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1 FACULDADE ÚNICA DE IPATINGA 2 Roberta Andrade e Barros Doutora em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2021). Mestre em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais (2013). Especialista em Psicoterapia de Família e de Casal pela PUC-MG (2010). Graduada em Psicologia pela PUC-MG (2008). Atua como professora universitária desde 2009 em instituições públicas e privas e leciona em diversos cursos de graduação e especialização. PRÁTICA PEDAGÓGICA INTERDISCIPLINAR: PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO E DA APRENDIZAGEM 1ª edição Ipatinga – MG 2021 3 FACULDADE ÚNICA EDITORIAL Diretor Geral: Valdir Henrique Valério Diretor Executivo: William José Ferreira Ger. do Núcleo de Educação a Distância: Cristiane Lelis dos Santos Coord. Pedag. da Equipe Multidisciplinar: Gilvânia Barcelos Dias Teixeira Revisão Gramatical e Ortográfica: Izabel Cristina da Costa Revisão/Diagramação/Estruturação: Bárbara Carla Amorim O. Silva Bruna Luiza Mendes Leite Carla Jordânia G. de Souza Guilherme Prado Salles Rubens Henrique L. de Oliveira Design: Brayan Lazarino Santos Élen Cristina Teixeira Oliveira Maria Luiza Filgueiras Taisser Gustavo de Soares Duarte © 2021, Faculdade Única. Este livro ou parte dele não podem ser reproduzidos por qualquer meio sem Autorização escrita do Editor. Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Melina Lacerda Vaz CRB – 6/2920. NEaD – Núcleo de Educação a Distância FACULDADE ÚNICA Rua Salermo, 299 Anexo 03 – Bairro Bethânia – CEP: 35164-779 – Ipatinga/MG Tel (31) 2109 -2300 – 0800 724 2300 www.faculdadeunica.com.br 4 Menu de Ícones Com o intuito de facilitar o seu estudo e uma melhor compreensão do conteúdo aplicado ao longo do livro didático, você irá encontrar ícones ao ladodos textos.Eles são para chamar a sua atenção para determinado trecho do conteúdo, cada um com uma função específica, mostradas a seguir: São sugestões de links para vídeos, documentos científicos (artigos, monografias, dissertações e teses), sites ou links das Bibliotecas Virtuais (Minha Biblioteca e Biblioteca Pearson) relacionados com o conteúdo abordado. Trata-se dos conceitos, definições ou afirmações importantes nas quais você deve ter um maior grau de atenção! São exercícios de fixação do conteúdo abordado em cada unidade do livro. São para o esclarecimento do significado de determinados termos/palavras mostradas ao longo do livro. Este espaço é destinado para a reflexão sobre questões citadas em cada unidade, associando-o a suas ações, seja no ambiente profissional ou em seu cotidiano. 5 SUMÁRIO A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO: INTERAÇÃO ENTRE A PSICOLOGIA E A EDUCAÇÃO............................................................................................... 7 1.1 BREVE HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO DA PSICOLOGIA .............................7 1.2 O QUE É A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO ........................................................ 10 1.3 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL .................................................... 12 FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................... 18 INTRODUÇÃO ÀS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO 24 2.1 DESENVOLVIMENTO HUMANO: INTRODUÇÃO ................................................ 24 FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................... 36 CORRENTES EPISTEMOLÓGICAS: INATISMO, AMBIENTALISMO E A PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL ........................................................ 41 3.1 INATISMO ........................................................................................................... 41 3.2 AMBIENTALISMO................................................................................................ 42 3.3 ABORDAGEM COMPORTAMENTAL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO: DE WATSON A SKINNER ...................... 44 FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................... 51 CORRENTES EPISTEMOLÓGICAS: INTERACIONISMO .............. 55 4.1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 55 4.2 JEAN PIAGET ...................................................................................................... 55 4.3 LEV VIGOTSKI ..................................................................................................... 63 4.4 HENRI WALLON................................................................................................... 68 4.5 COMPARAÇÃO ENTRE OS AUTORES ................................................................ 74 FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................... 77 TEORIAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: APLICABILIDADE E RESULTADOS ............................................................................................ 82 5.1 INTELIGÊNCIA: INTRODUÇÃO ........................................................................... 82 5.2 INTELIGÊNCIA OU INTELIGÊNCIAS? .................................................................. 83 FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................... 88 TEMAS CONTEMPORÂNEOS EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO............ 92 6.1 A RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA........................................................................ 92 6.2 BULLYING............................................................................................................ 97 6.3 INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA NA ESCOLA.......................................................... 99 6.4 ABSENTEÍSMO ESTUDANTIL .............................................................................. 101 FIXANDO O CONTEÚDO.................................................................................. 104 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO ............................................. 109 REFERÊNCIAS......................................................................................... 110 UNIDADE 01 UNIDADE 02 UNIDADE 03 UNIDADE 04 UNIDADE 05 UNIDADE 06 6 CONFIRA NO LIVRO A primeira unidade contextualiza a Psicologia e, mais especificamente, a Psicologia da Educação, para tanto, apresenta duas grandes psicólogas da Educação brasileira: Helena Antipoff e Maria Helena Souza Patto. Esse segundo capítulo traz os pontos mais relevantes sobre o desenvolvimento humano e o seu estudo, quais as suas dimensões, os seus domínios, qual a sua relação com a educação. A Unidade III apresenta o inatismo, ambientalismo e a Psicologia Comportamental, quais as suas concepções sobre o desenvolvimento e suas ideias para a educação. No quarto capítulo serão expostas as teorias de Piaget, Vigotski e Wallon, três dos mais reconhecidos pensadores sobre o desenvolvimento e o aprendizado humano. Essa unidade abordará a teoria das inteligências múltiplas: o que é inteligência? É possível falar em uma inteligência? Além disso, trará contribuições dessa teoria para a educação. Nesse último capítulo serão propostas discussões relevantes para o cotidiano escolar: a relação família e escola, o bullying, a indisciplina e violência na escola e o absenteísmo estudantil. 7 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO: INTERAÇÃO ENTRE A PSICOLOGIA E A EDUCAÇÃO 1.1 BREVE HISTÓRICO E CONTEXTUALIZAÇÃO DA PSICOLOGIA Essa unidade tratará sobre a contextualização e breve histórico da Psicologia bem como sua relação com a Educação. Para compreender a interação entre essas duas ciências, faz se necessário, inicialmente, entender o que é a Psicologia. No dicionário online Aulete, “psique” é explicada como alma, mente, espírito. Já “logia” é o discurso, tratado. Assim sendo, a Psicologia pode ser compreendida como o estudo da mente. Atualmente, com a preocupação em manter o seu compromisso com a cientificidade, a Psicologia é entendida como o estudo da subjetividade. Mas, afinal, o que é a subjetividade? A definição do conceito da subjetividade é bastante complexa. Para Bock,Furtado e Teixeira (2008) podemos compreendê-la como o modo de ser, de sentir e de se comportar de cada um. É importante entender que cada pessoa tem uma subjetividade que é determinada pelo contexto social em que se está inserida, da mesma forma que o sujeito vai também determinar esse contexto: é uma via de mão dupla, o meio determina o sujeito e é por ele determinado. Ao longo da vida, de acordo com as experiências que tem, com as pessoas com as quais convive, o indivíduo pode mudar. De acordo com Bock, Furtado e Teixeira (2008), antes de ser conhecida como uma ciência e uma profissão, os assuntos hoje discutidos na Psicologia faziam parte do cotidiano das pessoas, do senso comum, eram as ideias psicológicas. A partir do século XIX, surge a Psicologia científica. Nessa época, o padrão de cientificidade reconhecido era o das ciências exatas, por isso, em um primeiro momento, a Psicologia tentou se adequar a esse modelo: empenhou-se para mensurar os comportamentos e as características dos seres humanos, além disso, preocupou-se em se manter neutra e distante do seu objeto de estudo, a subjetividade humana. (BOCK, FURTADO E TEIXEIRA, 2008). Ainda segundo os referidos autores, com o passar do tempo, a Psicologia UNIDADE 01 8 compreendeu que não poderia ser igualada às ciências exatas, pois seu objeto de estudo não é como uma máquina. Diante disso, aceitou as suas especificidades e buscou criar os seus padrões de cientificidade, juntamente às outras ciências humanas, como a Antropologia e a Sociologia, por exemplo. No Brasil, antes de ter um curso próprio, a Psicologia foi ensinada como disciplina em graduações de Direito, Medicina e Educação, no século XIX (CRPSP, 2011). Como pode ser constatado, desde o início da sua história, a Psicologia traz importantes contribuições para diferentes áreas do conhecimento, conforme será discutido, especificamente sobre a Educação, ao longo deste livro. A Psicologia é uma ciência e uma profissão, nesse sentido, outras profissões, como os docentes, podem utilizar os conhecimentos psicológicos. Além disso, as profissionais de Psicologia podem atuar em variadas áreas, utilizando diferentes teorias. O campo ou área de atuação pode ser compreendido como o “lugar” em que a psicóloga pode atuar. Para as profissionais da educação, é comum que trabalhem com psicólogas escolares/educacionais, clínicas, especialistas em psicopedagogia, em psicomotricidade ou avaliação psicológica. Por exemplo, uma professora pode ser convidada pela psicóloga para conceder entrevista sobre um determinado estudante ou a psicóloga pode auxiliar no acompanhamento escolar quando um aluno estiver com alguma dificuldade de aprendizagem ou precisar passar por uma avaliação psicológica ou ainda necessitar realizar algum tipo de acompanhamento psicológico. Atualmente, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) reconhece 13 campos de atuação para as profissionais dessa área: Psicologia Escolar/Educacional; Psicologia Organizacional e do Trabalho; Psicologia de Trânsito; Psicologia Jurídica; Psicologia do Esporte; Psicologia Clínica; Psicologia Hospitalar; Psicopedagogia; Psicomotricidade; Psicologia Social; Neuropsicologia; Psicologia em Saúde e Avaliação Psicológica. Para atuar em cada uma dessas áreas, a psicóloga deve escolher uma abordagem ou teoria, que é como a lente usada para compreender o mundo, os sujeitos e suas interações. Existem diversas abordagens, as mais conhecidas, que são denominadas de “as grandes forças da Psicologia”, são: a Psicanálise, a Psicologia Comportamental, o Humanismo e a Gestalt, que serão brevemente apresentadas a 9 seguir. A Psicanálise, foi criada por Sigmund Freud (1856-1939). Essa abordagem trouxe relevantes contribuições sobre a estruturação do aparelho psíquico e tem como principal descoberta o sistema inconsciente. Além disso, colabora para a prática profissional de psicólogas e profissionais que atuam na saúde mental. De acordo com Ferreira (2001, p. 110), ao realizar uma pesquisa bibliográfica sobre a relação entre Educação e Psicanálise, foi possível constatar que “o ponto de maior controvérsia entre os autores que se ocupam do tema reside no debate sobre o possível e o impossível de ter na Psicanálise uma ciência aplicável à educação [...]”. A Psicologia Comportamental, que será mais bem discutida na unidade 3 deste livro, foi criada por John Watson (1878-1958) e depois desenvolvida por Burrhus Frederic Skinner (1904-1990). Trouxe grandes contribuições para a Psicologia organizacional e clínica, além dos campos da Propaganda e Educação, especialmente no que se refere à aprendizagem (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2008). A Psicologia Humanista foi desenvolvida por Carl Rogers (1902-1987), dentre outros pensadores. Para Rogers, deve-se ter uma consideração positiva das pessoas, para que cada uma possa de fato ser quem se é, sem que os obstáculos sociais, por exemplo, o temor de mostrar-se, impeça a aceitação da sua própria experiência e a autorrealização. Algumas contribuições de Rogers para a educação são a necessidade de a professora estimular o estudante a sair da posição de heteronomia para alcançar a autonomia, bem como a importância da aceitação do outro- tanto o educador como o aluno- e do estímulo à criatividade no processo educativo (ALMEIDA, 2012). E, por fim, a Psicologia da Gestalt, que foi criada por três pensadores alemães: Max Whertheimer (1880-1943), Kurt Koffka (1886-1941) e Wolfgang Köhler (1887-1967). Essa abordagem é conhecida como Psicologia da Forma e tem como um dos principais focos o estudo da percepção, ou seja, um determinado estímulo, fará com que cada pessoa tenha uma percepção e, em seguida, ela dará uma resposta. 10 Nesse sentido, quanto mais claro for o estímulo, mais fácil ele será compreendido. No caso da educação escolar, por exemplo, isso significa que o professor deve expor o conteúdo de forma mais organizada e compreensível possível para que o estudante tenha uma boa percepção e dê a resposta adequada. Depois de realizada essa contextualização da Psicologia de uma forma geral, no item a seguir serão discutidas questões específicas da Psicologia da Educação, de que trata esse campo do conhecimento e sua construção no Brasil. 1.2 O QUE É A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Inicialmente, faz-se importante compreender a complexidade do termo educação. É muito comum que as pessoas pensem que a educação é especificamente o processo que ocorre em uma escola, mas a educação não está restrita ao ambiente escolar, ela pode ocorrer no contexto familiar, de uma igreja, de uma Organização Não Governamental, por exemplo. Pelo dicionário online Aulete, a educação é explicada como “Processo formal de transmissão de conhecimentos em escolas, cursos, universidades”, como “Formação e desenvolvimento da capacidade física, moral e intelectual do ser humano.”. O presente livro irá abordar especificamente sobre a educação escolar, por se tratar de um material de formação para futuros professores. De acordo com Larocca (2007, p. 59) para além de uma preparação ou treinamento, a educação deve ser compreendida como uma “atividade intencional, histórica, social e culturalmente situada”. Ainda para essa autora, “a educação não se restringe a transmissão dos saberes formalizados, científicos ou técnicos, mas exige algo maior, pois requer a transformação substantiva” das pessoas que dela fazem parte (LAROCCA, 2007, p. 59). Em relação à Psicologia da Educação, de acordo com Coll (2004), essa deve ser compreendida como uma “disciplina ponte” que tem como objeto de estudo compreender os processos de mudanças oriundos do desenvolvimento, da 11 aprendizagem e da socialização que são decorrentes da educação. Esse autor ressalta que as atividades educacionais não estão restritas ao ambiente escolar e ocorrem entre pessoas de diferentes características concretas, por exemplo, a idade, pode-se considerar também o pertencimento social, o gênero, a raça comoaspectos relevantes de serem considerados nos processos educacionais. Ou seja, o aprender de um menino de dez anos, branco, pertencente à camada média, que estuda em uma escola particular será diferente de uma mulher adulta, negra, transexual, que foi expulsa da escola pública que frequentava quando era adolescente, por exemplo. É imprescindível considerar que não se trata de pensar que a Psicologia esteja a serviço da Educação, ou o contrário. É importante compreender que Psicologia e Educação (Pedagogia, Licenciaturas, Didática) se complementam, trazem questionamentos, reflexões e contribuições para entender um fenômeno tão complexo como a educação. Assim sendo, a Psicologia da Educação é um campo de conhecimento multidisciplinar, que integra diferentes disciplinas, sem hierarquias entre esses campos de saber (COLL, 2004). Apesar de abranger diversas abordagens, ainda segundo Coll (2004) são orientações da Psicologia da Educação de uma forma geral: Relações entre desenvolvimento, aprendizagem, cultura e educação: conceber que o desenvolvimento e a aprendizagem ocorrem inseridos em uma dada cultura, principalmente por meio da educação, seja no âmbito familiar ou escolar, dentre outros. Enfoques e modelos contextuais e culturais dos processos psicológicos: considerar como o contexto e a cultura, por exemplo, frequentar uma escola pública de periferia de uma grande cidade do sudeste brasileiro, determina a forma como a aprendizagem vai ocorrer, além dos processos de atenção, comportamentos conscientes. Unidade do ensino e aprendizagem: compreender a indissociabilidade dos processos de ensino e aprendizagem, a forma como o professor ensina, determina a maneira como o estudante vai aprender. Interesse por diferentes tipos de práticas educacionais: abarcar a educação como um processo complexo, que ocorre em diferentes contextos, formais, por exemplo, a escola, e informais, como as relações familiares. E, mesmo no ambiente escolar, considerar as diferentes práticas possíveis de serem 12 utilizadas, como as metodologias ativas, a gamificação, dentre outras. Dentre as várias contribuições da Psicologia para a Educação, podem-se destacar os estudos e as reflexões acerca do: Desenvolvimento humano: conhecer como as pessoas se desenvolvem, quais capacidades são adquiridas em quais etapas da vida. Processo de ensino-aprendizagem: compreender como as pessoas aprendem, por exemplo, quais as diferenças na forma de aprendizagem de crianças de sete anos e de uma pessoa idosa? Como ensinar uma criança e um adulto a ler? Diferentes contextos educacionais: as formas como os conteúdos são apresentados em uma escola formal é diferente das maneiras como as aprendizagens são abordadas no ambiente familiar. Quando, durante o lanche da família, uma mãe solicita ao filho que divida o bolo em partes iguais para os irmãos, é diferente de quando a professora, na prova, coloca uma questão de “quanto é 1 dividido por 4?”. Importância da relação entre professor e estudante para o processo de ensino e aprendizagem: Pesquisas, como a de Veras e Ferreira (2010), apontam que a relação estabelecida entre educadoras e alunos, mesmo no ensino superior, é determinante para “uma experiência de aprendizagem favorável” (p. 219). Especificidades da profissão docente: como a formação, o adoecimento, a superação de desafios e a criação de diferentes estratégias para a aprendizagem. Um exemplo disso são as pesquisas que buscam conhecer como os professores se adaptaram, adaptaram os conteúdos, os métodos e as aulas durante o ensino remoto decorrente da COVID-19. No próximo item, último dessa unidade, serão discutidas questões pertinentes à Psicologia da Educação que vem sendo desenvolvida no Brasil. 1.3 A PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL A Psicologia da Educação que vem sendo construída no Brasil tem trazido contribuições importantes acerca do contexto escolar. Por exemplo, em 2015, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou uma pesquisa sobre preconceito e 13 violência na escola, em que apresenta o resultado de um levantamento documental, pesquisa bibliográfica e de campo, sendo essa última realizada por meio de oficinas que ocorreram nas cinco regiões do país (CFP, 2015). Ao estudar sobre a escola, é imprescindível considerar o seu cotidiano, repleto de desafios - como preconceito e violência- e de desigualdades- não apenas entre instituições públicas e privadas, mas, também, se forem comparadas as escolas particulares entre si e as públicas entre si. Essas desigualdades de acesso e de qualidade da educação vêm sendo constantemente denunciadas pela Psicologia, tanto pelo CFP como pela Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional (ABRAPPE). É muito importante que o conhecimento das teorias da Psicologia da Educação seja aliado ao conhecimento do contexto em que essa educação ocorre, bem como dos estudantes que dela fazem parte. Não é possível promover o processo de ensino e aprendizagem descontextualizado, há de se considerar as condições da escola e das pessoas (equipe pedagógica, pessoal de apoio, estudantes), principalmente, as condições materiais. Foram escolhidas duas personalidades que trouxeram muitas contribuições para a Psicologia da Educação brasileira, duas mulheres, uma pioneira e outra contemporânea desse campo do saber: Helena Antipoff e Maria Helena Souza Patto. Helena Antipoff 14 Figura 1: Fotografia de Antipoff Fonte: Fundação Helena Antipoff (2020) Nasceu em 1892, na Rússia e formou-se psicóloga, na Suíça. Em 1929, foi convidada pelo governo de Minas Gerais para participar da Reforma Educacional Francisco Campos Mário Casassanta. (CAMPOS, 2000). Suas pesquisas e práticas objetivaram conhecer e atuar sobre o desenvolvimento das crianças, especialmente aquelas com alguma deficiência, bem como contribuir para a formação de professores mais capacitados. Antipoff demostrava interesse e preocupação com a democratização da educação e com a exclusão social. Já na década de 1930, denunciou a situação das crianças que permaneciam nas ruas da capital mineira, comparando esse contexto à realidade vivenciada pelas crianças europeias, durante a Primeira Grande Guerra Mundial. (CAMPOS, 2003). Entre seus vários projetos, destacam-se dois: a Sociedade Pestalozzi e a Fazenda do Rosário. Antipoff foi uma das organizadoras da Sociedade Pestalozzi, instituída em 1932, que buscou promover a assistência às crianças excepcionais, além de formar professores que as educavam. (CAMPOS, 2003). Ainda de acordo com Campos (2003), a Fazenda do Rosário, instalada em 1940, em Ibirité/Minas Gerais, foi uma extensão da Sociedade Pestalozzi e teve como objetivo a (re) educação de crianças abandonadas ou “excepcionais”. Na década seguinte, participou do movimento de criação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE). Antipoff faleceu, em 1974, no Brasil. 