Logo Passei Direto
Buscar
Material
páginas com resultados encontrados.
páginas com resultados encontrados.
left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

left-side-bubbles-backgroundright-side-bubbles-background

Experimente o Premium!star struck emoji

Acesse conteúdos dessa e de diversas outras disciplinas.

Libere conteúdos
sem pagar

Ajude estudantes e ganhe conteúdos liberados!

Prévia do material em texto

CADERNO DE MICOLOGIA
Hoje, conheceremos os fungos, esses organismos que têm características únicas e um reino próprio, o reino Fungi. Ao longo das eras, os fungos se adaptaram para sobreviver a praticamente todos os tipos de ambientes, desde os mais secos e inóspitos, como o deserto do Atacama, ao extremo oposto, nas geleiras da Antártica.
Por serem ubíquos – logo podem ser encontrados em todos os ambientes –, estamos constantemente em contato com os fungos, seja em alguma fruta esquecida na fruteira, seja em alguma roupa de couro que mofou dentro do armário, seja quando vemos os cogumelos nas árvores durante uma caminhada.
Embora se estime que existam mais de 100 mil espécies de fungos conhecidas, apenas cerca de 200 são consideradas patogênicas para os animais e os seres humanos.
Desde a Pré-História, os fungos são conhecidos tanto por seus benefícios como pelos malefícios, que podem causar doenças em homens, animais e plantas. Eles podem ser comestíveis ou venenosos; alguns também são alucinógenos e usados em rituais religiosos há séculos. Os romanos e os gregos já escreviam sobre como diferenciar os cogumelos venenosos dos comestíveis. 
Em 1969, quando Whittaker propôs uma divisão dos seres vivos em cinco reinos, com base nas características morfológicas e nutricionais, os fungos ganharam um reino próprio: o reino Fungi. Décadas depois, em 1990, Carl Woese propôs que esses reinos poderiam ser agrupados em três domínios distintos: Eubacteria, Archaea e Eukaria (Figura 1.1). 
Divisão dos domínios e reinos de acordo com a classificação de Carl Woese
Os fungos, por serem eucariontes, foram alocados no domínio Eukaria, que compreende todos os organismos com essa característica celular (Figura 1.2). Eles são estudados há muito tempo, e a ciência que estuda sua biologia, taxonomia, morfologia, bioquímica e fisiologia é a Micologia. Popularmente, esses microrganismos podem ser chamados de “mofo”, “bolor”, “leveduras”, “cogumelos”, entre outros. Mais adiante, aprenderemos a diferença morfológica e reprodutiva de cada forma.
Comparação entre as células eucariotas de plantas, animais e fungos. 
MÓDULO 1 - Identificar a morfofisiologia e classificação dos fungos
Características gerais da morfologia e nutrição dos fungos 
Os fungos são organismos eucariontes pluricelulares (filamentosos, bolores, cogumelos) multinucleados ou unicelulares (leveduras), com somente um núcleo, e são haploides. A característica mais importante que difere os fungos das plantas é que eles são aclorofilados, o que significa que adquirem seus nutrientes de modo diferente das plantas. 
A maioria dos fungos é aeróbica obrigatória; eventualmente, alguns são anaeróbios facultativos. Os fungos são mesófilos, o que significa que podem crescer em temperaturas entre 0 °C e 45 °C, mas o ideal, para a maioria, é entre 20 °C e 30 °C, preferencialmente em locais úmidos. 
Você sabia 
A principal diferença entre os fungos e as plantas é a ausência de clorofila e pigmentos fotossintéticos nos fungos, que obtêm sua energia por absorção de nutrientes. 
Placa de Petri com crescimento de diversos microrganismos 
formando as colônias. 
Os fungos microscópicos (leveduras e bolores), quando crescidos em substratos adequados, formam estruturas denominadas “colônias”, que são visíveis a olho nu e apresentam características que os diferenciam macroscopicamente. As colônias fúngicas são formadas por estruturas reprodutivas e vegetativas que participam tanto do crescimento como do catabolismo.
Os fungos pluricelulares (bolores ou filamentosos) são compostos por células de estruturas tubulares denominadas de hifas. Essas estruturas semelhantes a “fios de cabelo” dão aos fungos aquela aparência de pelos e tufos, comumente encontrados em pães mofados ou frutas estragadas, como morangos e laranjas. O conjunto dessas células tubulares compõe o micélio, que é responsável pela absorção de nutrientes e pela sustentação. 
Apesar de, em alguns casos, parecer que os fungos formam tecido verdadeiro, isso não acontece. Inclusive, os cogumelos, na verdade, são um grande conjunto de hifas que, juntas, apresentam aquele formato característico desse fungo macroscópico (Figura 1.3). 
Estrutura interna dos cogumelos com o micélio embaixo da terra
As hifas pigmentadas são chamadas de “demáceas” (Figura 1.4); o pigmento, na maioria dos fungos, é composto por melanina, que dá uma coloração escura (marrom ou preta). Quando as hifas não têm coloração, são chamadas de “hialinas” (Figura 1.5). Em relação à estrutura das hifas, elas podem apresentar septos bem delimitados, sendo nomeadas “hifas septadas”, ou não ter esses septos visualmente delimitados, sendo chamadas de “hifas cenocíticas” ou “hifas asseptadas” (Figura 1.6).
Imagem microscópica das hifas demáceas mostrando a coloração escura (Figura 1.4). / Imagem microscópica das hifas hialinas mostrando a ausência de coloração (Figura 1.5). / Classificação dos dois tipos de hifas de acordo com a morfologia (Figura 1.6). 
Os fungos filamentosos (bolores) apresentam amplo espectro de coloração e diversos tipos morfológicos: algodonosos, pulverulentos, aveludados etc. Já as leveduras têm colônias com aparência pastosa, brilhante, cerebriforme, tendendo à coloração creme, branca, preta ou rosa, dependendo da espécie. A seguir, conheceremos, ponto a ponto, as estruturas que compõem a célula fúngica, iniciando pela camada mais externa: a parede celular.
Parede celular
A parede celular fúngica é a estrutura que promove a rigidez da célula, aumentando sua proteção contra o estresse osmótico e ambiental. É composta essencialmente por camadas de carboidratos associados a proteínas e lipídeos, que variam de acordo com a espécie do fungo, a temperatura ambiente, o pH, a idade e a composição do substrato de crescimento.
Esquema geral da estrutura da parede celular dos fungos
A parede celular fúngica é diferente da bacteriana, principalmente por ser rica em quitina, enquanto a parede das bactérias é composta por peptideoglicano. A quitina é o polissacarídeo mais presente na parede fúngica, sendo composto por um polímero de unidades de N-acetilglicosamina. Dependendo do grupo fúngico, pode haver a presença de celulose, ou a mescla dos dois (mais raramente).
Outro componente da parede celular fúngica são as glucanas e as mananas, que são combinadas a proteínas, formando as glicoproteínas, manoproteínas e glicomanoproteínas. Outros polissacarídeos também estão presentes, e as β-glucanas são as mais importantes dentre eles. Cada uma dessas estruturas está localizada em maior quantidade em uma camada distinta da parede celular: as β-1-3-glucanas são mais internas, enquanto as camadas mais externas contêm β-1-6-glucanas.
Por apresentar características particulares, durante a infecção, a parede celular fúngica exibe importantes propriedades biopatológicas e, por isso, torna-se importante alvo terapêutico, já que a parede celular possui estruturas exclusivas desses organismos e é essencial para a sobrevivência e resistência deles.
Membrana citoplasmática
A membrana citoplasmática dos fungos, assim como de outros organismos, contém o citoplasma e as organelas e é composta por esteróis e lipídeos complexos não encontrados nas membranas plasmáticas procarióticas. Assim como nas células eucarióticas dos animais, ela é composta por duas camadas de fosfolipídios (Figura 1.8) revestidas por proteínas e apresenta uma série de invaginações que dão origem a um sistema de vacúolos ou vesículas, responsáveis pelo contato do meio externo e o interior da célula.
As proteínas dessa membrana funcionam como enzimas, que apresentam diferentes funcionalidades, na medida em que os lipídeos dão à membrana sua verdadeira propriedade estrutural. Nos animais, os esteróis da membrana estão na forma de colesteróis, enquanto, nas células fúngicas, são ergosteróis. Essa diferença é extremamente importante por ser um sítio de ligação específico para os antifúngicos, aumentando a toxicidade seletiva desses fármacos.
Citoplasma
No citoplasma das células fúngicas (Figura1.9), ocorrem o metabolismo energético e outras vias metabólicas essenciais para a sobrevivência desse organismo. Nesse compartimento, são encontrados o glicogênio, os vacúolos, as mitocôndrias, os ribossomos, o retículo endoplasmático e tantas outras organelas e estruturas celulares, como:
Esquema geral da estrutura celular fúngica com as organelas.
 
*Complexo de Golgi: Responsável pelos processos de síntese e secreção, diretamente ligados aos polissacarídeos.
*Vacúolo: Com diferentes tamanhos, podendo assumir inúmeras funções de armazenamento de glicogênio ou digestivas. É o principal local de reserva energética da célula fúngica.
*Retículo endoplasmático: É responsável pela síntese de proteínas e está ligado à membrana do núcleo. 
*Mitocôndrias: Elas têm ribossomos e DNA próprios, e é nessa organela que ocorre a fosforilação oxidativa. São responsáveis pelo mecanismo energético celular. 
Núcleo
Como já vimos, os fungos são organismos eucariotos e, como tal, o seu núcleo está contido por uma membrana nuclear que o delimita dentro do citoplasma. Seu núcleo é a estrutura central da célula recoberta por uma membrana nuclear (carioteca). Assim como acontece nas células animais, toda a informação genética desse organismo está armazenada no núcleo. 
Os cromossomos fúngicos são lineares, compostos de fita dupla de DNA em arranjo de hélice, e a sua principal função é transmitir as informações genéticas. As células fúngicas necessitam de dois mecanismos distintos para segregar cromossomos antes da divisão celular; são eles: a mitose e a meiose.
Arranjo estrutural de uma fita dupla de DNA. 
Nutrição fúngica 
Os fungos são seres heterotróficos, por isso dependem de uma fonte orgânica de carbono pré-formada para obter seus nutrientes a fim de manter as funções energéticas e de constituição celular. Como vimos antes, a parede celular dos fungos é rígida, então sua alimentação ocorre pelo mecanismo de absorção de nutrientes solúveis simples. 
Esses organismos também realizam a respiração celular ou fermentação para a obtenção de energia. Mais à frente, entenderemos como essa fermentação é importante economicamente. 
Você sabia 
Os fungos têm sua reserva energética majoritariamente sob a forma de glicogênio, enquanto, nas plantas, a maior parte da energia é reservada em forma de celulose. 
Como os fungos não são clorofilados, não necessitam de luz para sua sobrevivência, porém alguns precisam de estímulo luminoso para produzir suas estruturas de reprodução; nesse caso, passam a ser considerados “fototróficos”. Como não têm sua própria fonte nutricional, os fungos precisam estar associados a substratos que sejam ricos em diversos elementos químicos, como: C, O, H, N, P, K, Mg, S, B, Mn, Cu, Mo, Fe e Zn. 
Já que os fungos não produzem seu próprio alimento e tampouco têm estruturas para a ingestão de alimentos e sistema digestórios, eles precisam lançar mão de mecanismos externos à suas células para obter energia. Por isso, alimentam-se por meio da secreção de enzimas extracelulares que digerem o substrato e quebram macromoléculas em micromoléculas que eles serão capazes de absorver, como polissacarídeos ou proteínas quebrados em monômeros, que são fonte de energia e carbono.
Nutrição fúngica a partir da secreção de enzimas para quebrar macromoléculas em micromoléculas
 
Você já observou como uma fruta mofada fica mole e “aguada”? Isso acontece porque as enzimas fúngicas estão quebrando as macromoléculas que compõem a estrutura da fruta, a fim de que os fungos possam obter seus nutrientes.
Tomate íntegro e outro mofado, mostrando a perda de estrutura quando ocorre a ação as enzimas fúngicas.
Por causa dessas características nutricionais, os fungos são obrigados a viver sempre em algum substrato que forneça a quantidade necessária de nutrientes indispensáveis a sua sobrevivência. Essa característica também obriga esses organismos a viver em situações distintas de acordo com a interação que têm com seus substratos:
*Saprófitas obrigatórios: São os fungos que vivem exclusivamente em matéria orgânica morta e não apresentam risco de parasitar outros seres vivos.
*Saprófitas facultativos ou parasitos facultativos: Dependendo da situação, o fungo é capaz de viver em matéria orgânica em decomposição ou em organismos vivos, causando doenças (animais, plantas, humanos).
*Parasitos obrigatórios: Aqueles fungos que vivem exclusivamente em organismos vivos, causando doenças em plantas e animais.
Saiba mais: Independentemente do substrato ao qual está ancorado, vivo ou morto, o fungo utiliza os mesmos mecanismos de obtenção de nutrientes pela excreção de enzimas que causam danos aos tecidos vivos de plantas ou animais, gerando uma resposta imunológica e a instalação de uma infecção.
Reprodução dos fungos
No ciclo de vida dos fungos, duas fases são extremamente importantes: a fase somática e a reprodutiva. A fase somática corresponde às atividades nutricionais e à manutenção da vida fúngica, e o micélio vegetativo que está ancorado ao substrato desempenha esse papel. Já a fase reprodutiva é responsável pela perpetuação da espécie e pela dispersão e pode ser assexuada e sexuada, com estruturas próprias para esse propósito (Figura 1.11). 
Cogumelo liberando os esporos para a sua dispersão na natureza.
Esquema estrutural da micromorfologia do micélio aéreo/reprodutivo e do micélio vegetativo.
Em ambos os tipos reprodutivos, assexuado e sexuado, as estruturas podem ser únicas ou um conjunto de células especializadas formando corpos de frutificação. Conforme o tipo de reprodução que os fungos fazem, podem ser agrupados em três grupos:
Conhecer as formas e estruturas de reprodução dos fungos é extremamente importante, pois, por meio delas, conseguimos realizar a maioria das identificações relativas a gênero e, em alguns casos, espécies, com base nas características morfológicas dessa reprodução. 
Dentre os fungos já descritos, a maioria tem sua origem nos esporos (ou conídios), que apresentam função parecida com as sementes das plantas, mas, mesmo tendo funções semelhantes, têm morfologia completamente distinta.
Diferentemente dos cogumelos e bolores, as leveduras não têm estruturas especiais que se diferenciam para a reprodução. Elas são arredondadas, ovais ou alongadas; então, sua reprodução assexuada ocorre por simples divisão celular, seja por brotamentos, seja por cissiparidade.
Reprodução das leveduras por brotamento, gerando células-filhas que ficam aderidas 
à célula-mãe, desprendendo-se apenas quando maduras
 Atenção: Nos bolores (fungos filamentosos), o micélio aéreo, que se projeta para fora da superfície do substrato em determinado momento, diferencia-se para micélio reprodutivo, onde serão formados os esporos (conídios), que podem apresentar inúmeros tamanhos e formas, dependendo da espécie, podendo ser fusiformes, cilíndricos, elípticos, ovoides, piriformes e baciliformes.
Eles também podem apresentar pigmentação e ser classificados como “demáceos”, ou então não ser pigmentados e chamados de “hialinos”, ser septados ou não, lisos, verrucosos, ciliados, entre outras características.
Micromorfologia dos diferentes tipos de conídio. 
Em cima, demáceos e, abaixo, hialinos
Na reprodução sexuada, mediada pela meiose, os esporos podem ser chamados de basidiósporos, zigósporo e ascósporo de acordo com o cogumelo que os produz. Os basidiósporos são formados em uma estrutura chamada basídio; os zigósporos têm paredes espessas e são individuais, e os ascósporos são formados dentro de uma estrutura chamada asco.
CLASSIFICAÇÃO TAXONÔMICA DOS FUNGOS 
A classificação taxonômica do reino Fungi é tradicionalmente baseada nas características morfológicas, reprodutivas e fisiológicas e, com base nisso, acredita-se que os fungos tiveram um ancestral comum. Entretanto, novas classificações foram sugeridas a partir da análise molecular, como prova de PCR, sequenciamento do DNA, cromatografia, espectrometria de massa, entre outras técnicas mais modernas que as tradicionais avaliações de características morfológicas. 
Oreino Fungi, atualmente, é dividido em sete filos (Chytridiomycota, Glomeromycota, Neocallimastigomycota, Microsporídia, Blastocladiomycota, Ascomycota e Basidiomycota) e um grupo dos fungos anamórficos. Esse grupo não tem valor taxonômico, e seus membros são relacionados aos filos Ascomycota e Basidiomycota. 
Filo Chytridiomycota
Os quitridiomicetos, ou quitrídios, podem ser encontrados em ambientes aquáticos, principalmente em água doce e solos úmidos ao redor de todo o mundo. A principal característica que diferencia esses organismos dos outros é que produzem esporos sexuados (zoósporos) flagelados que auxiliam na motilidade dentro da água.
Os quitridiomicetos já foram responsáveis por mortandade de anfíbios ao redor do mundo. Um exemplo desse filo é o Batrachochytrium dendrobatidis, comumente encontrado parasitando sapos, causando a quitridiomicose (Figura 1.14).
O ciclo de infecção dos anfíbios por fungos do filo Chytridiomycota (Figura 1.14). 
Filo Ascomycota
Este é o filo com maior número de espécies do reino Fungi, concentrando cerca de 75% de todos os fungos já descritos. Por serem cosmopolitas, comumente são encontrados parasitando plantas, como saprófitos de solo, ou em associação com outras plantas (mutualismo).
A principal característica está relacionada às estruturas de reprodução sexuada, usualmente chamadas de cogumelos, compostas pelo asco, onde estão os ascósporos. Porém, também é possível verificar a reprodução assexuada. O ascocarpo é o corpo de frutificação que dá origem ao asco e pode ter três formas principais (Figura 1.15): em forma de taça (apotécio), totalmente fechado (cleistotécio) e em forma de balão (peritécio).
Cogumelo Ascotremella faginea, exemplo de um 
fungo do filo Ascomycota. 
Os principais tipos de ascos responsáveis pela reprodução sexuada dos ascomicetos.
Como este filo é o mais importante no reino Fungi, dentro dele é possível encontrar fungos microscópicos, como as leveduras (Candida sp. e Saccharomyces sp.), ou, então, fungos filamentosos (Cladosporium sp. e Penicillium sp.).
Filo Basidiomycota
Os cogumelos compõem este filo e são cosmopolitas e saprófitas. Sua principal característica é a reprodução sexuada por meio dos basidiósporos, porém também se encontra a forma assexuada de reprodução em alguns indivíduos. Este filo, juntamente ao filo Ascomycota, representa os fungos mais importantes para a ecologia, economia e saúde.
O representante mais famoso deste filo é a Amanita muscaria, que ganhou fama após aparecer em jogos de video game e em filmes. Outros exemplares não tão famosos assim são os Pycnoporus sanguineus (comumente conhecido como orelha-de-pau) e o Ustilago maydis (parasita de angiospermas, conhecido como “carvão”).
FUNGOS ANAMÓRFICOS
Este grupo também pode ser conhecido como fungos imperfeitos, conidiais, mitospóricos ou assexuados. A reprodução sexuada nestes indivíduos não existe; ainda não foi descrita ou se perdeu ao longo do tempo. Então, sua reprodução e propagação ocorre somente por meio da mitose, com a produção dos conídios; são formados nos conidióforos, que são células reprodutivas especializadas. 
Saiba mais: Com o advento da biologia molecular, muitos dos fungos que pertenciam a esse grupo estão sendo alocados no filo Ascomycota ou Basidiomycota, por comparação de sequências gênicas. Esses fungos têm distribuição mundial e podem ser saprófitas ou parasitos de plantas e animais. 
Filo Neocallimastigomycota
Os indivíduos pertencentes a este filo são encontrados no sistema digestório de grandes mamíferos herbívoros e, em alguns casos, em ambientes aquáticos ou anaeróbios terrestres, e seus zoósporos não apresentam motilidade. O gênero Neocallimastix é um exemplo deste filo.
Filo Blastocladiomycota
Os fungos deste filo produzem zoósporo móveis com apenas um flagelo e estão restritos ao solo e à água, parasitando apenas os insetos. São exemplos de gênero o Coelomomyces sp. e Allomyces sp.
Filo Microsporídia
As células desses organismos apresentam características curiosas para seres eucariontes, já que não têm mitocôndria. Geralmente, parasitam peixes e insetos, sendo parasitos obrigatórios.
Filo Glomeromycota
Os fungos que, anteriormente, eram descritos como do filo Zygomycota foram realocados neste novo filo. As principais características desses fungos são as hifas cenocíticas (asseptadas) e a formação de esporângio (reprodução assexuada) e de zigosporângio (reprodução sexuada).
Outra característica importante deste filo é que os fungos formam estruturas mutualísticas com as raízes de algumas plantas, conhecidas como micorrizas arbusculares, e são encontrados em todo o mundo. Os gêneros mais conhecidos deste filo são o Mucor sp. e o Rhizopus sp.
MÓDULO 2 - Reconhecer a importância dos fungos na ecologia e na economia
Desde os primórdios da humanidade, os fungos são consumidos e utilizados de diferentes formas. O modo mais antigo do uso desses organismos está relacionado à alimentação, seja no consumo direto dos cogumelos , seja na fermentação e maturação de bebidas alcoólicas, queijos, pães e tantos outros produtos que fazem parte do nosso cotidiano. 
Saiba mais
Posteriormente, foram descobertos outros utilidades para esse organismo tão versátil, como o uso dos seus metabólitos com função antibiótica (exemplo: penicilina) ou então o uso comercial de metabólitos, que incluem vitaminas, ácidos orgânicos, pesticidas biológicos e tantos outros. Graças à evolução biotecnológica, muitos desses metabólitos podem ser produzidos em larga escala, reduzindo os custos e aumentando a importância econômica desses organismos. 
ECOLOGIA FÚNGICA 
O nicho ecológico dos fungos é muito variado: solos secos, árvores apodrecidas, frutas caídas do pé, pântanos, poeira, água, leite e muitos outros que você possa imaginar. De acordo com o local preferencial de crescimento, esses fungos podem ser classificados em três tipos:
*Antropofílicos: São aqueles fungos que, até o momento, só foram isolados em humanos. 
Exemplos: Epidermophyton floccosum e Trichophyton rubrum, que são agentes de micoses de pele.
Obs: Muitos fungos têm predileção por crescer nos humanos. 
Geofílicos: Estes fungos têm preferência pelo solo, apesar de, em alguns casos, causarem doenças. Exemplos: Microsporum gypseum e Microsporum fulvum.
Os fungos geofílicos têm preferência por crescer no solo. 
*Zoofílicos: Como o nome já sugere, esses fungos têm predileção pelos animais. Exemplos: Microsporum canis e Trichophyton mentagrophytes.
Muitos animais podem ser hospedeiros desses fungos, incluindo cães e gatos. 
Apesar dessa ampla gama de nichos ecológicos, a maioria dos fungos é encontrada com outros microrganismos no solo, como bactérias e amebas, participando da ciclagem dos materiais orgânicos da natureza. Além de ser nicho ecológico para a maior parte dos fungos, o solo também pode abrigar fungos patogênicos para os animais e os homens, e muitos deles se infectam ao entrar em contato com esse solo contaminado. 
Outros fungos têm as plantas como hospedeiras exclusivas e só se reproduzem se estiverem em contato com elas. A ferrugem do café (Hemileia vastathrix) é um exemplo típico dessa relação parasitária obrigatória entre fungos e plantas. Em outras situações, não há perda para nenhum dos lados, e chamamos essa relação entre os fungos e as plantas de mutualística. Essa associação benéfica de fungos com as raízes das plantas é chamada de micorriza.
Folha do cafeeiro com pontos amarelados sendo parasitados 
pelo fungo Hemileia vastathrix. 
A água também pode ser habitat para tipos específicos de fungos que causam doenças em peixes, anfíbios e, eventualmente, em humanos e outros animais terrestres. Os fungos aquáticos, de modo geral, não são facilmente cultivados em laboratórios, como os fungos de interesse médico. Eles precisam de técnicas e estratégias mais elaboradas com uso de iscas feitas de escamas de peixes, ecdise de cobra, sementes de sorgo, entre outras.
Ainda existem fungos que fazem parte da microbiota transitória ou endógena de animais e homens, semnecessariamente causar lesões para os hospedeiros; porém, quando ocorre algum desequilíbrio, essa relação pode mudar e causar doenças. Por exemplo, a levedura Malassezia spp. faz parte da microbiota da pele de humanos e dos ouvidos dos cães. A famosa Candida é comumente encontrada na cavidade vaginal e no trato intestinal, sem necessariamente estar causando doença.
Agora que já entendemos onde podemos encontrar os fungos no ambiente e em outros nichos, estudaremos mais a fundo o seu papel na natureza. Iniciaremos pelos fungos decompositores.
FUNGOS DECOMPOSITORES 
A matéria orgânica vegetal ou animal desempenha papel fundamental no ecossistema, seja na funcionalidade, seja na estruturação, pois promove fonte de energia renovável para os organismos heterotróficos, como os fungos, e como um reservatório nutricional para a ciclagem dos elementos da natureza. 
Os decompositores primários, como bactérias e fungos, são os principais atores na degradação da matéria orgânica. Em uma floresta, por exemplo, as folhas que caem das árvores constituem a principal fonte de matéria e nutrientes para a própria vegetação e os microrganismos que ali habitam, e cerca de 80% das folhas são degradadas por eles. 
A matéria orgânica pode fornecer inúmeros nutrientes 
e elementos químicos essenciais para as plantas. 
As folhas que caem das árvores são a principal fonte da matéria orgânica. 
Muitos fatores estão relacionados à decomposição da matéria orgânica, e a biomassa microbiana é o mais importante deles, sendo diretamente influenciada pelas mudanças químicas, físicas e biológicas do solo. Qualquer alteração no pH do solo, a temperatura, a disponibilidade de nutrientes e a aeração podem interferir no processo de decomposição dos microrganismos.
Quando os fungos são encontrados em sua forma saprofítica, a obtenção de nutrientes ocorre a partir da decomposição de resíduos complexos de animais ou plantas mortas. Eles transformam as estruturas complexas em formas químicas simples, e parte delas retorna para o ambiente. Além desse benefício nutricional, os fungos decompositores podem participar da indução de resistência aos patógenos das plantas e dos insetos.
Barata morta sendo decomposta por fungos decompositores. 
A camada mais superficial do solo das florestas, onde se encontram folhas, troncos, ramos, entre outras matérias orgânicas em decomposição misturadas à terra, é chamada de serapilheira. Nela, encontramos quantidade expressiva de nutrientes essenciais, que, após o processo de decomposição, voltam ao solo para nutrir as árvores e outros vegetais. 
A velocidade da decomposição influencia diretamente a liberação dos nutrientes. Além dos fatores citados anteriormente, a composição da serapilheira é importantíssimo fator para a ciclagem adequada dos nutrientes.
O principal papel desempenhado pelos fungos no solo é a degradação da lignina e da celulose, proporcionando alimento para outros organismos ou produzindo biomassa proteica. Os fungos decompositores podem ser divididos em quatro grupos, de acordo com o material orgânico que têm predileção para decompor: celulolíticos (celulose), hemicelulolíticos (hemicelulose), pectinolíticos (substâncias pécticas) e ligninolíticos (lignina). 
Cogumelos crescendo em tronco apodrecido
Como já sabemos, existe uma enorme diversidade de fungos no solo, e a prevalência deles pode variar de acordo com a localização geográfica e as condições climáticas. Podemos citar como exemplo de fungos comuns no solo: Verticillium, Penicillium, Trichoderma, Zygorhynchus, Mucor, Aspergillus, Rhizopus, Fusarium, Cephalosporium.
Os sistemas enzimáticos dos fungos, que são responsáveis pela sua nutrição, estão intimamente ligados ao tipo de substrato presente na serapilheira que eles podem degradar. Os fungos saprófitas decompositores, além de serem cosmopolitas, também apresentam alta tolerância ao estresse climático, adaptando-se às variações das estações e aos eventos naturais, como tempestades e períodos de seca.
A presença de determinados grupos de fungos decompositores pode ser alterada em resposta às próprias mudanças durante a decomposição do substrato, o que significa que uma sucessão de microrganismos pode aparecer após a degradação de uma população primária de microrganismos decompositores dominantes. 
À medida que a matéria orgânica vegetal é degradada, ocorrem mudanças sequenciais no potencial de degradação e composição das comunidades fúngicas mediante a disponibilidade de nutrientes, alteração da umidade, pH e tensão de oxigênio. Essa sucessão é, de modo geral, definida por uma mudança progressiva a partir de uma comunidade pioneira que colonizou o substrato e o modificou a ponto de torná-lo favorável para outros microrganismos.
MICORRIZAS
Além dos fungos decompositores, os fungos micorrízicos também desempenham papel fundamental na ecologia e na economia. Esses fungos se associam às raízes das plantas com uma relação simbiótica, na qual as plantas se beneficiam obtendo fosfato e outros minerais, enquanto os fungos recebem nutrientes e açúcares das plantas (Figura 2.1. e 2.2). Esse contato íntimo das plantas com os fungos pode ser de diversos tipos (arbuscular, arbutoide, orquidoide, ericoide, monotropoide e ecto), e alguns só são observados em um grupo específico de plantas.
Fungo micorrízico associado às raízes das plantas. 
 
