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ÍNDICE
1. AÇÃO RESCISÓRIA......................................................................................................2
2. TEORIA GERAL DOS RECURSOS.................................................................................13
3. PRINCÍPIOS...............................................................................................................19
4. EFEITOS DOS RECURSOS...........................................................................................27
5. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE......................................................................................29
6. RECURSO ADESIVO...................................................................................................38
7. APELAÇÃO................................................................................................................40
8. AGRAVO DE INSTRUMENTO.....................................................................................49
9. AGRAVO INTERNO....................................................................................................61
10. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO...................................................................................67
11. RECURSO EXTRAORDINÁRIO E RECURSO ESPECIAL...................................................74
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AÇÃO RESCISÓRIA
Formada a coisa julgada, a decisão que transitou em julgado se torna imutável e indiscutível.
Contudo, existe um mecanismo excepcional que permite impugnar a coisa julgada – a ação
rescisória. É uma demanda autônoma de impugnação de decisões judiciais.
As decisões podem ser impugnadas de duas formas: por meio de recursos (caso em que a
impugnação se dará no mesmo processo em que a decisão foi proferida, de forma incidental,
sendo um prolongamento deste) ou por meio de demandas autônomas (caso em que a
impugnação dá origem a um processo novo, ex. MS contra ato judicial e embargos de
terceiro).
Ação rescisória é uma demanda que tem por objeto a desconstituição de decisão judicial
transitada em julgado com eventual rejulgamento da causa original. Formula-se,
invariavelmente, um primeiro pedido de desconstituição da decisão transitada em julgado.
Eventualmente, cumulado a este pedido, formula-se um segundo pedido de rejulgamento da
causa original(art. 968 do NCPC).
Ex. 1. Pedido de desconstituição ao argumento de que a decisão se baseou em prova falsa e
pedido de rejulgamento para que o processo não fique sem desfecho, mas sem o vício da
primeira decisão. Ex. 2. Pedido de desconstituição ao argumento de que houve violação da
norma jurídica, pois uma das partes não foi intimada para AIJ e o juiz julgou contra esta parte
com base em elementos de prova colhidos na AIJ. Aqui não há como o tribunal julgar a causa
original, pois o erro seria repetido; determina-se ao juiz de 1º grau que repita a AIJ. Sempre vai
haver o pedido de desconstituição; eventualmente, soma-se o pedido de rejulgamento da
causa.
O juízo rescindente é o julgamento do pedido de desconstituição, que será julgado primeiro.
Se ele for procedente, passa-se ao juízo rescisório, qual seja o rejulgamento da causa original.
Por isso, pode-se concluir que sempre há juízo rescindente, mas nem sempre haverá juízo
rescisório. Estes julgamentos devem se dar de forma separada, ainda que no mesmo dia.
Decisões Passíveis de Ação Rescisória
A ação rescisória ataca:
❖ Decisão de mérito transitada em julgado: decisão pode englobar tanto decisão
interlocutória (ex. art. 356, NCPC – julgamento antecipado parcial de mérito)
como sentença.
❖ Decisão terminativa que impede a repropositura da demanda (art. 966, §2º, I,
NCPC): pelo regime do NCPC, existem algumas decisões meramente
terminativas, ou seja, que não resolvem o mérito da causa, mas que impedem
que a mesma demanda seja proposta novamente. Só se pode ir à juízo se
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corrigido o vício que levou à extinção sem resolução do mérito. São os casos
do art. 486, §1º, NCPC. Ex. Extinção pelo acolhimento de preliminar de
ilegitimidade ativa em ação popular proposta por estrangeiro. Se
posteriormente adquire cidadania brasileira, pode propor rescisória.
❖ Decisão que não admite recurso (art. 966, §2º, II, NCPC): se o tribunal não
conhece do recurso interposto, a decisão que faz coisa julgada é a de mérito
de primeiro grau. Contudo, se no tribunal, participou relator impedido, cabe
ação rescisória, conquanto não haja vício na decisão de primeiro grau que
transitou em julgado.
Causas de Rescindibilidade
São os possíveis fundamentos para se propor uma ação rescisória. Injustiça não é
fundamento de ação rescisória. Não se discute se a decisão anterior foi justa ou injusta (isso
transformaria a ação rescisória em um megarecurso com um prazo extremamente dilatado).
Existem alguns casos em que na decisão existe um grave vício em sua formação, ex. o
juiz cometeu o crime de corrupção passiva ao proferir a decisão. Essa decisão deve ser
expurgada do sistema diante do vício intolerável que ela contém, independentemente de ser
justa ou injusta. Portanto, esses vícios, possíveis fundamentos da ação rescisória, estão no art.
966 do NCPC.
I – proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz;
Se o juiz, para proferir a decisão, cometeu alguns desses crimes, há fundamento para
ação rescisória. Registre-se que o juiz não precisa ter sido condenado no âmbito penal para
propositura da rescisória. Essa cognição será feita no âmbito da própria ação rescisória, da
qual o juiz não é parte e não exercerá qualquer tipo de defesa (eventual defesa será feita
somente no âmbito criminal).
Se já houve processo penal e o juiz foi condenado, proposta a ação rescisória, o tribunal não
poderia negar que ele cometeu o crime, pois a sentença penal condenatória faz coisa julgada
no cível. O mesmo ocorre em relação à sentença absolutória que reconhece a inexistência do
fato ou a negativa da autoria. Isso é praticamente impossível, na medida em que o processo
penal costuma demorar bem mais do que o prazo de 2 (dois) anos para propositura da
rescisória.
Se o juiz de primeiro grau cometeu o crime, mas, ao julgar a apelação, o colegiado nega
provimento ao recurso, confirmando a sentença. Cabe ação rescisória? Não, pois o que
transitou em julgado foi o acórdão, substitutivo da sentença, e no acórdão nenhum vício há.
Se o juiz de primeiro grau não cometeu o crime, mas, ao julgar a apelação, um dos 3
integrantes do colegiado que participou do julgamento cometeu o crime. Cabe ação rescisória?
Se o juiz que cometeu o crime proferiu o voto vencedor, cabe ação rescisória; se proferiu o
voto vencido, não cabe. Isto porque é impossível definir a influência de um voto no outro.
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II – proferida por juiz impedido ou juízo absolutamente incompetente;
Só o impedimento do juiz é causa de rescindibilidade; a suspeição não.
Só a incompetência absoluta do juízo é causa de rescindibilidade; a independência relativa
não.
Tudo em relação ao inciso I se aplica ao inciso II também. Ex. A causa tramitou em Vara Cível
quando deveria ter tramitado na Vara Empresarial. A apelação é julgada em Câmara Cível
comum. Cabe ação rescisória? Não, pois o acórdão da Câmara substituiu a sentença proferida
pelo juízo de primeiro grau absolutamente incompetente, e foi ele quem fez coisa julgada, sem
que haja qualquer vício de incompetência (a Câmara Cível julga recursos da Vara Cível e
Empresarial).
III - quando resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou
de simulação ou a colusão entre as partes a fim de fraudar a lei;
a) Decisão que resulta de dolo ou coação da parte vencedora: a parte vencedora agiu
com dolo ou coação para levar o juiz a julgar em seu favor em detrimento da outra
parte (ex.sequestro do filho do juiz).
b) Decisão que resulta de simulação ou colusão entre as partes a fim de fraudar a lei:
as partes agem em conjunto para obter um resultado ilícito no processo. É muito
comum em fraudes contra a previdência.
IV – quando ofender a coisa julgada;
Pode haver violação ao efeito positivo da coisa julgada ou ao efeito negativo da coisa julgada.
O efeito negativo é a consequência que a coisa julgada produz sobre outros processos que
versem sobre a mesma causa, qual seja a extinção sem resolução do mérito. Se há violação
desse efeito, ou seja, se o juiz julga novamente uma causa já transitada em julgado, cabe ação
rescisória.
O efeito positivo da coisa julgada ocorre quando o julgamento de uma segunda causa depende
do julgamento de uma primeira causa que já transitou em julgado. Há uma relação de
prejudicialidade entre as causas. Quando o juiz for julgar a segunda causa, ele deve respeitar o
teor da primeira causa transitada em julgado. É o efeito de vincular futuras causas. Ex. Não
pode em uma ação de petição de herança o juiz entender que o autor não é filho do de cujus
se já há uma ação de investigação de parternidade em face do de cujus procedente transitada
em julgado. Se o juiz descumpre isso, cabe rescisória.
V - quando violar manifestamente norma jurídica;
A violação da norma jurídica não precisa ser manifesta, basta que seja provada. A norma
jurídica violada pode ser norma material ou processual. Ex. A sentença reconheceu a lesão a
um direito autoral do autor; contudo, há uma lei que diz que não deve ser protegido como
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direito autoral (violação de norma material). Ex. Julgamento extra petita (violação de norma
processual).
Violação da norma jurídica não se confunde com violação ao texto da lei. Muitas vezes, a
violação de uma norma não afronta a literalidade da lei, mas afronta o sentido que lhe foi
conferido, por exemplo, em um julgamento de recurso repetitivo. A violação pode se dar tanto
quando não se aplica a norma e era caso de aplicá-la, bem como quando se aplica a norma em
caso que não era aplicável. Vide art. 966, §5º, do NCPC.
Superação de entendimento não enseja ação rescisória (enunciado 343 da Súmula do STF),
salvo em caso de controvérsia sobre questão afeta à norma constitucional em que não houve
modulação de efeitos, caso em que o próprio STF admite ação rescisória.
VI – fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser
demonstrada na própria rescisória;
Prova falsa não é a prova que o juiz valorou errado (isso é prova injusta). A prova pode ser
falsa tanto em caso de falsidade ideológica como material. Ex.testemunha mentiu, documento
foi forjado. É preciso que essa prova falsa seja fundamento determinante da decisão. Se as
conclusões da decisão se mantêm ainda que suprimida aquela prova, não cabe ação rescisória.
VII – quando obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova, cuja
existência ignorava, ou de que não pode fazer uso, capaz por si só de lhe assegurar
pronunciamento favorável;
A prova nova não é prova superveniente, pois se ela fosse criada depois do trânsito em
julgado, não haveria qualquer vício na decisão que não a considerou. Prova nova é prova que
já existia ao tempo do trânsito em julgado, mas que não era conhecida ou que não pode ser
utilizada em tempo hábil. Ex. Documento que era sigiloso à época do processo e depois deixou
de sê-lo.
VII – quando for fundada em erro de fato, verificável do exame dos autos;
Esse é um caso em que a rescisória vai ser admissível por conta de um erro de percepção no
exame dos autos. O erro de fato consiste em reconhecer como verdadeiro um fato que não
aconteceu ou então se reputar inexistente um fato que ocorreu (art. 966, §1º, NCPC). Só de
examinar os autos se percebe o erro.
O juiz não percebeu que determinado elemento estava nos autos, porque, se tivesse
percebido, ele não decidiria como decidiu. Ex. Juiz não verifica que há um recibo juntado pelo
réu nos autos que comprova o pagamento. Não cabe rescisória se o juiz percebeu o fato, mas
valorou mal (ex. juiz vê o recibo, mas considera que ele não prova o pagamento ante a
ausência de assinatura).
Para que haja erro de fato pelo juiz, é necessário que o fato não percebido pelo juiz seja
incontroverso (ex. réu junta recibo e autor não impugna), conforme prevê o §1º do art. 966.
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Processo da Rescisória
É da competência originária dos Tribunais. É competente para conhecer da rescisória o
Tribunal que proferiu a decisão rescindenda. Se a decisão rescindenda é de primeira instância,
será competente para a ação rescisória o Tribunal que teria sido competente para julgar o
recurso.
Se a decisão rescindenda é do juízo de 1º grau no TJRJ, a competência para julgamento
da rescisória é das Câmaras Cíveis Comuns (1ª a 22ª) ou das Câmaras Cíveis do Consumidor
(23ª a 28ª).
Se a decisão rescindenda é da Câmara Cível do TJRJ, a competência para julgamento da
rescisória é da Seção Cível Comum ou Seção Cível do Consumidor, respectivamente.
Se a decisão rescindenda é da Seção Cível Comum ou do Consumidor, a competência
para julgamento da rescisória é do Órgão Especial.
Se a decisão rescindenda é do Órgão Especial, a competência para julgamento da
rescisória é do próprio Órgão Especial.
A rescisória é formulada por meio de uma petição inicial, na qual devem constar todos
os requisitos comuns de uma petição inicial, bem como a cumulação dos pedidos de
desconstituição e de rejulgamento, se for o caso (se não formular o pedido de rejulgamento e
for o caso, deve o tribunal mandar emendar a inicial).
Deve o autor fazer um depósito do equivalente a 5% do valor da causa (NCPC, art. 968, II). Esse
valor será convertido em uma multa em favor do réu caso o autor da rescisória tenha seu
pedido julgado improcedente por unanimidade (art. 968, II c.c. art. 974, p.ú).
❖ Os 5% não podem ultrapassar o valor de 1.000 salários mínimos (art. 968, §2º).
❖ Este depósito não se aplica aos entes federativos, bem como suas respectivas
autarquias e fundações públicas, ao MP, à DP e aos que obtiveram o benefício
da gratuidade de justiça. Embora não tenham que depositar no início, caso
fiquem vencidos, deverão pagar o equivalente a 5% do valor da causa a título
de multa, inclusive o beneficiário de justiça gratuita.
Cabe emenda da inicial, indeferimento da inicial, improcedência liminar. Contudo, estando
tudo correto, o rrelator determinará a citação do réu.
É o único procedimento em que a lei não estabelece um prazo de contestação fixo, mas um
prazo mínimo de 15 dias e um prazo máximo de 30 dias, devendo o relator fixá-lo (art. 970).
Além de contestar, o réu da rescisória pode reconvir, desde que o pedido formulado em sede
de reconvenção também seja rescisório. A partir daí, observa-se o procedimento comum:
réplica, saneamento do processo, produção de provas etc. se os fatos alegados pelas partes
dependerem de prova, o relator pode designar tal produção ao juízo de primeiro grau por
meio de carta de ordem (art. 972). Concluída a instrução probatória, se ela for necessária, as
partes terão prazo sucessivo de 10 dias para alegações finais escritas (art. 973). Oferecidas as
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alegações, procede-se ao julgamento: primeiro, do juízo rescindente e, depois, se for o caso,
ao juízo rescisório.
Se o pedido de rescisão for julgado procedente por maioria, suspende tudo e encaminha-se o
processo para um órgão mais amplo para que a rescisória seja julgada por um colegiado maior
(art. 942, §3º). Ex. Se houve maioria na Câmara (2x1) o julgamento tem que ser transferido
para a Seção (em que votam 5 integrantes). Se houve maioria na Seção (3x2 ou 4x1) o
julgamento tem que ser transferido para o Órgão Especial (25 integrantes).
❖ Transfere-se todo o julgamento, tanto o rescindente como o rescisório.❖ Há apenas uma ampliação de colegiado no mesmo processo (logo, se houve
maioria na Câmara, transfere-se para a Seção, mas se esta vota por maioria,
não vai para o Órgão Especial).
❖ Essa técnica não se aplica ao julgamento não unânime proferido pelo Plenário
ou pelo Órgão Especial (art. 942, §4º, III).
Prazo
O direito à rescisão está sujeito a um prazo decadencial de 2 anos, contados do
trânsito em julgado da última decisão proferida no processo (art. 975), e não da decisão
rescindenda (ex. se eu interponho vários recursos da sentença, ainda que nenhum deles seja
admitido, o prazo contará da decisão que negou o último recurso).
Trata-se de prazo decadencial que não se suspende nem se interrompe. Contudo, o
art. 975, §1º, admite sua prorrogação para o primeiro dia útil subsequente quando haja férias,
recesso, feriado ou não houver expediente forense.
Se a ação rescisória se fundar em prova nova (art. 966, VII), o prazo decadencial de 2
anos começará a contar da data da descoberta da prova, observado o prazo máximo de 5 anos
do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. Ex. Se eu descubro a prova
nova 4 anos após o trânsito em julgado da última decisão, eu não terei mais 2 anos para
propor a rescisória, mas apenas 1 ano para observar o limite máximo.
Se a ação rescisória se fundar em simulação ou colusão das partes (art. 966, III, 2ª
parte), para as partes, o prazo corre normalmente; contudo, para o terceiro prejudicado e para
o MP o prazo conta da ciência da simulação ou colusão. Uma primeira corrente diz que não há
prazo máximo, uma vez que a lei não prevê. Uma segunda corrente diz que deve ser aplicado
analogicamente o prazo de 5 anos previsto no art. 975, §2º. Uma terceira corrente, seguida
por Alexandre Câmara, entende que não há como o prazo ser de 5 anos, pois não se pode
aplicar analogicamente uma norma de caráter excepcional. Para ele, sendo um prazo de
direito material não previsto em lei, há de se aplicar por analogia a norma geral da prescrição
do art. 205 do CC.
Foi proferida uma decisão com base em um ato normativo (Lei X). Depois da decisão, o
STF, em controle de constitucionalidade, se pronunciou sobre a Lei X, ou para dizer que ela é
inconstitucional ou para a dar a ela interpretação conforme ou para pronunciar uma
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declaração de nulidade parcial com ou sem redução de texto. É preciso saber se o
pronunciamento do STF foi antes ou depois do trânsito em julgado daquela primeira decisão.
❖ Se o pronunciamento do STF se deu antes do trânsito em julgado (art. 525,
§§12 ao 15): a matéria poderá ser discutida em impugnação ao cumprimento
de sentença.
❖ Se o pronunciamento do STF se deu após o trânsito em julgado: a matéria
poderá ser discutida somente em ação rescisória (art. 525, §15). Neste caso, o
prazo da ação rescisória de 2 anos será contado a partir do trânsito em julgado
da decisão do STF. Aqui há a mesma discussão quanto ao limite temporal:
nenhum, 5 anos, ou 10 anos.
QUESTÕES OBJETIVAS
1. (FGV - 2021 - IMBEL - Advogado - Reaplicação) A respeito da ação rescisória, assinale a
afirmativa correta.
A) Pode ser utilizada para atacar a decisão transitada em julgado que, embora não seja de
mérito, impeça a propositura de nova demanda.
B) Tem, como uma de suas hipóteses de cabimento, a decisão de mérito ter sido proferida por
juiz suspeito ou impedido, ou por juízo absolutamente incompetente.
C) Caso proposta a rescisória perante tribunal incompetente, o processo será extinto sem
análise do mérito, diante das peculiaridades procedimentais dessa ação.
D) O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado de cada
capítulo da sentença.
E) A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão rescindenda,
ressalvada a concessão de tutela provisória com a apresentação de garantia pelo requerente
desta.
GABARITO: A
LETRA A- CORRETA. Reproduz hipótese do art. 966, §2º, I, ou seja, cabe ação rescisória de
decisão que, transitada em julgado, ainda que não seja de mérito, impeça nova propositura de
ação.
LETRA B- INCORRETA. Diferente do exposto, não falamos em ação rescisória para o caso de juiz
suspeito, tudo conforme depreende-se da leitura do art. 966, II, do CPC. Cabe ação rescisória é
no caso de decisões de juiz impedido ou absolutamente incompetente.
LETRA C- INCORRETA. Havendo incompetência no manejo da ação, não é caso de extinção,
mas sim de emenda da inicial. Diz o art. 968, §5º, do CPC:
“ Art. 968
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/fgv-2021-imbel-advogado-reaplicacao
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(...) § 5º Reconhecida a incompetência do tribunal para julgar a ação rescisória, o
autor será intimado para emendar a petição inicial, a fim de adequar o objeto da
ação rescisória, quando a decisão apontada como rescindenda".
LETRA D- INCORRETA. O prazo decadencial é de dois anos do trânsito em julgado da última
decisão no processo, e não contado de cada “capítulo". Diz o art. 975 do CPC:
“ Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito
em julgado da última decisão proferida no processo."
LETRA E- INCORRETA. Não há a exigência de prestação de garantia para eventual concessão de
tutela provisória em sede de ação rescisória. Diz o art. 969 do CPC:
“Art. 969. A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da
decisão rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória."
2. (UFPR - 2020 - Câmara de Curitiba - PR - Procurador Jurídico) A Ação Rescisória é ação de
conhecimento, de natureza constitutiva negativa, que se destina a desconstituir a coisa julgada
nas hipóteses de rescindibilidade previstas em lei. A respeito dessa ação autônoma de
impugnação de decisões judiciais, é correto afirmar:
A) A decisão transitada em julgado que impeça nova propositura da demanda, ou a
admissibilidade do recurso correspondente, será passível de impugnação por meio de ação
anulatória, não sendo cabível ação rescisória por não se tratar de decisão de mérito.
B) Contra decisão baseada em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de
casos repetitivos que não tenha considerado a existência de distinção entre a questão
discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu fundamento, caberá ação rescisória
com fundamento em violação manifesta de norma jurídica, hipótese em que caberá ao autor,
sob pena de improcedência liminar do pedido, demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de
situação particularizada por hipótese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a
impor outra solução jurídica.
C) O direito à rescisão do pronunciamento judicial nas hipóteses previstas em lei se extingue
em 2 anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo, prazo
este improrrogável ainda que expire em dia em que não houver expediente forense, por se
tratar de prazo decadencial.
D) A decisão de mérito transitada em julgado pode ser rescindida quando o autor obtiver,
posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não
pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável, hipótese em que
o termo inicial do prazo será a data de descoberta da prova nova, observado o prazo máximo
de 10 anos, contado do trânsito em julgado da decisão rescindenda.
E) Nas hipóteses de cabimento de ação rescisória por simulação ou colusão das partes a fim de
fraudarem a lei, o prazo para a propositura da ação começará a contar para o terceiro
prejudicado e para o Ministério Público que não interveio no processo a partir do momento
em que eles tiverem ciência da simulação ou da colusão.
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/ufpr-2020-camara-de-curitiba-pr-procurador-juridico
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GABARITO:E
Alternativa A) Diversamente do que se afirma, este seria um caso de propositurade ação
rescisória, senão vejamos: "Art. 966, §2º, CPC/15: "Nas hipóteses previstas nos incisos
do caput, será rescindível a decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito,
impeça: I - nova propositura da demanda; ou II - admissibilidade do recurso correspondente".
Afirmativa incorreta.
Alternativa B) É certo que a sentença que "violar manifestamente norma jurídica" constituirá
uma das hipóteses em que será possível a propositura de ação rescisória (art. 966, V, CPC/15).
