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1 ÍNDICE 1. AÇÃO RESCISÓRIA......................................................................................................2 2. TEORIA GERAL DOS RECURSOS.................................................................................13 3. PRINCÍPIOS...............................................................................................................19 4. EFEITOS DOS RECURSOS...........................................................................................27 5. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE......................................................................................29 6. RECURSO ADESIVO...................................................................................................38 7. APELAÇÃO................................................................................................................40 8. AGRAVO DE INSTRUMENTO.....................................................................................49 9. AGRAVO INTERNO....................................................................................................61 10. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO...................................................................................67 11. RECURSO EXTRAORDINÁRIO E RECURSO ESPECIAL...................................................74 2 AÇÃO RESCISÓRIA Formada a coisa julgada, a decisão que transitou em julgado se torna imutável e indiscutível. Contudo, existe um mecanismo excepcional que permite impugnar a coisa julgada – a ação rescisória. É uma demanda autônoma de impugnação de decisões judiciais. As decisões podem ser impugnadas de duas formas: por meio de recursos (caso em que a impugnação se dará no mesmo processo em que a decisão foi proferida, de forma incidental, sendo um prolongamento deste) ou por meio de demandas autônomas (caso em que a impugnação dá origem a um processo novo, ex. MS contra ato judicial e embargos de terceiro). Ação rescisória é uma demanda que tem por objeto a desconstituição de decisão judicial transitada em julgado com eventual rejulgamento da causa original. Formula-se, invariavelmente, um primeiro pedido de desconstituição da decisão transitada em julgado. Eventualmente, cumulado a este pedido, formula-se um segundo pedido de rejulgamento da causa original(art. 968 do NCPC). Ex. 1. Pedido de desconstituição ao argumento de que a decisão se baseou em prova falsa e pedido de rejulgamento para que o processo não fique sem desfecho, mas sem o vício da primeira decisão. Ex. 2. Pedido de desconstituição ao argumento de que houve violação da norma jurídica, pois uma das partes não foi intimada para AIJ e o juiz julgou contra esta parte com base em elementos de prova colhidos na AIJ. Aqui não há como o tribunal julgar a causa original, pois o erro seria repetido; determina-se ao juiz de 1º grau que repita a AIJ. Sempre vai haver o pedido de desconstituição; eventualmente, soma-se o pedido de rejulgamento da causa. O juízo rescindente é o julgamento do pedido de desconstituição, que será julgado primeiro. Se ele for procedente, passa-se ao juízo rescisório, qual seja o rejulgamento da causa original. Por isso, pode-se concluir que sempre há juízo rescindente, mas nem sempre haverá juízo rescisório. Estes julgamentos devem se dar de forma separada, ainda que no mesmo dia. Decisões Passíveis de Ação Rescisória A ação rescisória ataca: ❖ Decisão de mérito transitada em julgado: decisão pode englobar tanto decisão interlocutória (ex. art. 356, NCPC – julgamento antecipado parcial de mérito) como sentença. ❖ Decisão terminativa que impede a repropositura da demanda (art. 966, §2º, I, NCPC): pelo regime do NCPC, existem algumas decisões meramente terminativas, ou seja, que não resolvem o mérito da causa, mas que impedem que a mesma demanda seja proposta novamente. Só se pode ir à juízo se 3 corrigido o vício que levou à extinção sem resolução do mérito. São os casos do art. 486, §1º, NCPC. Ex. Extinção pelo acolhimento de preliminar de ilegitimidade ativa em ação popular proposta por estrangeiro. Se posteriormente adquire cidadania brasileira, pode propor rescisória. ❖ Decisão que não admite recurso (art. 966, §2º, II, NCPC): se o tribunal não conhece do recurso interposto, a decisão que faz coisa julgada é a de mérito de primeiro grau. Contudo, se no tribunal, participou relator impedido, cabe ação rescisória, conquanto não haja vício na decisão de primeiro grau que transitou em julgado. Causas de Rescindibilidade São os possíveis fundamentos para se propor uma ação rescisória. Injustiça não é fundamento de ação rescisória. Não se discute se a decisão anterior foi justa ou injusta (isso transformaria a ação rescisória em um megarecurso com um prazo extremamente dilatado). Existem alguns casos em que na decisão existe um grave vício em sua formação, ex. o juiz cometeu o crime de corrupção passiva ao proferir a decisão. Essa decisão deve ser expurgada do sistema diante do vício intolerável que ela contém, independentemente de ser justa ou injusta. Portanto, esses vícios, possíveis fundamentos da ação rescisória, estão no art. 966 do NCPC. I – proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; Se o juiz, para proferir a decisão, cometeu alguns desses crimes, há fundamento para ação rescisória. Registre-se que o juiz não precisa ter sido condenado no âmbito penal para propositura da rescisória. Essa cognição será feita no âmbito da própria ação rescisória, da qual o juiz não é parte e não exercerá qualquer tipo de defesa (eventual defesa será feita somente no âmbito criminal). Se já houve processo penal e o juiz foi condenado, proposta a ação rescisória, o tribunal não poderia negar que ele cometeu o crime, pois a sentença penal condenatória faz coisa julgada no cível. O mesmo ocorre em relação à sentença absolutória que reconhece a inexistência do fato ou a negativa da autoria. Isso é praticamente impossível, na medida em que o processo penal costuma demorar bem mais do que o prazo de 2 (dois) anos para propositura da rescisória. Se o juiz de primeiro grau cometeu o crime, mas, ao julgar a apelação, o colegiado nega provimento ao recurso, confirmando a sentença. Cabe ação rescisória? Não, pois o que transitou em julgado foi o acórdão, substitutivo da sentença, e no acórdão nenhum vício há. Se o juiz de primeiro grau não cometeu o crime, mas, ao julgar a apelação, um dos 3 integrantes do colegiado que participou do julgamento cometeu o crime. Cabe ação rescisória? Se o juiz que cometeu o crime proferiu o voto vencedor, cabe ação rescisória; se proferiu o voto vencido, não cabe. Isto porque é impossível definir a influência de um voto no outro. 4 II – proferida por juiz impedido ou juízo absolutamente incompetente; Só o impedimento do juiz é causa de rescindibilidade; a suspeição não. Só a incompetência absoluta do juízo é causa de rescindibilidade; a independência relativa não. Tudo em relação ao inciso I se aplica ao inciso II também. Ex. A causa tramitou em Vara Cível quando deveria ter tramitado na Vara Empresarial. A apelação é julgada em Câmara Cível comum. Cabe ação rescisória? Não, pois o acórdão da Câmara substituiu a sentença proferida pelo juízo de primeiro grau absolutamente incompetente, e foi ele quem fez coisa julgada, sem que haja qualquer vício de incompetência (a Câmara Cível julga recursos da Vara Cível e Empresarial). III - quando resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou de simulação ou a colusão entre as partes a fim de fraudar a lei; a) Decisão que resulta de dolo ou coação da parte vencedora: a parte vencedora agiu com dolo ou coação para levar o juiz a julgar em seu favor em detrimento da outra parte (ex.sequestro do filho do juiz). b) Decisão que resulta de simulação ou colusão entre as partes a fim de fraudar a lei: as partes agem em conjunto para obter um resultado ilícito no processo. É muito comum em fraudes contra a previdência. IV – quando ofender a coisa julgada; Pode haver violação ao efeito positivo da coisa julgada ou ao efeito negativo da coisa julgada. O efeito negativo é a consequência que a coisa julgada produz sobre outros processos que versem sobre a mesma causa, qual seja a extinção sem resolução do mérito. Se há violação desse efeito, ou seja, se o juiz julga novamente uma causa já transitada em julgado, cabe ação rescisória. O efeito positivo da coisa julgada ocorre quando o julgamento de uma segunda causa depende do julgamento de uma primeira causa que já transitou em julgado. Há uma relação de prejudicialidade entre as causas. Quando o juiz for julgar a segunda causa, ele deve respeitar o teor da primeira causa transitada em julgado. É o efeito de vincular futuras causas. Ex. Não pode em uma ação de petição de herança o juiz entender que o autor não é filho do de cujus se já há uma ação de investigação de parternidade em face do de cujus procedente transitada em julgado. Se o juiz descumpre isso, cabe rescisória. V - quando violar manifestamente norma jurídica; A violação da norma jurídica não precisa ser