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PRÁTICA SIMULADA PENAL - 2023 – 1° SEMESTRE Profª Wanda Maria Lima 1. AGRAVO EM EXECUÇÃO 1.1 Cabimento Na sistemática do direito brasileiro, a partir da reforma realizada em 1984, separou-se, no âmbito do processo penal, a ação de conhecimento da ação de execução. A primeira vai da denúncia até o trânsito em julgado da sentença definitiva. Corre, em primeira instância, perante uma das varas criminais e submete-se, em regra, às normas estabelecidas no CPP e legislação extravagante. O processo de execução, por sua vez, inicia-se a partir do trânsito em julgado da sentença penal condenatória e vai até o fim do cumprimento da pena. Corre, em primeira instância, perante uma vara de execução e submete-se aos preceitos insculpidos na Lei de Execução Penal (Lei 7.210/84). ATENÇÃO: Observe-se, que embora não tenha havido revogação expressa, entende-se que a maior parte (mas não a totalidade) do Livro IV do CPP foi tacitamente revogada pela lei de execução penal, que passou a disciplinar a matéria. As matérias que não foram tratadas pela lei continuam disciplinadas pelo CPP. O legislador, ao promover a separação do processo de execução, criou também um novo recurso no processo penal, cabível especificamente das decisões proferidas pelo juiz da execução. É o que consta expressamente do art. 197 da Lei 7.210/84: das decisões proferidas pelo juiz (da execução, portanto) caberá agravo. Ao contrário do que acontece com o recurso em sentido estrito, não prevê a lei um rol taxativo das decisões que desafiam o agravo. Toda e qualquer decisão proferida pelo juiz da execução enseja a interposição do recurso em questão. Portanto, basta que a decisão emane do juiz da execução e que o agravo seja interposto tempestivamente. Assim, a título meramente ilustrativo e exemplificativo, arrolaremos a seguir uma série de decisões que, por serem de competência do juiz da execução (conforme o disposto da lei de Execução), ensejam o recurso de agravo em execução (art. 66 da LEP). PRÁTICA SIMULADA PENAL - 2023 – 1° SEMESTRE Profª Wanda Maria Lima 1.1.1 Decisão que aplicar ou deixar de aplicar lei posterior mais favorável; 1.1.2 Decisão que declarar ou deixar de declarar extinta a punibilidade; 1.1.3 Decisão que conceder ou negar unificação das penas; 1.1.4 Decisão que conceder ou negar progressão ou regressão de regime; 1.1.5 Decisão que conceder ou negar detração ou remição da pena; 1.1.6 Decisão que revogar o sursis; 1.1.7 Decisão que conceder, negar, revogar ou deixar de revogar livramento condicional 1.2 Competência O agravo deve necessariamente ser interposto perante o juiz da execução, que proferiu a decisão RECORRIDA. Após recebido o recurso deverão ser intimados agravante e agravado, tendo cada qual o prazo de dois dias para apresentar suas razões e contrarrazões (embora o agravante possa apresentá-las já no ato da interposição). Assim como ocorre com o recurso em sentido estrito, no agravo o juiz também pode reformar a sua própria decisão (juízo de retratação) e por isso não há a possibilidade de juntarem-se a razões diretamente em segunda instância. Se decidir mantê-la, apenas então deve remeter os autos ao tribunal competente. Caso se retrate e a nova decisão cause prejuízo a alguma das partes, cabe dela recorrer por simples petição, independentemente do oferecimento de novas razões ou contrarrazões. 1.3 Legitimidade Podem interpor o agravo em execução o Ministério Público e o próprio condenado (por meio de advogado, evidentemente). Ainda que a ação de conhecimento tenha sido privada, a execução inaugura nova relação jurídica e desta o querelante não faz parte; portanto, não tem legitimidade para pleitear nada perante o juiz da execução e muito menos para recorrer de suas decisões. 1.4 Prazo PRÁTICA SIMULADA PENAL - 2023 – 1° SEMESTRE Profª Wanda Maria Lima Pacificou-se na jurisprudência o entendimento de que o agravo em execução deve seguir rito idêntico ao do recurso em sentido estrito. Tanto é assim que o STF editou a Súmula 700, da qual consta que é de cinco dias o prazo para interposição de agravo contra decisão do juiz da execução penal, pondo fim a qualquer eventual controvérsia que se pudesse criar em face da omissão legislativa. Quanto às razões e contra-razões, da mesma forma que acontece com o recurso em sentido estrito, têm as partes 2 (dois) dias para apresentá-las. 1.5 Tese e requerimentos O recurso de agravo em execução presta-se à reforma de decisões pontuais proferidas pelo juiz das execuções. A parte, portanto, irá sempre alegar o equívoco da decisão agravada, por contrariar princípio ou dispositivo de lei, e requerer a sua reforma, com a concessão do que havia sido antes negado ou revogação do que havia sido indevidamente determinado. QUESTÃO: Leandro Soares foi regularmente processado e, ao final, condenado, pela prática, em 10 de setembro de 2006, de homicídio qualificado pelo emprego de veneno (art. 121, § 2.