15 Como contribuições de Antipoff que influenciam a educação brasileira até os dias atuais, sobressaem-se: A inteligência não é resultado apenas da predisposição genética e da idade da criança, mas também é influenciada por fatores do ambiente, ou seja, ela propôs uma “análise psicossocial da cognição.” (CAMPOS, 2010, p. 26). Tanto a inteligência quanto a personalidade do aluno são produzidas em sua relação com o meio em que está inserido, social e cultural. (CAMPOS, 2010). A necessidade de que os educadores conheçam os estudantes. (CAMPOS, 2010). A relevância concedida à formação continuada dos professores. A importância de que as pesquisas sobre os processos psicológicos que ocorrem durante o ensino-aprendizagem sejam testadas no cotidiano escolar. (CAMPOS, 2010). A defesa de que a educação pode auxiliar no processo de adaptação das crianças consideradas “excepcionais”, principalmente as escolas que tenham contato com a natureza. Outro ponto é a necessidade de respeito, carinho e garantia da dignidade desses estudantes.(ANTIPOFF, 1944) E, para finalizar esse tópico sobre Helena Antipoff, segue o trecho de um de seus textos: A arte de ensinar, ou melhor, a arte de educar é a mais delicada no mundo. Não basta, como em outras artes, vestir de forma a ideia, escolhendo à vontade a matéria-prima. Aqui o artista não tem escolha: recebe quantos meninos nasceram no município. A grande arte consistirá em adaptar a sua ideia ao feitio particular do educando, e no universo psicológico da criança fazer ressoar o seu próprio universo. Explícita ou implicitamente, deve haver entre os dois, entendimentos. Senão, na melhor das hipóteses, os feitos educativos serão transitórios, não passando de um verniz muito superficial; na pior, criará rebeldia e revoltas. 16 Maria Helena Souza Patto Figura 2: Fotografia Patto Fonte: Disponível em https://bit.ly/39oJhjW. Acesso em: 20 jun. 2021. Autora de uma das principais obras brasileira de Psicologia Educacional “A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia”, publicado pela primeira vez em 1990, Patto, ao realizar uma pesquisa em um escola municipal de São Paulo, mostra as dificuldades da escolarização das camadas populares: o preconceito social, racial e linguístico, as acusações sofridas pelas famílias que eram consideradas culpadas pelo insucesso dos filhos na escola e os obstáculos enfrentados pelas professoras. Ao longo do livro, Patto apresenta quatro histórias de (re) provação escolar, que foram acompanhadas durante a realização de sua pesquisa. A primeira delas, a de Ângela, filha mais velha de migrantes pernambucanos, desde nova vivenciou a sobrecarga do trabalho doméstico. Repetente no 1º ano do ensino fundamental, ela foi apresentada pela equipe pedagógica como imatura, com deficiência mental e paranoica, já seus pais, foram retratados como desinteressados no desenvolvimento 17 e na escolarização da filha. De acordo com a coordenação escolar, ela, assim como todos os outros “repetentes” não possuíam “condições pessoais de aprendizagem de um mínimo que justifique sua promoção.” (PATTO, 2008, p. 358). Para a mãe de Ângela, a filha “não tem amor na escola” (PATTO, 2008, p. 360), ela relatou que a professora disse que “não entra nada na cabeça dela” (PATTO, 2008, p.360). Ao analisar a relação da criança com a escola, Patto afirma: “Ângela defrontou-se com o preconceito, a discriminação, o estigma e um ensino de má qualidade, o que inegavelmente a leva a evitar a escola e a aprendizagem escolar e a dar a impressão de que ‘não tem amor na escola.” (PATTO, 2008, p. 362) Com seu livro, Patto demonstrou uma situação que ainda hoje é vivenciada: o fracasso escolar é explicado por problemas genéticos, algo que a criança já nasce ou por problemas econômicos e familiares, a família não tem boas condições sociais e/ou não valoriza a escola. Era a vivência prática daquilo que foi postulado pela teoria da carência cultural: as dificuldades escolares dos estudantes das camadas populares são reflexos da sua privação cultural, ou seja, o meio em que essas crianças vivem não é adequado nem estimulante o suficiente para que elas aprendam. Em todas essas justificativas descritas anteriormente, a escola se isenta da sua responsabilidade no processo de ensino-aprendizagem, o estudante não aprende por motivos externos à instituição escolar e, com isso, ela não pode melhorar a educação que oferece. 18 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (ENADE/Adaptada) A Psicologia se reconhece e é socialmente identificada como um campo multifacetado e dividido em várias áreas de atuação. Tais áreas configuram temáticas, problemas, conhecimentos, tecnologias, modos de pensar e de atuar sobre as demandas oriundas de diferentes segmentos e contextos sociais. Bastos, A. V. B. et al. As mudanças no exercício profissional da psicologia no Brasil: o que se alterou nas últimas décadas e o que vislumbramos a partir de agora? In: Bastos, A. V. B., & Gondim, S. M. G. (Orgs.) (2010). O trabalho do psicólogo no Brasil: um exame à luz das categorias da psicologia organizacional e do trabalho. Porto Alegre: Artmed.) Considerando esse contexto, avalie as afirmações a seguir e a relação proposta entre elas. I. O estudo da Psicologia é exclusivo para as psicólogas. PORQUE II. Apenas as psicólogas conseguem compreender a complexidade dos fenômenos psicológicos. A respeito dessas afirmativas, assinale a opção correta. a) As afirmações I e II são verdadeiras, e a II é uma justificativa da I. b) As proposições I e II são verdadeiras, mas a II não é uma justificativa da I. c) A afirmação I é verdadeira, e a II é uma proposição falsa. d) A proposição I falsa, e a II é verdadeira. e) As afirmações I e II são falsas. 2. (ENADE/Adaptada) As teorias em Psicologia constituíram-se de diversas raízes filosóficas e epistemológicas, que deram origem a sistemas complexos de conceitos, histórica e culturalmente determinados. Tais sistemas conceituais, por sua vez, possibilitaram a emergência de abordagens, escolas, teorias e práticas diferenciadas de Psicologia. Essa situação configura um campo de dispersão da Psicologia, que se formou com a utilização de diversas perspectivas epistemológicas, metodológicas e conceituais. A manifestação desse processo ocorreu por meio da produção de diferentes teorias e sistemas que marcaram a 19 primeira metade do século XX. BARRETO, C. L. B. T.; MORATO, H. T. R A dispersão do pensamento psicológico. Boletim de Psicologia, São Paulo, v. 58, n. 129, dez. 2008. Considerando os fundamentos epistemológicos da Psicologia, é correto apenas o que se afirma em a) Existem poucas abordagens na Psicologia. b) Existe uma abordagem psicológica: a Psicanálise. c) Existem três abordagens na Psicologia, reconhecidas como “As três grandes forças”. d) Apesar de serem reconhecidas três principais abordagens, existem diversas outras. e) A abordagem psicológica mais famosa é a sistêmica. 3. Em 06 de agosto de 2020, foi publicado o seguinte comunicado: Celebramos hoje os 91 anos da chegada do/a educador/a e psicólogo/a russo/a _____________________ à Minas Gerais com o objetivo de ajudar na reforma do ensino e deixou um legado importantíssimo para educação brasileira. O relato acima refere-se a: a) Helena Antipoff. b) Maria Helena Souza Patto. c) Francisco Campos Mário Casassanta. d) Lev Vigotski. e) Alexei Leontiev. 4. (COMPERVE - 2018 – UFRN/ Adaptada) Desde o surgimento da psicologia escolar e educacional, o fenômeno denominado de fracasso escolar constituiu-se como objeto de estudo privilegiado dessa área. Nesse contexto, Maria Helena Souza Patto, pesquisadora com estudos consagrados na área, analisa que para compreender a gênese dessa problemática, é necessário considerar: a) A precariedade das condições sociais de crianças e adolescentes que, devido às privações sofridas, são incapazes de aprender. 20 b) A influência da teoria da carência cultural, que marcou o início das práticas psicológicas na educação no Brasil. c) O contexto familiar que desvaloriza os saberes escolares e desacredita na educação formal como meio de ascensão social. d) O aspecto hereditário, uma vez que todos os transtornos de aprendizagem têm causas genéticas e congênitas. e) O rendimento escolar é resultado direto das capacidades psicológicas naturais de cada um. 5. Analise a tirinha abaixo: O quadrinho acima trata sobre a discussão se já nascemos com o nosso destino traçado. Nesse sentido, é importante considerar a subjetividade, que é um conceito de estrema relevância para a Psicologia, e pode ser melhor compreendida como: a) A essência com a qual o sujeito nasce. b) Aquilo que a pessoa é. c) Algo totalmente individual. d) Algo exclusivamente interno, aquilo que ocorre dentro do sujeito. e) A forma como o sujeito é, de acordo com suas determinações sociais e materiais. 6. Por suas contribuições para a educação e sua sensibilidade, Carlos Drummond de Andrade escreveu um poema para homenagear Helena Antipoff, intitulado “Acasa de Helena”. Essa psicóloga foi uma das responsáveis pela criação: a) Fazenda do Rosário, Sociedade Pestallozi, Associação de Pais e Amigos dos 21 Excepcionais (APAE). b) Fazenda do Rosário, apenas. c) Sociedade Pestallozi e Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), apenas. d) Fazenda do Rosário e Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), apenas. e) Sociedade Pestallozi, apenas. 7. De acordo com Coll (2004, p. 19) “A existência da psicologia da educação como uma área de conhecimento e de saberes teóricos e práticos claramente identificável, relacionado com outros ramos e outras especialidades da psicologia e das ciências da educação, mas ao mesmo tempo distintos delas, tem sua origem na crença racional e na convicção profunda de que a educação e o ensino podem melhorar sensivelmente com a utilização adequada de conhecimentos psicológicos.” É possível afirmar que uma das principais tendências atuais na concepção da Psicologia da educação é: a) Compreender a Psicologia como a disciplina “mestra” nos estudos da educação. b) Conceber a Psicologia da educação como uma disciplina ponte. c) Considerar a pedagogia como a disciplina “rainha” nas pesquisas educacionais. d) Defender que a Psicologia deve compreender a supremacia da didática no campo educacional. e) Defender que os conhecimentos sobre os fenômenos psicológicos são restritos às psicólogas, mesmo quando ocorridos no contexto educacional. 8. Leia o trecho abaixo, retirado da música “Estudo Errado”, escrita por Gabriel, O Pensador: “Encarem as crianças com mais seriedade Pois na escola é onde formamos nossa personalidade Vocês tratam a educação como um negócio onde a ganância a exploração e a indiferença são sócios Quem devia lucrar só é prejudicado Assim cês vão criar uma geração de revoltados 22 Tá tudo errado e eu já tou de saco cheio Agora me dá minha bola e deixa eu ir embora pro recreio...” O autor relata uma situação ocorrida no ambiente escolar. Diante das reflexões realizadas até o momento, a educação pode ser compreendida como: a) Processo de aprendizagem que ocorre exclusivamente na escola. b) Formação intelectual das crianças. c) Preparação moral de crianças e adolescentes. d) Construção do conhecimento que pode ocorrer em diversos ambientes. e) Criação que os pais dão aos filhos, exclusivamente. 23 24 INTRODUÇÃO ÀS DIFERENTES CONCEPÇÕES DE DESENVOLVIMENTO 2.1 DESENVOLVIMENTO HUMANO: INTRODUÇÃO Desenvolvimento humano pode ser progredir, regredir ou manter determinada característica/habilidade física, cognitiva ou psicossocial (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 2009). Assim sendo, nesta unidade serão trabalhadas questões acerca das mudanças e permanências das pessoas ao longo dos anos. No dicionário Aurélio, desenvolvimento está descrito como: 1) Fazer crescer, prosperar. 2) Gerar, produzir. 3) Crescer, aumentar, progredir. É importante atentar-se ao fato de que, por esse significado, o desenvolvimento é entendido sempre como crescimento, todavia, como será discutido a seguir, essa concepção não pode ser utilizada nas pesquisas sobre o desenvolvimento humano. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), o estudo do desenvolvimento humano é o conhecimento científico de como as pessoas se transformam, além daqueles atributos que continuam moderavelmente estáveis durante a vida do indivíduo. As pesquisas mais atuais em desenvolvimento humano concordam em três pontos que são (quase) consenso: o desenvolvimento ocorre ao longo de todo o ciclo vital, desenvolver significa mudar e também manter e, por último, o desenvolvimento é resultado da interação entre os fatores ambientais e genéticos. Como esses pontos são muito importantes, elas serão discutidas detalhadamente. UNIDADE 02 25 1) Desenvolvimento ao longo do ciclo vital Isso significa afirmar que as pessoas se desenvolvem até o último dia de sua vida, mesmo se falecerem aos 100 anos ou mais. Durante o início dos estudos do desenvolvimento humano, acreditava-se que os sujeitos só se desenvolviam no começo da vida, principalmente durante a infância. Para se ter uma noção, segundo Papalia, Olds e Feldman (2009), a adolescência passou a ser estudada pela Psicologia no início do século XIX e a velhice apenas nas décadas de 1920/30. O estudo de cada uma das etapas do desenvolvimento trouxe efeitos para o cotidiano e a educação, em específico. Saber como ocorre o desenvolvimento cognitivo auxilia no planejamento das aulas, que deve ser diferente se os estudantes estão no ensino fundamental, médio ou na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Conceber o desenvolvimento como um processo que ocorre durante toda a vida do sujeito é considerar que: O passado influencia o presente e o futuro, ou seja, as experiências que a pessoa vivenciou vão intervir no seu futuro. Por exemplo, estudos de Alves et al (2005) apontam a relação entre a inatividade física na adolescência e o sedentarismo adulto. Isso não significa que necessariamente um adulto que não exerceu atividades físicas durante a adolescência será sedentário, mas há uma probabilidade de que ele o seja. O futuro também pode influenciar o presente. Se um adulto objetiva ser aprovado em um concurso público, por exemplo, ele pode criar estratégias para alcançar o seu objetivo, como estudar por quatro horas diariamente, reduzir o tempo que gasta nas redes sociais para se dedicar à preparação para a prova. É importante destacar que as teorias psicológicas têm ideias diferentes de quanto/como o passado, o presente e o futuro interferem um no outro, mas, de uma forma geral, acreditam nessa mútua influência. Por exemplo, a Psicanálise tem o foco nos eventos passados, especialmente a primeira infância. Já a abordagem de Vigotski, que será estudada na unidade 4 dessa obra, concede grande relevância ao que estar por vir, à potencialidade do aprendizado. 2) Desenvolver: transformar e manter 26 Esse é um ponto polêmico dentro das pesquisas sobre o desenvolvimento humano, algumas abordagens defendem que há certa estabilidade ao longo da vida, como algumas pesquisas que utilizam o Modelo dos traços, já outras partem do pressuposto de que desenvolver significa basicamente modificar (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009). Alguns aspectos que se mantém razoavelmente estáveis ao longo do desenvolvimento de uma pessoa: tipo sanguíneo, pigmentação dos olhos. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), existem estudos que demonstram que alguns traços da personalidade e do comportamento humano têm certa constância. Já outras características, como a estatura, o peso e a capacidade cognitiva alteram-se ao longo do ciclo vital. Pesquisas recentes apontam que até mesmo o Ácido Desoxirribonucleico (DNA) pode-se alterar durante a vida da pessoa, diferentemente do que se achava há até pouco tempo (MARASCIULO, 2020). Dessa forma, constata-se que ao longo da vida, algumas características serão mantidas, outras irão se transformar. Apesar de não haver um consenso de quais são os aspectos estáveis e quais são os mais modificáveis. 3) Natureza e/ou contexto social Dentre os aspectos aqui abordados, provavelmente esse é o mais controverso: quanto do desenvolvimento humano é determinado pela natureza e quanto é resultado da influência do contexto social do qual o sujeito faz parte? As abordagens iniciais do estudo do desenvolvimento humano, como o inatismo, que será estudado na próxima unidade, defendiam que esse é resultado exclusivo da hereditariedade: as pessoas se desenvolveriam de acordo com os seus aspectos biológicos, independentemente do meio em que estão inseridas. Assim sendo, desde o nascimento, já existiria a essência, a semente de como esse sujeito iria se desenvolver (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009). Um acontecimento importante para compreender a relação entre a discussão sobre a afirmação de que as pessoas são resultado unicamente dos aspectos biológicos foi o aparecimento do menino Victor, em 1800, no sul da França.27 Figura 3: Ilustração Victor de Aveyron Fonte: Disponível em https://bit.ly/2XMJAmq. Acesso em: 15 jun. 2021. De acordo com Pereira e Galuch (2012) essa é uma história verídica, que serviu como inspiração para o filme “Garoto selvagem”, na qual um menino foi encontrado sozinho em um bosque: ele vivia como um animal, não sabia se comunicar, andar, nem se comportar como um ser humano. Victor foi levado a diversas instituições e, em determinado momento, ficou aos cuidados do famoso médico Philipe Pinel, que acreditava que o garoto tinha sido abandonado por sua família por ter demência, o que justificaria o fato de não andar, falar etc. Além disso, o especialista acreditava que ele não seria capaz de aprender essas habilidades. Outro médico responsável pelo tratamento de Victor foi Jean Marc Gaspard Itard que, diferentemente de seu professor Pinel, acreditava na possibilidade de educar o menino, pois defendia que o desenvolvimento poderia ser potencializado por meio do contato social (PEREIRA; GALUCH, 2012). Apesar de algumas limitações, com a educação dada por Itard, Victor teve progressos em seu desenvolvimento, aprendeu a ler, escrever e a obedecer a regras (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009). Se, por um lado, Pinel defendia o desenvolvimento como resultado exclusivo de fatores biológicos, por outro, Itard acreditava no poder do meio como importante aspecto no seu desenrolar. Nos dias de hoje, compreendemos que Pinel acreditava nas ideias inatistas, já Itard, inseria-se em uma concepção interacionista do 28 desenvolvimento, conforme será estudado nas duas próximas unidades. Atualmente, a maior parte das pesquisas defende uma relação entre as dimensões biológicas e sociais como determinantes do desenvolvimento humano. Teóricos como Piaget, Vigotski e Wallon, que serão estudados na Unidade IV, defendem a importância de fatores biológicos e sociais para o desenvolvimento humano. Os estudos sobre o desenvolvimento humano são interdisciplinares, ou seja, diversos campos do saber trazem contribuições e se beneficiam das suas descobertas, como a educação, a medicina, a terapia ocupacional, o serviço social. Além disso, há uma interação entre as ciências que sobre ele se debruçam. Por exemplo, uma pesquisa que objetiva compreender o impacto da pandemia COVID- 19 no desenvolvimento adolescente pode contar com a presença de educadoras, psicólogas, médicos, nutricionistas, terapeutas ocupacionais, sociólogos, dentre outros especialistas. O objetivo dessa investigação científica seria conhecer o seu objeto – o impacto da pandemia COVID-19 no desenvolvimento adolescente- através de diferentes saberes, com a colaboração de várias ciências e, consequentemente, auxiliando-as em suas práticas profissionais. De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), os estudos sobre o desenvolvimento humano objetivam: Descrever: quando ocorrem determinados comportamentos, por exemplo: qual a idade geralmente as crianças conseguem controlar os esfíncteres. Explicar: como ocorrem determinados comportamentos, por exemplo: o que é necessário para que as crianças controlem seus esfíncteres. Prever: comportamentos posteriores, por exemplo, se a criança já consegue identificar quando está com vontade de urinar, provavelmente ela irá conseguir controlar os esfíncteres. Modificar: comportamentos considerados inadequados, por exemplo, se a criança tem nove anos e ainda não consegue controlar os esfíncteres, ela deve ser avaliada por uma especialista e passar por um tratamento para que consiga fazê-lo, pois os estudos sobre o desenvolvimento infantil mostraram que nessa idade a criança