manifesta, basta que seja provada. A norma jurídica violada pode ser norma material ou processual. Ex. A sentença reconheceu a lesão a um direito autoral do autor; contudo, há uma lei que diz que não deve ser protegido como 5 direito autoral (violação de norma material). Ex. Julgamento extra petita (violação de norma processual). Violação da norma jurídica não se confunde com violação ao texto da lei. Muitas vezes, a violação de uma norma não afronta a literalidade da lei, mas afronta o sentido que lhe foi conferido, por exemplo, em um julgamento de recurso repetitivo. A violação pode se dar tanto quando não se aplica a norma e era caso de aplicá-la, bem como quando se aplica a norma em caso que não era aplicável. Vide art. 966, §5º, do NCPC. Superação de entendimento não enseja ação rescisória (enunciado 343 da Súmula do STF), salvo em caso de controvérsia sobre questão afeta à norma constitucional em que não houve modulação de efeitos, caso em que o próprio STF admite ação rescisória. VI – fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria rescisória; Prova falsa não é a prova que o juiz valorou errado (isso é prova injusta). A prova pode ser falsa tanto em caso de falsidade ideológica como material. Ex.testemunha mentiu, documento foi forjado. É preciso que essa prova falsa seja fundamento determinante da decisão. Se as conclusões da decisão se mantêm ainda que suprimida aquela prova, não cabe ação rescisória. VII – quando obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova, cuja existência ignorava, ou de que não pode fazer uso, capaz por si só de lhe assegurar pronunciamento favorável; A prova nova não é prova superveniente, pois se ela fosse criada depois do trânsito em julgado, não haveria qualquer vício na decisão que não a considerou. Prova nova é prova que já existia ao tempo do trânsito em julgado, mas que não era conhecida ou que não pode ser utilizada em tempo hábil. Ex. Documento que era sigiloso à época do processo e depois deixou de sê-lo. VII – quando for fundada em erro de fato, verificável do exame dos autos; Esse é um caso em que a rescisória vai ser admissível por conta de um erro de percepção no exame dos autos. O erro de fato consiste em reconhecer como verdadeiro um fato que não aconteceu ou então se reputar inexistente um fato que ocorreu (art. 966, §1º, NCPC). Só de examinar os autos se percebe o erro. O juiz não percebeu que determinado elemento estava nos autos, porque, se tivesse percebido, ele não decidiria como decidiu. Ex. Juiz não verifica que há um recibo juntado pelo réu nos autos que comprova o pagamento. Não cabe rescisória se o juiz percebeu o fato, mas valorou mal (ex. juiz vê o recibo, mas considera que ele não prova o pagamento ante a ausência de assinatura). Para que haja erro de fato pelo juiz, é necessário que o fato não percebido pelo juiz seja incontroverso (ex. réu junta recibo e autor não impugna), conforme prevê o §1º do art. 966. 6 Processo da Rescisória É da competência originária dos Tribunais. É competente para conhecer da rescisória o Tribunal que proferiu a decisão rescindenda. Se a decisão rescindenda é de primeira instância, será competente para a ação rescisória o Tribunal que teria sido competente para julgar o recurso. Se a decisão rescindenda é do juízo de 1º grau no TJRJ, a competência para julgamento da rescisória é das Câmaras Cíveis Comuns (1ª a 22ª) ou das Câmaras Cíveis do Consumidor (23ª a 28ª). Se a decisão rescindenda é da Câmara Cível do TJRJ, a competência para julgamento da rescisória é da Seção Cível Comum ou Seção Cível do Consumidor, respectivamente. Se a decisão rescindenda é da Seção Cível Comum ou do Consumidor, a competência para julgamento da rescisória é do Órgão Especial. Se a decisão rescindenda é do Órgão Especial, a competência para julgamento da rescisória é do próprio Órgão Especial. A rescisória é formulada por meio de uma petição inicial, na qual devem constar todos os requisitos comuns de uma petição inicial, bem como a cumulação dos pedidos de desconstituição e de rejulgamento, se for o caso (se não formular o pedido de rejulgamento e for o caso, deve o tribunal mandar emendar a inicial). Deve o autor fazer um depósito do equivalente a 5% do valor da causa (NCPC, art. 968, II). Esse valor será convertido em uma multa em favor do réu caso o autor da rescisória tenha seu pedido julgado improcedente por unanimidade (art. 968, II c.c. art. 974, p.ú). ❖ Os 5% não podem ultrapassar o valor de 1.000 salários mínimos (art. 968, §2º). ❖ Este depósito não se aplica aos entes federativos, bem como suas respectivas autarquias e fundações públicas, ao MP, à DP e aos que obtiveram o benefício da gratuidade de justiça. Embora não tenham que depositar no início, caso fiquem vencidos, deverão pagar o equivalente a 5% do valor da causa a título de multa, inclusive o beneficiário de justiça gratuita. Cabe emenda da inicial, indeferimento da inicial, improcedência liminar. Contudo, estando tudo correto, o rrelator determinará a citação do réu. É o único procedimento em que a lei não estabelece um prazo de contestação fixo, mas um prazo mínimo de 15 dias e um prazo máximo de 30 dias, devendo o relator fixá-lo (art. 970). Além de contestar, o réu da rescisória pode reconvir, desde que o pedido formulado em sede de reconvenção também seja rescisório. A partir daí, observa-se o procedimento comum: réplica, saneamento do processo, produção de provas etc. se os fatos alegados pelas partes dependerem de prova, o relator pode designar tal produção ao juízo de primeiro grau por meio de carta de ordem (art. 972). Concluída a instrução probatória, se ela for necessária, as partes terão prazo sucessivo de 10 dias para alegações finais escritas (art. 973). Oferecidas as 7 alegações, procede-se ao julgamento: primeiro, do juízo rescindente e, depois, se for o caso, ao juízo rescisório. Se o pedido de rescisão for julgado procedente por maioria, suspende tudo e encaminha-se o processo para um órgão mais amplo para que a rescisória seja julgada por um colegiado maior (art. 942, §3º). Ex. Se houve maioria na Câmara (2x1) o julgamento tem que ser transferido para a Seção (em que votam 5 integrantes). Se houve maioria na Seção (3x2 ou 4x1) o julgamento tem que ser transferido para o Órgão Especial (25 integrantes). ❖ Transfere-se todo o julgamento, tanto o rescindente como o rescisório.❖ Há apenas uma ampliação de colegiado no mesmo processo (logo, se houve maioria na Câmara, transfere-se para a Seção, mas se esta vota por maioria, não vai para o Órgão Especial). ❖ Essa técnica não se aplica ao julgamento não unânime proferido pelo Plenário ou pelo Órgão Especial (art. 942, §4º, III). Prazo O direito à rescisão está sujeito a um prazo decadencial de 2 anos, contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo (art. 975), e não da decisão rescindenda (ex. se eu interponho vários recursos da sentença, ainda que nenhum deles seja admitido, o prazo contará da decisão que negou o último recurso). Trata-se de prazo decadencial que não se suspende nem se interrompe. Contudo, o art. 975, §1º, admite sua prorrogação para o primeiro dia útil subsequente quando haja férias, recesso, feriado ou não houver expediente forense. Se a ação rescisória se fundar em prova nova (art. 966, VII), o prazo decadencial de 2 anos começará a contar da data da descoberta da prova, observado o prazo máximo de 5 anos do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. Ex. Se eu descubro a prova nova 4 anos após o trânsito em julgado da última decisão, eu não terei mais 2 anos para propor a rescisória, mas apenas 1 ano para observar o limite máximo. Se a ação rescisória se fundar em simulação ou colusão das partes (art. 966, III, 2ª parte), para as partes, o prazo corre normalmente; contudo, para o terceiro prejudicado e para o MP o prazo conta da ciência da simulação ou colusão. Uma primeira corrente diz que não há prazo máximo, uma vez que a lei não prevê. Uma segunda corrente diz que deve ser aplicado analogicamente o prazo de 5 anos previsto no art. 975, §2º. Uma terceira corrente, seguida por Alexandre Câmara, entende que não há como o prazo ser de 5 anos, pois não se pode aplicar analogicamente uma norma de caráter excepcional. Para ele, sendo um prazo de direito material não previsto em lei, há de se aplicar por analogia a norma geral da prescrição do art. 205 do CC. Foi proferida uma decisão com base em um ato normativo (Lei X). Depois da decisão, o STF, em controle de constitucionalidade, se pronunciou sobre a Lei X, ou para dizer que ela é inconstitucional ou para a dar a ela interpretação conforme ou para pronunciar uma 8 declaração de nulidade parcial com ou sem redução de texto. É preciso saber se o pronunciamento do STF foi antes ou depois do trânsito em julgado daquela primeira decisão. ❖ Se o pronunciamento do STF se deu antes do trânsito em julgado (art. 525, §§12 ao 15): a matéria poderá ser discutida em impugnação ao cumprimento de sentença. ❖ Se o pronunciamento do STF se deu após o trânsito em julgado: a matéria poderá ser discutida somente em ação rescisória (art. 