º, III, do CP). Sua pena foi fixada em 12 anos de reclusão, a ser cumprida em regime inicialmente fechado. Depois de cumpridos 2 anos da pena, e diante de atestado de boa conduta carcerária, sua defesa requereu a progressão de regime, mas o juízo competente indeferiu o pleito, ao argumento de que não teria cumprido o tempo necessário de pena, equivalente a 2/5 da condenação. Na qualidade de advogado de Leandro Soares, considerando que a intimação de tal decisão se deu em 7 de abril (segunda-feira), apresente a medida cabível, datando-a no último dia do prazo. Qual a peça? Cliente Leandro Soares (condenado) PRÁTICA SIMULADA PENAL - 2023 – 1° SEMESTRE Profª Wanda Maria Lima Crime/Pena Homicídio qualificado pelo emprego de veneno: art. 121, § 2.º, III, do CP – 12 a 30 anos. Em concreto: 12 anos. Ação Penal Pública Incondicionada. Rito Júri: trata-se de crime doloso contra a vida (art. 5º, XXXVIII, d da CF/88) Suspensão condicional do processo (art. 89 da Lei 9099/95) Não é cabível: a pena mínima (12 anos) é superior a 1 ano. Momento processual Durante o cumprimento da pena, a defesa requereu a progressão de regime, mas o pleito foi indeferido pelo juízo competente. Estruturando a peça: Peça Agravo em execução – art. 197 da Lei 7.201/84 (Lei de Execuções Penais) Competência Interposição: Juiz de Direito da Vara das Execuções Criminais da Comarca de ... (Obs.: na petição de interposição, deve haver menção ao juízo de retratação, com fundamento no art. 589 do CPP). Razões: Tribunal de Justiça do Estado de ... PRÁTICA SIMULADA PENAL - 2023 – 1° SEMESTRE Profª Wanda Maria Lima Teses A decisão proferida pelo Juiz das Execuções não deve prevalecer, eis que o agravante faz juz à progressão de regime. Nos termos da Súmula 471 do STJ: “Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei nº 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional”. No mesmo sentido é a orientação da Súmula Vinculante 26. No caso em apreço, o agravante foi condenado pela prática de crime previsto no art. 121, § 2º, III, do CP, crime este que é considerável hediondo, nos termos do art. 1º, I, da Lei 8.072/90. Ocorre que o delito foi cometido no ano de 2006, razão pela qual a concessão do benefício da progressão de regime ao agravante deve ter por requisito objetivo o cumprimento de 1/6 da pena fixada, nos termos do art. 112 da Lei de Execuções Penais, conforme determinam as já mencionadas Súmula 471 do STJ e Súmula Vinculante 26. Nesse passo, tendo em vista que já cumpriu 2 anos dos 12 aos quais foi condenado, ou seja, 1/6 da pena, Leandro preenche o requisito objetivo para a concessão do benefícioem questão. Portanto, tendo em vista o atestado de boa conduta carcerária e o tempo de pena já cumprido, de rigor o deferimento da progressão de regime requerida, com base no disposto no art. 112 da Lei 7.210/84. Pedidos e requerimentos Ante o exposto, requer seja conhecido e provido o presente recurso, para que seja determinada a progressão de regime. Data da peça O prazo para o Agravo em Execução é de 5 dias (Súmula 700 do STF). Data da intimação: 7 de abril de 2014 (segunda-feira) Termo inicial do prazo: 8 de abril de 2014 (terça-feira) Termo final do prazo: 14 de abril de 2014 (segunda-feira) Obs.: o termo final do prazo seria dia 12 de abril, sábado, mas, como o prazo processual não se inicia e nem se esgota em dias não úteis, teve de ser postergada para o próximo dia útil, que, no caso, era segunda-feira. PRÁTICA SIMULADA PENAL - 2023 – 1° SEMESTRE Profª Wanda Maria Lima EXCELENTÍSSIMO SENHOR DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DAS EXECUÇÕES CRIMINAIS DA COMARCA ... Execução Penal nº. AGRAVANTE, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, atualmente recolhido no Presídio ............na Comarca de ....., onde cumpre pena, não se conformando com a respeitável decisão que ........ (COPIAR O TEOR DA DECISÃO IMPUGNADA), vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por meio de seu advogado, que esta subscreve, interpor o presente recurso de Agravo em Execução com fulcro no artigo 197 da Lei 7.210/84. Requer seja este recebido e processado, para que, a partir das razões desde já inclusas, possa Vossa Excelência exercer, caso assim entenda, juízo de retratação, concedendo o direito pleiteado. Caso Vossa Excelência entenda por manter a decisão denegatória, após ouvido o ilustre representante do Ministério Público, requer seja encaminhado o presente recurso ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de ....., para julgamento. Nestes termos, pede deferimento. Local, ____ de __________ de ______ Advogado – OAB RAZÕES DE AGRAVO EM EXECUÇÃO Agravante: ____. Agravado: PRÁTICA SIMULADA PENAL - 2023 – 1° SEMESTRE Profª Wanda Maria Lima Execução Penal nº ____. Egrégio Tribunal, Colenda Câmara, Dos Fatos Narrar os fatos com todas as circunstâncias, sem inventar dados. Do Direito Muito embora o artigo 2º da Lei nº 8.072/1990, com a redação que lhe deu a Lei nº 11.464/2007, estabeleça que o tempo mínimo de cumprimento da pena em regime fechado seja de 2/5 (dois quintos) para os condenados por crimes hediondos, o dispositivo legal acima não pode ser aplicado ao presente caso. A partir da declaração, pela Corte Suprema, da inconstitucionalidade do parágrafo 1º do artigo 2º da Lei nº 8.072, que vedava a progressão de regime no caso de crimes hediondos, passou a ser aplicável à matéria o artigo 112 da Lei de Execução Penal, que estabelece o cumprimento de 1/6 da pena como requisito para progressão de regime. A Lei nº 11.464/2007, que trouxe, no caso de crimes hediondos, a exigência do cumprimento de 2/5 da pena para progressão de regime, se o apenado for primário, e 3/5 se reincidente, constitui norma penal mais gravosa, estando submetida à garantia constitucional que determina que a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu, nos termos do artigo 5º, inciso XL da Constituição. Acerca do tema, Fernando Capez afirma que possuem caráter penal as normas relativas ao cumprimento da pena, como as que proíbem ou permitem a progressão de regime, as que dificultam ou facilitam o livramento condicional, as que permitem a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos etc. Para o autor, tais normas alcançam o próprio jus puniendi, tornando-o mais ou menos intenso: O Estado estará exercendo de forma muito mais intensa sua pretensão executória, quando submete o condenado ao regime integral fechado, do que quando substitui a pena por multa.[1] Em se tratando de lei penal mais gravosa e posterior à prática do fato, não pode incidir em prejuízo do Agravante, devendo a execução sua pena reger-se de acordo com Lei de Execução Penal. Esse é o entendimento que vem sendo adotado pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se vê da ementa abaixo transcrita, de Acórdão proferido pela Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça no julgamento do Habeas Corpus nº 184892 – SP. PRÁTICA SIMULADA PENAL - 2023 – 1° SEMESTRE Profª Wanda Maria Lima CRIMINAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES.PROGRESSÃO DE REGIME. DELITO PRATICADO ANTES DO ADVENTO DA LEI 11.464/07. IRRETROATIVIDADE DA LEI PENAL MAIS GRAVOSA. IMPOSSIBILIDADE DE EXIGÊNCIA DO DESCONTO DE 2/5 DA PENA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. ORDEM CONCEDIDA. I. O requisito objetivo necessário para a progressão de regime prisional dos crimes hediondos e equiparados, praticados antes do advento da Lei n.º 11.464/07, deve ser o previsto no art. 112 da Lei de Execução Penal, qual seja, - 1/6 (um sexto). II. A exigência do cumprimento de 2/5 (dois quintos) ou de 3/5 (três quintos) da pena imposta, como requisito objetivo para a progressão de regime aos condenados por crimes hediondos, trazida pela Lei n.º 11.464/07, por ser evidentemente mais gravosa, não pode retroagir para prejudicar o réu. III. Deve ser reformado o acórdão combatido, tão somente para afastar a aplicação da Lei 11.464/07 e determinar que o Juízo da Vara de Execuções adote como critério objetivo temporal para a progressão do regime o previsto no art. 112 da LEP, mantendo-se, no mais, a condenação imposta ao réu. Sobre o tema, já existe até mesmo súmula da jurisprudência do STJ. Súmula nº 471: Os condenados por crimes hediondos ou assemelhados cometidos antes da vigência da Lei n. 11.464/2007 sujeitam-se ao disposto no art. 112 da Lei n. 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) para a progressão de regime prisional. 3. Dos Pedidos Diante de todo o exposto, e considerando que o Agravante já cumpriu o requisito temporal mínimo de 1/6 (um sexto) exigido para ver progredido o regime de execução de sua pena, bem como atende aos demais requisitos exigidos pela legislação aplicável, requer seja conhecido e provido o presente recurso, tornando sem efeito a decisão contra a qual se insurge, para que seja concedido o benefício à progressão de regime prisional do agravante para o semi-aberto, nos termos do art. 112 da Lei de Execução Penal. Nestes termos, pede deferimento. Local, data. Advogado – OAB.
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