Mediante veículos de transmissão ou fômioes: através de objetos ou materiais contaminados, tais como brinquedos, lenços, instrumentos cirúrgicos, água, alimentos, leite, produtos biológicos, incluindo soro e plasma. O agente pode ou não ter se multiplicado ou desenvolvido no veículo antes de ser transmitido. Mecânico: é o simples traslado mecânico do agente infeccioso por meio de um inseto terrestre ou voador, seja por contaminação de suas patas ou tromba ou pela passagem em seu trato intestinal, sem multiplicação ou desenvolvimento cíclico do micro-organismo. Biológico: o agente necessariamente deve propagar-se (multiplicar-se), desenvolver-se ciclicamente ou ambos (ciclopropagação) no artrópode-vetor antes que possa transmitir a forma infectante ao ser humano. O artrópode torna-se infectante somente depois que o agente passa por um período de incubação (extrínseco) depois da infecção. O agente infeccioso pode transmitir em forma vertical (transmissão transovariana) às gerações sucessivas do vetor, bem como aos estágios sucessivos do ciclo biológico (transmissão transestadial) do vetor, como a passagem da crisálida à fase adulta. A transmissão pode ocorrer através da saliva durante a picada (como na malária, dengue e febre amarela), por regurgitação (como na peste) ou ao depositar sobre a pele os agentes infecciosos com a defecação do artrópode vetor (como na doença de Chagas e no tifo exantemático e murino), que podem entrar pela ferida da picada ou ao coçar-se. a) Através do ar: é a disseminação de aerossóis microbianos transportados por uma porta de entrada apropriada, geralmente o trato respiratório. Os aerossóis microbianos são suspensões aéreas de partículas constituídas total ou parcialmente por micro- organismos. As partículas com diâmetro de 1 a 5 micros chegam facilmente aos alvéolos do pulmão e lá permanecem. Também podem permanecer em suspensão no ar durante longos períodos; algumas mantêm sua infectividade e/ou virulência e outras a perdem. As partículas de tamanho maior se precipitam, o que pode dar origem a uma transmissão direta. As principais partículas são Núcleos goticulares: são os pequenos resíduos da evaporação de gotículas de flugge ou perdigotos emitidas por um hospedeiro infectado. Esses núcleos goticulares também podem formar-se por aparelhos borrifadores diversos, em laboratórios microbiológicos, em abatedouros industriais, salas de autópsias, etc. e geralmente se mantêm em suspensão no ar durante um tempo prolongado. Pó: pequenas partículas de dimensões variáveis que podem proceder do solo (geralmente inorgânicas ou esporos de fungos separados do solo seco pelo vento ou agitação mecânica), vestidos, roupas de cama e pisos contaminados. Portas de eliminação ou de saída do agente: O caminho pelo qual um agente infeccioso sai do seu hospedeiro é, geralmente, denominado como porta de saída. As principais são: - Respiratórias: as doenças que utilizam esta porta de saída são as de maior difusão e as mais difíceis de controlar (tuberculose, influenza, sarampo, etc). - Genitourinárias: leptospirose, sífilis, AIDS, gonorréia e outras doenças de transmissão sexual. - Digestivas: próprias da febre tifóide, hepatite A e E, cólera e amebíase. - Pele: através de contato direto com lesões superficiais, como na varicela, herpes zoster e sífilis. Por picadas, mordidas, perfuração por agulha ou outro mecanismo que tenha contato com sangue infectado, como na sífilis, doença de Chagas, malária, leishmaniose, febre amarela, hepatite B, etc. - Placentária: em geral, a placenta é uma barreira efetiva de proteção do feto contra infecções da mãe; no entanto, não é totalmente efetiva para alguns agentes infecciosos como os da sífilis, rubéola, toxoplasmose, AIDS e doença de Chagas. Portas de entrada no hospedeiro: As portas de entrada de um germe no novo hospedeiro são basicamente as mesmas usadas para a saída do hospedeiro prévio. Por exemplo, nas doenças respiratórias, a via aérea é utilizada como porta de saída e porta de entrada entre as pessoas. Em outras doenças, as portas de saída e de entrada podem ser diferentes. Como exemplo, nas intoxicações alimentares por estafilococos, o agente é eliminado através de uma lesão aberta da pele e entra no novo hospedeiro