já deve ser capaz de controlar os esfíncteres. É possível relacionar os quatro grandes objetivos do estudo do desenvolvimento ao processo educativo. Em uma escola infantil, se todas as crianças 29 do Maternal 3 conseguem se comunicar, quando uma criança não o faz, a coordenação pode solicitar que a família a leve para uma avaliação. Considere que ela foi avaliada por um fonoaudiólogo e foi constatado algum problema de audição (explicação). O fato de a criança ter dificuldades para se comunicação pode prejudicar o seu desenvolvimento cognitivo e afetivo (possibilidade de prever), o que sugere que ela seja avaliada e, se necessário faça acompanhamento com o profissional indicado (para modificar). Domínios do desenvolvimento O desenvolvimento humano pode ser dividido em três dimensões: física, cognitiva e psicossocial. É importante destacar que esses domínios estão interligados e um interfere no outro (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 2009). Exemplos de desenvolvimento: Físico: aumento da estatura, amadurecimento dos órgãos sexuais, o branqueamento dos cabelos. Cognitivo: aumento e diminuição da concentração, compreensão de conceitos abstratos, capacidade de planejamento. Psicossocial: desenvolvimento da capacidade de cooperar com outras pessoas, do sentimento de solidariedade, e da sabedoria. Para ilustrar a afirmação de que cada uma dessas dimensões interfere na outra, considere uma adolescente que teve a menarca (primeira menstruação), com isso, ela se interessou em estudar sobre a reprodução humana e, ao mesmo tempo, sua família a orientou sobre a possibilidade de gravidez na adolescência. Em se tratando do ambiente escolar, pode-se ilustrar com a situação de um estudante, de estatura baixa, que quer chamar a atenção das meninas de sua sala. Por ser baixo, ele percebeu que teria dificuldades em entrar para o time de basquete, assim sendo, ele resolveu estudar bastante, para se sobressair durante as aulas e ser o foco da atenção das colegas. Por sua complexidade, a escola influencia e é influenciado pelas três dimensões do desenvolvimento humano. Por exemplo, as aulas de Educação Física, contribuem no aumento da força física. As aulas de História, possibilitam o conhecimento de outros momentos históricos e a convivência com colegas, pode auxiliar no desenvolvimento do sentimento de solidariedade. Uma criança obesa que 30 é sempre deixada no banco reserva na hora do jogo de vôlei, como consequência, poderá ficar isolada e não terá mais interesse em ir para a escola. Já a estudante que tem facilidade com cálculos, será solicitada a explicar a matéria para os colegas, isso fará com que ela se sinta motivada a estudar cada vez mais, além de valorizada por sua capacidade cognitiva. As mudanças no desenvolvimento humano podem ser divididas em qualitativas e quantitativas. Como os próprios termos indicam, as qualitativas referem- se à qualidade e as quantitativas, à quantidade (BEE; BOYD, 2011). Para que possa ficar mais compreensível, pense em uma criança pré verbal, ou seja, que ainda não fala, mas que emite alguns sons, como os balbucios. Quando ela passa a ter a capacidade de usar a linguagem verbal, por exemplo, fala “mama” (para expressar mamãe) ou “quê” (para demonstrar o verbo querer), ocorreu o desenvolvimento qualitativo, de pré verbal a criança passou a ser verbal (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2009). Já quando a família registra o número de palavras que essa criança fala, ela acompanha o seu desenvolvimento verbal quantitativo. Outro exemplo seria uma criança que entrou na escola pela primeira vez e tinha apenas três amigos, vizinhos do prédio em que mora. No final do ano letivo, ele fez 20 amigos, nesse caso, observa-se uma mudança quantitativa. Ao se comparar a amizade entre crianças menores, que apenas brincam juntas e adolescentes, que têm grupos para estudar, grupos para ir para balada, grupos para praticar esporte, constata-se mudanças qualitativas (BEE; BOYD, 2011). Influências no desenvolvimento humano Conforme explicitado anteriormente, a tendência atual dos estudos sobre o desenvolvimento humano é concebê-lo como multicausal, não apenas como puramente biológico ou exclusivamente social. 31 Dentre os fatores determinantes do desenvolvimento humano, destacam-se: hereditariedade, família, condições socioeconômicas, cultura,raça-etnia e contexto histórico. Abaixo serão apresentadas pesquisas que comprovam a influência de cada um desses aspectos do desenvolvimento humano: Hereditariedade: Segundo Marques-Lopes et al. (2004), há a estimativa de que a obesidade tenha entre 40% a 70% de caráter hereditário. Em um país gordofóbico, no qual comumente alunos obesos sofrem preconceito na escola, é importante que os professores e toda a comunidade escolar saibam que muitas vezes a obesidade é resultado de fatores que não são de responsabilidade do aluno e/ou sua família. Família: Para Silva et al. (2008) a família apresenta fatores de risco e de proteção que impactam o desenvolvimento infantil. Um exemplo dado pelas referidas autoras é quanto à escolarização: nas famílias que se envolvem mais na educação escolar de seus filhos, bem como naquelas cujos pais têm maior escolarização, a tendência é que os estudantes obtenham maior sucesso escolar. Condições socioeconômicas: A situação socioeconômica é um importante determinante para a saúde do idoso (CONFORTIN et al., 2017): ter uma casa segura, alimentação apropriada para a idade, acesso a medicamentos e acompanhamento médicos de qualidade fazem com que a pessoa consiga se desenvolver de maneira adequada e saudável. Essa situação pode inclusive favorecer a sua capacidade/vontade de voltar a estudar. Cultura: O comportamento alimentar é um dos principais determinantes do desenvolvimento infantil. De acordo com Rossi, Moreira e Rauen (2008), a cultura exerce forte influência na alimentação das crianças: disponibilidade e acesso a determinados alimentos, bem como a estrutura das refeições podem ser apontados como fatores culturais que interferem na alimentação. Com essa informação, principalmente as professoras da educação infantil e do ensino fundamental saberão da sua responsabilidade sob o comportamento alimentar e poderão abordar questões sobre esse tema em suas aulas. Raça-cor: Em um estudo que objetivou conhecer a prevalência dos principais fatores de risco e proteção em escolares, segundo as diferenças de raça-cor, baseando-se na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE/2012), Malta et al (2017) constataram que: 1) Adolescentes brancos: frequentam escolas 32 privadas, suas mães são mais escolarizadas, experimentam mais bebida alcoólica. 2) Estudantes pretos, pardos e indígenas: consomem mais feijão e frutas. 3) Adolescentes indígenas: praticam mais atividades físicas e relataram ser mais vítima de violência física. 4) Estudantes amarelos e pretos: informaram sofrer mais bullying. Por meio dessa pesquisa, constata-se que o pertencimento racial e de cor é um importante determinante do desenvolvimento de várias maneiras, desde o tipo de escola frequentada e da alimentação, até às atividades físicas realizadas, ao tipo de violência sofrida. Contexto histórico: É importante que o sujeito seja concebido como um ser inserido em uma história, sendo determinado por ela e, ao mesmo tempo, determinando-a. Isso significa compreender a historicidade das pessoas. Nascer e viver em um determinado momento histórico tem as suas especificidades: durante a colonização dos portugueses, as guerras mundiais, a ditadura civil-militar ou a pandemia do Coronavírus 19. Nesse último caso, Costa et al. (2021) fizeram uma pesquisa para conhecer as consequências da pandemia do coronavírus para os adolescentes: mudanças nas formas de convivência; os lugares ocupados; as mídias; os riscos e as preocupações, todos esses aspectos acarretam consequências para o seu desenvolvimento. Destacam-se: a impossibilidade de separação dos pais e de convivência física com seus grupos de pares, o fechamento de serviços, como escola (COSTA et al., 2021). De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2009), as influências no desenvolvimento humano podem ser normativas e não normativas. As normativas são aqueles eventos que ocorrem de maneira muito parecida entre as pessoas. Podem ser histórico-contextuais, como no caso da pandemia do coronavírus, ou etários, de acordo com a faixa etária, por exemplo, o período em que ocorre a menarca. Já as influências não normativas são aquelas situações inesperadas para aquele momento do desenvolvimento humano, como o casamento na infância, a viuvez no início da vida adulta. No contexto educacional, pode-se ilustrar como influência normativa a passagem da escola para o ensino superior, na juventude. Já um exemplo de evento não normativo é a interrupção dos estudos durante a alfabetização de uma criança que precisa trabalhar. 33 O desenvolvimento humano é dividido em períodos, de uma forma geral, no cotidiano, referimo-nos à infância, à adolescência, à juventude, à vida adulta e à velhice. No entanto, para o estudo do desenvolvimento, esses períodos são mais específicos, de forma a possibilitar o maior conhecimento sobre cada um deles, por exemplo, o que ocorre com a cognição de um bebê que acabou de nascer? Quais são as características físicas esperadas de uma senhora de 80 anos? Abaixo está reproduzida a proposta de Papalia, Olds, Feldman (2009) de divisão dos períodos do desenvolvimento humano de acordo com a faixa etária. É importante ressaltar que essa divisão, apesar de se basear no critério etário, leva em consideração também aspectos culturais. Por exemplo, para determinadas culturas, como as etnias indígenas Tembé e Kaxuyana, a adolescência não existe, da infância, passa-se para a vida adulta (TRAVASSOS, CECCARELLI, 2017), para outras, como a brasileira, considerando o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a adolescência acaba aos 18 anos. Quadro 1: Faixa etária e período do desenvolvimento Faixa etária Período Da concepção ao nascimento Pré-natal Do nascimento aos três anos Primeira infância Dos três aos seis anos Segunda infância Dos seis aos 11 anos Terceira infância Dos 11 aos 20 anos Adolescência Dos 20 aos 40 anos Início da vida adulta Dos 40 aos 65 anos Vida adulta intermediária Dos 65 anos em diante Vida adulta tardia Fonte: Papalia, Olds, Feldman (2009, p. 12-13) 34 É imprescindível que futuros professores tenham conhecimento científico sobre o desenvolvimento humano considerando, inclusive, que o processo educativo pode ocorrer com estudantes em diferentes faixas etárias, desde a mais tenra idade, até os idosos, conforme explicitado anteriormente. O estudo sobre o desenvolvimento humano pode auxiliar os professores a saber como lidar com os estudantes, o que esperar de cada um deles, o que eles já devem saber, bem como o que podem aprender. Esse entendimento será indispensável no momento da construção das atividades pedagógicas. Por exemplo, para Jean Piaget, (como será estudo na unidade IV) é por volta dos 12 anos que os adolescentes conseguem ter uma compreensão dos conceitos abstratos, assim sendo, nesse período, as tarefas escolares devem explorar essa habilidade. Além do conteúdo pedagógico a ser desenvolvido, outro aspecto que o estudo do desenvolvimento pode contribuir para a prática da professora é como abordar tais conteúdos, qual a metodologia a ser utilizada? De acordo com Henri Wallon (que também será abordado na unidade 4), geralmente, por volta dos três anos, a criança passa por uma fase de oposição, em que quer vivenciar a sua independência. Os professores podem aproveitar esse momento e estimular que as crianças explorem o ambiente da escola, busquem aquilo que as interessa, por exemplo. Com essa unidade, foi possível constatar que o estudo do desenvolvimento descreve, em cada um dos períodos, o tipo de desenvolvimento esperado, por exemplo, para os professores de adolescentes, quais os tipos de desenvolvimento físico, cognitivo e psicossocial espera-se que ocorram, além disso, quais as influências desse desenvolvimento? Com essas informações, a educadora estará mais apta para escolher o conteúdo e o método mais adequados para planejar e executar as suas aulas. 35 A partir das próximas duas unidades, será abordado oestudo sobre as correntes epistemológicas do desenvolvimento humano, ou seja, como as diferentes abordagens/teorias acreditam que ocorre esse desenvolvimento, quais são as suas determinações, como cada uma acredita que ocorre o processo de ensino e aprendizagem. Serão abordados: o inatismo, o ambientalismo, a abordagem comportamental e as teorias interacionistas. 36 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (Quadrix - 2018 - CFP - Especialista em Psicologia – Psicopedagogia/Adaptada) Toda prática educativa traz em si uma teoria do conhecimento. Itard, médico francês nascido em 1975, foi um dos primeiros a trabalhar com dificuldades de aprendizagem, propondo um tratamento para o menino Victor de Aveyron, que ficou conhecido como “menino selvagem”. Nessa ocasião, ainda não se acreditava, por forças do capitalismo, que pacientes com algum tipo de atraso pudessem aprender, sendo esse caso um marco na construção da visão atual em relação ao ser que não aprende. Considerando o contexto apresentado e o atual, assinale a alternativa correta. a) Atualmente não existem mais práticas que tendem a segregar alunos que aprendem de alunos que não aprendem. b) Os estudos do desenvolvimento humanos são exclusivos dos médicos, assim sendo, apenas eles podem opinar sobre o que está sendo solicitado na questão. c) Ao professor cabe lecionar sua disciplina, independentemente do desenvolvimento de seus alunos. d) O professor, sozinho, não tem base teórica para conhecer os seus alunos, pois ele não estuda sobre o desenvolvimento humano. e) É de extrema relevância ampliar as discussões em torno da temática do desenvolvimento humano e buscar a contextualização histórica, além de teorias e pesquisas científicas para fomentar novas posturas. 2. Uma professora de Ensino Fundamental é convidada a assumir uma turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Apesar de estar muito sobrecarregada, ela aceita a oferta, afinal, já possui todo o material das aulas preparado. Considerando os estudos sobre o desenvolvimento humano, marque a alternativa abaixo que melhor analisa o pensamento dessa professora: a) Ela está correta, afinal, independentemente da idade do estudante, o conteúdo 37 deve ser ministrado da mesma forma para todos. b) Ela está errada, pois deve considerar a etapa de vida dos alunos para planejar a aula. c) Ela está correta, uma vez que todas as turmas são iguais, independentemente não apenas do pertencimento etário, mas também sociocultural. d) Ela está errada, pois, independentemente de seus esforços, os idosos não têm capacidade de se desenvolverem. e) Os estudos do desenvolvimento não trazem contribuições para a educação escolar. 3. Diversas pesquisas têm buscado conhecer as consequências da pandemia para o desenvolvimento humano, desde os recém-nascidos, até os idosos. Compreendendo que o desenvolvimento humano sofre influências normativas e não normativas (Papalia, Olds e Feldman, 2009), complete a frase a seguir com a alternativa que melhor a completa: A pandemia do coronavírus é um evento ___________ do desenvolvimento humano, pois ____________________________. a) Normativo/ afetou todas as pessoas do mundo. b) Não normativo/ atingiu os sujeitos de maneira diferente. c) Normativo etário/ afetou as pessoas da mesma idade de forma idêntica. d) Não normativo/ atingiu todas as pessoas que viveram nesse contexto histórico. e) Normativo histórico/ afetou todas as pessoas que viveram nesse contexto histórico. 4. A escola é um dos principais contextos em que os estudantes se desenvolvem. Analise as afirmativas abaixo, que relacionam o desenvolvimento e a escolarização, e marque a alternativa correta: I. Na escola deve ser priorizado o desenvolvimento cognitivo, pois esse é o mais importante. II. O desenvolvimento psicossocial deve ocorrer exclusivamente no seio familiar. 38 III. Um desenvolvimento interfere no outro. a) Todas estão corretas. b) Todas estão erradas. c) I e II estão corretas e III está errada. d) I está errada e II e III estão corretas. e) I e II estão erradas e III está correta. 5. (IBADE- Psicóloga) De acordo com Papalia, Olds e Feldman (2006), o desenvolvimento humano é composto por três aspectos que estão interligados durante toda a vida, e cada um influencia os outros. São eles, respectivamente: a) Biológico, cognitivo e social. b) Físico, mental e psicológico. c) Biológico, cognitivo e psicossocial. d) Físico, cognitivo e psicossocial. e) Biológico, mental e psicológico. 6. Maria, uma aluna com dificuldades de interação com outros adolescentes, é convidada pela professora de Química para participar do grupo de estudos sobre balanceamento de equações. A mãe da estudante, no dia seguinte, se dirige à escola e reclama com a direção que a educadora quer que a filha estude mais, apesar de saber que seu problema é fazer amigos e não compreender a matéria. A genitora: a) Não conhece os estudos do desenvolvimento humano, pois não sabe que o desenvolvimento cognitivo pode influenciar o desenvolvimento psicossocial, assim, Maria, ao ajudar os colegas, pode fazer amigos. Ou seja, a estratégia da professora foi proposital, para ajudar Maria. b) Conhece os estudos do desenvolvimento humano e sabe que o desenvolvimento psicossocial é o mais relevante de todos, independentemente da situação e do contexto. c) Não conhece os estudos do desenvolvimento humano, pois não sabe que o desenvolvimento cognitivo é o mais importante de todos. Ou seja, Maria não tem problema sério. 39 d) Conhece os estudos do desenvolvimento humano e sabe que um tipo de desenvolvimento não interfere no outro. Ou seja, a escola deveria ter criado uma estratégia puramente psicossocial para auxiliar Maria em sua dificuldade para fazer amigos. e) Não conhece os estudos do desenvolvimento humano, pois não sabe que se a pessoa tem dificuldade em um tipo de desenvolvimento, necessariamente o terá em todos. Ou seja, se Maria tem problemas para fazer amigos (desenvolvimento psicossocial), ela terá dificuldades para compreender a matéria (desenvolvimento cognitivo). 7. Analise as asserções abaixo marque a alternativa correta: I. Os estudos do desenvolvimento humano são multidisciplinares. II. Podem ser beneficiados por diferentes campos do saber, assim como podem beneficiar diferentes práticas profissionais. a) Ambas as afirmativas são falsas. b) Ambas as afirmativas são verdadeiras e não há correlação entre elas. c) A afirmativa I é falsa e a II é verdadeira. d) A afirmativa I é verdadeira e a II é falsa. e) Ambas as afirmativas são verdadeiras e há relação entre elas. 8. Considerando os tipos de desenvolvimento humano, complete o quadro a seguir e marque a alternativa correta: Tipo de desenvolvimento Conceito Exemplo 1) Relacionado às habilidades mentais Capacidade de abstração Físico Relativo ao corpo 2) Psicossocial 3) Emoções a) 1) Cognitivo; 2) Peso; 3) Referente a si e aos outros. b) 1) Mental; 2) Beleza; 3) Relacionado à inteligência. c) 1) Cognitivo; 2) Inteligência emocional; 3) Referente a si e aos outros. d) 1) Interpessoal; 2) Hipotireoidismo; 3) Referente à capacidade de comunicação. 40 e) 1) Intrapessoal; 2) Peso; 3) Relacionado à inteligência. 41 CORRENTES EPISTEMOLÓGICAS: INATISMO, AMBIENTALISMO E A PSICOLOGIA COMPORTAMENTAL Nessa unidade, serão apresentadas três formas de conceber o desenvolvimento humano: o inatismo, o ambientalismo e a Psicologia Comportamental. No final de cada uma delas, são apresentadas suas ideias sobre o papel da educação no desenvolvimento. 3.1 INATISMO Inato é aquilo que nasce com o sujeito, independentemente da sua experiência e do contexto em que está inserido (DICIONÁRIO AULETE, 2021). Assim sendo, a corrente epistemológica do inatismo defende que a pessoa vai se desenvolver exclusivamente de acordo com os aspectos biológicos herdados, independentemente do meio em que está inserida (ALMEIDA, 2015). Dessa forma, os acontecimentos que ocorrem após o nascimento têm pouca importânciapara a definição da personalidade, dos valores, das condutas e da aprendizagem do sujeito (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). Alguns ditados populares, como “quem herda, não furta”, “filho de peixe, peixinho é” e “pau que nasce torto, nunca se endireita”, são expressões muito comuns no cotidiano e partem dos pressupostos do inatismo: as pessoas são aquilo que herdam e não vão se modificar, independentemente das experiências que tiverem. De acordo com Davis e Oliveira (1994), o inatismo foi influenciado por ideias religiosas (cada pessoa é a imagem e semelhança de Deus e nasce com seu destino determinado), por concepções equivocadas da teoria evolucionista de Darwin (ao conceder ínfima importância aos fatores ambientais) e pelos primeiros estudos de embriologia (que erroneamente desconsideravam a influência do ambiente externo no desenvolvimento embrionário). Para o inatismo, a aprendizagem ocorrerá de acordo com o desenvolvimento de cada sujeito, que será determinado unicamente por sua herança genética. Dessa UNIDADE 03 42 forma, o papel da professora é passivo e restrito: a ele cabe esperar o momento em que o estudante está pronto para determinada aprendizagem, sua função é principalmente auxiliar o aluno a organizar a predisposição com a qual nasceu (ALMEIDA, 2015). Dessa forma, acredita-se que a professora interfere minimamente no desenvolvimento (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). Para o inatismo, os estudantes provenientes de famílias com histórico de dificuldades de aprendizagem e/ou problemas no desenvolvimento irão, necessariamente, apresentar sérias limitações na sua escolarização (ALMEIDA, 2015) e nada poderá alterar esse destino que foi genética e previamente traçado, a professora pode tentar usar diferentes metodologias, conteúdos, mas não terá sucesso. Um dos grandes nomes a defender essas ideias foi Francis Galton (1822-1911), para ele, a inteligência era herdada. Em 1869, ele publicou o livro “A genialidade herdada” em que, por meio da história familiar, analisou homens muito inteligentes. Galton é reconhecido como um dos pais da eugenia, ciência que tinha como objetivo “aperfeiçoar” a espécie humana através do controle do cruzamento entre indivíduos pré-determinados (PATTO, 2008). Até hoje, as ideias de Galton impactam a sociedade de uma forma geral e, especificamente, a educação escolar. O pré-conceito de que as pessoas negras são menos inteligentes, de que os europeus são superiores, essas definições são estabelecidas sem se conhecer aquele determinado sujeito, apenas por ele pertencer a determinado grupo racial, espera-se que ele tenha certa capacidade (ou não), pois a herdou geneticamente. No Brasil, é possível pensar nas diferenças de padrões sociais construídos acerca das pessoas afrodescendentes e descendentes de europeus, por exemplo, conforme analisado no capítulo I dessa obra, no item sobre as pesquisas de Patto (2008). 