Este dispositivo legal deve ser interpretado, no que diz respeito a desrespeito a entendimento
sumulado, no sentido de que viola norma jurídica a "decisão baseada em enunciado de súmula
ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não tenha considerado a
existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão decisório que lhe deu
fundamento". Porém, a falta de demonstração desta distinção pelo autor é hipótese de inépcia
da petição inicial e não de improcedência liminar do pedido, senão vejamos: "Art. 966, §6º,
CPC/15. Quando a ação rescisória fundar-se na hipótese do § 5º deste artigo, caberá ao autor,
sob pena de inépcia, demonstrar, fundamentadamente, tratar-se de situação particularizada
por hipótese fática distinta ou de questão jurídica não examinada, a impor outra solução
jurídica". Afirmativa incorreta.
Alternativa C) É certo que o direito à rescisão do pronunciamento judicial nas hipóteses
previstas em lei se extingue em 2 anos contados do trânsito em julgado da última decisão
proferida no processo, porém, caso o vencimento se dê em dia em que não houver expediente
forense, será prorrogado para o próximo dia útil, senão vejamos: "Art. 975. O direito à rescisão
se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no
processo. §1º. Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente o prazo a que se
refere o caput, quando expirar durante férias forenses, recesso, feriados ou em dia em que
não houver expediente forense". Afirmativa incorreta.
Alternativa D) O prazo máximo para o ajuizamento da ação rescisória fundada em nova prova
é de 5 (cinco) anos e não de dez, conforme dispõe o art. 975, §2º, do CPC/15: "Se fundada a
ação no inciso VII do art. 966 ['obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova
nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar
pronunciamento favorável'], o termo inicial do prazo será a data de descoberta da prova nova,
observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do trânsito em julgado da última
decisão proferida no processo". Afirmativa incorreta.
Alternativa E) É o que dispõe expressamente o art. 975, §3º, do CPC/15: "Nas hipóteses de
simulação ou de colusão das partes, o prazo começa a contar, para o terceiro prejudicado e
para o Ministério Público, que não interveio no processo, a partir do momento em que têm
ciência da simulação ou da colusão". Afirmativa correta.
3. (VUNESP - 2020 - Valiprev - SP - Procurador) Segundo os contornos traçados pelo Código de
Processo Civil de 2015, é correto afirmar, quanto à ação rescisória, que
A) há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inverossímil, sendo indispensável
que o fato represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado.
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/vunesp-2020-valiprev-sp-procurador
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B) tem cabimento contra decisão baseada em enunciado de súmula dos tribunais, quando não
tenha sido dada ao enunciado interpretação condizente com o ordenamento jurídico.
C) por se tratar de hipótese de decadência, o prazo de dois anos para sua propositura, quando
expirar durante feriado, não se prorroga até o primeiro dia útil subsequente.
D) é rescindível a decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça
admissibilidade do recurso correspondente.
E) deve ter por objeto a íntegra dos pedidos tratados na decisão rescindenda, ainda que seja
para ratificar os capítulos da decisão que não apresentam vícios rescisórios.
GABARITO: D
Alternativa A) É certo que a sentença "fundada em erro de fato verificável do exame dos
autos" constitui uma das hipóteses em que é possível a propositura de ação rescisória (art.
966, VIII, CPC/15). Segundo o §1º deste dispositivo legal, porém, "há erro de fato quando a
decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando considerar inexistente fato
efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente
ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado". Afirmativa incorreta.
Alternativa B) É certo que a sentença que "violar manifestamente norma jurídica" constituirá
uma das hipóteses em que será possível a propositura de ação rescisória (art. 966, V, CPC/15).
Este dispositivo legal, porém, no que diz respeito a desrespeito a entendimento
sumulado, deve ser interpretado no sentido de que viola norma jurídica a "decisão baseada
em enunciado de súmula ou acórdão proferido em julgamento de casos repetitivos que não
tenha considerado a existência de distinção entre a questão discutida no processo e o padrão
decisório que lhe deu fundamento". Conforme se nota, deve ser demonstrada a falta de
distinção entre a questão discutida no processo e a que deu origem à súmula (padrão decisório
que lhe deu fundamento) para que seja possível o enquadramento nesta hipótese de
cabimento de ação rescisória. Afirmativa incorreta.
Alternativa C) Em sentido contrário, dispõe o art. 975, caput, c/c §1º, do CPC/15: "Art. 975. O
direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última
decisão proferida no processo. §1º. Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente
subsequente o prazo a que se refere o caput , quando expirar durante férias forenses, recesso,
feriados ou em dia em que não houver expediente forense". Afirmativa incorreta.
Alternativa D) Esta previsão está contida no art. 966, §2º, do CPC/15: "§2º. Nas hipóteses
previstas nos incisos do caput, será rescindível a decisão transitada em julgado que, embora
não seja de mérito, impeça: I - nova propositura da demanda; ou II - admissibilidade do
recurso correspondente". Afirmativa correta.
Alternativa E) Ao contrário do que se afirma, dispõe o art. 966, §3º, do CPC/15, que "a ação
rescisória pode ter por objeto apenas 1 (um) capítulo da decisão", o que significa que não
precisa ter por objeto a íntegra dos pedidos tratados na decisão rescindenda.
Afirmativa incorreta.
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4. (VUNESP - 2019 - Prefeitura de Francisco Morato - SP - Procurador) A respeito do tema
“ação rescisória”, assinale a alternativa correta.
A) É cabível a propositura de ação rescisória em face de acórdão que, à época de sua prolação,
estava em conformidade com a jurisprudência predominante do STF.
B) O entendimento atual do STJ é que a ação rescisória serve como instrumento voltado à
uniformização de jurisprudência, inclusive quando a controvérsia se basear na aplicação de
norma constitucional.
C) Caso o autor obtenha, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência
ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento
favorável, o termo inicial do prazo para propositura da ação rescisória será a data de
descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do trânsito
em julgado da última decisão proferida no processo.
D) Na ação rescisória, devolvidos os autos pelo relator, a secretaria do tribunal expedirá cópias
do relatório e as distribuirá entre os juízes que compuserem o órgão competente para o
julgamento. A escolha de relator recairá, sempre que possível, em juiz que haja participado do
julgamento rescindendo.
E) Na petição inicial da ação rescisória, o autor deve cumular ao pedido de rescisão o pedido
denovo julgamento do processo, bem como depositar cinco por centro sobre o valor da causa
que se converterá em multa caso a ação seja declarada improcedente por unanimidade, sendo
que apenas as entidades de Direito Público estão dispensadas do depósito dos valores.
GABARITO: C
Alternativa A) Nesse caso, não cabe ação rescisória. As hipóteses de cabimento da ação
rescisória estão contidas no art. 966, do CPC/15, nos seguintes termos: "Art. 966. A decisão de
mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I - se verificar que foi proferida por
força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II - for proferida por juiz impedido ou
por juízo absolutamente incompetente; III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em
detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de
fraudar a lei; IV - ofender a coisa julgada; V - violar manifestamente norma jurídica; VI - for
fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser
demonstrada na própria ação rescisória; VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em
julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de
lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII - for fundada em erro de fato verificável do
exame dos autos". Afirmativa incorreta.
Alternativa B) Ao contrário do que se afirma, a ação rescisória não constitui um instrumento
voltado à uniformização de jurisprudência. Afirmativa incorreta.
Alternativa C) É o que dispõe expressamente o art. 975, §2º, CPC/15: "Se fundada a ação no
inciso VII do art. 966 ['obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja
existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar
pronunciamento favorável'], o termo inicial do prazo será a data de descoberta da prova nova,
observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do trânsito em julgado da última
decisão proferida no processo". Afirmativa correta.
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/vunesp-2019-prefeitura-de-francisco-morato-sp-procurador
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Alternativa D) Em sentido diverso, dispõe o art. 971, parágrafo único, do CPC/15, que
"a escolha de relator recairá, sempre que possível, em juiz que não haja participado do
julgamento rescindendo". Afirmativa incorreta.
Alternativa E) A respeito, dispõe o art. 968, do CPC/15: "A petição inicial será elaborada com
observância dos requisitos essenciais do art. 319, devendo o autor: I - cumular ao pedido de
rescisão, se for o caso, o de novo julgamento do processo; II - depositar a importância de cinco
por cento sobre o valor da causa, que se converterá em multa caso a ação seja, por
unanimidade de votos, declarada inadmissível ou improcedente. § 1º Não se aplica o disposto
no inciso II à União, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios, às suas respectivas
autarquias e fundações de direito público, ao Ministério Público, à Defensoria Pública e aos
que tenham obtido o benefício de gratuidade da justiça. (...)". Afirmativa incorreta.
TEORIA GERAL DOS RECURSOS
De acordo com Barbosa Moreira, recurso é o remédio voluntário idôneo a ensejar, dentro do
mesmo processo, a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão
judicial que se impugna.
Vejamos cada aspecto deste conceito:
1) “Remédio voluntário”:
O recurso é uma manifestação de vontade. Ninguém é obrigado a recorrer, ainda que se
depare com uma decisão que não lhe seja favorável.
Então, para a doutrina majoritária, não tem natureza de recurso o reexame necessário, ou
seja, o reexame obrigatório a que se sujeita algumas decisões contrárias à fazenda pública.
2) “Dentro do mesmo processo”:
O recurso é um mecanismo de impugnação das decisões judiciais que vai produzir os seus
efeitos dentro do mesmo processo.
No sistema processual brasileiro há 2 tipos de remédios destinados a impugnar decisões: os
recursos e as ações autônomas de impugnação.
A distinção entre eles está exatamente nesse ponto da definição, pois os recursos são
incidentes processuais, surgem dentro de um mesmo processo instaurado, em que se proferiu
a decisão impugnada. Já as ações autônomas de impugnação dão origem a outro processo,
distinto daquele em que se proferiu a decisão impugnada (o grande exemplo é a ação
rescisória).
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Pelo princípio da TAXATIVIDADE, são recursos aqueles mecanismos de impugnação das
decisões judiciais que tenham recebido essa designação pela lei (artigo 994 do CPC). Só a lei
pode atribuir a natureza de recurso a um remédio destinado a impugnar decisão judicial. Se a
lei não atribuir essa natureza, aquilo não será recurso, mas sim ação autônoma de
impugnação, fazendo nascer um processo novo.
Esta distinção também é relevante do ponto de vista prático. Quando se está diante de um
recurso, a parte contrária será intimada para contrarrazoar, enquanto que em uma ação
autônoma a parte será citada para se manifestar.
OBSERVAÇÃO: O recurso se manifesta sempre dentro do mesmo processo, mas não
necessariamente dentro dos mesmos autos. Há casos em que o recurso exige uma autuação
própria, ou seja, a formação de novos autos distintos dos autos principais, como o agravo de
instrumento. O processo é o mesmo, o que se forma é um novo volume para a documentação
de alguns atos processuais.
3) “a reforma, a invalidação, o esclarecimento ou a integração da decisão judicial que se
impugna”
Todo recurso tem uma finalidade. Quem recorre tem uma pretensão de obter algo no tribunal,
e essa pretensão só pode ser uma dessas quatro: reforma, invalidação, esclarecimento ou
integração de uma decisão judicial.
É preciso saber quando se vai deduzir cada uma dessas pretensões, a depender do tipo de vício
que macula a decisão judicial recorrida. Nesse sentido, a doutrina elenca a seguinte relação:
“Error in iudicando” → Reforma
“Error in procedendo” → Invalidação
Obscuridade ou contradição → Esclarecimento
Omissão → Integração
Quando o fundamento do recurso é a existência de um “error in iudicando”, ou seja, um erro
de julgamento, o pedido a se formular é a reforma da decisão. Em outras palavras, o motivo
pelo qual se recorre é a existência de uma decisão errada, que avaliou incorretamente os
pressupostos fáticos e os fundamentos jurídicos. Impugna-se a conclusão, o dispositivo da
decisão (Ex: o juiz julga procedente quando deveria ter julgado improcedente, o juiz indeferiu
uma prova que deveria ter deferido), pedindo a reforma daquele desfecho. O erro de
julgamento não é necessariamente um erro no julgamento do mérito, pode ser um erro em
qualquer questão (Ex: apreciação das condições da ação, valor da causa, apreciação de uma
prova).
Quando o fundamento é o “error in procedendo”, o que há é um vício de atividade, de
procedimento, e se pedirá ao tribunal para que anule a decisão. O que se pede é que o
tribunal diga que aquela decisão não valeu, que ela foi produzida de modo viciado (Ex: decisão
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sem fundamentação, decisão proferida por juiz incompetente). Não se busca a reforma, mas
sim a invalidação. Não se discute a conclusão ou o desfecho da decisão, mas sim o modo como
ela foi produzida. Pleiteia-se a invalidação da decisão e o proferimento de outra. Um
importante exemplo trazido pelo NCPC é a nulidade por falta de fundamentação da decisão.
Art. 489, § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela
interlocutória, sentença ou acórdão, que:
I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar
sua relação com a causa ou a questão decidida;
II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta
àqueles fundamentos;
VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a
superação do entendimento.
Quando o fundamento é obscuridade ou contradição, vai se pedir o esclarecimento da decisão.
Há casos em que a decisão judicial é obscura, lhe falta clareza, de modo que é preciso pedir,
através de um recurso, que se esclareça essa decisão. Essa obscuridade pode se dar por razões
múltiplas, seja na compreensão do texto ou seja até por uma falha na impressão. O texto
também pode ser contraditório, por ter postulados incompatíveis; há uma contradição interna
na decisão judicial. Sempre que se postula o esclarecimento de uma decisão o recurso cabível
são os Embargos de Declaração, seja qual for o tipo de decisão (interlocutória, sentença etc).
Quando o fundamento é a omissão, o pedido será a integração dessa decisão (Ex: o juiz se
omite a respeito dos honorários). Para pedir essa integração o recurso cabível também são os
Embargos de Declaração. Os embargos, portanto, servem tanto para esclarecimentos quanto
para integração da decisão.
4) “da decisão judicial que se impugna”
Recurso é um mecanismo destinado a impugnar decisão judicial. Só cabe recurso contra ato
judicial que tenha conteúdo decisório.
Portanto, é preciso identificar quais são os atos recorríveis. Vejamos:
➔ Em primeiro lugar, não cabe recurso contra atos que não provenham do juiz.
Ex: atos praticados por auxiliares do juízo, independentemente de despacho, como juntada e
vista obrigatória (a exemplo dos atos previstos no art. 203, §4º).
Art. 203, § 4o Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória,
independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e revistos pelo juiz
quando necessário.
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Se houver um erro por parte do escrivão (Ex: era pra ter me dado vista e não me deram) a
parte até pode requerer a sua revisão, mas tal requerimento não terá natureza de recurso.
➔ O ato também precisa ter conteúdo decisório.
Nesse sentido, o art. 1001 do NCPC prevê a irrecorribilidade dos despachos. Embora se trate
de um pronunciamento do juiz, o despacho não tem conteúdo decisório, de modo que não
pode ser impugnado por recurso.
Art. 1.001. Dos despachos não cabe recurso.
Se o juiz der um despacho errado, a parte pode requerer uma correção do despacho, mas tal
impugnação não terá natureza de recurso.
OBSERVAÇÃO: Doutrina minoritária entende que seria possível a oposição de
embargos de declaração contra despachos, a fim de melhor esclarecê-los, a
depender da situação.
Sobre o tema, mencione-se que, recentemente, o STJ decidiu que “Despacho” que, na fase de
cumprimento de sentença, intima o advogado para que o devedor cumpra obrigação de
fazer, sob pena de multa, possui aptidão para gerar prejuízo à parte e, portanto, pode ser
impugnado por meio de recurso. Confira-se:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPLEMENTAÇÃO DE BENEFÍCIO DE PREVIDÊNCIA
PRIVADA. VIOLAÇÃO DE SÚMULA. NÃO CABIMENTO. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. INTIMAÇÃO DO EXECUTADO. CUMPRIMENTO DE
SENTENÇA. OBRIGAÇÃO DE FAZER. PRONUNCIAMENTO JUDICIAL APTO A CAUSAR
PREJUÍZO. RECURSO CABÍVEL. JULGAMENTO: CPC/15.
1. Ação de complementação de benefício de previdência privada ajuizada em 2007, da
qual foi extraído o presente recurso especial, interposto em 06/07/2016 e atribuído ao
gabinete em 06/03/2017.
2. O propósito recursal é dizer sobre a negativa de prestação jurisdicional bem como
sobre a recorribilidade do pronunciamento judicial que, na fase de cumprimento de
sentença, determina a intimação do executado, na pessoa do advogado, para
cumprir obrigação de fazer sob pena de multa.
3. Não cabe recurso especial para impugnar eventual violação de súmula, porquanto
não se enquadra no conceito de lei federal, disposto no art. 105, III, "a" da CF/88.
4. A mera referência à existência de omissão, sem demonstrar, concretamente, o ponto
omitido, sobre o qual deveria ter se pronunciado o Tribunal de origem, e sem
evidenciar a efetiva relevância da questão para a resolução da controvérsia, não é apta
a anulação do acórdão por negativa de prestação jurisdicional.
5. A Corte Especial consignou que a irrecorribilidade de um pronunciamento judicial
advém, não só da circunstância de se tratar, formalmente, de despacho, mas
também do fato de que seu conteúdo não é apto a causar gravame às partes.
6. Hipótese em que se verifica que o comando dirigido à recorrente é apto a lhe
causar prejuízo, em face da inobservância da necessidade de intimação pessoal da
devedora para a incidência de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer.
7. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, parcialmente provido.
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(REsp 1758800/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
18/02/2020, DJe 21/02/2020)
E quais são os atos recorríveis?
Em 1ª instância temos:
- Decisões interlocutórias
- Sentenças
Já na 2ª instância, temos:
- Decisões monocráticas (proferidas pelo relator singularmente)
- Acórdãos (pronunciamentos colegiados)
Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e
despachos.
§ 1o Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o
pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase
cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução.
§ 2o Decisão interlocutória é todo pronunciamento judicial de natureza decisória que não se
enquadre no § 1o.
Art. 204. Acórdão é o julgamento colegiado proferido pelos tribunais.
No entanto, não é contra qualquer pronunciamento destes que cabe recurso. Existem, no
direito processual civil brasileiro, alguns pronunciamentos decisórios contra os quais não cabe
recurso.
Por exemplo, há decisões interlocutórias que são irrecorríveis, como as proferidas nos juizados
especiais cíveis, nos quais não há agravo.
O NCPC ainda nos traz mais alguns exemplos de decisões irrecorríveis:
- O art. 138 prevê que a decisão sobre a admissão do amicus curiae é irrecorrível.
- O art. 1007, §6º prevê que a decisão que releva a pena de deserção por falta ou insuficiência
de preparo é irrecorrível.
- Os arts. 1031, §2º e 3º também preveem decisões irrecorríveis quando há relação de
prejudicialidade entre os recursos especial e extraordinário.
- A decisão do STF que entende que a questão objeto de recurso extraordinário não possui
repercussão geral também é irrecorrível, nos termos do art. 1035.
Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a especificidade do tema
objeto da demanda ou a repercussão social da controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de
ofício ou a requerimento das partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a
participação de pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com
representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
Art. 1007, § 6o Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção,
por decisão irrecorrível, fixando-lhe prazo de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo.
Art. 1.031. Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso especial, os
autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.
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§ 1o Concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão remetidos ao Supremo Tribunal
Federal para apreciação do recurso extraordinário, se este não estiver prejudicado.
§ 2o Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso extraordinário, em decisão
irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao Supremo TribunalFederal.
§ 3o Na hipótese do § 2o, se o relator do recurso extraordinário, em decisão irrecorrível, rejeitar
a prejudicialidade, devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o julgamento do
recurso especial.
Art. 1.035. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso
extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos
termos deste artigo.
Há também sentenças que são irrecorríveis.
Nos juizados especiais cíveis estaduais (L9099), por exemplo, é irrecorrível a sentença que
homologa a transação.
Art. 41. Da sentença, excetuada a homologatória de conciliação ou laudo arbitral, caberá recurso
para o próprio Juizado.
Art. 74. A composição dos danos civis será reduzida a escrito e, homologada pelo Juiz mediante
sentença irrecorrível, terá eficácia de título a ser executado no juízo civil competente.
Há também alguns acórdãos que são irrecorríveis, como os acórdãos proferidos pelo STF nas
ações diretas de inconstitucionalidade ou de uma ADC ou ADPF, por expressa previsão legal.
OBSERVAÇÃO: Sempre que se diz que uma decisão judicial é irrecorrível, é preciso fazer uma
ressalva. Mesmo nestes pronunciamentos, pode aparecer algum tipo de vício, como
obscuridade, contradição ou omissão. Assim, mesmo quando se afirme expressamente a
irrecorribilidade, fica ressalvado o cabimento dos embargos de declaração. Ademais, a
jurisprudência do STJ e do STF também admite, em algumas hipóteses, o cabimento de
MANDADO DE SEGURANÇA contra algumas decisões irrecorríveis.
Não obstante, a jurisprudência do STF já assentou o entendimento de que, nos juizados
especiais cíveis, não cabe mandado de segurança para atacar decisões interlocutórias.
RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PROCESSO CIVIL. REPERCUSSÃO GERAL RECONHECIDA. MANDADO
DE SEGURANÇA. CABIMENTO. DECISÃO LIMINAR NOS JUIZADOS ESPECIAIS. LEI N. 9.099/95. ART.
5º, LV DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA AMPLA DEFESA. AUSÊNCIA
DE VIOLAÇÃO. 1. Não cabe mandado de segurança das decisões interlocutórias exaradas em
processos submetidos ao rito da Lei n. 9.099/95. 2. A Lei n. 9.099/95 está voltada à promoção
de celeridade no processamento e julgamento de causas cíveis de complexidade menor. Daí ter
consagrado a regra da irrecorribilidade das decisões interlocutórias, inarredável. 3. Não cabe,
nos casos por ela abrangidos, aplicação subsidiária do Código de Processo Civil, sob a forma do
agravo de instrumento, ou o uso do instituto do mandado de segurança. 4. Não há afronta ao
princípio constitucional da ampla defesa (art. 5º, LV da CB), vez que decisões interlocutórias
podem ser impugnadas quando da interposição de recurso inominado. Recurso extraordinário a
que se nega provimento.
Mas CUIDADO! Nos juizados especiais FEDERAIS, a matéria recebe um tratamento diferente.
Ao contrário do que prevê Lei 9.099/95, a Lei 10.259/01 traz expressamente a possibilidade de
recurso de determinadas decisões interlocutórias:
“Art. 5o Exceto nos casos do art. 4o, somente será admitido recurso de sentença definitiva.”
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“Art. 4o O Juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir medidas cautelares no
curso do processo, para evitar dano de difícil reparação.”
Dessa forma, tem se admitido o cabimento de agravo de instrumento nos juizados especiais
FEDERAIS, para impugnar decisões interlocutórias que versem sobre medidas cautelares.