através de alimentos contaminados com secreção da lesão. Interpretar o processo de definição da Lista Nacional de agravos/doenças de notificação compulsória debatendo os instrumentos indispensáveis no exercícioda medicina. O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) tem como objetivo coletar, transmitir e disseminar dados gerados rotineiramente pelo Sistema de Vigilância Epidemiológica das três esferas de governo, por intermédio de uma rede informatizada, para apoiar o processo de investigação e dar subsídios à análise das informações de vigilância epidemiológica das doenças de notificação compulsória. ATRIBUIÇÕES DAS TRÊS ESFERAS DE GOVERNO As atribuições das três esferas de governo com relação à gestão, à estruturação e à operacionalização do Sistema de Informação Epidemiológica Informatizada, a fi m de garantir a alimentação permanente e regular de dados nacionais, estaduais e municipais, foram defi nidas pela Portaria MG/MS n.º 1.399 (BRASIL, 1999) e Portaria GM/MS n.º 95 (BRASIL, 2001) e Instrução Normativa SVS/MS n.º 2 (BRASIL, 2005) A seguir, apresentamos de forma sistematizada essas atribuições: 2.1 UNIÃO Compete à SVS/MS, como gestora nacional do Sinan: I. estabelecer diretrizes e normas técnicas para o Sinan; II. II. prestar apoio técnico às unidades federadas para utilização e operacionalização do Sinan; III. estabelecer fl uxos e prazos para o envio de dados pelo nível estadual; IV. atualizar e fornecer as versões do Sinan e os modelos de instrumentos de coleta de dados para as unidades federadas; V. coordenar a seleção dos códigos correspondentes aos agravos de interesse estadual e municipal, segundo a Classifi cação Internacional de Doenças – CID 10; VI. consolidar os dados provenientes das unidades federadas; VII. informar às unidades federadas a ocorrência de casos de notificação compulsória, detectados em países que fazem fronteira com o Brasil, ou a ocorrência de surtos ou epidemias, com risco de disseminação no país; (pdf) Explicar definições/conceitos de emergência em saúde pública, doenças emergentes e reemergentes, saúde única e principais instrumentos de classificação e avaliação de resposta para esses eventos. INTRODUÇÃO Com a evolução tecnológica na área de saúde, esperava-se que as doenças infecciosas transmissíveis como malária, dengue, tuberculose e hanseníase reduzissem sua importância como causa de morbidade e mortalidade das populações. A transição demográfica, representada pela queda da mortalidade e natalidade e aumento da expectativa de vida das populações humanas, também contribuiria para a mudança. Gradativamente, agravos de natureza infecciosa seriam substituídos por doenças crônicas não-transmissíveis e causas externas no cenário epidemiológico, completando a chamada transição epidemiológica (BOULOS, 2001; LUNA, 2002; BRASIL, 2008). A emergência da AIDS na década de 80 foi o primeiro alerta contra esta expectativa de fim da era das doenças infecciosas. Ao longo dos últimos anos, tem-se verificado que os mesmos determinantes que, acreditava-se, iriam reduzir as doenças infecciosas, também podem atuar na direção inversa, propiciando o surgimento e a disseminação de novas e velhas doenças infecto-parasitárias. Um exemplo é o da urbanização acelerada favorecendo o ressurgimento da dengue na região das Américas (LUNA, 2002). A identificação de novos agentes infecciosos e o ressurgimento de doenças que se considerava controladas levam as "doenças emergentes e reemergentes" a figurarem hoje, ao lado dos efeitos do envelhecimento populacional e da violência urbana, como centro das atenções de profissionais da saúde, acadêmicos, gestores, agentes e atores de políticas públicas, das instituições governamentais ou não, nacionais ou internacionais. DOENÇAS INFECCIOSAS EMERGENTES E REEMERGENTES "Doença emergente" é o surgimento ou a identificação de um novo problema de saúde ou um novo agente infeccioso como, por exemplo, a febre hemorrágica pelo vírus Ebola, a AIDS, a hepatite C, a encefalite espongiforme (doença da vaca louca) ou microorganismos que só atingiam animais e que agora afetam também seres humanos como o vírus da Febre do Nilo Ocidental, o hantavírus e o vírus da influenza aviária (A/H5N1). No caso da Influenza