As micorrizas arbusculares têm grande importância econômica e biotecnológica, pois estão dispersas no mundo todo, sendo encontradas em quase todos os ecossistemas terrestres e presentes em cerca de 80% das famílias de plantas, além de gerarem um impacto direto na agricultura das regiões tropicais. Esse tipo de associação é o mais antigo registrado; fósseis de plantas já apresentavam suas raízes colonizadas com micélio e esporos semelhantes aos encontrados atualmente nos fungos arbusculares.
A sustentabilidade da agricultura está associada diretamente aos benefícios dos fungos micorrízicos, principalmente no que se refere à obtenção de fósforo pelas plantas, já que esse não é um mineral renovável, como outros elementos químicos. Pensando no impacto na agricultura quando há associação entre fungos e plantas, já foi vista uma melhora significativa na produção de frutas, café, milho, soja, batata-doce, cana-de-açúcar e mandioca quando foram adicionados os fungos micorrízicos no plantio.
Fósseis de plantas já mostravam que elas estavam associadas a fungos.
A qualidade do plantio de frutas melhorou com a introdução de fungos micorrízicos.
A plantação de cana-de-açúcar foi beneficiada com a introdução das micorrizas.
As vantagens relacionadas às micorrizas vão muito além do benefício individual da planta, pois esses fungos conseguem conectar, por meio de uma rede, o sistema radicular das plantas vizinhas, independentemente de serem da mesma espécie ou não. Essa conexão tem impacto direto no sucesso da planta em sobreviver às competições interespecíficas dentro das comunidades vegetais.
Além da associação vista com as plantas, alguns fungos podem se associar a algas verdes ou cianobactérias, formando o que chamamos de “líquens”. Essa associação mutualística é comumente vista em rochas ou troncos de árvore com diversas colorações e formatos.
Os líquens são comumente vistos em troncos de árvores e rochas e são a associação de algas com fungos.
Importância econômica dos fungos 
Já vimos a importância ecológica e parte do papel dos fungos na economia, principalmente no que se refere à agricultura e à decomposição de matéria orgânica. Agora, veremos que a versatilidade dos fungos extrapola seus nichos ambientais e comportamentos clássicos. 
Você sabia 
Os fungos, como qualquer ser vivo, produzem uma gama de metabólitos que podem ser isolados e aproveitados de inúmeras formas. Esses produtos do metabolismo fúngico podem ser uma vitamina, uma toxina, um antibiótico ou qualquer produto industrial (arginina, histidina, leucina, metionina, ácido esteárico, ácido oleico, prolina etc.). 
Placa de Petri mostrando diversos fungos filamentosos crescendo. 
Os fungosfilamentosos se destacam devido à grande facilidade de crescimento e cultivo. Outra vantagem é que esses microrganismos secretam suas enzimas diretamente no meio de cultura, não necessitando de técnicas adicionais para romper as células para sua liberação. Além disso, apresentam elevados níveis de produção enzimática, com alto potencial para inúmeras aplicações industriais.
Um exemplo é a utilização de fungos para tratar rejeitos industriais, como é o caso das leveduras Candida e Torulopsis, que são capazes de crescer no líquor sulfítico, rejeito da fabricação de papel, e no melaço, subproduto da produção de açúcar. 
Além disso, a biomassa formada pelos fungos pode ser utilizada na alimentação animal, por ser rica em proteínas. A própria produção do etanol ocorre por meio da fermentação dos açúcares por leveduras do gênero Saccharomyces, Candida e Kluyveromyces. No Brasil, a Saccharomyces cerevisiae é a protagonista na produção de etanol por meio da fermentação do caldo de cana-de-açúcar, tornando nosso país um dos principais produtores de etanol combustível no cenário mundial.
A utilização de fungos para controle biológico na agricultura também tem crescido ao longo dos anos. Os gêneros Metarhizium e Trichoderma se destacam nessa função, pois podem ser usados como micoerbicidas, micoparasitas ou micoinseticidas. A utilização dos “inseticidas microbianos” reduz o uso de agroquímicos – que, muitas vezes, são tóxicos para quem os aplica e quem consome esses alimentos –, auxiliando na preservação ambiental.
Uso medicinal dos fungos
Na década de 1940, a biotecnologia foi consolidada com a produção de antibióticos a partir de metabólitos fúngicos. Alexander Fleming revolucionou o curso das doenças infecciosas quando, em 1929, relatou, pela primeira vez, que o fungo Penicillium notatum produzia um metabólito com potencial atividade antibiótica: a penicilina. 
 
Anos depois, em 1948, Broztu isolou outro antibiótico, a cefalosporina, de culturas do fungo Cephalosporium acremonium, abrindo um novo caminho para a utilização de microrganismos na produção de medicamentos. A partir dessas descobertas, outras pesquisas foram realizadas e, atualmente, encontramos inúmeros antibióticos e antifúngicos feitos a partir dos fungos, como a griseofulvina, que é produzida pelo fungo Penicillium griseofulvi.
Colônia filamentosa do fungo Cephalosporium.
As substâncias bioativas não apresentam apenas ação antimicrobiana; algumas possuem propriedades farmacológicas, como lectina, arginina, ergosterol, proteoglucanas e glucanas. Outras podem apresentar funções hormonais para crescimento de plantas, como os metabólitos do Penicillium chrysogenum. 
Importante medicamento imunossupressor amplamente utilizado para pacientes transplantados, a ciclosporina é proveniente do Tolypocladium inflatum, que é um saprófita de solo. Várias substâncias com inúmeras atividades farmacológicas podem ser produzidas a partir dos metabólitos fúngicos, como: mevinolina (usada para redução do colesterol sérico) e ergometrina (usada para causar contrações no útero ou para controlar hemorragias vaginais pós-parto).
Obs: Pacientes transplantados precisam utilizar medicamento imunossupressor, a ciclosporina, que é derivada de um fungo. 
Não somente os fungos microscópicos têm importância medicinal; os cogumelos já eram usados com fins medicinais desde os tempos mais remotos para tratar cólicas, hemorragias, asma, feridas e outras doenças. O cogumelo popularmente conhecido como orelha-de-pau (Pycnoporus sanguineu), de coloração vermelha, era usado por tribos indígenas brasileiras para cicatrização de feridas. 
Cogumelo conhecido como “orelha-de-pau” era usado por 
indígenas para cicatrizar feridas. 
Outro exemplo são os cogumelos Agaricus sylvaticus, Agaricus blazei e Lentinula edodes, que apresentam polissacarídeos com atividade antioxidante, imunomoduladora, anti-inflamatória e anticancerígena. Recentemente, várias pesquisas têm mostrado moléculas provenientes dos cogumelos com efeitos antibacterianos, antivirais, antiparasitários, antitumorais, antiateroscleróticos, anti-hipertensivos, hepatoprotetores, anti-inflamatórios, antidiabéticos e moduladores do sistema imune.
Os cogumelos Agaricus sylvaticus podem apresentar moléculas com atividades farmacológicas. 
Uso alimentício dos fungos
Desde os primórdios da humanidade, os fungos, mais especificamente os cogumelos, são utilizados como alimentos devido a seu alto valor nutricional proteico, suas fibras alimentares, vitaminas, minerais e o baixo teor de lipídeos, mas também por serem considerados uma iguaria nobre na culinária. 
Dentre as mais de 140 mil espécies de cogumelos descritas ao redor do mundo, apenas 2.000 são comprovadamente comestíveis, praticamente todas são basidiomicetos, e algumas, ascomicetos. Apesar disso, somente 25 espécies são cultivadas comercialmente, como shiitake (Lentinula edodes), shimeji (Lyophyllum shimeji) e maitake (Grifola frondosa). 
O cogumelo shitake é uma das poucas espécies cultivadas com fins comerciais.
O shimeji é comumente consumido na culinária asiática.
O cogumelo maitake é pouco conhecido no Brasil, apesar de ser considerado uma iguaria na Ásia.
Com o aumento crescente do consumo desses cogumelos para além da Ásia e da Europa, onde já estão estabelecidos na rotina alimentar da população de países como Japão e França, produtores do sudeste do Brasil têm aumentado gradativamente a sua produção, e tem havido a consequente popularização nos últimos anos, influenciada, principalmente, pela popularização da culinária japonesa. 
O champignon fresco não é tão fácil de encontrar no Brasil como o champignon em conserva.
O champignon em conserva é mais fácil e mais aceito no mercado brasileiro.
O cogumelo do gênero Pleurotus é comestível e encontrado no Brasil.
Além do consumo direto dos cogumelos, os fungos microscópicos estão associados à tecnologia dos alimentos há muitos séculos: na preparação de bebidas dos indígenas no continente americano, nos alimentos de povos orientais ou participando do processamento da produção de alimentos à base de leite na Europa. 
Assim como a indústria farmacêutica, a alimentícia também se aproveita dos metabólitos fúngicos para diversas aplicações. A elevada produção das enzimas fúngicas em larga escala vem sendo amplamente aproveitada nos mais variados produtos. Listamos, a seguir, algumas enzimas importantes:
Amiloglicosidases: Produzidas por linhagens de Aspergillus e Rhizopus.
Amilases: Podem ser isoladas da fermentação do Aspergillus niger, transformando amido em oligossacarídeos e dextrinas.
Lipases: Catalisam reversivelmente a hidrólise de triacilgliceróis, podendo catalisar a síntese estereoespecífica e a transesterificação dos ésteres em um diversificado número de substratos.
O uso mais comum dos fungos no nosso cotidiano está associado à sua habilidade de fermentação (Figura 2.3), que é um processo por meio do qual o fungo obtém energia a partir de uma fonte de carboidrato e da ausência de oxigênio. Como resultado da fermentação, obtemos dióxido de carbono e álcool. 
Esquema simplificado de como ocorre o processo de fermentação
Inúmeros produtos podem aproveitar esses subprodutos da fermentação e estão presentes diariamente em nossa rotina, seja no pão que comemos no café da manhã, seja no vinho para ocasiões especiais. 
Na indústria de laticínios, o gênero Penicillium desempenha papel importante na maturação de queijos, como gorgonzola, roquefort e camembert, agregando sabores e texturas. Outra atividade dos fungos está relacionada à indústria de bebidas alcoólicas, seja na produção das bebidas alcoólicas destiladas (cachaça, rum, conhaque, uísque), seja nas que não são destiladas (cerveja e vinho).
Agora, para compreender melhor a relação entre os fungos e a produção de cerveja, assista ao vídeo a seguir.
Outros produtos surpreendentes em que o fungo está presente no nosso dia a dia são os refrigerantes e as bebidas industrializadas, por meio do ácido cítrico. Ao contrário do senso comum, que acreditaque o ácido cítrico vem das frutas cítricas, obter esse ácido das frutas é muito mais caro do que obtê-lo dos fungos. Então, praticamente todo refrigerante produzido em larga escala é feito com ácido cítrico proveniente da fermentação de cultivos de Aspergillus niger.
MÓDULO 3 - Descrever as principais características dos fungos venenosos
Introdução 
Como vimos anteriormente, os fungos podem apresentar diversas vantagens ecológicas e econômicas. Entretanto, como sempre existem dois lados, não seria diferente com os fungos. Por isso, apesar de alguns serem comestíveis e trazerem benefícios a quem os consome, outros fungos macroscópicos são altamente tóxicos e nocivos para humanos e animais.
Assim como ocorre com as plantas, há milhares de espécies de cogumelos descritas como comestíveis, porém uma dezenas delas produzem substâncias alucinógenas ou, ainda, toxinas letais. Aprender a identificá-las é extremamente importante, pois muitas se confundem com os fungos comestíveis.
Afinal, como diferenciamos os cogumelos comestíveis dos cogumelos tóxicos?
A resposta a essa pergunta não é tão simples assim, pois não existe uma característica única que diferencie facilmente os cogumelos não tóxicos dos tóxicos. Tampouco existem testes caseiros ou de fácil execução para diferenciá-los. Por isso, é extremamente importante evitar o consumo de cogumelos encontrados na natureza. 
Atenção 
O consumo de cogumelos encontrados na natureza tem grandes riscos, e uma falha na identificação pode ser fatal. Então, mesmo que você se sinta encorajado após esta aula, dê preferência aos cogumelos vendidos comercialmente.
O consumo de cogumelos silvestres pode trazer sérios riscos à saúde por causa da ação dos compostos tóxicos ou alucinógenos. No Rio Grande do Sul, o Centro de Informação Toxicológica registrou, no período de 2005 a 2019, mais de 100 casos de intoxicação ocasionada por cogumelos venenosos. As vítimas foram pessoas que os confundiram com cogumelos comestíveis ou que ingeriram cogumelos alucinógenos de maneira proposital para fins recreativos. 
Não coma cogumelos silvestres em hipótese alguma. 
As toxinas presentes nos cogumelos venenosos 
Antes de saber quais são os cogumelos venenosos e suas características, precisamos entender o que os torna tão nocivos e os mecanismos de ação das principais toxinas já descritas, lembrando que ainda há muitas lacunas a respeito desse assunto.
A toxicidade presente no grupo dos cogumelos venenosos pode variar de acordo com o gênero ou a espécie, assim como o tipo de toxina encontrada. Os quadros clínicos que ocorrem após a intoxicação por esses cogumelos são associados diretamente ao tipo de toxina presente neles e ao seu mecanismo de ação.
Os principais grupos de toxinas que podem ser encontrados em cogumelos venenosos são: ciclopeptídeos (amatoxinas, falotoxinas e virotoxinas); giromitrina; orelanina; muscarina; psilocibina; muscimol e ácido ibotênico; coprine; nefrotoxinas (norleucina); miotoxinas; toxinas imunoativas; toxinas hemolíticas e irritantes gastrointestinais. Abordaremos mais detalhadamente as toxinas de relevante importância na literatura.
Amatoxinas
Estas toxinas são termoestáveis, o que significa que elas mantêm sua estrutura tridimensional mesmo em altas temperaturas. Essa propriedade, associada à sua solubilidade em água, torna essas toxinas excepcionalmente tóxicas. Outro fator que faz essa toxina ser tão potente é a resistência à hidrolização enzimática; portanto, quando ingerida, suas funções permanecem intactas, mesmo entrando em contato com as enzimas e os ácidos digestivos. 
Estrutura molecular genérica das amatoxinas.
Um caso fatal foi relatado após o consumo de um cogumelo produtor de amatoxina congelado durante cerca de oito meses, demonstrando que esses compostos também resistem aos processos de congelamento/descongelamento. Além disso, as amatoxinas se decompõem muito lentamente quando armazenadas em soluções aquosas abertas ou após exposição prolongada ao sol ou à luz neon, mostrando mais uma vez como esses compostos são resistentes à degradação e a uma possível perda de função.
Existem variações significativas intra e interespecíficas que determinam a concentração de amatoxinas nos cogumelos, por isso não é possível prever os efeitos tóxicos com base na quantidade de cogumelos consumidos. Essas toxinas são octapeptídeos bicíclicos, formando pelo menos nove compostos diferentes: α-amanitina, β-amanitina, γ-amanitina, ε-amanitina, amanina, amaninamida, amanulina, ácido amanulínico e proamanulina. 
Os principais estudos toxicológicos concentraram-se nos α- e β-amanitina. O mecanismo de ação dessa toxina está relacionado a sua capacidade de inibir a enzima RNA polimerase, que participa de processos fundamentais na síntese de proteínas e, consequentemente, no metabolismo celular, causando a morte celular e o dano tecidual.
O fígado é um dos primeiros órgãos a 
sentir os efeitos das amatoxinas. 
Após a ingestão, as amatoxinas são rapidamente eliminadas do sangue e distribuídas para o fígado e os rins e não se ligam à albumina. O fígado é o principal órgão alvo da toxicidade dessas moléculas, e os efeitos hepatocelulares representam a manifestação mais letal e menos tratável dessa intoxicação. Isso é atribuído à absorção gastrointestinal das amatoxinas, por isso o fígado é o primeiro órgão a entrar em contato com grande quantidade dessas toxinas. 
As amatoxinas não são metabolizadas e são excretadas em grandes quantidades na urina nos primeiros dias após a ingestão, ocorrendo a excreção máxima nas primeiras 72 horas. Uma pequena quantidade pode ser eliminada na bile e pode ser reabsorvida pela circulação entero-hepática, o que prolonga a carga das toxinas no corpo e os sintomas associados. 
Falotoxinas
As falotoxinas são heptapeptídeos bicíclicos muito semelhantes às amatoxinas. Esse grupo de toxinas é composto por sete tipos distintos: faloidina, profaloína, faloína, falisina, falacidina, falacina e falisacina. 
Estrutura molecular da falotoxina.
A faloidina foi o primeiro peptídeo isolado desse grupo. A toxicidade desta molécula está associada à via de administração, já que foi comprovado que ela não é absorvida pelo trato gastrointestinal, logo não é tóxica para mamíferos quando é ingerida. Em estudos laboratoriais, foi possível induzir a toxicidade pela administração intraperitoneal, mostrando efeitos tóxicos para o fígado.
O mecanismo de ação das falotoxinas está relacionado à sua capacidade de interagir com a actina e, assim, desestabilizar a ligação entre os monômeros de actina, evitando a despolimerização dos microfilamentos, perturbando o funcionamento do citoesqueleto e ocasionando o colapso celular. Apesar de se conhecer o mecanismo de ação, acredita-se que essas toxinas não têm tanto valor toxicológico para os humanos devido à inabilidade de serem nocivas pela ingestão.
Virotoxinas
As virotoxinas são peptídeos tóxicos monocíclicos formados por pelo menos cinco compostos diferentes: alaviroidina, viroisina, desoxoviroisina, viridina e desoxoviroidina. A estrutura e a atividade biológica das virotoxinas são semelhantes às das falotoxinas, sugerindo que as virotoxinas são derivadas biossinteticamente das falotoxinas ou compartilham vias precursoras comuns. O mecanismo de ação também é semelhante ao das falotoxinas, interagindo com a actina, desestabilizando a estrutura celular e, consequentemente, causando danos teciduais.
Você sabia 
Esse grupo de toxinas tem uma estrutura mais flexível quando comparado às falotoxinas, e a presença de dois grupos hidroxila a mais pode fornecer uma reatividade diferente, apesar de os efeitos serem semelhantes. O papel das virotoxinas na toxicidade humana permanece obscuro; devido à sua má absorção oral, pouca importância clínica é dada a essa classe de toxinas.
Estrutura molecular da orelanina.
Orelanina
Essa toxina é um N-dióxido de bipiridina altamente nefrotóxico. O mecanismo de toxicidade ainda não foi totalmente compreendido. O que se sabe é que a orelanina inibe a síntese de macromoléculas, comoproteínas, RNA e DNA; promove inibição não competitiva da atividade da fosfatase alcalina, g-glutamil transpeptidase e leucina aminopeptidase; interrompe a produção de adenosina trifosfatase, comprometendo a utilização e reabsorção de peptídeos, polissacarídeos e outras moléculas.
Muscarina
O alcaloide muscarina é um composto quaternário de amônio encontrado em quantidades clinicamente significativas nos basidiomicetos. Foi isolado pela primeira vez em 1869. O mecanismo de ação dessa toxina está relacionado à capacidade de estimular receptores colinérgicos de acetilcolina no sistema nervoso parassimpático, tendo como principais sintomas náuseas, diarreia, dor abdominal, salivação, lacrimejamento, contração das pupilas, bradicardia e hipotensão. 
Estrutura molecular da muscarina.
Funções pelas quais o sistema nervoso parassimpático é responsável.
Esses sintomas geralmente se manifestam rapidamente dentro de duas horas após o consumo. A ingestão da muscarina juntamente a antidepressivos tricíclicos, por exemplo, pode causar outros efeitos colaterais, como constipação, boca seca, confusão mental, retenção urinária e até visão turva. Cerca de 5% das mortes pode ocorrer no período de oito a nove horas após a ingestão dessa toxina.
Estrutura molecular da psilocibina.
Psilocibina e psilocina
A psilocibina e seu metabólito desfosforilado ativo, a psilocina, pertencem ao grupo dos alucinógenos triptamina/indolamina e estão estruturalmente relacionados à serotonina. Ambas são os principais ingredientes psicodélicos dos cogumelos alucinógenos e, historicamente, eram utilizadas em rituais religiosos há mais de 3 mil anos no México. Em alguns grupos étnicos, essa prática persiste até os dias atuais. 
A psilocibina é rapidamente desfosforilada em psilocina na mucosa intestinal pela fosfatase alcalina e esterase não específica. É a psilocina que atua nos neurônios serotonérgicos do sistema nervoso central e causa efeitos parecidos aos do ácido lisérgico, que é a substância alucinógena popularmente conhecida como LSD. 
Apesar dos seus efeitos alucinógenos, tem baixa toxicidade associada e não causa vícios físicos, sendo relativamente segura para a saúde. Embora cientificamente segura, as características individuais podem influenciar os resultados após seu consumo.
Fungos venenosos 
Alguns fungos venenosos podem ser letais em pequenas porções, outros somente são tóxicos se ingeridos com bebidas alcoólicas. Além disso, existem cogumelos com efeitos alucinógenos. Ao contrário do senso comum, o cozimento, o congelamento ou outro tipo de processamento não elimina os efeitos nocivos, pois, como vimos, algumas das toxinas dos cogumelos são bem resistentes às modificações físicas ou químicas. 
Atenção 
As toxinas podem ter ação neurotóxica, nefrotóxica ou hepatotóxica, além de poderem causar alergias ou problemas gastrointestinais, dependendo da quantidade ingerida e da espécie fúngica. 
Abordaremos, a seguir, as principais características de alguns cogumelos venenosos encontrados no mundo e no Brasil.
Gênero Amanita
Os basidiomicetos do gênero Amanita, pertencente à família Amanitaceae, apresentam cerca de 500 espécies, e 90% dos casos de envenenamento ocorrem por causa da ingestão de cogumelos desse grupo. Esse é o gênero mais popularmente conhecido entre os cogumelos, pois inspirou alguns jogos de video game e filmes. 
Porém, sua fama não se deve somente à inspiração na “cultura POP” ou ao fato de algumas espécies serem comestíveis. Na verdade, ele é famoso porque algumas espécies desse gênero figurarem entre os cogumelos mais venenosos do mundo.
O gênero Amanita é comumente encontrado na Ásia, América do Norte e Europa, porém algumas espécies desse gênero já foram documentadas aqui no Brasil, principalmente na região sul. Em São Paulo, esse cogumelo já foi encontrado associado como micorriza a uma espécie de pinheiro. Na Amazônia, foram descritas as seguintes espécies: A. campinaranae, A. coacta, A. craseoderma, A. crebresulcata, A. lanivolva, A. lanivolva e A. sulcatissima. 
Também há descrição desse gênero em outros estados, como Paraná, Santa Catarina e Rondônia. Em Pernambuco, já foram encontrados A. crebresulcata, no bioma Mata Atlântica, A. lippiae, no semiárido, em áreas de campo rupestre, e A. lilloi crescendo em jardins e gramados, possivelmente exótico.
A espécie A. muscaria, conhecida por seus efeitos alucinógenos, tem sua origem no Hemisfério Norte. Pode crescer em condições muito distintas, tanto regiões de altas como de baixas altitudes, com temperaturas mais baixas, sendo frequentemente achadas em bosques associadas a coníferas.
Apesar da sua origem, atualmente esse cogumelo pode ser encontrado em outros lugares do mundo, inclusive no Brasil. Pelo fato de não ser nativo brasileiro, acredita-se que os esporos dele tenham vindo com a importação de sementes de pinheiros, já que eles são frequentemente encontrados juntos na natureza.
Cogumelo Amanita muscaria apresenta coloração vermelha 
característica e pontos brancos em seu píleo. 
As espécies mais letais desse gênero são as A. verna, A. virosa e A. phalloides, porém a última espécie é considerada a mais fatal do mundo. A. phalloides pode ser encontrada em florestas próximas a coníferas, nogueiras e carvalhos, e, apesar de ser originária da Europa, já existem relatos de sua presença na Ásia, Austrália e América.
O cogumelo Volvariella volvacea pode ser confundido com o Amanita phalloides. 
A toxicidade dessa espécie está associada à produção de três toxinas: amatoxina, falotoxina e virotoxina. Os danos causados podem ser tão extensos que o único tratamento possível é o transplante de fígado. A maioria das mortes ocorre por uma falha na identificação do cogumelo; o A. phalloides pode ser facilmente confundido com o Volvariella volvacea, que é comestível e apreciado na culinária.
Gênero Entoloma
Os macrofungos do gênero Entoloma (Figura 3.2) têm basidiósporo poliédricos, cuboides e angulosos que, geralmente, formam facetas. Sua coloração pode variar de tons de rosa a branco e até tons de marrom. No Brasil, são mais conhecidos nas regiões sul e sudeste. Cerca de 100 espécies já foram descritas no Paraná; os relatos são concentrados nas áreas de floresta ombrófila mista e densa. Apesar de algumas espécies desse gênero serem comestíveis, o E. rhodopolium produz quantidade significativa de muscarina.
Cogumelo venenoso Entomola rhodopolium; cogumelo pequeno, apresentando coloração marrom-clara. 
Gênero Panaeolus
Os cogumelos Panaeolus spp. são encontrados em todo o mundo e crescem solitariamente em pilhas de compostagem, gramados, jardins bem fertilizados e, algumas vezes, são vistos frutificando diretamente do esterco. Seu crescimento ocorre principalmente em lugares com maior frequência de chuvas. Assim como para os outros cogumelos, o Panaeolus pode ser encontrando, principalmente, no Sudeste e no Sul do Brasil, porém já houve relatos de serem encontrados no sul da região centro-oeste. 
Nenhum cogumelo desse gênero é comestível, mas, devido a seus efeitos alucinógenos, eles são frequentemente usados como drogas recreativas e psicodélicas. Esse efeito é justificado para algumas espécies, pois esses cogumelos possuem psilocibina e outros compostos psicoativos ainda não identificados.
Cogumelo alucinógeno do gênero Panaeolus. Pode ser 
encontrado em esterco, em lugares com chuvas frequentes (Figura 3.3). 
Os cogumelos mágicos causam efeitos alucinógenos. 
Gênero Psilocybe
São conhecidos mundialmente como “cogumelos mágicos”, “Carne de Deus”, teonanácatl e, no Brasil, como cogumelo-do-estrume ou cogumelo-de-chá. 
Os macrofungos pertencentes a esse gênero têm uma longa história de uso religioso pelas culturas indígenas da Mesoamérica e da América do Sul e, atualmente, são usados para fins recreativos e espirituais. A maioria dos cogumelos dessa espécie habita regiões da América do Sul e o México, mas podem ser encontrados em outros países, como os Estados Unidos, a Austrália e o Camboja.
Clique nas figuras abaixo. 
Esculturas evidenciando a presençados cogumelos nos rituais religiosos dos povos mesoamericanos.
Região mesoamericana que já utilizava cogumelos alucinógenos para rituais.
Existem cerca de 300 espécies desse gênero e elas crescem em pastos, principalmente no esterco bovino, nas épocas chuvosas e quentes. Uma característica interessante desse gênero é a mudança na coloração quando sofre uma injúria. Após um corte, esse cogumelo se torna azulado no local da lesão devido à liberação do ácido pulvínico e de outros compostos. 
As principais espécies incluem P. cyanescens, P. mexicana, P. cubensis e P. tampanensis.
No Brasil, a espécie mais prevalente é a P. cubensis, facilmente encontrada após períodos chuvosos em esterco bovino, e, às vezes, no de outros animais ruminantes. 
Atenção 
Os efeitos alucinógenos dependem do indivíduo, podendo ser: alteração da percepção do tato e da visão, aumento da sociabilidade e dos pensamentos profundos e abstratos. Porém, em alguns casos, podem aparecer efeitos indesejados, chamados de “bad trip”, como medo, ansiedade, confusão mental, desmaios, diminuição dos reflexos e tonturas.
Existem outros cogumelos que apresentam corpos de frutificação muito parecidos ao do Psilocybe spp. e que podem ser venenosos, como a Galerina autumnalis. A identificação desses fungos deve ser realizada por especialistas experientes da área para evitar acidentes por ingestão de cogumelos venenosos.
Algumas vezes, os cogumelos do gênero Psilocybe podem ser confundidos com os cogumelos venenosos Galerina autumnalis. Cogumelos alucinógenos do gênero Psilocybe podem ser encontrados em esterco, em lugares de clima quente com chuvas frequentes. Cogumelos do gênero Psilocybe apresentam coloração azulada no ponto onde foram cortados.
Gênero Conocybe
Este gênero engloba mais de 240 espécies; a mais famosa é a Conocybe tenera (Figura 3.6). Esses cogumelos, de modo geral, apresentam uma estrutura delicada com pedúnculo delgado e frágil. Podem ser encontrados nas pradarias, sobre ervas mortas e musgo, em dunas de areia, excrementos de animais e madeira em decomposição. 
As espécies desse gênero podem ser confundidas com outras do gênero Galerina e Bolbitius. As espécies C. cyanopus, C. kuehneriana, C. smithii e C. siligineoides já foram descritas como produtoras da psilocina e a psilocibina. Os cogumelos C. siligineoides eram usados pelos mazatecas de Oaxaca/México para fins ritualísticos. Já o C. filaris produz toxinas letais, como o Amanita phalloides, e pode ser encontrado em relvados. 
Cogumelos Conocybe tenera são os mais conhecidos desse gênero.
 