3.2 AMBIENTALISMO 43 Oposta ao inatismo, o ambientalismo defende que o comportamento é resultado exclusivo da experiência que o indivíduo vivencia, independentemente da sua genética. Essa concepção foi baseada no empirismo (ALMEIDA, 2015). O fundador do empirismo foi o filósofo inglês John Locke (1632-1704). Ele rejeitava a concepção de que os sujeitos já nasciam com ideias, para ele, os seres humanos eram como uma lousa em branco, que era preenchida através das experiências que tinha ao longo da sua vida, por meio delas, os indivíduos construiriam o seu conhecimento. SCHULTZ; SCHULTZ, 2016). Para o ambientalismo, os sujeitos vão se desenvolver de acordo com o meio em que estão inseridos e as experiências que viverão nele, isso lhes concede uma capacidade de plasticidade muito grande (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). De acordo com o dicionário Aulete, a plasticidade pode ser compreendida como a qualidade do que pode ser moldado, ao consideramos a plasticidade das pessoas, isso significa que elas irão mudar de acordo com o que vivenciarem (estímulos, condições ambientais, dentre outros aspectos). Diferentemente da teoria inatista, a ambientalista concede destaque à professora, pois é responsabilidade sua conduzir o processo de aprendizagem (seja no seu planejamento, sua execução e sua organização) (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). Para Davis e Oliveira (1994), o principal questionamento do ambientalismo é a passividade do sujeito, ele será determinado pelo ambiente. Especificamente no contexto escolar, essas autoras criticam o diretismo exacerbado da professora, que não abre margem para a espontaneidade dos estudantes. Ainda de acordo com elas, o ambientalismo não valoriza, por exemplo, as aprendizagens advindas das situações de convívio entre as crianças, aquelas em que não há intervenção da professora (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). 44 3.3 ABORDAGEM COMPORTAMENTAL E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO: DE WATSON A SKINNER Algumas estudiosas, como Davis e Oliveira (1994) e Alencar (2015), consideram que a abordagem Comportamental se encontra inserida na corrente Ambientalista, dada a relevância que esta concede ao ambiente como determinante para o comportamento humano. Todavia, como nessa obra apresentamos o Ambientalismo reducionista, que negligencia os fatores biológicos e genéticos, consideramos que a abordagem Comportamental não se insere nessa corrente epistemológica, pois, apesar da grande importância que confere ao ambiente, ela não nega a influência genética e ambiental. Além disso, dada a sua importância para a Psicologia e suas contribuições para a educação, optou-se por apresentá-la em um item separadamente. Conhecida como Psicologia Comportamental, Comportamentalismo, Psicologia Experimental, Análise Experimental do Comportamento ou Behaviorismo (do inglês behavior- comportamento), essa importante teoria tem como foco, como o próprio nome sugere, o comportamento humano (BOCK, FURTADO, TEIXEIRA, 2008). De acordo com o dicionário Aulete (versão online) comportamento é a maneira de se comportar, de viver, de agir e reagir; o modo de agir, em geral, em relação aos fatores ambientais; o conjunto de reações e atitudes do indivíduo diante do meio social, em sua interação com as situações, a reação de algo em determinadas circunstâncias ou a forma pela qual um organismo, ou parte dele, funciona ou reage aos estímulos. Na Psicologia: “Comportamento é entendido como interação entre indivíduo e ambiente [...]. O ser humano começa a ser estudado a partir de sua interação com o ambiente, sendo tomado como produto e produtor dessa interação” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008, p. 59). De acordo com a abordagem Comportamental, as pessoas têm padrões de comportamento, por exemplo, ser tímido ou agitado, que são apresentados em diferentes contextos e com certa regularidade. Além do comportamento, um outro ponto muito discutido pela Comportamental é a aprendizagem que, nessa abordagem, pode ser compreendida como “qualquer mudança duradoura na maneira como os organismos respondem ao ambiente” (Goulart, Delage, Rico, Bríno, 2012, p. 21). Para entender de que forma ocorre a aprendizagem, faz-se necessário esclarecer alguns 45 conceitos, que serão discutidos a seguir. A Comportamental divide o comportamento em dois tipos: Respondente ou reflexo, que ocorre de maneira involuntária (GOULART, DELAGE, RICO, BRÍNO, 2012). Por exemplo, quando a professora fecha os olhos no momento em que a luz do aparelho data show reflete diretamente sobre o seu rosto, ou seja, o estímulo luz eliciou (provocou) a resposta fechar os olhos. Operante, que ocorre de maneira voluntária, é aprendido e vai ocorrer para que seja obtida alguma resposta almejada (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por exemplo, o aluno que tem o comportamento de estudar para conseguir uma boa nota. No exemplo acima tem-se um outro conceito essencial, o de reforçador, a nota foi o reforçador para que o aluno estudasse. O reforço altera a possibilidade de ocorrência de um determinado comportamento: os reforços positivosaumentam essa chance (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008) e os negativos retiram um estímulo considerado aversivo (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005) Em sala de aula, pode-se considerar que todas as crianças querem ser o ajudante do dia e irão se comportar de maneira adequada para ocuparem tal cargo, assim sendo, querer ser ajudante do dia é um reforçador positivo, é a resposta que as crianças querem obter e irão se comportar para consegui-la. Já na situação de uma professora que começa a gritar sempre que os estudantes mantêm muitas conversas paralelas, trata-se de um reforçador negativo, os alunos irão deixar de conversar durante as aulas para que a educadora não grite (estímulo aversivo). Outros conceitos importantes para o entendimento da Comportamental no ambiente escolar são: Esquiva e fuga: a esquiva é a tentativa que algo indesejado não ocorra, já a fuga, como o próprio termo indica, é a tentativa de cessação de um estímulo aversivo quando ele já foi iniciado. (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005; BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por exemplo, o aluno que não vai à escola (esquiva) ou sai durante a aula (fuga) para não ser vítima de bullying (estímulo aversivo). Punição: estratégia usada para reduzir a ocorrência de um dado comportamento (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005), pode ocorrer através do uso de um estímulo considerado aversivo ou da retirada de um reforçador positivo. (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por exemplo, quando uma aluna que 46 costumava ser participativa deixa de participar da aula depois que considerou que a professora foi injusta na correção de sua avaliação, ela está punindo a educadora. Discriminação de estímulos: quando uma resposta é dada diante de um estímulo x, mas não no estímulo z (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Por exemplo, quando a criança ouve o barulho da sirene escolar e entende que acabou o horário do recreio, ou seja, ela reconhece que o som do toque de saída da aula é diferente do término do recreio. Generalização de estímulos: ocorre quando as respostas dadas a diferentes estímulos são semelhantes, pois os estímulos são compreendidos como semelhantes (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008). Para ilustrar, considere um estudante que se formou no ensino médio e, ao ingressar na faculdade, age da mesma maneira como o fazia na escola, como pedir permissão à professora para ir ao banheiro. Outra situação, é a criança que recém ingressou na escola e chama a professora de mãe. Para finalizar o tópico inicial da Comportamental, a seguir serão apresentados três importantes teóricos dessa abordagem: Pavlov, Watson e Skinner. Ivan Pavlov (1849/ 1936), cientista russo, que ao realizar um experimento com um cachorro, constatou o processo de condicionamento, que pode ser compreendido como uma alteração na forma que um ser vivo responde a um estímulo, sob influência do meio (JUNIOR; SOUZA; DIAS, 2005). Abaixo está descrita a experiência de Pavlov (CARRARA, 2004): 1) Antes do condicionamento: O cão via o alimento → ele salivava (o alimento é um estímulo incondicionado- que causa uma resposta reflexa, ou seja, o sujeito não consegue controlar, não é aprendida) O cão ouvia o som do sino → nada ocorria (o sino era um estímulo neutro) 2) Durante condicionamento: Pavlov tocava o som do sino ao mesmo tempo em que oferecia o alimento ao cão → o animal salivava (o estímulo neutro foi oferecido junto ao estímulo incondicionado, ocorreu o que os Behavioristas chamam de pareamento de estímulos) 47 3) Depois do condicionamento: Ao ouvir o som do sino, mesmo sem a presença do alimento → o cachorro salivava (ocorreu o condicionamento) Esse é conhecido como condicionamento pavloviano, clássico ou respondente (pois é baseado nos reflexos) e é a maneira mais simples de aprendizagem (ALENCAR, 2007). Abaixo encontra-se um quadrinho que pode auxiliar na compreensão do experimento de Pavlov: Figura 4: Ilustração da experiência de Pavlov com cães Fonte: Disponível em https://bit.ly/3CAeHRg. Acesso em: 20 jun. 2021. O primeiro nome reconhecido como um psicólogo comportamental é John Watson (1878/1958), pesquisador estadunidense que defendeu que a Psicologia é o estudo do que é observável e mensurável, que seus objetivos são a predição e o controle do comportamento, o oposto do que era comum na época: a Psicologia como o estudo da consciência e o uso do método introspectivo (CARRARA, 2004) Ele estudou sobre o comportamento animal de uma forma geral e, em 1913, cunhou o termo “Behaviorismo”. 48 Em 1925, Watson deu uma polêmica declaração: “Dê-me uma dúzia de bebês sadios e bem constituídos e eu poderei tomar qualquer um deles ao acaso e treiná- los em qualquer especialidade que eu selecione”, continuou o pesquisador: “tornando-o um médico, advogado, artista, comerciante e mesmo pedidor de esmola ou ladrão- independentemente de seus talentos, tendências, habilidades, vocação e raça de seus ancestrais.” (ALENCAR, 2007, p. 43). Com essa frase, ele afirmou que o ambiente é o único determinante do comportamento humano, independentemente dos fatores hereditários. Por fim, o também psicólogo estadunidense, Burrhus Skinner (1904/1990) propôs, em 1945, o termo Behaviorismo radical (que nega tudo o que escapa ao mundo físico). Um dos focos de interesse de Skinner foi o controle do comportamento humano. Para melhor compreender o comportamento, desenvolveu a “Caixa de Skinner”, aparelho usado em laboratório no qual é mantido um sujeito experimental, geralmente um rato. De acordo com os estímulos ambientais, o pesquisador irá moldar o comportamento do sujeito experimental, seja para manter ou modificá-lo. Para tanto, são usados estímulos sonoros (ruídos), visuais (luzes) e olfativos (odores) (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 2008), conforme ilustração abaixo: Figura 5: Representação da Caixa de Skinner Fonte: Disponível em https://bit.ly/39odDTJ. Acesso em: 20 jun. 2021. Diferentemente do que é compreendido por muitas pessoas que conhecem pouco a Comportamental, essa abordagem não acredita na passividade dos sujeitos, nem na postura ativa exclusivamente: eles são determinados pelo meio, da mesma forma como são determinantes nesse meio (CARRARA, 2004). 49 Abordagem Comportamental e a educação Uma das principais orientações do Behaviorismo para a educação é a definição clara de quais comportamentos se espera do estudante, ou seja, que a professora dê instruções adequadas e compreensíveis (CARRARA, 2004). Para tanto, a professora deve colocar em seu plano de aula quais os comportamentos específicos esperados não apenas dele, mas também da turma para a qual leciona (PEREIRA, MARINOTTI, LUNA, 2004). A professora deve evitar que o estudante cometa erros desnecessários (pois isso pode fazer com ele se sinta frustrado, o que pode levar à desmotivação na aprendizagem), deve também reforçar sempre o comportamento desejado do aluno, evitando a punição (CARRARA, 2004). De acordo com Pereira, Marinotti e Luna (2004), as consequências aversivas, como castigos, podem ter como efeitos: a fuga ou a esquiva (como o aluno que falta a aula com medo da punição da professora), a produção de reações emocionais negativas (como o estudante que fica agressivo diante do castigo estipulado pela educadora) e, apesar de retrair o comportamento punido, não há aprendizagem, ou seja, o aluno pode parar de atrapalhar a aula, por exemplo, para que a professora não o coloque de castigo, mas ele não aprendeu que não deve perturbar a aula, quais os motivos e consequências desse seu comportamento. É benéfico para o processo de aprendizagem quando a professora inicia uma atividade auxiliando o aluno o máximo possível e estabelecendo metas mais baixas e, com o passar do tempo, a professora deve diminuir a sua ajuda e aumentar a 50 exigência (CARRARA, 2004). Com o apoio do docente e as suas pequenas conquistas, o estudante vai se sentir cada vez mais capaz e, consequentemente, motivado para continuar a aprender. É importante que a professora tenha emmente que o propósito da educação é a aprendizagem do sujeito e que, para que essa finalidade seja alcançada, a educadora deve considerar o estágio em que se encontra cada estudante e não estabelecer um “padrão de aluno típico das camadas médias” (PEREIRA, MARINOTTI, LUNA, 2004, p. 15). 51 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (IBFC - MGS – Pedagogia/ Adaptada) O desenvolvimento humano se dá como um processo de apropriação da experiência histórico-social pelo/a homem/mulher e essa visão é resultado da evolução de várias teorias, entre elas, a teoria inatista que considera importante somente os fatores genéticos e biológicos, ou seja, aquilo que é hereditário, inato. Por isso, o nome inatismo, que compreende características e dons que se traz quando nasce. Nesse sentido, assinale a alternativa correta a seguir: a) Para os inatistas, as pessoas desenvolvem suas características básicas de acordo com o ensino na sala de aula. b) Para os inatistas, cada ser humano já traz consigo características básicas, definidas desde o nascimento. c) Para os inatistas, as características inatas ao ser humanos não podem ser desenvolvidas fora da escola. d) Para os inatistas, as características básicas não fazem parte do ser humano. e) Para os inatistas, as características básicas do ser humano são resultado da interação entre ambiente e fatores hereditários. 2. (Site preparatório para concursos/Adaptada) A Psicologia possui diferentes concepções acerca do desenvolvimento humano. A concepção inatista e a concepção ambientalista apontam para diferentes influências no desenvolvimento de habilidades cognitivas. Considerando essas teorias, analise as afirmativas abaixo e marque a resposta correta. a) O inatismo e o ambientalismo explicam que o desenvolvimento de habilidades é determinado pela hereditariedade. b) A teoria inatista explica que o desenvolvimento de habilidades é hereditário. c) O inatismo e o ambientalismo explicam que o desenvolvimento de habilidades é determinado pelo meio. d) A teoria ambientalista explica que o desenvolvimento de habilidades é hereditário. e) O inatismo e o ambientalismo explicam que o desenvolvimento de habilidades é determinado pela interação entre o meio e a hereditariedade. 52 3. (VUNESP- Pedagogo) Sobre as características da concepção ambientalista do desenvolvimento humano, assinale a alternativa correta. a) O ser humano é concebido como um ser extremamente plástico, que desenvolve suas características em função das condições presentes no meio em que se encontra. b) A experiência sensorial é fonte de conhecimento, pois o desenvolvimento humano está relacionado com as capacidades inatas. c) A maturação biológica é tão importante quanto o papel do ambiente no desenvolvimento do ser humano e de suas capacidades. d) A concepção ambientalista defende que o desenvolvimento humano está relacionado com o ambiente em consonância com os fatores inatos. e) A aprendizagem é considerada exclusivamente como resultado dos fatores biológicos que modificam o comportamento humano. 4. (Vunesp/Adaptada) Com relação às principais características da concepção inatista do desenvolvimento humano é correto afirmar que: a) O ambiente interfere no processo de desenvolvimento espontâneo do ser humano. Assim, a educação e, portanto, a escola, possuem papéis fundamentais no processo de desenvolvimento, ou seja, na personalidade, nos valores, nos hábitos e crenças, na conduta social, nas relações emocionais, na forma de pensar e demais aspectos do ser humano. b) O papel do ambiente é amplo e essencial, pois determina as capacidades adaptativas e permite a sobrevivência dos seres humanos. c) Desvaloriza os fatores endógenos, ou seja, de origem interna do ser humano. Assim, nada pode ser feito externamente para estimular o processo de aprendizagem. d) O desenvolvimento cognitivo é resultado da interação dos aspectos hereditários com o ambiente. e) Parte do pressuposto de que os acontecimentos que ocorrem após o nascimento não são essenciais, fundamentais ou importantes para o desenvolvimento do ser humano. As qualidades e capacidades básicas já se encontram basicamente prontas e em sua forma final no nascimento, depois há pouca diferenciação qualitativa e quase nenhuma transformação ao longo da vida. 53 5. (Ludus/Adaptada) Uma autoridade educacional proferiu palestra sobre Concepções de Aprendizagem e Prática Escolar Contemporânea. Na sua apresentação, destacou as concepções: inatista e ambientalista. O item que define corretamente a concepção é: a) As concepções inatista e ambientalista têm o mesmo significado, ambas tratam das capacidades intelectuais do sujeito que aprende ativamente. b) As concepções inatista e ambientalista são diferentes porque o inatismo refere- se ao meio cultural do indivíduo e o ambientalismo explica as etapas de desenvolvimento da aprendizagem do sujeito. c) As concepções ambientalista e inatista possuem o mesmo sentido, porque definem o meio social como o único recurso para o desenvolvimento da aprendizagem. d) A concepção ambientalista e a inatista são comuns, pois veem o sujeito como o único responsável por sua aprendizagem. e) Nenhuma das alternativas acima está correta. 6. (CONTEMAX/Adaptada) Em decorrência de você estar atrasado para chegar ao trabalho em uma manhã, você dirige acima do limite de velocidade estabelecido. Como resultado, você é parado por um policial e recebe uma multa. Na referida situação, o que ocorreu segundo os comportamentalistas? (Bock, Furtado & Teixeira, 2000) a) Fuga. b) Esquiva. c) Punição. d) Generalização de estímulo. e) Discriminação de estímulo. 7. (FAU/Adaptada) Sobre as concepções behavioristas radicais/análise do comportamento relativas à área educacional é correto afirmar: a) Defesa do uso do controle aversivo do comportamento, por meio de punições, no 54 ambiente educativo. b) A crença de que o professor deve informar de maneira clara aos alunos quais os comportamentos são esperados. c) A defesa de que quanto mais espontâneo o processo de ensino-aprendizagem, melhor será para o estudante. d) A crença de que o professor pouco pode potencializar o desenvolvimento do aluno, pois ele já nasce com as suas características pré-estabelecidas. e) A defesa de que o professor deve iniciar o ano letivo exigindo muito dos estudantes, para que eles sintam medo e comportem-se de maneira adequada. 8. (FEPESE/ Adaptada) A respeito do Behaviorismo, é correto afirmar: 1) É uma corrente da Psicologia criada por Sigmund Freud. 2) O termo “behavior”, traduzido como “comportamento” para o português, permite identificar essa corrente teórica também como Comportamentalismo. 3) Para essa abordagem, o comportamento é o seu objeto de estudo. Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas. a) São corretas apenas as afirmativas 1 e 3. b) São corretas apenas as afirmativas 1 e 2. c) São corretas as afirmativas 1, 2 e 3. d) São corretas apenas as afirmativas 2 e 3. e) Está correta apenas a afirmativa 3. 