H5N1, desde os primeiros registros de infecção humana por este vírus de aves, em 1997, a comunidade internacional está em alerta para o risco potencial de uma nova Pandemia de Gripe em populações humanas (BRASIL, 2006 e 2008). A elevada letalidade da infecção justifica o monitoramento da circulação do vírus e de seu impacto em humanos, embora a maior parte dos casos relatados tenha decorrido de estreito contato entre aves e pessoas, e não haja ainda condições moleculares para a transmissão eficiente deste vírus de pessoa a pessoa. Já as "doenças reemergentes" indicam mudança no comportamento epidemiológico de doenças já conhecidas, que haviam sido controladas, mas que voltaram a representar ameaça à saúde humana. Inclui-se aí a introdução de agentes já conhecidos em novas populações de hospedeiros suscetíveis. Na história recente do Brasil, por exemplo, registra-se o retorno da dengue e do cólera e a expansão da leishmaniose visceral (BOULOS, 2001; BRASIL, 2008). Segundo WALDMANN (1998) e LUNA (2002), as doenças infecciosas emergentes e reemergentes, de uma maneira geral, estão associadas aos seguintes fatores: - modelos de desenvolvimento econômico determinando alterações ambientais, migrações, processos de urbanização sem adequada infraestrutura urbana, grande obras como hidrelétricas e rodovias; - fatores ambientais como desmatamento, mudanças climáticas (aquecimento global), secas e inundações; - aumento do intercâmbio internacional, que assume o papel de "vetor cultural" na disseminação das doenças infecciosas; - incorporação de novas tecnologias médicas, com uso disseminado de procedimentos invasivos; - ampliação do consumo de alimentos industrializados, especialmente os de origem animal; - desestruturação/inadequação dos serviços de saúde e/ou desatualização das estratégias de controle de doenças; - aprimoramento das técnicas de diagnóstico, possibilitando diagnósticos etiológicos mais precisos; - processo de evolução de microrganismos: mutações virais, emergência de bactérias resistentes. Todos esses fatores podem favorecer o aparecimento de novas doenças e alteração no comportamento epidemiológico de doenças antigas, tornando o quadro sanitário mais complexo do que a idéia de uma transição epidemiológica, pensada como simples sucessão de fases decorrentes, fundamentalmente, do processo de envelhecimento populacional e desenvolvimento científico, fazia supor (LUNA, 2002). No Brasil, o modelo da transição epidemiológica nunca foi aplicável com perfeição. Em que pese uma marcante diminuição do peso relativo das doenças infecciosas e parasitárias enquanto causa de morbimortalidade - principalmente secundário à redução das doenças imunopreveníveis e das diarréias - persistem marcadas desigualdades regionais e sociais no país, e subpopulações nas quais os perfis de mortalidade pouco se alteraram nas últimas décadas (LUNA, 1998). A tuberculose pulmonar, por exemplo, que apresenta prevalência importante, já foi considerada reemergente. Entretanto, estudos especializados apontam para uma doença que apenas permaneceu em nosso meio (RUFFINO-NETTO, 1997), sem declinar significantemente, e com incidência elevada especialmente após o advento da AIDS. A AIDS, a dengue e as infecções por bactérias resistentes a antimicrobianos - responsáveis pela elevada mortalidade por infecções hospitalares - são exemplos da modificação do comportamento das doenças infecciosas no mundo moderno (WALDMANN, 1998). Se no passado as doenças infecciosas eram majoritariamente associadas às más condições socioeconômicas, ao saneamento básico deficiente, às condições precárias de higiene e ao baixo nível de instrução, agora, com o surgimento ou recrudescimentode novas e velhas doenças, novos padrões de ocorrência também emergem, fruto da interação entre seus agentes, do ambiente e da vulnerabilidade populacional. No Rio Grande do Sul, a coexistência de doenças crônicas e agravos decorrentes de violência com doenças infecciosas também ocorre. Apesar da redução do peso das doenças infecciosas na morbimortalidade, persiste endemicidade para a hepatite C, leptospirose, tuberculose e AIDS. Adicionalmente registram-se surtos de doenças como psitacose, casos de síndrome cardiopulmonar por hantavírus