 Introdução
Os fungos microscópicos (filamentosos, bolores e leveduras) e os macrofungos (cogumelos) podem apresentar diversas vantagens ecológicas e econômicas com usos variados. Entretanto, muitos deles podem provocar perdas incalculáveis na agricultura por causa das pragas fúngicas em cultivos ou, então, gerar grande impacto na saúde individual e coletiva com micoses cada vez mais resistentes ao tratamento.
As doenças fúngicas estão mais presentes no nosso dia a dia do que imaginamos. O conhecido “ "pé de atleta" é uma micose, assim como o “sapinho”, que costuma aparecer na boca de bebês e crianças pequenas. As principais manifestações clínicas e os locais acometidos pelos fungos estão intimamente ligados ao modo como eles obtêm seus nutrientes. Como esses seres secretam suas enzimas no substrato, isso pode lesionar os tecidos vivos quando estão parasitando animais e humanos, estimulando uma resposta imunológica frente à agressão e presença do patógeno.
As micoses são divididas em grupos, de acordo com as doenças que causam e seus agentes etiológicos.
MÓDULO 1 
Descrever o micetismo e a micotoxicose
As enzimas secretadas pelos fungos durante seu metabolismo podem, em alguns casos, ser tóxicas ou até mesmo letais para quem as ingere. A micotoxicose e o micetismo são as doenças relacionadas à ingestão das micotoxinas secretadas (fungos filamentosos) ou presentes nas estruturas fúngicas (cogumelos), respectivamente. A principal diferença dessas duas doenças refere-se ao agente causador, e veremos quais são os organismos e mecanismos envolvidos em cada uma delas. 
CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MICETISMO
Micetismo é o termo utilizado para as intoxicações ocorridas por ingestão de cogumelos venenosos. A causa mais comum está relacionada ao consumo de cogumelos tóxicos colhido da natureza, que são confundidos com os comestíveis. Como os compostos tóxicos dos cogumelos são resistentes às alterações físico-químicas, não sendo destruídas pelo calor da cocção ou do congelamento, seu poder letal continua intacto mesmo após a preparação dos alimentos.
A maioria dos envenenamentos ocorre por acidente, mas parte deles também pode acontecer por ingestão proposital de cogumelos com efeitos alucinógenos. Erro na identificação, no entanto, também pode ser fatal e levar a mais um caso de micetismo.
Em alguns casos, os sintomas após a ingestão dos cogumelos venenosos serão autolimitados, mas outros poderão ser fatais. As toxinas desses cogumelos podem ter propriedades psicotrópicas, nefrotóxicas, gastrotóxicas, hemolíticas, hepatotóxicas, neurotóxicas. Em alguns casos, podem englobar dois ou mais efeitos adversos. Em muitos deles, também ocorre letalidade, pois não existe um tratamento padronizado ou um antídoto eficaz para os casos dessa intoxicação.
A maioria das intoxicações por cogumelos venenosos produzirá algum desconforto gastrointestinal, que costuma ser o primeiro sintoma relatado. Anteriormente, os médicos tentavam prever o curso do micetismo baseados no tempo de aparecimento dos primeiros sintomas, sugerindo que o surgimento antes de seis horas pós-ingestão mostrava um prognóstico de toxicidade limitada. Porém, aos poucos, isso vem mudando, pois se percebeu que não existe um padrão, principalmente à medida que novos cogumelos venenosos são conhecidos e novos casos são relatados.
Desconforto gastrointestinal
Os primeiros sintomas do micetismo, geralmente, são desconfortos gastrointestinais. 
Prognóstico 
Traça um possível desdobramento dos sintomas baseados nas informações clínicas e laboratoriais.
Por isso, a seguir, trataremos dos tipos de micetismo de acordo com os sintomas que estão relacionados, e não com o tempo de aparecimento deles. 
Micetismo gastrointestinal
Muitos cogumelos produzem toxinas que causam distúrbios gastrointestinais por possuírem compostos irritantes a esses órgãos e, mesmo apresentando estruturas químicas distintas, essas toxinas podem causar os mesmos sintomas. Além disso, muitos macrofungos que produzem toxicidade sistêmica severa também podem gerar toxicidade gastrointestinal como sintomas iniciais. O tempo para o aparecimento dos primeiros sintomas após a ingestão gira em torno de 20 a 30 minutos, podendo acontecer até quatro horas após a ingestão. 
Os principais sintomas podem ser:
Clique nos itens. 
Náuseas
Cólicas
Vômitos 
Mal-estar 
Algumas vezes, diarreia e dor abdominal 
Apesar de todos esses sintomas, na maioria dos casos de micetismo gastrointestinal, o prognóstico é favorável e os sintomas desaparecem em torno de um ou dois dias. Entretanto, a resposta individual a esse tipo de envenenamento é muito variada, desde ligeiro desconforto e dor até casos extremos de diarreia intensa com desidratação.
Apesar de ser uma experiência bem desagradável, a desidratação é a complicação mais comum nesse caso de micetismo. Por causa da perda significativa de fluidos nos vômitos e quadros diarreicos, é necessária a reposição imediata de água e eletrólitos.
Apesar das manifestações clínicas serem semelhantes, várias espécies de cogumelos podem desencadear esses sintomas; inclusive, alguns podem iniciar com esses sintomas e piorarem o quadro com outras manifestações mais graves. Como ainda existe muito a ser descoberto, são exemplos de cogumelos já descritos por causarem micetismo gastrointestinais:
Russula emetica
O cogumelo Russula emetica já foi descrito como causador do micetismo gastrintestinal.
Boletus satanas 
O micetismo gastrointestinal pode ser causadoapós a ingesta do cogumelo Boletus satanas.
Hypholoma fasciculare
Inúmeros cogumelos Hypholoma fasciculare podem causar micetismo gastrointestinal.
Micetismo neurotóxico
Neste caso de micetismo, as toxinas podem atuar causando sintomas diretamente ligados ao sistema nervoso simpático ou parassimpático, ou, ainda mais precocemente, sintomas gastrointestinais. Para os sintomas relacionados ao sistema nervoso parassimpático, o início pode ocorrer entre 15 e 30 minutos depois da ingestão, e os primeiros sintomas são vômitos, sudorese intensa, diarreia, cólicas, salivação profusa, lacrimejamento, podendo causar ainda convulsão, excitação nervosa, delírio e dispneia.
Apesar de alguns casos resultarem em coma, o micetismo neurotóxico não é tão grave, e poucas vezes o paciente vai a óbito.
A principal toxina responsável por esse quadro de micetismo neurotóxico do sistema nervoso parassimpático é a muscarina. Esse composto atua diretamente no estímulo das terminações nervosas, e isso explica a maioria dos sintomas relacionados. O efeito da muscarina pode ser anulado com atropina, por isso o tratamento dos pacientes intoxicados com essa toxina é baseado em lavagem gástrica e administração da atropina.
A intoxicação por muscarina é comum, pois baixas doses podem promover o mesmo efeito do haxixe (Cannabis indica ou C. sativa). Então, buscando pelo efeito recreativo, muitas pessoas acabam se intoxicando e colocando a vida em risco. Ao contrário do que o nome possa sugerir, a muscarina não é tão abundante no cogumelo Amanita muscaria, sendo presente em maior quantidade em outros cogumelos, como Clitocybe rivulosa e Inocybe erubescens.
Clique nas barras para ver as informações. 
Clitocybe rivulosa
O cogumelo Clitocybe rivulosa também produz um composto tóxico chamado muscarina.
Inocybe erubescens
O Inocybe erubescens produz a muscarina em altas doses, e seu consumo é potencialmente nocivo.
Já na toxicidade do sistema nervoso central, os sintomas podem começar de 15 a 30 minutos após a ingestão e podem durar até seis horas. Por atuar nesse sistema, os principais sintomas estão relacionados a alucinações visuais e auditivas. Também há alteração da percepção de espaço-tempo e extrassensorial, hipertensão, midríase, arritmias, taquicardia e, em alguns casos mais graves, infarto do miocárdio. A toxina responsável por essa alucinação é a psilocibina, presente em cogumelos como Psilocybe spp., Paneolus spp., Stropharia spp.
Clique nas barras para ver as informações. 
Midríase 
A midríase é a dilatação anormal da pupila e pode estar relacionada ao micetismo neurotóxico do sistema nervoso central.
Psilocybe spp 
Os cogumelos do gênero Psilocybe são os principais produtores de psilocibina.
Paneolus spp
Os cogumelos Panaeoulos também produzem a psilocibina, toxina alucinógena.
Stropharia spp
A psilocibina, toxina alucinógena, também pode ser encontrada em cogumelos do gênero Stropharia.
Por ainda não existir antídoto para as toxinas de ambos os casos, o tratamento é baseado em suporte ao paciente. Caso ele apresente quadros de convulsão ou agitação, barbitúricos e benzodiazepínicos podem auxiliar no controle. 
Micetismo hepatotóxico
Nesse caso de micetismo ocorre o comprometimento do fígado, sendo mais grave do que os outros tipos, podendo desencadear hepatite ou insuficiência hepática aguda.
A progressão clínica, neste caso, pode ser dividida em quatro estágios:
1
Fase quiescente ou latência: é a fase assintomática, que pode durar de 6-24h antes de aparecerem os primeiros sintomas gastrointestinais.
2
Fase gastrointestinal: dura entre 1 e 2 dias e é acompanhada por gastroenterites, vômitos, diarreia e dor abdominal. 
3
Remissão clínica: as enzimas hepáticas começam a aumentar dentro de 16-48h após a ingestão e podem aumentar apesar da aparente melhora clínica.
4
Insuficiência hepática aguda ou falência múltipla dos órgãos: dentro de 2 a 7 dias ocorre insuficiência hepática ou de vários órgãos, sendo a insuficiência hepática fulminante à manifestação de toxicidade grave.
Cerca de 4 a 16 dias depois da ingestão do cogumelo, na maioria dos casos fatais, ocorrerá o óbito do paciente. Nos casos de envenenamento mais leves, os pacientes podem se recuperar, contudo muitos desenvolvem hepatite crônica.
As toxinas envolvidas no micetismo hepatotóxico são as amatoxinas e giromitrinas. Os cogumelos contendo amatoxina causam a maioria das fatalidades por micetismo, isso porque doses pequenas dessa toxina (0,1mg de amatoxina/kg de peso corporal) podem ser letais para os indivíduos adultos.
A intoxicação acontece principalmente devido a um equívoco na identificação dos cogumelos comestíveis, que podem ser confundidos com os tóxicos, como os do gênero Amanita (A. phalloides, A. rubescens, A. verna e A. virosa), Lepiota (L. brunneoincarnata) e Galerina (G. marginata). 
Observe algumas características desses cogumelos: 
A. phalloides
Amanita phalloides é um dos cogumelos mais letais registrado até o momento.
A. rubescens
Os cogumelos Amanita rubescens também figuram entre os cogumelos causadores de micetismo.
A. verna
A amatoxina presente no Amanita verna é responsável pelo potencial tóxico desses cogumelos.
A. virosa
O micetismo hepático pode ocorrer após a ingestão de cogumelos Amanita virosa.
L. brunneoincarnata
O cogumelo Lepiota brunneoincarnata também produz amatoxina.
G. marginata
O cogumelo Galerina marginata por ser frequentemente confundido com cogumelos comestíveis; figura entre as espécies responsáveis pela intoxicação.
Assim como para os outros casos de micetismo, não existe um antídoto para a intoxicação por esses cogumelos, tampouco tratamentos padronizados. Então, nos casos de micetismo hepatotóxico, o tratamento inclui cuidados de suporte intensivo, com atenção aos desequilíbrios de fluidos e eletrólitos, distúrbios de coagulação e hipoglicemia. 
Micetismo nefrotóxico
A função renal pode ser comprometida em decorrência do mau funcionamento hepático pela intoxicação por cogumelos venenosos. 
O micetismo nefrotóxico acontece muito em decorrência do resultado da lesão hepática, que eleva a liberação de substâncias que consequentemente estressam e aumentam a função renal. Além desse dano indireto à insuficiência hepática, existem toxinas que danificam diretamente o tecido do rim, como as orelaninas. 
O período de incubação da nefrotoxicidade pode ser de dias ou semanas, por isso é difícil correlacionar os danos renais com o envenenamento por cogumelos. Inicialmente, o paciente poderá ter dores nas costas e flancos abdominais, acompanhada de forte sede. Esse paciente pode apresentar hematúria, leucocitúria, proteinúria, poliúria e, dependendo da gravidade, insuficiência renal progressiva. Nos casos mais raros, ocorre anúria.
O tratamento é de suporte, pois não existe um antídoto para orelaninas. Por isso, o tratamento é sintomático e, para eliminar as toxinas causadoras da nefrotoxicidade, pode-se realizar hemodiálise. Em casos mais graves, o transplante renal tem sido recomendado. Os principais cogumelos produtores de orelanina são dos do gênero Cortinarius (C. speciosissimus, C. rubellus e C. orellanosus).
Micetismo hematotóxico
A toxicidade para as células sanguíneas pode acontecer pela presença de toxinas com atividade hemolítica ou então pela produção de anticorpos que deveriam atacar as toxinas do cogumelo, mas também causam hemólise mediada por imunocomplexos.
No caso da toxicidade mediada pelos imunocomplexos, os sintomas podem começar menos de seis horas após a ingestão e incluem gastroenterite e choque. Podem ocorrer nefrite intersticial e insuficiência hepatorrenal, sendo necessária a realização de hemodiálise. Essa forma de micetismo está principalmente associada ao cogumelo Paxillus involutus. Já para os casos de cogumelos que produzem hemolisinas, o paciente pode apresentar hemoglobinúria transitória, icterícia e desconforto abdominal. Apesar do prognóstico favorável, podem ocorrer óbitos. Nesse caso, a transfusão é o tratamento mais adequado. O cogumelo Gyromitra esculenta já foi associadoa esse tipo de micetismo.
Atenção 
O cogumelo Paxillus involutus podem produzir toxinas com atividade hemolítica.
Atenção 
O cogumelo Gyromitra esculenta podem produzir toxinas com atividade hemolítica.
MICOTOXICOSE E AS MICOTOXINAS
A micotoxicose é a intoxicação ocasionada por ingestão das micotoxinas, que são estruturas químicas de baixo peso molecular com grande variedade estrutural. De modo geral, quando comparadas às toxinas bacterianas, elas são relativamente mais simples. Por causa dessa característica, muitas técnicas precisam ser empregadas para a detecção ou remoção dessas toxinas nos alimentos. Consequentemente, seu controle também é difícil.
As micotoxinas são metabólitos secundários secretados por bolores (fungos filamentosos), e sua ingestão, inalação ou seu contato podem causar sintomas leves ou outros que podem até levar à morte do paciente. Essas toxinas são produzidas por fungos microscópicos, que podem crescer como contaminante de vegetais, como cereais e grãos. Essa contaminação pode acontecer em qualquer etapa: no cultivo, na colheita, no transporte ou até no armazenamento.
Observe mais alguns aspectos das micotoxinas:
Clique nas barras para ver as informações. 
Bolores 
Os fungos filamentosos (bolores) são os responsáveis pela produção das micotoxinas.
Cereais
Os fungos filamentosos que crescem nos cereais apresentam grande risco à saúde.
Grãos
O crescimento de fungos filamentosos nos grãos gera riscos à saúde por causa da produção das micotoxinas.
Transporte 
Os cereais estão expostos a uma possível contaminação por fungos produtores de micotoxinas em todo o processo, incluindo o transporte.
Armazenamento
O armazenamento dos cereais requer controle rigoroso para impedir a contaminação por fungos produtores de micotoxinas.
Além da bioquímica e fisiologia dos fungos produtores de micotoxinas, condições ambientais podem contribuir diretamente na produção dessas micotoxinas, como umidade, composição do alimento, pH, temperatura, interação microbiana e tantos outros fatores que, quando controlados, auxiliam na redução da contaminação. Assim como as toxinas dos cogumelos, as micotoxinas são termoestáveis e podem permanecer no alimento mesmo depois da morte dos fungos por cozimento ou congelamento.
O principal problema relacionado às micotoxinas são os efeitos crônicos e cumulativos que podem induzir o aparecimento de câncer, principalmente hepático. Isso se deve ao fato de essas toxinas interferirem na replicação do DNA, causando efeitos teratogênicos ou mutagênicos. Historicamente, as micotoxinas vêm ocasionando grandes perdas, e não só econômicas. Desde a Idade Média, há relatos mortes por causa de micotoxicose, sendo relevante até os tempos modernos. No esquema a seguir, vemos a linha do tempo dos marcos históricos da micotoxinas.
Europa Medieval
Ergotismo
Associação ao consumo de pão feito com farinha de cereais contaminados por fungos.
1930
Identificação do alcaloide responsável pelo ergotismo
Claviceps purpurea 
Claviceps paspali
Segunda Guerra Mundial
Episódios de intoxicação na Rússia durante a Segunda Guerra Mundial
A aleucia tóxica alimentar matou milhares de soldados na Rússia que consumiram alimentos com cereais cobertos por neve, atacados por fungos produtores de micotoxinas.
1960
Marco histórico do reconhecimento das micotoxinas 
Centenas de aves morreram em várias regiões da Inglaterra, depois de alimentadas com rações contaminadas da África e do Brasil.
Aflatoxina
A aflatoxina é uma das micotoxinas mais conhecidas e estudadas. Essas micotoxinas são altamente instáveis e provenientes de cumarínicos policíclicos insaturados, apresentando alto poder patogênico. A aflatoxina é produzida por fungos filamentosos do gênero Aspergillus, sendo a principal espécie o A. flavus, que pode ser encontrada em todo o mundo, preferencialmente em ambientes úmidos e quentes, estando distribuída na África, Austrália, Ásia tropical e América Latina.
Atualmente, são conhecidos 17 compostos pertencentes a essa classe de micotoxinas, porém os mais importantes são as B1, B2, G1 e G2, naturalmente encontradas em alimentos feitos com milho, trigo, feijão, entre outros. As aflatoxinas também podem ser detectadas nas fezes, urina, nos músculos, tecidos comestíveis e no leite dos animais que se alimentam de rações contaminadas com essas micotoxinas.
Aspergillus flavus crescendo em grãos de milho com a coloração esverdeada. 