OBSERVAÇÃO: Nos juizados especiais da fazenda pública os arts. 3º e 4º trazem previsão
semelhante. Desta forma, também só cabe Agravo de Instrumento contra decisão que
concede medida cautelar e antecipatória no curso do processo.
Art. 3o O juiz poderá, de ofício ou a requerimento das partes, deferir quaisquer
providências cautelares e antecipatórias no curso do processo, para evitar dano de
difícil ou de incerta reparação.
Art. 4o Exceto nos casos do art. 3o, somente será admitido recurso contra a sentença.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. PRIMEIRA TURMA RECURSAL DA FAZENDA PÚBLICA.
RECURSO CONTRA DECISÃO INTERLOCUTÓRIA. RECURSO INADMISSÍVEL. A lei dos
Juizados Especiais da Fazenda Pública nº 12.153/2009, somente admite recurso
contra decisão que concede medida cautelar e antecipatória no curso do processo,
para evitar dano de difícil ou incerta reparação, bem como a possibilidade de
interposição de recurso inominado contra a sentença. Inadmissível, assim, Agravo de
Instrumento contra decisão interlocutória. NEGADO SEGUIMENTO AO RECURSO.
(Agravo de Instrumento Nº 71005906417, Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas
Recursais, Relator: Thais Coutinho de Oliveira, Julgado em 18/01/2016).
Juizados Especiais Cíveis Não cabe recurso imediato contra as decisões
interlocutórias
Juizados Especiais Federais Cabe agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias que versem sobre medidas cautelares
Juizados Especiais da Fazenda
Pública
Cabe agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias que versem sobre medidas cautelares
Feita esta introdução sobre o conceito de recurso e os atos recorríveis, vejamos agora alguns
tópicos mais importantes sobre o tema, com destaque para as novidades trazidas pelo CPC15:
PRINCÍPIOS
1) Princípio da taxatividade
Conforme já vimos, só será recurso aqueles instrumentos de impugnação de decisão judicial
que estejam previstos em lei. O art. 994 traz o rol de recursos cabíveis:
Art. 994. São cabíveis os seguintes recursos:
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I - apelação;
II - agravo de instrumento;
III - agravo interno;
IV - embargos de declaração;
V - recurso ordinário;
VI - recurso especial;
VII - recurso extraordinário;
VIII - agravo em recurso especial ou extraordinário;
IX - embargos de divergência.
Contudo, alerte-se para o fato de que pode existir uma outra espécie de recurso prevista em
legislação extravagante. Desde que haja previsão legal, não há problema. Um exemplo são os
embargos infringentes de alçada, previstos na Lei de Execução Fiscais:
Art. 34 - Das sentenças de primeira instância proferidas em execuções de valor igual ou
inferior a 50 (cinqüenta) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, só se
admitirão embargos infringentes e de declaração.
Ademais, alerte-se para o fato de que, por força do princípio do princípio da taxatividade, não
será possível que as partes criem uma nova espécie recursal através de negócio jurídico
processual. Sobre o tema, confira-se:
“O princípio da taxatividade impede que as partes, ainda que de comum acordo, criem
recursos não previstos pelo ordenamento processual. Mesmo com a permissão de um
acordo procedimental previsto no art. 190 do Novo CPC não é possível que tal acordo
tenha como objeto a criação de um recurso não presente no rol legal” (NEVES. Daniel
Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 9. ed. São Paulo: JusPodivm,
2017. p. 1584).
2) Princípio da voluntariedade:
Conforme já estudamos no conceito de recurso, este princípio diz respeito ao elemento
volitivo, ou seja, à vontade da parte em recorrer, expressa na interposição do recurso
correspondente à situação jurídica dos autos. É um dos pontos que diferencia, como vimos, o
recurso da remessa necessária.
3) Princípio do duplo grau de jurisdição:
As decisões judiciais devem ser passíveis de um novo exame. É o que justifica os recursos.
Esse princípio, contudo, está sujeito a críticas, tanto quanto à sua existência quanto à sua
própria denominação.
Autores como Barbosa Moreira reputam que essa denominação é equivocada. Nem sempre a
revisão da decisão se dá por órgão que integra outro grau de jurisdição. O correto, então, seria
falar em “duplo exame” das decisões, e não em “duplo grau”. Exemplo: juizados especiais (o
recurso inominado é dirigido à turma recursal, que é composta por juízes, e não por
desembargadores).
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Há divergências também quanto à própria existência desse princípio. De um lado, há quem
defendaque o duplo grau seria um princípio constitucional do processo (Nelson Nery Jr), por
conta da previsão constitucional dos recursos ordinários (art. 102, II, para o STF, e art. 105, II,
para o STJ). O recurso ordinário é um recurso em que o recorrente pode alegar qualquer
matéria de seu interesse, se o recurso for cabível (Exemplo: recurso ordinário das decisões
denegatórias de mandado de segurança de competência originária dos tribunais locais).
Por outro lado, autores como Marinoni entendem que o duplo grau de jurisdição iria contra à
garantia da tempestividade da tutela jurisdicional e contra o acesso à justiça, pois a tutela
intempestiva não é justa, não resolve.
O STF reconhece que, no processo penal, o duplo grau é direito fundamental, com base no
Pacto de San José da Costa Rica. Para o processo civil, contudo, não há julgado entendendo
que seria uma garantia fundamental do processo.
Parece então que, no processo civil, o duplo grau será uma opção legislativa: é o legislador
quem irá escolher os recursos cabíveis.
4) Princípio da fungibilidade:
Se verifica quando o recurso descabido puder ser recebido como o recurso efetivamente
cabível. Está ligado à instrumentalidade das formas processuais e permite que tenhamos a
admissão de um recurso que não era o cabível.
Era previsto no CPC de 1939, mas não veio expresso no CPC73, nada obstante a jurisprudência
do STJ o tenha acolhido em diversas situações. No CPC de 2015, temos previsões expressas de
fungibilidade:
• Art. 1024, parágrafo 3º (fungibilidade entre embargos de declaração e agravo interno).
• Arts. 1032 e 1033 (fungibilidade entre recursos especial e extraordinário)
Iremos aprofundar tais previsões adiante, quando estudarmos cada recurso em espécie.
Contudo, mesmo só prevista para essas situações, a fungibilidade ainda funciona como um
princípio da teoria geral dos recursos.
Para aplicar a fungibilidade são exigidos 3 requisitos pelo STJ:
1 - Dúvida objetiva sobre o recurso efetivamente cabível (controvérsia razoável acerca de qual
o recurso correto). Não é uma dúvida subjetiva, ou seja, se o advogado não conhece os
recursos cabíveis. Precisa haver uma controvérsia significativa na jurisprudência ou a própria
decisão gerar margem de dúvida sobre qual o recurso cabível.
Caso concreto: o juiz, ao julgar uma exceção de pré-executividade, rejeitou a defesa e a
execução prosseguiu. Não houve encerramento da execução, então não seria caso de
sentença, mas sim de decisão interlocutória. Mas, no caso concreto, o juiz chamou tal
decisão de “sentença”. O que fazer então: apelar ou agravar? Nesse caso, havia uma
dúvida objetiva, gerada pelo próprio juiz, e o STJ entendeu que justificava-se a
fungibilidade.
Sobre o tema, confira-se precedente do STJ, veiculado no Informativo n. 613:
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O conceito de "dúvida objetiva", para a aplicação do princípio da fungibilidade
recursal, pode ser relativizado, excepcionalmente, quando o equívoco na
interposição do recurso cabível decorrer da prática de ato do próprio órgão julgador.
Pautou-se a divergência em definir se a indução a erro, pelo próprio órgão julgador, na
interposição de recurso equivocado, permite a aplicação do princípio da fungibilidade
recursal. O acórdão embargado concluiu que "constitui erro grosseiro, não amparado
pelo princípio da fungibilidade recursal, por ausência de dúvida objetiva, a interposição
de recurso de apelação quando não houve a extinção total do feito - caso dos autos -
ou seu inverso, quando a parte interpõe agravo de instrumento contra sentença que
extinguiu totalmente o feito". Já o acórdão paradigma entendeu "ser possível a
aplicação do princípio da fungibilidade recursal quando o equívoco na interposição do
recurso cabível decorrer da prática de atos judiciais e cartorários". Inicialmente cumpre
salientar que a aplicação do princípio da fungibilidade recursal é possível nas hipóteses
em que exista "dúvida objetiva", fundada em divergência doutrinária ou mesmo
jurisprudencial acerca do recurso a ser manejado em face da decisão judicial a qual se
pretende impugnar. Contudo, deve-se ter em mente que, assim como existem casos em
que a dúvida impera na doutrina e na jurisprudência, há situações em que os termos
em que é redigida a decisão pelo julgador são determinantes para a interposição
equivocada do recurso. Na hipótese analisada, embora a decisão do juiz singular não
tenha colocado termo ao processo de execução, o referido juiz deu-lhe verdadeiro
tratamento de sentença - assim denominando-a e registrando-a, bem como
recebendo e processando o recurso de apelação. Dessa forma, o juízo colaborou
diretamente para o surgimento da dúvida quanto ao recurso cabível, afastando-se a
eventual má-fé da embargante na interposição da apelação - o que legitima a
aplicação do princípio da fungibilidade.
2 - Inexistência de erro grosseiro: pode existir dúvida objetiva e ainda assim incorrer em erro
grosseiro (Exemplo: a dúvida objetiva é entre apelação e agravo, mas o advogado vai lá e faz
um recurso especial). Por isso, classificamos a inexistência de erro grosseiro como um requisito
autônomo em relação à dúvida objetiva.
3 – Observância do prazo do recurso correto (STJ): se os prazos são diferentes, o uso do
recurso errado fora do prazo do recurso certo vai representar uma preclusão temporal para o
recurso correto. No caso de dúvida objetiva, portanto, o recorrente deve fazer o recurso no
menor prazo. É a criticada “teoria do prazo menor”, que era muito utilizada pelo STJ na
vigência do CPC73 para a apelação e o agravo.
Observação: esse requisito hoje fica minimizado, pois com o CPC15 todos os recursos
têm prazo de 15 dias, salvo os embargos de declaração. Nesse sentido, Daniel
Assumpção defende que essa “teoria do prazo menor” teria “morrido” com o novo
CPC.
“Esse requisito tende a desaparecer com a unificação do prazo recursal em 15
dias prevista no art. 1.003, § 5.º, do Novo CPC. Como o único recurso com
prazo menor serão os embargos de declaração, que terão cinco dias de prazo,
ainda que seja mantida a teoria do prazo menor, ele será irrelevante quanto à
inviabilização de aplicação do princípio da fungibilidade ao caso concreto.”
5) Princípio da dialeticidade ou discursividade:
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Os recursos devem conter as razões do inconformismo do recorrente. É preciso que ele traga
os motivos pelos quais está impugnando a decisão judicial. É uma exigência até mesmo para o
contraditório do recorrido e para a própria atividade decisória do órgão recursal.
Extraído dos requisitos formais dos recursos, que menciona “as razões recursais” (art. 1010, III,
para a apelação, e art. 1016, III para o agravo de instrumento).
6) Princípio da complementaridade:
Recursos, quando interpostos, devem estar acompanhados das razões do inconformismo do
recorrente. A diferença é que aqui estamos olhando para o momento das razões, que devem
ser apresentadas quando da interposição do recurso. É diferente do que acontece no processo
penal, em que as razões podem ser apresentadas posteriormente. Aqui no processo civil não
há outro momento processual para essa apresentação.
A complementaridade também leva ao princípio da consumação, que nada mais é do que a
preclusão consumativa em sede recursal. O recorrente perde a faculdade processual de
recorrer porque já a exerceu. Ela não pode depois pedir a complementação das razões.
Exceção: art. 1024, §4º e 5º -> quando os embargos de declaração são acolhidos, a outra parte
que já tiver ofertado recurso terá direito de complementar suas razões. Iremos aprofundar o
tema adiante.
7) Princípio da unicidade, singularidade ou unirrecorribilidade:
Em face de cada decisão, é cabível a interposição de um recurso de cada vez por um mesmo
recorrente. É uma questão de eficiência da atividade jurisdicional.
Exceção: interposição simultânea de RESp e RE, que é uma exigêcia dos tribunais superiores
para certoscasos, vide Súmula 126 do STJ.
SÚMULA N. 126 É inadmissível recurso especial, quando o acórdão recorrido assenta
em fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si
só, para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta recurso extraordinário
Se uma mesma decisão está se fundando em um argumento de lei federal e em um argumento
constitucional e for possível visualizar ofensa tanto à lei quanto à Constituição, é preciso que a
parte se valha de ambos os recursos para atacar a decisão, sob pena de inadmissão do único
recurso ofertado. Isto porque o outro fundamento poderia justificar a conclusão da decisão, e
se a parte não usar os 2 recursos estaria atacando de maneira insuficiente a decisão.
O STJ também enfrentou recentemente uma questão interessante: pode um único recurso
impugnar mais de uma decisão (Ex: um agravo de instrumento atacar 3 decisões)? O tribunal
entendeu que não haveria vedação, pois a forma utilizada (agravo de instrumento) era a
mesma para as 3 decisões.
4. O princípio da singularidade, também denominado da unicidade do recurso ou
unirrecorribilidade, consagra a premissa de que, para cada decisão a ser atacada, há
um único recurso próprio e adequado previsto no ordenamento jurídico.
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5. A recorrente utilizou-se do recurso correto (respeito à forma) para impugnar as
decisões interlocutórias, qual seja o agravo de instrumento.
6. O princípio da unirrecorribilidade não veda a interposição de um único recurso
para impugnar mais de uma decisão. E não há, na legislação processual, qualquer
impedimento a essa prática, não obstante seja incomum.
7. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp 1628773/GO, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
21/05/2019, DJe 24/05/2019)
8) Princípio da proibição de “reformatio in pejus”:
Recursos não podem levar a uma reforma para piorar a situação do recorrente. Está ligada à
própria voluntariedade dos recursos, pois estes devem ser analisados no limite do
inconformismo do recorrente, até mesmo em consonância com o efeito devolutivo dos
recursos (transferência da matéria impugnada ao órgão julgador, que só poderá olhar para
essas matérias no limite do inconformismo da parte).
Observação: se autor e réu recorrem, aqui não haverá vedação à “reformatio in pejus”, pois o
tribunal analisará cada recurso nos limites do inconformismo das partes. Isso poderá levar à
piora da situação de um dos recorrentes, mas pela oferta do recurso da outra parte, e não pelo
seu próprio recurso.
Exceções à proibição de “reformatio in pejus”:
- Questões de ordem pública: serão conhecidas pelo tribunal independentemente de alegação.
São questoes que o judiciário tem o dever de conhecer. Por isso, uma questão de ordem
pública pode piorar a situação do recorrente (Exemplo: recurso interposto pelo autor para
aumentar a condenação, mas o tribunal vem a reconhecer que o recorrido era parte ilegítima.
Temos aqui uma questão de ordem pública que, independentemente de alegação, poderá ser
conhecida). Trata-se do efeito translativo dos recursos, que ainda será aprofundado.
- Embargos de declaração: não é pacífico, mas alguns autores como Didier defendem que os
EDs não estao sujeitos a esse princípio, por serem um recurso que visa esclarecer a decisão. Os
embargos não têm efeito devolutivo, de modo que não ficam limitados à vontade do
recorrente, podendo levar à piora. Outro argumento é o de que a finalidade dos EDs é de
esclarecimento, de modo que não seria dado ao recorrente definir qual o esclarecimento que
o juiz tem que dar (ele pode apenas indicar); quem terá que esclarecer é o próprio órgão
prolator da decisão, o qual não estará vinculado à indicação da parte.
9) Princípio da primazia do julgamento do mérito:
Também no tema de recursos, os princípios da Primazia do julgamento de mérito, da
Instrumentalidade das formas e “pás de nullite sans grief” podem te ajudar a resolver muitas
questões cujas respostas diretas você não saiba.
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Uma consequência marcante relacionada ao tema é a possibilidade de agora haver juízo de
retratação de qualquer SENTENÇA TERMINATIVA1 (não apenas a de indeferimento da petição
inicial, como era no CPC/73). O objetivo do Código é resolver, sempre que possível, o mérito
da demanda, por isso permite que, interposta a apelação em face de sentença que extingue o
processo sem resolução do mérito, possa haver retratação (art. 485, § 7º).
Especificamente no âmbito recursal, a noção de instrumentalidade das formas norteia a regra
de que vícios formais podem ser sanados e não devem ser impedimento ao recebimento do
recurso. Como exemplo, cita-se a necessidade de o relator, antes de inadmitir um recurso com
base no art. 932, conceder prazo para o recorrente sanar o vício. Vejamos:
Na parte geral dos recursos: Art. 932 Parágrafo único. Antes de considerar
inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 5 (cinco) dias ao
recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação
exigível.
Na parte específica dos recursos extraordinário e especial: Art. 1029. § 3o O
Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá
desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção,
desde que não o repute grave.
De acordo com a doutrina, o art. 932, PU traz um DEVER para o relator, e não uma mera
faculdade.
Enunciado 82 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: É dever do relator, e não
faculdade, conceder o prazo ao recorrente para sanar o vício ou complementar a
documentação exigível, antes de inadmitir qualquer recurso, inclusive os excepcionais.
No entanto, o STJ já editou entendimento no sentido de restringir o alcance desse princípio na
seara de admissibilidade recursal aos vícios estritamente FORMAIS:
Enunciado administrativo STJ nº 6: Nos recursos tempestivos interpostos com
fundamento no CPC/2015 (relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de
2016), somente será concedido o prazo previsto no art. 932, parágrafo único, c/c o art.
1.029, § 3º, do novo CPC para que a parte sane vício estritamente formal.
Ademais, importante mencionar entendimento segundo o qual o art. 932, PU só se aplica
quando o vício for sanável ou a irregularidade corrigível. Assim, por exemplo, um recurso
intempestivo traria um vício insanável, de modo que não haveria motivo para a aplicação do
art. 932, parágrafo único, do Novo CPC. Na mesma linha, tendo deixado o recorrente de
impugnar especificamente as razões decisórias, não cabe regularização em razão do princípio
da complementaridade, que estabelece a preclusão consumativa no ato de interposição do
recurso (NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Novo CPC comentado. Salvador: Juspodivm, 2016,
p. 1518).
Neste sentido, há precedente recente do STF, segundo o qual o art. 932, parágrafo único, do
CPC/15 não é aplicado para recurso que não tenha impugnado especificamente os
fundamentos da decisão recorrida. (ARE 953221)
1 Lembrando: sentença terminativa é aquela que põe fim ao processo sem resolução do mérito.
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Em suma, o art. 932, PU só poderia ser aplicado para vícios formais e sanáveis, como a
ausência de procuração ou assinatura2. No entanto, não poderia ser aplicado para vícios
insanáveis, como a intempestividade, ou para vícios que não sejam meramente formais, como
a falta de impugnação específica dos fundamentos da decisão.
ATENÇÃO! Julgado recente do STJ: Não comprovação da divergência nos embargos de
divergência constitui vício substancial que não permite a complementação da fundamentação
prevista no parágrafo único do art. 932 do CPC/2015:
"A ausência de demonstração da divergência alegada no recurso uniformizador
constitui claramente vício substancial resultante da não observância do rigor técnico
exigido na interposição do presente recurso, apresentando-se, pois, descabida a
incidência do parágrafo único do art. 932 do CPC/2015 para complementaçãoda
fundamentação, possível apenas em relação a vício estritamente formal, nos termos do
Enunciado Administrativo 6/STJ' (STJ, AgRg nos EREsp 1.743.945/PR, Rel. Ministro
HERMAN BENJAMIN, CORTE ESPECIAL, DJe de 20/11/2019).
“Os embargos de divergência ostentam característica de recurso de fundamentação
vinculada, a teor do que dispõem os arts. 1.043 e 1.044 do CPC, os quais exigem, como
pressuposto indispensável, a demonstração de divergência jurisprudencial entre os
órgãos fracionários. Sua finalidade precípua consiste em dirimir dissídio decorrente da
interpretação da legislação federal existente entre julgados proferidos nesta Corte
Superior, não servindo para nova discussão acerca da utilização ou não de regra
técnica de admissibilidade ou conhecimento do recurso especial, ocorrida no caso
concreto e devidamente chancelada pelo respectivo órgão fracionário.
2. Segundo a jurisprudência desta Corte Especial, interpretando § 4º do art. 1.043 do
CPC e o art. 266, § 4º, do RISTJ, configura pressuposto indispensável para a
comprovação ou configuração da alegada divergência jurisprudencial a adoção pela
parte recorrente, na petição dos embargos de divergência, de uma das seguintes
providências, quanto aos paradigmas indicados: (a) a juntada de certidões; (b)
apresentação de cópias do inteiro teor dos acórdãos apontados; (c) a citação do
repositório oficial, autorizado ou credenciado nos quais eles se achem publicados,
inclusive em mídia eletrônica; e (d) a reprodução de julgado disponível na rede mundial
de computadores, com a indicação da respectiva fonte na Internet.
3. Na hipótese em exame, o ora agravante não instruiu os embargos de divergência
com o inteiro teor dos acórdãos paradigmas, não restando configurada a divergência
jurisprudencial atual.
4. A ausência de demonstração do dissídio alegado no recurso uniformizador - nos
moldes exigidos pelo artigo 1.043, § 4º, do CPC e pelo artigo 266, § 4º, do RISTJ -
constitui vício substancial, resultante da inobservância do rigor técnico exigido na
interposição do presente recurso, apresentando-se, pois, descabida a incidência do
parágrafo único do artigo 932 do CPC, para complementação de fundamentação.
2 A falta de assinatura nos recursos interpostos nas instâncias ordinárias configura vício sanável,
devendo ser concedido prazo razoável para o suprimento dessa irregularidade. STJ. 3ª Turma. REsp
1746047/PA, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 21/08/2018. e STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp
980.664/MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/5/2017.
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5. Não restando configurada a divergência jurisprudencial, não há falar em em dissídio
notório, hipótese na qual eventual mitigação dos pressupostos recursais recairia sobre
a exigência de realização do cotejo analítico.
6. Agravo interno desprovido.
(AgInt nos EAREsp 1414158/PR, Rel. Ministro JORGE MUSSI, CORTE ESPECIAL, julgado
em 01/12/2020, DJe 07/12/2020)
EFEITOS DOS RECURSOS
Podem decorrer da interposição do recurso ou até mesmo do seu mero cabimento.
1) Efeito Obstativo: O recurso impede o trânsito em julgado da decisão recorrida. É um efeito
de todo e qualquer recurso, e é natural da própria interposição do recurso.
Exceção 1: recurso intempestivo -> não impede a preclusão (temporal).