525, §15). Neste caso, o prazo da ação rescisória de 2 anos será contado a partir do trânsito em julgado da decisão do STF. Aqui há a mesma discussão quanto ao limite temporal: nenhum, 5 anos, ou 10 anos. QUESTÕES OBJETIVAS 1. (FGV - 2021 - IMBEL - Advogado - Reaplicação) A respeito da ação rescisória, assinale a afirmativa correta. A) Pode ser utilizada para atacar a decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça a propositura de nova demanda. B) Tem, como uma de suas hipóteses de cabimento, a decisão de mérito ter sido proferida por juiz suspeito ou impedido, ou por juízo absolutamente incompetente. C) Caso proposta a rescisória perante tribunal incompetente, o processo será extinto sem análise do mérito, diante das peculiaridades procedimentais dessa ação. D) O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado de cada capítulo da sentença. E) A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória com a apresentação de garantia pelo requerente desta. GABARITO: A LETRA A- CORRETA. Reproduz hipótese do art. 966, §2º, I, ou seja, cabe ação rescisória de decisão que, transitada em julgado, ainda que não seja de mérito, impeça nova propositura de ação. LETRA B- INCORRETA. Diferente do exposto, não falamos em ação rescisória para o caso de juiz suspeito, tudo conforme depreende-se da leitura do art. 966, II, do CPC. Cabe ação rescisória é no caso de decisões de juiz impedido ou absolutamente incompetente. LETRA C- INCORRETA. Havendo incompetência no manejo da ação, não é caso de extinção, mas sim de emenda da inicial. Diz o art. 968, §5º, do CPC: “ Art. 968 https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/fgv-2021-imbel-advogado-reaplicacao 9 (...) § 5º Reconhecida a incompetência do tribunal para julgar a ação rescisória, o autor será intimado para emendar a petição inicial, a fim de adequar o objeto da ação rescisória, quando a decisão apontada como rescindenda". LETRA D- INCORRETA. O prazo decadencial é de dois anos do trânsito em julgado da última decisão no processo, e não contado de cada “capítulo". Diz o art. 975 do CPC: “ Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo." LETRA E- INCORRETA. Não há a exigência de prestação de garantia para eventual concessão de tutela provisória em sede de ação rescisória. Diz o art. 969 do CPC: “Art. 969. A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória." 2. (UFPR - 2020 - Câmara de Curitiba - PR - Procurador Jurídico) A Ação Rescisória é ação de conhecimento, de natureza constitutiva negativa, que se destina a desconstituir a coisa julgada nas hipóteses de rescindibilidade previstas em lei. A respeito dessa ação autônoma de impugnação de decisões judiciais, é correto afirmar: A) A decisão transitada em julgado que impeça nova propositura da demanda, ou a admissibilidade do recurso correspondente, será passível de impugnação por meio de ação anulatória, não sendo cabível ação rescisória por não se tratar de decisão de mérito. B) Contra decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento, caberá ação rescisória com fundamento em violação manifesta de norma jurídica, hipótese em que caberá ao autor, sob pena de improcedência liminar do pedido, demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada por hipótese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a impor outra solução jurídica. C) O direito à rescisão do pronunciamento judicial nas hipóteses previstas em lei se extingue em 2 anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo, prazo este improrrogável ainda que expire em dia em que não houver expediente forense, por se tratar de prazo decadencial. D) A decisão de mérito transitada em julgado pode ser rescindida quando o autor obtiver, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável, hipótese em que o termo inicial do prazo será a data de descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de 10 anos, contado do trânsito em julgado da decisão rescindenda. E) Nas hipóteses de cabimento de ação rescisória por simulação ou colusão das partes a fim de fraudarem a lei, o prazo para a propositura da ação começará a contar para o terceiro prejudicado e para o Ministério Público que não interveio no processo a partir do momento em que eles tiverem ciência da simulação ou da colusão. https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/ufpr-2020-camara-de-curitiba-pr-procurador-juridico 10 GABARITO:E Alternativa A) Diversamente do que se afirma, este seria um caso de propositurade ação rescisória, senão vejamos: "Art. 966, §2º, CPC/15: "Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça: I - nova propositura da demanda; ou II - admissibilidade do recurso correspondente". Afirmativa incorreta. Alternativa B) É certo que a sentença que "violar manifestamente norma jurídica" constituirá uma das hipóteses em que será possível a propositura de ação rescisória (art. 966, V, CPC/15). Este dispositivo legal deve ser interpretado, no que diz respeito a desrespeito a entendimento sumulado, no sentido de que viola norma jurídica a "decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento". Porém, a falta de demonstração desta distinção pelo autor é hipótese de inépcia da petição inicial e não de improcedência liminar do pedido, senão vejamos: "Art. 966, §6º, CPC/15. Quando a ação rescisória fundar-se na hipótese do § 5º deste artigo, caberá ao autor, sob pena de inépcia, demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada por hipótese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a impor outra solução jurídica". Afirmativa incorreta. Alternativa C) É certo que o direito à rescisão do pronunciamento judicial nas hipóteses previstas em lei se extingue em 2 anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo, porém, caso o vencimento se dê em dia em que não houver expediente forense, será prorrogado para o próximo dia útil, senão vejamos: "Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. §1º. Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente o prazo a que se refere o caput, quando expirar durante férias forenses, recesso, feriados ou em dia em que não houver expediente forense". Afirmativa incorreta. Alternativa D) O prazo máximo para o ajuizamento da ação rescisória fundada em nova prova é de 5 (cinco) anos e não de dez, conforme dispõe o art. 975, §2º, do CPC/15: "Se fundada a ação no inciso VII do art. 966 ['obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável'], o termo inicial do prazo será a data de descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo". Afirmativa incorreta. Alternativa E) É o que dispõe expressamente o art. 975, §3º, do CPC/15: "Nas hipóteses de simulação ou de colusão das partes, o prazo começa a contar, para o terceiro prejudicado e para o Ministério Público, que não interveio no processo, a partir do momento em que têm ciência da simulação ou da colusão". Afirmativa correta. 3. (VUNESP - 2020 - Valiprev - SP - Procurador) Segundo os contornos traçados pelo Código de Processo Civil de 2015, é correto afirmar, quanto à ação rescisória, que A) há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inverossímil, sendo indispensável que o fato represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado. https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/vunesp-2020-valiprev-sp-procurador 11 B) tem cabimento contra decisão baseada em enunciado de súmula dos tribunais, quando não tenha sido dada ao enunciado interpretação condizente com o ordenamento jurídico. C) por se tratar de hipótese de decadência, o prazo de dois anos para sua propositura, quando expirar durante feriado, não se prorroga até o primeiro dia útil subsequente. D) é rescindível a decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça admissibilidade do recurso correspondente. E) deve ter por objeto a íntegra dos pedidos tratados na decisão rescindenda, ainda que seja para ratificar os capítulos da decisão que não apresentam vícios rescisórios. GABARITO: D Alternativa A) É certo que a sentença "fundada em erro de fato verificável do exame dos autos" constitui uma das hipóteses em que é possível a propositura de ação rescisória (art. 966, VIII, CPC/15). Segundo o §1º deste dispositivo legal, porém, "há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado". Afirmativa incorreta. Alternativa B) É certo que a sentença que "violar manifestamente norma jurídica" constituirá uma das hipóteses em que será possível a propositura de ação rescisória (art. 966, V, CPC/15). Este dispositivo legal, porém, no que diz respeito a desrespeito a entendimento sumulado, deve ser interpretado no sentido de que viola norma jurídica a "decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento". Conforme se nota, deve ser demonstrada a falta de distinção entre a questão discutida no processo e a que deu origem à súmula (padrão decisório que lhe deu fundamento) para que seja possível o enquadramento nesta hipótese de cabimento de ação rescisória. Afirmativa incorreta. Alternativa C) Em sentido contrário, dispõe o art. 975, caput, c/c §1º, do CPC/15: "Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. §1º. Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente o prazo a que se refere o caput , quando expirar durante férias forenses, recesso, feriados ou em dia em que não houver expediente forense". Afirmativa incorreta. Alternativa D) Esta previsão está contida no art. 966, §2º, do CPC/15: "§2º. Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça: I - nova propositura da demanda; ou II - admissibilidade do recurso correspondente". Afirmativa correta. Alternativa E) Ao contrário do que se afirma, dispõe o art. 966, §3º, do CPC/15, que "a ação rescisória pode ter por objeto apenas 1 (um) capítulo da decisão", o que significa que não precisa ter por objeto a íntegra dos pedidos tratados na decisão rescindenda. Afirmativa incorreta. 12 4. (VUNESP - 2019 - Prefeitura de Francisco Morato - SP - Procurador) A respeito do tema “ação rescisória”, assinale a alternativa correta. A) É cabível a propositura de ação rescisória em face de acórdão que, à época de sua prolação, estava em conformidade com a jurisprudência predominante do STF. B) O entendimento atual do STJ é que a ação rescisória serve como instrumento voltado à uniformização de jurisprudência, inclusive quando a controvérsia se basear na aplicação de norma constitucional. C) Caso o autor obtenha, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável, o termo inicial do prazo para propositura da ação rescisória será a data de descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. D) Na ação rescisória, devolvidos os autos pelo relator, a secretaria do tribunal expedirá cópias do relatório e as distribuirá entre os juízes que compuserem o órgão competente para o julgamento. A escolha de relator recairá, sempre que possível, em juiz que haja participado do julgamento rescindendo. E) Na petição inicial da ação rescisória, o autor deve cumular ao pedido de rescisão o pedido denovo julgamento do processo, bem como depositar cinco por centro sobre o valor da causa que se converterá em multa caso a ação seja declarada improcedente por unanimidade, sendo que apenas as entidades de Direito Público estão dispensadas do depósito dos valores. GABARITO: C Alternativa A) Nesse caso, não cabe ação rescisória. As hipóteses de cabimento da ação rescisória estão contidas no art. 966, do CPC/15, nos seguintes termos: "Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente; III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV - ofender a coisa julgada; V - violar manifestamente norma jurídica; VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos". Afirmativa incorreta. Alternativa B) Ao contrário do que se afirma, a ação rescisória não constitui um instrumento voltado à uniformização de jurisprudência. Afirmativa incorreta. Alternativa C) É o que dispõe expressamente o art. 975, §2º, CPC/15: "Se fundada a ação no inciso VII do art. 966 ['obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável'], o termo inicial do prazo será a data de descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo". Afirmativa correta. https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/vunesp-2019-prefeitura-de-francisco-morato-sp-procurador 13 Alternativa D) Em sentido diverso, dispõe o art. 971, parágrafo único, do CPC/15, que "a escolha de relator recairá, sempre que possível, em juiz que não haja participado do julgamento rescindendo". Afirmativa incorreta. Alternativa E) A respeito, dispõe o art. 968, do CPC/15: "A petição inicial será elaborada com observância dos requisitos essenciais do art. 319, devendo o autor: I - cumular ao pedido de rescisão, se for o caso, o de novo julgamento do processo; II - depositar a importância de cinco por cento sobre o valor da causa, que se converterá em multa caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível ou improcedente. § 1º Não se aplica o disposto no inciso II à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, às suas respectivas autarquias e fundações de direito público, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e aos que tenham obtido o benefício de gratuidade da justiça. (...)". Afirmativa incorreta. TEORIA GERAL DOS RECURSOS De acordo com Barbosa Moreira, recurso é o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial que se impugna. Vejamos cada aspecto deste conceito: 1) “Remédio voluntário”: O recurso é uma manifestação de vontade. Ninguém é obrigado a recorrer, ainda que se depare com uma decisão que não lhe seja favorável. Então, para a doutrina majoritária, não tem natureza de recurso o reexame necessário, ou seja, o reexame obrigatório a que se sujeita algumas decisões contrárias à fazenda pública. 2) “Dentro do mesmo processo”: O recurso é um mecanismo de impugnação das decisões judiciais que vai produzir os seus efeitos dentro do mesmo processo. No sistema processual brasileiro há 2 tipos de remédios destinados a impugnar decisões: os recursos e as ações autônomas de impugnação. A distinção entre eles está exatamente nesse ponto da definição, pois os recursos são incidentes processuais, surgem dentro de um mesmo processo instaurado, em que se proferiu a decisão impugnada. Já as ações autônomas de impugnação dão origem a outro processo, distinto daquele em que se proferiu a decisão impugnada (o grande exemplo é a ação rescisória). 14 Pelo princípio da TAXATIVIDADE, são recursos aqueles mecanismos de impugnação das decisões judiciais que tenham recebido essa designação pela lei (artigo 994 do CPC). Só a lei pode atribuir a natureza de recurso a um remédio destinado a impugnar decisão judicial. Se a lei não atribuir essa natureza, aquilo não será recurso, mas sim ação autônoma de impugnação, fazendo nascer um processo novo. Esta distinção também é relevante do ponto de vista prático. Quando se está diante de um recurso, a parte contrária será intimada para contrarrazoar, enquanto que em uma ação autônoma a parte será citada para se manifestar. OBSERVAÇÃO: O recurso se manifesta sempre dentro do mesmo processo, mas não necessariamente dentro dos mesmos autos. Há casos em que o recurso exige uma autuação própria, ou seja, a formação de novos autos distintos dos autos principais, como o agravo de instrumento. O processo é o mesmo, o que se forma é um novo volume para a documentação de alguns atos processuais. 3) “a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial que se impugna” Todo recurso tem uma finalidade. Quem recorre tem uma pretensão de obter algo no tribunal, e essa pretensão só pode ser uma dessas quatro: reforma, invalidação, esclarecimento ou integração de uma decisão judicial. É preciso saber quando se vai deduzir cada uma dessas pretensões, a depender do tipo de vício que macula a decisão judicial recorrida. Nesse sentido, a doutrina elenca a seguinte relação: “Error in iudicando” → Reforma “Error in procedendo” → Invalidação Obscuridade ou contradição → Esclarecimento Omissão → Integração Quando o fundamento do recurso é a existência de um “error in iudicando”, ou seja, um erro de julgamento, o pedido a se formular é a reforma da decisão. Em outras palavras, o motivo pelo qual se recorre é a existência de uma decisão errada, que avaliou incorretamente os pressupostos fáticos e os fundamentos jurídicos. Impugna-se a conclusão, o dispositivo da decisão (Ex: o juiz julga procedente quando deveria ter julgado improcedente, o juiz indeferiu uma prova que deveria ter deferido), pedindo a reforma daquele desfecho. O erro de julgamento não é necessariamente um erro no julgamento do mérito, pode ser um erro em qualquer questão (Ex: apreciação das condições da ação, valor da causa, apreciação de uma prova). Quando o fundamento é o “error in procedendo”, o que há é um vício de atividade, de procedimento, e se pedirá ao tribunal para que anule a decisão. O que se pede é que o tribunal diga que aquela decisão não valeu, que ela foi produzida de modo viciado (Ex: decisão 15 sem fundamentação, decisão proferida por juiz incompetente). Não se busca a reforma, mas sim a invalidação. Não se discute a conclusão ou o desfecho da decisão, mas sim o modo como ela foi produzida. Pleiteia-se a invalidação da decisão e o proferimento de outra. Um importante exemplo trazido pelo NCPC é a nulidade por falta de fundamentação da decisão. Art. 489, § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. Quando o fundamento é obscuridade ou contradição, vai se pedir o esclarecimento da decisão. Há casos em que a decisão judicial é obscura, lhe falta clareza, de modo que é preciso pedir, através de um recurso, que se esclareça essa decisão. Essa obscuridade pode se dar por razões múltiplas, seja na compreensão do texto ou seja até por uma falha na impressão. O texto também pode ser contraditório, por ter postulados incompatíveis; há uma contradição interna na decisão judicial. Sempre que se postula o esclarecimento de uma decisão o recurso cabível são os Embargos de Declaração, seja qual for o tipo de decisão (interlocutória, sentença etc). Quando o fundamento é a omissão, o pedido será a integração dessa decisão (Ex: o juiz se omite a respeito dos honorários). Para pedir essa integração o recurso cabível também são os Embargos de Declaração. Os embargos, portanto, servem tanto para esclarecimentos quanto para integração da decisão. 