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Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Microbiologia Micoses Subcutâneas e Sistêmicas As micoses superficiais e as cutâneas (ou dermatomicoses) são contraídas por meio do contato e afetam a pele e seus anexos, respectivamente. Os agentes de micoses subcutâneas vivem em estado saprofítico no solo, nos vegetais e nos animais de vida livre, e são parasitas acidentais do homem e dos animais, que se infectam por ocasião de um traumatismo na pele, com material contaminado. Em geral, a micose localiza- se na pele e no tecido subcutâneo, próximo ao ponto de inoculação, e é rara sua disseminação. As micoses subcutâneas são: Esporotricose; Cromoblastomicose; Feo-hifomicose; Lobomicose. O agente da esporotricose é Sporothrix schenckii, fungo dimórfico, presente na natureza, onde vive, principalmente, no solo e em vegetais. Dimorfismo: forma leveduriforme (37°C) e forma filamentosa (temperaturas < 37ºC). A forma mais comum é a linfocutânea que compromete pele, tecido subcutâneo e gânglios linfáticos regionais. No local de penetração do fungo, forma-se uma lesão ulcerada e, geralmente, ao longo do trajeto de um linfático aparecem nódulos que amolecem, rompem-se e eliminam pus. A transmissão se dá pelo traumatismo na derme. OBS: a esporotricose disseminada ou envolvendo mucosas não é comum. Pacientes imunodeprimidos apresentam risco da disseminação da infecção. Os reservatórios naturais de Sporothrix schenckii são os vegetais e o solo. O fungo é encontrado também na água, em materiais orgânicos e em animais aparentemente sadios. A doença tem sido verificada em cães, felinos e outros animais que apresentam patologia semelhante à do homem. Ocasionalmente, esses animais podem agir como vetores do fungo. Lobomicose, também denominada doença Jorge Lobo, tem como agente etiológico Lacazia loboi. A doença caracteriza-se por apresentar lesões isoladas ou disseminadas na pele e nos tecidos subcutâneos, sobretudo, em tecido cartilaginoso com tropismo pelo pavilhão auricular. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Microbiologia Os agentes etiológicos são fungos da espécie Fonsecae pedrosoi, predominante no Brasil. A infecção caracteriza-se pela formação de nódulos cutâneos verrugosos de desenvolvimento lento e, depois, vegetações papilomatosas, que podem ou não se ulcerar, apresentando em seu conjunto o aspecto de couve-flor nos estágios mais avançados da moléstia. OBS: geralmente, as lesões são unilaterais e confinadas aos membros inferiores, embora possam também ocorrer nos membros superiores. O termo feo-hifomicose (do grego phaeo = escuro), refere-se a todas as micoses causadas por fungos que no tecido do hospedeiro apresentam micélio septado escuro, acompanhado ou não de elementos leveduriformes, com presença de melanina na parede celular. Os agentes etiológicos são, na sua maioria, fungos oportunistas, parasitas ou patógenos de plantas, pertencentes aos gêneros Exophiala, Cladophialophora, Phialophora e Alternaria. Além disso, essa manifestação se apresenta com lesão cística, assintomática e encapsulada, sobretudo, em zonas rurais. As micoses sistêmicas apresentam uma série de características comuns. Os agentes etiológicos são encontrados no solo e em dejetos de animais, e as vias aéreas superiores são a sua principal porta de entrada. As micoses sistêmicas afetam tanto pacientes com imunossupressão, quanto não imunocomprometidos, sendo as principais: Paracoccidioidomicose; Criptococose; Histoplasmose; Coccidioidomicose. Também é conhecida como blastomicose sul-americana, a paracoccidioidomicose é uma micose causada pelo fungo Paracoccidioides brasiliensis. A paracoccidioidomicose pode resultar tanto da inalação de estruturas do fungo, consideradas infectantes, como da reativação de algum foco preexistente. A classificação anatomopatológica da doença é baseada nos tipos clínicos apresentados: forma mucocutânea ou tegumentar, forma linfática ou ganglionar, forma visceral e formas mistas. O pulmão é o órgão mais frequentemente atingido, seguido pela mucosa da boca, Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Microbiologia havendo grande incidência de formas clínicas mistas. A paracoccidioidomicose aguda/subaguda também conhecida