Exceção 2: recurso completamento descabido (STJ) -> não tem aptidão para afastar a
preclusão (Ex: agravo interno contra decisão colegiada -> é um recurso completamente
descabido, de modo que não tem efeito obstativo e não impede a preclusão da
decisão. O efeito prático é que não será cabível, posteriormente, um eventual recurso
especial, porque a decisão já transitara em julgado).
2) Efeito devolutivo: é o efeito de transferência da matéria impugnada ao órgão julgador do
recurso. É aplicado como uma decorrência da própria ideia da voluntariedade dos recursos: se
o recurso é um ato de vontade, o recorrente é quem delimita o que quer recorrer. Iremos
aprofundar o seu estudo na apelação.
3) Efeito translativo: é o efeito de transferência das questões de ordem pública ao órgão
julgador do recurso. Essas questões não dependem da vontade do recorrente, mas uma vez
que ele recorreu, tais matérias serão transferidas.
4) Efeito Substitutivo (art. 1008)3: a decisão proferida em sede de recurso substitui a decisão
recorrida. O acórdão do tribunal, por exemplo, substitui a sentença.
Para que ele se aplique, é necessário que haja a análise de mérito no recurso. E nem toda
questão de mérito irá gerar efeito substitutivo, pois se houver uma anulação por error in
procedendo, houve uma cassação da decisão, e não substituição: determina-se a prolação de
uma nova decisão pelo juiz de 1º grau (alguns autores, como Leonardo Carneiro, falam aqui
em “efeito rescindente”). Contudo, parte da doutrina entende que, nestes casos, se o recurso
pedindo a anulação for DESPROVIDO, aí teremos sim efeito substitutivo, pois a decisão do
recurso procedeu a uma nova análise do processo, quanto à alegação do vício processual.
Outra corrente (minoritária, Barbosa Moreira), entende que também não haverá efeito
substitutivo nesse caso, pois o recurso só alega erro de procedimento, e o tribunal quando o
desprovê não faz uma nova análise do mérito do processo, mas apenas se existiu ou não o
vício processual alegado.
3 Art. 1.008. O julgamento proferido pelo tribunal substituirá a decisão impugnada no que tiver sido
objeto de recurso.
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No caso de “error in iudicando”, por outro lado, seja no caso de provimento ou
desprovimento, a doutrina é pacífica no sentido de que o acórdão possui efeito substitutivo.
Isso tem importância principalmente para fins de ação rescisória, pois em virtude desse efeito
é o acórdão que deve ser objeto da rescisão, e não a sentença substituída.
5) Efeito Suspensivo: É o efeito de sustação da eficácia da decisão recorrida. Pode decorrer de
previsão legal (ope legis) ou decisão judicial (ope judicis). O efeito suspensivo “ope legis”
decorre do mero cabimento do recurso: basta a previsão legal que a decisão proferida não
produzirá automaticamente os seus efeitos.
O novo CPC determina que o recurso, em regra, não terá efeito suspensivo, salvo: i) nas
hipóteses previstas pelo próprio Código (efeito suspensivo ope legis); ii) quando o juiz o
conceder (efeito suspensivo ope judicis);
O efeito suspensivo ope judicis pode ser uma tutela de urgência: quando a suspensão da
decisão exija o risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação (é o caso do art. 995,
§único, que é o regramento geral dos recursos); ou pode ser uma tutela de evidência, quando
a probabilidade de provimento do recurso, de reversão da decisão recorrida, por si só, já seja
suficiente: é a previsão do art. 1012, §4º (regramento específico da Apelação). Com base nessa
diferença parcela da doutrina já defende a aplicação da regra do art. 1012, mais ampla, a todos
os recursos, não apenas à Apelação.
§ 4º Nas hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o
apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso OU se, sendo relevante
a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação.
6) Efeito regressivo – é aquele que possibilita a revisão/reforma da decisão recorrida, pelo juiz,
antes mesmo do recebimento (admissão) do recurso. Permite o juízo de retratação pelo órgão
prolator da decisão. É um efeito que decorre tão só da interposição.
O Novo CPC prevê o efeito regressivo para alguns recursos:
→ Para a Apelação, em 3 casos: I) indeferimento da petição inicial, prazo de 5 dias e o
réu deverá ser citado para responder ao recurso (art. 331 e § 1º); II) improcedência
liminar do pedido (art. 332, §3º), prazo de 5 dias, e subsiste a necessidade de citação
do réu; III) qualquer sentença terminativa, conforme art. 485 §7º.
→ Para o Agravo Interno: Art. 1021 § 2º.
→ Para o Agravo da decisão que inadmitir Recurso Extraordinário/Especial: art. 1042,§4º .
→ Para o Agravo de Instrumento: art. 1018.
7) Efeito expansivo: efeito que o recurso pode produzir sobre outras pessoas, que não
recorrente e recorrido, ou sobre outras decisões, que não a recorrida.
7.1: efeito expansivo subjetivo: quando a decisão do recurso incidir sobre outras
pessoas (Ex: art. 1005 do CPC – recurso interposto por um dos litisconsortes poderá
aproveitar ao outro). De acordo com o STJ e Barbosa Moreira, essa regra se aplica ao
litisconsórcio UNITÁRIO (em que a decisão de mérito tem que ser igual para todos),
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pois no litisconsórcio simples há a autonomia dos litisconsortes (os atos de um não
beneficiam o outro).
Exceção: pelo PU do 1005, que trata da solidariedade, o recurso interposto por
um devedor aproveita aos outros quando a defesa for comum.
Art. 1.005. O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos aproveita,
salvo se distintos ou opostos os seus interesses.
Parágrafo único. Havendo solidariedade passiva, o recurso interposto por um
devedor aproveitará aos outros quando as defesas opostas ao credor lhes
forem comuns.
7.2: efeito suspensivo objetivo: quando a decisão do recurso atinge outras decisões
para além da decisão recorrida (Ex: decisão que determinou a exclusão de
litisconsorte, que é recorrível por agravo de instrumento, sem efeito suspensivo. A
parte recorre, mas o processo continua, as provas são produzidas e sobrevém decisão
do TJ reformando a interlocutória que excluiu o litisconsorte. Como este terá direito a
participar da fase instrutória, as decisões que foram praticadas sem a sua presença
irão cair).
JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE
O juízo de admissibilidade é a análise dos requisitos para a admissão do recurso, ou seja, para
a possibilidade de enfrentamento da pretensão recursal. Somente os recursos que tiverem o
juízo de admissibilidade positivo é que poderão ter o mérito analisado (análise da pretensão
recursal). Todo recurso passa pelo juízo de admissibilidade.
Requisitos de admissibilibilidade:
Os Requisitos de Admissibilidade podem ser GERAIS (comuns aos recursos em geral) ou
ESPECÍFICOS (requisitos típicos de um ou alguns recursos; Ex: repercussão geral no RE).
Os requisitos de admissibilidade gerais são divididos em 2 grupos pela doutrina:
- Intrínsecos: são os requisitos referentes à existência do poder de recorrer.
- Extrínsecos: se referem ao modo de exercício do direito de recorrer.
Requisitos INTRÍNSECOS de admissibilidade:
1) Cabimento:
É a relação de adequação entre o recurso ofertado e a decisão recorrida. Verifica-se se o
recurso ofertado é o recurso adequado para atacar aquela decisão.
Ex: art. 1009 do CPC15 -> das sentenças cabe apelação.
Ex: art. 1021 do CPC15 -> das decisões monocráticas do relator, cabe agravo interno.
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Esse requisito pode sofrer mitigação diante do princípio da FUNGIBILIDADE.
Pela fungibilidade um recurso descabido pode ser recebido como um recurso efetivamente
cabível, desde que preenchidos alguns requisitos. Para que seja aplicável a fungibilidade, é
necessário que haja uma dúvida objetiva sobre o recurso cabível, não podendo ser verificado
o chamado ERRO GROSSEIRO.
Sobre o tema, importante acompanhar a jurisprudência dos tribunais, a fim de identificar para
quais situações tem se admitido a fungibilidade. Vejamos, de forma sistematizada:
Aplicável a Fungibilidade: Inaplicável a Fungibilidade (erro grosseiro)
- Possibilidade de receber embargos de
declaração da decisão do relator como agravo
interno (art. 1.024, § 3.º do NCPC).
- Possibilidade de receber o pedido de
reconsideração como Agravo Regimental (ARE
953221).
- Fungibilidade entre Recurso Especial e
Extraordinário: Arts. 1.032 e 1033, que
aparentemente superam a jurisprudência do STF
e STJ sobre o tema (AgRg no AResp 571026)
- Interposição de Agravo interno ou regimental
contra decisão do colegiado.
- Interposição de apelação diante de decisão que
exclui litisconsorte do processo. Trata-se de caso
de agravo de instrumento (vide art. 1015 do CPC)
- Impossibilidade de receber o recurso principal
intempestivo como recurso adesivo (ARE
953221)
- interposição de recurso especial quando cabível
recurso ordinário constitucional;
- pedido de reconsideração contra decisão
colegiada;
- interposição de agravo de instrumento contra
sentença proferida em mandado de segurança
- interposição de apelação quando cabível
recurso ordinário constitucional
- interposição de agravo de instrumento quando
cabível agravo regimental (interno)
2) Legitimidade para recorrer:
Para recorrer também é preciso ter legitimidade, pois os recursos são um desdobramento do
direito de ação e do acesso à justiça. A regra está no art. 996 do NCPC, pelo qual são
legitimados para recorrer:
- As partes: que, como regra, são aqueles sujeitos atingidos pela coisa julgada.
- Terceiro: de acordo com o PU do art. 996 (NCPC), esse terceiro deve demonstrar algum tipo
de interesse4, mostrando a ligação entre a decisão com alguma relação que lhe diga respeito
ou alguma situação em que poderia atuar como legitimado extraordinário (Ex: associação).
- Ministério Público: é legitimado a recorrer como parte e como fiscal da lei (Súmula 99 do
STJ).
➔ Amicus curiae pode recorrer? Em regra não, mas há 2 exceções: oposição de ED e
julgamento de IRDR (art. 138, §§1º,3º)5.
4 A lei não exige expressamente o interesse jurídico, de forma que há divergência na doutrina sobre o
tema.
5 Art. 138 § 1o A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência nem autoriza a
interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de declaração e a hipótese do § 3º.
31
3) Interesse em recorrer:
Na teoria da ação, o interesse de agir está ligado a uma necessidade (imprescindibilidade da
ação) e adequação.
Para recorrer, também exige-se interesse (art. 996). É necessário que o recurso tenha aptidão
para melhorar a situação da parte.
O interesse em recorrer da parte está ligado a sua sucumbência em alguma medida. Se a parte
foi vencida, ela terá interesse em recorrer, uma vez que o recurso poderá atacar a parcela em
que foi sucumbente.
Aplica-se aqui a ideia de sucumbência material: possibilidade de o recurso melhorar a situação
da parte. Nesse sentido, existem situações em que o recurso tem aptidão para melhorar a
situação da parte, mesmo que ela não tenha sido vencida.
Ex: ação popular julgada em face do Estado pela improcedência do pedido por falta de provas.
O Estado pode recorrer para tentar mudar o fundamento da improcedência para a inexistência
do direito, o que geraria uma coisa julgada erga omnes.
OBS: Há quem entenda que haveria interesse em recorrer da sentença que extingue o
processo sem resolução do mérito para buscar uma solução do mérito.
OBS: Em relação ao terceiro, o interesse em recorrer está ligado ao prejuízo que a decisão
pode lhe causar. Quanto ao MP como fiscal da lei, o Código é omisso; no entanto, o interesse
em recorrer é inerente às suas funções de fiscal do ordenamento jurídico.
4) Inexistência de fato extintivo ou impeditivo ao direito de recorrer: (Barbosa
Moreira)6
Um exemplo seria a renúncia ao direito de recorrer (art. 999 do NCPC): consiste em um ato
dispositivo do direito de recorrer antes do seu próprio exercício.
Não se confunde com a desistência (art. 998 do NCPC), que seria um fato impeditivo do direito
de recorrer, que se dá após o seu exercício.
A desistência e a renúncia independem da concordância do recorrido.
Art. 999. A renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte.
Art. 998. O recorrente poderá, a qualquer tempo, sem a anuência do recorrido ou dos
litisconsortes, desistir do recurso.
Ademais, importante destacar que, a teor do art. 998, PU, a desistência do recurso não impede
a análise de questão cuja repercussão geral já tenha sido reconhecida.
Parágrafoúnico. A desistência do recurso não impede a análise de questão cuja
repercussão geral já tenha sido reconhecida e daquela objeto de julgamento de
recursos extraordinários ou especiais repetitivos.
§ 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de resolução de demandas
repetitivas.
6 Alguns autores entendem que seria um requisito extrínseco (Ex: Nelson Nery jr)
32
O CPC admite ainda a chamada “renúncia tácita” ao direito de recorrer. Tal fato ocorre quando
a parte pratica um ato incompatível com eventual pretensão recursal (Ex: Tício é condenado a
pagar uma dívida e paga conforme determinado na sentença => Tício não poderia depois
recorrer, pois houve renúncia tácita).
Art. 1.000. A parte que aceitar expressa ou tacitamente a decisão não poderá recorrer.
Requisitos EXTRÍNSECOS de admissibilidade:
1) Preparo:
É o recolhimento das custas necessárias à prática do ato recursal.
Na sistemática geral, o preparo deve ser comprovado no ato de interposição do recurso,
conforme prevê o art. 1007 do NCPC:
Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido
pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno,
sob pena de deserção.
Para a sua prova, recomendamos a leitura dos parágrafos do art. 1007, com especial atenção
para a distinção entre a insuficiência de preparo e a ausência de comprovação de qualquer
recolhimento.
§ 2o A insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno,
implicará deserção se o recorrente, intimado na pessoa de seu advogado, não vier a
supri-lo no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 4o O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento
do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu
advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção.
§ 5o É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo, inclusive
porte de remessa e de retorno, no recolhimento realizado na forma do § 4o.
§ 6o Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará a pena de deserção,
por decisão irrecorrível, fixando-lhe prazo de 5 (cinco) dias para efetuar o preparo.
Em suma, temos que:
- Se o preparo foi recolhido A MENOR -> o recorrente será intimado para suprir a insuficiência
no prazo de CINCO dias.
- Se NÃO HOUVE comprovação do recolhimento do preparo -> o recorrente será intimado para
recolher em DOBRO. Neste caso, é vedada a complementação.
Ademais, frise-se que a fazenda pública e o MP estão dispensados de recolher o preparo.
33
Art. 1007, § 1o São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os
recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito Federal, pelos
Estados, pelos Municípios, e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal.
Ainda sobre o tema, importante destacar que o recolhimento do porte de remessa e de
retorno é dispensável nos processos eletrônicos.
§ 3o É dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno no processo em
autos eletrônicos.
Por fim, mencione-se previsão inovadora do CPC15 no sentido de que o equívoco no
preenchimento da guia de custas não implicará a pena de deserção:
Art. 1007, § 7o O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a aplicação
da pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento,
intimar o recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias.
OBSERVAÇÃO: Nos juizados especiais (L9099, art. 42), o preparo pode ser comprovado dentro
de 48 horas após a interposição de recursos. Não é necessário comprovar no ato de
interposição.
Ademais, o entendimento majoritário é de que não se admite a aplicação subsidiária do CPC,
de modo que não seria possível a complementação do preparo.
OBSERVAÇÃO²: Súmula 484 do STJ: se o recurso for ofertado após o encerramento do
expediente bancário, há o direito de comprovar o preparo no primeiro dia útil seguinte.
Súmula 484 - Admite-se que o preparo seja efetuado no primeiro dia útil subsequente,
quando a interposição do recurso ocorrer após o encerramento do expediente
bancário.
Isenções de preparo:
Podem ser:
- Objetivas: alguns recursos não estão sujeitos a preparo (Ex: embargos de declaração, vide art.
1023 do NCPC)
- Subjetivas: algumas pessoas estão dispensadas do preparo (art. 1007, §1° do NCPC):
Ministério Público, Fazenda Pública e os que gozam de isenção legal (Ex: beneficiário da
gratuidade de justiça).
OBSERVAÇÃO: No novo CPC, o art. 99, §7º prevê que a pessoa, quando requer a concessão de
gratuidade nos recursos, fica dispensada da comprovação de preparo, podendo o relator, caso
indefira, fixar prazo para recolhimento.
§ 7º Requerida a concessão de gratuidade da justiça em recurso, o recorrente estará
dispensado de comprovar o recolhimento do preparo, incumbindo ao relator, neste
caso, apreciar o requerimento e, se indeferi-lo, fixar prazo para realização do
recolhimento.
A falta de recolhimento de preparo pode ser suprida com o julgamento do recurso ?
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O STJ entendeu que NÃO. A falta de recolhimento do preparo é um vício formal que não pode
ser suprido pelo julgamento do recurso, maculando de nulidade o acórdão eventualmente
prolatado. Confira-se:
(...) A deserção é a sanção aplicada à parte que negligencia o recolhimento do preparo
- seja quanto ao valor, seja quanto ao prazo - e tem como consequência o não
conhecimento do recurso interposto.
É, pois, vício formal que, na espécie, não pode ser suprido pelo julgamento do
recurso, como o fez o Tribunal de origem, maculando de nulidade o acórdão de
apelação.
6. Hipótese em que não se pode admitir que a apelação seja julgada para só então se
exigir do recorrente o complemento do respectivo preparo.
(REsp 1523971/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
05/02/2019, DJe 08/02/2019)
2) Tempestividade:
É a necessidade de interposição do recurso no prazo legal. No NCPC, o art. 1003, §5º trouxe a
unificação dos prazos recursais em 15 dias (úteis), à exceção dos embargos de declaração (5
dias úteis).
1. Polêmica: agravo interno no STJ e no STF (por causa do art. 39 da Lei 8038/90 –
procedimentos nos tribunais superiores – e pelo RISTJ, os quais preveem prazo de 5
dias) (*)
(*) ATENÇÃO: Embora o próprio CPC disponha, em seu Art. 1.070, que “É de 15 (quinze) dias o
prazo para a interposição de qualquer agravo, previsto em lei ou em regimento interno de
tribunal, contra decisão de relator ou outra decisão unipessoal proferida em tribunal.”, e a
doutrina majoritária entenda que esse artigo revogou todas as disposições legais em contrário,
o STJ decidiu recentemente, em um julgamento de agravo interno em matéria criminal, que o
prazo continua sendo de 5 dias (Rcl 30.714/PB)7. No mesmo sentido decidiu o STF (vide HC
134554). Entretanto, recomenda-se PARA PROVAS seguir a literalidade do Código e assumir o
prazo como sendo de 15 dias (úteis)
➔ Destaques:
- I) Súmula 216 STJ SUPERADA pelo art. 1003 §4º;
4o Para aferição da tempestividade do recurso remetido pelo correio, será considerada
como data de interposição a data de postagem.
- II) entendimento consolidado e súmula 418 STJ8 SUPERADOS pelo art. 218 §4º9, que
admite o recurso extemporâneo (aquele que é protocolado antes do início do prazo).
7 É relevante saber que o julgado foi em matéria penal, pois, como se sabe, o CPC só se aplica aos
recursos nessa seara de maneira subsidiária, conforme art. 3º do Código de Processo Penal.
8 Súmula 418-STJ: É inadmissível o Recurso Especial interposto antes da publicação do acórdão dos
embargos de declaração, sem posterior ratificação
9 Art. 218. § 4o Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=134554&classe=HC&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=Mhttp://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?numero=134554&classe=HC&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M
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§ 4o Será considerado tempestivo o ato praticado antes do termo inicial do prazo.
- III) No NCPC (art. 183), a fazenda pública, o MP e a Defensoria têm prazo em dobro
para suas manifestações processuais em geral (o que inclui recursos e
contrarrazões).
- IV) Os litisconsortes com procuradores diferentes também possuem prazo em dobro
para recorrer. No entanto, o prazo será simples quando somente um deles houver
sucumbido , quando os autos forem eletrônicos ou quando seus advogados forem do
mesmo escritório de advocacia.
Art. 229. Os litisconsortes que tiverem diferentes procuradores, de escritórios de
advocacia distintos, terão prazos contados em dobro para todas as suas
manifestações, em qualquer juízo ou tribunal, independentemente de requerimento.
§ 1o Cessa a contagem do prazo em dobro se, havendo apenas 2 (dois) réus, é
oferecida defesa por apenas um deles.
§ 2o Não se aplica o disposto no caput aos processos em autos eletrônicos.
Súmula 641 do STF: “Não se conta em dobro o prazo para recorrer, quando só um dos
litisconsortes haja sucumbido”
- IV) Em havendo feriado, o art. 1003, §3º prevê que “o recorrente comprovará o
feriado local no ato de interposição do recurso”.
Na vigência do CPC de 73, o STJ tinha julgados no sentido de que o recorrente deveria
comprovar o feriado local que afetasse o prazo no ato de interposição, sob pena de
inadmissão, não sendo possível a comprovação “a posteriori”. Contudo, o STF, em 2012, veio a
reverter esse entendimento, com o fundamento de que não seria possível inadmitir sem
permitir correção, pois a prova do direito local deve ser feita se o juiz determinar.
Contudo, o CPC15 trouxe regra expressa prevendo a necessidade de comprovação no ato de
interposição. Mesmo diante disto, a doutrina vinha defendendo que deveria ser aplicado o art.
932, PU (cláusula geral de sanabilidade de vícios de admissibilidade recursal -> o relator deve
dar um prazo de 5 dias para a parte corrigir o vício de admissibilidade). Nada obstante, o STJ
pacificou o entendimento aplicando a literalidade do Código: comprovação no ato de
interposição do recurso, sendo inaplicável a possibilidade sanatória pelo art. 932, PU. Para
minimizar o prejuízo, a Corte decidiu aplicar o entendimento com efeitos “ex nunc”: somente
deveriam ser comprovados os feriados nos recursos interpostos dali para frente. Por sua
importância, confira-se a ementa do acórdão:
"RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. FERIADO LOCAL. NECESSIDADE DE
COMPROVAÇÃO NO ATO DE INTERPOSIÇÃO DO RECURSO. MODULAÇÃO DOS EFEITOS
DA DECISÃO. NECESSIDADE. SEGURANÇA JURÍDICA. PROTEÇÃO DA CONFIANÇA.
1. O novo Código de Processo Civil inovou ao estabelecer, de forma expressa, no § 6º
do art. 1.003 que "o recorrente comprovará a ocorrência de feriado local no ato de
interposição do recurso". A interpretação sistemática do CPC/2015, notadamente do
§ 3º do art. 1.029 e do § 2º do art. 1.036, conduz à conclusão de que o novo diploma
atribuiu à intempestividade o epíteto de vício grave, não havendo se falar, portanto,
em possibilidade de saná-lo por meio da incidência do disposto no parágrafo único
do art. 932 do mesmo Código.
