Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Maria Luiza Sena – Med XIV FASA HIV é a sigla para o vírus da imunodeficiência humana. Esse vírus é o causador da Aids, que é a sigla para síndrome da imunodeficiência adquirida, uma doença que enfraquece o sistema imunológico humano e leva ao desenvolvimento de infecções oportunistas, neoplasias secundárias e manifestações neurológicas. ❖ Essa diferenciação é importante, pois ter o HIV não é a mesma coisa que ter Aids. Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. Independente de desenvolver ou não a Aids, todos os pacientes soropositivos para o HIV podem transmitir o vírus a outras pessoas por: ❖ Relações sexuais desprotegidas (sexo oral, anal e vaginal). ❖ Compartilhamento de seringas contaminadas. ❖ De mãe para filho durante a gravidez e amamentação. ❖ Transfusão de sangue contaminado. O sistema de classificação atual do CDC para a infecção pelo HIV e Aids categoriza os pacientes com base nas condições clínicas associadas à infecção pelo HIV junto com o nível da contagem de linfócitos T CD4+. Um caso confirmado de HIV pode ser classificado em um de cinco estágios clínicos da infecção pelo HIV (0, 1, 2, 3 ou desconhecido). EPIDEMIOLOGIA Na América Latina, estima-se que 1,8 milhão de adultos e crianças vivam com HIV. O Brasil, com grande população geral, é responsável por 830.000 pessoas infectadas pelo HIV. A infecção pelo HIV e Aids fazem parte da Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças. De 2007 até junho de 2019, foram notificados no Sinan 300.496 casos de infecção pelo HIV no Brasil. ❖ Só no ano de 2018, foram notificados 43.941 casos de infecção, com uma proporção de homens para mulheres de quase 3:1. No que se refere às faixas etárias, observou-se que a maioria dos casos de infecção pelo HIV encontra-se na faixa de 20-34 anos, com percentual de 52,7% dos casos. Já em 2021, 40.800 casos de HIV e outros 35.200 casos de Aids foram notificados. Pacientes com infecção recente pelo HIV são altamente contagiosos para outras pessoas, dadas as cargas virais transitoriamente altas típicas observadas no início da infecção pelo HIV. A carga viral do HIV no sangue se correlaciona com o risco de transmissão do HIV. ❖ Em homens com infecção aguda por HIV, a carga viral no sêmen parece seguir um padrão semelhante ao observado no sangue, com os níveis mais altos ocorrendo em aproximadamente 20 dias após a infecção ou 6 dias após o início dos sintomas para aqueles com síndrome retroviral aguda. A doença era originalmente associada à população homossexual masculina, devido à transmissão sexual do vírus ser mais eficiente pela forma anal. Entretanto, estamos em uma nova fase da epidemia, em que o maior número de casos novos corresponde a heterossexuais. Já entre mulheres homossexuais, a transmissão é rara. ❖ Atualmente, não se fala mais em grupo de risco, mas sim em comportamento de risco, como a relação sexual sem preservativo. No Brasil, pelo menos 1/3 (aproximadamente 150 mil pessoas), não sabe de sua condição, segundo estimativa do MS. Em contrapartida à taxa constante de novos casos, a taxa de soropositividade em jovens está aumentando a níveis alarmantes, mais de 50% em 6 anos. ❖ Talvez isso ocorra por essa nova geração ter menos contato com o verdadeiro massacre que a AIDS já causou -> isso indica necessidade de mais campanhas voltadas para o público jovem, em relação ao uso do preservativo e testagem frequente. Em relação à taxa de mortalidade no país, está decaindo cerca de 10% na última década, por conta do tratamento oferecido gratuitamente pelo SUS. Porém, a taxa ainda é significativa (cerca de 13 mil óbitos). ❖ O Brasil é considerado pela ONU como pioneiro no tratamento do HIV, sendo o 1º país a oferecer gratuitamente a terapia antirretroviral combinada. Dezembro Vermelho -> mês de conscientização e luta contra o HIV/Aids. Traz alerta sobre a importância do diagnóstico precoce, prevenção e tratamento do HIV/Aids e outras IST’s. FATORES DE RISCO Os principais fatores de risco associados a infecção ao HIV podem ser categorizados segundo elementos estruturais e comportamentais do indivíduo. APG 32 - INFECÇÃO PELO HIV Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Quanto aos elementos estruturais pode-se citar a desvantagem econômica, instabilidade habitacional e encarceramento. E quando aos elementos comportamentais pode-se citar o sexo transacional, múltiplos parceiros, abuso de substâncias e idade da primeira relação sexual. CARACTERÍSTICAS MICROBIOLÓGICAS O agente etiológico da Aids é o HIV, que pertence à família dos retrovírus humanos (Retroviridae) e à subfamília dos lentivírus. Ele destrói o sistema imunológico do corpo quando invade e destrói os linfócitos T CD4+. Os retrovírus que causam doença nos seres humanos, pertencem a 2 grupos distintos: ❖ Vírus linfotrópico de células T humanas (HTLV-1 e HTLV-2), os quais são retrovírus transformadores. ❖ Vírus da imunodeficiência humana (HIV-1 e HIV-1), que causam efeitos citopáticos diretos/indiretos. ! No mundo inteiro, a causa mais comum da doença causada pelo HIV é o HIV-1, que engloba vários subtipos. ❖ Os vírus HIV-1 provavelmente se originaram dos chimpanzés e/ou gorilas. ESTRUTURA Semelhante à maioria dos retrovírus, o vírions HIV-1 é esférico e contém um capsídeo em forma de cone elétron-denso, circundado por um envelope lipídico derivado da membrana celular da célula hospedeira. O capsídeo viral contém: ❖ p24 -> principal proteína do capsídeo. É o antígeno viral mais abundante e é o antígeno utilizado em um dos testes diagnósticos. ❖ Proteína de nucleocapsídeo p7/p9. ❖ 2 cópias de RNA genômico viral. ❖ 3 enzimas virais -> protease, transcriptase reversa e integrasse. O capsídeo viral é circundado por uma proteína de matriz (p17), que fica embaixo do envelope do vírion. No envelope viral estão duas glicoproteínas virais, gp120 e gp41, que são essenciais para a infecção do HIV nas células. O genoma de RNA do HIV-1 contém os genes gag, pol e env, que são típicos dos retrovírus -> os produtos desses genes são proteínas precursoras grandes que são clivadas pela protease viral para produzir as proteínas maduras. Além desses genes retrovirais, o HIV contém vários genes acessórios, (tat, rev, vif, nef, vpr e vpu), que regulam a síntese e montagem de partículas virais infecciosas e a patogenicidade do vírus. A análise molecular de diferentes isolados do HIV-1 revelou uma variabilidade considerável em certas partes do genoma viral, principalmente em sequências que codificam determinadas regiões das glicoproteínas do envelope. ❖ Como a resposta por anticorpos contra HIV-1 é direcionada contra o envelope, essa variabilidade impõe problemas para o desenvolvimento de uma vacina de antígeno único. Com base na variação genética, o HIV-1 pode ser dividido em três subgrupos: M (major), O (outlier) e N (não M / não O). ❖ Os vírus do Grupo M são os mais comuns em todo o mundo, e são ainda divididos em vários subtipos, ou clados, denominados de A a K. No processo de invasão do linfócito T CD4+, o vírus se liga a receptores nos linfócitos T CD4+, seu envelope funde-se à membrana dessa célula e a penetra, depois o RNA viral é incorporado ao DNA do linfócito. O DNA do linfócito T CD4+ é usado para reproduzir grandes quantidades de HIV, que são liberados para a corrente sanguínea. Conforme diminui a contagem de linfócitos T CD4+, o corpo se torna suscetível a infecções oportunistas. CICLO DE REPLICAÇÃO A principal característica do HIV é a transcrição reversa do seu RNA genômico em DNA pela enzima transcriptase reversa. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O ciclo de replicação começa com a ligação de alta afinidade por meio de resíduos expostos à superfície dentroda proteína gp120 ao seu receptor na superfície da célula do hospedeiro, a molécula CD4 -> é encontrada sobretudo em um subgrupo de linfócitos T que auxiliam o sistema imune Depois da fixação à molécula CD4, a proteína gp120 sofre uma alteração de conformação, facilitando a ligação a um dos dois correceptores principais (CCR5 e CXCR4) -> o acoplamento do vírus a um ou aos dois receptores permite sua entrada na célula. A disseminação entre as células também é facilitada por moléculas acessórias, como o receptor de lectina tipo C expresso em células dendríticas que se ligam à gp120, permitindo que o vírus se espalhe para as células T CD4+. Após a ligação da proteína viral à molécula CD4, associada à alteração de conformação da gp120, ocorre a fusão com a membrana celular do hospedeito por ação da gp41 recém-exposta, que penetra na membrana plasmática da célula alvo e enrola-se sobre si própria para aproximar o vírion da célula alvo. Após a fusão, é iniciada a retirada da camada proteica do capsídeo -> essa etapa facilita a transcrição reversa e leva à formação do complexo de pré-integração (RNA viral, enzimas e proteínas). Quando esse complexo atravessa o citoplasma e chega ao núcleo, a transcriptase reversa catalisa a transcrição do RNA genômico em DNA, resultando na formação de DNA proviral de fita dupla do HIV. Em várias etapas do ciclo de replicação, o vírus é vulnerável a fatores celulares que podem bloquear a progressão da infecção -> a TRIM5-α citoplasmática é um fator de restrição do hospedeiro que interage com o capsídeo, causando a desmontagem e indução de respostas imunes inatas. Apobec3 também inibe a progressão da infecção viral após a entrada do vírus na célula e antes de sua entrada no núcleo. As Apobec3 que são incorporadas dentro de vírions e liberadas no citoplasma de células recém-infectadas, ligam-se ao único intermediário de DNA negativo e desaminam a citidina viral, causando a hipermutação dos genomas virais. ❖ O HIV protege-se das Apobec3 por meio da proteína viral Vif, que marca a Apobec3 para degradação no proteassomo. SAMHD1 é outro fator pós-entrada do hospedeiro que impede a transcrição reversa ao depletar as reservas de dNTPs (desoxinucleotídeos). A MX2 induzida pela interferona tipo I é outro fator de restrição associado com a imunidade inata que inibe a entrada do HIV-1 no núcleo. Com a ativação da célula, o DNA viral tem acesso ao poro nuclear e é transferido do citoplasma para o núcleo, onde se incorpora aos cromossomos da célula hospedeira pela ação da integrase. O DNA proviral do HIV incorpora-se ao DNA genômico do hospedeito, preferencialmente em regiões de transcrição ativa e pontos quentes (hotspots) regionais. ❖ Esse provírus pode permanecer inativo (latente) ou pode manifestar vários graus de expressão gênica, incluindo a transcrição e produção ativa de vírus, dependendo do estado metabólico da célula infectada. ! A ativação celular desempenha um papel importante no ciclo replicativo do HIV e é fundamental à patogênese da doença causada por ele. Depois da ligação inicial, fusão e interiorização dos conteúdos de ácido nucleico dos vírions na célula-alvo, os intermediários de DNA de transcrição reversa incompleta são instáveis nas células em repouso e não se incorporam de maneira eficaz. Além disso, é necessário haver alguma ativação da célula hospedeira para iniciar a transcrição do DNA proviral incorporado em RNA genômico ou mRNA. Depois da transcrição, o mRNA do HIV é transcrito em proteínas que sofrem modificações por glicosilação, miristoilação, fosforilação e clivagem. A partícula viral é formada pela reunião das proteínas, enzimas e do RNA genômico do HIV na membrana plasmática das células. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA O brotamento da progênie viral pela bicamada lipídica da membrana da célula hospedeira é o ponto em que o núcleo viral adquire seu envelope externo e onde o fator de restrição do hospedeiro (teterina) pode inibir a liberação de partículas em brotamento. ❖ A teterina é uma proteína transmembrana tipo II induzida pela IFN, a qual interfere no descolamento do vírion, embora a proteína acessória do HIV Vpu contrabalance o efeito por meio de interações diretas com a teterina. Durante ou logo após o brotamento, a protease codificada pelo vírus catalisa a clivagem do precursor gag-pol para produzir o vírion maduro. A progressão pelo ciclo de replicação viral é profundamente influenciada por vários produtos gênicos reguladores do vírus. De modo semelhante, cada fase do ciclo de replicação do HIV representa um alvo real ou potencial de intervenção terapêutica. PATOGÊNESE - MECANISMO DE TRANSMISSÃO O HIV é transmitido principalmente por relações sexuais; pelo sangue e hemocomponentes; e pelas mães infectadas aos seus filhos nos períodos intraparto e perinatal, ou durante o aleitamento. A marca característica da doença causada pelo HIV é a imunodeficiência profunda, que resulta das deficiências quantitativa e qualitativa progressivas da subpopulação de linfócitos T (células T auxiliares), que ocorre no contexto da ativação imune policlonal. ❖ O subgrupo de células T auxiliares é definido pela presença da molécula CD4 na superfície, que serve como receptor celular primário para o HIV. Também é necessária a presença de um correceptor que se liga à molécula CD4 para que haja ligação, fusão e entrada eficientes do HIV-1 nas células-alvo, como já foi anteriormente citado. A profunda imunodeficiência, que afeta primariamente a imunidade celular, é a marca registrada da Aids -> isso resulta principalmente da infecção e perda de células T CD4+, bem como da função debilitada das células T auxiliares sobreviventes e outras células imunes. DEPLEÇÃO DE CÉLULAS T A perda das células T CD4+ é causada principalmente pelos efeitos citopáticos diretos do vírus em replicação. Por dia, cerca de 100 bilhões de novas partículas virais são produzidas e 1-2 bilhões de células T CD4+ morrem. ❖ A morte dessas células é uma das principais causas da imunodeficiência de células T. Até certo ponto, o sistema imune pode substituis as células T que estão morrendo, porém, à medida que a doença progride, a renovação das células T CD4+ não acompanha a perda. Possíveis mecanismos pelos quais o vírus mata diretamente as células infectadas incluem o aumento da permeabilidade da membrana plasmática associada ao brotamento das partículas virais e defeitos na síntese proteica decorrente da interferência das proteínas do vírus envolvidas na replicação viral. Além da morte direta de células, outros mecanismos podem contribuir para o comprometimento das células T: ❖ Ativação crônica de células não infectadas, levando à apoptose destas células. ❖ Infecção pelo HIV de células em órgãos linfoides. ❖ Fusão de células infectadas e não infectadas, formando sincícios (células gigantes). ❖ Defeitos qualitativos na função das células T (ex.: diminuição nas respostas Th1 em relação à Th2 e defeitos na sinalização intracelular). A infecção crônica de baixo nível ou a infecção latente de células T é característica importante da infecção pelo HIV -> o provírus integrado, sem expressão gênica viral (infecção latente) pode persistir nas células por meses/anos. ❖ Mesmo com terapia antirretroviral, que praticamente esteriliza o sangue periférico, o vírus latente esconde-se nas células CD4+ nos linfonodos. Como a maioria dessas células T CD4+ são de memória, apresentam longa duração, com uma vida de meses a anos e, portanto, propiciam um reservatório viral persistente. INFECÇÃO DE CÉLULAS IMUNES NÃO T Além da infecção e perda de células T CD4+, o HIV também infecta: Macrófagos -> o HIV-1 pode infectar e se multiplicar em macrófagos diferenciados que não estão se dividindo. Estes, podemconter um grande número de partículas virais. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA ❖ Embora permitam a replicação viral, eles são bastante resistentes aos efeitos citopáticos do HIV, ao contrário das células T CD4+. Assim, os macrófagos podem ser reservatórios de infecção e nos estágios tardios da infecção, quando o número de células T CD4+ diminui muito, os macrófagos podem constituir um importante local de replicação viral contínua. Células Dendríticas -> podem ser infectadas pelo vírus e transportá- lo para os linfonodos regionais, onde o vírus é transmitido para células T CD4+. ❖ As DCs foliculares, nos centros germinativos dos linfonodos, também são potenciais reservatórios do HIV. ! Embora algumas DCs foliculares possam ser suscetíveis à infecção pelo HIV, a maioria das partículas virais é encontrada na superfície dos processos dendríticos. ENVOLVIMENTO DO SNC Bem como o sistema linfoide, o SN também é alvo da infecção pelo HIV. Macrófagos e micróglia são os tipos celulares predominantemente infectados no cérebro. Acredita-se que o HIV seja carregado para o cérebro através de monócitos infectados. O mecanismo da lesão induzido pelo HIV no cérebro, no entanto, permanece obscuro. Uma vez que os neurônios não estão infectados, e a extensão das alterações neuropatológicas geralmente é menor do que o esperado pela gravidade dos sintomas neurológicos, a maioria dos médicos acredita que o déficit neurológico é causado de forma indireta pelos produtos virais e por fatores solúveis produzidos na micróglia infectada, como as citocinas IL-1, TNF e IL-6. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA A doença causada pelo HIV inicia-se como uma infecção aguda que é parcialmente controlada pela resposta imune do hospedeiro e avança para uma infecção progressiva crônica dos tecidos linfoides periféricos. FASE AGUDA O vírus entra pela superficie mucosa e a infecção aguda é caracterizada pela infecção das células T CD4+ de memória nos tecidos linfoides da mucosa e a morte de muitas dessas células -> essa perda local resulta em depleção considerável de linfócitos. ❖ Nessa fase, algumas células infectadas são detectáveis no sangue e em outros tecidos. Seguida a infecção da mucosa, há disseminação do vírus e desenvolvimento da resposta imune do hospedeito -> células dendríticas capturam o vírus e migram para os linfonodos. Uma vez nos tecidos linfoides, DCs transmitem o HIV às células T CD4+. Poucos dias após a 1ª exposição ao HIV, a replicação viral pode ser detectada nos linfonodos -> essa replicação causa viremia, onde há presença de grandes quantidades de partículas de HIV no sangue do paciente. O vírus se dissemina por todo o corpo, infectando células T auxiliares, macrófagos e DCs nos tecidos linfoides periféricos. Dentre 3-6 semanas, 40-90% dos indivíduos desenvolvem a síndrome aguda do HIV, desencadeada pela disseminação inicial do vírus e pela resposta do hospedeiro. ❖ Essa fase está associada a doença autolimitada com sintomas inespecíficos (dor de garganta, febre, mialgia, perda de peso...). Pode ocorrer erupção cutânea, linfadenopatia e diarreia. ❖ O quadro normalmente se resolve espontaneamente em 2-4 semanas. À medida que a infecção se espalha, o indivíduo monta respostas imunes antivirais humorais e mediadas por células -> essas respostas são evidenciadas pela soroconversão (3-7 semanas após exposição) e pelo aparecimento de células T citotóxicas CD8+ específicas para o vírus. ❖ Células T CD8+ específicas são detectadas no sangue no momento em que os títulos virais começam a diminuir, e provavelmente são responsáveis pela contenção inicial da infecção pelo HIV. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA Essas respostas imunes controlam parcialmente a infecção e a produção viral, e esse controle é refletido pela queda na viremia, porém em níveis detectáveis, cerca de 12 semanas após a exposição primária. 50-70% dos indivíduos infectados pelo HIV apresentem uma síndrome clínica aguda cerca de 3-6 semanas depois da infecção primária. Em geral, os sinais e os sintomas persistem por uma a várias semanas e regridem gradativamente à medida que a resposta imune ao HIV se desenvolve e os níveis de viremia plasmática diminuem. FASE CRÔNICA Linfonodos e baço constituem os locais de replicação contínua do HIV e destruição celular. Há pouca ou nenhuma manifestação clínica da infecção -> chamada período de latência clínica. Embora poucas células T do sangue periférico abriguem o vírus, a destruição de células T CD4+ nos tecidos linfoides continua durante esta fase e o número de células T CD4+ circulantes diminui progressivamente. Eventualmente, ao longo de um período de anos, o ciclo regular de infecção viral, morte das células T e nova infecção causa declínio contínuo no número de células T CD4+ nos tecidos linfoides e na circulação. Os pacientes com níveis plasmáticos altos de RNA do HIV evoluem para a doença sintomática mais rapidamente que os indivíduos com baixos níveis de RNA do HIV. Alguns indivíduos, designados como pacientes sem progressão da doença em longo prazo, apresentam pouco ou nenhum declínio das contagens de células T CD4+ por intervalos longos. Em geral, esses indivíduos têm níveis extremamente baixos de RNA viral. AIDS É a fase final. Caracterizada pela falha da defesa do hospedeiro, aumento substancial no número de vírus no plasma e doença clínica grave e potencialmente fatal. Normalmente, o paciente apresenta febre duradoura (>1 mês), fadiga, perda de peso e diarreia. Após um período variável, surgem infecções oportunistas graves, neoplasias secundárias ou doença neurológica clínica (agrupadas e classificadas como doenças indicadoras de AIDS ou doenças que definem a AIDS) o que implica que o paciente desenvolveu AIDS. Os sinais e os sintomas da doença causada pelo HIV podem surgir a qualquer momento durante a evolução da infecção. Em termos gerais, o espectro das enfermidades observadas modifica-se à medida que a contagem das células T CD4+ declina. O diagnóstico de Aids é confirmado em qualquer indivíduo com 6 anos ou mais de idade infectado pelo HIV com contagem de células T CD4+ < 200/μL, bem como em qualquer paciente HIV-positivo que apresente uma das doenças associadas ao HIV, as quais são consideradas indicativas de um distúrbio grave da imunidade celular. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA COMPLICAÇÕES DOENÇAS DO SISTEMA RESPIRATÓRIO Bronquite e rinossinusite agudas são prevalentes em todos os estágios da infecção -> rinossinusite evidencia-se por febre, congestão nasal e cefaleia. Doença pulmonar -> é uma das complicações mais frequentes. A manifestação mais comum é pneumonia. ❖ As 3 das 10 doenças mais comuns que definem a Aids são pneumonias bacterianas recidivantes, tuberculose e pneumonia causada pelo fungo unicelular P. jiroveci. DOENÇAS DO SISTEMA CARDIOVASCULAR Doença cardíaca é um achado relativamente comum nos pacientes infectados pelo HIV (25 a 75% nos estudos de necrópsia). Cardiopatia coronariana é o tipo mais comum de doença cardíaca. Outro tipo de doença cardíaca associada à infecção pelo HIV é a miocardiopatia dilatada com ICC, também conhecida como miocardiopatia associada ao HIV. DOENÇAS DA OROFARINGE E DO SISTEMA GASTROINTESTINAL As lesões orais como candidíase oral, leucoplasia pilosa e úlceras aftosas particularmente comuns nos pacientes não tratados com infecção pelo HIV. As infecções dos ID e IG, resultando em diarreia, dor abdominal e febre em alguns casos, estão entre os distúrbios GI mais significativos dos pacientes infectados pelo HIV. Elas incluem infecções por bactérias, protozoários e vírus. Os pacientes infectados pelo HIV também podem desenvolver uma síndrome diarreica crônica, na qual não se pode detectar outro agente etiológicoalém do HIV. ❖ Essa síndrome é conhecida como enteropatia da Aids ou do HIV. É muito provável que seja uma consequência direta da infecção do trato GI pelo HIV. As lesões retais são comuns nos pacientes infectados pelo HIV, principalmente as úlceras e as erosões perirretais em consequência da reativação do HSV. Essas lesões podem ter aspecto muito atípico, como pele desnuda e sem vesículas. DOENÇAS NEUROLÓGICAS Os problemas identificados podem ser primários ao processo patogênico da infecção viral ou secundários às infecções oportunistas ou às neoplasias. Entre as doenças oportunistas mais frequentes que acometem o SNC estão a toxoplasmose, criptococose, leucoencefalopatia multifocal progressiva e o linfoma primário do SNC. DOENÇAS DO SISTEMA HEMATOPOIÉTICO Os distúrbios do sistema hematopoiético, inclusive linfadenopatia, anemia, leucopenia e/ou trombocitopenia, são frequentes ao longo de toda a evolução da infecção pelo HIV e podem ser o resultado direto do HIV, das manifestações das infecções ou das neoplasias secundárias, ou dos efeitos colaterais do tratamento. Maria Luiza Sena – Med XIV FASA DOENÇAS DERMATOLÓGICAS Ocorrem em >90% dos pacientes infectados pelo HIV. Desde a erupção cutânea maculosa semelhante à roséola observada com a síndrome de soroconversão aguda até o SK terminal extenso. Entre os distúrbios não neoplásicos mais comuns, destacam-se a dermatite seborreica, a foliculite e as infecções oportunistas. DOENÇAS NEOPLÁSICAS As doenças neoplásicas que definem a Aids são sarcoma de Kaposi (neoplasia multicêntrica evidenciada por vários nódulos que se formam na pele, nas mucosas e nas vísceras), linfoma não Hodgkin e carcinoma invasivo do colo uterino. Além disso, também há incidência mais alta de várias neoplasias que não definem Aids, inclusive doença de Hodgkin, mieloma múltiplo, leucemia, melanoma, e cânceres do colo uterino, cérebro, testículo, cavidade oral, pulmões, estômago, fígado, rins e ânus. DIAGNÓSTICO Os métodos diagnósticos usados na infecção pelo HIV incluem métodos laboratoriais para determinar a existência de infecção e métodos clínicos para avaliar a evolução da doença. O método mais acurado e barato de identificar a infecção pelo HIV é a pesquisa de anticorpos anti-HIV. ❖ O procedimento do teste de anticorpos anti-HIV consiste no rastreamento com imunoensaio enzimático, também conhecido como ELISA, seguido por um teste confirmatório, o ensaio Western blot, que é realizado se o imunoensaio enzimático for positivo. ! Tendo em vista as questões psicológicas relacionadas com a infecção pelo HIV e a AIDS, é crucial manter a sensibilidade e a confidencialidade sempre que for implementada a testagem. A reação da cadeia da polimerase (PCR) é uma técnica de detecção do DNA do HIV, detectando o vírus em vez de o anticorpo contra o vírus. ❖ A PCR é útil no diagnóstico de infecção pelo HIV em RN/lactentes de mulheres infectadas porque eles apresentam anticorpos anti-HIV maternos (independentemente de estarem ou não infectados). Como a quantidade de DNA viral na célula infectada pelo HIV é pequena em comparação com a quantidade de DNA humano, a detecção direta do material genético viral é difícil. ❖ A PCR é um método de amplificar o DNA viral em até 1 milhão de vezes (ou mais) para aumentar a probabilidade de detecção As determinações das contagens de células TCD4+ no sangue periférico e dos níveis do RNA viral constituem instrumentos valiosos para avaliar o prognóstico e monitorar a resposta ao tratamento.
Compartilhar