4) “da decisão judicial que se impugna” Recurso é um mecanismo destinado a impugnar decisão judicial. Só cabe recurso contra ato judicial que tenha conteúdo decisório. Portanto, é preciso identificar quais são os atos recorríveis. Vejamos: ➔ Em primeiro lugar, não cabe recurso contra atos que não provenham do juiz. Ex: atos praticados por auxiliares do juízo, independentemente de despacho, como juntada e vista obrigatória (a exemplo dos atos previstos no art. 203, §4º). Art. 203, § 4o Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória, independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz quando necessário. 16 Se houver um erro por parte do escrivão (Ex: era pra ter me dado vista e não me deram) a parte até pode requerer a sua revisão, mas tal requerimento não terá natureza de recurso. ➔ O ato também precisa ter conteúdo decisório. Nesse sentido, o art. 1001 do NCPC prevê a irrecorribilidade dos despachos. Embora se trate de um pronunciamento do juiz, o despacho não tem conteúdo decisório, de modo que não pode ser impugnado por recurso. Art. 1.001. Dos despachos não cabe recurso. Se o juiz der um despacho errado, a parte pode requerer uma correção do despacho, mas tal impugnação não terá natureza de recurso. OBSERVAÇÃO: Doutrina minoritária entende que seria possível a oposição de embargos de declaração contra despachos, a fim de melhor esclarecê-los, a depender da situação. Sobre o tema, mencione-se que, recentemente, o STJ decidiu que “Despacho” que, na fase de cumprimento de sentença, intima o advogado para que o devedor cumpra obrigação de fazer, sob pena de multa, possui aptidão para gerar prejuízo à parte e, portanto, pode ser impugnado por meio de recurso. Confira-se: RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPLEMENTAÇÃO DE BENEFÍCIO DE PREVIDÊNCIA PRIVADA. VIOLAÇÃO DE SÚMULA. NÃO CABIMENTO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. INTIMAÇÃO DO EXECUTADO. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. PRONUNCIAMENTO JUDICIAL APTO A CAUSAR PREJUÍZO. RECURSO CABÍVEL. JULGAMENTO: CPC/15. 1. Ação de complementação de benefício de previdência privada ajuizada em 2007, da qual foi extraído o presente recurso especial, interposto em 06/07/2016 e atribuído ao gabinete em 06/03/2017. 2. O propósito recursal é dizer sobre a negativa de prestação jurisdicional bem como sobre a recorribilidade do pronunciamento judicial que, na fase de cumprimento de sentença, determina a intimação do executado, na pessoa do advogado, para cumprir obrigação de fazer sob pena de multa. 3. Não cabe recurso especial para impugnar eventual violação de súmula, porquanto não se enquadra no conceito de lei federal, disposto no art. 105, III, "a" da CF/88. 4. A mera referência à existência de omissão, sem demonstrar, concretamente, o ponto omitido, sobre o qual deveria ter se pronunciado o Tribunal de origem, e sem evidenciar a efetiva relevância da questão para a resolução da controvérsia, não é apta a anulação do acórdão por negativa de prestação jurisdicional. 5. A Corte Especial consignou que a irrecorribilidade de um pronunciamento judicial advém, não só da circunstância de se tratar, formalmente, de despacho, mas também do fato de que seu conteúdo não é apto a causar gravame às partes. 6. Hipótese em que se verifica que o comando dirigido à recorrente é apto a lhe causar prejuízo, em face da inobservância da necessidade de intimação pessoal da devedora para a incidência de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer. 7. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, parcialmente provido. 17 (REsp 1758800/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 18/02/2020, DJe 21/02/2020) E quais são os atos recorríveis? Em 1ª instância temos: - Decisões interlocutórias - Sentenças Já na 2ª instância, temos: - Decisões monocráticas (proferidas pelo relator singularmente) - Acórdãos (pronunciamentos colegiados) Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. § 1o Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução. § 2o Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se enquadre no § 1o. Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais. No entanto, não é contra qualquer pronunciamento destes que cabe recurso. Existem, no direito processual civil brasileiro, alguns pronunciamentos decisórios contra os quais não cabe recurso. Por exemplo, há decisões interlocutórias que são irrecorríveis, como as proferidas nos juizados especiais cíveis, nos quais não há agravo. O NCPC ainda nos traz mais alguns exemplos de decisões irrecorríveis: - O art. 138 prevê que a decisão sobre a admissão do amicus curiae é irrecorrível. - O art. 1007, §6º prevê que a decisão que releva a pena de deserção por falta ou insuficiência de preparo é irrecorrível. - Os arts. 1031, §2º e 3º também preveem decisões irrecorríveis quando há relação de prejudicialidade entre os recursos especial e extraordinário. - A decisão do STF que entende que a questão objeto de recurso extraordinário não possui repercussão geral também é irrecorrível, nos termos do art. 1035. Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação. Art. 1007, § 6o Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção, por decisão irrecorrível, fixando-lhe prazo de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo. Art. 1.031. Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça. 18 § 1o Concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, se este não estiver prejudicado. § 2o Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso extraordinário, em decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao Supremo TribunalFederal. § 3o Na hipótese do § 2o, se o relator do recurso extraordinário, em decisão irrecorrível, rejeitar a prejudicialidade, devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o julgamento do recurso especial. Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos termos deste artigo. Há também sentenças que são irrecorríveis. Nos juizados especiais cíveis estaduais (L9099), por exemplo, é irrecorrível a sentença que homologa a transação. Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso para o próprio Juizado. Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente. Há também alguns acórdãos que são irrecorríveis, como os acórdãos proferidos pelo STF nas ações diretas de inconstitucionalidade ou de uma ADC ou ADPF, por expressa previsão legal. OBSERVAÇÃO: Sempre que se diz que uma decisão judicial é irrecorrível, é preciso fazer uma ressalva. Mesmo nestes pronunciamentos, pode aparecer algum tipo de vício, como obscuridade, contradição ou omissão. Assim, mesmo quando se afirme expressamente a irrecorribilidade, fica ressalvado o cabimento dos embargos de declaração. Ademais, a jurisprudência do STJ e do STF também admite, em algumas hipóteses, o cabimento de MANDADO DE SEGURANÇA contra algumas decisões irrecorríveis. Não obstante, a jurisprudência do STF já assentou o entendimento de que, nos juizados especiais cíveis, não cabe mandado de segurança para atacar decisões interlocutórias. RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSO CIVIL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. MANDADO DE SEGURANÇA. CABIMENTO. DECISÃO LIMINAR NOS JUIZADOS ESPECIAIS. LEI N. 9.099/95. ART. 5º, LV DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. 1. Não cabe mandado de segurança das decisões interlocutórias exaradas em processos submetidos ao rito da Lei n. 9.099/95. 2. A Lei n. 9.099/95 está voltada à promoção de celeridade no processamento e julgamento de causas cíveis de complexidade menor. Daí ter consagrado a regra da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, inarredável. 3. Não cabe, nos casos por ela abrangidos, aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, sob a forma do agravo de instrumento, ou o uso do instituto do mandado de segurança. 4. Não há afronta ao princípio constitucional da ampla defesa (art. 5º, LV da CB), vez que decisões interlocutórias podem ser impugnadas quando da interposição de recurso inominado. Recurso extraordinário a que se nega provimento. Mas CUIDADO! Nos juizados especiais FEDERAIS, a matéria recebe um tratamento diferente. Ao contrário do que prevê Lei 9.099/95, a Lei 10.259/01 traz expressamente a possibilidade de recurso de determinadas decisões interlocutórias: “Art. 5o Exceto nos casos do art. 4o, somente será admitido recurso de sentença definitiva.” 19 “Art. 4o O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no curso do processo, para evitar dano de difícil reparação.” Dessa forma, tem se admitido o cabimento de agravo de instrumento nos juizados especiais FEDERAIS, para impugnar decisões interlocutórias que versem sobre medidas cautelares. OBSERVAÇÃO: Nos juizados especiais da fazenda pública os arts. 3º e 4º trazem previsão semelhante. Desta forma, também só cabe Agravo de Instrumento contra decisão que concede medida cautelar e antecipatória no curso do processo. Art. 3o O juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir quaisquer providências cautelares e antecipatórias no curso do processo, para evitar dano de difícil ou de incerta reparação. Art. 4o Exceto nos casos do art. 3o, somente será admitido recurso contra a sentença. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRIMEIRA TURMA RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA. RECURSO CONTRA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. RECURSO INADMISSÍVEL. A lei dos Juizados Especiais da Fazenda Pública nº 12.153/2009, somente admite recurso contra decisão que concede medida cautelar e antecipatória no curso do processo, para evitar dano de difícil ou incerta reparação, bem como a possibilidade de interposição de recurso inominado contra a sentença. Inadmissível, assim, Agravo de Instrumento contra decisão interlocutória. NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO. (Agravo de Instrumento Nº 71005906417, Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: Thais Coutinho de Oliveira, Julgado em 18/01/2016). Juizados Especiais Cíveis Não cabe recurso imediato contra as decisões interlocutórias Juizados Especiais Federais Cabe agravo de instrumento contra decisões interlocutórias que versem sobre medidas cautelares Juizados Especiais da Fazenda Pública Cabe agravo de instrumento contra decisões interlocutórias que versem sobre medidas cautelares Feita esta introdução sobre o conceito de recurso e os atos recorríveis, vejamos agora alguns tópicos mais importantes sobre o tema, com destaque para as novidades trazidas pelo CPC15: PRINCÍPIOS 1) Princípio da taxatividade Conforme já vimos, só será recurso aqueles instrumentos de impugnação de decisão judicial que estejam previstos em lei. O art. 994 traz o rol de recursos cabíveis: Art. 994. São cabíveis os seguintes recursos: 20 I - apelação; II - agravo de instrumento; III - agravo interno; IV - embargos de declaração; V - recurso ordinário; VI - recurso especial; VII - recurso extraordinário; VIII - agravo em recurso especial ou extraordinário; IX - embargos de divergência. Contudo, alerte-se para o fato de que pode existir uma outra espécie de recurso prevista em legislação extravagante. Desde que haja previsão legal, não há problema. Um exemplo são os embargos infringentes de alçada, previstos na Lei de Execução Fiscais: Art. 34 - Das sentenças de primeira instância proferidas em execuções de valor igual ou inferior a 50 (cinqüenta) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, só se admitirão embargos infringentes e de declaração. Ademais, alerte-se para o fato de que, por força do princípio do princípio da taxatividade, não será possível que as partes criem uma nova espécie recursal através de negócio jurídico processual. Sobre o tema, confira-se: “O princípio da taxatividade impede que as partes, ainda que de comum acordo, criem recursos não previstos pelo ordenamento processual. Mesmo com a permissão de um acordo procedimental previsto no art. 190 do Novo CPC não é possível que tal acordo tenha como objeto a criação de um recurso não presente no rol legal” (NEVES. Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 9. ed. São Paulo: JusPodivm, 2017. p. 1584). 2) Princípio da voluntariedade: Conforme já estudamos no conceito de recurso, este princípio diz respeito ao elemento volitivo, ou seja, à vontade da parte em recorrer, expressa na interposição do recurso correspondente à situação jurídica dos autos. É um dos pontos que diferencia, como vimos, o recurso da remessa necessária. 3) Princípio do duplo grau de jurisdição: As decisões judiciais devem ser passíveis de um novo exame. É o que justifica os recursos. Esse princípio, contudo, está sujeito a críticas, tanto quanto à sua existência quanto à sua própria denominação. Autores como Barbosa Moreira reputam que essa denominação é equivocada. Nem sempre a revisão da decisão se dá por órgão que integra outro grau de jurisdição. O correto, então, seria falar em “duplo exame” das decisões, e não em “duplo grau”. Exemplo: juizados especiais (o recurso inominado é dirigido à turma recursal, que é composta por juízes, e não por desembargadores). 21 Há divergências também quanto à própria existência desse princípio. De um lado, há quem defendaque o duplo grau seria um princípio constitucional do processo (Nelson Nery Jr), por conta da previsão constitucional dos recursos ordinários (art. 102, II, para o STF, e art. 105, II, para o STJ). O recurso ordinário é um recurso em que o recorrente pode alegar qualquer matéria de seu interesse, se o recurso for cabível (Exemplo: recurso ordinário das decisões denegatórias de mandado de segurança de competência originária dos tribunais locais). Por outro lado, autores como Marinoni entendem que o duplo grau de jurisdição iria contra à garantia da tempestividade da tutela jurisdicional e contra o acesso à justiça, pois a tutela intempestiva não é justa, não resolve. O STF reconhece que, no processo penal, o duplo grau é direito fundamental, com base no Pacto de San José da Costa Rica. Para o processo civil, contudo, não há julgado entendendo que seria uma garantia fundamental do processo. Parece então que, no processo civil, o duplo grau será uma opção legislativa: é o legislador quem irá escolher os recursos cabíveis. 4) Princípio da fungibilidade: Se verifica quando o recurso descabido puder ser recebido como o recurso efetivamente cabível. Está ligado à instrumentalidade das formas processuais e permite que tenhamos a admissão de um recurso que não era o cabível. Era previsto no CPC de 1939, mas não veio expresso no CPC73, nada obstante a jurisprudência do STJ o tenha acolhido em diversas situações. No CPC de 2015, temos previsões expressas de fungibilidade: • Art. 1024, parágrafo 3º (fungibilidade entre embargos de declaração e agravo interno). • Arts. 1032 e 1033 (fungibilidade entre recursos especial e extraordinário) Iremos aprofundar tais previsões adiante, quando estudarmos cada recurso em espécie. Contudo, mesmo só prevista para essas situações, a fungibilidade ainda funciona como um princípio da teoria geral dos recursos. Para aplicar a fungibilidade são exigidos 3 requisitos pelo STJ: 1 - Dúvida objetiva sobre o recurso efetivamente cabível (controvérsia razoável acerca de qual o recurso correto). Não é uma dúvida subjetiva, ou seja, se o advogado não conhece os recursos cabíveis. Precisa haver uma controvérsia significativa na jurisprudência ou a própria decisão gerar margem de dúvida sobre qual o recurso cabível. Caso concreto: o juiz, ao julgar uma exceção de pré-executividade, rejeitou a defesa e a execução prosseguiu. Não houve encerramento da execução, então não seria caso de sentença, mas sim de decisão interlocutória. Mas, no caso concreto, o juiz chamou tal decisão de “sentença”. O que fazer então: apelar ou agravar? Nesse caso, havia uma dúvida objetiva, gerada pelo próprio juiz, e o STJ entendeu que justificava-se a fungibilidade. Sobre o tema, confira-se precedente do STJ, veiculado no Informativo n. 613: 22 O conceito de "dúvida objetiva", para a aplicação do princípio da fungibilidade recursal, pode ser relativizado, excepcionalmente, quando o equívoco na interposição do recurso cabível decorrer da prática de ato do próprio órgão julgador. Pautou-se a divergência em definir se a indução a erro, pelo próprio órgão julgador, na interposição de recurso equivocado, permite a aplicação do princípio da fungibilidade recursal. O acórdão embargado concluiu que "constitui erro grosseiro, não amparado pelo princípio da fungibilidade recursal, por ausência de dúvida objetiva, a interposição de recurso de apelação quando não houve a extinção total do feito - caso dos autos - ou seu inverso, quando a parte interpõe agravo de instrumento contra sentença que extinguiu totalmente o feito". Já o acórdão paradigma entendeu "ser possível a aplicação do princípio da fungibilidade recursal quando o equívoco na interposição do recurso cabível decorrer da prática de atos judiciais e cartorários". Inicialmente cumpre salientar que a aplicação do princípio da fungibilidade recursal é possível nas hipóteses em que exista "dúvida objetiva", fundada em divergência doutrinária ou mesmo jurisprudencial acerca do recurso a ser manejado em face da decisão judicial a qual se pretende impugnar. Contudo, deve-se ter em mente que, assim como existem casos em que a dúvida impera na doutrina e na jurisprudência, há situações em que os termos em que é redigida a decisão pelo julgador são determinantes para a interposição equivocada do recurso. Na hipótese analisada, embora a decisão do juiz singular não tenha colocado termo ao processo de execução, o referido juiz deu-lhe verdadeiro tratamento de sentença - assim denominando-a e registrando-a, bem como recebendo e processando o recurso de apelação. Dessa forma, o juízo colaborou diretamente para o surgimento da dúvida quanto ao recurso cabível, afastando-se a eventual má-fé da embargante na interposição da apelação - o que legitima a aplicação do princípio da fungibilidade. 