36
2. Assim, sob a vigência do CPC/2015, é necessária a comprovação nos autos de
feriado local por meio de documento idôneo no ato de interposição do recurso.
3. Não se pode ignorar, todavia, o elastecido período em que vigorou, no âmbito do
Supremo Tribunal Federal e desta Corte Superior, o entendimento de que seria possível
a comprovação posterior do feriado local, de modo que não parece razoável alterar-se
a jurisprudência já consolidada deste Superior Tribunal, sem se atentar para a
necessidade de garantir a segurança das relações jurídicas e as expectativas legítimas
dos jurisdicionados.
4. É bem de ver que há a possibilidade de modulação dos efeitos das decisões em casos
excepcionais, como instrumento vocacionado, eminentemente, a garantir a segurança
indispensável das relações jurídicas, sejam materiais, sejam processuais.
5. Destarte, é necessário e razoável, ante o amplo debate sobre o tema instalado
nesta Corte Especial e considerando os princípios da segurança jurídica, da proteção
da confiança, da isonomia e da primazia da decisão de mérito, que sejam modulados
os efeitos da presente decisão, de modo que seja aplicada, tão somente, aos recursos
interpostos após a publicação do acórdão respectivo, a teor do § 3º do art. 927 do
CPC/2015.
6. No caso concreto, compulsando os autos, observa-se que, conforme documentação
colacionada à fl. 918, os recorrentes, no âmbito do agravo interno, comprovaram a
ocorrência de feriado local no dia 27/2/2017, segunda-feira de carnaval, motivo pelo
qual, tendo o prazo recursal se iniciado em 15/2/2017 (quarta-feira), o recurso especial
interposto em 9/3/2017 (quinta-feira) deve ser considerado tempestivo.
7. Recurso especial conhecido." (g.n.)
(REsp 1813684/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, Rel. p/ Acórdão Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 02/10/2019, DJe 18/11/2019)
Entretanto, a novela ainda permanece, pois em 2020 foi acolhida questão de ordem para
determinar que tal entendimento se aplicaria tão somente ao feriado da segunda-feira de
carnaval (feriado local).
"A Corte Especial, por maioria, rejeitou a preliminar suscitada pelo Sr. Ministro Luis
Felipe Salomão de não cabimento da questão de ordem e, ainda, por maioria, acolheu
a questão de ordem para reconhecer que a tese firmada por ocasião do julgamento
do REsp 1.813.684/SP é restrita ao feriado de segunda-feira de carnaval e não se
aplica aos demais feriados, inclusive aos feriados locais, nos termos do voto da Sra.
Ministra Relatora."
Com isso, a modulação só abrangeria os recursos que versassem sobre o feriado da segunda-
feira de carnaval, de modo que todos os outros recursos abrangendo outro feriado local
poderiam voltar a ser eliminados, com efeitos ex tunc.
Portanto, essa novela está longe de se encerrar, eis que agora a Corte Especial do STJ será
instada a se manifestar se a modulação poderia ocorrer sobre cada um dos inúmeros feriados
locais, eis que a fundamentação para a modulação para o feriado na segunda-feira de carnaval
37
é o mesmo para a modulação quanto ao feriado de Corpus Christi, ao feriado do Dia do
Servidor Público e a todo e qualquer feriado local.10
3) Regularidade Formal:
É a observância dos requisitos formais do recurso (Ex: art. 1010 do NCPC -> traz exigências que
a apelação precisa cumprir em sua estrutura; Ex²: agravo de instrumento: a formação do
instrumento com cópias é uma exigência de regularidade formal).
JUÍZO UNO DE ADMISSIBILIDADE:
Com exceção do RE e do RESP, que foram excluídos dessa novidade pela Lei 13.256/16 (v. art.
1.030), e, claro, dos ED (que sempre foram direcionados ao mesmo juiz prolator da decisão), os
recursos agora têm sua admissibilidade analisada diretamente pelo órgão competente para
julgá-los, isto é, pelo tribunal. Não mais existe o juízo bipartido de admissibilidade, em que o
juízo recorrido analisava os pressupostos e, se admitido o recurso, o tribunal o recebia e
reanalisava a admissibilidade do recurso.
➔ Atenção: O juízo competente para admitir (e julgar) o recurso não se confunde com o
juízo destinatário, com o endereçamento do recurso. Tomando como exemplo a
Apelação, deve esta ser interposta no juízo a quo por petição, acompanhada das
respectivas razões, sendo a petição endereçada ao juiz da causa, e não ao Tribunal. As
razões, no entanto, são dirigidas ao Tribunal, pois competirá a ele examiná-las. Vide
art. 1010, caput, §§1º, 3º.
➔ O juízo uno de admissibilidade também se aplica ao recurso ordinário constitucional.
Assim, se o tribunal local fizer o juízo de admissibilidade, estará usurpando a
competênciado STJ, sendo cabível reclamação (STJ, Rcl 35958).
RECLAMAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ORDINÁRIO EM MANDADO DE
SEGURANÇA. 1. CABIMENTO. PRESERVAÇÃO DA COMPETÊNCIA DO STJ. 2. JUÍZO DE
ADMISSIBILIDADE. TRIBUNAL DE ORIGEM. INCOMPETÊNCIA. 3. RECLAMAÇÃO
PROCEDENTE. 1. A reclamação é via própria para preservar a competência do Superior
Tribunal de Justiça. 2. O recurso ordinário, consectário direto do duplo grau de
jurisdição, tem a mesma natureza jurídica do recurso de apelação, razão pela qual a
ele se aplicava, analogicamente, o procedimento de julgamento da apelação,
previsto no CPC/1973. 3. O atual sistema processual, além de alterar o processamento
dos recursos de apelação, passou a dispor expressamente da sistemática aplicável ao
recebimento e processamento dos recurso ordinários. 4. Diante da determinação legal
de imediata remessa dos autos do recurso ordinário ao Tribunal Superior,
independentemente de juízo prévio de admissibilidade, a negativa de seguimento ao
recurso pelo Tribunal a quo configura indevida invasão na esfera de competência do
STJ, atacável, portanto, pela via da reclamação constitucional. 5. Reclamação
procedente.
➔ A decisão que inadmite o recurso tem natureza declaratória, mas com efeitos “ex
nunc”. Não se declara a inadmissibilidade do recurso desde a origem, pois preservam-
10 https://www.migalhas.com.br/coluna/cpc-na-pratica/319922/a-novela-sobre-a-comprovacao-do-feriado-local-e-
o-seu-novo-capitulo-em-2020
https://www.migalhas.com.br/coluna/cpc-na-pratica/319922/a-novela-sobre-a-comprovacao-do-feriado-local-e-o-seu-novo-capitulo-em-2020
https://www.migalhas.com.br/coluna/cpc-na-pratica/319922/a-novela-sobre-a-comprovacao-do-feriado-local-e-o-seu-novo-capitulo-em-2020
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se os efeitos do recurso inadmitido até a sua inadmissão. Se não fosse assim, a
decisão recorrida teria transitado em julgado lá atrás, o que poderia influir no prazo
da ação rescisória.
Exceção: recurso intempestivo: neste caso, os efeitos produzidos pelo recurso
inadmitido ficam afastados por força da preclusão temporal ocorrida lá atrás.
Então, entender que o efeito seria “ex nunc” seria conferir efeito a um recurso
que já estava precluso.
RECURSO ADESIVO
Não é uma espécie de recurso, mas sim uma forma de interposição, que será possível nos
casos de sucumbência recíproca (quando vencidos autor e réu).
Se uma das partes recorrer, a outra pode interpor o seu recurso de forma adesiva. Tal recurso
ficará subordinado ao recurso da outra parte, não sendo considerado um recurso autônomo.
Por isso, o recurso adesivo deve preencher todos os requisitos de admissibilidade do recurso
principal (Ex: forma, motivação, preparo) e não será conhecido se houver desistência do
recurso principal ou se este for declarado inadmissível ou deserto.
Art. 997. Cada parte interporá o recurso independentemente, no prazo e com
observância das exigências legais.
§ 1o Sendo vencidos autor e réu, ao recurso interposto por qualquer deles poderá
aderir o outro.
§ 2o O recurso adesivo fica subordinado ao recurso independente, sendo-lhe aplicáveis
as mesmas regras deste quanto aos requisitos de admissibilidade e julgamento no
tribunal, salvo disposição legal diversa, observado, ainda, o seguinte:
I - será dirigido ao órgão perante o qual o recurso independente fora interposto, no
prazo de que a parte dispõe para responder;
II - será admissível na apelação, no recurso extraordinário e no recurso especial;
III - não será conhecido, se houver desistência do recurso principal ou se for ele
considerado inadmissível.
O recurso adesivo deve ser feito no prazo das contrarrazões e ser dirigido ao órgão perante o
qual o recurso independente fora interposto.
Por fim, destaque-se que só se admite a forma adesiva na Apelação, no Recurso Extraordinário
e no Recurso Especial.
QUESTÕES OBJETIVAS
1. (NC-UFPR - 2018 - FOZPREV - Procurador Jurídico) Levando em consideração os recursos
cíveis, assinale a alternativa correta.
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/nc-ufpr-2018-fozprev-procurador-juridico
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A) Se não houver a posterior ratificação, deve-se inadmitir o recurso especial interposto antes
da publicação do acórdão dos embargos de declaração opostos pela parte contrária.
B) A primeira instância não realiza juízo de admissibilidade do recurso de apelação, o qual deve
ser interposto diretamente no Tribunal.
C) A parte apelada, se tiver interesse em impugnar questão decidida na fase de conhecimento
a respeito da qual não cabia agravo de instrumento, deve suscitá-la em preliminar de
contrarrazões, as quais, neste ponto, têm natureza de recurso contra decisões interlocutórias.
D) Quando contrariam precedente obrigatório do Superior Tribunal de Justiça, os acórdãos das
Turmas Recursais são desafiáveis por recurso especial.
E) Não cabe sustentação oral nos agravos de instrumento, ressalvados aqueles que desafiam
decisões interlocutórias com conteúdo de sentença.
GABARITO: C
LETRA A- INCORRETA. Não há necessidade de ratificação do recurso especial no caso em tela.
Diz a Súmula 579 do STJ:
“Súmula 579/STJ: Não é necessário ratificar o recurso especial interposto na
pendência do julgamento dos embargos de declaração, quando inalterado o
resultado anterior."
LETRA B- INCORRETO. A apelação é interposta no primeiro grau. De fato, não há juízo de
admissibilidade em primeiro grau, mas a apelação não é interposta diretamente em Tribunal.
Diz o art. 1010 do CPC:
“Art. 1.010. A apelação, interposta por petição dirigida ao juízo de primeiro grau,
conterá:"
LETRA C- CORRETA. Reproduz, com felicidade, o art. 1009, §1º, do CPC.
LETRA D- INCORRETA. Não cabe recurso especial de decisão de Turmas Recursais de Juizados
Especiais. Diz a Súmula 203 do STJ:
“Súmula 203: Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão de
segundo grau dos juizados especiais."
LETRA E- INCORRETA. Cabe, nas hipóteses legais, sustentação oral no agravo de instrumento.
Diz o art. 937 do CPC:
Art. 937. Na sessão de julgamento, depois da exposição da causa pelo relator, o
presidente dará a palavra, sucessivamente, ao recorrente, ao recorrido e, nos
casos de sua intervenção, ao membro do Ministério Público, pelo prazo
improrrogável de 15 (quinze) minutos para cada um, a fim de sustentarem suas
razões, nas seguintes hipóteses, nos termos da parte final do caput do art. 1.021
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(...) VIII - no agravo de instrumento interposto contra decisões interlocutórias que
versem sobre tutelas provisórias de urgência ou da evidência.
APELAÇÃO
A regra geral de cabimento continua a mesma: é o recurso cabível em face das sentenças.
Art. 1.009. Da sentença cabe apelação.
Mas cabe Apelação de decisão interlocutória? SIM, na forma do art. 1009 §1º, quando o
vencido na demanda apela impugnando decisão interlocutória não agravável proferida
anteriormente no processo.
§ 1o As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu respeito não
comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela preclusão e devem ser
suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente interposta contra a decisão final,
ou nas contrarrazões.
§ 2o Se as questões referidas no § 1o forem suscitadas em contrarrazões, o recorrente
será intimado para, em 15 (quinze) dias, manifestar-se a respeito delas. – contrarrazões
das contrarrazões.
E há situações também em que a sentença não será recorrível por apelação:
• Recurso inominado nos juizados especiais (art. 41 da L9099)
• Art. 105, II, “c” – cabe recurso ordinário em face das sentenças proferidas em ações
em que de um lado esteja estado estrangeiro ou organismo internacional e de outro
município ou pessoa residente ou domiciliada no país. É um recurso diretamente ao
STJ, em face de uma sentença (pula-se o TRF).11
• Execução fiscal (art. 34 da L6830) – serão cabíveis embargos infringentes em face das
sentenças que foram proferidas em execuçõesfiscais de baixo valor (até 50 OTN). Não
tem nada a ver com os embargos infringentes do CPC73. É um recurso dirigido ao
próprio juízo da execução fiscal.
Efeitos SUSPENSIVO na Apelação:
A regra da apelação continua sendo o duplo efeito, tendo efeito suspensivo ope legis, por força
de regra expressa do art. 1012, caput. No entanto, o §1º traz algumas exceções, casos em que
a apelação será recebida somente em seu efeito devolutivo, podendo haver o pedido de
cumprimento provisório logo após a publicação da sentença.
Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo.
11 Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: II - julgar, em recurso ordinário: c) as causas em
que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou
pessoa residente ou domiciliada no País;
41
§ 1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos
imediatamente após a sua publicação a sentença que:
I - homologa divisão ou demarcação de terras;
II - condena a pagar alimentos;
III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do
executado;
IV - julga procedente o pedido de instituição de arbitragem
V - confirma, concede ou revoga tutela provisória;
VI - decreta a interdição.
§ 2o Nos casos do § 1o, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento
provisório depois de publicada a sentença.
Não obstante, nestes casos em que a apelação será recebida sem efeito suspensivo, poderá
haver a concessão de efeito suspensivo “ope judicis”, quando houver requerimento da parte
nesse sentido ao relator ou ao tribunal e uma das seguintes hipóteses: (i) sendo relevante a
fundamentação, houver probabilidade de provimento do recurso (tutela de evidência) ou; (ii)
da decisão puder resultar dano grave ou de difícil reparação (tutela de urgência).
§ 3o O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1o poderá ser
formulado por requerimento dirigido ao:
I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua
distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la;
II - relator, se já distribuída a apelação.
§ 4o Nas hipóteses do § 1o, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se
o apelante demonstrar a probabilidade de provimento do recurso ou se, sendo
relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação.
Efeito DEVOLUTIVO na Apelação (art. 1013):
O efeito devolutivo pode ser dividido em 2 dimensões:
- Efeito devolutivo horizontal (no plano da extensão) – art. 1013, caput: é o efeito de
transferência ao tribunal das parcelas* da decisão que foram impugnadas. A apelação
transfere ao tribunal os exatos limites das parcelas da decisão que foram impugnadas.
- Efeito devolutivo vertical (no plano da profundidade) – art. 1013, §1º e 2º - olha-se para as
matérias que serão devolvidas, dentro daqueles capítulos que foram impugnados.
*teoria dos capítulos da sentença: é cada parcela decisória da sentença (Ex: capítulo n.
1 – dano moral; capítulo n. 2 – dano material).
Os efeitos sobre as matérias devolvidas no plano vertical são diferentes dos efeitos sobre as
matérias devolvidas no plano horizontal.
Mas quais matérias são enviadas pelo tribunal no efeito devolutivo horizontal e quais são
enviadas no devolutivo vertical?
42
No plano da extensão, devolvem-se ao tribunal os PEDIDOS formulados pelo autor.
No plano da profundidade, devolvem-se ao tribunal os ARGUMENTOS das partes sobre esses
pedidos.
Portanto, quem define o efeito devolutivo na extensão é o recorrente (tantum devolutum
quantum appellatum). Já o efeito devolutivo em sua profundidade é definido pela própria lei.
Ex: Ação pleiteando dano moral e dano material.
São 2 pedidos, e cada um deles tem seus argumentos (Ex: dano material -> responsabilidade
civil subjetiva alegada pelo autor e culpa exclusiva da vítima alegada pelo réu)
No plano da extensão, devolvem-se os pedidos (dano moral e dano material)
No plano da profundidade, devolvem-se os argumentos (responsabilidade civil subjetiva e
culpa exclusiva da vítima).
E qual a importância disso?
No plano da extensão quem define quais são os pedidos devolvidos ao tribunal é o APELANTE.
Se ele recorrer do dano moral e dano material, o tribunal aprecia os 2. Mas se ele recorrer só
do dano material, o tribunal não pode apreciar o dano moral.
Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.
Em outras palavras, o tribunal só pode conhecer do que está na apelação. É o princípio do
“tantum devolutum quantum appellatum”, segundo o qual só se devolve ao tribunal o que foi
impugnado na apelação. Mas CUIDADO: esse princípio só vale para o efeito devolutivo
HORIZONTAL.
No efeito devolutivo VERTICAL quem define os argumentos devolvidos é a própria LEI. E a lei
diz que todos os argumentos são devolvidos ao tribunal, desde que relativos ao capítulo
impugnado.
§ 1o Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões
suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido solucionadas, desde
que relativas ao capítulo impugnado.
§ 2o Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas
um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.
Por isso é importante distinguir o efeito horizontal do vertical. No exemplo, ainda que só se
recorra do dano material, os argumentos são devolvidos por inteiro. Todos os argumentos
suscitados para o pedido de dano material são devolvidos ao tribunal, ainda que não tratados
na sentença ou na apelação.
Relação do efeito devolutivo com o efeito translativo:
O efeito translativo, como vimos, trata da transferência de ofício de certas matérias de ordem
pública.
A doutrina majoritária defende que o efeito translativo fica limitado pela extensão do efeito
devolutivo. Portanto, as questões de ordem pública só podem ser conhecidas em grau recursal
se elas estiverem na extensão do efeito devolutivo.
43
Exemplo: capítulo 1 – dano moral ; capítulo 2 - dano material.
Se existe uma questão de ordem pública no capítulo 2 (Ex: prescrição), mas o recorrente só
recorre do capítulo 1, o tribunal não poderá conhecer da prescrição, pois ela está fora da
extensão do efeito devolutivo. Isto não é pacífico, mas é o entendimento majoritário, adotado,
por exemplo, por Fredie Didier e Barbosa Moreira:
“É preciso, porém, fazer uma advertência: o efeito devolutivo limita o efeito translativo,
que é o seu aspecto vertical: o tribunal poderá apreciar todas as questões que se
relacionarem àquilo que foi impugnado – e somente àquilo. O recorrente estabelece a
extensão do recurso, mas não pode estabelecer a sua profundidade” (Didier Jr., Fredie
et Cunha, Leonardo José Carneiro da, Curso de Direito Processual Civil: meios de
impugnação às decisões judiciais e processo nos tribunais, vol. 3, 5ª ed. Salvador:
Editora Podium, 2008, p. 83) (em itálico no original).
Teoria da Causa Madura:
É a possibilidade de apreciação do mérito da demanda diretamente em grau de apelação,
quando a causa estiver em condições de imediato julgamento. Pela teoria da causa madura,
uma sentença terminativa ou que contenha certos vícios processuais poderá ser substuída por
um acórdão de mérito.
Busca uma maior eficiência e celeridade, tentando evitar que a sentença seja anulada com
nova remessa do processo ao primeiro grau.
O art. 1013, §3º do NCPC trouxe algumas mudanças na sistemática da teoria da causa madura.
Em primeiro lugar, o NCPC deixa de exigir que a demanda seja exclusivamente de direito. Basta
que o processo esteja “em condições de imediato julgamento”, esteja ele tratando de matéria
fática ou de direito.
Ademais, são ampliadas as hipóteses de aplicação da teoria da causa madura. Não é mais
requisito que a sentença seja terminativa, mas apenas que seenquadre nas hipóteses do §3º e
4º do art. 1013:
§ 3o Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir
desde logo o mérito quando:
I - reformar sentença fundada no art. 485; (são as sentenças terminativas)
II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido
ou da causa de pedir;
III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;
IV - decretar a nulidade de sentença por falta de fundamentação. (remissão ao art. 489,
§1º)
§ 4o Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal, se
possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem determinar o retorno do
processo ao juízo de primeiro grau.
O inciso I traz a já conhecida hipótese de sentença terminativa, que continua sendo um caso
de cabimento da teoria da causa madura.
44
O inciso IV trata da questão da nulidade de sentença por falta de fundamentação. Nesse caso,
é possível a aplicação da teoria da causa madura para que haja a sanatória desse vício, de
modo que a apelação leve à reforma da sentença, e não à sua anulação.
Os incisos II e III tratam de situações correlatas, relativas a vícios de congruência (sentença que
não se atém ao pedido e à causa de pedir ou quando há omissão em algum dos pedidos =>
nesse último caso, é possível que haja o julgamento do pedido faltante diretamente pelo
tribunal).
Em relação ao inciso III, parte da doutrina critica, pois o tribunal estaria julgando
originariamente o pedido faltante. Discute-se, então, até que ponto essa regra não ofenderia o
princípio do juiz natural, prevendo uma competência originária do tribunal.
Por fim, o §4° ainda traz uma outra hipótese: a sentença que reconhece decadência ou
prescrição também pode ser reformada por um acórdão de mérito, sem necessidade de
anulação para o julgamento da pretensão em 1º grau.
Teoria da causa madura, “reformatio in pejus” e aplicação de ofício pelo tribunal:
Conforme explica Humberto Dalla, a “aplicação da teoria da causa madura, por sua vez, pode
ser vista como uma reformatio in pejus excepcional ou extraordinária, uma vez que, dando
provimento ao recurso, o Tribunal poderá julgar improcedente o pedido inicial.
Ademais, a regra é norma de ordem pública, de modo que, uma vez verificados os requisitos, o
Tribunal a aplicaria de ofício, independentemente do requerimento da parte interessada.”
Portanto, não há vedação à reformatio in pejus na teoria da causa madura e é possível que o
tribunal a aplique de ofício. Na mesma linha, confiram-se as lições de Daniel Assumpção:
“Também entendo que a aplicação da teoria da causa madura (art. 1.013, § 3.º, I, do
Novo CPC) pode gerar legitimamente a reformatio in pejus, bastando imaginar para
tanto a hipótese de o tribunal passar ao julgamento de mérito da demanda, rejeitando
o pedido do autor. Nesse caso, o autor piora sua situação porque, diante de uma
sentença terminativa, recebe no julgamento de seu próprio recurso de apelação
decisão de mérito de improcedência, que produzirá coisa julgada material.”