Tanto em humanos quanto em animais, as aflatoxinas podem causar danos hepáticos e tumores. Podem ser ingeridas com cereais deteriorados e são metabolizadas pelo fígado, tornando-se um potente carcinogênico. São facilmente absorvidas pelo intestino delgado e duodeno por difusão passiva devido à sua característica lipofílica e baixo peso molecular.
Após a absorção, essas micotoxinas seguem para o fígado pelo fluxo sanguíneo, acumulando-se nesse órgão por causa da permeabilidade da membrana do hepatócito. É possível que a eliminação da aflatoxina ocorra, primeiro, pela bile e, depois, pela urina; já houve detecção em menor quantidade no leite materno.
Já foram detectados níveis preocupantes de aflatoxinas em alimentos como granola e o nosso arroz branco de todos os dias, podendo causar danos a longo prazo na saúde humana. Outro alimento que é constante alvo do ataque de fungos produtores de aflatoxina é o amendoim.
Clique nas barras para ver as informações. 
Arroz branco
Aflatoxinas podem ser encontradas no arroz por causa do crescimento de fungos do gênero Aspergillus.
Amendoim
Os fungos do gênero Aspergillus também podem crescer em amendoim, liberando aflatoxinas.
Por causa dos efeitos tóxicos, existe legislação própria que visa minimizar os impactos dessas micotoxinas nos alimentos, bem como protocolos e testes de controle de qualidade para evitar ou diminuir essa contaminação para níveis mais seguros. 
Ocratoxina
A ocratoxina apresenta principalmente efeitos nefrotóxicos, sendo produzida por fungos do gênero Aspergillus e Penicillium. Em 1965, foi descrita pela primeira vez como metabólito secundário do A. ochraceu. 
Ela se divide em três tipos distintos:
Ocratoxina A
Apresenta uma molécula de cloro em sua composição.
Ocratoxina B
Não apresenta potencial tóxico.
Ocratoxina C
Composto por etil éter da ocratoxina A, sendo menos tóxica do que ela.
A ocratoxina A é a mais tóxica e a mais frequente. Além do efeito nefrotóxico, apresenta efeitos carcinogênicos, teratogênicos e imunossupressores. Essa toxina é comumente encontrada no café, nos cereais ou pães.
Nefrotóxico
O principal efeito tóxico da ocratoxina está relacionado aos rins. 
Café
A ocratoxina pode ser encontrada em grãos de café.
A ocratoxina é absorvida lentamente pelo trato gastrointestinal, sendo essa a principal via de contaminação. Geralmente, ocorre uma absorção rápida no estômago por conta de sua característica ácida e mais lenta ao longo do percurso intestinal. 
Os efeitos nefrotóxicos são observados principalmente nos mamíferos não ruminantes, causando alterações na osmolaridade da urina, aumento dos rins e poliúria. A função renal é afetada devido ao aumento do rim e pela presença de necrose tubular renal associada à redução da atividade enzimática, que favorece o surgimento dos adenomas renais e tumores. Em gestantes, a ocratoxina A pode causar deformações no sistema nervoso do feto.
Em gestante, o principal risco da ocratoxina está
nas deformações do sistema nervoso central do feto. 
Citrina
Essa micotoxina é encontrada principalmente nos pães mofados, em grãos de aveia mofados, centeio, cevada, milho, trigo, arroz e em tantos outros grãos e derivados de cereais. Testes laboratoriais mostraram que a citrina tem potencial nefrotóxico, porém, até o momento, não foram encontradas evidências do impacto desta toxina na saúde humana. As principais vítimas da citrina são os animais domésticos, especialmente os suínos, quando se alimentam de rações e cereais contaminados com o fungo Penicillium citrinum.
Conheça mais alguns detalhes dos fungos de citrina e onde são encontrados: 
Cliquenas barras para ver as informações. 
Grãos de aveia mofados
O fungo produtor de citrina pode ser encontrado em grãos de aveia mofados. 
Animais domésticos
Os animais domésticos são os que mais sofrem os efeitos da citrina, que pode estar presente nas rações.
Penicillium citrinum:
Cereais contaminados
Observe o Penicillium citrinum, produtor da toxina citrina, crescendo em uma laranja. 
Esterigmatocistina
Essa micotoxina tem atividade hepatocarcinogênica, e este grupo é composto por oito diferentes toxinas capazes de inibir a síntese de DNA. Fungos produtores como Aspergillus versicolor, A. nidulans e A. rugulosus têm predileção por crescer em aveia, trigo e café.
Fungo filamentoso crescendo nos grãos de trigo. 
Patulina
A patulina é uma micotoxina termorresistente e pode ser encontrada em produtos armazenados, onde os fungos do gênero Aspergillus, Byssochlamys ou Penicillium (P. patulum, P. claviforme e P. expansum) podem crescer. O P. expansum é estudado desde a década de 1940 por apresentar potencial antibiótico, porém também foi observado que, quando ele cresce em alimentos, especialmente em frutos em deterioração , apresentam potencial fitotóxico , carcinogênico, teratogênico e pode causar lesões nos pulmões, rins e no fígado. Por ser fitotóxico, nas plantas, essa micotoxina cliva as ligações peptídicas e a celulose, especialmente das maçãs.
A maior incidência de patulina no Brasil é no suco de maçã e nos alimentos para crianças à base dessa fruta, porém não é observada em alimentos sólidos. Lembrando que, apesar de quase não consumirmos suco de maçã puro, atualmente a maioria dos sucos industrializados têm suco de maçã em sua composição. A detecção dessas toxinas em alimentos não é tão simples e necessita de técnicas complexas, como ensaios imunoquímicos e cromatográficos. 
Tricotecenos
Nesta classe, estão agrupadas mais de cem micotoxinas por apresentarem a mesma estrutura química e receberam esse nome por causa do primeiro composto a ser descrito, a tricotecina. Vários fungos podem produzir a micotoxina, como Trichoderma e Fusarium. Apesar de tantas toxinas e gêneros que as produzem, menos de dez são de interesse médico por contaminarem os alimentos.
A ação dessas toxinas inibe a síntese de proteínas de RNA e DNA, acarretando efeitos hemorrágicos e imunossupressores. O os tricotecenos são encontrados geralmente em cevada, no milho, centeio e trigo.
Os fungos do gênero Trichoderma são produtores da micotoxina tricotecenos. 
Após a ingestão dos tricotecenos, os principais sintomas são perda de peso e apetite, diminuição das células sanguíneas e diminuição do crescimento. Nos suínos, podem ocorrer múltiplos processos hemorrágicos no estômago, esôfago ou fígado. Além disso, pode apresentar efeito imunossupressor, que impacta diretamente a reprodução desses animais.
Zearalenonas
A zearalenona é formada por uma molécula de lactona ácida resorcílica e pode ser produzida por inúmeras espécies de Fusarium, como F. culmorum e F. graminearum. Essa micotoxina possui afinidade por milho e seus derivados, principalmente com grão armazenado em local que tem excesso de umidade e temperaturas com oscilações entre dias quentes e noites frias. O clima do local em que os grãos são armazenados influencia diretamente na produção de zearalenonas.
Os fungos do gênero Fusarium podem produzir zearalenonas. 
Essa toxina não apresenta importância médica, pois não foi comprovado nenhum dano aos seres humanos, porém o impacto econômico ocorre principalmente na criação de suínos por causar impotência reprodutora. Nesses animais, a zearalenona tem função estrogênica não esteroide, sendo conhecida por seus efeitos estrogênicos, que inclui infertilidade, atrofia testicular, desenvolvimento precoce das mamas, redução da gravidez, entre outros, impactando o rebanho de suínos.
Essa micotoxina é frequentemente encontrada em produtos agrícolas, como farelo de trigo, farelo de arroz, silagem, milho, trigo e sorgo.
Fumonisinas
Cerca de 16 toxinas fazem parte da classe das fumonisinas, sendo B1 e B2 as primeiras a serem descritas após isolamento de culturas de Fusarium moniliforme. Várias espécies do gênero Fusarium podem produzir essa toxina, e esses fungos são normalmente encontrados no milho.
O Fusarium moniliforme produz fumosinas
e foi o primeiro a ser descrito. 
Os sintomas em humanos e animais são os mais variados, podendo apresentar diarreia, inanição, falta de ar, anorexia, perda de tônus muscular, encefalopatia e necroses no fígado, podendo evoluir para quadros mais graves. A toxina B1 não é tão bem absorvida pelo trato gastrointestinal quanto a B2, por isso ela é eliminada mais facilmente por excreção biliar. Apesar do quadro clínico ser grave e inspirar cuidados, mais de 70% dos casos de intoxicação pela fumonisina são tratáveis. 
O milho pode ser atacado pelo Fusarium spp.
e ser contaminado com a fumosina. 
Neste vídeo, você conhecerá um pouco sobre a regulamentação das micotoxinas. 
Verificando o aprendizado
Parte superior do formulário
1. O micetismo ocorre após a ingestão de cogumelos venenosos produtores de toxinas e as manifestações clínicas podem ser as mais variadas possíveis. A respeito do tratamento do micetismo, é correto afirmar:
Para os pacientes que apresentam micetismo gastrointestinal, a administração de carvão ativado e lavagem gastrointestinal é suficiente.
Não existe um antídoto eficaz para as toxinas, então a maioria da terapia é baseada no tratamento dos sintomas e suporte do paciente.
Os casos de micetismo hepatotóxico pode ser revertido apenas com o paciente realizando hemodiálise e, em alguns casos, transfusão de sangue.
O antídoto para os casos mais graves de micetismo são eficazes somente quando administrado nas primeiras 12 horas do aparecimento dos sintomas.
Nos casos neurotóxicos do micetismo o paciente precisa ser imediatamente submetido a exames neurais para verificação do dano neurológico.
Parte inferior do formulário
Comentário
Parte superior do formulário
2. Micotoxicose é a intoxicação por ingestão de alimentos contaminados com micotoxinas que são produzidas por fungos filamentosos (bolores). Dentre as toxinas relacionadas a seguir quais apresentam efeitos tóxicos para os humanos?
Citrina e patulina.
Aflatoxina e ocratoxina.
Tricoteceno e zearalenona.
Fumosina e citrina.
Zearalenona e fumosina.
Parte inferior do formulário
Comentário
Avalie este módulo:
MÓDULO 2 
Identificar as micoses superficiais, cutâneas e subcutâneas
Os fungos podem causar doenças a praticamente qualquer organismo vivo, e a infecção em animais e humanos gerada por esses microrganismos são chamadas de micoses. A pele é um órgão que está em constante contato com o mundo exterior e, consequentemente, com os mais diversos microrganismos, podendo ser parasitada pelos fungos.
Para entender essa classificação, precisamos revisar como é a estrutura da pele humana (Figura 1), pois a classificação das micoses está diretamente relacionada à qual porção da pele elas causam doenças.
Figura 1: A pele pode ser dividida em três camadas, e as micoses podem se desenvolver em cada uma delas. 
Atenção 
As micoses são classificadas de acordo com o local que atingem o hospedeiro e os agentes que a causam. 
No vídeo, podemos ver, de modo detalhado, as etapas que englobam o diagnóstico micológico, que é extremamente importante para a definição da doença e o curso do tratamento que precisa ser realizado.
MICOSES SUPERFICIAIS
As micoses superficiais são as mais comuns, e, com certeza, você já teve ou terá essa doença em algum momento da sua vida. Essas micoses são mais incômodas do que letais, pois muitas delas podem causar uma aparência desagradável à pele. Os fungos causadores das micoses superficiais atingem apenas as camadas mais superficiais da pele. Por não invadirem os tecidos vivos, podem não disparar reações inflamatórias no hospedeiro.
Esquema das micoses superficiais causadas pelos
fungos que crescem na camada mais superficial da pele. 
Pitiríase versicolor
A pitiríase versicolor, popularmente conhecidapor “pano branco” ou “micose de praia”, é causada pelas leveduras lipofílicas do gênero Malassezia. Essa levedura faz parte da microbiota normal da pele e do couro cabeludo, mas, por causa de algum desequilíbrio, ela começa a crescer mais do que o normal e gera manchas hiperpigmentadas ou hipopigmentadas.
Conheças alguns aspectos a seguir da pitiríase versicolor: 
1
Pano branco
O popular “pano branco” é causado pelas leveduras do gênero Malassezia.
Hiperpigmentadas 
A pitiríase versicolor pode apresentar manchar hiperpigmentadas.
2
3
Hipopigmentadas
Manchas hipopigmentadas causadas pelas leveduras do gênero Malassezia.
Geralmente, essas manchas aparecem em regiões com maior concentração ou produção de sebo. Por isso, é comum aparecerem em tronco, tórax, pescoço, ombros. Essa micose pode ser crônica e atinge homens e mulheres de igual forma, sendo mais frequente em adolescentes e jovens adultos. O crescimento exacerbado da Malassezia pode interferir na produção de melanina e, quando expostas ao sol, as manchas são evidenciadas, por isso são comumente associadas a uma “doença de praia”.
O diagnóstico dessa micose é simples e pode ser feito coletando-se escamas dessas manchas com posterior tratamento com hidróxido de potássio (KOH 10-20%) para visualização em microscópio. As leveduras de Malassezia spp. são redondas ou ovaladas, agrupadas ou isoladas, com brotamento que lembra um pino de boliche.
O cultivo dessas leveduras é mais complexo devido à sua exigência nutricional por lipídeos, necessitando de suplementação do meio de cultura com ácidos graxos de cadeia longa (exemplos: óleo de girassol, milho e oliva). 
O uso de shampoo próprio para o tratamento como - shampoo com sulfeto de selênio (2,5%) -  pode ser suficiente para tratar a pitiríase versicolor. 
Geralmente, o tratamento pode ser tópico com o uso de hipossulfito de sódio (40%), shampoo com sulfeto de selênio (2,5%) ou com derivados imidazólicos, sendo indicada administração oral de antifúngicos somente quando as lesões são muito extensas ou em quadros com recidivas. Mesmo seguindo o tratamento adequadamente, a coloração da pele pode demorar meses para voltar ao normal.
Tinea nigra
A tinea nigra é uma micose assintomática e benigna do extrato córneo, que provoca o aparecimento de manchas marrom ou enegrecidas, geralmente nas palmas das mãos ou na sola dos pés. Essa micose é causada por uma levedura melanizada chamada Hortaea werneckii e tem predileção por indivíduos jovens. No Brasil, essa micose foi descrita em maior número na região Nordeste.
A tinea nigra é caracterizada pelo aparecimento de 
manchas escuras na palma das mãos ou sola dos pés. 
Não existe nenhum grande comprometimento fisiológico, sendo apenas necessário o cuidado no diagnóstico diferencial de fitotomelanose e melanoma. O diagnóstico pode ser feito pelo exame direto das escamas da pele clarificada com KOH 10-20% e a cultura dessas escamas em Ágar Sabouraud dextrose, apresentando um crescimento lento. O tratamento da tinea nigra pode ser feito com soluções ceratolíticas, antifúngicos ou ácido salicílico.
As colônicas da Hortaea werneckii são escuras pela presença de melanina. 
Piedra branca
A piedra branca, diferente das outras micoses superficiais que atingem a camada mais superficial da pele, acomete somente os pelos ou fios de cabelos. Também é uma micose benigna, e o principal sintoma está relacionado aos nódulos claros que aparecem ao redor do fio. Essa micose é comumente confundida com lêndeas dos piolhos, por sua aparência semelhante, porém, nos casos de pediculose, há prurido intenso e alta taxa de transmissão, o que não ocorre com a piedra branca.
Apesar de já haver relatos no mundo todo, essa micose é mais comum em locais de clima temperado e tropical. O costume de prender os cabelos ainda molhados e o uso excessivo de cremes favorecem o aparecimento dessa micose por manter a umidade por mais tempo nos fios.
Seu agente causador é o gêneroTrichosporon e o diagnóstico pode ser feito observando-se os nódulos ao microscópio após a clarificação com KOH 10-20%, onde serão vistas estruturas hifas com artoconídios e alguns blastoconídios.
A colônia do Trichosporon cresce rapidamente em Ágar Sabouraud com coloração creme ou branca. O principal tratamento é o corte dos fios para tirar a parte que está com os nódulos, podendo-se associar o uso de imidazólicos tópicos, e raramente são necessários antifúngicos orais.
Piedra negra
Assim como a piedra branca, a piedra negra é uma micose assintomática, benigna, que acomete os pelos causado o aparecimento de nódulos escuros, que são firmemente aderidos aos fios. Essa micose é considerada endêmica na região amazônica, já que a elevada umidade relativa do ar e as altas temperaturas favorecem o aparecimento dessa micose em ambos os sexos, preferencialmente em jovens.
O corte do cabelo parasitado é o tratamento mais indicado. 
Seu agente causador é o fungo melanizado Piedraia hortae, e o exame direto do nódulo clarificado por KOH 20-40% evidencia estruturas características desse fungo. O cultivo em meio Sabouraud dextrose com cloranfenicol tem crescimento lento e apresenta coloração escura. O tratamento mais indicado é o corte do cabelo parasitado com uso tópico de derivados imidazólicos.
MICOSES CUTÂNEAS
Dermatofitose
A dermatofitose é uma micose causada por fungos denominados “dermatófitos”, e esse grupo fúngico é composto por microrganismos que têm afinidade com queratina. Por causa dessa exigência nutricional, os dermatófitos são frequentemente encontrados parasitando tecidos de animais e humanos ricos em queratina, causando lesões em pele e pelos.
Esses fungos não costumam parasitar tecidos mais profundos, porque não são capazes de crescer em temperaturas mais elevadas, em torno de 37°C, e necessitam de queratina para sua sobrevivência.
Essa micose é uma das infecções de pele mais prevalentes do mundo, porém, apesar de serem incômodas e muitas vezes persistentes, não são debilitantes, tampouco fatais. Essa micose também pode ser chamada de “tinha” ou “tinea” e recebe o nome da localização corporal em que se encontra, geralmente regiões úmidas e quentes do corpo, como descrito no quadro a seguir.
As lesões com aparência típica dessa micose apresentam borda circular inflamada, com vesículas e pápulas que ficam ao redor da área de pele ainda não parasitada. Quando os dermatófitos atacam os pelos ou as unhas, é possível verificar um espessamento e enfraquecimento das unhas e pelos quebradiços.
	Imagem 
	Doença 
	Localização 
	