2 - Inexistência de erro grosseiro: pode existir dúvida objetiva e ainda assim incorrer em erro grosseiro (Exemplo: a dúvida objetiva é entre apelação e agravo, mas o advogado vai lá e faz um recurso especial). Por isso, classificamos a inexistência de erro grosseiro como um requisito autônomo em relação à dúvida objetiva. 3 – Observância do prazo do recurso correto (STJ): se os prazos são diferentes, o uso do recurso errado fora do prazo do recurso certo vai representar uma preclusão temporal para o recurso correto. No caso de dúvida objetiva, portanto, o recorrente deve fazer o recurso no menor prazo. É a criticada “teoria do prazo menor”, que era muito utilizada pelo STJ na vigência do CPC73 para a apelação e o agravo. Observação: esse requisito hoje fica minimizado, pois com o CPC15 todos os recursos têm prazo de 15 dias, salvo os embargos de declaração. Nesse sentido, Daniel Assumpção defende que essa “teoria do prazo menor” teria “morrido” com o novo CPC. “Esse requisito tende a desaparecer com a unificação do prazo recursal em 15 dias prevista no art. 1.003, § 5.º, do Novo CPC. Como o único recurso com prazo menor serão os embargos de declaração, que terão cinco dias de prazo, ainda que seja mantida a teoria do prazo menor, ele será irrelevante quanto à inviabilização de aplicação do princípio da fungibilidade ao caso concreto.” 5) Princípio da dialeticidade ou discursividade: 23 Os recursos devem conter as razões do inconformismo do recorrente. É preciso que ele traga os motivos pelos quais está impugnando a decisão judicial. É uma exigência até mesmo para o contraditório do recorrido e para a própria atividade decisória do órgão recursal. Extraído dos requisitos formais dos recursos, que menciona “as razões recursais” (art. 1010, III, para a apelação, e art. 1016, III para o agravo de instrumento). 6) Princípio da complementaridade: Recursos, quando interpostos, devem estar acompanhados das razões do inconformismo do recorrente. A diferença é que aqui estamos olhando para o momento das razões, que devem ser apresentadas quando da interposição do recurso. É diferente do que acontece no processo penal, em que as razões podem ser apresentadas posteriormente. Aqui no processo civil não há outro momento processual para essa apresentação. A complementaridade também leva ao princípio da consumação, que nada mais é do que a preclusão consumativa em sede recursal. O recorrente perde a faculdade processual de recorrer porque já a exerceu. Ela não pode depois pedir a complementação das razões. Exceção: art. 1024, §4º e 5º -> quando os embargos de declaração são acolhidos, a outra parte que já tiver ofertado recurso terá direito de complementar suas razões. Iremos aprofundar o tema adiante. 7) Princípio da unicidade, singularidade ou unirrecorribilidade: Em face de cada decisão, é cabível a interposição de um recurso de cada vez por um mesmo recorrente. É uma questão de eficiência da atividade jurisdicional. Exceção: interposição simultânea de RESp e RE, que é uma exigêcia dos tribunais superiores para certoscasos, vide Súmula 126 do STJ. SÚMULA N. 126 É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário Se uma mesma decisão está se fundando em um argumento de lei federal e em um argumento constitucional e for possível visualizar ofensa tanto à lei quanto à Constituição, é preciso que a parte se valha de ambos os recursos para atacar a decisão, sob pena de inadmissão do único recurso ofertado. Isto porque o outro fundamento poderia justificar a conclusão da decisão, e se a parte não usar os 2 recursos estaria atacando de maneira insuficiente a decisão. O STJ também enfrentou recentemente uma questão interessante: pode um único recurso impugnar mais de uma decisão (Ex: um agravo de instrumento atacar 3 decisões)? O tribunal entendeu que não haveria vedação, pois a forma utilizada (agravo de instrumento) era a mesma para as 3 decisões. 4. O princípio da singularidade, também denominado da unicidade do recurso ou unirrecorribilidade, consagra a premissa de que, para cada decisão a ser atacada, há um único recurso próprio e adequado previsto no ordenamento jurídico. 24 5. A recorrente utilizou-se do recurso correto (respeito à forma) para impugnar as decisões interlocutórias, qual seja o agravo de instrumento. 6. O princípio da unirrecorribilidade não veda a interposição de um único recurso para impugnar mais de uma decisão. E não há, na legislação processual, qualquer impedimento a essa prática, não obstante seja incomum. 7. Recurso especial conhecido e provido. (REsp 1628773/GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 21/05/2019, DJe 24/05/2019) 8) Princípio da proibição de “reformatio in pejus”: Recursos não podem levar a uma reforma para piorar a situação do recorrente. Está ligada à própria voluntariedade dos recursos, pois estes devem ser analisados no limite do inconformismo do recorrente, até mesmo em consonância com o efeito devolutivo dos recursos (transferência da matéria impugnada ao órgão julgador, que só poderá olhar para essas matérias no limite do inconformismo da parte). Observação: se autor e réu recorrem, aqui não haverá vedação à “reformatio in pejus”, pois o tribunal analisará cada recurso nos limites do inconformismo das partes. Isso poderá levar à piora da situação de um dos recorrentes, mas pela oferta do recurso da outra parte, e não pelo seu próprio recurso. Exceções à proibição de “reformatio in pejus”: - Questões de ordem pública: serão conhecidas pelo tribunal independentemente de alegação. São questoes que o judiciário tem o dever de conhecer. Por isso, uma questão de ordem pública pode piorar a situação do recorrente (Exemplo: recurso interposto pelo autor para aumentar a condenação, mas o tribunal vem a reconhecer que o recorrido era parte ilegítima. Temos aqui uma questão de ordem pública que, independentemente de alegação, poderá ser conhecida). Trata-se do efeito translativo dos recursos, que ainda será aprofundado. - Embargos de declaração: não é pacífico, mas alguns autores como Didier defendem que os EDs não estao sujeitos a esse princípio, por serem um recurso que visa esclarecer a decisão. Os embargos não têm efeito devolutivo, de modo que não ficam limitados à vontade do recorrente, podendo levar à piora. Outro argumento é o de que a finalidade dos EDs é de esclarecimento, de modo que não seria dado ao recorrente definir qual o esclarecimento que o juiz tem que dar (ele pode apenas indicar); quem terá que esclarecer é o próprio órgão prolator da decisão, o qual não estará vinculado à indicação da parte. 9) Princípio da primazia do julgamento do mérito: Também no tema de recursos, os princípios da Primazia do julgamento de mérito, da Instrumentalidade das formas e “pás de nullite sans grief” podem te ajudar a resolver muitas questões cujas respostas diretas você não saiba. 25 Uma consequência marcante relacionada ao tema é a possibilidade de agora haver juízo de retratação de qualquer SENTENÇA TERMINATIVA1 (não apenas a de indeferimento da petição inicial, como era no CPC/73). O objetivo do Código é resolver, sempre que possível, o mérito da demanda, por isso permite que, interposta a apelação em face de sentença que extingue o processo sem resolução do mérito, possa haver retratação (art. 485, § 7º). Especificamente no âmbito recursal, a noção de instrumentalidade das formas norteia a regra de que vícios formais podem ser sanados e não devem ser impedimento ao recebimento do recurso. Como exemplo, cita-se a necessidade de o relator, antes de inadmitir um recurso com base no art. 932, conceder prazo para o recorrente sanar o vício. Vejamos: Na parte geral dos recursos: Art. 932 Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível. Na parte específica dos recursos extraordinário e especial: Art. 1029. § 3o O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave. De acordo com a doutrina, o art. 932, PU traz um DEVER para o relator, e não uma mera faculdade. Enunciado 82 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: É dever do relator, e não faculdade, conceder o prazo ao recorrente para sanar o vício ou complementar a documentação exigível, antes de inadmitir qualquer recurso, inclusive os excepcionais. No entanto, o STJ já editou entendimento no sentido de restringir o alcance desse princípio na seara de admissibilidade recursal aos vícios estritamente FORMAIS: Enunciado administrativo STJ nº 6: Nos recursos tempestivos interpostos com fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016), somente será concedido o prazo previsto no art. 932, parágrafo único, c/c o art. 1.029, § 3º, do novo CPC para que a parte sane vício estritamente formal. Ademais, importante mencionar entendimento segundo o qual o art. 932, PU só se aplica quando o vício for sanável ou a irregularidade corrigível. Assim, por exemplo, um recurso intempestivo traria um vício insanável, de modo que não haveria motivo para a aplicação do art. 932, parágrafo único, do Novo CPC. Na mesma linha, tendo deixado o recorrente de impugnar especificamente as razões decisórias, não cabe regularização em razão do princípio da complementaridade, que estabelece a preclusão consumativa no ato de interposição do recurso (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p. 1518). Neste sentido, há precedente recente do STF, segundo o qual o art. 932, parágrafo único, do CPC/15 não é aplicado para recurso que não tenha impugnado especificamente os fundamentos da decisão recorrida. (ARE 953221) 1 Lembrando: sentença terminativa é aquela que põe fim ao processo sem resolução do mérito. 