55 CORRENTES EPISTEMOLÓGICAS: INTERACIONISMO 4.1 INTRODUÇÃO A corrente epistemológica interacionista compreende o desenvolvimento humano como resultado da interação entre os aspectos biológicos, orgânicos e ambientais, diferentemente do inatismo, que defende que as pessoas são determinadas exclusivamente pela hereditariedade e do ambientalismo, que acredita que apenas as experiências vão determinar esse desenvolvimento (DAVIS; OLIVEIRA, 1994). Considerando a relevância dos aspectos biológicos e do meio em que o sujeito está inserido, o interacionismo, como o próprio nome indica, considera a interação dessa pessoa com o seu meio, por isso, defende que o desenvolvimento humano vai depender dessa interação. No caso do ambiente escolar, podem-se considerar as relações do estudante com os seus colegas, com as professoras e com a comunidade escolar. A seguir serão apresentados os três principais autores interacionistas: Jean Piaget, Lev Vigotskie Henri Wallon. Apesar de fazerem parte da mesma corrente epistemológica, o interacionismo, eles possuem algumas diferenças (DAVIS; ALMEIDA; RIBEIRO; RACHMAN, 2012), conforme será abordado ao longo do capítulo e sintetizado no último item dessa unidade. 4.2 JEAN PIAGET Jean Piaget nasceu em 1896, na Suíça e morreu em 1980, no mesmo país. Piaget se formou em Biologia, estudou Psicologia, Epistemologia e Educação. Desde muito cedo, demonstrou interesse em pesquisa, aos 10 anos publicou o seu primeiro trabalho científico, intitulado “Pardal Albino” e, aos 11 anos começou a trabalhar no museu de História Natural, na Suíça. UNIDADE 04 56 Figura 6: Jean Piaget Fonte: Museu Educação Diversidade (2019) A partir de sua participação em uma pesquisa sobre padronização de testes psicológicos, passou a se interessar pelo cometimento do erro da criança e pelo conhecimento. Buscou compreender a gênese do pensamento humano e, com esse objetivo, elaborou uma das mais reconhecidas teorias psicológicas sobre o desenvolvimento infantil. Para Piaget (2001), assim como existe o desenvolvimento orgânico, existe o desenvolvimento psíquico, ambos ocorrem desde o nascimento até a vida adulta, quando atingem o equilíbrio. Enquanto no primeiro, o equilíbrio final é o crescimento e a maturidade dos órgãos, no desenvolvimento psíquico, o equilíbrio final é o “espírito adulto”. O equilíbrio orgânico é mais instável e tem uma evolução ascendente, regressiva, já o equilíbrio da mente é uma construção contínua, como a edificação de um grande prédio, mais sólido. Um importante conceito proposto por Piaget (2001) é o de equilibração progressiva, que é a passagem contínua de um estado de menor equilíbrio para o de maior, por exemplo, da inteligência, da afetividade. Em se tratando da educação escolar, pode-se considerar a aprendizagem, por exemplo, de um conceito complexo (tipo a multiplicação), a criança inicialmente, vai entender um conceito 57 mais simples (como a soma) para depois conseguir compreender a multiplicação. Diante de toda necessidade ou desequilíbrio, a criança faz uma ação (movimento, pensamento, sentimento) para encontrar o equilíbrio, na busca de uma equilibração. Toda necessidade/adaptação tende a (PIAGET, 2001): Assimilação: tentativa de solucionar uma situação usando uma estrutura já formada. Um novo elemento é incorporado ou assimilado a um sistema já pronto (tornar semelhante). Exemplo: a criança, na adaptação para começar a usar o copo “normal”, vai virá-lo completamente, da forma como fazia com o copo de “transição” (com tampa). Ou Acomodação: modificar estruturas antigas para dominar nova situação (adequar). Exemplo: O primeiro animal que a criança conhece é uma galinha, ela irá chamar todos os bichos de “cocó”, depois, ela vai compreender que cada animal tem um nome diferente e irá diferenciá-los, chamando-os de “auau”, “miau”. É importante destacar que o desequilíbrio fará com que o estudante busque estratégias (antigas ou novas) para alcançar o equilíbrio, nesse sentido, é papel da professora propor atividades, fazer questões que desequilibrem os seus alunos, de forma que eles ajam e/ou pensem para solucionar o problema apresentado. Piaget (2001) dividiu o desenvolvimento humano em quatro etapas ou estágios, que serão apresentados a seguir: Período Sensório motor (da lactância até por volta de um ano e meio/dois anos) Período Pré-operacional (dos dois aos sete anos) Período das Operações concretas (dos sete aos 12 anos) Período das Operações formais (adolescência) Período Sensório motor Com duração aproximadamente até um ano e meio, dois anos, este é um estágio decisivo para todo o desenvolvimento, de acordo com Piaget (2001), de tão complexas as mudanças que nele ocorrem, há uma verdadeira “Revolução copérnica em miniatura”. 58 Através da percepção e do movimento, a criança passa a ter uma conquista do universo prático. Piaget (2001) defendeu que não há passividade nesta etapa, prova disso são os reflexos de sucção: eles melhoram com o tempo, há uma generalização dessa atividade e, posteriormente, ocorrem discriminações ou reconhecimentos práticos, por exemplo, a criança passa a diferenciar o bico da mamadeira, da chupeta e do seio materno. Para esse autor, os conjuntos motores e perceptivos são reconhecidos como “esquemas senso-motores” (PIAGET, 2001), que nomeiam o estágio. A criança nesta fase tem uma inteligência prática ou senso motora, que aparece antes da linguagem e pode ser constatada através da manipulação de objetos, apesar de não haver o uso e a compreensão de palavras e conceitos, a criança percebe e se movimenta. Um conceito proposto por Piaget (2001) é o de reação circular, no qual resultados são primeiramente obtidos ao acaso e, depois, passam a ser alcançados por repetição, que demonstra a experimentação infantil. Por exemplo, a criança que está com a boca aberta, movimentando os braços e, em um primeiro momento, sem intenção, coloca a mão na boca, ela irá passar a ter a intencionalidade de pôr a mão na boca para explorar seu corpo e seu movimento. É importante que a criança seja estimulada a explorar o seu corpo e os objetos a sua volta, seja no ambiente doméstico, seja na escola. Período Pré-operacional Para Piaget (2001) este estágio ocorre entre os dois e sete anos e tem como principal aquisição o aparecimento da linguagem, por meio dela, a criança passa a ser capaz de reconstruir ações passadas, antecipar ações futuras, participar de trocas com outros indivíduos (início da socialização da ação), interiorizar a palavra (aparição do pensamento propriamente dito), interiorizar a ação. Nessa etapa, a criança que já “dominava” o universo físico, passa a compreender o mundo social e o mundo das representações. Na escola, é comum que as professoras utilizem imagens ou fotos para representar a rotina que terão em um determinado dia, as crianças nesse estágio conseguem compreender essa representação. Nos exemplos 59 abaixo, as crianças maiores provavelmente se atentariam às palavras, já as menores, focariam (e entenderiam) as ilustrações: Figura 7: Modelo de rotina escolar (exemplo de representação) Fonte: Disponível em https://bit.ly/2W2tSD4. Acesso em: 27 ago. 2021. Nesta etapa, com frequência, as crianças não falam somente às outras, mas para si mesmas, o que Piaget (2001) denominou de “linguagem egocêntrica”. Nos momentos de convivência em grupos, ocorrem os “monólogos coletivos”: quando observadas de longe, as crianças parecem conversar entre si, todavia, quando o observador se aproxima, constata que todas falam ao mesmo tempo, mas não interagem. Através de suas pesquisas, Piaget (2001) observou que nesse período ocorre a aparição de sentimentos morais intuitivos: a primeira moral da infantil é a obediência (heterônoma). Para as crianças dessa idade, não é ruim mentir para os colegas, pois eles não se importam. É inadequado mentir para os pais, pois eles não gostam. Quanto mais distante da realidade for uma mentirá, maior será a sua gravidade. Observa-se uma subordinação da criança em relação ao adulto, há uma submissão tanto intelectual quanto afetiva. A inteligência, de senso-motora ou prática, passa ao pensamento propriamente dito, sendo influenciado pela linguagem e pela socialização: “A linguagem é um veículo de conceitos e noções que pertence a todos e reforça o pensamento individual com um vasto sistema de pensamento coletivo” (PIAGET, 2001, p.28). As formas de pensamento típicas dessa idade são, inicialmente, um egocentrismo que exclui toda objetividade e, posteriormente, adaptado ao real (em uma preparação para o pensamento lógico). A intuição é a lógica da primeira 60 infância, a criança faz afirmações sem demonstração, isso pode ser justificado pelo egocentrismo, pela falta de domínio verbal e, principalmente, pela permanência em uma pré-lógica. São tendências do pensamento das crianças (PIAGET, 2001): Finalismo: tudo tem uma finalidade. Fase dos “porquês”, “onde” e o “que é”?: tudo existe por uma causa e um fim. Artificialismo ou crença que as coisas foram construídas pelo/a homem/mulher ou divindade. Animismo: tendência a conceber as coisas como vivas e dotadas de intenção, conforme a figura abaixo, em que uma criança brinca como se o urso de pelúcia fosse um paciente. Figura 8: Menina brincando de médica com o urso de pelúcia Fonte: Disponível em https://bit.ly/3tXSw48. Acesso em: 20 jun. 2021. É muito comum que as crianças nesse estágio se interessem pelo jogo simbólico ou de imaginação e imitação e essa é uma atividade duplamente egocêntrica, além de satisfazer o eu ao transformar o real, possibilita reviver o prazer e o conflito experienciado anteriormente, a criança é capaz de completar a realidade com a ficção. Com esse conhecimento advindo das pesquisas de Piaget (2001), os jogos de faz de conta costumam ser muito utilizados na escola, brincar de casinha, de alguma profissão (como cabelereiro, médico), esse tipo de atividade estimula a criatividade da criança, além de possibilitar que ela exerça a sua capacidade de representação e elaboração. 61 Período das Operações concretas De acordo com Piaget (2001), por volta dos setes anos, ocorre a escolarização efetiva, com isso, a criança passa a ter novas formas de organização, o que acarreta um equilíbrio mais estável. Entre os sete e 12 anos, observa-se um duplo progresso: a criança passa a ter capacidade de concentração individual e, ao mesmo tempo, de colaboração efetiva. No campo das relações interindividuais, constata-se que aumentam as discussões, as crianças passam a respeitar o ponto de vista do outro e a justificar as suas próprias ações. Há o desaparecimento da linguagem egocêntrica. Com a diminuição das condutas impulsivas e do egocentrismo, a criança pensa antes de agir (constata-se o início da reflexão). Observa-se também a redução do egocentrismo social e intelectual e o início da moral de cooperação e autonomia (PIAGET, 2001). As crianças nessa etapa do desenvolvimento costumam se interessar por jogos de regras, buscam a unidade das regras (ou seja, certificam-se que todos os participantes dos jogos usem as mesmas normas) e controlam o comportamento dos colegas. Nesse sentido, a professora pode propor jogos educativos que necessitem a compreensão e o respeito às regras, seja na educação física (através de jogos que possuem normas mais complexas) ou nas aulas teóricas, com o uso da adedanha, seja na aula de na aula de português (mais comum) ou na de matemática, conforme figura abaixo: 62 Figura 9: Modelo do uso da adedanha na matemática Fonte: Disponível em https://bit.ly/3tWkGwk. Acesso em: 27 ago. 2021. Período das Operações formais Piaget (2001) acreditava que durante a adolescência, as pessoas sentem que têm seus “poderes multiplicados” em relação à afetividade e ao pensamento. Em um primeiro momento, isso traz perturbação, mas, depois, esse sentimento fortalece o adolescente. Do “aprisionamento” no concreto, o adolescente conquista a capacidade de representações, das ideias, há a libertação do real. Ele passa a ser capaz de ter o pensamento hipotético-dedutivo: consegue deduzir as conclusões de hipóteses, não apenas de observação (PIAGET, 2001). Para Piaget (2001), nesta etapa do desenvolvimento, o sujeito busca certa igualdade e reciprocidade com adultos. No campo da moralidade, o adolescente compreende as regras, podendo inclusive construí-las, acordá-las, perceber a sua utilidade e, caso necessário, modificá-las. O adolescente experiencia um forte sentimento de justiça, neste momento, a intencionalidade da mentira é mais importante do que as suas consequências. 63 Diante das várias aquisições, tanto em termos cognitivos como afetivos, a escola deve estimular a participação ativa do adolescente, bem como o desenvolvimento do seu senso crítico. Como sugestões de atividades, destacam-se: debates, tarefas de pesquisa ativa, análise de casos reais e hipotéticos. 4.3 LEV VIGOTSKI Lev Semionovitch Vigotski nasceu em 1896, na Bielorrússia e morreu em 1934, na Rússia, vítima de tuberculose. Assim como Piaget, Vitgotski iniciou seus estudos muito novo, foram encontrados pequenos papéis com anotações sobre seus pensamentos de quando ele tinha 16 anos. Suas crises de tuberculose foram impulsionadoras, ele “corria contra o tempo” para conseguir sistematizar as suas teorias. (PRESTES, TUNES, 2015). De fato, sua morte prematura prejudicou a estruturação de suas obras. Figura 10: Lev Vigotski Fonte: Nova Escola (2008) 64 Vigotski formou-se Direito, estudou Psicologia, Educação, Arte, Linguística. Teve como interesse central: “o estudo da gênese dos processos psicológicos tipicamente humanos, em seu contexto histórico-cultural.” (REGO, 2020, p. 16), por isso, pesquisou sobre o aprendizado e desenvolvimento infantil. Um ponto a ser destacado na biografia de Vigotski é o fato de ele ser da então União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), isso fez com que o acesso às suas obras fosse escasso: seus livros chegaram ao Brasil apenas em 1984. Além disso, ele viveu em um período de grande instabilidade política (PRESTES, TUNES, 2015). Das muitas contribuições de Vigotski para a educação, destaca-se a sua crença na potência das crianças. De acordo com Mello (2015) ele defendeu a positividade no desenvolvimento humano, em detrimento à negatividade. Ainda hoje, as teorias sobre desenvolvimento e aprendizagem focam naquilo que a criança já sabe fazer, sem acreditar no que a criança é capaz de aprender. Para Vigostki, a atenção da aprendizagem deve estar no que a criança está pronta para aprender. Ele criou o importante conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) (OLIVEIRA, 1993). Zona de Desenvolvimento real: Aquilo que a criança sabe fazer sozinha Ciclos de desenvolvimentos já completados É nessa zona que incide a maioria das avaliações escolares. Zona de Desenvolvimento Potencial: O que a criança sabe fazer com ajuda de alguém mais experiente, seja por meio de diálogo, instrução, colaboração, assistência, imitação Aquilo que ainda não amadureceu, mas está em processo de maturação Refere-se às etapas posteriores do desenvolvimento. Zona de Desenvolvimento Proximal: é a distância entre a Zona de Desenvolvimento Real e a Potencial: a “Zona de Desenvolvimento Proximal define aquelas funções que ainda não amadureceram, que estão em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas estão em estado embrionário” (VIGOTSKI, 1984, p. 97, citado por Oliveira, 1993). A Zona de Desenvolvimento Proximal de hoje é a Zona de Desenvolvimento 65 Real de amanhã. Uma forma de explorar a ZDP na escola é utilizando uma pessoa mais experiente, como a própria professora ou uma colega para auxiliar o estudante, seja por meio do diálogo, da colaboração ou da imitação. Se, em um primeiro momento a criança irá necessitar desse apoio, com o tempo, esse auxílio já não será mais necessário. De acordo com Rego (2014), um ponto muito importante da teoria de Vigotski é a relevância concedida ao contexto para o desenvolvimento, para ele, não nascemos humanos, mas aprendemos a sê-lo na interação com o meio e com as pessoas ao nosso redor. É no contato com o outro que aprendemos. Por isso, Vigotski defende que o desenvolvimento não é universal, ele vai ocorrer de maneira diferente para cada pessoa, pois ela está inserida em um contexto histórico e cultural diferente (REGO, 2014). Uma criança que vive em uma grande cidade vai se desenvolver de maneira diferente de outra que mora na zona rural e de outra que vive em um pequeno município, se nos referimos às crianças que nasceram em 1980, 2000 ou 2020, o momento histórico também interfere. Os acessos a que cada uma delas também variam: desde a comida- o tipo, a quantidade-, até os brinquedos, a escola, a família e sua forma de organização. O desenvolvimento é resultado da interação do sujeito com o seumeio, sempre considerando a pessoa como um ser ativo e nunca passivo. É importante destacar que Vigotski atribui grande relevância ao contexto social e, ao mesmo tempo, considera também a maturação biológica (OLIVEIRA, 1993). O contexto sócio-histórico não interfere apenas na alimentação ou na escolarização de uma criança, mas também nos processos psicológicos superiores. Eles são de origem sociocultural e emergem dos processos elementares, de origem biológica, das estruturas orgânicas. Como exemplo dos processos psicológicos superiores, podemos citar: controle consciente do comportamento, atenção, 66 pensamento abstrato, capacidade de planejamento, ou seja, toda ação intencional e de liberdade do indivíduo (REGO, 2020). À medida que os humanos crescem eles passam a ter, cada vez mais, ações mediadas e menos ações diretas. A mediação é um processo de intervenção de um elemento intermediário em uma relação, que deixa de ser direta e passa a ser mediada (OLIVEIRA, 1993). A relação do estudante com um determinado autor, por exemplo, é mediada, seja pelo livro, seja pela professora. De acordo com Oliveira (1993), os elementos mediadores são os instrumentos e os signos. Os instrumentos são externos aos sujeitos, podem ser usados por seres humanos ou por animais, como a vareta que é utilizada para alcançar uma fruta no topo da árvore, a pá para cavar a terra. Já os signos, ainda segundo Oliveira (1993), são usados apenas pelos seres humanos, são como “instrumentos psicológicos”, ou seja, são ferramentas que auxiliam nos processos psicológicos e não na ação concreta, com isso, há a libertação do mundo concreto e a possibilidade de fazer operações mentais. São elementos que representam/expressam objetos, situações. O sistema simbólico básico é a linguagem, cujas principais funções são: o intercâmbio social e o pensamento generalizante (conceito compartilhado, agrupamento de uma categoria e diferenciação de outras) (REGO, 2020). Uma das obras mais importantes de Vigotski é o livro “Pensamento e Linguagem”, nele, o autor explora a interrelação entre esses dois processos. O desenvolvimento do pensamento e da linguagem têm origens e trajetórias diferentes. Existe uma fase pré-verbal do desenvolvimento do pensamento (inteligência prática, com utilização de instrumentos) e uma fase pré-intelectual do desenvolvimento da linguagem (com utilização de sons, gestos e expressões para alívio emocional/ contato com o grupo, mas, nesse momento, a linguagem ainda não tem a função de símbolo) (OLIVEIRA, 1993). Na análise de Oliveira (1993), baseando-se em Vigotski, as trajetórias do pensamento e da linguagem iniciam-se desvinculadas e, em um momento do desenvolvimento filogenético, unem-se, fazendo com que o pensamento passe a ser verbal e a linguagem racional. Para Vigotski, o significado de uma palavra é a mistura do pensamento e da linguagem. E, ainda a esse respeito, o autor demonstra a importância do contexto sócio-histórico para o pensamento e para a linguagem: o significado de uma palavra 67 é compartilhado, social, objetivo e mais estável- apesar de ser passível de transformação. Por exemplo, o termo “boêmio”, antigamente, referia-se estritamente à pessoa oriunda da Boêmia, com o passar dos anos, passou a ser compreendido também como errante, nômade, desregrado. Além do significado, as palavras têm sentido, que é pessoal, subjetivo e menos estável, muda ao longo do desenvolvimento (OLIVEIRA, 1993). Para ilustrar a diferença entre significado e sentido, considere a palavra escola: Significado: “Estabelecimento de ensino coletivo, público ou particular” (DICIONÁRIO AULETE, 2021, online). Sentido: a) para uma criança que gosta da escola: lugar agradável ; b) para uma criança que ainda está se adaptando ao ambiente escolar: lugar em que não me sinto segura e confortável; c) para uma mãe: instituição que meus filhos aprendem; d) para um professor: lugar em que eu trabalho. Dessa forma, entende-se que a linguagem, como a falada, tem um aspecto social, compartilhado e compreendido por todos, além de uma dimensão subjetiva, que vai depender de cada sujeito. Diante do exposto, uma prática docente baseada nos pressupostos de Vigotski deve considerar que o desenvolvimento acontece inserido em um contexto: a linguagem escrita, falada vai depender do meio do estudante e da escola, trata-se do ambiente rural ou urbano? Esses são fatores que devem ser considerados no momento da aprendizagem. Além disso, é importante acreditar na capacidade do estudante de aprender e de resolver problemas, como os conflitos com os colegas. A docente, sob essa perspectiva deve lançar as questões para os alunos: “como vamos resolver essa disputa de quem vai ficar em qual grupo de trabalho? Quais as ferramentas podemos usar para solucionar esse problema matemático?” ao invés de simplesmente impor uma resposta. Com isso, a educação irá estimular a aprendizagem e o desenvolvimento dos estudantes. Considerando a importância da interação para esse desenvolvimento, é importante também que sejam propostas atividades para serem realizadas com a ajuda de outras pessoas, seja a professora, seja os colegas. Com o tempo, o aluno irá conseguir concluí-las sem o apoio (MELLO, 2015) e novos 68 desafios poderão ser apresentados. 