	Tinea corporis 
	Pele glabra e lisa. 
	
	Tinea pedis (pé de atleta) 
	Espaços entre os dedos dos pés. 
	
	Tinea cruris (coceira do jóquei) 
	Virilha. 
	
	Tinea capitis 
	Couro cabeludo ou fios de cabelo. Endótrix: fungo dentro do fio. Ectótrix: fungo na superfície do fio. 
	
	Tinea ungueal (onicomicose) 
	Unhas. 
O grupo dos dermatófitos engloba mais de 40 espécies que pertencem a três gêneros: Microsporum, Epidermophyton e Trichophyton. De acordo com o habitat, eles podem ser classificados em zoofílicos, geofílicos ou antropofílicos. Os animais são os hospedeiros principais dos dermatófitos zoofílicos e, quando o humano é parasitado por esses fungos, ele geralmente adquiriu a infecção por contato direto com animal infectado.
O Trichophyton mentragrophytes é um dermatófito que pode causar lesões em humanos e animais. 
O M. canis é o mais encontrado parasitando gatos e cães, já o T. mentagrophytes var. mentagrophytes pode ser encontrando causando micoses em pequenos animais, como cobaias ou bovinos. Os dermatófitos geofílicos são encontrados vivendo no solo, e animais e os humanos infectam-se por meio de contato direto com a área contaminada.
No Brasil, o geofílico mais comum é o M. gypseum. Já os antropofílicos fazem seu ciclo apenas pela passagem humano-humano. Geralmente, essa transmissão ocorre por contato indireto de objetos contaminados, como roupas, sapatos, lençóis etc. 
Os mais comuns no Brasil são T. mentagrophytes var. interdigitale, T. rubrum, T. tonsurans e E. floccosum. A transmissãode dermatófitos entre homens, animais e solo pode ocorrer por contato direto com os fungos ou por escamas da pele e pelos contaminados, como ilustra o diagrama.
Cultura do dermatófito geofílico Microsporum gypseum. 
Esquema ilustrativo das vias de transmissão dos dermatófitos entre solo, humanos e animais. 
Os dermatófitos apresentam características macro e micromorfológicas que são capazes de distinguir seu gênero e sua espécie. De modo geral, todos apresentam hifas hialinas e septadas, com formação de macro e microconídios, e é por meio da observação dos macroconídios que podemos diferenciá-los.
Os fungos do gênero Microsporum têm macroconídios fusiformes, septados com paredes espessas e rugosas e poucos microconídios. O gênero Epidermophyton produz macroconídios piriformes com paredes lisas e 2 a 4 células que podem estar isolados ou em forma de cachos. Os macroconídios do gênero Trichophyton são multisseptados, cilíndricos, com paredes lisas, e seus microconídios podem ser piriformes, ovais ou redondos.
Observe algumas características desses fungos a seguir:
1
Microsporum 
Os macroconídios do Microsporum são fusiformes de parede espessa e septados.
Epidermophyton 
O gênero Epidermophyton apresenta macroconídios piriformes com parede lisas.
2
3
Trichophyton 
Os macroconídios dos Trichophyton são multisseptados e cilíndricos.
Além das características dos conídios, outras estruturas morfológicas também auxiliam na identificação dos fungos que não produzem macroconídios, como hifas em raquete, espirais, pectinadas, candelabro fávico e clamidoconídios. 
O surgimento das lesões de dermatofitose ocorre em três etapas:
1
Período de incubação 
Após o contato do fungo com o hospedeiro, pode ocorrer um período de incubação variável, que depende de alguns fatores, principalmente do hospedeiro.
Período de invasão radial
Nesse momento, há o crescimento das hifas e a produção das enzimas que degradam a queratina.
2
3
Período refratário 
As hifas começam a se fragmentar, produzindo as estruturas de resistência chamadas de “artroconídios”.
Nos pelos, esse processo é mais simples. O dermatófito invade o folículo piloso, o pelo perde o brilho e se quebra com muita facilidade. Quando a invasão é extensa no couro cabeludo, pode haver o aparecimento de placas de tonsura, geralmente causadas por Microsporum canis ou Trichophyton tonsurans.
O diagnóstico é realizado pela análise das escamas de pele, fios de cabelo, fragmentos de unhas ou pelos, coletados preferencialmente das bordas das lesões por serem a área ativa da dermatofitose. Após o material ser clarificado com KOH 10-30%, é possível observar as hifas hialinas septadas e eventualmente a presença de artroconídios entre as escamas.
O crescimento das colônias em Ágar Sabouraud com cloranfenicol e cicloheximida auxilia no diagnóstico e na definição da espécie por meio da análise da micromorfologia. A macromorfologia dos dermatófitos pode ter diversos aspectos, como algodonoso, aveludado ou pulverulento, e a coloração é variável.
Os artroconídios podem ser observados entre as
escamas e são característicos dos dermatófitos. 
Para alguns dermatófitos, a macromorfologia da colônia é bem típica, como no caso do T. rubrum, que apresenta coloração vermelho-escura, e do M. canis, com pigmentação amarelo-ouro.
O tratamento das dermatofitoses pode ser sistêmico ou tópico, com uso de ácido salicílico ou antifúngicos, como cetoconazol ou clotrimazol. O tratamento sistêmico é realizado por via oral com antifúngicos da classe dos azóis, como o itraconazol e o fluconazol. Por causa da natureza dos fungos e da localização das lesões, principalmente as onicomicoses, o tratamento, muitas vezes, pode ser demorado, levando até meses, em alguns casos.
Além dos fungos do grupo dos dermatófitos, as leveduras do gênero Candida também podem causar micoses de pele, unhas ou de mucosa em pacientes com alguma predisposição. As leveduras deste gênero já fazem parte da microbiota de indivíduos saudáveis, seja na mucosa oral, seja na vaginal, seja no trato gastrointestinal. Quando ocorre algum desequilíbrio no hospedeiro, isso favorece o crescimento da Candida, e elas começam a filamentar e invadir o tecido saudável.
A candidíase de pele pode acometer regiões quentes e úmidas, como a região entre os dedos dos pés. 
Leveduras do gênero Candida também podem causar doenças de pele, mucosa e unhas. 
A Candida albicans é a espécie prevalente, seguida por outras espécies, como C. parapsilosis, C. glabrata. As principais regiões acometidas pelas lesões são os espaços entre os dedos das mãos e dos pés, virilha e embaixo das mamas, pois são locais que retêm maior umidade.
É muito comum o aparecimento da candidíase em crianças pequenas que usam fraldas, decorrente de uma reação da urina em contato com a pele, causando maior retenção de umidade e, consequentemente, aumento da quantidade de leveduras, sendo muito incômodo. 
As assaduras dos bebês podem ser causadas pelas leveduras do gênero Candida. 
Devido à presença da Candida na microbiota normal de seres humanos, ela tem distribuição mundial, sem predileção por sexo ou idade. As micoses de unhas causadas por essas leveduras são comuns nas mãos, principalmente de pessoas que costumam trabalhar com as mãos molhadas o tempo todo ou em constante contato com produtos químicos abrasivos, que podem lesionar unhas e pele.
Já a candidíase oral é rara em adultos e mais frequente em recém-nascidos, sendo popularmente conhecida como “sapinho”. Em pacientes adultos, já foi muito associada a casos de HIV/AIDS. Geralmente, as lesões apresentam-se como placas esbranquiçadas na mucosa oral, localizadas tanto no palato mole quanto na língua . Como a manifestação clínica mais comum associada às leveduras do gênero Candida, candidíase vaginal causa muito incômodo, corrimento esbranquiçado e prurido.
Estima-se que cerca de 70% das mulheres podem desenvolver essa micose na fase adulta. 
Língua com placas brancas características da candidíase oral. 
Coloração de Gram - As leveduras do gênero Candida podem filamentar em parasitismo. 
O diagnóstico baseado em exame direto de amostras clínicas pode ser feito utilizando KOH (20 ou 40%), ou coloração de Gram, que poderá evidenciar estruturas de pseudo-hifas, células de leveduriformes e hifas verdadeiras. Em ágar Sabouraud dextrose, as Candidas crescem rapidamente, apresentando coloração creme cerca de 48 horas após o cultivo.
No caso das candidíases, antes de ser feito o tratamento com antifúngicos, é necessário equilibrar os fatores predisponentes do paciente, afinal de contas a Candida faz parte da microbiota normal. O tipo de tratamento e a medicação utilizada vão depender principalmente da manifestação clínica, podendo ser feito com uso de nistatina, compostos de iodo ou antifúngicos azólicos.
As colônias de Candida apresentam coloração
creme e crescimento rápido. 
MICOSES SUBCUTÂNTEAS
As micoses subcutâneas atingem tecidos mais profundos da pele e, em algumas situações, podem até se disseminar para outros locais a partir do ponto de inoculação. Os agentes dessas micoses têm a característica em comum de serem saprófitas de solo. Isso significa que esses fungos são principalmente encontrados no solo, associados à matéria orgânica vegetal em decomposição.
Eventualmente, esses microrganismos causam doenças quando entram em contato com o tecido subcutâneo do hospedeiro por meio de traumas feitos principalmente por estruturas vegetais contaminadas com esses fungos. Por causa dessa forma traumática de transmissão, essas doenças são agrupadas e podem ser chamadas de “micoses de inoculação traumática”. 
Seu tratamento depende principalmente do agente etiológico e da localização da lesão. 
Esporotricose
A esporotricose é a micose subcutânea mais prevalente da América Latina e é classicamente causada por fungos dimórficos do gênero Sporothrix. Antigamente, acreditava-se que apenas o S. schenckii causava essa micose, mas, com o avanço tecnológico, foi possível diferenciá-lo em outras espécies. Então, atualmente, asespécies patogênicas mais importantes desse gênero são S. globosa, S. schenckii e S. brasiliensis.
Os fungos do gênero Sporothrix podem ser encontrados principalmente em zonas tropicais e subtropicais associados à matéria orgânica em decomposição. O S. schenckii pode ser achado no mundo todo, já o S. globosa é mais encontrado na Ásia, enquanto o S. brasiliensis ainda é restrito à América do Sul.
Como em todas as micoses subcutâneas, para a transmissão da esporotricose, é necessário um trauma cutâneo, geralmente causado por alguma matéria orgânica vegetal contaminada com o fungo, que pode ser um espinho, um tronco de árvore ou um galho. Por conta da transmissão clássica por matéria orgânica vegetal, essa micose é conhecida como a “doença do jardineiro” ou a “doença das roseiras”, porque é comumente associada a ferimentos ocasionados por essas plantas.
Apesar dessa via clássica de transmissão, no Brasil, principalmente no Rio de Janeiro, a esporotricose assumiu caráter zoonótico, o que significa que existe um animal, o gato doméstico com esporotricose, envolvido na transmissão dessa doença. O gato com esporotricose, ao mesmo tempo em que é um hospedeiro vítima dessa micose, também pode transmiti-la para outros animais ou humanos a partir de mordidas e arranhões.
Observe mais alguns aspectos desse tipo de micose: 
Doença do jardineiro
A esporotricose é conhecida em todo o mundo como a doença do jardineiro por causa da maior exposição desses profissionais aos fungos.
Doença das roseiras
A esporotricose foi muito associada à manipulação de roseiras, pois seus espinhos podem causar lesões na pele que inoculam o fungo no tecido subcutâneo.
O gato doméstico com esporotricose
A briga entre os gatos é a principal forma de transmissão da doença entre esses animais.
Animais 
Outros animais, como os cães, podem ser afetados pela esporotricose quando feridos por um gato doente.
Humanos
Os gatos com esporotricose podem transmitir a doença para seus tutores, cuidadores e veterinários. 
Em humanos, a manifestação clínica mais comum é a linfangite nodular ascedente, e, a partir do ponto onde ocorreu o trauma de inoculação, o fungo pode seguir os vasos linfáticos adjacentes, causando nódulos pelo percurso, que podem ulcerar. Também ocorrem casos de cutânea fixa, disseminada, e muito raramente extracutâneas (por exemplo: ossos, pulmão).
Na esporotricose humana, nódulos podem 
ulcerar no membro que sofreu o trauma. 
Passe o mouse na imagem. 
As lesões em gatos ocorrem nas patas, na cauda e, principalmente, na cabeça, pois são os locais mais expostos durante as brigas que favorecem a transmissão da esporotricose, mas é muito comum verificar gatos com a esporotricose disseminada.
Ao contrário do que é visto para micoses superficiais e cutâneas, o exame direto do material da lesão dos humanos raramente evidencia a presença das leveduras. Por isso, nesses casos, é sugerido realizar biópsia para análise histopatológica com ácido periódico de Schiff (PAS) ou metenamina-prata de Gomori. 
As lesões nos felinos são ulceradas e não costumam cicatrizar como um ferimento comum. 
Contudo, para gatos com esporotricose, o exame direto pela citologia por imprint com a coloração de Panótico Rápido é suficiente para evidenciar muitas leveduras e auxiliar no diagnóstico.
O cultivo de Sporothrix é feito em Ágar Sabouraud dextrose acrescido de antibióticos, para inibir o crescimento de bactérias contaminantes. Ele tem um crescimento rápido, e as colônias podem aparecer em torno de três a sete dias. Além da observação da micromorfologia característica com conidióforos em forma de margarida e hifas septadas hialinas, o teste de conversão térmica é extremamente importante para a identificação desse gênero.
Essa termoconversão pode ser feita usando um meio de cultura rico, como o BHI (Infusão de cérebro e coração bovinos) incubados a 37°C, quando serão observados o aparecimento de colônias cremes, cerebriformes e com micromorfologia compatível com as leveduras.
O tratamento de escolha da esporotricose humana e felina é a administração oral do itraconazol e pode durar meses. Nos casos que não respondem bem a essa terapia, são associados iodeto de potássio ou anfotericina B.
Cromoblastomicose
A cromoblastomicose ou cromomicose é uma micose subcutânea granulomatosa com evolução lenta, também causada a partir de um trauma cutâneo. Os agentes causadores dessa micose são fungos demáceos pertencentes aos gêneros Fonsecaea, Rhinocladiella, Cladophialophora e Phialophora.
A espécie Phialophora verrucosa é mais comum em regiões frias, principalmente na América do Norte. O Cladophialophora carrionii também já foi isolado em território brasileiro, assim como na Venezuela e na Austrália.
No Brasil, a espécie predominante é a Fonsecaea pedrosoi, e os casos ocorrem principalmente no estado do Pará. Ainda que sejam vários gêneros e espécies a causar a cromoblastomicose, os sintomas clínicos e as estruturas parasitárias são os mesmos.
A manifestação clínica é caracterizada pela formação de nódulos cutâneos verrucosos com desenvolvimento lento e, depois, podem aparecer vegetações papilomatosas, que podem ulcerar ou não. Quando esses nódulos estão em conjunto, podem ter um aspecto de “couve-flor” nos estágios mais avançados.
Os pacientes acometidos pela cromoblastomicose frequentemente são trabalhadores rurais. 
Geralmente, localiza-se em membros inferiores por causa do ponto de inoculação, que pode ser um trauma causado por uma enxada durante o trabalho rural, ou até mesmo um corte ou arranhão por estruturas vegetais contaminadas com esses fungos.
Por causa da natureza desses fungos, essa doença está comumente associada a trabalhadores rurais, lavradores e agricultores, que estão diariamente expostos aos nichos ambientais desses fungos.
O diagnóstico micológico direto feito a partir das crostas das escamas ou do pus pode revelar estruturas de coloração marrom e globosas, que geralmente estão agrupadas. Essas estruturas septadas em dois planos chamadas de corpos escleróticos ou muriforme são características dessa micose subcutânea.
Para o cultivo laboratorial desses fungos, é necessário o uso do Ágar Sabouraud sem antibióticos, e eles crescem lentamente, com aparência aveludada ou algodonosa, com coloração que varia de esverdeada a marrom-escura ou preta. A identificação das espécies ocorre por meio da observação das estruturas de reprodução microscópicas.
As colônias dos fungos que causam a cromoblastomicose podem ser de esverdeadas a pretas e com crescimento lento. 
Essas estruturas de reprodução podem ser de três tipos distintos associados aos gêneros que os produzem:
Clique nas barras para ver as informações. 
Tipo cladospório - gênero Cladosporium 
A produção dos conídios do tipo cladospório é em cadeia.
Tipo rinocladiela - gênero Rhinocladiella 
Os conídios do tipo rinocladiela estão dispostos ao longo do conidióforo em forma de “escova de mamadeira”.
Tipo fialófora - gênero Phialophora 
Os conídios do tipo fialófora estão dispostos no topo do conidióforo como um “vaso de plantas”.
Curiosamente, o gênero Fonsecaea pode apresentar os três tipos de corpos de frutificação, sendo mais frequentes os tipos rinocladiela e cladospório.
O tratamento da cromomicose dependerá da forma clínica e do tempo de evolução, que, em alguns casos, pode chegar a anos. Ao contrário de outras micoses, o tratamento apenas com antifúngicos como anfotericina B, itraconazol ou 5-fluorocitosina não é suficiente, sendo necessária a associação com eletrocoagulação, tratamento cirúrgico para remoção dos nódulos ou crioterapia.
Micetoma
Os micetomas podem ser causados por espécies de bactérias (Nocardia ou Actinomyces) ou por fungos de vários gêneros. Os micetomas causados por fungos são denominados “eumicetomas” ou “micetoma eumicótico”. Os fungos causadores do eumicetoma produzem suas hifas emaranhadas como grãos, que apresentam tamanhos diversos, e coloração que pode ser branca, amarelada a preta.
De modo geral, após o trauma que inocula o fungo no tecido subcutâneo,ocorre aumento da região lesionada com posterior aparecimento de fístulas e produção dos grãos com pus. No Brasil, os números de casos são baixos, sendo mais frequentes em países do Oeste da África (Senegal, Congo, Sudão e Madagascar) e na Índia. Os sítios anatômicos mais acometidos são braços, pernas e pés, pois esses são os locais mais susceptíveis aos traumas cutâneos por onde o fungo penetra.
Conheça um pouco mais sobre os traumas:
Clique nas barras para ver as informações. 
Grãos com pus
As lesões do eumicetoma podem ulcerar e liberar pus e os grãos característicos dessa micose.
Braços
Os membros superiores podem ser acometidos após ferimentos com matéria orgânica vegetal contaminada.
Pernas
As pernas podem ser acometidas pelo eumicetoma por causa do ponto de inoculação.
Pés
Os pés são frequentemente acometidos por serem mais expostos aos nichos ambientais dos fungos durante os trabalhos rurais.
Os fungos mais envolvidos nos casos de eumicetomas são Pseudallescheria boydii (grãos brancos), Pirenochaeta romeroi (grãos pretos), Madurella mycetomatis (grãos pretos) e Acremonium recifei (grãos brancos). Na América do Sul, o agente mais encontrado é o Madurella grisea. Esses fungos são achados principalmente em madeira, solos e vegetais e, por isso, também os homens, que são produtores rurais, agricultores e lavradores, são os mais acometidos.
O diagnóstico pode ser confirmado pelo achado dos grãos com diferentes texturas, tamanhos e cores. A observação das características macroscópicas dos grãos pode ajudar na identificação do fungo, porém a definição exata da espécie ocorre em associação aos achados da micromorfologia da cultura e do grão. Em alguns casos, são necessários testes complementares, como bioquímicos, para auxiliar na identificação do fungo.
O Pseudallescheria boydii
é um dos fungos causadores do eumicetoma. 
Dentre as micoses subcutâneas, o tratamento do eumicetoma é o mais complicado porque é necessária drenagem cirúrgica, uso de antifúngicos intralesionais (Anfotericina B, miconazol, cetoconazol, itraconazol, entre outros) e, em casos mais graves, amputação do membro acometido. 
Verificando o aprendizado
Parte superior do formulário
1. A dermatofitose é uma micose que acomete a pele e os pelos de humanos e animais e não tem potencial letal, porém pode ser muito incômoda. Três gêneros fúngicos formam o grupo dos dermatófitos. Quais são eles?
Hortaea, Malassezia e Tonsurans.
Candida, Piedraia e Trichosporon.
Microsporum, Epidermophyton e Trichophyton.
Trichosporon, Malassezia e Epidermophyton.
Sporothrix, Trichosporon e Piedraia.
Parte inferior do formulário
Comentário
Parte superior do formulário
2. Independentemente do agente causador, as micoses subcutâneas compartilham uma característica em comum. Assinale a alternativa correta sobre as características comuns que essas micoses compartilham:
A forma de transmissão das micoses subcutâneas ocorre por um trauma cutâneo.
As micoses subcutâneas são causadas por fungos demáceos melanizados.
O tratamento das micoses subcutâneas é sempre com antifúngicos e cirurgias.
No diagnóstico das micoses subcutâneas o cultivo é sempre feito em ágar Sabouraud com antibióticos.
O exame direto sempre evidencia estruturas de hifas hialinas septadas, em alguns casos com artroconídios.
Parte inferior do formulário
Comentário
Avalie este módulo:
MÓDULO 3 
Reconhecer as micoses sistêmicas e oportunistas
MICOSES SISTÊMICAS
Assim como as micoses subcutâneas, as micoses sistêmicas são agrupadas por apresentarem várias características em comum. Essas micoses têm distribuição geográfica limitada e, por essa característica, também podem ser conhecidas como “micoses endêmicas”.
Os fungos causadores das micoses sistêmicas podem ser encontrados no solo, em excremento de animais e em matéria orgânica vegetal rica em nutrientes. A principal forma de transmissão é pela inalação dos esporos fúngicos ou conídios, sendo o pulmão o primeiro e principal órgão acometido. Apesar disso, a maior parte das infecções pulmonares é autolimitada e assintomática. Mesmo com alto potencial infeccioso ambiental, um indivíduo com micose sistêmica não transmite para outros humanos ou animais.
A principal forma de transmissão das micoses sistêmicas ocorre pela inalação dos conídios dispersos no ar. 
O tratamento das micoses depende principalmente do agente etiológico e da localização da lesão. Para entender melhor quais são os antifúngicos e os mecanismos de ação de cada um deles, veja o vídeo.
Histoplasmose
A histoplasmose clássica é causada pelo fungo dimórfico Histoplasma capsulatum var. capsulatum e pode ser encontrada em várias partes do mundo, sendo endêmica nos Estados Unidos (regiões leste e centrais). Na África, principalmente nos países tropicais, a histoplasmose é causada pelo Histoplasma duboisii. Embora a histoplasmose seja rara no Brasil, houve aumento no número de casos registrados depois do advento do HIV/AIDS. 
A principal característica desse fungo é que ele tem preferência por crescer em solo que é abundantemente contaminado com fezes de aves ou morcegos. A transmissão ocorre por inalação dos conídios do Histoplasma, que podem ser dispersos no ar durante a limpeza de locais, como galinheiros, sótãos com morcegos ou então quando são revirados materiais do solo dentro de cavernas.
Nas regiões endêmicas, é comum um aumento significativo no número de casos após a escavação do solo para construção ou então por exploração de cavernas infestadas de morcegos.
Após a inalação do conídio, ocorre a primo-infecção no pulmão. Na maioria dos indivíduos, esse quadro inicial é assintomático, subclínico, e passa despercebido ou é confundido com resfriados ou gripe. Apesar de não apresentar sintomas claros e debilitantes, esse primeiro contato com o fungo pode deixar sequelas, como calcificações nodulares residuais no pulmão, parecido com o que acontece com a tuberculose.
Radiografia torácica mostra infiltrado pulmonar difuso
devido à histoplasmose pulmonar aguda causada por H. capsulatum. 
Muito raramente, mas podendo ocorrer, o H. capsulatum se dissemina e atinge outros órgãos, como rins, fígado, baço, pâncreas, testículos e ainda ocorre a manifestação clássica com lesões na mucosa orofaríngea. Um fator agravante para a histoplasmose é a ocorrência de coinfecção com outros agentes, como o Mycobacterium tuberculosis, que causa tuberculose, dificultando ainda mais o tratamento e diagnóstico.
A histoplasmose disseminada pode ocorrer em indivíduos com alguma debilidade imunológica, como pacientes submetidos a quimioterapias imunossupressoras ou então pacientes com AIDS.
No hospedeiro, o H. capsulatum se transforma em leveduras. 
O H. capsulatum é dimórfico, o que significa que, ao parasitar as células do sistema retículo endotelial, transforma-se em leveduras pequenas, ovais ou redondas. Na natureza, esse fungo cresce como filamentosos com hifas hialinas e macroconídios mamilonados ou tuberculados, que lembram a semente de mamona.
Em laboratório, é possível observar as duas fases, crescendo o fungo a 25°C, para verificar sua fase filamentosa, e a 37°C, quando observamos as leveduras. O espécime clínico coletado para diagnóstico da histoplasmose pode ser biópsia, escarro, raspado de lesões superficiais, urina e aspirados de medula óssea, nos casos de histoplasmose disseminada.
Os cortes histológicos podem ser corados com metenamina-prata de Gomori, calcofluorado branco ou ácido periódico de Schiff, quando serão observadas estruturas compatíveis com leveduras. O crescimento do Histoplasma em laboratório é lento, podendo levar até quatro semanas para o aparecimento das primeiras colônias.
O Histoplasma capsulatum na natureza se apresenta como fungo filamentoso. 
As colônias desse fungo têm aparência algodonosa e branca, sem nenhuma característica muito peculiar que o identificaria, por isso é muito importante realizar a termoconversão em laboratório para verificar sua mudança para a fase leveduriforme.