26 Em suma, o art. 932, PU só poderia ser aplicado para vícios formais e sanáveis, como a ausência de procuração ou assinatura2. No entanto, não poderia ser aplicado para vícios insanáveis, como a intempestividade, ou para vícios que não sejam meramente formais, como a falta de impugnação específica dos fundamentos da decisão. ATENÇÃO! Julgado recente do STJ: Não comprovação da divergência nos embargos de divergência constitui vício substancial que não permite a complementação da fundamentação prevista no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015: "A ausência de demonstração da divergência alegada no recurso uniformizador constitui claramente vício substancial resultante da não observância do rigor técnico exigido na interposição do presente recurso, apresentando-se, pois, descabida a incidência do parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 para complementaçãoda fundamentação, possível apenas em relação a vício estritamente formal, nos termos do Enunciado Administrativo 6/STJ' (STJ, AgRg nos EREsp 1.743.945/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, CORTE ESPECIAL, DJe de 20/11/2019). “Os embargos de divergência ostentam característica de recurso de fundamentação vinculada, a teor do que dispõem os arts. 1.043 e 1.044 do CPC, os quais exigem, como pressuposto indispensável, a demonstração de divergência jurisprudencial entre os órgãos fracionários. Sua finalidade precípua consiste em dirimir dissídio decorrente da interpretação da legislação federal existente entre julgados proferidos nesta Corte Superior, não servindo para nova discussão acerca da utilização ou não de regra técnica de admissibilidade ou conhecimento do recurso especial, ocorrida no caso concreto e devidamente chancelada pelo respectivo órgão fracionário. 2. Segundo a jurisprudência desta Corte Especial, interpretando § 4º do art. 1.043 do CPC e o art. 266, § 4º, do RISTJ, configura pressuposto indispensável para a comprovação ou configuração da alegada divergência jurisprudencial a adoção pela parte recorrente, na petição dos embargos de divergência, de uma das seguintes providências, quanto aos paradigmas indicados: (a) a juntada de certidões; (b) apresentação de cópias do inteiro teor dos acórdãos apontados; (c) a citação do repositório oficial, autorizado ou credenciado nos quais eles se achem publicados, inclusive em mídia eletrônica; e (d) a reprodução de julgado disponível na rede mundial de computadores, com a indicação da respectiva fonte na Internet. 3. Na hipótese em exame, o ora agravante não instruiu os embargos de divergência com o inteiro teor dos acórdãos paradigmas, não restando configurada a divergência jurisprudencial atual. 4. A ausência de demonstração do dissídio alegado no recurso uniformizador - nos moldes exigidos pelo artigo 1.043, § 4º, do CPC e pelo artigo 266, § 4º, do RISTJ - constitui vício substancial, resultante da inobservância do rigor técnico exigido na interposição do presente recurso, apresentando-se, pois, descabida a incidência do parágrafo único do artigo 932 do CPC, para complementação de fundamentação. 2 A falta de assinatura nos recursos interpostos nas instâncias ordinárias configura vício sanável, devendo ser concedido prazo razoável para o suprimento dessa irregularidade. STJ. 3ª Turma. REsp 1746047/PA, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018. e STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 980.664/MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/5/2017. 27 5. Não restando configurada a divergência jurisprudencial, não há falar em em dissídio notório, hipótese na qual eventual mitigação dos pressupostos recursais recairia sobre a exigência de realização do cotejo analítico. 6. Agravo interno desprovido. (AgInt nos EAREsp 1414158/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, CORTE ESPECIAL, julgado em 01/12/2020, DJe 07/12/2020) EFEITOS DOS RECURSOS Podem decorrer da interposição do recurso ou até mesmo do seu mero cabimento. 1) Efeito Obstativo: O recurso impede o trânsito em julgado da decisão recorrida. É um efeito de todo e qualquer recurso, e é natural da própria interposição do recurso. Exceção 1: recurso intempestivo -> não impede a preclusão (temporal). Exceção 2: recurso completamento descabido (STJ) -> não tem aptidão para afastar a preclusão (Ex: agravo interno contra decisão colegiada -> é um recurso completamente descabido, de modo que não tem efeito obstativo e não impede a preclusão da decisão. O efeito prático é que não será cabível, posteriormente, um eventual recurso especial, porque a decisão já transitara em julgado). 2) Efeito devolutivo: é o efeito de transferência da matéria impugnada ao órgão julgador do recurso. É aplicado como uma decorrência da própria ideia da voluntariedade dos recursos: se o recurso é um ato de vontade, o recorrente é quem delimita o que quer recorrer. Iremos aprofundar o seu estudo na apelação. 3) Efeito translativo: é o efeito de transferência das questões de ordem pública ao órgão julgador do recurso. Essas questões não dependem da vontade do recorrente, mas uma vez que ele recorreu, tais matérias serão transferidas. 4) Efeito Substitutivo (art. 1008)3: a decisão proferida em sede de recurso substitui a decisão recorrida. O acórdão do tribunal, por exemplo, substitui a sentença. Para que ele se aplique, é necessário que haja a análise de mérito no recurso. E nem toda questão de mérito irá gerar efeito substitutivo, pois se houver uma anulação por error in procedendo, houve uma cassação da decisão, e não substituição: determina-se a prolação de uma nova decisão pelo juiz de 1º grau (alguns autores, como Leonardo Carneiro, falam aqui em “efeito rescindente”). Contudo, parte da doutrina entende que, nestes casos, se o recurso pedindo a anulação for DESPROVIDO, aí teremos sim efeito substitutivo, pois a decisão do recurso procedeu a uma nova análise do processo, quanto à alegação do vício processual. Outra corrente (minoritária, Barbosa Moreira), entende que também não haverá efeito substitutivo nesse caso, pois o recurso só alega erro de procedimento, e o tribunal quando o desprovê não faz uma nova análise do mérito do processo, mas apenas se existiu ou não o vício processual alegado. 3 Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido objeto de recurso. 28 No caso de “error in iudicando”, por outro lado, seja no caso de provimento ou desprovimento, a doutrina é pacífica no sentido de que o acórdão possui efeito substitutivo. Isso tem importância principalmente para fins de ação rescisória, pois em virtude desse efeito é o acórdão que deve ser objeto da rescisão, e não a sentença substituída. 5) Efeito Suspensivo: É o efeito de sustação da eficácia da decisão recorrida. Pode decorrer de previsão legal (ope legis) ou decisão judicial (ope judicis). O efeito suspensivo “ope legis” decorre do mero cabimento do recurso: basta a previsão legal que a decisão proferida não produzirá automaticamente os seus efeitos. O novo CPC determina que o recurso, em regra, não terá efeito suspensivo, salvo: i) nas hipóteses previstas pelo próprio Código (efeito suspensivo ope legis); ii) quando o juiz o conceder (efeito suspensivo ope judicis); O efeito suspensivo ope judicis pode ser uma tutela de urgência: quando a suspensão da decisão exija o risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação (é o caso do art. 995, §único, que é o regramento geral dos recursos); ou pode ser uma tutela de evidência, quando a probabilidade de provimento do recurso, de reversão da decisão recorrida, por si só, já seja suficiente: é a previsão do art. 1012, §4º (regramento específico da Apelação). Com base nessa diferença parcela da doutrina já defende a aplicação da regra do art. 1012, mais ampla, a todos os recursos, não apenas à Apelação. § 4º Nas hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso OU se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação. 6) Efeito regressivo – é aquele que possibilita a revisão/reforma da decisão recorrida, pelo juiz, antes mesmo do recebimento (admissão) do recurso. Permite o juízo de retratação pelo órgão prolator da decisão. É um efeito que decorre tão só da interposição. O Novo CPC prevê o efeito regressivo para alguns recursos: → Para a Apelação, em 3 casos: I) indeferimento da petição inicial, prazo de 5 dias e o réu deverá ser citado para responder ao recurso (art. 331 e § 1º); II) improcedência liminar do pedido (art. 332, §3º), prazo de 5 dias, e subsiste a necessidade de citação do réu; III) qualquer sentença terminativa, conforme art. 485 §7º. → Para o Agravo Interno: Art. 1021 § 2º. → Para o Agravo da decisão que inadmitir Recurso Extraordinário/Especial: art. 1042,