4.4 HENRI WALLON Wallon nasceu na França, em 1879 e morreu nesse mesmo país, no ano de 1962. Estudou Filosofia e Medicina, foi médico do exército francês e em instituições psiquiátricas. Debruçou-se sobre a pesquisa em Educação e crianças. Ele chegou a ingressar na carreira política, tendo sido um dos responsáveis por uma proposta de reforma do sistema de ensino francês. Suas experiências pessoais o fizeram defender os valores de solidariedade, justiça e antirracismo na escola (GRATIOT-ALPHANDÉRY, 1994). Figura 11: Henri Wallon Fonte: Site Nova Escola (2011) Wallon defendia que a aprendizagem é composta por fenômenos psicológicos e pedagógicos. Para ele, compreender o indivíduo em sua totalidade 69 pressupõe a visão integrada da pessoa: seu desenvolvimento cognitivo, motor e afetivo, sendo que o sujeito está em contínuo processo de desenvolvimento e que, em cada momento, a pessoa é uma totalidade (que é a integração desses três conjuntos- motor, afetivo e cognitivo. (MAHONEY; ALMEIDA, 2012). Uma das grandes contribuições de Wallon para a educação é a consideração da afetividade no desenvolvimento humano, especialmente no ambiente escolar. Para além de ser compreendida como algo agradável ou desagradável, essa deve ser entendida como a capacidade ou disposição que as pessoas têm de serem afetadas pelo mundo externo e interno. Dessa maneira, a relação interpessoal, principalmente na escola é determinante: “A forma como o professor se relaciona com o aluno reflete nas relações do aluno com o conhecimento e nas relações aluno-aluno” (MAHONEY, ALMEIDA, 2005, p. 26). Para que a relação entre educadora e estudante seja positiva, é importante que ela compreenda que o aluno tem diferentes motivações para estar na escola, bem como, que ele já possui alguns saberes. É de extrema relevância que a educadora confie na capacidade do estudante (indo ao encontro do proposto por Vigotski) e o respeite. Para Almeida (2012) respeitar o estudante significa: conhecê-lo em sua etapa de formação e conhecer os meios em que se desenvolve, além disso, deve-se seguir o ritmo do seu desenvolvimento, além de disponibilizar outros meios para que ele possa aprender. Assim como Vigotski, Wallon também acreditava que os indivíduos são produzidos historicamente, em interação com o meio e que, assim como o meio modifica o ser humano, ele também modifica o seu meio. Assim sendo, esses autores defendem a natureza social das pessoas. Wallon descreveu três leis reguladoras do desenvolvimento humano, descritas no quadro abaixo: Quadro 2: Leis wallonianas do desenvolvimento humano 1ª lei Lei da Alternância funcional Indica duas direções opostas quese alternam ao longo do desenvolvimento: a centrípeta (voltada para a construção do eu) e a centrífuga (voltada para a elaboração da realidade externa) 2ª lei Lei da Preponderância funcional As três dimensões (motora, afetiva e cognitiva) sobressaem-se, alternadamente, ao longo do desenvolvimento do sujeito. 70 3ª lei Lei da Diferenciação e Integraçãofuncional As novas possibilidades não se anulam ou se justapõe às conquistas dos estágios anteriores, mas sim integram-se a elas nas etapas seguintes. Fonte: Dourado e Prandini (2012, p. 25) Para Wallon, o desenvolvimento humano não ocorre de maneira linear e contínua (como proposto por Piaget) e é resultado da maturação orgânica e do exercício funcional. (DOURADO; PRANDINI, 2012). Esse estudioso descreveu cinco estágios do desenvolvimento que foram nomeados e divididos da seguinte forma: Impulsivo emocional (0 a 1 ano), Sensório motor e Projetivo (1 a 3 anos), Personalismo (3 a 6 anos), Categorial (6 a 11 anos) e Puberdade e Adolescência (11 anos em diante). Em seguida descreveremos brevemente cada um desses estágios. Estágio impulsivo emocional Esse período inicia-se no nascimento e perdura até o primeiro ano da criança. Observa-se nas crianças nesse estágio uma inaptidão prolongada, há total dependência das pessoas ao seu redor para interpretar e responder às demandas infantis. No início da vida da criança, na imersão no mundo social, não há delimitação entre ela e o outro, nem entre o mundo exterior e sujeito (DUARTE; GULASSA, 2012). Assim como Piaget, Wallon também descreveu as atividades circulares, que são movimentos inicialmente casuais, que passam a ser repetidos intencionalmente para que a criança possa conhecer os efeitos desses movimentos e suas variações. Esse é um importante instrumento de aprendizagem, que possibilita o conhecimento próprio e dos objetos, além do desenvolvimento de gestos mais precisos e úteis (DUARTE; GULASSA, 2012). Se a criança estiver na escola, ou mesmo em casa, é importante que a professora (ou a pessoa cuidadora) a estimule nessa experimentação, por exemplo, permitindo-a jogar a colher longe e perto, tocar nas folhas apertando-as, hora com força, hora soltando-as. 71 Estágio sensório-motor e projetivo Esse período inicia-se geralmente no primeiro ano e vai até o terceiro ano de idade. Suas duas principais novidades, que são grandes aquisições para todo o desenvolvimento humano, são a marcha e linguagem, sendo que ambas favorecem a atuação da criança no mundo e sua maior independência (COSTA, 2012). O andar possibilita à criança conhecer mais objetos (não apenas aqueles que estão ao seu alcance próximo), medir distâncias, variar direções, transportar objetos, ampliar a liberdade de explorar, reconhecer os objetos, os espaços e a si, além de facilitar o desenvolvimento da “inteligência das situações”. Ainda de acordo com Costa (2012), ao mesmo tempo em que ocorre o desenvolvimento dessa inteligência prática, o conhecimento da linguagem possibilita à criança nomear, identificar, diferenciar e agrupar objetos, além de uma outra forma de exploração do mundo, o das representações. No ambiente escolar, a criança nesse estágio precisa ser estimulada a descobrir diferentes ambientes e objetos, além de tentar se comunicar. É muito comum que a entrada da criança pequena na escola signifique um grande avanço em sua capacidade de comunicação, se antes, no ambiente doméstico, a pessoa cuidadora muitas vezes se antecipava às necessidades infantil e estava totalmente voltada para uma criança, na escola, o estudante deve ser capaz de mostrar para a professora quando quer alguma coisa, por exemplo, um determinado brinquedo. Estágio do Personalismo A ocorrência desse período é, geralmente, dos três aos seis anos. Nele, a criança explora a si mesma como um ser diferente dos outros, sendo a tarefa central o processo de discriminação entre eu e outro (separação e distinção). É muito comum nesse estágio o uso de expressões como “eu”, “meu”, “não”, que demonstram a evolução da linguagem e o início da consciência de si (BASTOS; DÉR, 2012). Através da consciência corporal, há a unificação das partes do corpo em uma totalidade, sendo essa uma condição fundamental para tomada de consciência de si e do processo de diferenciação eu e outro. Por isso a importância de atividades escolares que explorem o próprio corpo: olhar-se no espelho, conhecer e nomear as partes do corpo, fazer desenhos do corpo, seja em menor escala (como no papel A4), seja em larga escala (como a tarefa de pedir que a criança se deite para que 72 seja feito o contorno do seu corpo no chão). Em um primeiro momento, há a constituição do eu corporal, para depois ocorrer a constituição do objeto e, finalmente, a constituição do eu psíquico. Ainda para Bastos e Dér (2012), baseando-se nos estudos de Wallon, durante o estágio do Personalismo, há três fases: a da oposição, da sedução e da imitação, conforme descrição a seguir. É importante que a professora considere essas etapas para compreender a maneira como a criança se relaciona com os colegas, com ela e com a própria educadora. Na fase da oposição, também conhecida como de recusa e reivindicação, que ocorre geralmente por volta dos três anos, é comum que a criança apresente crises intensas e muitas vezes sem motivo aparente, as famosas birras. Essas crises precisam ser compreendidas como uma busca de afirmação de si, de se constituir como um eu que está se diferenciando do outro. A criança sente prazer em contradizer e confrontar, pois, está experimentando a sua independência. Na fase da sedução, ou idade da graça, a criança sente a necessidade de ser admirada, de sentir que agrada, uma vez que, assim, vai se admirar também. É comum que ela alterne entre graça e timidez, habilidade e falta de habilidade. Se na etapa anterior, as expressões mais faladas pela criança eram “não” e “é meu”, agora, a ela fala bastante “olha como faço, olha como consigo”, com o objetivo de alcançar o apoio e a aprovação. É importante que a professora valorize a produção da estudante, acompanhe o seu desenvolvimento e aponte-o para ela, por exemplo: “anteriormente você não sabia contar até 10, agora você aprendeu, parabéns!” Na fase da imitação, é como se as qualidades da criança não fossem mais suficientes, assim sendo, as pessoas que a criança admira servem como modelo, ela apodera-se de suas qualidades: copia e assimila as qualidades do outro (BASTOS; DÉR, 2012). Por sua proximidade e consideração pela professora, é comum que a criança a eleja como alguém a ser imitado. Por isso, a educadora deve ter consciência que as crianças vão observar todas as suas ações e, muito provavelmente, vão querer fazer aquilo que veem (não apenas o que escutam!). Estágio Categorial De acordo com Amaral (2012), esse estágio ocorre geralmente entre os seis e os 11 anos de idade. Nele, observa-se maior estabilidade do que nos estágios 73 anteriores, seus processos são mais regulares. As várias habilidades que a criança conquistou, bem como os diferentes meios nos quais convive, possibilitam que ela aprenda a se conhecer melhor. O desenvolvimento biológico somado à inserção no meio humano, viabilizam a autodisciplina mental (atenção), isso faz com que a criança se mantenha atenta por mais tempo, consiga desconsiderar outros estímulos e responder ao que lhe interessa. As atividades escolares devem explorar essa conquista, podendo ser mais demoradas e complexas, por exemplo, os textos/livros, podem ser mais longos. Esse estágio é divido em duas fases, a pré-categorial (que ocorre até por volta dos nove anos) e a categorial (AMARAL, 2012): A primeira forma de organização intelectual da criança é por pares. Ela não consegue se ater a uma unidade, apenas em relação. A criança estabelece relações consideradas “desconexas” pelos adultos, ela não distingue fato e causa. Essas relações ocorrem por vivência, contraste, parentesco ou até mesmoaproximação sonora. Com o desenvolvimento da criança, ela passa a ter um sentimento de inadequação e busca ajustar melhor suas representações. Isso faz com que ela passe chegue à fase categorial. No pensamento categorial, a criança passa a ser capaz de diferenciar a realidade, o mito, a religião, ela consegue nomear, agrupar, comparar, identificar, analisar, definir e classificar objetos e acontecimentos. Agora, as relações que estabelece têm nexo. Apesar de ainda não compreender completamente a abstração e o conceito, a criança tem conhecimento das relações temporais, espaciais e causais. Isso possibilita que as crianças tenham maior compreensão de fatos históricos, bem como consigam compreender histórias e estabelecer nexos causais. Estágio da Puberdade e da Adolescência Período que se inicia por volta dos 11/12 anos de idade, em que há um rompimento brusco da relação mais estável vivida no estágio anterior, entre a criança, os adultos e o mundo que a cerca. A necessidade de conquista, aventura e independência estimularão a união com outros adolescentes, o encontro de formas comuns de expressão (DÉR; FERRARI, 2012). Na escola, atividades em grupo que estimulem os debates e expressão/respeito às diferentes opiniões são muito benéficas nessa etapa do desenvolvimento. 74 A crise da puberdade, fato biológico, afeta todas as dimensões do desenvolvimento humano. O amadurecimento sexual propicia mudanças fisiológicas, além de transformações corporais e psíquicas. Esse “novo” corpo faz com que o adolescente seja desajeitado, não se reconheça e, para reajustar-se, ele precisa realizar um verdadeiro mergulho em si. Para que ocorra a apropriação desse corpo, muitos adolescentes ficam horas se olhando no espelho (DÉR; FERRARI, 2012). Na contemporaneidade, as “selfies” também auxiliam nessa adaptação. A escola pode estimular a apropriação desse novo corpo, propondo trabalhos de autoconhecimento, de reconhecimento e respeito às diferenças. 4.5 COMPARAÇÃO ENTRE OS AUTORES Conforme abordado anteriormente, Piaget, Vigotski e Wallon possuem algumas semelhanças e diferenças. Como similitudes, pode-se destacar o fato de que os três pensavam o ser humano como ser social e, ao mesmo tempo consideravam a base biológica do funcionamento psicológico, além disso, defendiam o conhecimento como uma construção gradual (RODRIGUES, 2015). Já entre as diferenças, os principais pontos são os estágios do desenvolvimento: para Piaget, eles ocorrem de forma ordenada e universal, Wallon acreditava que acontecem de maneira não linear e apresentam rupturas, enquanto Vigotski não estabelece estágios universais do desenvolvimento (RODRIGUES, 2015). Outro ponto divergente são as condições para esse desenvolvimento, Piaget defendia que era a maturação biológica, para Vigotski, seria a interação, ao passo que Wallon afirmava ser a afetividade (RODRIGUES, 2015). Dada a complexidade das teorias de Piaget, Vigotski e Wallon e como forma de auxiliar a análise comparativa de suas teorias, abaixo encontra-se um quadro que traz algumas diferenças e semelhanças desses autores. 75 Quadro 3: Comparação Piaget, Vigotski e Wallon Piaget Vigotski Wallon Nascimento/morte 1896-1980 1896-1934 1879-1962 País de origem Suíça Bielorrússia França Inteligência/busca de conhecimento É alcançada gradativamente no percurso dos estágios universais, pré-determinados pelo desenvolvimento biológico. Função psicológica especificamente humana. Surge no contato com outras pessoas e, só então é internalizada. Emerge da relação indissociável entre desenvolvimento biológico e psíquico. Afeto e cognição têm ação recíproca. Aprendizagem Estrutura-se no processo de equilibração (assimilação e a acomodação) Adianta-se ao processo de desenvolvimento. Tem caráter social e cultural. Processo dirigido de acordo com o momento de desenvolvimento do aluno. Estudante Ser em desenvolvimento intelectual que avança com base em estágios pré- estabelecidos pelo desenvolvimento biológico. Ser social que se apropria dos instrumentos e dos sistemas simbólicos mediadores. Na interação avança para níveis potenciais. Sujeito concreto e completo. Desenvolve-se em estágios, de modo engajado, integrado em um mundo que ele mesmo projeta. Professora Deve considerar o estágio de desenvolvimento do aluno para desequilibrar os esquemas já dominados e, com isso, motivar a aprendizagem. É a mais experiente na tarefa. Regula e controla os processos de ensino e aprendizagem do aluno explorando a ZDP. Deve considerar o aluno em sua totalidade e completude. Para além do desenvolvimento intelectual, busca o desenvolvimento da pessoa. Relações sociais\ sociabilidade O sujeito se beneficia das interações de acordo com as possibilidades dadas pelo estágio de desenvolvimento em que se encontra. O desenvolvimento depende da internalização de conhecimentos presentes no meio social, vai do intersubjetivo para o intrasubjetivo. Devem ser justas e democráticas. A sociabilidade é essencial na síntese dialética entre cognição e afetividade. Fonte: Disponível em https://bit.ly/3Az3QGs. Acesso em: 20 jun. 2021. 76 77 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (Unoesc – Professor/ Adaptada) Piaget, Vygotsky e Wallon tentaram mostrar que a capacidade de conhecer e aprender se constrói a partir das trocas estabelecidas entre o sujeito e o meio. As teorias sociointeracionistas concebem, portanto: I. O desenvolvimento infantil como um processo dinâmico, pois as crianças são ativas. II. Através da interação com outras crianças e adultos, as crianças vão desenvolvendo a capacidade afetiva. III. A articulação entre os diferentes níveis de desenvolvimento (motor, afetivo e cognitivo) não se dá de forma isolada. IV. Os estudos desses teóricos têm possibilitado uma nova compreensão do desenvolvimento infantil. Assinale a alternativa que contém apenas assertivas corretas: a) I e III. b) I, II, III e IV. c) II, III e IV. d) I, II e IV. e) III e IV. 2. (IMPARH - Professor – Pedagogia/Adaptada) Dentre os teóricos que abordam a questão do desenvolvimento e sua relação com a aprendizagem, consideremos Jean Piaget e Henri Wallon, e, analisando as principais características de cada uma das teorias citadas, relacione as colunas I e II. Coluna I 1. Jean Piaget 2. Henri Wallon Coluna II 78 ( ) A criança é um ser completo em que os três campos funcionais – o motor, o afetivo e o cognitivo – são indissociáveis. O desenvolvimento de um causa impactos qualitativos nos demais. ( ) A afetividade, em maior ou menor grau, está presente em todos os estágios do desenvolvimento. ( ) A assimilação é a incorporação dos dados da realidade nos esquemas disponíveis no sujeito. ( ) O conhecimento é a equilibração/reequilibração entre assimilação e acomodação, ou seja, entre os indivíduos e os objetos do mundo. A opção que contém a sequência correta, de cima para baixo, é: a) 2, 2, 1, 1. b) 1, 2, 1, 2. c) 2, 1, 1, 2. d) 1, 2, 1, 1. e) 1, 1, 2, 2. 3. (AMEOSC - Psicopedagogo/Adaptada) Vygotsky defende a ideia de que, para verificar o nível de desenvolvimento da criança, temos que determinar níveis de desenvolvimento: I. O primeiro deles seria o nível de desenvolvimento efetivo, que se faz através dos testes que estabelecem a idade mental, isto é, aqueles que a criança é capaz de realizar por si mesma; II. O segundo deles se constituiria na área de desenvolvimento potencial, que se refere a tudo aquilo que a criança é capaz de fazer com a ajuda dos demais, seja por imitação, demonstração, entre outros; III. O terceiro deles se refere ao plano do inconsciente individual e de suas relações e interfaces com o inconsciente coletivo. Sobre os itens acima podemos afirmar: a) Todos estão corretos. 79 b) Todos estão incorretos. c) Apenas I está correto. d) Apenas III está incorreto. e) Apenas II está correto. 4. (Instituto Unifil – Professor/Adaptada) Em relação aos fatores importantes da teoria de Vygotsky, relacione as colunas e, em seguida, assinalea alternativa que apresenta a sequência correta. A) Mediação B) Linguagem C) Cultura D) Processo de interiorização ( ) universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real. ( ) que envolve um componente interno e outro externo e que sendo interpessoal se torna intrapessoal. ( ) o conhecimento é adquirido através da interação com vários interlocutores, numa relação em que todos os envolvidos são ativos. ( ) sistema simbólico de significados e significantes dos grupos humanos que favorece o intercâmbio social e o fenômeno do pensamento. a) A – B – C – D. b) C – D – A – B. c) D – C – B – A. d) A – B – D – C. e) B – A- D- C. 5. (IMPARH - Professor Substituto/Adaptada) O jogo tem um papel importante na vida da criança. O jogo está estritamente relacionado com o processo evolutivo do pensamento, “jogar é pensar” (PIAGET, 1975). Em relação à utilização de jogos como ferramenta de ensino e aprendizagem, é CORRETO afirmar. a) O jogo, por ser lúdico, permite o desenvolvimento social e não a aprendizagem de 80 conceitos. b) Na atividade de jogo, o professor pode estimular a inteligência, assim como tornar mais rica a própria linguagem do aluno. c) O jogo emerge da estrutura cognitiva sem contribuir para sua construção. d) Os jogos substituem os trabalhos de sala de aula, assim, devem se transformar em tarefas obrigatórias. e) Os jogos são atividades que devem ser realizadas restritamente em casa, não devem ser utilizados na escola. 6. (FUNDATEC - Auxiliar de Classe/Adaptada) Para Piaget, o que marca a passagem do período sensório-motor para o pré-operacional na criança? a) A linguagem. b) A abstração. c) A moralidade. d) A subjetividade. e) O pensamento hipotético dedutivo. 7. (VUNESP- Professor) Wallon afirmava que toda pessoa constitui um sistema específico e ótimo de trocas com o meio. Para Wallon, conforme Oliveira (2002), esse sistema integra as ações da pessoa num processo de equilíbrio funcional que envolve a) Motricidade, afeto e cognição. b) Consciência, inteligência e motricidade. c) Inteligência, afetividade e cumplicidade. d) Afetividade, autoconhecimento e interação. e) Psicomotricidade, afetividade e sensibilidade. 8. (Fundação Euclides da Cunha/Adaptada) A teoria do desenvolvimento de Henri Wallon (1879-1962), é fundamental para compreender a dimensão afetiva do processo ensino-aprendizagem. Também o educador Paulo Freire em Pedagogia da Autonomia afirma que “ensinar exige querer bem aos educandos”. 