Além dos métodos clássicos de identificação pelo exame direto e cultura, tambémé possível realizar testes sorológicos, como o teste de imunodifussão, que detecta anticorpos contra o H. capsulatum no soro dos pacientes infectados. Quando os anticorpos contra o antígeno M desse fungo são detectados, indicam que a histoplasmose está ativa.
A coloração metenamina-prata de Gomori evidencia, em tons de marrom, as células fúngicas e, em azul, as outras estruturas do hospedeiro. 
Para os casos assintomáticos ou com sintomas leves, não há indicação de tratamento, porque a resolução da doença ocorrerá de forma espontânea. Nos casos pulmonares mais graves, é indicado o uso de itraconazol, e, para os casos de histoplasmose disseminada, o tratamento de escolha é anfotericina B. Não existe uma forma 100% eficaz de prevenção, mas evitar locais onde o fungo possa crescer ou áreas endêmicas é a melhor forma de evitar a histoplasmose. 
Paracoccidioidomicose
A paracoccidioidomicose acontece em toda a América Latina. 
A paracoccidioidomicose também pode ser conhecida como a “blastomicose da América”, pois essa doença acontece principalmente na América Latina, estendendo-se da Argentina até o México, já sendo descritos casos aqui no Brasil em estados como São Paulo, Paraná e Rondônia.
O agente causador dessa micose é o fungo dimórfico Paracoccidioides brasiliensis, porém, como foi poucas vezes isolado na natureza, ainda não se sabe ao certo seu habitat natural. Embora acredite-se que ele também está associado à matéria orgânica vegetal, pois muitos dos pacientes acometidos são trabalhadores rurais, também já foi associado à caça ao tatu. Assim como em todas as micoses sistêmicas, a paracoccidioidomicose não é contagiosa.
Os trabalhadores rurais são os mais acometidos pela paracoccidioidomicose. 
A transmissão ocorre por inalação dos conídios do P. brasiliensis, que pode causar lesões iniciais nos pulmões. Ao contrário do que acontece com a histoplasmose, nessa lesão inicial, o fungo pode ficar latente dentro de um granuloma por anos ou décadas, até que possa ser reativado novamente e, enfim, causar a paracoccidioidomicose. 
Por essas características, essa micose é considerada crônica e pode disseminar-se para outros locais no organismo a partir do pulmão, como tecido mucocutâneo, baço, linfonodos, fígado, glândulas suprarrenais etc. Uma manifestação típica dessa micose são lesões dolorosas na mucosa oral.
Manifestação mucocutânea da paracoccidioidomicose. 
O diagnóstico pode ser realizado pela observação de estruturas leveduriformes características do P. brasiliensis em amostra de escarro, secreções, pus etc., ou por avaliação histopatológica de biópsias. As leveduras desse fungo podem apresentar-se isoladas ou com brotamentos ao redor da célula-mãe, lembrando um timão de barcos.
As leveduras do P. brasiliensis apresentam brotamentos ao redor da célula-mãe. 
O crescimento em meio de cultura pode demorar de duas a quatro semanas. Também é possível aplicar testes sorológicos para auxiliar no diagnóstico e acompanhamento terapêutico da paracoccidioidomicose.
As leveduras do P. brasiliensis pode demora até 4 semanas para começar a crescer. 
O tratamento é baseado na manifestação clínica e no estado geral do paciente, podendo ser feita uma combinação terapêutica de sulfamidas com itraconazol, trimetoprim, anfotericina B ou miconazol. Por ser uma micose de curso crônico, seu tratamento também é demorado e, mesmo depois da cura clínica, micológica e sorológica, é necessário continuar com uma dose de manutenção do antifúngico por cerca de dois anos.
Coccidioidomicose
A coccidioidomicose é causada por fungos dimórficos do gênero Coccidioides, e as espécies mais conhecidas são C. immitis e o C. posadasii. Ambas as espécies são endêmicas nos Estados Unidos, mas também podem ser encontradas no México, na América Central e no Sul. No Brasil, já houve relato de casos nos estados do Piauí, Ceará e Maranhão.
Diferente dos outros fungos que têm preferência por locais de clima úmido, esse gênero tem predileção por crescer como saprófita de solo de áreas semidesérticas e desérticas.
Ao contrário dos outros fungos, o Coccidioides tem 
preferência por crescer em locais de clima desértico ou semidesértico. 
A infecção ocorre por inalação dos artroconídios, que são dispersos e carreados pelas correntes aéreas. No pulmão, esse artroconídio transforma-se em esférulas de paredes grossas, contendo muitos endósporos irregulares ou globosos. Quando a esférula se rompe, libera os endósporos que vão desenvolver novas esférulas, continuando o ciclo parasitário.
Os artroconídios são fragmentações das hifas
com função semelhante aos conídios. 
Na maioria dos casos, a infecção é assintomática, porém menos da metade dos pacientes pode desenvolver pneumonia aguda, e uma parcela muito pequena evolui para o quadro pulmonar crônico cavitário. Dificilmente o Coccidioides se dissemina por via linfo-hematogênica, causando lesões em outros tecidos.
As esférulas apresentam paredes grossas cheios de endósporos. 
O diagnóstico presuntivo dessa micose pode basear-se em sintomas clínicos, dados epidemiológicos e detecção de anticorpos. O diagnóstico definitivo é estabelecido quando se evidencia a presença das esférulas com endósporos na amostra clínica ou embiópsias, bem como pelo isolamento do fungo em cultivo.
Geralmente, os pacientes que apresentam a infecção primária pulmonar não precisam de tratamento com antifúngicos, pois a infecção se resolve espontaneamente. Em pacientes imunocomprometidos, porém, é aconselhável a administração da anfotericina B sozinha ou em associação com itraconazol.
MICOSES OPORTUNISTAS
As micoses oportunistas ocorrem no mundo todo e são causadas por fungos com baixa virulência, que habitualmente vivem pacificamente com o hospedeiro, ou então não causariam doenças em indivíduos saudáveis. Porém, quando há alguma alteração, por exemplo do sistema imunológico, e as condições tornam-se favoráveis ao desenvolvimento desses microrganismos, eles podem invadir os tecidos, causando doenças. 
Os fatores que podem predispor os indivíduos a essas micoses são classificados como:
Clique nas barras para ver as informações. 
Intrínsecos
Esses fatores são do próprio hospedeiro, como diabetes, neoplasias, hemopatias, AIDS e quaisquer outras doenças ou condições que possam alterar o bom funcionamento da imunidade celular (velhice, prematuridade, gravidez etc.).
A gestação pode ser um fator intrínseco que interfere no sistema imunológico. 
Extrínsecos
Indivíduos em tratamento com corticoides, antibióticos, cirurgia de transplante e em ambientes hospitalares contaminados.
O ambiente hospitalar pode ser um fator extrínseco que facilita a ocorrência das micoses oportunistas. 
Como os fungos que causam micoses oportunistas convivem cotidianamente e, muitas vezes, estão presentes na microbiota ou no ambiente do nosso dia a dia, o diagnóstico precisa ser muito rigoroso para confirmar que efetivamente é um desses agentes que está ocasionando a doença e que ele não está apenas contaminando a amostra.
Para atender a essa necessidade, é importante seguir critérios: verificação do fungo em exame direto da amostra clínica, em várias coletas ou em material de biópsia; cultura seriada positiva com o mesmo microrganismo e ausência de outro patógeno fúngico.
Candidíase 
A candidíase pode ser causada por várias espécies do gênero Candida, e elas são leveduras encontradas na microbiota normal do trato gastrointestinal, nas mucosas e na pele. A candidemia (candidíase sistêmica) é a micose prevalente no mundo todo que acomete outros órgãos, e as espécies mais frequentemente isoladas são C. albicans, C. dubliniensis, C. tropicalis, C. guilliermondii, C. parapsilosis e C. glabrata.
Microscopia eletrônica das células leveduriformes do gênero Candida. 
A infecção pode ocorrer por causa de dispositivos médicos, como cateteres, cirurgia, lesão da pele ou da mucosa gastrointestinal, que favorecem a entrada dessas leveduras no organismo. Em pacientes com o sistema imunológico funcionando perfeitamente, as leveduras que entram nessas situações são eliminadas,e a candidemia pode ser transitória. No entanto, pacientes debilitados, com comprometimento da defesa fagocítica, podem desenvolver lesões ocultas em qualquer local do corpo, como rins, olhos, coração, meninges.
A Candida pode causar inúmeras doenças, e uma debilidade imunológica pode favorecer as formas mais graves. 
A amostra clínica a ser coletada vai depender do local que está sendo acometido, podendo ser coletados swabs de exsudato, sangue, biópsias, urina, líquido cerebrospinal e material retirado de cateteres. O espécime clínico corado pelo Gram ou outras colorações histológicas evidenciam pseudo-hifas e células leveduriformes com brotamentos.
As leveduras de Candida podem filamentar quando estão parasitando. 
As colônias têm crescimento rápido, podem ser incubadas em temperatura ambiente ou a 37°C e têm aparência cremosa, de cor branca ou marfim. 
As culturas de Candida crescem rápido e com aparência cremosa. 
O ágar cromogênico auxilia na identificação das espécies de Candida em que as principais produzem um padrão de cor distinto. 
É possível diferenciar as espécies de Candida utilizando um meio cromogênico em que as colônias assumirão diferentes colorações, de acordo com a espécie. O teste do tubo germinativo serve para diferenciar a C. albicans das Candida não albicans, pois somente essa espécie produz essa estrutura.
A principal preocupação a respeito das micoses causadas por Candida é o aumento nos relatos de leveduras resistentes aos tratamentos disponíveis. Assim como em outras micoses, em que as manifestações clínicas são variadas, na candidíase, o protocolo terapêutico varia de acordo com a localização das lesões e pode ser baseado em monoterapia com fluconazol ou em associações com outros antifúngicos, como anfotericina B, flucitosina, clotrimazol, entre outros.
Criptococose
A criptococose é a micose causada pelas leveduras Cryptococcus neoformans e Cryptococcus gatii, e a principal característica que diferencia essas leveduras das demais é a presença de uma grande cápsula polissacarídica. O C. neoformans é cosmopolita e pode ser encontrado na natureza, sendo facilmente isolado de fezes secas de pombos, do solo ou em troncos de árvores. Já o C. gatti é mais encontrado em áreas tropicais associadas a árvores.
O Cryptococcus neoformans pode ser encontrado em fezes seca de pombos. 
A transmissão da criptococose ocorre por inalação das células fúngicas que se dispersam no ar com poeira e pó das fezes dos pombos. Apesar de o pulmão ser o primeiro órgão a entrar em contato com essas leveduras, o sistema nervoso central é o mais afetado, pois esses fungos têm tropismo pela rede neural, migrando para esse sistema.
Apesar de a criptococose também acometer indivíduos imunocompetentes, essa micose é mais letal para portadores de HIV/AIDS e outras doenças hematogênicas ou imunossupressoras. Após a inalação das leveduras, ocorre uma infecção primária dos pulmões, que pode ser assintomática ou com sintomas leves, como os de resfriados comuns com resolução espontânea.
O Crytpcoccus tem tropismo pelo sistema nervoso central. 
O Cryptococcus multiplica-se nos pulmões e, depois, pode disseminar-se para outras partes do corpo, preferencialmente o sistema nervoso central, provocando meningoencefalite criptocócica. Além do sistema nervoso central, pele, olhos, ossos e próstata podem ser acometidos, mas apresentam reação inflamatória mínima ou granulomatosa.
A manifestação clínica mais grave associada
ao Cryptococcus é a meningoencefalite. 
Na meningite crônica causada pelo Cryptococcus, as principais queixas do paciente são dor de cabeça, desorientação e rigidez da nuca. Em alguns casos, também podem aparecer lesões cutâneas, pulmonares ou em outros órgãos. O prognóstico é muito variado, porém, se o paciente não for tratado adequadamente, pode ser fatal, mas não é contagiosa.
A dor de cabeça é um sintoma frequente
dos pacientes com meningite criptocócica. 
O diagnóstico pode ser feito a partir de exsudatos, escarro, sangue, urina ou líquido cerebroespinhal. O exame direto pode ser feito utilizando-se tinta nanquim para maior destaque da cápsula que caracteriza esse gênero fúngico. 
O exame direto corado com tinta nanquim evidencia um halo ao redor da levedura. 
O crescimento das colônias em meio de cultura acontece em poucos dias (três a sete dias) e pode ser incubado à temperatura ambiente ou a 37°C. Também é possível realizar a investigação de antígenos fúngicos em líquor pelo teste de aglutinação em látex. 
As colônias do Cryptococcus têm aparência mucoide por causa da cápsula rica em polissacarídeos. 
A meningite criptocócica é a forma mais grave dessa micose, e o êxito no tratamento depende primordialmente de diagnóstico precoce e do estado geral do paciente. A anfotericina B pode ser usada sozinha ou em associação a 5-fluorcitosina, ou, em outros casos, fluconazol também tem sido usado.
Aspergilose
A aspergilose é uma micose oportunista que pode causar amplo espectro de doenças e pode ser causada por inúmeras espécies de Aspergillus, dependendo da localização que infectam, podendo ser olhos, pele, ouvidos ou outros órgãos. Esses fungos são saprófitas na natureza e podem estar em nossas casas, sendo encontrados no mundo, por isso há relatos dessa doença globalmente.
O patógeno humano mais comum é o A. fumigatus, mas outras espécies também já foram descritas causando doenças em humanos, como A. nidulans, A. niger, A. terreus e A. flavus. A transmissão ocorre, principalmente, por inalação dos conídios, que são abundantes, pequenos e facilmente aerossolizados.
O Aspergillus fumigatus é o patógeno humano mais comum causador da aspergilose. 
Os conídios produzidos por fungos do gênero Aspergillus podem ser inalados, causando aspergilose. 
Em pacientes imunocomprometidos (leucêmicos, transplantados, com uso crônico de corticosteroides etc.), o conídio pode germinar, criando hifas que podem invadir o tecido pulmonar ou outros adjacentes. Quando o Aspergillus coloniza a cavidade pulmonar, pode causar uma doença chamada aspergiloma ou bola fúngica. Esse quadro pode ser restrito ou evoluir para aspergilose invasiva, que geralmente acomete pacientes que estão internados e com importante comprometimento imunológico.
O aspergiloma é caracterizado pelo
crescimento do Aspergillus no pulmão. 
Na aspergilose, além do dano diretamente associado ao crescimento fúngico no organismo, a alergia é um importante mecanismo patológico. Pessoas com predisposição a alergias, quando inalam os conídios, comumente desenvolvem reações alérgicas severas aos antígenos do Aspergillus, chamadas de “aspergilose broncopulmonar alérgica”.
Devido à origem do fungo, o diagnóstico da aspergilose invasiva é um desafio para a equipe médica e laboratorial. O exame direto do escarro, muitas vezes, pode ser negativo, e é difícil o isolamento do Aspergillus a partir do sangue. As biópsias são as que apresentam o melhor resultado, mas sua execução pode ser dificultada pela debilidade do paciente. Por isso, associar histórico clínico, sintomas, microscopia, histopatologia e radiografia são essenciais para o diagnóstico da aspergilose.
A cabeça aspergilar verificada no 
histopatológico auxilia no diagnóstico da aspergilose. 
A análise da amostra clínica pode evidenciar hifas hialinas, septadas e, em alguns raros casos, é possível encontrar a presença da cabeça aspergilar.
A micromorfologia da cultura evidencia os corpos de 
frutificação característicos do gênero Aspergillus. 
Quando essa estrutura característica não é encontrada, é necessária a realização de cultura para confirmação do real agente causador da doença. Outras técnicas de investigação de antígenos do Aspergillus ou investigação molecular por PCR podem auxiliar no diagnóstico.
O tratamento da aspergilose depende de quais doenças esses fungos estão causando. No caso da aspergilose invasiva, o tratamento de escolha é com anfotericina B, porém os resultados podem ser discretos. Na aspergilose ocular, a pimaricina é o medicamento de escolha, e, nas otomicoses, o fármaco preconizadoé o tolciclato. Os casos de aspergiloma exigem procedimento de remoção cirúrgica.
Os pacientes que desenvolvem a aspergilose broncopulmonar alérgica podem ser tratados com antifúngicos e esteroides. Devido à natureza desse fungo, não existe uma medida específica e eficaz de prevenção.
Mucormicose
A mucormicose, que também pode ser chamada de zigomicose, é uma doença causada por vários fungos filamentosos do filo Glomerulomytcota, que são saprófitas de solo onipresentes e apresentam boa termotolerância. Os principais gêneros descritos por causarem essa micose são Rhizopus, Rhizomucor, Cunninghamella, Absidia e Mucor.
Quando os esporos desses fungos são inalados, eles podem germinar nas narinas e invadir os vasos sanguíneos com as hifas, causando a principal forma clínica, a rinocerebral. A maioria dos casos de mucormicose é rinocerebral, que é a manifestação clínica mais grave, com altas taxas de mortalidade.
Nesses fungos, por terem características angioinvasivas, suas hifas podem causar obstrução dos vasos sanguíneos, consequentemente evoluindo para trombose, infarto e necrose tecidual, também podendo atingir os nervos faciais.
A manifestação clínica mais frequente é a rinocerebral. 
Essa evolução pode ser rápida, com comprometimento dos seios nasais, ossos cranianos, olhos e cérebro. Se esses esporos chegarem aos pulmões, pode ocorrer mucormicose torácica, com invasão dos vasos pulmonares e do parênquima, com necrose isquêmica e destruição maciça dos tecidos.
O grupo de risco para essa micose são pacientes com risco de acidose (particularmente associada ao diabetes), linfoma, tratamentos prolongados com corticosteroides, leucemia, queimaduras graves, imunodeficiências e muitos outros quadros que debilitam o estado geral de saúde do paciente.
Os exames a partir da amostra clínica podem evidenciar hifas características desses fungos, conhecidos também como asseptadas e ramificações irregulares. 
O diagnóstico pode ser feito por exame direto de amostras clínicas, como escarro ou secreção nasal, que, quando clarificadas pelo KOH (10 a 20%), evidenciam a presença de hifas hialinas, largas, asseptadas e ramificações irregulares. O histopatológico de biópsia corado por metenamina prata (Gomori) ou por ácido periódico de Schiff também mostram essas estruturas fúngicas e alterações teciduais.
A cultura micológica é a forma mais adequada para a definição da espécie que está causando a mucormicose, pois permite a observação das características macro (colônias) e micromorfológicas (corpos de frutificação).
O tratamento preconizado consiste em uma associação da anfotericina B com desbridamento cirúrgico agressivo para remoção do tecido necrosado. É extremamente importante a administração precoce do antifúngico, pois, além da alta letalidade, os pacientes também podem ficar com sequelas, como perda de um olho ou paralisia parcial da face. Também é indicada a suspensão de medicações ou tratamentos que debilitem o sistema imunológico. Embora existam tratamento e medidas cirúrgicas, a taxa de mortalidade continua elevada. 
Introdução
As micoses são causadas por fungos filamentosos ou leveduriformes e podem provocar doenças com manifestações clínicas leves, levando a incômodos estéticos ou ainda a situações mais graves que levam o paciente ao óbito. Nas últimas décadas, as doenças causadas pelos fungos passaram a desempenhar um papel importante na saúde pública, principalmente, por causa dos tratamentos com antibacterianos de forma indiscriminada e o uso de imunossupressores. Por isso, indivíduos com a microbiota alterada ou com o sistema imunológico comprometido são mais predispostos a desenvolverem infecções fúngicas oportunistas. 
A correta detecção e identificação do real agente etiológico é fundamental para traçar o curso do tratamento e delimitar as abordagens a serem aplicadas para o paciente. Nesse aspecto, o profissional da saúde qualificado fará toda diferença no sucesso diagnóstico realizado em um laboratório clínico. Por isso, neste tema, aprenderemos sobre o diagnóstico micológico e as principais etapas envolvidas para se conseguir uma correta identificação do agente etiológico das micoses. 
MÓDULO 1 
Definir os conceitos gerais da coleta, transporte e armazenamento das amostras clínicas para o diagnóstico micológico
Introdução ao diagnóstico micológico
Na micologia, busca-se utilizar metodologias específicas, sensíveis, simples, rápidas e econômicas, que sejam capazes de cumprir com os objetivos que são o isolamento e a identificação do agente etiológico. Como em qualquer rotina laboratorial, o diagnóstico micológico passa por três etapas distintas, desde a coleta até a liberação do laudo, que compreendem as fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica.
Clique nas barras para ver as informações. 
Fase pré-analítica
A fase pré-analítica é o primeiro contato do paciente com o laboratório. Nessa fase, serão avaliadas a requisição médica e a suspeita clínica, para então decidir a melhor forma de realizar a coleta, o armazenamento e o transporte do espécime clínico. Na rotina da micologia clínica, essa etapa é fundamental para o sucesso do diagnóstico e da identificação do real agente causador da micose, pois será o norte do analista. 
Fase pré-analítica. 
A localização da lesão deverá ser confirmada de acordo com a requisição médica. 
O tipo de coleta realizada vai depender, principalmente, da localização das lesões, da manifestação clínica e da hipótese diagnóstica. Para a execução adequada dessa fase, é necessário verificação da suspeita clínica que consta na solicitação do exame, orientação do paciente, coleta precisa do espécime clínico, identificação das amostras, armazenamento e transporte apropriados até o setor onde os espécimes clínicos serão processados. 
Fase analítica
Após todo o procedimento pré-analítico, a amostra clínica chegará ao laboratório para então iniciar a fase analítica. Nessa etapa, o espécime clínico será processado e analisado para a determinação do agente causador da micose investigada. As técnicas empregadas dependerão da suspeita clínica e das solicitações realizadas no requerimento médico. O diagnóstico micológico é, classicamente, realizado pelo exame direto com observação do espécime clínico em microscópio óptico e a cultura micológica, que é o padrão-ouro, pois isola o fungo no laboratório. Em alguns casos, é necessária a execução de testes auxiliares, como investigações bioquímicas ou moleculares, que ajudarão na identificação do microrganismo. 
Processamento da amostra de acordo com a suspeita clínica. 
Fase pós-analítica
A fase pós-analítica é a última fase do diagnóstico laboratorial. Todos os resultados obtidos nos diferentes testes precisam ser analisados de forma criteriosa e estar de acordo entre si. Além disso, é muito importante lembrar-se da suspeita clínica colocada no requerimento do exame que lhe dará um norte do que pesquisar e se o laudo emitido responde à hipótese diagnóstica. Após a conclusão por parte do analista, esse resultado pode ser liberado e o médico com posse dessas informações decidirá qual a melhor conduta para o tratamento daquele paciente. 
Fase pós-analítica. 
A coleta, o armazenamento e o processamento das amostras de maneira inadequada podem levar ao diagnóstico incorreto com consequente atraso ou tratamento errado, que, em alguns casos, podem ser fatais, além dos prejuízos econômicos associados. 
Recomendações gerais da coleta de espécimes clínicos
O espécime clínico que será coletado dependerá da suspeita clínica e de qual é o tipo da suposta micose. Veja a seguir:
Para as micoses superficiais e cutâneas, recomenda-se a coleta das escamas de pele, unha, pelos parasitados e, em caso de lesões, a coleta das bordas externas.
Para as micoses subcutâneas, a amostra coletada pode ser biopsia, secreção e o pus. 
Para as micoses sistêmicas e oportunistas, podem ser coletados o escarro, a urina, as fezes, o liquor, o sangue e até mesmo a biopsia, dependendo da manifestação clínica e localização das lesões.
Os procedimentos que envolvema coleta da amostra influenciam diretamente na qualidade desse material e, por consequência, o resultado que será obtido. Por isso, fatores como experiência profissional, comunicação entre o corpo médico e o laboratório, cuidado com os procedimentos e materiais utilizados na coleta, correta identificação das amostras são imprescindíveis para o sucesso do diagnóstico micológico.
Para garantir a qualidade, algumas recomendações são sugeridas, como as da lista abaixo:
	· Preparação, esterilização ou desinfecção prévia do material a ser utilizado na coleta, conforme os protocolos de cada teste.
	· A identificação das amostras deve conter o nome do paciente, tipo e data da amostra coletada, registro hospitalar ou ambulatorial, além de outras informações que auxiliam a equipe do laboratório no direcionamento dos exames.
	· A coleta deve ser realizada após a antissepsia do local, e o espécime clínico deve ser acondicionado em um recipiente vedado e estéril, de acordo com o agente a ser pesquisado, também é recomendado realizar em duplicata ou triplicata, dependendo de quanto material for possível coletar.