como do “tipo juvenil” é uma das manifestações graves da micose. Histologicamente, as lesões de pele são abscessos ou inflamações granulomatosas, com centros necróticos. Nos tecidos, pus, escarro etc., observam-se as estruturas do fungo, caracterizadas por células esféricas ou ovais de tamanhos variáveis, com paredes grossas, dupla membrana, com múltiplos brotos ligados por bases estreitas à célula-mãe. O diagnóstico laboratorial baseia-se no exame microscópico direto do espécime clínico como pus, escarro secreções etc. Paracoccidioides spp. apresenta grande variedade morfológica, podendo apresentar-se como células isoladas, caliciformes, com um brotamento ou com muitos brotos (roda de leme). A coccidioidomicose é causada pelos fungos Coccidioides immitis, que vivem no solo de regiões secas. No Brasil, casos são relatados nos Estados do Piauí, Maranhão e Ceará. A infecção estabelece-se pela inalação de artroconídios (esporo formado pela desarticulação da hifa de fungos filamentosos ou leveduras), transportados pelas correntes aéreas. Nos pulmões, aparecem esférulas, de paredes grossas, contendo numerosos endósporos globosos ou irregulares. A ruptura das esférulas libera os endósporos que desenvolvem novas esférulas, continuando o ciclo parasitário. Em aproximadamente 40% das pessoas infectadas, desenvolve-se pneumonia aguda, com pleurisia, e, em não mais de 5% delas, a doença evolui para quadro pulmonar crônico cavitário, semelhante ao observado na tuberculose. Raramente ocorre disseminação linfo-hematogênica com o aparecimento de lesões granulomatosas, supurativas em órgãos e tecidos como pele, ossos, articulações, inclusive meninges. Às vezes, são observadas erupções cutâneas, como eritema multiforme nodoso, que provavelmente representam resposta alérgica aos antígenos do fungo ou aos tecidos por ele alterados. Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Microbiologia A histoplasmose clássica é causada pelo Histoplasma capsulatum, fungo dimórfico, que apresenta em vida livre a fase de bolor e, em vida parasitária, a fase de levedura. OBS: encontrado em cavernas, depósitos ou locais com a presença de dejetos de galinhas e morcegos. A histoplasmose resulta da inalação do fungo, desenvolvendo-se a primoinfecção no pulmão. Na maioria dos indivíduos, o quadro infeccioso inicial é subclínico, assintomático, passando despercebido, ou com sintomas de infecção viral, do tipo resfriado comum. Como sequelas, podem ficar calcificações residuais nodulares no pulmão, semelhantes ao que ocorre na tuberculose. Em raros casos, Histoplasma capsulatum dissemina-se por meio das células do sistema retículo endotelial atingindo o baço, o fígado, os rins, as suprarrenais, o pâncreas, a medula óssea e os testículos e ainda manifestar quadro clínico clássico de lesões ulceradas na mucosa orofaríngea. A principal característica do Histoplasma capsulatum é ser um fungo que parasita quase exclusivamente o citoplasma das células do sistema retículo endotelial. No interior dessas células fagocíticas, observam-se formas leveduriformes, pequenas, redondas ou ovais. Cryptoccocus é um gênero polifilético que inclui mais de 50 espécies. Cryptococcus neoformas e Cryptococcus gattii são consideradas as únicas espécies patogênicas para humanos, dentro deste gênero, pela capacidade de crescer a 37°C. A doença causada por estes fungos,a criptococose é uma infecção subaguda ou crônica, em vida parasitária, isto é, nos tecidos, o micro-organismo aparece como célula leveduriforme, capsulada e, algumas vezes, com brotamento. O fungo é inalado atingindo como primeiro órgão os pulmões, com tropismo para o SNC, ocasionando meningite criptocócica. A criptococose, é uma das principais Leonardo Vinícius Ribeiro Moreira BBPM III - Microbiologia infecções em pacientes com AIDS, apresentando alta morbimortalidade. A criptococose é de distribuição universal. Leveduras de C. neoformans tem sido associada a solo contendo fezes de pombos e de outras aves enquanto C. gattii é encontrado principalmente associada a frutos, casco e folhas de eucalipto. O diagnóstico é feito pelo exame microscópico dos materiais clínicos – liquor, pus, escarro. A técnica de contraste pela tinta-da-china ou Nankin permite evidenciar a espessa cápsula do Cryptococcus.