secundários à exposição a roedores, casos autóctones de esquistossomose, leishmaniose tegumentar americana, febre maculosa brasileira, dengue (BERCINI et al., 2007; RIO GRANDE DO SUL, 2006) e agora, possivelmente, febre amarela. As doenças infecciosas, com isto, retomam espaço na agenda de prioridades em Saúde Pública. DESAFIOS FRENTE ÀS DOENÇAS EMERGENTES E REEMERGENTES Para o enfrentamento das doenças emergentes e reemergentes o fortalecimento da vigilância epidemiológica, especialmente no que diz respeito à sua capacidade de detecção precoce, tem um papel fundamental. Médicos, enfermeiros, médicos veterinários, e demais profissionais da assistência devem ser capacitados para identificar casos suspeitos e auxiliar no processo de investigação e desencadeamento das medidas de controle. Epidemiologistas devem estar qualificados para realizar investigações de campo e monitorar o comportamento das doenças em indivíduos e populações, além de disporem de um sistema de informações ágil e que permita a tomada de decisão em tempo oportuno. É preciso fortalecer as atividades de vigilância em saúde (ambiental e sanitária, principalmente) e saúde pública veterinária, pois a emergência e reemergência de doenças infecciosas resultam da interação do homem com o ambiente. Alguns fatores, tais como a fauna sinantrópica e as condições sanitárias dos alimentos e das populações animais deveriam ser monitorados de forma rotineira e eficiente, de forma a prevenir, ou pelo menos alertar precocemente a comunidade para o risco de emergência de doenças. Isto exigiria mecanismos ágeis de comunicação entre os diferentes serviços envolvidos (BARATA, 1997; LUNA, 2002). Para favorecer a capacitação técnica, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde já estabeleceu parceria com o CDC americano, para a formação de epidemiologistas de campo, através do Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do SUS (EPI-SUS) (LUNA. 2002 ; BRASIL, 2008). A capacidade de diagnóstico laboratorial também deve, necessariamente, ser ampliada, através de uma rede de laboratórios de Saúde Pública resolutiva, organizada de forma hierarquizada, dotada de equipamento adequado, suprimento oportuno de insumos, profissionais capacitados e que garanta a biossegurança. No Brasil, a rede constituída pelos laboratórios de Saúde Pública (LACENs) de cada estado e os laboratórios federais deve incluir, também, os laboratórios universitários (não só de patologia clínica, microbiologia, parasitologia, virologia e imunologia, como também de entomologia, zoologia, ecologia, ornitologia, micologia e medicina veterinária), além dos laboratórios da rede privada que demonstrarem interesse em participar. Esta rede ampliada, por sua vez, deve estar relacionada com as redes internacionais, organizadas pela OPAS/OMS, das quais o Brasil já faz parte (LUNA, 2002). Outro desafio que as doenças emergentes e reemergentes colocam para a Saúde Pública diz respeito às normas de biossegurança. Há um risco de que agentes etiológicos novos e com alta letalidade possam vir a ser utilizados como armas biológicas, além da possibilidade real do tráfego global de viroses, em poucas horas, de um continente a outro, através das viagens aéreas (BARATA, 1997). A questão da biossegurança deve contemplar o controle da importação de animais para experimentação, principalmente primatas, que podem ser reservatórios ou fontes de agentes infecciosos novos. As condições de transporte, acomodação e manutenção desses animais devem ser objeto de vigilância sanitária. Do mesmo modo, o manejo clínico de casos suspeitos em hospitais necessita de normas de biossegurança que protejam os profissionais de saúde e a clientela. O mesmo se aplica aos profissionais de laboratórios responsáveis pela identificação dos agentes etiológicos (BARATA, 1997). Uma estratégia fundamental para o enfrentamento das doenças emergentes e reemergentes é o desenvolvimento de pesquisa básica e aplicada na área, com envolvimento das universidades e dos institutos de pesquisa, especialmente em novas tecnologias de diagnóstico (incluindo técnicas de biologia molecular), pesquisa epidemiológica, e desenvolvimento de fármacos e de vacinas.
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