	· Sempre que for possível, coletar as amostras clínicas antes de iniciar o tratamento, principalmente para as lesões de pele, pelos e unhas. Caso o paciente já tenha iniciado o tratamento tópico, é importante orientá-lo para que seja suspenso de 4 a 5 dias antes da coleta.
	· A amostra clínica deve ser acompanhada da requisição médica do exame, sempre que for possível com a hipótese diagnóstica. Essas informações auxiliarão o analista na escolha dos métodos a serem empregados, quais colorações e meios de cultura utilizar para o isolamento do real agente causador da micose.
	· Em alguns casos específicos de pacientes com algum imunocomprometimento, é importante e necessário coleta consecutiva em 2 ou 3 dias para a interpretação correta dos achados laboratoriais. Já que para esses pacientes fungos que são considerados saprófitas, contaminantes ambientais ou que são constituintes da microbiota normal do paciente podem se comportar como patógenos, causando as micoses oportunistas.
Procedimentos da coleta das amostras clínicas
Para a realização da coleta dos espécimes clínicos, a primeira medida a ser tomada é a leitura da requisição do exame. Nesse documento, é preciso constar a suspeita clínica, qual material deve ser coletado e a localização da lesão. Por exemplo, se a suspeita clínica for onicomicose, na requisição do exame, é preciso constar em qual dedo da mão ou dedo do pé está a lesão.
Os dedos das mãos também são conhecidos como quirodáctilos e são contados a partir do polegar (1º quirodáctilo) até o dedo mínimo (5º quirodáctilo).
Os dedos dos pés também são conhecidos como pododáctilos e são contados a partir do polegar (1º pododáctilo) até o dedo mínimo (5º pododáctilo). 
Alguns espécimes clínicos só poderão ser coletados pela equipe médica em ambiente hospitalar, como é o caso do liquor, medula óssea, aspirado traqueal e secreção obtida por broncoscopia ou aspirado gástrico.
Coleta de liquor. 
A coleta da biopsia realizada no ambulatório, depende do lugar da lesão. 
Ou ainda em ambiente ambulatorial, como é o caso de alguns tipos de biopsia. De modo geral, nesses casos, a responsabilidade do laboratório será de transportar a amostra até o setor técnico, que realizará o processamento e as análises necessárias para o diagnóstico. 
Para evitar contaminações das amostras por bactérias ou outros fungos, recomenda-se que a coleta seja realizada sob condições de assepsia. Isso porque a maioria das manifestações clínicas causadas pelos fungos ocorre em sítios anatômicos altamente contaminados com a microbiota normal do indivíduo ou até com fungos que estão dispersos no ambiente onde será realizada a coleta, como é o caso de materiais cutâneos.
Abaixo conheça os procedimentos de coletas:
Clique nas barras para ver as informações. 
Coleta do escarro
Para a coleta de escarro, recomenda-se que seja realizado um gargarejo com água limpa ou fervida, para posterior recolhimento da primeira expectoração da manhã, preferencialmente. O frasco precisa ser estéril e de boca larga, e não deve conter saliva.
Coleta de sangue para a hemocultura
Com a finalidade de se realizar uma coleta de sangue venoso para exames hematológicos ou bioquímicos, há o protocolo de antissepsia. Porém, quando essa coleta for para a realização de hemocultura, esse protocolo precisa ser ainda mais rigorosamente aplicado, de modo que evite contaminações cruzadas. Após a antissepsia no local da punção, deve-se realizar a coleta de cerca de 5-6 mL do sangue, que será imediatamente transferido para o frasco, contendo meio de cultura apropriado para hemocultura, seja líquido ou bifásico (líquido sobre sólido). Esse protocolo tem como objetivo evitar a coagulação que diminui a sensibilidade do teste. 
Além disso, uma pequena alíquota, a última gota, deve ser utilizada para a elaboração de um esfregaço sanguíneo que será enviado ao laboratório juntamente com o frasco da hemocultura. 
Coleta de urina
A coleta da urina é crítica, pois a região perineal é extremamente contaminada, dificultando o diagnóstico do real agente causador da micose. Para isso, o recomendado é que a coleta seja feita por cistoscopia ou sondagem. Entretanto, por serem procedimentos realizados em ambiente hospitalar, nem sempre será de fácil acesso ao paciente. Desse modo, quando não for possível realizar essas técnicas mais complexas, é necessário que haja limpeza prévia na região perineal com água e sabão e que o paciente despreze o primeiro jato da manhã e, em seguida, colete de 3 a 5 mL em um frasco estéril. Para o diagnóstico micológico, as coletas de urina de 24 horas não têm valor diagnóstico. 
Coleta das fezes
As fezes podem ser coletadas após a lavagem com água e sabão da região anal. Pequenas porções de fezes devem ser transferidas para um frasco estéril com tampa, ou então a coleta poderá ser feita por um swab anal.
Coleta de secreção do conduto auditivo externo
O material do conduto auditivo pode ser coletado por curetagem da lesão ou com o auxílio de um swab estéril.
Coleta de amostras da mucosa oral e orofaríngea 
Essa coleta deverá ser realizada com o auxílio de swab estéril diretamente da lesão presente na mucosa jugal, região tonsilar ou papilas linguais. 
Procedimento para a coleta de secreção vaginal
A secreção vaginal também será coletada com o auxílio do espéculo e do swab estéril diretamente do fundo do saco vaginal ou do material da lesão. 
Coleta de pus e material de abscesso
O ideal para a coleta desse material é que seja realizada ainda nos abscessos fechados por aspiração com o auxílio de seringa e agulha estéreis. Caso a lesão já esteja aberta, deve-se limpar com gaze e salina estéreis para remover a crosta e o exsudato superficial, que é excessivamente contaminado com bactérias. Somente após essa limpeza que a coleta com o swab deve ser realizada. 
Procedimentos de transporte e armazenamento
Tão importante quanto a coleta em si, o transporte e o armazenamento do espécime clínico são etapas críticas que definirão o sucesso ou o fracasso do diagnóstico micológico. Por isso, seguir corretamente as orientações para cada tipo de material é fundamental para garantir a integridade da amostra durante todo o tempo no transporte até o setor técnico, bem como seu armazenamento até o processamento laboratorial. 
A rapidez no envio das amostras clínicas tem por objetivo garantir a sobrevivência e o isolamento dos fungos ou leveduras, já que é necessário que esses microrganismos estejam viáveis para crescer no laboratório. 
Veremos a seguir as orientações para alguns tipos de espécimes clínicos haja vista a melhor forma de preservar os possíveis fungos presentes.
Clique nas barras para ver as informações. 
Amostras coletadas com swab
Os materiais clínicos coletados com o swab devem ser processados imediatamente. Caso isso não seja possível pela distância do local de coleta e o setor técnico do laboratório, é necessário que esse swab seja alocadoem tubos com solução salina estéril e fechamento hermético, de modo que impeça vazamentos e evite a dessecação da amostra. Esse swab em tubo com salina deve ser conservado a 4°C por, no máximo, 8 a 10 horas, pois tempos superiores podem comprometer a integridade da amostra. 
Materiais ditos contaminados
Espécimes clínicos provenientes de sítios sabidamente contaminados ou de difícil descontaminação (exemplos: urina, fezes, escarro, secreções de orofaringe, pus e secreção de feridas) devem ser transportados com as precauções necessárias para a manutenção da proporção da microbiota original. Por essa natureza contaminada, é importante que essas amostras permaneçam em frascos estéreis, vedados e sejam imediatamente transportadas e processadas. Caso esse tempo seja superior a 30 minutos, é necessário manter sob refrigeração (2°C a 8°C), inclusive, durante o transporte em caixas térmicas. Essa amostra deverá ser enviada para o laboratório até 18 horas após a coleta, desde que mantida sob refrigeração. 
Materiais de sítios estéreis
O liquor e os líquidos cavitários são exemplos de amostras clínicas de sítios estéreis e devem ser mantidos em tubo estéril hermeticamente fechado e transportado imediatamente para o laboratório em temperatura ambiente. 
O sangue e a amostra de punção de medula, que são coletados e acondicionados diretamente no frasco com meio de cultura, serão enviados em temperatura ambiente e o processamento deve ocorrer no máximo em 9 horas após a coleta. 
Amostras de lesão de pele, pelos e unhas
O material clínico seco proveniente de raspado de pele, pelos ou unhas pode ser acondicionado entre lâminas de vidro vedadas com fita adesiva ou parafilme, ou placas de Petri, e permanecem em temperatura ambiente por até sete dias. No entanto, recomenda-se que seja enviado e processado o mais breve possível.
As biopsias devem ser acondicionadas em frascos estéreis contendo solução salina estéril protegidas da luz. Se o tempo entre coleta e processamento for inferior a 2 horas, esse material pode ficar em temperatura ambiente; caso o tempo seja superior, é recomendado manter sob refrigeração (2°C a 8°C). 
No vídeo a seguir, veja a especialista explicando o procedimento de coleta de espécimes clínicos para o diagnóstico micológico.
Verificando o aprendizado
Parte superior do formulário
1. O diagnóstico micológico, assim como qualquer outro diagnóstico laboratorial, pode ser dividido em três etapas. A coleta do espécime clínico compreende qual fase do diagnóstico?
Analítica
Pré-analítica
Processamento
Pós-analítica
Inicial
Parte inferior do formulário
Comentário
Parte superior do formulário
2. A coleta do espécime clínico deve ser criteriosa, pois o sucesso do diagnóstico micológico também depende disso. Para que a coleta seja feita corretamente, qual é o primeiro critério que deve ser observado?
Identificação do frasco de transporte
Aspecto da lesão e a localização
Separação do material para a coleta
Leitura da requisição do exame
Antissepsia do local da lesão
Parte inferior do formulário
Comentário
Avalie este módulo:
MÓDULO 2 
Descrever os processamentos e as técnicas da rotina laboratorial na micologia médica
Introdução às rotinas no laboratório de micologia
Após todos os processamentos pré-analíticos vistos anteriormente, chegamos à fase analítica do diagnóstico micológico. Essa etapa corresponde à execução propriamente dita das técnicas laboratoriais, com o objetivo de evidenciar as estruturas fúngicas ou o isolamento do agente infeccioso. Essa busca pela definição do diagnóstico pode ocorrer pela pesquisa direta de estruturas fúngicas nas amostras clínicas, pela semeadura desse material com posterior crescimento do fungo no laboratório, ou então pelas investigações indiretas que procuram por antígenos ou anticorpos circulantes, os quais sugerem a presença do fungo ou levedura no organismo do paciente.
Recebimento e triagem das amostras 
Antes de processar os espécimes clínicos, o setor técnico necessita realizar uma verificação criteriosa acerca das amostras estarem ou não adequadas, como, por exemplo, em relação ao seu volume, à presença de vazamentos ou contaminações, se estavam sob refrigeração, entre outros aspectos, para então dar prosseguimento à análise laboratorial.
Recebimento da amostra clínica. 
Para garantir o sucesso do diagnóstico e uma correlação clínico laboratorial melhor, alguns critérios são utilizados para a rejeição das amostras clínicas recebidas pelo laboratório. Veremos a seguir 2 tipos de problemas: 
Clique nas informações a seguir. 
Caso ocorra algum desses problemas ou outros que inviabilizem o processamento laboratorial da amostra clínica, é imprescindível que o setor responsável pela coleta e o médico solicitante sejam comunicados. Em algumas situações, como as descritas acima, será necessário realizar nova coleta; por isso, é extremamente importante que todo o processo pré-analítico seja realizado com a máxima cautela para que esses problemas sejam a exceção e não a regra.
Diagnóstico micológico clássico
Classicamente, o diagnóstico micológico é realizado pela verificação do fungo ou levedura no espécime clínico, seja por técnicas de microscopia chamadas de exame direto seja pelos cultivos em meio de cultura. Por muitos anos, essas técnicas foram as únicas utilizadas para auxiliar no diagnóstico das micoses, entretanto, com o avanço tecnológico, outros testes também puderam ser realizados para complementar as informações obtidas, como a pesquisa de anticorpos e antígenos, ou a investigação molecular.
Para realizar a análise micológica, alguns espécimes clínicos precisam ser previamente preparados com a finalidade de aumentar a sensibilidade das técnicas, abaixo veremos as diferentes preparações e suas especificidades.
Preparação das escamas de unha e pele, pelos e cabelos
Esses materiais clínicos secos devem ser separados em porções para que sejam realizados o exame direto e a cultura micológica.
Preparação de secreções, liquor e fluídos corporais 
Esses líquidos deverão ser centrifugados por 10 minutos a 1500-2000 rpm. As amostras coletadas com auxílio de swab devem transferidas para solução salina por agitação no líquido, de modo que o material se desprenda e permaneça com posterior centrifugação da solução salina. O material adequado para realização, tanto do exame direto quanto da cultura, é o sedimento que ficará no fundo do tubo após a centrifugação. 
Preparação da urina
A recomendação é que se utilize a alça calibrada para semear uma alíquota por esgotamento no meio de cultura em placa de Petri, para o teste quantitativo pela verificação das unidades formadoras de colônias (UFC). Uma outra alíquota deverá ser centrifugada (10 minutos a 1500-2000 rpm) e o sedimento será utilizado para a verificação microscópica e para a avaliação qualitativa, sendo semeado em tubo com meio de cultura específico.
Preparação do escarro
Essa amostra pode ser digerida com a enzima N-acetil-L-cisteína, com a finalidade de fluidificar e facilitar a manipulação do escarro e a obtenção do sedimento após a centrifugação. Deve-se utilizar as porções purulentas da amostra, as porções liquefeitas não são apropriadas para o isolamento do fungo. Também é possível realizar a fluidificação com hidróxido de potássio (KOH 20%), porém essa alíquota somente será viável para o exame direto, já que essa solução destrói as estruturas fúngicas em algumas horas, inviabilizando o isolamento do fungo a partir da cultura.
Preparo de biopsias de tecido
As biopsias precisam ser fragmentadas por maceração com pistilo em almofariz (ambos estéreis), ou então com o auxílio de um bisturi estéril e placa de Petri também estéril. Esse procedimento tem por objetivo aumentar a sensibilidade do teste, pois aumenta a superfície de contato do tecido, o que expõe o microrganismo e favorece o contato com o meio de cultura, permitindo, assim, seu isolamento e posterior identificação. 
Exame micológico direto
O exame micológico direto é amplamente utilizado para auxiliar no diagnóstico das micosespor ser um teste rápido, de baixo custo, eficaz, reprodutível, sensível e, em algumas situações, por permitir evidenciar e até identificar o agente etiológico. Entretanto, a sensibilidade e a especificidade dessa metodologia dependerão, principalmente, do tipo da micose e da experiência do analista. Por essas limitações, um exame micológico negativo não anula a possibilidade de haver infecção fúngica.
Outro ponto crítico está relacionado à quantidade da amostra enviada para o laboratório. Alguns espécimes clínicos são de difícil coleta ou então não apresentam uma quantidade de amostra suficiente para o diagnóstico. Assim, quando a amostra é insuficiente para a realização do exame direto e da cultura micológica, a cultura, na maioria dos casos, tem prioridade, por ser mais específica e sensível quando comparada ao exame direto.
Para a realização do exame direto com a observação em microscópio, várias técnicas e colorações podem ser empregadas, dependendo da suspeita clínica e do tipo de amostra, como veremos a seguir:
Clique nas barras para ver as informações. 
Exame microscópico direto com hidróxido de potássio (KOH 20-40%)
Esta técnica pode ser utilizada para exames de pele, unha, pelos, biopsias de tecido, secreções espessas e outros materiais densos. Após colocar uma gota do KOH 20-40% (aquoso) em uma lâmina de vidro, deve-se transferir uma alíquota da amostra que será examinada. 
Em seguida, deve-se cobrir a preparação com uma lamínula de vidro e aguardar cerca de 20 minutos para que ocorra a clarificação da amostra. Essa clarificação consiste na digestão do tecido do hospedeiro a fim de facilitar a visualização, já que a célula fúngica permanece íntegra. Depois da amostra clarificada, examinar em microscópio óptico comum, primeiro, com a objetiva de 10x para localizar a amostra mais facilmente, seguida da objetiva de 40x onde será possível visualizar as estruturas fúngicas presentes. 
Exame direto com tinta nanquim (tinta da China)
Essa preparação é utilizada para verificar a presença da levedura do gênero Cryptococcus no espécime clínico, pois ela possui uma cápsula polissacarídica que facilita sua identificação. A tinta nanquim é a base de água e tem cor preta, então, em contato com a levedura, sua cápsula faz um halo ao redor da célula, que é facilmente visualizado pelo contraste do corante com o microrganismo. Para a preparação da lâmina, deve-se colocar uma gota do sedimento da amostra após centrifugação e uma gota da tinta nanquim, depois, cobrir com lamínula e observar no microscópio óptico, primeiro, com a objetiva de 10x e, depois, com a de 40x. 
Um erro comum nessa técnica é confundir linfócitos com as leveduras. Para que isso não ocorra, é importante verificar a refringência da parede celular, as inclusões no citoplasma e os brotamentos das leveduras. 
Coloração pelo método de Gram
Ao contrário das bactérias que podem ser classificadas como Gram-positivas e Gram-negativas, todos os fungos são Gram-positivos (coloram-se de roxo). Portanto, essa coloração não é utilizada para diferenciar os fungos, mas permite distinguir as estruturas fúngicas de artefatos presentes nas fezes, urina e secreções. Para a coloração de Gram, a amostra é espalhada homogeneamente com movimentos circulares em uma lâmina de vidro e, depois, fixada com calor e seguido do protocolo da coloração de Gram. 
Coloração Panótica, Leishman, Giemsa ou Wright
As colorações (Giemsa e panótico, por exemplo) podem ser utilizadas nas investigações em vários espécimes clínicos, como sangue, medula óssea, secreção cutânea e aspirados. Para essas colorações, a amostra precisa ser preparada como para o Gram e, depois, fixada com metanol e coradas, seguindo o método escolhido. 
Exame histopatológico
Amostras de tecidos coletadas por biopsias podem ser coradas pelos métodos específicos e habituais do exame histopatológico, porém a confirmação do agente etiológico somente será possível após o isolamento e a identificação do microrganismo. Geralmente, essas técnicas são mais utilizadas para as micoses subcutâneas, sistêmicas e oportunistas, pois evidenciam a invasão tecidual. Apesar de serem técnicas rápidas e relativamente baratas, podem resultar em diagnósticos presuntivos, uma vez que evidenciam as características morfológicas e as propriedades tintoriais.
A Hematoxilina-eosina (HE), utilizada rotineiramente nos laboratórios de patologia, não é indicada para detectar estruturas fúngicas, pois muitos desses microrganismos não coram ou coram fracamente, exceto para os fungos demáceos, que mantêm sua coloração escura facilitando a visualização. No caso das micoses, essa coloração pode auxiliar na visualização da resposta tecidual. 
Coloração de Hematoxilina-eosina mostrando Aspergillus niger com conídios de pigmentação marrom (centro) e cristais de oxalato de cálcio (parte superior esquerda). 
Histoplasma capsulatum aparecem como esférulas marrom-escura dentro do citoplasma dos macrófagos. Coloração Grocott-Gomori. 
Ao contrário da HE, as colorações como Gomori (impregnação pela prata), Gridley e PAS (ácido periódico de Schiff) são mais indicadas para a detecção e a análise da morfologia tecidual e presença de elementos fúngicos. Dentre essas, a mais indicada é a Gomori, porque permite um bom contraste entre as estruturas fúngicas e as células do tecido do hospedeiro. Nessa coloração pela impregnação da prata, as células fúngicas, independentemente da viabilidade, serão coradas em marrom-escuro, e o resto poderá ser corado com o contracorante (corante de fundo) verde ou amarelo brilhante que conferirá ao tecido uma coloração azulada. 
Na coloração PAS, os fungos pigmentam-se de vermelho, facilitando a identificação. Outras técnicas, como mucicarmim de Mayer e azul de alcian, podem ser utilizadas para suspeita de criptococose, já que a cápsula dessa levedura será corada de vermelho ou azul. 
Na coloração PAS, os fungos pigmentam-se de vermelho. 
Cultura micológica
O cultivo do espécime clínico para o isolamento e a identificação do agente etiológico da micose é, na maioria dos casos, a única forma de definir o diagnóstico. Essa técnica é considerada o padrão-ouro para o diagnóstico das micoses, o que significa que essa metodologia é o melhor exame disponível para determinar qual agente fúngico está causando a doença. Apesar de ser considerada o padrão-ouro, ainda existem algumas limitações, como o crescimento lento que, para alguns fungos, pode passar de quatro semanas, a contaminação por outros microrganismos e a dependência de um analista experiente para a identificação dos fungos isolados.
Tubos com meio de cultura. 
A escolha do meio de cultura a ser utilizado depende do tipo de amostra e o suposto agente etiológico, baseado na suspeita clínica. Outro parâmetro que auxilia na escolha do meio de cultura é baseado na observação do exame microscópico direto da amostra. De modo geral, recomenda-se sempre dois tubos contendo meio de cultura para a semeadura, que devem ser incubados em temperatura ambiente (25 °C a 35 °C), independentemente do tipo da amostra. 
Se a suspeita clínica estiver relacionada a fungos dimórficos, sugere-se que um dos tubos seja incubado a 35°C. Ao contrário do que é visto na bacteriologia, onde existem vários meios de culturas indicados para inúmeros tipos de bactérias, na micologia, não existem tantos meios seletivos que auxiliem no isolamento apenas de um agente fúngico. Por isso, essa área da microbiologia depende tanto da experiência do analista.
Para o isolamento dos fungos, independentemente do tipo de amostra clínica, devem ser utilizados meios de cultura não seletivos, que permitirão o crescimento, tanto dos fungos patogênicos quanto dos contaminantes de crescimento rápido (menor que sete dias). Apesar de os fungos contaminantes serem encontrados facilmente nos ambientes, em alguns pacientes susceptíveis, eles assumem o papel de agente etiológico das micoses oportunistas.
O meio de cultura mais utilizado na micologia é o ágar Sabouraud dextrose, que tem baixo custo. A maioria dos fungos crescenele, pois possui pH ácido (5,8) e elevado teor de glicose, tornando-o mais seletivo para esses microrganismos. No entanto, esse meio não impede totalmente o crescimento de bactérias. 
Atividade de reflexão
Você imagina o que podemos fazer ou adicionar ao meio de cultura para diminuir o crescimento bacteriano e, assim, diminuir a interferência causada pelas bactérias?
Em alguns casos, são acrescidos antibióticos. O cloranfenicol é o antibiótico mais usado pelo seu amplo espectro de ação e por sua característica de suportar a esterilização por calor úmido da autoclave. Além das bactérias, em alguns casos, também é necessário impedir o crescimento de fungos contaminantes, por essa razão, adiciona-se cicloheximida (actidione). 
O ágar Sabouraud acrescido de antibióticos é indicado para o cultivo de espécimes clínicos de lesões suspeitas de dermatofitose. Todavia, a cicloheximida pode inibir o crescimento de fungos oportunistas como o gênero Aspergillus, leveduras de Histoplasma capsulatum, além das leveduras patogênicas dos gêneros Cryptococcus e Candida. Por isso, a correlação com a suspeita clínica deve nortear a escolha do meio utilizado.
Existem ainda meios de cultura que auxiliam indicando a presença de determinados gêneros ou alguns grupos fúngicos, porém esses meios são a exceção na micologia. Um exemplo é a detecção de leveduras do gênero Cryptoccocus por meios de cultura, contendo compostos fenólicos, como o ágar semente de Niger, onde a cultura dessa levedura crescerá com coloração marrom. 
A levedura do gênero Cryptococcus. 
A partir do metabolismo dos dermatófitos, o meio de cultura mudará de coloração. 
Outro caso em que se pode usar esse tipo de meio é para os dermatófitos (Dermatophyte Test Medium), que mudarão de coloração em virtude do metabolismo desses fungos. 
Já para as leveduras do gênero Candida, existe um ágar que funciona por meio de reação enzimática e colorimétrica (ChromoAgar, Cândida médium, Biggy Ágar entre outras marcas comerciais), que, dependendo da espécie que crescer, a colônia apresentará uma coloração diferente. 
As espécies de Candida mudam de cor no meio cromogênico. 
Exemplo 
C. albicans crescerá de verde-claro a médio, C. krusei cor-de-rosa com bordas esbranquiçadas, C. tropicalis colorirá de azul-esverdeado a azul-metalizado. Apesar desses meios estarem disponíveis, eles são mais caros do que o ágar Sabouraud e são mais utilizados para o isolamento primário das leveduras, principalmente a partir de espécimes clínicos muito contaminados, como urina, fezes e secreção vaginal. Por auxiliar e ser apenas presuntivo, a identificação do fungo será realizada somente por meio da análise fisiológica e morfológica. 