81 A teoria de desenvolvimento de Wallon ao considerar a dimensão afetiva articulada ao processo ensino-aprendizagem explicita as seguintes questões: I. O desenvolvimento da pessoa pressupõe um processo constante de transformações, durante toda a vida; II. A teoria do desenvolvimento tem como foco a interação da criança com o meio, a relação entre os fatores orgânicos e socioculturais; III. A afetividade é elemento relevante do processo ensino-aprendizagem para aumentar a sua eficácia; IV. O estudo da criança independe do conhecimento e da compreensão do meio em que ela se desenvolve; Dos itens acima mencionados, estão corretos: a) I, II, III e IV. b) apenas I e II. c) apenas I, III e IV. d) apenas III e V. e) apenas I, II e III. 82 TEORIAS DAS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS: APLICABILIDADE E RESULTADOS 5.1 INTELIGÊNCIA: INTRODUÇÃO O que é ser inteligente? Quais as habilidades necessárias para se considerar uma pessoa inteligente? Essas são perguntas complexas que não têm uma única resposta: se feitas à uma jogadora de futebol, a resposta será diferente da dada por um estilista ou por uma investidora financeira. Mesmo entre pessoas que têm uma mesma profissão, as repostas provavelmente serão diferentes, por exemplo, entre educadoras de matemática, de história, de artes e de educação física. Antes de adentramos nessa discussão, faz-se importante conceituar inteligência, embora não haja um consenso sobre essa definição, para Bee e Boyd (2011, p. 2011) a inteligência é: Um conjunto de capacidades definidas de várias formas por diferentes psicólogos, mas que geralmente inclui a capacidade de raciocinar de maneira abstrata, a capacidade de tirar proveito da experiência e a capacidade de se adaptar a contextos ambientais variáveis. Nesta unidade, serão discutidas questões relacionadas à inteligência, afinal, é possível falar de um único tipo de inteligência? As pesquisas têm mostrado que não, apesar de existirem conhecimentos mais reconhecidos socialmente do que outros, conforme será abordado a seguir. Os inatistas Galton e Binet acreditavam que a inteligência era herdada, como uma espécie de dom, independentemente da educação e do empenho do estudante (LOPES et al., 2016). Pesquisas atuais têm apontado para a importância da escolaridade e para os pertencimentos de raça-etnia e cultura para o desenvolvimento da inteligência, como as relatadas por Papalia, Olds e Feldman (2009), além dos estudos que relacionam a inteligência às condições socioeconômicas, bem como à interação entre pais e filhos, como os citados por Bee e Boyd (2011). UNIDADE 05 83 5.2 INTELIGÊNCIA OU INTELIGÊNCIAS? Na década de 1980, Gardner, um importante psicólogo estadunidense, passou a defender que não se pode dizer que existe apenas um tipo de inteligência. Em um primeiro momento, ele acreditava que existiam sete tipos: além das três que eram comumente medidas pelos testes de inteligência tradicionais (a linguística, a lógico matemática e a espacial), ele acrescentou também a inteligência a musical, a corpóreo cinestésica, a interpessoal e a intrapessoal. Em 1998, ele somou a esses sete tipos de inteligência a naturalística (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 2009). Estava então criada a teoria das inteligências múltiplas (IM). No quadro abaixo são apresentados os oito tipos de inteligência propostos por Gardner: Quadro 4: Inteligências múltiplas Gardner (1993 e 1998) Inteligência Definição Campos ou ocupações em que são usadas Linguística Habilidade de usar e entender palavras e as nuances de seus significados Escrita, edição, tradução Lógico matemática Habilidade de manipular números e resolver problemas lógicos Ciências, negócios, medicina Espacial Habilidade de encontrar o caminho em um ambiente e avaliar as relações espaciais entre objetos Arquitetura, marcenaria, urbanismo Musical Habilidade de perceber e criar padrões de som e ritmo Composição musical, regência Corporal cinestésica Habilidade de se movimentar com precisão Dança, esportes, cirurgia Interpessoal Habilidade de entender os outros e comunicar-se com eles Ensino, atuação, política Intrapessoal Habilidade de entender a si mesmo Orientação psicológica, psiquiatria, liderança espiritual Naturalista Habilidade de estabelecer a diferença entre espécies e suas características Caça, pesca, agricultura. Jardinagem, cozinha Fonte: Papalia, Olds, Feldman (2009, p. 336) 84 De acordo com Gardner, uma pessoa pode ser muito habilidosa em mais de uma área e apresentar dificuldades em outras. Além disso, a forma como os testes tradicionais de inteligência, por exemplo o Quociente de Inteligência (QI), foram estruturados, ter altas habilidades em tipos de inteligência menos reconhecidas socialmente, como a naturalista, não significará que o estudante terá um resultado elevado nesse inventário (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 2009). Como crítica aos testes de inteligência, que valorizam algumas habilidades e negligenciam outras, Gardner observa o produto para avaliar a inteligência: a capacidade para contar uma história ou se movimentar, por exemplo (PAPALIA, OLDS, FELDMAN, 2009). Segundo o site oficial do Professor Gardner, as duas principais consequências científicas da descoberta das inteligências múltiplas são: As inteligências são como uma espécie de “kit de ferramentas intelectual” das pessoas. Exceto aquelas gravemente debilitadas, todas têm a capacidade de desenvolver os múltiplos tipos de inteligência. Além disso, mesmoentre gêmeos, não há perfil de inteligência idêntico, cada essoa tem um perfil único, determinado por fatores genéticos e fruto das experiências vividas (GARDNER, 2021). Ainda segundo Gardner também elenca duas implicações educacionais da teoria das múltiplas inteligências: Como cada estudante tem o seu perfil de inteligência, a forma de ensinar e de avaliar das escolas deve ser individualizada ou personalizada, de forma que a pessoa possa aprender e demonstrar como aprendeu. É necessário que se busque a pluralização, tanto de conceitos como de habilidades, que devem ser ensinados de maneiras diversas, de forma que atinjam o maior número possível de estudantes. Com isso, a professora terá a 85 possibilidade de ensinar aos alunos como deve agir um especialista: aquele que é capaz de pensar em algo de diversas maneiras (GARDNER, 2021). Com o grande reconhecimento da teoria das múltiplas inteligências, muitas falsas afirmações foram atribuídas ao Professor Gardner ou como sendo desdobramentos de seus estudos iniciais. Algumas interpretações erradas dessa teoria são: De que há uma relação entre impressão digital e inteligência; De que há diferenças sexuais ou de raça no perfil de inteligência. Gardner, em seu site, alerta para o perigo dessa afirmação, inclusive como uso imoral e antiético de sua teoria (GARDNER, 2021). Outro ponto desmentido por Gardner é que haveria apenas um modelo educacional baseado em sua teoria, ao reconhecer a capacidade da professora, ele defende: “Sempre há um abismo entre as afirmações científicas e as práticas de sala de aula; como tal, os educadores estão na melhor posição para determinar se e em que medida a teoria das IM deve guiar sua prática” (GARDNER, 2021, online). A teoria das inteligências múltiplas foi utilizada em vários projetos ao redor do mundo, abaixo serão apresentados três deles: Projeto Spectrum/Zero: objetiva desenvolver currículos e avaliações para os anos iniciais de escolarização, partindo do pressuposto de que cada estudante tem um perfil de inteligência, e que esse não é fixo, buscando aprimorá-lo através de atividades realizadas em um ambiente estimulante. Ressalta a importância de a professora conhecer o seu aluno, suas potencialidades e, diante dessas informações, criar um programa de aprendizagem personalizado (GARDNER, 2021). Parque Explorama/Universe: foi inicialmente baseado na teoria das inteligências múltiplas, encontra-se na Dinamarca. Nele, há as atrações que unem conceitos científicos e curiosidade (GARDNER, 2021). Laboratório de Aprendizagem em Artes Multimídia (SMALLab): foi desenvolvido por pesquisadores da Universidade do Arizona (Estados Unidos), por meio de tecnologia e da imersão, os estudantes usam os seus sentidos para vivenciar em seu corpo o que estão aprendendo, como conceitos físicos, por exemplo, ao invés de apenas conhecerem de forma abstrata (GARDNER, 2021). 86 Figura 12: Fotografia de um experimento do SMALLab Fonte: Disponível em https://bit.ly/39o3dDF. Acesso em: 20 jun. 2021. Diante do exposto, constata-se que são pontos importantes da teoria das inteligências múltiplas: a individualização do ensino, afinal, cada estudante tem um perfil de inteligência, e a pluralização desse ensino, de forma que ele seja apresentado para o aluno de diversas maneiras. Para tanto, é importante que as(os) educadores (as) sejam criativos(as) e consigam definir quais os conteúdos mais adequados, quando possível e, principalmente, quais os métodos mais estimulantes para aquela turma, aquele estudante. 87 88 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (IESES - 2021 - Prefeitura de Palhoça - SC - Pedagogo/ Adaptada) Criada pelo cientista norte americano Howard Gardner, na década de 1980, essa teoria causou grande impacto na área educacional. Segundo Gardner (1995), é necessário que sejam revistas as competências e as habilidades dos seres humanos. Que deixemos de supervalorizar os aspectos linguísticos e lógico matemáticos e que vejamos o ser humano como um todo. Partindo do princípio de que todos nós somos diferentes na maneira de agir, sentir e pensar, deveriam, então, ser consideradas as “habilidades” ou “dons” de cada um como inteligências, além das capacidades linguísticas e lógico matemáticas: a) Teoria do Ensino Tradicional. b) Teoria da Linguagem. c) Teoria do Quociente de Inteligência. d) Teoria das Inteligências Múltiplas e) Teoria Inatista 2. (IBADE - SEE-AC – Professor/ Adaptada) Sobre a utilização da teoria das inteligências múltiplas de Gardner na prática escolar, está correto afirmar que a(s) inteligência(s): a) Agem de forma independente umas das outras. b) São inatas e não podem ser estimuladas. c) Combinam-se da mesma forma em todas as pessoas. d) Podem ser estimuladas de acordo com a variedade de atividades propostas. e) É cinestésica quando inclui a habilidade de compreender outras pessoas. 3. (OMNI - 2021 - Prefeitura de Araçoiaba da Serra - SP - Intérprete de Libras/Adaptada) Howard Gardner é professor de psicologia da Universidade de Harvard e autor de mais de trinta livros. Gardner é conhecido na área educacional principalmente por causa da sua teoria das Inteligências Múltiplas. Dentre as inteligências descobertas pelo autor estão: 89 a) Linguística, musical e mística. b) Interpessoal, intrapessoal e transpessoal. c) Musical, artística e cinestésica. d) Natural, existencial e mística. e) Naturalista, interpessoal e musical. 4. (GUALIMP - 2019 - Prefeitura de Areal - RJ – Orientador Pedagógico/Adaptada) Gardner concluiu, a princípio, que há sete tipos de inteligência, algumas delas estão listadas abaixo, uma está CORRETA, assinale-a. a) Espacial: Habilidade dos astronautas. b) Musical: Habilidade de perceber e criar padrões de som e ritmo. c) Corporal cinestésica: Habilidade de encontrar o caminho em um ambiente e avaliar as relações espaciais entre objetos. d) Estrangeira: habilidade de aprender idiomas e de usar a fala e a escrita para atingir objetivos. e) Intrapessoal: Habilidade de entender os outros e comunicar-se com eles. 5. (IBADE - 2020 - Prefeitura de Vila Velha - ES - Professor de Matemática) A teoria das inteligências múltiplas, elaborada pelo cientista Howard Gardner, causou impacto nos meios pedagógicos. Considere as seguintes afirmativas a respeito dessa teoria: I. O tipo de inteligência que deve ser mais valorizado é a lógica-matemática. II. Há outros tipos de inteligência, além da linguística e da lógico-matemática. III. A inteligência não é única e não pode ser medida e padronizada. IV. As pessoas nascem com determinada quantidade de inteligência que serve de limite para as diferentes realizações. Estão corretas apenas as afirmativas: a) I e II. b) I e III. c) I e IV. 90 d) II e III. e) II e IV. 6. (INAZ do Pará - 2019 - Prefeitura de Magalhães Barata - PA - Professor - Educação Especial/Adaptada) “Fábio é um estudante do 5º ano do ensino fundamental de uma escola da periferia. Um certo dia, na aula de Educação Física, ele, em momento de brincadeira livre, deu dois saltos mortais... isso despertou o olhar curioso de sua Professora, que era treinadora de Ginástica Olímpica. Desde aquele dia em diante, o menino passou a treinar Ginástica em um Clube.” Essa história fictícia aponta para uma inteligência desenvolvida por Fábio. Utilizando os estudos das múltiplas inteligências de Gardner podemos afirmar que a inteligência que mais se destaca em Fábio é: a) Inteligência Corporal Cinestésica. b) Inteligência Matemática. c) Inteligência Interpessoal. d) Inteligência Linguística. e) Inteligência Interpessoal 7. (IBADE - 2018 - Prefeitura de Rio Branco - AC - Professor de Educação Especial) A Teoria das Inteligências Múltiplas foi proposta, na década de 80, por Howard Gardner, psicólogo e pesquisador da universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Para Gardner, as pessoas possuem capacidades diferentes, das quais se valem para criar algo, resolver problemas e produzirbens sociais e culturais, dentro de seu contexto. A teoria de Gardner pressupõe que: a) As inteligências são hereditárias. b) As inteligências se dividem em 5 (cinco) categorias. c) As inteligências podem ser estimuladas. d) Há como padronizar as combinações das inteligências. e) As inteligências se combinam de forma a gerar outras inteligências. 91 8. (GUALIMP - 2020 - Prefeitura de Quissamã - RJ - Professor – Supervisor Educacional/Adaptada) Howard Gardner (1985) questionou a tradicional visão da inteligência, que enfatiza as habilidades linguísticas e lógica-matemática. Ele definiu a inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais. Dessa forma, apresenta uma visão pluralística da mente, reconhece que as crianças têm habilidades e deficiências em áreas diferentes. Sobre as inteligências múltiplas, é CORRETO afirmar que: a) A inteligência linguística diz respeito à habilidade para apreciar, compor e interpretar música, discriminação de sons e habilidade para perceber temas musicais. b) A inteligência lógico matemática está relacionada à sensibilidade para padrões, ordem, sistematização, à habilidade para explorar relações, categorias e à habilidade para lidar com séries de raciocínios. c) A inteligência espacial diz respeito à habilidade para usar a coordenação grossa e fina em esportes, artes cênicas ou plástica, e ao controle dos movimentos do corpo e da manipulação de objetos com destreza. d) A inteligência cinestésica está relacionada à capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa e à habilidade para manipular formas e objetos mentalmente e, a partir de percepções, criar equilíbrio e composição. e) A inteligência interpessoal é aquela cuja habilidade está em entender os outros e comunicar-se com eles, além da habilidade de entender a si mesmo. 92 TEMAS CONTEMPORÂNEOS EM PSICOLOGIA DA EDUCAÇÃO Para finalizar este livro didático, foram selecionados cinco temas contemporâneos extremamente relevantes para a formação de futuras professoras: a relação da família e da escola, bullying, indisciplina, violência no ambiente intraescolar e infrequência escolar. Esses são pontos complexos que serão apresentados separadamente. Após cada um dos quatro itens, no ícone “Busque por mais”, são indicados materiais para serem consultados, com o objetivo de dar continuidade à discussão aqui iniciada. 6.1 A RELAÇÃO FAMÍLIA E ESCOLA Atualmente, a família é considerada o primeiro grupo do qual as pessoas fazem parte. Vindo em seguida a escola, em uma ordem de importância, já que muitos sujeitos passarão grande parte de suas vidas nesse estabelecimento. Cada uma a seu modo, essas instituições contribuem para a construção da identidade dos sujeitos: conversas com pais (e professores), brigas com irmãos (ou colegas), imposições de limites, como a proibição de usar o celular (ou o momento para ficar no canto e refletir sobre suas atitudes na escola). Quiçá de formas bem semelhantes, família e escola fazem parte do processo de construção da identidade das crianças e dos adolescentes. Debater sobre a relação existente entre essas duas instituições significa ressaltar as possibilidades e a urgência do diálogo entre elas, para que a educação seja realmente um processo criador de autonomia, de busca de felicidade e de respeito à dignidade humana. Neste sentido, a educação é aqui apontada como um projeto de muitos. Afinal, como defendia Paulo Freire “Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 1987, p. 68). O processo educativo deve ser compreendido então como um diálogo, não apenas entre educadora e educando como apontado por Freire, mas também entre escola e família. UNIDADE 06 93 As famílias e as escolas sofreram transformações ao longo dos anos, seja em suas estruturas, seja em suas funções. Para Durkheim (1978): “Quando se estuda historicamente a maneira pela qual se formaram e se desenvolveram os sistemas de educação, percebe-se que eles dependem da religião, da organização política, do grau de desenvolvimento das ciências, do estado das indústrias.” (DURKHEIM, 1978, p.37). Partindo do pressuposto que instituições escolares e familiares são sistemas de educação, pode-se afirmar que elas não estão fechadas em si, mas que são influenciadas pelas transformações que ocorrem no mundo. Há algumas décadas, era inaceitável a existência de uma família homoparental, da mesma forma como dificilmente os pais procurariam matricular seus filhos em uma escola que tivesse em sua grade uma disciplina sobre educação sexual (talvez porque nem os genitores, na maioria dos lares, conversassem sobre sexo com seus filhos). Na contemporaneidade, muitos pais, devido às mudanças sociais, acreditam ser importante abordar tais assuntos com as crianças e os adolescentes. A questão passou a ser: quem deve conversar sobre determinados temas, como sexo, por exemplo, a família ou a escola? E então se passa a pensar: atualmente, qual o papel da família? E da escola? Família e escola são instituições que educam e incentivam o desenvolvimento. A educação pode ser entendida como “uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como ideia, como crença, aquilo que é comunitário como bem, como trabalho ou como vida.” (BRANDÃO, 2007, p.10). Durkheim (1978) defende a ideia de que a educação possibilita a criação de um novo ser. É apenas por meio do processo educativo que há a construção do ser social, que é aquele que representa dentro de cada um os grupos dos quais esta pessoa faz parte. Assim sendo, ambas, família e escola, são responsáveis pela socialização dos sujeitos, mostram a eles o que é aceitável, esperado e o que não é, dividindo, desta maneira, a responsabilidade da constituição do eu daqueles que fazem parte destas instituições. É comum se pensar que a escola deve se dedicar ao ensino de conteúdos 94 formais, como fazer contas, por exemplo. Todavia, quando uma mãe solicita ao seu filho que pegue dois ovos na geladeira, ela também está ensinando-o conteúdos formais. Da mesma forma, quando uma professora mostra para os estudantes como algumas brincadeiras podem ofender os colegas, ela os está instruindo sobre questões que extrapolam os ensinos formais. Assim sendo, pode-se perceber que esta divisão de que o conteúdo formal é ensinado exclusivamente na escola e não formal é aprendido apenas em casa, é quase impossível de ser seguida à risca. A diferença entre escola e família é basicamente na forma de atuação de cada uma delas. Na escola, de acordo com Brandão “O ensino formal é o momento em que a educação se sujeita à pedagogia (a teoria da educação), cria situações próprias para o seu exercício, produz os seus métodos, estabelece suas regras e tempos, e constitui executores especializados.” (2007, p. 26). Neste sentido, pode-se afirmar que a escola/professora deve seguir uma metodologia pré-determinada: definir qual a sua abordagem, quanto tempo será destinado para cada atividade, como cada tarefa será realizada (em casa, em sala de aula, individualmente, em grupo, com consulta e assim por diante). Dessen e Polonia (2007, p. 26) afirmam: Ela (a escola) é um espaço em que o indivíduo tende a funcionar de maneira preditiva, pois, em sala de aula, há momentos e atividades que são estruturados com objetivos programados e outros mais informais que se estabelecem na interação da pessoa com seu ambiente social. Já em relação às famílias, seu desempenho ocorre, geralmente, de forma menos rígida, o que não significa que os pais não tenham critérios pré-estabelecidos de sua função e do comportamento esperado de seus filhos. Não são raros os conflitos entre pais e professores, não apenas por causa da falta de concordância entre as funções de cada uma destas instituições. Patto (2000), ao descrever “Quatro histórias do fracasso escolar” (apresentadasna unidade 1 desse livro), demonstra que o diálogo entre genitores e educadores pode se tornar extremamente difícil. São mães que acusam a escola de não ensinarem direito e de maltratarem seus filhos, diretoras que alegam que os genitores não cuidam, como deveriam, das crianças. Relatos que dizem de uma realidade e da urgência de se repensar a relação existente entre escola e família. De acordo com Bourdieu (2008) o desenvolvimento das ciências sociais fez com que fosse difundida a ideia de que o fracasso escolar não pode ser atribuído (pelo menos exclusivamente) à deficiência individual do aluno, gerando uma responsabilização coletiva pelo mau êxito escolar. 