Outras questões importantes sobre a teoria da causa madura:
• Aplica-se ao julgamento de agravo de instrumento (REsp 1215368/ES).
• Não se aplica a teoria da causa madura em julgamento de recurso especial e
extraordinário, tendo em vista a necessidade de prequestionamento da matéria.
“Não é possível a aplicação da teoria da Causa Madura em recurso especial, porquanto o art.
515, § 3º, do CPC refere-se ao julgamento da apelação que devolve ao tribunal a apreciação de
toda matéria, sem adstrição aos fundamentos da sentença, característica esta que não está
presente no recurso especial. (REsp 1569401/CE, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA
TURMA, julgado em 08/03/2016, DJe 15/03/2016).
• O STJ e o STF pacificaram sua jurisprudência no sentido de que seria inaplicável a
teoria da causa madura aos recursos ordinários, ao argumento de que, muito embora
45
seja um recurso próximo da apelação, sua previsão é constitucional, de modo que não
poderia haver supressão de instâncias.
“É entendimento do STJ que "a teoria da causa madura (art. 515, § 3º, do CPC) não
se aplica aos recursos ordinários" (AgRg no RMS 35.235/GO, Rel. Ministro NAPOLEÃO
NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, DJe 30/03/2016).
“Não é possível aplicar a teoria da causa madura (art. 515, § 3º, do CPC/1973) em
sede de recurso ordinário, sob pena de supressão indevida do juízo natural
constitucionalmente estabelecido para a análise originária do mandado de segurança.”
(AgInt no RMS 44349 / MG)
Nada obstante, o art. 1027 do CPC, dispõe em seu § 2º que “aplica-se ao recurso ordinário o
disposto nos arts. 1.013, § 3º , e 1.029, § 5º “, remetendo expressamente ao artigo que
regulamenta a teoria da causa madura na apelação. Assim, a doutrina vem entendendo que
deve ser aplicada a teoria da causa madura também ao recurso ordinário, no caso de decisões
prolatadas após a vigência do CPC de 2015.
QUESTÕES OBJETIVAS
1. (AMEOSC - 2021 - Prefeitura de São José do Cedro - SC - Procurador Municipal) A respeito
do recurso de Apelação, assinale a alternativa CORRETA.
A) A apelação da sentença que extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os
embargos do executado possui efeito suspensivo automático.
B) Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o tribunal
determinará o retorno do processo ao juízo de primeiro grau.
C) As questões de fato não propostas no juízo inferior poderão ser suscitadas na apelação, se a
parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior.
D) O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses de sentença que concede tutela
provisória poderá ser formulado por requerimento dirigido ao Tribunal, se já distribuída a
apelação.
GABARITO: C
LETRA A- INCORRETO. Ofende o art. 1012, §1º, III, do CPC:
“ Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo.
(...)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1013%C2%A73
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1029%C2%A75
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/ameosc-2021-prefeitura-de-sao-jose-do-cedro-sc-procurador-municipal
46
§1o Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos
imediatamente após a sua publicação a sentença que:
(...) III - extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do
executado;
Ao contrário do exposto, a apelação não tem efeito suspensivo automático no caso de
julgamento improcedente de embargos de executado.
LETRA B- INCORRETO. Quando a causa estiver madura, não há necessidade de retorno do feito
à primeira instância. Diz o art. 1013, §4º, do CPC:
“ Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria
impugnada.
(...)§4o Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o
tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem
determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau."
LETRA C- CORRETO. Reproduz o art. 1014 do CPC.
LETRA D- INCORRETO. Ofende o art. Art. 1.012, §3º, do CPC. Diz o aludido dispositivo:
“ (...) O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1o poderá
ser formulado por requerimento dirigido ao:
I - tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua
distribuição, ficando o relator designado para seu exame prevento para julgá-la;
II - relator, se já distribuída a apelação.
Há uma sutileza a ser observada. O pedido de efeito suspensivo é encaminhado, se já
distribuída a apelação, para o relator, e não para o Tribunal.
2. (IBADE - 2020 - Câmara de Ji-Paraná - RO - Procurador) Marcos propôs ação indenizatória,
pelo procedimento comum, em faceda Companhia de Transportes Vila Velha Ltda. sob a
alegação de que sofrera danos de ordem pessoal, bem como materiais em seu veículo, em
decorrência da falta de cuidados objetivos do preposto da empresa de transportes quando
conduzia o coletivo. O feito processual tramitou regularmente na 1ª. Vara Cível de Itaboraí/ RJ,
tendo àquele juízo julgado improcedente a ação indenizatória sob a alegação de que Marcos
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/ibade-2020-camara-de-ji-parana-ro-procurador
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não teria demonstrado o nexo de causalidade que unisse o dano que experimentou à conduta
culposa da Ré. A sentença de improcedência foi publicada na própria Audiência de Instrução e
Julgamento, após a colheita das provas e das alegações finais orais, tendo Marcos peticionado
ao juízo, no dia subsequente à prolação do “decisum”, manifestando o seu conformismo com o
mesmo. No entanto, decorridos três dias da apresentação da referida petição de concordância
Marcos arrependeu-se, tendo interposto recurso de apelação objetivando a reforma do
julgado. Diante do caso narrado, é correto afirmar que:
A) o recurso de apelação interposto por Marcos é o adequado, devendo ser recebido pelo juízo
cível em que o feito tramitou em respeito aos princípios do contraditório e da ampla defesa.
B) o recurso interposto contra o “decisum” não irá no mérito, pelo fato de ter ocorrido
verdadeira preclusão lógica.
C) o recurso interposto é tempestivo, posto que Marcos ainda se encontrava dentro do prazo
legal para recorrer.
D) o recurso interposto não deve ser acolhido porquanto, quando Marcos peticionou
concordando com a sentença, operou-se a figura da perempção.
E) não poderá ser interposto o recurso em decorrência da presença da preclusão temporal.
GABARITO: B
LETRA A- INCORRETA. O recurso não pode ser recebido. Perdeu adequação ocorrendo
preclusão lógica.
LETRA B- CORRETO. Caso clássico de preclusão lógica. Não pode recorrer quem, tendo
oportunidade para tanto, inicialmente, de forma expressa, se manifestou concorde com a
decisão proferida. O art. 1000 do CPC se encaixa no caso em tela.
LETRA C- INCORRETO. Não há que se falar em tempestividade de recurso que restou precluso.
LETRA D- INCORRETO. Perempção é extinção do feito, sem resolução de mérito, por abandono
do processo em mais de duas vezes. Não é o caso em tela.
LETRA E- INCORRETO. O caso não é de preclusão temporal, mas sim de preclusão lógica.
3. (VUNESP - 2018 - TJ-SC - Juiz Leigo) A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da
matéria impugnada no recurso; e, na sua apreciação, o órgão julgador observará:
A) quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um
deles, a apelação devolverá o conhecimento dos demais, caso tenham constado dos termos
recursais.
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/vunesp-2018-tj-sc-juiz-leigo
48
B) o capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória não pode ser
revisto, pois é impugnável via agravo de instrumento.
C) se o processo estiver em condições de imediato julgamento, deve decidir desde logo o
mérito quando constatar a omissão no exame de um dos pedidos pelo juízo a quo, hipótese
em que poderá julgá-lo.
D) quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, deverá determinar
o retorno do processo ao juízo de primeiro grau para análise direta do mérito da demanda.
E) serão objeto de apreciação e julgamento todas as questões suscitadas e discutidas no
processo, desde que tenham sido solucionadas em primeiro grau de jurisdição, relacionadas
ou não ao capítulo da sentença impugnado no recurso.
GABARITO: C
LETRA A- INCORRETA. Quando o pedido ou a defesa tiver mais de fundamento e o juiz acolher
apenas um deles, o fato é que a apelação confere ao tribunal o conhecimento dos demais e
isto se dá sem necessidade de expressa menção disto no recurso. Diz o art. 1013, §2º, do CPC:
Art. 1013 (...)
§ 2º Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher
apenas um deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais.
LETRA B- INCORRETA. Com efeito, a confirmação, concessão ou revogação de tutela provisória,
em sede de sentença, pode ser desafiada por apelação. Diz o art. 1013, §5º, do CPC:
Art. 1013 (....)
§ 5º O capítulo da sentença que confirma, concede ou revoga a tutela provisória é
impugnável na apelação.
LETRA C- CORRETA. Reproduz, com felicidade, o previsto no art. 1013, §3º, III, do CPC. Senão
vejamos:
Art. 1013. (....)
§ 3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve
decidir desde logo o mérito quando:
(....)
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III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá
julgá-lo;
LETRA D- INCORRETA. Não há que se falar em reforma de sentença de prescrição e decadência
e necessidade, sempre, de retorno do processo para apreciação em primeiro grau. Vejamos o
que diz o art. 1013, §4º:
Art. 1013 (....)
§ 4º Quando reformar sentença que reconheça a decadência ou a prescrição, o
tribunal, se possível, julgará o mérito, examinando as demais questões, sem
determinar o retorno do processo ao juízo de primeiro grau.
LETRA E- INCORRETA. O equívoco é dizer que só serão objeto de apreciação e julgamento do
tribunal questões suscitadas e discutidas no processo que tenham sido solucionadas em
primeira instância. Não é isto que diz o art. 1013, §1º, do CPC:
Art. 1013. (...)
§ 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as
questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que não tenham sido
solucionadas, desde que relativas ao capítulo impugnado.
AGRAVO DE INSTRUMENTO
Diferentemente do CPC/73, agora só cabe Agravo de Instrumento de decisão interlocutória
que estiver prevista no rol do art. 1.015. Vejamos as hipóteses de cabimento:
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que
versarem sobre:
I - tutelas provisórias; impõe algum tipo de conduta (um fazer, não fazer), de
modo que é preciso que a parte possa atacá-la desde logo)
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua
revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à
execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do art. 373, § 1o;
50
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento
de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.
Dessa maneira, a regra é que as decisões interlocutórias que não estiverem previstas como
agraváveis (nesse rol acima ou em outra previsão legal) são irrecorríveis DE IMEDIATO. No
CPC/73, podíamos usar o Agravo Retido, mas esse recurso foi ABOLIDO do nosso sistema no
novo CPC, como vocês sabem.
O NCPC consagrou, assim, a irrecorribilidade imediata das decisões interlocutórias12, que só se
aplica, atenção, no PROCESSO DE CONHECIMENTO (v. parágrafo único). No processo de
execução e de inventário todas as decisões interlocutórias são recorríveis de imediato por
agravo de instrumento. Neste sentido, confira-se o entendimento do STJ:
(...) 3- Somente as decisões interlocutórias proferidas na fase de conhecimento se
submetem ao regime recursal disciplinado pelo art. 1.015, caput eincisos do
CPC/2015, segundo o qual apenas os conteúdos elencados na referida lista se tornarão
indiscutíveis pela preclusão se não interposto, de imediato, o recurso de agravo de
instrumento, devendo todas as demais interlocutórias aguardar a prolação da
sentença para serem impugnadas na apelação ou nas contrarrazões de apelação,
observado, quanto ao ponto, a tese da taxatividade mitigada fixada pela Corte Especial
do Superior Tribunal de Justiça por ocasião do julgamento dos recursos especiais
repetitivos nº 1.696.396/MT e 1.704.520/MT.
4- Para as decisões interlocutórias proferidas em fases subsequentes à cognitiva -
liquidação e cumprimento de sentença -, no processo de execução e na ação de
inventário, o legislador optou conscientemente por um regime recursal distinto,
prevendo o art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015, que haverá ampla e irrestrita
recorribilidade de todas as decisões interlocutórias, quer seja porque a maioria
dessas fases ou processos não se findam por sentença e, consequentemente, não
haverá a interposição de futura apelação, quer seja em razão de as decisões
interlocutórias proferidas nessas fases ou processos possuírem aptidão para atingir,
imediata e severamente, a esfera jurídica das partes, sendo absolutamente
irrelevante investigar, nessas hipóteses, se o conteúdo da decisão interlocutória se
amolda ou não às hipóteses previstas no caput e incisos do art. 1.015 do CPC/2015.
5- Na hipótese em exame, foi proferida, em processo de execução, decisão
interlocutória indeferindo o pedido formulado de revogação do benefício da
gratuidade de justiça anteriormente deferido à parte, tratando-se de decisão
imediatamente recorrível, por agravo de instrumento, com base no art. 1.015,
parágrafo único, do CPC/2015.
(REsp 1803925/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, CORTE ESPECIAL, julgado em
01/08/2019, DJe 06/08/2019)
12 A irrecorribilidade imediata de decisões intermediárias é uma característica de procedimentos que se
pretendem mais céleres, razão pela qual já era adotada no Processo do Trabalho e no procedimento dos
Juizados Especiais, por exemplo.
51
Perceba que a irrecorribilidade é apenas imediata; isto quer dizer que a decisão não é
irrecorrível em absoluto, pois ela poderá ser objeto de recurso na forma do art. 1009 §1º, isto
é, quando da interposição da Apelação contra a decisão final ou nas contrarrazões de
apelação.13
§ 1o As questões resolvidas na fase de conhecimento, se a decisão a seu
respeito não comportar agravo de instrumento, não são cobertas pela
preclusão e devem ser suscitadas em preliminar de apelação, eventualmente
interposta contra a decisão final, ou nas contrarrazões.
Observação: Excepcionalmente é possível, na apelação, atacar a decisão interlocutória sem
atacar a sentença. Há situações em que o interesse em recorrer da interlocutória independe
do meu êxito na sentença (Exemplo: multa por litigância de má-fé, multa por não
comparecimento em audiência -> há interesse em recorrer independentemente da parte
contrária apelar).
Outra questão interessante é: se a apelação for inadmitida, o que acontece com as
contrarrazões da outra parte que estejam impugnando uma decisão interlocutória?
Neste caso, relembre-se do recurso adesivo, que trata-se de um recurso subordinado (art. 997,
§2º), que segue a sorte do recurso principal. Para alguns autores, como Arruda Alvim, as
contrarrazões não seriam subordinadas, pois a lei não previu isso. Por outro lado, há autores
como Didier que defendem que aqui temos um novo caso de recurso subordinado, até por
uma questão lógica: se o recurso é inadmitido, as contrarrazões sequer serão enfrentadas, por
uma questão de eficiência.
Veja um resumo sobre as principais hipóteses de cabimento do AI:
Etapa/processo Decisão Recurso cabível
LIQUIDAÇÃO ou CUMPRIMENTO
DE SENTENÇA,
PROCESSO DE EXECUÇÃO ou
PROCESSO DE INVENTÁRIO ->
QUALQUER decisão
interlocutória
Agravo de Instrumento
PROCESSO de CONHECIMENTO - Decisão interlocutória prevista
nos incisos do art. 1015
- Outras decisões previstas em
leis esparsas (art. 1015, XIII)
- Julgamento parcial conforme
o estado do processo (art. 354,
§ú)
- Julgamento parcial de mérito
(art. 356, §5º)
- art. 1037, §13, I (também se
aplica no caso do art. 982, I –
Enunciado 557 FPPC)
- art. 1027, §1º (recurso
ordinário no STJ)14
Agravo de Instrumento
13 Neste caso, excepcionalmente, as contrarrazões podem ter um capítulo com uma natureza de
recurso.
14 Embora esse artigo remeta novamente ao art 1015, o Código fez questão de frisar, por isso
reproduzimos.
52
PROCESSO de CONHECIMENTO
- Decisão interlocutória não
prevista no art. 1.015 e sem
qualquer outra previsão legal
expressa de cabimento de AI
Irrecorrível de imediato, só por
preliminar de Apelação, nf. art.
1009 §1º
Inobstante essa tenha sido a regra construída pelo CPC de 2015, o STJ aos poucos passou a
abrandar tal rigor, permitindo o cabimento de agravo de instrumento contra outras decisões
não previstas expressamente no rol do art. 1015 e nem em outros casos previstos em lei
(inciso XIII).
Inicialmente, o tribunal construiu a interpretação de que o rol do art. 1015 é de taxatividade
mitigada, sendo permitida a interposição de agravo de instrumento quando verificada a
urgência decorrente da inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação. Pode
haver uma urgência que justifique a análise imediata da decisão.
“O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso admite a interposição
de agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente da inutilidade do
julgamento da questão no recurso de apelação.” STJ. Corte Especial. REsp 1.704.520-
MT, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/12/2018 (recurso repetitivo) (Info 639).
Posteriormente, tivemos vários julgados sobre o tema. Confira-se:
“A decisão interlocutória que rejeita a ocorrência de prescrição ou decadência é uma
decisão de mérito, que enseja a agravo de instrumento com base no inciso II do art.
1.015 do CPC/2015 A decisão interlocutória que afasta (rejeita) a alegação de
prescrição é recorrível, de imediato, por meio de agravo de instrumento com
fundamento no art. 1.015, II, do CPC/2015. Isso porque se trata de decisão de mérito.
Embora a ocorrência ou não da prescrição ou da decadência possam ser apreciadas
somente na sentença, não há óbice para que essas questões sejam examinadas por
intermédio de decisões interlocutórias, hipótese em que caberá agravo de instrumento
com base no art. 1.015, II, do CPC/2015, sob pena de formação de coisa julgada
material sobre a questão. STJ. 3ª Turma. REsp 1.738.756-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi,
julgado em 19/02/2019 (Info 643).”
“Como se deve interpretar a expressão “decisões interlocutórias que versem sobre
tutelas provisórias” presente no art. 1.015, I, do CPC/2015? O conceito de “decisão
interlocutória que versa sobre tutela provisória” previsto no art. 1.015, I, do CPC/2015,
abrange as decisões que digam respeito à: 1) à presença ou não dos pressupostos que
justificam o deferimento, indeferimento, revogação ou alteração da tutela provisória (é
o chamado núcleo essencial); 2) ao prazo e ao modo de cumprimento da tutela; 3) à
adequação, suficiência, proporcionalidade ou razoabilidade da técnica de efetivação da
tutela provisória; e 4) à necessidade ou dispensa de garantias para a concessão,
revogação ou alteração da tutela provisória. STJ. 3ª Turma. REsp 1.752.049-PR, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/03/2019 (Info 644).”
“Cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que acolhe ou afasta a
arguição de impossibilidade jurídica do pedido. Com o CPC/2015, a possibilidade
jurídica do pedido deixou de ser uma condição da ação e passou ser classificada como
“questão de mérito”. Logo, se uma decisão interlocutória acolhe ou rejeita a arguição
de impossibilidade jurídica do pedido, trata-se de decisão queversa sobre o mérito do
processo, sendo cabível a interposição de agravo de instrumento, com fulcro no art.
1.015, II, do CPC: Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões
53
interlocutórias que versarem sobre: II - mérito do processo. STJ. 3ª Turma. REsp
1.757.123-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 13/08/2019 (Info 654)
“Não cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que impõe ao
beneficiário o dever de arcar com as despesas da estadia do bem móvel objeto da
busca e apreensão em pátio de terceiro. Tal situação não pode ser enquadrada no art.
1.015, I, do CPC/2015 porque essa decisão não se relaciona, de forma indissociável,
com a tutela provisória. Trata-se, na verdade, de decisão que diz respeito a aspectos
externos relacionados com a executoriedade, operacionalização ou implementação
fática da busca e apreensão (e não com a tutela provisória em si). STJ. 3ª Turma. REsp
1.752.049-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/03/2019 (Info 644).”
“A decisão interlocutória que majora a multa fixada para a hipótese de
descumprimento de decisão antecipatória de tutela anteriormente proferida é
recorrível por agravo de instrumento. A decisão interlocutória que majora a multa que
havia sido fixada inicialmente consiste em uma tutela provisória sendo, portanto,
recorrível por agravo de instrumento com base no art. 1.015, I, do CPC/2015: Art.
1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem
sobre: I - tutelas provisórias; Se é concedida uma tutela provisória e, posteriormente, é
proferida uma segunda decisão interlocutória modificando essa tutela provisória,
pode-se considerar que esse segundo pronunciamento jurisdicional se enquadra no
conceito de decisão interlocutória que verse sobre tutela provisória. STJ. 3ª Turma.
REsp 1.827.553-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/08/2019 (Info 655).”
“Cabe agravo de instrumento contra decisão interlocutória que exclui o litisconsorte;
não cabe este recurso contra a decisão que mantém o litisconsorte; Segundo o inciso
VII do art. 1.015, do CPC/2015: “cabe agravo de instrumento contra as decisões
interlocutórias que versarem sobre exclusão de litisconsorte”. Essa previsão abrange
somente a decisão que exclui o litisconsorte. Assim, cabe agravo de instrumento contra
a decisão interlocutória que exclui o litisconsorte. Por outro lado, não cabe agravo de
instrumento contra a decisão que indefere o pedido de exclusão de litisconsorte
(decisão que mantém o litisconsorte). STJ. 3ª Turma. REsp 1.724.453-SP, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 19/03/2019 (Info 644).”
“É possível interpor agravo de instrumento contra decisão que não concede efeito
suspensivo aos embargos à execução. É admissível a interposição de agravo de
instrumento contra decisão que não concede efeito suspensivo aos embargos à
execução. STJ. 2ª Turma. REsp 1.694.667-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em
05/12/2017 (Info 617).”
“Não cabe agravo de instrumento em face de decisão que rejeite o pedido de
suspensão do processo por alegação de prejudicialidade externa (art. 313, V, “a”,
CPC/2015) (...) Embora o conceito de "decisão interlocutória que versa sobre tutela
provisória" seja bastante amplo e abrangente, não se pode incluir nessa cláusula de
cabimento do recurso de agravo de instrumento questões relacionadas a institutos
jurídicos ontologicamente distintos, como a suspensão do processo por prejudicialidade
externa. 4- Da existência de natural relação de prejudicialidade entre a ação de
conhecimento em que se impugna a existência do título e a ação executiva fundada
nesse mesmo não decorre a conclusão de que a suspensão do processo executivo em
virtude dessa prejudicialidade externa esteja fundada em urgência, nem tampouco a
decisão que versa sobre essa matéria diz respeito à tutela de urgência, na medida em
que o valor que se pretende tutelar nessa hipótese é a segurança jurídica, a fim de
evitar a prolação de decisões conflitantes, sem, contudo, descuidar dos princípios
constitucionais da celeridade e da razoável duração do processo.
5- Cabe ao executado, na ação de conhecimento por ele ajuizada, demonstrar a
presença dos requisitos processuais para a concessão de tutela provisória que suste a
54
produção de efeitos do título em que se funda a execução, sendo essa decisão
interlocutória - a que conceder ou não a tutela provisória pretendida - que poderá ser
impugnada pelo agravo de instrumento com base no art. 1.015, I, do CPC/15.