O isolamento primário é o primeiro crescimento a partir da amostra clínica que, geralmente, é feito em um meio nutritivo e, muitas vezes, pode não apresentar somente um microrganismo. Por isso, é necessário um novo isolamento com repique na colônia suspeita para um novo meio de cultura. 
Nesse subcultivo, será utilizado o meio de cultura mais adequado para o fungo que cresceu no isolamento primário; para os dermatófitos, recomenda-se o uso de ágar batata, pois é um meio de cultura mais pobre que irá estimular a produção dos conídios, que são importantes aliados na identificação dos fungos filamentosos. 
O isolamento primário apresenta inúmeros microrganismos que se multiplicam. 
Já para os fungos dimórficos que têm um crescimento mais lento (maior que 15 dias), é aconselhado um meio mais nutritivo, como o ágar infusão de cérebro e coração bovinos (BHI – Brain Heart Infusion) para estimular o crescimento in vitro.
Processamento micológico realizado com o auxílio do bico de Bunsen. 
Os meios de cultura podem ser acondicionados em tubos, com uma taxa de desidratação mais lenta e menor chance de contaminação ambiental durante a incubação, ou em placas de Petri. A semeadura deverá ser realizada sempre em condições assépticas dentro de uma cabine de segurança biológica classe II ou então ao redor da área de segurança do bico de Bunsen. A incubação dos meios semeados, geralmente, é realizada em temperatura ambiente (aproximadamente 25°C a 30°C), porém alguns fungos podem se multiplicar mais lentamente nessa temperatura. 
Agora que já conhecemos os meios de cultura, vamos entender como devemos realizar a cultura micológica. 
Procedimentos para a cultura micológica
Após a preparação dos espécimes clínicos e a escolha adequada do meio de cultura a ser utilizado, as amostras deverão ser semeadas na superfície do meio de cultura com o auxílio de uma pipeta Pasteur, alça de níquel-cromo ou descartável. 
A metodologia de semeadura por esgotamento é a mais indicada, pois proporciona um melhor espalhamento da amostra e, consequentemente, a separação das colônias, facilitando a distinção dos fungos contaminantes dos patogênicos. 
Essa técnica por esgotamento consiste em fazer movimentos em zigue-zague em toda a superfície do meio, como ilustra a imagem.
No momento da semeadura, deve-se ter cuidado, pois o material não pode ser colocado em profundidade no meio sólido, sendo apenas depositado na superfície do ágar. 
A temperatura de incubação do isolamento primário é recomendada que seja em temperatura ambiente (25°C a 30°C), pois esta permite o crescimento inclusive de microrganismos oportunistas e é fácil de ser conseguida em muitas regiões do Brasil, sem a necessidade de utilizar estufas do tipo BOD (Biochemical Oxygen Demand) para controlá-la. Se amostras ditas contaminadas, como urina, secreções respiratórias ou vaginais e fezes, forem incubadas a 37°C, poderão diminuir consideravelmente a sensibilidade da cultura, pois essa temperatura estimula a proliferação bacteriana que interferirá diretamente no sucesso do isolamento.
O tempo de crescimento das colônias dependerá da espécie fúngica, do tipo e da qualidade do meio de cultivo, do processamento prévio da amostra clínica, da temperatura de incubação e da presença de contaminantes ou inibidores no material. O isolamento primário de leveduras pode apresentar crescimento rápido em torno de 24 horas, por outro lado, fungos dimórficos podem demorar até 4 semanas para começarem um crescimento visível no ágar. Por isso, para minimizar o risco da liberação de falsos-negativos, é necessário esperar até 30 dias, dependendo da suspeita clínica, para liberar o resultado definitivo das culturas.
Como já vimos em todo o processo do diagnóstico micológico, o êxito do isolamento primário também depende de inúmeros fatores. A qualidade do espécime clínico é influenciada diretamente pela coleta adequada, de acordo com a suspeita clínica. 
Exemplo 
A coleta equivocada de líquido de vesículas em caso de suspeita de dermatofitose ou crostas em lesões suspeitas de esporotricose diminui muito a chance de isolamento do agente etiológico. 
Outro fator a ser considerado é a quantidade de material coletado, pois, em algumas micoses, a carga fúngica na lesão é muito pequena, o que dificulta ainda mais o isolamento do fungo, aumentando os riscos dos falsos-negativos.
Identificação dos fungos
Após o processamento da amostra, os tubos ou placas onde foram semeados deverão ficar em incubação com verificação periódica, sendo realizada no mínimo três vezes por semana ou diariamente, o que é mais recomendado. Essa verificação periódica é extremamente importante, pois, assim que for observado o crescimento de uma colônia com características sugestivas da suspeita clínica, ela poderá ser transferida para um cultivo secundário, evitando que contaminantes impeçam a viabilidade desse fungo e sua correta identificação. 
Durante a incubação, deve-se realizar a verificação periódica dos cultivos. 
Em alguns cultivos, pode ser difícil identificar e decidir qual será o possível fungo patogênico, já que, em espécimes clínicos contaminados, é comum o crescimento de muitos tipos diferentes de microrganismos. Por isso, nesses casos em que não se sabe exatamente qual colônia poderá ser descartada e qual seguirá sendo analisada, recomenda-se que todas as colôniassuspeitas sejam isoladas e identificadas até a definição do provável agente etiológico baseado na suspeita clínica.
Verificação de uma colônia ao microscópio com uso do corante na lâmina. 
Tão pronto quando observado o crescimento sugestivo do agente etiológico, pode-se realizar uma verificação prévia em microscópio óptico. Uma porção da colônia suspeita deve ser removida em ambiente estéril, com o auxílio de uma alça de níquel-cromo em “L”, e colocada em uma lâmina de vidro com lactofenol azul de algodão, para fungos hialinos e, ou somente, lactofenol, para fungos demáceos. O ácido lático dessa solução preserva as estruturas do fungo, enquanto o fenol inviabiliza os microrganismos vivos e o azul de algodão cora a quitina, abundante na parede celular fúngica. 
Esta verificação auxilia na escolha dos posteriores métodos de identificação que serão empregados. Após essa verificação prévia, a colônia pode ser transferida com o auxílio de uma alça para um novo meio de cultura visando a um crescimento puro. Essa nova semeadura será o cultivo secundário. 
Transferência de colônia suspeita para um novo ágar. 
Nesse cultivo secundário, além de se obter um único tipo de fungo, também é possível uma melhor observação macroscópica, pois o fungo tem uma maior superfície para o crescimento não competindo com os possíveis contaminantes presentes no cultivo primários. 
Você imagina como é feita a identificação dos fungos? Será que é da mesma forma que a identificação das bactérias, utilizando provas bioquímicas? 
A identificação da maior parte dos fungos filamentosos ocorre pela observação da morfologia de suas estruturas de reprodução, por isso é importante ter uma cultura secundária pura para que não ocorra confusão nesse momento da verificação das estruturas de reprodução. Além disso, a escolha correta do meio de cultura também terá influência direta na produção dos esporos, pois muitos fungos quando crescem em meios ricos deixam de criar estruturas de reprodução. Logo, nesses casos, é importante ofertar um meio mais pobre, como o ágar batata dextrose, que favorecerá a formação dos esporos.
Alguns analistas mais experientes conseguem identificar o gênero de alguns fungos já no isolamento primário, principalmente se for um fungo filamentoso e apresentar as estruturas de reprodução nesse primeiro cultivo. Por isso, a observação macro e microscópica é tão relevante. Entretanto, a identificação da maioria dos fungos necessita de uma avaliação mais completa da macro e micromorfologia a partir dos cultivos secundários puros e, no caso das leveduras, há a necessidade de testes fisiológicos, já que, muitas vezes, sua morfologia não difere de uma espécie para outra.
Identificação dos fungos filamentosos
A maioria dos fungos filamentosos são identificados com base em suas características macro e micromorfológicas. Para tanto, é necessário observar algumas estruturas que podem definir os gêneros, ou até mesmos as espécies, em alguns casos. Muitas vezes, as colônias não apresentam características morfológicas de uma determinada espécie ou gênero, porém essa observação acrescenta informações importantes quando associadas a outros aspectos para completar a identificação.
Vamos saber mais sobre essas características abaixo:
Clique nas barras para ver as informações. 
Textura
Algodonosa ou cotonosa: o micélio aéreo é proeminente e volumoso. As colônias algodonosas lembram pelos e tufos.
Velutínea ou aveludada: o micélio aéreo está bem aderido à superfície do ágar com aspecto aveludado.
Pulverulenta ou granular: a superfície da colônia é plana, friável com aspecto de poeira e se fragmenta facilmente por causa da alta produção de conídios. Os fungos com aparência pulverulenta lembram uma poeira em sua superfície. 
Cérea ou glabrosa: micélio aéreo escasso e com superfície lisa. 
Topografia 
A topografia da colônia dos fungos filamentosos na maioria das vezes está encoberta pelo micélio aéreo, então, para observá-la, é indicado o reverso da colônia. 
O reverso da colônia pode ser plano sem rugosidades ou sulcos, ou então apresentar uma das características abaixo:
· Rugosa: apresentando sulcos profundos, ranhuras ou estrias que são distribuídas irregularmente a partir do centro da colônia.
· Umbilicada: elevação central que pode conter estrias.
· Verrucosa: apresenta superfície ondulada com dobras.
Cor
Os aspectos referentes à coloração devem ser observados no verso (frente da colônia) e no anverso (atrás da colônia), além da presença de padrões como anéis concêntricos. Importante salientar que a coloração da cultura pode variar de acordo com a idade da colônia. Alguns fungos apresentam colônias jovens com coloração clara que tendem a escurecer com o amadurecimento do cultivo, por isso deve-se atentar à idade do cultivo quando fizer esse tipo de observação.
Termoconversão 
O dimorfismo térmico é a capacidade de um fungo assumir, tanto a forma filamentosa quanto a de levedura. Essa mudança ocorre por múltiplos fatores e o principal deles é a temperatura, por isso é possível estimular essa mudança em laboratório. Caso a hipótese clínica seja de uma micose causada por fungo dimórfico, as colônias suspeitas em sua fase filamentosa devem ser semeadas em meios ricos como BHI e incubadas a 37°C, com a finalidade de verificar se começarão a crescer como leveduras.
Micromorfologia 
A identificação dos fungos filamentosos é baseada, majoritariamente, pela observação de tamanho, formato, disposição e coloração dos conídios ou esporos. Caso esses sejam ausentes, é necessário o uso de técnicas mais complexas baseadas no estudo do DNA ou exoantígenos do fungo, já que a mera observação das hifas vegetativas não agrega muita informação ou distinção entre os gêneros fúngicos. 
Inúmeros fatores podem causar a ausência de esporulação, como fungos provenientes de pacientes que estavam sobre tratamento prévio com antifúngico ou subcultivos frequentes. Em alguns casos que o isolamento primário não apresente esporulação, é preciso mudar o meio no cultivo secundário para um meio mais pobre, como o ágar batata ou ágar fubá.
Algumas vezes, uma alíquota diretamente do cultivo primário ou secundário é suficiente para observar em microscópio as estruturas de reprodução dos fungos filamentosos. No entanto, a maioria perderá seu arranjo original, que dificultará sua identificação, por isso a técnica de microcultivo é indicada. Essa técnica consiste em semear porção de uma colônia pura para que ela cresça sem interferência no seu arranjo facilitando a identificação. A fim de conhecer melhor a técnica do microcultivo, não deixe de visitar o Explore +, lá você conhecerá com mais detalhes como executá-la.
Com a lâmina pronta após o processamento do microcultivo, alguns aspectos precisam ser observados em microscópio óptico, primeiramente, com a objetiva de 10x e, depois, com a de 40x, como:
· Coloração das hifas, se são hialinas ou demáceas.
· Estrutura das hifas, se são septadas ou sem septos aparentes (asseptadas ou cenocíticas).
· Arranjo e forma dos conídios no conidióforo.
· Presença ou ausência de macro- ou microconídios.
· Outras estruturas ou projeções típicas, como rizoides (Rhizopus sp.), células podais (Aspergillus spp.) ou hifas em forma de gavinha (Trichophyton mentagrophytes).
· Forma e inserção dos conidióforos nas hifas vegetativas.
De posse dessas informações, mais as características macroscópicas e a suspeita clínica, o analista consegue, na maioria das vezes, sugerir o gênero e, em alguns casos, a espécie do agente etiológico da micose.
Identificação morfológica e bioquímica de leveduras
As leveduras fazem parte da microbiota normal da pele, mucosa vaginal, oral e trato intestinal, por isso o isolamento desses microrganismos deve ser criterioso, já que podem não ter qualquer significado clínico. Entretanto, em pacientes com fatores predisponentes ou debilitados, as leveduras podem assumir o papel de patógenos oportunistas. Quando as leveduras são isoladas de determinadas amostras clínicas, tal como liquor, biopsias, hemoculturas, líquidosbiológicos, normalmente, estéreis ou de isolamentos consecutivos de pacientes imunocomprometidos, são significantes e devem ser adequadamente identificadas.
Ao contrário do observado para os fungos filamentosos, as leveduras não apresentam características morfológicas marcantes de modo que os gêneros sejam facilmente diferenciados. Logo, a simples observação macro e microscópica pode não trazer tanta informação diagnóstica. 
Nos casos suspeitos de doenças causadas por leveduras, assim como para os fungos filamentosos, a identificação deve ser realizada a partir de uma cultura pura isenta de bactérias, ou outros fungos contaminantes, de forma que não haja interferência e dúvidas na determinação do agente etiológico. A escolha do teste que será realizado para a identificação da levedura depende da suspeita clínica, dos resultados obtidos nos exames direto e de algumas características macromorfológicas que podem dar algum indício do agente etiológico. 
As espécies de leveduras apresentam características macro e microscópica muito parecidas. 
Como já aprendemos, para as colônias suspeitas de leveduras do gênero Cryptococcus, a pesquisa da cápsula com tinta nanquim evidencia o halo formado por essa estrutura juntamente com os brotamentos.
Formação de um tubo germinativo a partir da célula leveduriforme. 
A prova morfofisiológica mais comum para o gênero Candida é a produção de tubo germinativo que é característico da espécie C. albicans e que as outras espécies de Candida (C. não-albicans) não produzem.
Outro teste que pode ser realizado para diferenciar as leveduras é o cultivo em lâmina, que evidenciará a produção de hifas verdadeiras ou pseudohifas. 
O cultivo em lâmina. 
Hifas fragmentadas formando artroconídios. 
Caso esse teste apresente hifas hialinas, sem fragmentação e ramificadas, sugere o gênero Candida; porém, se apresentar clamidoconídios, é indicativo da espécie Candida albicans. Se as hifas ramificadas verificadas no cultivo em lâmina se fragmentarem em artroconídios, sugerem os gêneros Trichosporon e Geotrichum. 
A maioria da identificação a nível de espécie ocorre por meio de provas bioquímicas, que são necessárias para identificar espécies intrinsicamente resistentes a algum antifúngico. Por exemplo, a levedura Candida krusei é resistente ao fluconazol, antifúngico normalmente prescrito para candidíase.
A prova da urease, comumente empregada na rotina da bacteriologia, também pode ser utilizada para auxiliar na identificação das leveduras. Leveduras do gênero Cryptococcus, Trichosporon, Rhodotorula e algumas espécies de Candida são urease positivas, mas, quando associadas a outras informações morfológicas, é possível diferenciar as duas, já que a colônia da Rhodotorula tem coloração laranja ou avermelhada. 
Prova da urease. 
As provas de assimilação de fontes de nitrogênio e carbono (auxanograma) e de fermentação de carboidratos (zimograma) devem ser aplicadas para auxiliar na identificação das leveduras, caso técnicas mais simples, como a verificação morfológica, não conduzam a um diagnóstico presuntivo. Nesses testes, as leveduras são semeadas em meios contendo apenas um tipo de fonte de carbono ou nitrogênio, e será verificada a capacidade dessa levedura de crescer ou produzir gás a partir da fermentação realizada na ausência de oxigênio. Já existem kits comerciais e alguns automatizados que auxiliam na identificação das leveduras, fornecendo um diagnóstico prático e rápido para uma liberação mais ágil do laudo, que orientará o tipo de tratamento que o paciente receberá.
Metodologias auxiliares
Para a maioria das micoses, os métodos convencionais de diagnóstico baseados no exame direto e na cultura micológica apresentam boa sensibilidade e vantagens econômicas. No entanto, existem alguns casos que essas técnicas clássicas demoram muito para liberar o resultado, não conseguem a definição do diagnóstico ou identificação do patógeno sozinhas. Isso acontece principalmente em microrganismos emergentes ou oportunistas. Por esse motivo, algumas doenças fúngicas necessitam de testes que realizam a observação indireta da presença do fungo utilizando métodos imunológicos ou moleculares.
Testes imunológicos
A pesquisa de antígenos e anticorpos no soro dos pacientes tem servido de grande auxílio para o diagnóstico, prognóstico e para o monitoramento do tratamento. Os testes que buscam determinar a titulação de anticorpos presentes seja no soro seja no liquor são úteis, principalmente, nas micoses sistêmicas, mas não são tão eficazes para outras infecções fúngicas. Por isso, a pesquisa de anticorpos no soro, no liquor e na urina é importante para o diagnóstico de micoses como coccidioidomicose, paracoccidioidomicose, criptococose e histoplasmose.
Várias técnicas podem ser empregadas para a pesquisa dos anticorpos séricos, as mais comuns são as técnicas de imunodifusão e de fixação do complemento. Mesmo que o valor diagnóstico baseado nessas técnicas seja limitado, são indicadas, principalmente, quando não é possível evidenciar o fungo no exame direto ou cultura micológica. A imunodifusão em gel de ágar é sensível, prática e específica no diagnóstico das micoses sistêmicas, bem como no acompanhamento da evolução e conduta terapêutica. Além da imunodifusão, também é possível utilizar testes ELISA e Western-blot devido à sua sensibilidade. 
Imunodifusão. 
Testes intradérmicos. 
É possível realizar também testes intradérmicos (o famoso PPD) com a injeção de antígeno na face anterior do antebraço com a finalidade de pesquisar o grau de sensibilidade do paciente aos antígenos do fungo. Esse exame é, geralmente, aplicado no diagnóstico de manifestações alérgicas, por exemplo, nos casos de broncopneumonia por Aspergillus sp. Além disso, pode ser empregado para investigações epidemiológicas para delimitação de áreas endêmicas de determinado fungo, porém sem grande valor diagnóstico, uma vez que não é possível diferenciar infecções presentes e passadas. 
A investigação de antígenos fúngicos circulantes é uma metodologia estudada mais recentemente e tem se mostrado satisfatória no diagnóstico de meningites causadas por Cryptococcus neoformans e algumas infecções por Candida albicans. A detecção no soro ou liquor do antígeno polissacarídico do C. neoformans é um método rápido para o diagnóstico baseado na aglutinação de partículas de látex. Atualmente, diversos kits comerciais estão disponíveis, porém, ocasionalmente, alguns resultados falso-negativos ou falso-positivos podem ocorrer. 
A aglutinação em látex. 
Métodos moleculares
As técnicas moleculares que são empregadas em muitas outras áreas também podem ser utilizadas na micologia. Embora sejam técnicas caras, necessitem de pessoal especializado e, muitas vezes, sejam restritas aos laboratórios de pesquisa, apresentam alta sensibilidade e especificidade.
Técnicas moleculares, apesar de sensíveis e específicas, ainda possuem alto custo. 
O sequenciamento do DNA baseado a partir da Reação em Cadeia de Polimerase (PCR - Polymerase Chain Reaction) é ferramenta útil na identificação depois do isolamento e crescimento em cultivo. 
Atualmente, existem vários protocolos para a preparação da amostra, mas ainda não existe um método universal ideal para a extração, purificação e concentração do DNA do fungo a partir dos espécimes clínicos. As limitações relacionadas à análise realizada diretamente das amostras clínicas ocorrem, pois, muitas vezes, o número de células fúngicas na lesão é limitado ou possui populações mistas. Além disso, podem conter RNases ou DNases que degradam o material genético fúngico, ou outros inibidores que podem interferir nos passos da amplificação.
A utilização a partir do espécime clínico ainda é muito limitada, sendo necessário o cultivo e isolamento do agente etiológico. Outra dificuldade na pesquisa molecular de fungos é a extração do DNA, que necessita de protocolos complexos e que utilizam reagentes tóxicos e nocivos. 
Um dos marcadores moleculares usados é o sequenciamento da região ITS (Internal Transcribed Spacer), que podeser amplificado utilizando primers específicos. Essa região é amplamente estudada por ser uma região muito conservada entre os gêneros fúngicos, mas são variáveis nas espécies, proporcionando a distinção intraespecífica. Para aumentar a confiabilidade, outras regiões também podem ser analisadas com o sequenciamento dos genes da β-tubulina, calmodulina e fator de elongação.
Teste de sensibilidade aos antifúngicos (antifungigrama)
Para o tratamento das doenças fúngicas, existem alguns fármacos com atividade antifúngica, diferentes espectros de ação e alvos terapêuticos. Dentre eles, podemos citar algumas classes como os azólicos (itraconazol, cetoconazol, voriconazol, entre outros), as equinocandinas (micafungina, caspofungina e anidulafungina), as alilaminas (terbinafina) e os polienos (anfotericina B e nistatina).
Os testes de sensibilidade aos antifúngicos podem ser realizados por discodifusão ou por microdiluição em caldo, dependendo do protocolo a ser seguido ou do microrganismo estudado. No teste de discodifusão, pode-se utilizar placas de Petri com o ágar Muller-Hinton (suplementado com 2% de dextrose e 0,5 µg/mL de azul de metileno). Para tanto, uma determinada concentração do fungo é semeada em toda superfície desse meio de forma homogênea. Imediatamente após, é acrescido um disco de papel filtro contendo o antifúngico a ser pesquisado. Depois da incubação, é verificado o halo de inibição ao redor do disco que indicará a ação do antifúngico.
Discodifusão. 
Microdiluição em caldo 
Já na microdiluição em caldo, o antifúngico é acrescido do meio RPMI (Roswell Park Memorial Institute) e, em placa de 96 poços, é realizada a diluição seriada. Posterior à diluição do antifúngico, o fungo é adicionado a todos os poços. A leitura feita após o período de incubação marcará o CIM (Concentração Mínima Inibitória, ou em inglês MIC), que será a primeira concentração capaz de inibir o crescimento do microrganismo. 
Ao longo dos anos, após complexas análises, os testes de sensibilidade aos antifúngicos foram padronizados e atualmente dois institutos elaboraram protocolos aceitos internacionalmente, são eles o CLSI (Clinical Laboratory Standard Institute – Estados Unidos) e o EUCAST (European Committee on Antimicrobial Susceptibility Testing – Europeu). Mais recentemente, criou-se o BrCAST, que é o comitê brasileiro que organiza todas as informações sobre os testes de sensibilidade dos microrganismos. Para conhecer mais sobre o BrCAST e os protocolos que estão disponíveis gratuitamente, não deixe de visitar o Explore +.
Além da padronização das técnicas para os diferentes agentes fúngicos, essas entidades também delimitam o breakpoint, que é o ponto de corte para a interpretação do resultado se o fungo será resistente ou sensível ao antifúngico. A determinação do breakpoint é extremamente complexa, por isso, atualmente, os mais conhecidos são para leveduras do gênero Candida e para os fungos do gênero Aspergillus. Outra limitação é que não existe um protocolo padronizado para avaliar o perfil de sensibilidade dos fungos dimórficos.
Ao contrário do que é visto com as bactérias, em que, rotineiramente, são realizados antibiogramas para verificar os perfis de resistência; para os fungos, essa técnica não é tão empregada na rotina clínica. Geralmente, o antifungigrama é utilizado para determinação do perfil de sensibilidade das leveduras do gênero Candida, enquanto importante agente das micoses nosocomiais. Ou ainda, nos casos em que o paciente não responde bem ao tratamento proposto e é necessário verificar o aparecimento de cepas resistentes ou então uma possível alternativa terapêutica.
Saiba mais
Infecções nosocomiais são as infecções adquiridas durante a internação hospitalar (infecção hospitalar), normalmente causadas por fungos e bactérias.

Mais conteúdos dessa disciplina