95 A responsabilidade que antes era unicamente pessoal do estudante excluído [...] cede o lugar a fatores sociais mal definidos, como a insuficiência dos meios utilizados pela Escola, ou a incapacidade e a incompetência dos professores (cada vez mais frequentemente tidos como responsáveis, pelos pais, dos maus resultados dos filhos) ou mesmo, mais confusamente ainda, a lógica de um sistema globalmente deficiente que é preciso reformar (BOURDIEU, 2008, p.220) Devido aos conflitos, troca de acusações e diversidade de opiniões de genitores e profissionais da escola, torna-se tarefa árdua delimitar a atuação da escola e da família na educação das crianças. Pesquisas apontam como os contextos familiar e escolar influenciam-se mutuamente. De acordo com Dessen e Polônia (2007) a violência na adolescência, por exemplo, tem variáveis oriundas tanto de uma quanto de outra instituição. A maneira como o adolescente vivencia a questão da violência em sua casa, será determinante para seu comportamento na escola, sendo a recíproca também verdadeira. Da mesma forma, a evasão e a repetência escolar: “Sabe-se que a estrutura familiar tem um forte impacto na permanência do aluno na escola, podendo evitar ou intensificar a evasão e a repetência escolar” (DESSEN; POLONIA, 2007, p. 27). Após realizar uma investigação em três escolas (sendo uma pública e duas particulares) de Belo Horizonte, Tânia Resende (2008) afirma que a tarefa de casa é como um reflexo da relação entre a escola e a família, pois perpassa o dia a dia das duas instituições, sendo que é a atividade a ser feita em casa que envolve de forma mais direta o grupo familiar. A forma como o dever de casa mobiliza a família mostra o significado que essa concede para a escolaridade. Da mesma maneira, o modo como esse é explorado em sala de aula pode demonstrar o valor que a escola atribui para as atividades desenvolvidas externamente, bem como a participação da família. Alguns pais que participaram dessa pesquisa afirmaram que o momento de acompanhar o dever de casa propicia interação com seus filhos, já outros alegaram ser uma situação que gera tensão. Tais diferenças entre as respostas, de acordo com a referida pesquisadora, podem ser explicadas principalmente por duas questões: a falta de tempo e de instrução formal dos pais (RESENDE, 2008). Ainda de acordo com Resende (2008), independentemente de provocar tensão ou diálogo com os filhos, a maioria dos genitores entrevistados disse considerar 96 importante a tarefa de casa, pois essa serve como fixação e revisão de conteúdo, bem como ocupação do tempo dos filhos. Da mesma forma, opinaram julgar importante acompanhar a sua realização e a consideram como um canal de participação na trajetória escolar da prole. Partindo do pressuposto de que é imprescindível manter um diálogo entre escola e família, existem ações voltadas a trabalharem essa relação. Algumas instituições escolares, preocupadas em manter um diálogo com as famílias de seus alunos, criam estratégias, como relatado por Szymanski (2009): uma escola que abriu suas portas, aos finais de semana, para que as famílias pudessem desfrutar momentos de lazer em seu espaço físico, realizou campeonatos esportivos e até churrascos. Em Belo Horizonte - Minas Gerais, uma alternativa que teve resultados positivos é a “Escola Aberta”, que objetiva diminuir a distância entre a escola e a comunidade: os prédios das escolas são disponibilizados aos finais de semana para que os estudantes e suas famílias participem de atividades culturais e educativas. São alternativas para o desenvolvimento de uma relação saudável entre instituições escolares e familiares por parte das escolas: a valorização e reconhecimento das práticas educativas familiares, o fortalecimento de associações de genitores e educadores, o incentivo aos pais para acompanharem a vida escolar de seus filhos. Já para a família, é indicado que essa procure participar das atividades promovidas pela escola, como reuniões e gincanas; que busque se inteirar, com seus filhos e professores, de como está a situação dos estudantes na escola; que incentive o empenho das crianças e dos adolescentes ao estudo (DESSEN; POLONIA, 2007). 97 6.2 BULLYING O início dos estudos sobre o bullying ocorreu na década de 1970 e, atualmente, esse é compreendido como um “Conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivação evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor, angústia e sofrimento” (FANTE, 2005, p. 28- 29). A importância de estudar e discutir o fenômeno bullying está na sua especificidade e nas suas possíveis consequências, podendo haver prejuízos psicológicos, sociais, educacionais, financeiros e físicos, tanto para quem é a vítima direta quanto para aqueles que assistem às agressões. De acordo com Fante (2005, p. 10), a cada dia que passa, há um crescimento no número de casos em todas as escolas, públicas e particulares e em todos os graus de ensino. Essa é uma forma de “violência velada” que muitas vezes é justificada como “brincadeiras da idade”, mas que representa um sério risco à saúde e integridade dos estudantes. Até o início dos anos 2000, o bullying era classificado em direto, como agressões físicas e verbais, ou indireto, que é a disseminação de rumores desagradáveis e desqualificantes (FANTE, 2005). Na atualidade, há também o cyberbullying, que são “atos de violência psicológica e sistemática contra crianças e adolescentes perpetrados nas ambiências das redes de sociabilidade digital, podendo ocorrer a qualquer momento e sem um espaço circunscrito e demarcado fisicamente” (FERREIRA; DESLANDES, 2018, p. 3370). Assim como na versão presencial, no cyberbullying também há a intencionalidade de causar dano à vítima, o que muda é que as agressões ocorrem por meio eletrônico: envio de mensagens de textos, fotos, áudios ou vídeos, expressos nas redes sociais ou em jogos em rede, transmitidas por telefones celulares, ou computadores (FERREIRA; DESLANDES, 2018). 98 Apesar de ser reconhecidamente multicausal, Fante (2005) aponta que a ausência de valores humanistas e a presença de rejeição e de castigos físicos nos modelos educativos, seja os adotados pelas famílias ou pelas escolas, podem contribuir para que ocorra bullying. O bullying acarreta prejuízo para toda a instituição escolar, os estudantes e suas famílias. Para o agressor, são possíveis consequências: o distanciamento e a falta de adaptação aos objetivos escolares, a supervalorização da violência como forma de obtenção de poder e a propensão para conduta delituosa. Já para a vítima, destacam-se: sentimento de angústia, sofrimento, exclusão, danos físicos, morais e materiais, depressão, baixo rendimento escolar, enurese, insônia, taquicardia, cefaleia, agressividade, abuso de substâncias químicas, bloqueio do pensamento, dificuldade de raciocínio. Em casos extremos, o bullying pode ser a causa inclusive de suicídio. É importante ressaltar que ser vítima dessas agressões acarreta consequências que podem perdurar por muitos anos, não apenas durante o período escolar. Algumas pessoas podem apresentar dificuldades futuras na constituição de sua família e no ambiente do trabalho.(FANTE, 2005). Por ser um fenômeno grave que coloca em risco nãoapenas a aprendizagem, mas a integridade física e mental dos estudantes, é importante que a escola fique atenta às relações que são estabelecidas entre os alunos, mostre-se disponível para o diálogo e possíveis denúncias, aja rapidamente caso seja constatado algum caso de bullying e, principalmente, trabalhe na prevenção desse tipo de agressão: estimule o respeito à diferença e à valorização de todos, faça uma educação 99 pautada nos Direitos Humanos. Tanto na prevenção como no combate ao bullying, família e escola devem agir de maneira conjunta: uma reconhecendo a outra como parceira. Ambas as instituições devem informar sobre possíveis mudanças comportamentais e/ou relatos que os estudantes fizerem sobre situações constrangedoras e de risco que podem ser caracterizadas como bullying (seja esse aluno a vítima, o agressor ou o expectador). 6.3 INDISCIPLINA E VIOLÊNCIA NA ESCOLA Uma das grandes preocupações da equipe pedagógica é a indisciplina e, nos últimos anos, a violência intraescolar também passou a fazer parte do cotidiano de parte significativa das escolas. A partir dessa realidade, muitas questões surgiram: a indisciplina é um tipo de violência? Há diferenças entre esses dois fenômenos? De acordo com Silva e Matos (2014, p. 716), a indisciplina pode ser compreendida como “Vários comportamentos perturbadores que põem em causa as regras no ambiente escolar”. É importante ressaltar que ela muda ao longo dos anos da escolarização: nas séries iniciais, é observada por meio da obstrução da boa condução da aula, já nas séries finais, constata-se o maior questionamento direto da autoridade da professora. A indisciplina está relacionada ao insucesso escolar, sendo ela sua causa ou consequência. Por exemplo, um aluno pode ser reprovado por ser indisciplinado, da mesma forma, ele pode começar a apresentar atos de indisciplina depois de ter sido retido e não ter aceitado ficar longe de seus colegas. Em relação à violência, Silva e Matos (2014) afirmam que nos últimos anos houve um alargamento em seu conceito, com uma tendência a “englobar comportamentos que antes eram percebidos como práticas banais no mundo 100 social” (SILVA; MATOS, 2014, p. 716). Para evitar que isso ocorra, os referidos autores sugerem que sejam englobados como violência apenas os atos previstos no Código Penal. A violência intraescolar é multicausal, sendo apontadas como possíveis causas: profundas desigualdades sociais, violência extraescolar, perda do sentido/valor da escola, imposição da cultura escolar e a organização social que valoriza a violência (NETO; BARRETO, 2018). É de extrema relevância que a instituição escolar consiga diferenciar o que é a indisciplina e o que é a violência, um erro nessa distinção pode trazer graves consequências. Como riscos da confusão da indisciplina como violência, Silva e Matos (2014) citam: criminalizar comportamentos escolares corriqueiros e de pouca gravidade, recorrer frequente e desnecessariamente às forças policiais na resolução de conflitos eminentemente escolares, além do impacto sobre o clima escolar, a socialização e a aprendizagem dos estudantes. Já entre os riscos de tratar a violência como indisciplina, destacam-se: não tratamento dos atos violentos, menor probabilidade de acolher a vítima e de responsabilizar o agressor, sentimento de impunidade, além do impacto sobre o clima escolar, a socialização e a aprendizagem dos envolvidos. (SILVA, MATOS, 2014). Para se diferenciar a indisciplina e a violência, é imprescindível que se considere: o tipo de regras que violam, o impacto que geram no ambiente escolar e nos sujeitos e a gravidade. Tabela 5: Diferenciação Indisciplina e violência na escola Tipo de regra violada Indisciplina ViolênciaEstritamente escolares Infringem regras sociais Consequências Não geram danos tãograves Podem causar danos físicos, morais, psicológicos ou materiais Gravidade Comportamentos menosgraves Natureza grave Exemplos Conversas paralelas, gritos, deslocamentos fora de hora, brincadeiras perturbadoras e desobediências às ordens dos professores Assassinatos, roubos, porte de armas, tráfico de drogas, ameaças, agressões físicas ou psicológicas Fonte: Silva e Matos (2014) 101 Depois de diferenciada se ocorreu um ato de indisciplina ou de violência, a escola deve decidir como agir. Em ambos os casos, três estratégias são importantes: tentar compreender o que de fato ocorreu, chamar a família e acolher os estudantes presentes (não apenas os diretamente envolvidos). Em episódios de indisciplina, é imprescindível que a equipe tente compreender qual o sentido da escola e do saber para o estudante, além de quais as relações sociais são estabelecidas naquela sala. Um possível caminho a ser tomado é tentar conscientizar os alunos de que seus atos podem atrapalhar o aprendizado de todos e o trabalho da professora. Já no caso da violência, a escola deve contar com a orientação da secretaria municipal e/ou estadual de educação. Algumas instituições possuem equipes de ronda escolar. Em algumas situações mais extremas, a polícia deverá ser acionada. 6.4 ABSENTEÍSMO ESTUDANTIL Ir ou não ir à escola/às aulas é determinado por várias causas, há aspectos extraescolares e intraescolares. Entre os fatores externos ao ambiente escolar, pode- se destacar: Valor da escolarização para a comunidade, a família: se a família não compreende a importância da escola na vida da criança, ela não vai se esforçar para que o estudante frequente às aulas, nem mesmo motivá-lo para que se dedique aos estudos. Assistência à saúde: crianças doentes faltam mais às aulas do que as saudáveis. Alimentação: esse é um ponto que pode fazer com que o estudante vá à escola (para comer o alimento que é oferecido pela instituição escolar) ou que pode ser uma justificativa para a não frequência escolar, quando a criança está com fome e não consegue ir para escola/se concentrar nos 102 estudos. Trabalho: a necessidade de trabalhar faz com que o estudante deixe de frequentar às aulas, seja porque trabalha no horário do turno escolar, seja porque está muito cansado devido à exigente rotina de trabalho. Segurança: conforme será discutido posteriormente, a violência nos arredores da residência e/ou escola pode fazer com que os estudantes faltem à aula, bem como a insegurança dentro da instituição escolar. Aspectos familiares: por exemplo, a estabilidade no trabalho dos pais e o modo de organização familiar interferem na frequência escolar dos filhos. Especialmente para as camadas populares, a violência é um fator de forte influência da frequência escolar, tanto a que ocorre na própria escola, como em seu entorno. Schargel e Smink (2002) afirmaram que o medo ou a ocorrência de agressões constantemente fazem com que os estudantes faltem às aulas e, posteriormente, acabam abandonando os estudos. Já entre causas escolares para o absenteísmo estudantil, ressalta-se: Baixa qualidade do ensino: Quando os pais e os próprios estudantes constatam a baixa qualidade do ensino, eles não incentivam seus filhos/se esforçam para ir às aulas. Falta de sentido da escola para o estudante: Conteúdos sem significado prático para a vida (VIEIRA, 2010), o tédio, a falta de motivação, de interesse e de prazer em aprender (MILLET; THIN, 2012), a distância das aulas “em relação à cultura juvenil.” (ABRAMOVAY, 2006, p. 104). Questões relacionadas aos professores: Falta de interesse e sensibilidade dos educadores em conhecer os estudantes (VIEIRA, 2010), desqualificação que os professores fazem dos estudantes (MILLET; THIN, 2012) e o próprio absenteísmo docente (CARNOY, 2009; SZMANSKI, 2009; PATTO, 2008) Sociabilidade dos estudantes: Para “matar aula” para ficar com os amigos ou “fugir” dos colegas, como no caso relatado por Abramovay (2006), em que uma estudante cortou o cabelo, os colegas a apelidaram de ‘Pelé’ e, como consequência, ela faltou a pelo menos cinco dias de aula. Defasagem série/idade:a defasagem série/idade é caracterizada quando a idade do estudante não é adequada para a série que ele cursa. Essa é uma situação multideterminada, pode ocorrer devido à entrada tardia na escola, 103 às interrupções ocorridas durante a escolarização e às reprovações. A defasagem pode ser a causa ou a consequência do absenteísmo, ou seja, o estudante, descontente com o fato de não estar na série “adequada” começa a faltar de aula (talvez por vergonha por ser mais velho do que os colegas). Ou, a situação de o aluno faltar muito às aulas, terá como consequência a sua reprovação no ano letivo. Mais uma vez, como nos temas abordados anteriormente, uma importante ferramenta para o combate ao absenteísmo estudantil é a criação e a manutenção de uma relação saudável entre a família e a escola: que seja possível que a família relate, por exemplo, a recusa do estudante em ir para aula, da mesma forma, que a escola comunique aos responsáveis as repetidas ausências do aluno e que, juntas, essas instituições possam buscar alternativas para tentar solucionar esse problema. 104 FIXANDO O CONTEÚDO 1. (CESPE / CEBRASPE/ 2017) A respeito das relações da família com a escola no processo de aprendizagem, assinale a opção correta. a) A participação dos pais é desnecessária no processo de orientação educacional, uma atribuição exclusiva do pedagogo escolar. b) A comunidade não é considerada parte integrante do processo de aprendizagem da criança. c) Família e escola desempenham papéis essenciais, mas excludentes, no que se refere à educação e ao desenvolvimento da criança. d) A educação da criança e do adolescente é uma atribuição restrita ao Estado. e) A família desempenha um papel fundamental na formação do indivíduo. 2. (ADAPTADA/CESPE/CEBRASPE/ 2017) As relações efetivas no contexto escola- família são favorecidas quando: a) Deixa-se a encargo dos pais o conhecimento quanto à rede de apoio e de encaminhamentos. b) Os pais são responsabilizados pelo insucesso dos filhos. c) Os responsáveis são informados o mais brevemente possível da ocorrência de um problema ou um possível problema. d) Família e escola trabalham juntas, compreendendo a importância da corresponsabilidade no processo educativo e) O professor utiliza termos técnicos, para demostrar aos pais seu conhecimento e profissionalismo. 3. (IBADE/ SEE-AC/ 2019) O Cyberbullying é o bullying que ocorre de forma: a) Física. b) Virtual. c) Pessoal. d) Consensual. e) Esporádica. 105 4. (IBADE/SEE-AC/ 2019) Teixeira (2011, p. 25) afirma que “podemos também dividir o bullying [...] em duas categorias: o bullying direto e o bullying indireto.” No bullying indireto podem ocorrer: a) Agressões físicas. b) Ataques deliberados. c) Atos de difamação. d) Agressões verbais. e) Confrontos para intimidação. 5. (ADAPTADA/ CEFET-MG/2014) Atualmente o bullying tem sido muito discutido no âmbito educacional, tanto nas escolas como também nas universidades. Entende- se como bullying uma forma de violência gratuita e cruel, na qual os mais fortes convertem os mais fracos, recorrentemente, em objeto de diversão e prazer, através de ‘brincadeiras’ que disfarçam o propósito de maltratar e intimidar (FANTE, 2005). É importante ressaltar que, segundo a autora, esse fenômeno acontece somente entre pares. Para Fante (2005), para que o bullying seja configurado, alguns aspectos precisam estar presentes. Analise as afirmações seguintes que apresentam aspectos que devem estar presentes para que o bullying esteja configurado: I. As vítimas são prejudicadas em vários sentidos; II. Há uma simetria de poder entre o agressor e a vítima; III. O agressor tem a intenção clara de causar danos à vítima; IV. As agressões são justificadas em função de motivos reais e concretos; As afirmações corretas estão a) Apenas nos itens I e II. b) Apenas nos itens I e III. c) Apenas nos itens I, III e IV. d) Apenas nos itens I, II e IV. e) Apenas nos itens III e IV. 106 6. (ADAPTADA-IF-SC/2014) Fonte: Revista Nova Escola, 2009. A tirinha acima mostra a reação de um aluno que se recusa a obedecer a professora e é encaminhado para a direção escolar. No tocante à disciplina e indisciplina escolar, avalie as afirmativas abaixo. I. Para entender as questões de indisciplina, é necessário compreender o lugar que a escola ocupa hoje na sociedade, o lugar que crianças e jovens ocupam e o lugar que a moral ocupa. II. A causa principal e definitiva que determina a indisciplina escolar é a questão psicológica das crianças e jovens. III. As questões de indisciplina escolar ocorrem indistintamente nas escolas públicas e privadas. IV. A indisciplina escolar é resultado da interação entre vários fatores, internos e externos à escola. V. Uma solução para indisciplina é a organização escolar em classes homogêneas. Assinale a alternativa CORRETA. a) Estão corretas somente as afirmativas I, III, IV e V. b) Estão corretas somente as afirmativas I, II e V. c) Estão corretas somente as afirmativas II e IV. d) Estão corretas somente as afirmativas I, III e IV. e) Estão corretas somente as afirmativas I e IV. 107 7. (ADVISE/ Prefeitura de Jaboticabal/ 2012) A imagem abaixo mostra uma cena que, infelizmente, está se tornando rotina nas escolas de todo o mundo. Para combater esse tipo de violência na escola é preciso que: I. A escola exercite do bom relacionamento; II. A escola cultive da paz no ambiente; III. A escola faça um projeto de conscientização junto, somente, aos alunos para combater a violência escolar; IV. A escola faça um projeto de conscientização junto à comunidade escolar para combater essa violência; Estão corretos os itens: a) I e II, apenas; b) I e III, apenas; c) I e IV, apenas; d) I, II e IV, apenas; e) I, II, III e IV. 8. A frequência escolar determina a adaptação ao ambiente escolar, a aprendizagem e o conhecimento às normas da escola. Antes dos anos 2000, a maior preocupação escolar brasileira era com a matrícula, atualmente, soma-se à matrícula, a qualidade do ensino e a frequência dos estudantes às aulas. Analise a frase abaixo e escolha a alternativa que melhor preenche a lacuna: 108 A frequência escolar é determinada por fatores _____________________. a) Internos e externos à escola. b) Exclusivamente intraescolares. c) Unicamente extraescolares. d) Exclusivamente familiares. e) Unicamente financeiros. 109 RESPOSTAS DO FIXANDO O CONTEÚDO UNIDADE 01 UNIDADE 02 QUESTÃO 1 E QUESTÃO 1 E QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 B QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 E QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 E QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 D QUESTÃO 6 A QUESTÃO 6 A QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 E QUESTÃO 8 D QUESTÃO 8 A UNIDADE 03 UNIDADE 04 QUESTÃO 1 B QUESTÃO 1 B QUESTÃO 2 B QUESTÃO 2 A QUESTÃO 3 A QUESTÃO 3 D QUESTÃO 4 E QUESTÃO 4 B QUESTÃO 5 E QUESTÃO 5 B QUESTÃO 6 C QUESTÃO 6 A QUESTÃO 7 B QUESTÃO 7 A QUESTÃO 8 D QUESTÃO 8 E UNIDADE 05 UNIDADE 06 QUESTÃO 1 D QUESTÃO 1 E QUESTÃO 2 D QUESTÃO 2 D QUESTÃO 3 E QUESTÃO 3 B QUESTÃO 4 B QUESTÃO 4 C QUESTÃO 5 D QUESTÃO 5 B QUESTÃO 6 A QUESTÃO 6 D QUESTÃO 7 C QUESTÃO 7 D QUESTÃO 8 B QUESTÃO 8 A 110 REFERÊNCIAS (ABRAMOVAY, 2006) (ALENCAR, 2007) (ALMEIDA, 2015) (ALMEIDA, 2012) (ALVES et al., 2005) (ALMEIDA; MAHONEY, 2012) (BASTOS; DÉR, 2012) (BEE; BOYD, 2011) (BOCK; TEIXEIRA; FURTADO, 2008) (BOURDIEU, 2008) (BRANDÃO, 2007) (CAMPOS, 2010) CAMPOS, Regina Helena de Freitas. 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