(REsp 1759015/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
17/09/2019, DJe 20/09/2019)
“É cabível agravo de instrumento contra decisão interlocutória que defere ou
indefere a distribuição dinâmica do ônus da prova ou quaisquer outras atribuições do
ônus da prova distinta da regra geral.” (REsp 1729110/CE, Rel. Ministra NANCY
ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 02/04/2019, DJe 04/04/2019)
“Cabe agravo de instrumento contra a decisão interlocutória que indeferiu o pedido
de declaração de nulidade das intimações ocorridas após a prolação da sentença (...)
Para as decisões interlocutórias proferidas em fases subsequentes à cognitiva -
liquidação e cumprimento de sentença -, no processo de execução e na ação de
inventário, o legislador optou conscientemente por um regime recursal distinto,
prevendo o art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015, que haverá ampla e irrestrita
recorribilidade de todas as decisões interlocutórias, quer seja porque a maioria dessas
fases ou processos não se findam por sentença e, consequentemente, não haverá a
interposição de futura apelação, quer seja em razão de as decisões interlocutórias
proferidas nessas fases ou processos possuírem aptidão para atingir, imediata e
severamente, a esfera jurídica das partes, sendo absolutamente irrelevante investigar,
nesse contexto, se o conteúdo da decisão interlocutória se amolda ou não às hipóteses
previstas no caput e incisos do art. 1.015 do CPC/2015. 5- Na hipótese, tendo sido
proferida decisão interlocutória - que indeferiu o pedido de nulidade das intimações
após a prolatação da sentença - após o trânsito em julgado e antes do efetivo
cumprimento do comando sentencial, cabível, de imediato, o recurso de agravo de
instrumento, na forma do art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015. (REsp
1736285/MT, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em
21/05/2019, DJe 24/05/2019)”
“Não cabe agravo de instrumento contra a decisão que aplica multa por ato
atentatório à dignidade da justiça pelo não comparecimento à audiência de
conciliação”
1. Controvérsia em torno da recorribilidade, mediante agravo de instrumento, contra a
decisão cominatória de multa à parte pela ausência injustificada à audiência de
conciliação.
2. O legislador de 2015, ao reformar o regime processual e recursal, notadamente do
agravo de instrumento, pretendeu incrementar a celeridade do processo, que, na
vigência do CPC de 1973, era constantemente obstaculizado pela interposição de um
número infindável de agravos de instrumento, dilargando o tempo de andamento dos
processos e sobrecarregando os Tribunais, Federais e Estaduais.
3. A decisão cominatória da multa do art. 334, §8º, do CPC, à parte que deixa de
comparecer à audiência de conciliação, sem apresentar justificativa adequada, não é
agravável, não se inserindo na hipótese prevista no art. 1.015, inciso II, do CPC,
podendo ser, no futuro, objeto de recurso de apelação, na forma do art. 1.009, §1º, do
CPC.
(REsp 1762957/MG, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 10/03/2020, DJe 18/03/2020)
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Em caso de decisões interlocutórias complexas, qual critério será adotado para saber se cabe
ou não agravo de instrumento?
Exemplo: determinada empresa pública federal pretende intervir no feito como assistente, o
que em tese deslocaria a competência para a justiça federal (art. 109, I). O juiz defere o
pedido,e a parte contrária quer impugnar a decisão. Neste caso, estamos diante de um
pronunciamento judicial de natureza complexa. Isso porque o juiz, acolhendo ou rejeitando a
intervenção do terceiro também se pronuncia sobre a necessidade ou não de modificação da
competência em virtude da referida intervenção. São, portanto, duas decisões em uma só.
Então, qual o critério será adotado para saber se cabe ou não agravo de instrumento? Qual das
duas “decisões” contidas nessa única decisão é que irá servir de parâmetro para se definir se
cabe ou não agravo de instrumento?
De acordo com o STJ (REsp 1.797.991-PR, Informativo 651), devem ser observados 3 critérios:
a) o exame do elemento que prepondera na decisão;
b) o emprego da lógica do antecedente-consequente e da ideia de questões
prejudiciais e de questões prejudicadas;
c) o exame do conteúdo das razões recursais apresentadas pela parte irresignada.
Meu Deus, professor! O que significa isso? Vamos explicar melhor.
a) o exame do elemento que prepondera na decisão:
O primeiro critério que se pode fixar diz respeito à preponderância de carga decisória, ou seja,
qual dos elementos que compõem o pronunciamento judicial é mais relevante. No nosso
exemplo, a decisão sobre a intervenção ou não de terceiro (da empresa pública federal) exerce
relação de dominância sobre a competência. Isso porque somente se pode cogitar de uma
alteração de competência se – e apenas se – houver a admissão do terceiro. Portanto, a
definição sobre a intervenção prepondera.
b) o emprego da lógica do antecedente-consequente e da ideia de questões
prejudiciais e de questões prejudicadas
Aqui iremos verificar se a primeira matéria (ex: intervenção de terceiro) influencia o modo de
se decidir a segunda matéria (ex: competência). No ponto, conclui-se que a intervenção de
terceiro é o antecedente que leva, consequentemente, ao exame da competência, induzindo a
um determinado resultado. Assim, se deferido o ingresso do terceiro sujeito à competência
prevista no art. 109, I, da Constituição Federal, haverá alteração da competência para a Justiça
Federal; se indeferido o ingresso do terceiro sujeito à competência prevista no art. 109, I, da
Constituição Federal, haverá manutenção da competência na Justiça Estadual.
c) o exame do conteúdo das razões recursais apresentadas pela parte irresignada
Por último, deve-se examinar o foco da irresignação da parte agravante em suas razões
recursais para que se conclua pela incidência do art. 1.015, IX, do CPC/15, ou seja, se a
impugnação se dirige precipuamente para a questão da intervenção de terceiro ou para a
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questão da competência. Em nosso exemplo, o objeto principal do recurso interposto é alegar
que a empresa pública federal não teria interesse jurídico para intervir no feito.
Assim, no exemplo dado, a identificação do cabimento do recurso é feita com base na análise
do acerto ou não da admissão da intervenção de terceiros (no caso, a empresa pública
federal). Portanto, conclui-se que a decisão que versa sobre a admissão ou inadmissão de
terceiro é recorrível de imediato por agravo de instrumento fundado no art. 1.015, IX, do
CPC/2015, ainda que da intervenção resulte modificação ou não da competência, que, nesse
contexto, é uma decorrência lógica, evidente e automática do exame da questão principal.
Peças Obrigatórias e Facultativas:
No agravo de instrumento o recorrente terá que instruir o seu recurso com cópias de peças
dos autos do processo. O recorrente formará um “instrumento” para que o tribunal conheça
da causa. Essas cópias que formam o instrumento podem ser divididas em:
- Obrigatórias: são aquelas impostas por lei (art. 1017, I). Nesse ponto, importante destacar
que o NCPC, seguindo a jurisprudência do STJ, passou a admitir que outros documentos oficiais
pudessem servir para comprovar a tempestividade do recurso, para além da certidão de
intimação da decisão agravada.
Ademais, o NCPC ampliou o rol, passando a prever como cópias obrigatórias também a petição
inicial, a contestação e a petição que ensejou a decisão agravada.
NCPC, Art. 1.017. A petição de agravo de instrumento será instruída:
I - obrigatoriamente, com cópias da petição inicial, da contestação, da petição que
ensejou a decisão agravada, da própria decisão agravada, da certidão da respectiva
intimação ou outro documento oficial que comprove a tempestividade e das
procurações outorgadas aos advogados do agravante e do agravado;
- Facultativas: são cópias opcionais, sendo faculdade do agravante a sua juntada.
No CPC73, a falta de cópias obrigatórias levava à INADMISSÃO do recurso, não podendo ser
suprida a posteriori.
No NCPC, o art. 1017, §3º prevê que, na falta da cópia de QUALQUER PEÇA, deve o relator
aplicar o art. 932, PU, que traz a importante regra de que, antes de inadmitir o recurso, deve
ser dado um prazo de 5 dias para a correção do vício de admissibilidade ou complementação
de documentos. Assim, até mesmo a falta de peças obrigatórias poderia ser sanada.
Outra novidade é o art. 1017, §5º, que prevê que quando os autos forem eletrônicos fica
dispensada a apresentação de cópias do agravo de instrumento. São uma mera faculdade do
recorrente, que irá avaliar quais cópias ele vai juntar ao AI.
§ 3o Na falta da cópia de qualquer peça ou no caso de algum outro vício que
comprometa a admissibilidade do agravo de instrumento, deve o relator aplicar o
disposto no art. 932, parágrafo único.
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§ 4o Se o recurso for interposto por sistema de transmissão de dados tipo fac-símile ou
similar, as peças devem ser juntadas no momento de protocolo da petição original.
§ 5o Sendo eletrônicos os autos do processo, dispensam-se as peças referidas nos
incisos I e II do caput, facultando-se ao agravante anexar outros documentos que
entender úteis para a compreensão da controvérsia.
ATENÇÃO! Para aplicar essa regra, o STJ exige que os autos sejam eletrônicos tanto em 1º
quanto em 2º grau.
“1. A disposição constante do art. 1.017, § 5º, do CPC/2015, que dispensa a juntada
das peças obrigatórias à formação do agravo de instrumento em se tratando de
processo eletrônico, exige, para sua aplicação, que os autos tramitem por meio
digital tanto no primeiro quanto no segundo grau de jurisdição.
2. Hipótese em que, a despeito da tramitação eletrônica do processo na primeira
instância, ainda não dispunha o Tribunal de origem da infraestrutura necessária para
receber o recurso de agravo de instrumento por meio eletrônico e ter acesso aos autos
na origem.
3. De acordo com a disciplina da Lei nº 11.419/2006, os autos de processos eletrônicos
que tiverem de ser remetidos a outro juízo ou instância superior que não disponham de
sistema compatível deverão ser impressos em papel e, tão logo autuados, seguirão a
tramitação legalmente estabelecida para os processos físicos (art. 12, §§ 2º e 4º).
4. Não dispondo o Tribunal dos meios formais necessários à consulta dos autos
eletrônicos na origem, não há outra alternativa a não ser condicionar o conhecimento
do agravo de instrumento à juntada das peças de caráter obrigatório.
5. Na hipótese, ainda pesa contra o recorrente o fato de ter sido regularmente
intimado para, em 5 (cinco) dias, suprir a falha na formação do instrumento, nos
moldes do art. 1.017, § 3º, c/c o art. 932, parágrafo único, do CPC/2015, dever do qual
ele não se desincumbiu a contento.
(REsp 1643956/PR, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 09/05/2017, DJe 22/05/2017)
O art. 1018 do NCPC ainda prevê a comunicação da interposição do agravo de instrumento ao
juiz de 1º grau no prazo de TRÊS DIAS.
Art. 1.018. O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo, de cópia da
petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação
dos documentos que instruíram o recurso.
§ 2o Não sendo eletrônicos os autos, o agravante tomará a providência previstano
caput, no prazo de 3 (três) dias a contar da interposição do agravo de instrumento.
O fundamento dessa exigência é o de possibilitar o juízo de retratação pelo órgão prolator da
decisão, uma vez que o AI é recurso dotado de efeito regressivo.
Não cumprida essa exigência, qual a consequência jurídica?
No CPC73, a falta de comunicação levava à inadmissão do recurso, desde que arguido e
provado pelo agravado.
O NCPC, no entanto, menciona que o agravante PODERÁ requerer a juntada do comprovante
de inadmissão. Pelo caput do art. 1018 não haveria um dever de comunicação, sob pena de
inadmissão. No entanto, o §2º menciona que, não sendo os autos eletrônicos, haveria um
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dever. Ademais, o §3º estabelece que a falta dessa providência, se arguida pela parte, levará à
inadmissão do recurso.
Desse modo, no processo eletrônico essa exigência não irá levar à inadmissão do recurso. A
exigência só levaria à inadmissão nos processos físicos, e desde que arguido pela parte.
Efeito suspensivo “ativo”:
Quando estamos diante de uma decisão liminar de caráter negativo (que indefere algo), a
parte que recorre por agravo de instrumento busca a concessão dessa providência em sede
recursal. Neste caso, o relator do AI poderá, ao recebê-lo, conferir a antecipação da tutela
recursal, ou seja, dar a providência que o recorrente busca. É o que alguns autores, antes do
CPC15, chamavam de “efeito suspensivo ativo”, que nada mais é do que uma antecipação de
tutela no âmbito recursal. O tema hoje está positivado no art. 1019:
Art. 1.019. Recebido o agravo de instrumento no tribunal e distribuído imediatamente,
se não for o caso de aplicação do art. 932, incisos III e IV , o relator, no prazo de 5
(cinco) dias:
I - poderá atribuir efeito suspensivo ao recurso ou deferir, em antecipação de tutela,
total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão;
QUESTÕES OBJETIVAS
1. (FADESP - 2017 - Câmara de Capanema - PA - Procurador Jurídico) O Novo Código de
Processo Civil edificou uma reviravolta no tocante aos recursos Apelação e Agravo de
Instrumento, possibilitando que a Apelação peça o reexame de algumas decisões
interlocutórias e que o Agravo de Instrumento possa impugnar tão somente decisões
interlocutórias descritas em rol exaustivo. Analise as decisões judiciais descritas abaixo:
- decisão parcial que extingue apenas um dos pedidos da inicial por considerá-lo
improcedente;
- decisão que não admite juntada de documentos de um dos herdeiros em um processo de
inventário;
- decisão que acolhe todos os pedidos da inicial, extinguindo o processo com resolução do
mérito;
- decisão que indefere pedido de oitiva de uma testemunha em uma ação de indenização por
danos morais, na fase do processo de conhecimento.
Os recursos cabíveis, respectivamente, em face de cada uma dessas decisões são,
respectivamente,
A) agravo de instrumento; agravo de instrumento; apelação; apelação.
B) agravo de instrumento; apelação; apelação; apelação.
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/fadesp-2017-camara-de-capanema-pa-procurador-juridico
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C) apelação; agravo de instrumento; apelação; agravo de instrumento.
D) apelação; agravo de instrumento; agravo de instrumento; apelação.
GABARITO: A
Art. 1.015. Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias que versarem sobre:
I - tutelas provisórias;
II - mérito do processo;
III - rejeição da alegação de convenção de arbitragem;
IV - incidente de desconsideração da personalidade jurídica;
V - rejeição do pedido de gratuidade da justiça ou acolhimento do pedido de sua revogação;
VI - exibição ou posse de documento ou coisa;
VII - exclusão de litisconsorte;
VIII - rejeição do pedido de limitação do litisconsórcio;
IX - admissão ou inadmissão de intervenção de terceiros;
X - concessão, modificação ou revogação do efeito suspensivo aos embargos à execução;
XI - redistribuição do ônus da prova nos termos do ;
XII - (VETADO);
XIII - outros casos expressamente referidos em lei.
2. (VUNESP - 2020 - Câmara de Boituva - SP - Analista Jurídico) Tendo em vista o
entendimento da Jurisprudência recente do Superior Tribunal de Justiça, pode-se
corretamente afirmar que o rol das hipóteses previstas em lei das quais é cabível o manejo do
recurso de agravo de instrumento é:
A) absolutamente taxativo e deve ser interpretado restritivamente, sob pena de não
conhecimento do recurso.
B) taxativo, mas admite interpretações extensivas ou analógicas, tendo em vista o princípio da
efetividade da prestação jurisdicional.
C) exemplificativo, admitindo-se o recurso fora das hipóteses de cabimento previstas em lei,
desde que presentes os pressupostos recursais.
D) taxativo, podendo excepcionalmente ser mitigado, em razão da urgência, decorrente da
inutilidade do julgamento da questão, em momento posterior, no recurso de apelação.
E) exemplificativo, pois se a decisão recorrida estiver em confronto com entendimento fixado
em súmula, repercussão geral ou recurso repetitivo dos Tribunais Superiores, admite-se o
agravo de instrumento, mesmo sem expressa previsão legal.
GABARITO: D
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/vunesp-2020-camara-de-boituva-sp-analista-juridico
60
Tema/ Repetitivo nº 988 do STJ: O rol do art. 1.015 do CPC é de taxatividade mitigada, por isso
admite a interposição de agravo de instrumento quando verificada a urgência decorrente da
inutilidade do julgamento da questão no recurso de apelação.
3. (AMEOSC - 2019 - Prefeitura de São Miguel do Oeste - SC - Advogado) Sobre o recurso de
Agravo de Instrumento, assinale a alternativa correta, de acordo com o Código de Processo
Civil (Lei no 13.105/2015).
A) O agravo de instrumento deve ser interposto no prazo de quinze dias úteis da data de
publicação da decisão agravada, e não é admitida a interposição via transmissão de dados tipo
fac-simile.
B) O recurso de agravo de instrumento desafia sentença e deve ser interposto no prazo de dez
dias úteis, contados da data de disponibilização da decisão.
C) O agravante poderá requerer a juntada, aos autos do processo de origem, de cópia da
petição do agravo de instrumento, do comprovante de sua interposição e da relação dos
documentos que instruíram o recurso.
D) Não cabe em nenhuma hipótese agravo de instrumento contra decisões interlocutórias
proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de
execução e no processo de inventário.
GABARITO: C
LETRA A- INCORRETA. Cabe agravo de instrumento com transmissão de dados por fac-símile.
Diz o art. 1017, §2º, do CPC:
Art. 1017 (...)
§2º No prazo do recurso, o agravo será interposto por: (...) IV - transmissão de
dados tipo fac-símile, nos termos da lei
.
LETRA B- INCORRETA. Não há que se falar em agravo de instrumento de sentença. Diz o art.
1009 do CPC:
“Art. 1.009. Da sentença cabe apelação."
LETRA C- CORRETA. Reproduz o art. 1018 do CPC.
LETRA D- INCORRETA. Ao contrário do exposto, cabe agravo de instrumento em face de
decisões na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de sentença, bem como no
processo de execução e inventário. Diz o art. 1015, parágrafo único, do CPC:
“Art. 1015 (...)
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/ameosc-2019-prefeitura-de-sao-miguel-do-oeste-sc-advogado
61
Parágrafo único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões
interlocutórias proferidas na fase de liquidação de sentença ou de cumprimento de
sentença, no processo de execução e no processo de inventário."
AGRAVO INTERNO
É o recurso cabível em face das decisões monocráticas do relator.
Julgamento monocrático pelo relator:
O art. 932 cuida dos poderes do relator de um recurso. É uma das vias para se tentar
aceleraro julgamento dos recursos e atender à celeridade processual. Evita-se que o
colegiado tenha que decidir tudo.
Art. 932. Incumbe ao relator:
I - dirigir e ordenar o processo no tribunal, inclusive em relação à produção de prova, bem como,
quando for o caso, homologar autocomposição das partes;
II - apreciar o pedido de tutela provisória nos recursos e nos processos de competência originária
do tribunal; possibilidade de concessão de tutela provisória em sede recursal (Ex: efeito suspensivo
ativo)
III - não conhecer de recurso inadmissível, prejudicado ou que não tenha impugnado
especificamente os fundamentos da decisão recorrida; Barbosa Moreira explica que “não conhecer
o recurso” é uma análise no plano da admissibilidade. O CPC15 deixa claro isso, mas havia
divergências e má aplicação pelos tribunais na vigência do CPC73, que misturavam admissibilidade
com mérito.
IV - negar provimento a recurso que for contrário a: (julgamento monocrático de mérito)
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de
competência;
Essas situações estão ligadas ao microssistema dos precedentes.
V - depois de facultada a apresentação de contrarrazões, dar provimento ao recurso se a decisão
recorrida for contrária a: (julgamento monocrático de mérito para acolher o pedido)
a) súmula do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça ou do próprio tribunal;
b) acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em
julgamento de recursos repetitivos;
c) entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de
competência;
- Também se verifica em situações ligadas ao microssistema dos precedentes.
- Neste caso, é indispensável facultar a apresentação de contrarrazões à parte recorrida.
No inciso IV, para negar provimento não precisa de contrarrazões, mas aqui, para dar
provimento, precisa. Isto porque temos uma decisão que é desfavorável ao recorrido, de
modo que aplica-se a ideia do art. 9º do CPC.
- Especialmente importante no agravo de instrumento, que é processado diretamente
no Tribunal. No CPC73, alguns tribunais davam provimento ao AI sem oportunizar as
contrarrazões, o que veio a ser questionando e chegou ao STJ, que entendeu que só
poderia haver provimento monocrático se ouvido o agravado. O CPC15, por sua vez, foi
expresso nesse sentido e acabou com a controvérsia.
VI - decidir o incidente de desconsideração da personalidade jurídica, quando este for instaurado
originariamente perante o tribunal;
VII - determinar a intimação do Ministério Público, quando for o caso;
VIII - exercer outras atribuições estabelecidas no regimento interno do tribunal.
62
Enquanto o Agravo de Instrumento só cabe de determinadas decisões interlocutórias (art.
1015), o Agravo Interno, ao menos pela literalidade do NCPC, cabe em face de qualquer
decisão proferida pelo RELATOR. (v. art. 1021.). Para a doutrina majoritária, o cabimento do
Agravo Interno não mais se limita às decisões monocráticas que negam seguimento ou dão
provimento ao recurso, conforme previa o CPC73.
Art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o
respectivo órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do
regimento interno do tribunal.
§ 1o Na petição de agravo interno, o recorrente impugnará especificadamente os
fundamentos da decisão agravada. (Ônus da impugnação especificada -> precisa
enfrentar a decisão monocrática, e não apenas copiar e colar o recurso anterior).
§ 2o O agravo será dirigido ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se
sobre o recurso no prazo de 15 (quinze) dias, ao final do qual, não havendo retratação,
o relator levá-lo-á a julgamento pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta.
§ 3o É vedado ao relator limitar-se à reprodução dos fundamentos da decisão
agravada para julgar improcedente o agravo interno. (Ônus da decisão com
fundamentação especificada -> o relator do agravo interno não pode simplesmente
copiar e colar a decisão agravada)
O NCPC ainda estabelece uma MULTA para o caso de agravo interno reconhecido como
manifestamente inadmissível ou improcedente, a ser fixada no valor de 1 a 5% do valor da
causa. Para tanto, exige-se que a votação pela inadmissão ou improcedência tenha sido
unânime.
§ 4o Quando o agravo interno for declarado manifestamente inadmissível ou
improcedente em votação unânime, o órgão colegiado, em decisão fundamentada,
condenará o agravante a pagar ao agravado multa fixada entre um e cinco por cento
do valor atualizado da causa.
O §5º do art. 1021 prevê ainda que o depósito da multa em juízo é condição para a
interposição de outros recursos. O NCPC, no entanto, excepciona a fazenda pública e o
beneficiário da justiça gratuita, que farão o recolhimento da multa ao final do processo.
§ 5o A interposição de qualquer outro recurso está condicionada ao depósito prévio do
valor da multa prevista no § 4o, à exceção da Fazenda Pública e do beneficiário de
gratuidade da justiça, que farão o pagamento ao final.
ATENÇÃO! De acordo com o STJ, a aplicação dessa multa não é automática, não se tratando de
mera decorrência lógica do desprovimento do agravo interno em votação unânime. A mera
improcedência, ainda que unânime, não significa que o recurso seja protelatório. Assim, a
condenação do agravante ao pagamento da aludida multa deve ser avaliada no caso concreto
e por decisão fundamentada. Sua aplicação pressupõe que o agravo interno mostre-se
manifestamente inadmissível ou que sua improcedência seja de tal forma evidente que a
simples interposição do recurso possa ser tida, de plano, como abusiva ou protelatória.
Confira-se:
63
“ A aplicação da multa prevista no § 4º do art. 1.021 do CPC/2015 não é automática,
não se tratando de mera decorrência lógica do desprovimento do agravo interno em
votação unânime. A condenação do agravante ao pagamento da aludida multa, a ser
analisada em cada caso concreto, em decisão fundamentada, pressupõe que o agravo
interno mostre-se manifestamente inadmissível ou que sua improcedência seja de tal
forma evidente que a simples interposição do recurso possa ser tida, de plano, como
abusiva ou protelatória, o que, contudo, não se verifica na hipótese.
(AgInt no AREsp 1411485/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 01/07/2019, DJe 06/08/2019)
Em precedente mais recente, o STJ esclareceu que essa multa deve ser revertida à parte
contrária:
A multa em caso de agravo interno declarado manifestamente inadmissível ou
improcedente em votação unânime é revertida em prol da parte contrária (art.
1.021, § 4º)
1. Cinge-se a controvérsia à destinação do valor da multa aplicada com amparo no art.
1.021, § 4º, do CPC/2015. Enquanto o recorrente defende que a quantia seria devida a
ele, o órgão colegiado entendeu que o montante da sanção processual seria destinada
ao Fundo de Aparelhamento do Poder Judiciário, por força do art. 97 do CPC/2015.
2. A regra insculpida no art. 97 do CPC/2015, segundo a qual os valores das sanções
devidas à União ou aos Estados poderão ser revertidos aos fundos de modernização do
Poder Judiciário têm aplicação restrita aos casos de ato atentatório à dignidade da
justiça, conforme dispõe o art. 77, § 3º, do CPC/2015, e aos casos de sanções impostas
aos serventuários, consoante o art. 96 do CPC/2015.
3. Portanto, quando ocorre a circunstância de ser aplicada multa processual cujo
destinatário seja a parte contrária, a esta deverá ser direcionado o montante da
sanção, ainda que corresponda justamente ao ente público ao qual pertence o órgão
do poder judiciário no qualtramita a ação.
4. Dessa forma, a multa processual deverá ser destinada ao recorrente e não ao Fundo
de Aparelhamento do Poder Judiciário.
5. Recurso especial provido.
(REsp 1846734/RS, Rel. Ministro OG FERNANDES, SEGUNDA TURMA, julgado em
11/02/2020, DJe 14/02/2020)
• ATENÇÃO -> Súmula 568 do STJ: “O relator, monocraticamente e no Superior Tribunal
de Justiça, poderá dar ou negar provimento ao recurso quando houver entendimento
dominante acerca do tema”
O CPC não prevê essa hipótese (entendimento dominante) de decisão monocrática do relator,
mas o STJ admite decisão proferida no seu âmbito com base apenas nisso, nos termos do art.
34 do Regimento Interno, já com a redação atualizada ao novo Código.
• Sustentação oral - agora é possível em agravo interno, mas somente em três
situações, previstas no art. 937, §3º.
64
Art. 937. Na sessão de julgamento, depois da exposição da causa pelo relator, o
presidente dará a palavra, sucessivamente, ao recorrente, ao recorrido e, nos casos de
sua intervenção, ao membro do Ministério Público, pelo prazo improrrogável de 15
(quinze) minutos para cada um, a fim de sustentarem suas razões, nas seguintes
hipóteses, nos termos da parte final do caput do art. 1.021 :
(...)
VI - na ação rescisória, no mandado de segurança e na reclamação;
§ 3º Nos processos de competência originária previstos no inciso VI, caberá
sustentação oral no agravo interno interposto contra decisão de relator que o
extinga.
QUESTÕES OBJETIVAS
1. (FUNDATEC - 2019 - Prefeitura de Coronel Bicaco - RS - Procurador) No Processo Civil a
decisão do relator que monocraticamente negar provimento a recurso que for contrário a
enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal poderá ser atacada por:
A) Reclamação constitucional.
B) Agravo retido.
C) Agravo de instrumento.
D) Agravo interno.
E) Recurso ordinário.
GABARITO: D
CPC, art. 1.021. Contra decisão proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo
órgão colegiado, observadas, quanto ao processamento, as regras do regimento interno do
tribunal.
2. (ACEP - 2018 - Prefeitura de Aracati - CE - Advogado) Considere a seguinte situação
hipotética. Em determinado processo, Afonso ingressou com recurso especial, alegando que o
acórdão recorrido violou lei federal e contrariou jurisprudência dada por outro tribunal. O
presidente do TJ, porém, em decisão monocrática, negou seguimento ao recurso,
considerando, simultaneamente, que o recurso carecia de pressuposto de admissibilidade
recursal e que o acórdão impugnado estava em conformidade com precedente em sede de
recurso repetitivo firmado pelo STJ. Nessa situação, de quais medidas recursais poderá Afonso
se valer para impugnar esta decisão monocrática?
A) Embargos de declaração e, após o julgamento deste, agravo interno.
B) Embargo de declaração e, após o julgamento deste, agravo em recurso especial.
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/fundatec-2019-prefeitura-de-coronel-bicaco-rs-procurador
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/acep-2018-prefeitura-de-aracati-ce-advogado
65
C) Agravo interno e, simultaneamente, agravo em recurso especial.
D) Mandado de segurança, pois não existe recurso previsto em lei para essa situação.
GABARITO: C
Alternativas A e B) Segundo a lei processual, "cabem embargos de declaração contra qualquer
decisão judicial para: I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição; II - suprir omissão de
ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; III -
corrigir erro material", e que é considerada "omissa a decisão que: I - deixe de se manifestar
sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de
competência aplicável ao caso sob julgamento; II - incorra em qualquer das condutas descritas
no art. 489, §1º" (art. 1.022, CPC/15). Os embargos de declaração estão regulamentados nos
arts. 1.022 a 1.026, do CPC/15. Não há no enunciado da questão menção a nenhuma
obscuridade, contradição, omissão ou erro material na decisão do relator que precise ser
sanado, motivo pelo qual não há que se falar no cabimento de embargos de declaração.
Afirmativas incorretas.
Alternativa C) É certo que o recurso adequado para impugnar a decisão monocrática proferida
pelo relator que negou seguimento ao recurso, a fim de submeter a questão ao julgamento do
colegiado, é o agravo interno, previsto no art. 1.021, caput, do CPC/15 ("Contra decisão
proferida pelo relator caberá agravo interno para o respectivo órgão colegiado, observadas,
quanto ao processamento, as regras do regimento interno do tribunal"). É certo, também, que
a decisão do presidente do Tribunal de Justiça que inadmite o recurso especial por ausência de
um pressuposto de admissibilidade é impugnável por meio de agravo em recurso especial,
conforme previsto no art. 1.042, do CPC/15 ("Cabe agravo contra decisão do presidente ou do
vice-presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial,
salvo quando fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral
ou em julgamento de recursos repetitivos"). Aliás, esta previsão também está contida no art.
1.030, do CPC/15, senão vejamos: "Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do
tribunal, o recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias,
findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal
recorrido, que deverá: I – negar seguimento: (...) b) a recurso extraordinário ou a recurso
especial interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do
Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no
regime de julgamento de recursos repetitivos. (...) V – realizar o juízo de admissibilidade e, se
positivo, remeter o feito ao Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça,
desde que: (...) §1º. Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V
caberá agravo ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042. §2º. Da decisão proferida com
fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos termos do art. 1.021". Em suma: A
decisão do relator que não admite o recurso especial por entender que lhe falta um
pressuposto de admissibilidade é impugnável por agravo em recurso especial (art. 1.042); mas
a decisão que nega seguimento a este mesmo recurso por entender que a decisão recorrida
está em conformidade com entendimento do tribunal superior fixado em julgamento de
recursos repetitivos é impugnável por agravo interno (art. 1.021). Afirmativa correta.
Alternativa D) É importante lembrar que o mandado de segurança tem natureza jurídica de
ação e não de recurso, não havendo que se falar em sua utilização como sucedâneo recursal
diante da previsibilidade legal de um recurso para impugnar a decisão monocrática do relator
66
e submeter a apreciação da questão ao colegiado: o agravo interno, previsto no art. 1.021, do
CPC/15. Afirmativa incorreta.
3. (MPE-SP - 2019 - MPE-SP - Promotor de Justiça Substituto) O agravo interno NÃO tem
cabimento contra a decisão que
A) deixar de conhecer recurso extraordinário quando a questão constitucional nele versada
não tiver repercussão geral.
B) negar seguimento a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão
que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos
repetitivos.
C) sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida
pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de
matéria constitucional ou infraconstitucional.
D) aplicar entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de
recursos repetitivos.E) resolver incidente desconsideração da personalidade jurídica.
GABARITO: A
Alternativa A) De fato, o art. 1.035, caput, do CPC/15, dispõe que a decisão do STF que não
conhecer o recurso extraordinário por ausência de repercussão geral é irrecorrível, senão
vejamos: "O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso
extraordinário quando a questão constitucional nele versada não tiver repercussão geral, nos
termos deste artigo". Note-se que não é o caso do recurso não ser admitido no tribunal de
origem (tribunal recorrido), hipótese que seria impugnável por meio de agravo interno com
fulcro no art. 1.030, I, "a", c/c §2º, CPC/15. A afirmativa faz referência ao não conhecimento do
recurso, pelo próprio STF, em juízo de admissibilidade, pelo não preenchimento do requisito
da repercussão geral. Afirmativa correta.
Alternativa B) Neste caso, o recurso de agravo interno teria cabimento por força do art. 1.030,
I, "b", c/c §2º, do CPC/15: "Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do
tribunal, o recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias,
findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal
recorrido, que deverá: I – negar seguimento: (...) b) a recurso extraordinário ou a recurso
especial interposto contra acórdão que esteja em conformidade com entendimento do
Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no
regime de julgamento de recursos repetitivos. (...) § 2º Da decisão proferida com fundamento
nos incisos I e III caberá agravo interno, nos termos do art. 1.021". Afirmativa incorreta.
Alternativa C) Neste caso, o recurso de agravo interno teria cabimento por força do art. 1.030,
III, c/c §2º, do CPC/15: "Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o
recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o
qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, que
deverá: (...) III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda
não decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça, conforme se
trate de matéria constitucional ou infraconstitucional. (...) § 2º Da decisão proferida com
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/mpe-sp-2019-mpe-sp-promotor-de-justica-substituto
67
fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno, nos termos do art.
1.021". Afirmativa incorreta.
Alternativa D) Neste caso, o recurso de agravo interno teria cabimento por força do art. 1.035,
§7º, do CPC/15, que assim dispõe: "Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 6º
ou que aplicar entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de
recursos repetitivos caberá agravo interno". Afirmativa incorreta.
Alternativa E) Neste caso, o recurso de agravo interno teria cabimento por força do art. 136,
parágrafo único, do CPC/15, que assim dispõe sobre o incidente de resolução de demandas
repetitivas: "Art. 136. Concluída a instrução, se necessária, o incidente será resolvido por
decisão interlocutória. Parágrafo único. Se a decisão for proferida pelo relator, cabe agravo
interno". Afirmativa incorreta.
EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
Conforme já estudado, os Embargos de Declaração possuem a finalidade de esclarecimento ou
de integração da decisão, e não de reforma ou anulação.
Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para:
I - esclarecer obscuridade ou eliminar contradição;
II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício
ou a requerimento;
III - corrigir erro material.
Os EDs são um recurso de fundamentação vinculada, pois deverá se fundamentar nos vícios
previstos em lei:
- Omissão (quando o judiciário deixa de se pronunciar sobre algo que deveria ter sido
enfrentado).
O art. 1022 do NCPC fala inclusive em omissão quanto às questões cognoscíveis de ofício, que
o judiciário teria o dever de enfrentar (Ex: manifestação sobre falta de condição da ação,
prescrição etc), mesmo sem a alegação das partes. Também pode ser uma omissão quanto a
um pedido de demanda (Ex: sentença citra petita)
O PU do art. 1022 também considera como omissa a decisão que deixa de se manifestar sobre
tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou incidentes de assunção de competência
aplicáveis ao caso (o juiz, ao decidir, tem o dever de enfrentar a questão, seja para aplicar o
precedente ou seja para rejeitá-lo), bem como a decisão que incorrer em alguma das condutas
previstas no §1º do 489 (que trouxe exigências para que qualquer decisão judicial seja
considerada fundamentada)
Art. 1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para:
II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual devia se pronunciar o juiz de ofício
ou a requerimento;
Parágrafo único. Considera-se omissa a decisão que:
I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em julgamento de casos repetitivos ou
em incidente de assunção de competência aplicável ao caso sob julgamento;
68
II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, § 1o.
- Obscuridade: quando a decisão judicial é ininteligível, incompreensível (Ex: dispositivo não
menciona de forma clara se é procedente ou improcedente o pedido).
- Contradição: quando há um conflito interno na decisão judicial (não é conflito com um outro
argumento deduzido no processo ou contradição com a legislação -> isso, em verdade, seria
um mero inconformismo). Ex: a fundamentação vai toda pela procedência e o juiz julga
improcedente.
O NCPC ainda traz uma 4ª hipótese de cabimento de EDs: para corrigir erro material.
É aquele erro não intencional e que não compromete o sentido da decisão (Ex: erro no nome
da parte ou no número do processo).
O erro material inclusive é uma matéria cognoscível de ofício, e até mesmo depois da sentença
(art. 494, I). Por isso, parte da doutrina defende que não haveria preclusão e poderia ser
suscitado até mesmo por mera petição, caso a parte não tenha embargado.
Art. 494. Publicada a sentença, o juiz só poderá alterá-la:
I - para corrigir-lhe, de ofício ou a requerimento da parte, inexatidões materiais ou
erros de cálculo;
ATENÇÃO! De acordo com recente julgado do STJ, é cabível a oposição de embargos de
declaração para que a decisão embargada se adeque à jurisprudência superveniente.
CONSTITUCIONAL, TRABALHISTA E PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO
NO AGRAVO INTERNO NA RECLAMAÇÃO. OFENSA AO QUE DECIDIDO POR ESTE
TRIBUNAL NO JULGAMENTO DA ADPF 324 E DO RE 958.252 (TEMA 725 DA
REPERCUSSÃO GERAL). EMBARGOS ACOLHIDOS, COM EFEITOS INFRINGENTES.
AGRAVO INTERNO PROVIDO. 1. A controvérsia, nestes autos, é comum tanto ao
decidido no julgamento da ADPF 324, Rel. Min. ROBERTO BARROSO, quanto ao objeto
de análise do Tema 725 (RE 958.252, Rel. Min. LUIZ FUX), em que esta CORTE fixou tese
no sentido de que: É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do
trabalho entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social das
empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da empresa contratante.
2. Por esse motivo, apesar da decisão impugnada ter sido proferida antes da conclusão
do julgamento da ADPF 324 (Rel. Min. ROBERTO BARROSO), o processo em que
proferida tal decisão encontra-se sobrestado no Tribunal Superior do Trabalho com
base no Tema 725, a sugerir, consequentemente, que a solução do presente caso deve
observância às diretrizes deste TRIBUNAL quanto ao ponto. 3. Embargos de declaração
acolhidos, com efeitos infringentes, para dar provimento ao agravo interno.
(Rcl 15724 AgR-ED, Relator(a): ROSA WEBER, Relator(a) p/ Acórdão: ALEXANDRE DE
MORAES, Primeira Turma, julgado em 05/05/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-151
DIVULG 17-06-2020 PUBLIC 18-06-2020)69
Prazos nos EDs:
5 dias (úteis) para a oposição, como regra. No caso de litisconsortes ou de pessoa ou órgão
com prerrogativa de prazo (a exemplo da fazenda pública e do MP), o prazo é contado em
dobro.
Art. 1.023. Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida
ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam
a preparo.
§ 1o Aplica-se aos embargos de declaração o art. 229.
No caso de embargos com efeitos modificativos, a parte contrária deve ser intimada para
manifestar-se em 5 dias.
§ 2o O juiz intimará o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco)
dias, sobre os embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a
modificação da decisão embargada.
Nos tribunais, os EDs opostos em face de decisão do relator poderão ser recebidos como
Agravo Interno. Para tanto, deve o recorrente ser intimado para complementar as razões
recursais no prazo de 5 dias.
Art. 1024, § 3o O órgão julgador conhecerá dos embargos de declaração como agravo
interno se entender ser este o recurso cabível, desde que determine previamente a
intimação do recorrente para, no prazo de 5 (cinco) dias, complementar as razões
recursais, de modo a ajustá-las às exigências do art. 1.021, § 1o.
1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, em atenção aos princípios da
fungibilidade recursal e da instrumentalidade das formas, admite a conversão de
embargos de declaração em agravo interno quando a pretensão declaratória denota
nítido pleito de reforma por meio do reexame de questão já decidida.
(EDcl no RE nos EDcl no AgInt no AREsp 926.632/PB, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE
ASSIS MOURA, CORTE ESPECIAL, julgado em 12/05/2020, DJe 15/05/2020)
Outro prazo importante e que pode gerar confusão é o do art. 1024, §4º, de 15 dias, para que
o embargado complemente as razões de recurso já interposto, no caso de acolhimento dos
EDs com efeitos modificativos. Como vimos, trata-se de uma exceção ao princípio da
complementaridade, o qual estabelece que as razões devem ser apresentadas quando da
interposição do recurso.
§ 4o Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da decisão
embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão
originária tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites
da modificação, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da decisão dos
embargos de declaração.
70
Por fim, destaque-se que se os EDs forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do
julgamento anterior, não há necessidade de ratificação do recurso outrora interposto, de
modo que houve a SUPERAÇÃO DA SÚM. 418 STJ.15
Art. 1024.
§ 5o Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do
julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do
julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado
independentemente de ratificação.
OBSERVAÇÃO: Agora, nos Juizados Especiais da Lei 9099/95, os ED também interrompem o
prazo para o recurso (arts. 1026 e art. 1066).
Art. 1.026. Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o
prazo para a interposição de recurso.
Efeito suspensivo nos EDs:
Os EDs não possuem efeito suspensivo, mas o juiz poderá suspender a eficácia da decisão se
demonstrada a probabilidade de provimento do recurso ou, sendo relevante a
fundamentação, se houver risco de dano grave ou de difícil reparação (efeito suspensivo “ope
judicis”).
§ 1o A eficácia da decisão monocrática ou colegiada poderá ser suspensa pelo
respectivo juiz ou relator se demonstrada a probabilidade de provimento do
recurso ou, sendo relevante a fundamentação, se houver risco de dano grave ou
de difícil reparação.
Os embargos possuem efeito devolutivo?
Não, pois não transferem a matéria para que outro órgão aprecie. Trazem a matéria
novamente ao mesmo órgão prolator da decisão: o efeito é apenas o regressivo.
Parcela da doutrina, com isso, sustenta a possibilidade da reformatio in pejus nos EDs, que está
fundado no efeito devolutivo (Fredie Didier). Entao, os EDs poderiam modificar a decisão para
pior.
Multa por EDs protelatórios:
Para coibir o exercício abusivo dos EDs, o art. 1026, §2º do NCPC estabelece que o juiz
condenará o embargante ao pagamento de multa de até 2% em caso de embargos
protelatórios.
15 Em sessão do dia 01/07, o STJ cancelou a sua Súmula 418, a qual dizia que seria "inadmissível o recurso especial
interposto antes da publicação do acórdão dos embargos de declaração, sem posterior ratificação", texto que havia
se tornado prejudicado com o NCPC. Na mesma oportunidade, o tribunal aprovou a recentíssima Súmula 579, com
o seguinte texto: "Não é necessário ratificar o recurso especial interposto na pendência do julgamento dos
embargos de declaração quando inalterado o julgamento anterior”.
71
§ 2o Quando manifestamente protelatórios os embargos de declaração, o juiz ou o
tribunal, em decisão fundamentada, condenará o embargante a pagar ao embargado
multa não excedente a dois por cento sobre o valor atualizado da causa.
O recolhimento dessa multa, diferentemente do que ocorre com o agravo interno, não é
considerado condição para interposição de outros recursos. Apenas na REITERAÇÃO dos
embargos protelatórios é que essa multa será majorada até 10% e seu recolhimento passará a
ser considerado condição (art. 1026, §3º).
§ 3o Na reiteração de embargos de declaração manifestamente protelatórios, a multa será
elevada a até dez por cento sobre o valor atualizado da causa, e a interposição de
qualquer recurso ficará condicionada ao depósito prévio do valor da multa, à exceção da
Fazenda Pública e do beneficiário de gratuidade da justiça, que a recolherão ao final.(*)
(*) Contrariando entendimento anterior do STJ, agora a Fazenda não está condicionada ao
pagamento da multa nesse caso; a multa é devida sim, mas não impede interposição de
recurso.
§ 4o Não serão admitidos novos embargos de declaração se os 2 (dois) anteriores
houverem sido considerados protelatórios. – O 3º ED protelatório será inadmitido.
QUESTÕES OBJETIVAS
1. (AOCP - 2022 - Prefeitura de Novo Hamburgo - RS - Procurador) Sobre o recurso de
embargos de declaração, assinale a alternativa INCORRETA.
A) Considera-se omissa a decisão que deixe de se manifestar sobre tese firmada em
julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao
caso sob julgamento.
B) Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz, com
indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a preparo.
C) Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da decisão
embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão originária tem
o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modificação, no prazo
de 5 (cinco) dias, contado da intimação da decisão dos embargos de declaração.
D) O juiz intimará o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias,
sobre os embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a modificação da decisão
embargada.
E) Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a
interposição de recurso.
GABARITO: C
a) Considera-se omissa a decisão que deixe de se manifestar sobre tese firmada em
julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao
caso sob julgamento.
Correto. Aplicação do art. 1.022, parágrafo único, I, CPC: Art. 1.022, Parágrafo único.
Considera-se omissa a decisão que: I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em
julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao caso
sob julgamento;
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/aocp-2022-prefeitura-de-novo-hamburgo-rs-procurador72
b) