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Escrita e Reflexao penal

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COMO PODE SER AMPLIADO O ROL DE POSSIBILIDADES DE ABORTO TENDO COMO BASE OS DIREITOS FUNDAMENTAIS	
Desde o processo constituinte de 1988, as políticas e inovações de proteção a mulher tem avançado bastante. Diversos instrumentos jurídicos foram criados visando assegurar, proteger e inserir as mulheres socialmente. Ainda há muita coisa a ser feita para diminuir essa diferença histórica, mas as coisas estão começando a andar. Hoje já existe várias leis que falam do assunto. Vejamos alguns exemplos:
Lei Maria da Penha (11.340/2006): Cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher e estabelece medidas de assistência e proteção.
Lei Carolina Dieckmann (12.737/2012): Tornou crime a invasão de aparelhos eletrônicos para obtenção de dados particulares.
Lei do Minuto Seguinte (12.845/2013): Oferece garantias a vítimas de violência sexual, como atendimento imediato pelo SUS, amparo médico, psicológico e social, exames preventivos e informações sobre seus direitos.
Lei Joana Maranhão (12.650/2015): Alterou os prazos quanto a prescrição de crimes de abusos sexuais de crianças e adolescentes. A prescrição passou a valer após a vítima completar 18 anos, e o prazo para denúncia aumentou para 20 anos.
Lei do Feminicídio (13.104/2015): Prevê o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, ou seja, quando crime for praticado contra a mulher por razões da condição de sexo feminino
Ainda assim, muitas questões precisam ser aprofundadas, para diminuir a desigualdade sofrida pela mulher. o aborto por exemplo ainda é criminalizado em nosso país. 
Hoje, a mulher não poder escolher se quer seguir ou não com uma gestação, vem em direção oposta a uma lógica protetiva e inclusiva. A mulher não ter direito de decidir sobre o que fazer com seu corpo, insulta seu direito á liberdade, pois ficar impedida de decidir pela sua vida afeta sua dignidade.
Em regra, no Brasil, o Aborto é crime (art. 124 a 126, CP). Mas há 02 exceções que estão definidas no ART. 128 do CP que diz: 
Art. 128 – Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I – Se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II – Se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
E a posteriori, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde - CNTS propôs uma arguição de Descumprimento de Preceito fundamental – ADPF, solicitando a declaração de inconstitucionalidade da interpretação dos art. 124, 126, 128, I e II, do Código Penal. Buscando solucionar a controvérsia quanto a possibilidade de cessação voluntária da gravidez em caso de fetos com anencefalia. O pedido procurava garantir que os médicos pudessem socorrer as mulheres que desejassem antecipar o parto sem incidir perigo responderem a processos penais. A suprema corte, por maioria julgou procedente o pedido autorizando o procedimento, fundamentando a diminuição do sofrimento físico e psicológico da gestante, pois se tem certeza que o feto não nascerá com vida. 
Como esse rol pode ser ampliado? 
Vale destacar que a ADPF 54, só autoriza o procedimento de interrupção da gestação, especificamente nos casos interrupção da gravidez de feto anencéfalo. E não trata dos fetos portadores de anomalias incompatíveis com a vida extrauterina. Os direitos e garantias fundamentais enumerados na Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso III, preveem que:
 Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...] 
III - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante;
(BRASIL, 1988)
Principio constitucional fundamental
Portanto, baseado no princípio fundamental de igualdade, na gestação e que feto com anomalias parecidas à anencefalia não deveria ser tratados como crime. Uma vez que a decisão na ADPF 54 não considerou a interrupção da gravidez de fetos anencéfalos como crime, em virtude da impossibilidade do nascimento com vida. Por consequência, outros com o mesmo diagnóstico de incapacidade da vida extrauterina, também deveriam receber esse mesmo entendimento.
CONCLUSÃO
A discursão sobre a liberdade da mulher decidir sobre o que fazer com o seu corpo, deve se apoiar nos princípios fundamentais tutelados. Atualmente vários segmentos debatem sobre o assunto. Temos que fugir da linha religiosa, politica sobre o tema e buscar a proteção e liberdade da mulher. Não vejo a criminalização como o melhor caminho. Pois, as mulheres continuam de maneira clandestina, ilegal, com técnicas arriscadas, colocando seu próprio futuro em risco fazendo abortos. Os legisladores poderiam alteram a legislação penal em relação ao aborto e aplicar na prática os direitos fundamentais positivados. 
 Diante da realidade, um procedimento gratuito, com médicos capazes, técnicas adequadas, medicamentos corretos e com risco mínimo de mortes e complicações seria a forma mais lógica de tratarmos do tema. 
REFERÊNCIAS
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Acesso em: 28 de setembro de 2022.
Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1988.
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm
Acesso em: 28 de setembro de 2022
CAMPOS, Luana Domingues. Considerações jurídicas acerca do aborto. 2009. Disponível em: https://www.webartigos.com/autores/luanadcampos. Acesso em: 28 de setembro de 2022
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Acesso em: 28 de setembro de 2022
SCHULZE, Clenio Jair . STF, aborto de fetos anencéfalos, ADPF 54 e legislador positivo. Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 17, n. 3212, 17 abr. 2012. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/21532. Acesso em: 29 set. 2022.
CREMEB, Conselho Regional de Medicina do Estado da Bahia. Parecer CREMEB Nº 03/14. Disponível em: https://www.cremeb.org.br/index.php/normas/parecer-cremeb-032014/ . Acesso em 28 de setembro de 2022
PINTO, Alexandre Guimarães Gavião. Direitos Fundamentais Legítimas Prerrogativas de Liberdade, Igualdade e Dignidade. Revista da EMERJ, v. 12, nº 46, 2009. Disponível em: https://www.emerj.tjrj.jus.br/revistaemerj_online/edicoes/revista46/Revista46_126.pdf. Acesso em 28 de setembro de 2022.
CORDEIRO Andrea. ONU e nós, mulheres. Entenda essa relação. 2019.
Disponível em: https://blogs.canalrural.com.br/agroinspiradoras/2019/08/29/onu-e-nos-mulheres-entenda-essa-relacao/. Acesso em 28 de setembro de 2022.

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