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O surgimento da sétima arte e a criação do teatro pobre

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Gabriel de Moura Alves
DA SÉTIMA ARTE AO TEATRO POBRE:
O surgimento da sétima arte e a criação do teatro pobre
Rio de Janeiro, RJ
2023
A CRIAÇÃO DO CINEMA E O DESENVOLVIMENTO DO “TEATRO POBRE”:
Nascido desde a pré-história, mas só começando a ter uma melhor organização na antiguidade grega durante as celebrações ao Deus Dionísio, e tendo visto a sua era de ouro sob o reinado de Luís XIV no século XVII, o teatro nunca deixou de evoluir de diversas maneiras, mas principalmente através do pensamento dos seus teóricos. Estes, com suas diferentes terminologias, estudos, métodos, fazem do teatro uma arte em perpétua mudança. Isso, portanto, testemunha a multiplicidade de formas de teatro. E é neste ambiente de fartura que se insere o “Teatro Pobre”, que promove mais uma das inúmeras visões do teatro. Então, o que é um “Teatro Pobre”? Quem é seu inventor? Responder a esse problema se resume a elucidar esse conceito, que também é objetivo desse trabalho.
No final do século XIX, mais precisamente em 1895, dois irmãos engenheiros franceses, inventaram um aparelho chamado cinematógrafo. Este instrumento óptico, desenhado pelos Irmãos Lumières (Louis & Augusto), permitia tanto a filmagem como a projeção de filmes, isto é, várias imagens sendo projetadas de maneira sequencial, dando assim ao espectador a ilusão de ver movimentos reais. Mais tarde, esse processo, se torna uma nova forma de representação, tendo assim um sucesso imensurável e introduzindo-se majestosamente na sociedade. Sendo conhecido sob o nome de “Cinema”, a sétima arte. 
Entretanto, a partir do surgimento dessa nova forma de arte, surge um choque na história do teatro. Esta que também é uma arte representacional que exibe espetáculos em que atores, interpretam ou encarnam o papel de personagens para representá-los ao público. Note-se, portanto, que o espectador aparentemente ocupa um lugar de destaque para essas duas artes (cinema e teatro). O que poderia acabar gerando uma espécie de disputa entre ambos. 
Assim, em meados do século XX, a arte teatral, começou a ser eclipsada pelo surgimento da sétima arte. Perante este novo “concorrente”, o teatro, para afirmar o seu valor, a sua função e o seu lugar, procurou uma saída, para não cair nos vícios do cinema, que não cessou de saborear o seu desabrochar numa sociedade ansiosa por modernidade. Desse modo, para o conseguir se distinguir da emergente sétima arte, o teatro recorre à sua essência, mergulhando em si para reencontrar a sua “quintessência”, e trazer-lhe uma nova imagem que lhe permita reocupar o seu verdadeiro lugar.
E é nesta trilha que se identifica o nascimento do “Teatro Pobre”, que se empenha em fazer brilhar o Teatro. De fato, o conceito de "Teatro Pobre" nasceu através de um ensaio intitulado “Vers un Théâtre Poor”, publicado pela primeira vez em inglês em 1968. O inventor desse conceito é Jerzy Grotowski, diretor de teatro polaco e figura central no teatro do século XX, principalmente no teatro experimental. Em síntese, a sua teoria de “Teatro Pobre” poderia ser descrita como sendo: um teatro que valoriza o corpo do ator e sua relação com o espectador e abandona elementos supérfluos como figurinos, cenários, música, etc.
A FINALIDADE DO “TEATRO POBRE”:
Antecipadamente, é muito provável que se considere que o Teatro Pobre de Grotowski, apoiado nas ideias de reforma que propõe, na forma de teatro que defende, visa, em última instância, a sobrevivência ou até mesmo a imortalização do Teatro. De fato, o diretor Grotowski tinha um objetivo bem claro: oferecer uma solução astuta para o problema da sobrevivência do teatro diante do desenvolvimento técnico de sua época. Assim, através do Teatro Pobre, convida a uma outra intelecção. Essa nova forma de entendimento que fará do teatro uma arte insubstituível e diferente das demais. É nesse contexto que ele mesmo se permite aproximar o teatro da pobreza, porque, segundo ele, a montagem dos cenários, a disposição dos figurinos e outros são apenas acessórios que na verdade são prejudiciais para o teatro de forma geral.
Para isso, em entrevista a Jean-Marie Drot em 1969, o polonês Jerzy Grotowski, querendo elucidar melhor seu conceito de “Teatro Pobre”, afirma: " Há muito que andamos à procura disso, qual é o sentido do teatro, porque, quando observamos a situação, do teatro comparado com o cinema e a televisão, consideramos que muitos dos métodos puramente técnicos, que ainda são agora, porque na televisão, no cinema, a gente consegue fazer arranjos muito melhores, mudar o lugar, a ação, o local da ação, transformar o ator pelo figurino, efeitos especiais, neve artificial, vento artificial, tudo, maquiagem. Tudo isso se prepara, no cinema ou na televisão, tudo isso se prepara muito melhor do que no teatro. Então, eliminamos passo a passo os diferentes métodos, como você diz do teatro. Ou seja, eliminamos a música no início, por exemplo. Hoje, eliminamos a música que foi gravada em filme ou fita, sim, ou que foi produzida por uma orquestra ou algo assim, mas que no final das contas foi independente do show, apesar de ilustrar o show. E agora descobrimos que as vozes dos atores podem criar outro tipo de música. […]”.
E neste momento, além disso, para somar a essas reflexões, podemos citar, entre outros, a crítica Emily Lombi (2010) que, em seu artigo “Vers un “théâtre pauvre”. Le théâtre ou l'émergence de l'être chez Jerzy Grotowski” afirma: “Se Grotowski consegue argumentar que o teatro é semelhante à pobreza, é a partir de um questionamento de sua essência e do que é necessário para sua sobrevivência. Assim, ele se pergunta, entre outras coisas, sobre a utilidade da luz, do texto, do figurino, da maquiagem. Para ele, a luz, os figurinos, tudo isso é acessório, artifício. No pobre palco do teatro, apenas o ator e o espectador são essenciais e é graças a essa relação que o teatro encontra fôlego. Pobre certamente, mas em toda a força do elo fundamental porque, sem este, o teatro morre”.
Em suma, podemos admitir que os objetivos do “Teatro Pobre” resultam na revitalização do teatro, centrado sobretudo no trabalho do “ator”. Mas qual é o lugar do “ator” nas ambições do “Teatro Pobre”?
A NOÇÃO DE “ATOR” NO “TEATRO POBRE”:
Com relação ao teatro geral, o ator é, segundo a definição do Senac SP: “Artistas que representam ou apresentam uma ação dramática ou cômica.”. Este ator, do lado pobre do teatro, não é apenas um ator, mas é alguém que chega a ter uma relação simbiótica com o teatro. Em outras palavras, se conseguirmos analisar o fundo do “Teatro Pobre”, logo descobriremos que o ator é para o teatro o que a água representa para o peixe.
Por isso, o teórico Grotowski em seu “Teatro Pobre”, desenvolve outras iniciativas relativas ao ator. Note-se que o ator de “Teatro Pobre” se sente obrigado a abundar em si todos os elementos que este tipo de teatro negligencia (música, figurinos, cenário). Assim, com a voz, o ator do “Teatro Pobre” pode fazer o que o gravador faz, modulando ele mesmo a música através de sua voz.
Além disso, Grotowski também desenvolve a noção de “atores santos”, onde de acordo com Thiago Miguel Sabino, em seu texto, O ator devoto: o trabalho atoral em Jerzy Grotowski, a noção de ator santo, desenvolvida por Jerzy Grotowski no contexto do “Teatro Pobre”, está relacionada a uma prática teatral que não se confunde com uma forma burguesa de entretenimento. Diz respeito a uma arte que tende a se afastar e até se opor a ideia de espetáculo entendido como representação, aproximando-se de uma esfera ritualística.”.
A RELAÇÃO “ATOR-ESPECTADOR”:
Jerzy Grotowski nos mostra que no cerne desse encontro entre espectador e ator está a essência do teatro. Essa relação de encontro que existiria agora entre o espectador e o ator no palco, geralmente permitirá ao teatro desenvolver sua singularidade e, em particular, ao “Teatro Pobre” alcançar seu objetivo. Assim, podemos facilmente provar que entrar em um teatro com a intenção de acompanhar um espetáculo, dificilmente pode ser comparado a sentar-se na sala de estar ou em frentea uma tela para acompanhar as mesmas apresentações. No teatro, há uma troca, implícita ou explícita, entre esses dois (ator e espectador) que não existe no cinema e nem na tevê. Assim, o espectador percebendo o ator (sendo um homem em carne e osso, assim como ele) percebe a si mesmo graças à imagem que o ator lhe reflete, criando assim, um efeito de espelho.
CONCLUSÃO:
Em última análise, podemos dizer que através da realização de um “Teatro Pobre”, o teórico e encenador polaco Jerzy Grotowski leva à arte teatral a sua essência, deixando assim estabelecido a sua divergência perante a sétima arte. O polaco também desenvolveu esse conceito que visava a revitalização do teatro, que na visão de Grotowski estava prestes a se tornar a sombra do cinema. Além disso, destacou uma nova estética teatral baseada no trabalho deslumbrante dos “atores santos”, deste tipo de teatro. Ademais, seria uma gigantesca vantagem para os teatros que passavam por crises, implementarem este tipo de teatro, assim, se beneficiando destas vantagens, tanto em níveis estéticos, quanto na questão financeira.
BIBLIOGRAFIA:
AIDAR, Laura. HISTÓRIA DO TEATRO. Toda Matéria, 2019. Disponível em: <https://www.todamateria.com.br/historia-do-teatro/#:~:text=A%20hist%C3%B3ria%20do%20teatro%20teve,e%20em%20consequ%C3%AAncia%20dessas%20festas.>. Acesso em: 27 de janeiro de 2023.
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GROTOWSKI, Jerzy. Em busca de um teatro pobre.
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LOMBI, E. Vers un “théâtre pauvre”. Le théâtre ou l’émergence de l’être chez Jerzy Grotowski. Proteus. Cahiers des théories de l’art, p. 26-33, 2010.
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OLINTO, Lidia. Teatro Pobre: meta ou caminho?. 2013.
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SABINO, Thiago Miguel Lopes Ribeiro Cunha. O ator devoto: o trabalho atoral em Jerzy Grotowski
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TORRES, Gabriel. Como Funciona a Compressão de Vídeo. Clube do Hardware, 2006. Disponível em: <https://www.clubedohardware.com.br/artigos/video/como-funciona-a-compress%C3%A3o-de-v%C3%ADdeo-r34595/#:~:text=Um%20v%C3%ADdeo%20(como%20arquivos%20do,mais%20realista%20ser%C3%A1%20a%20imagem.>. Acesso em: 27 de janeiro de 2023

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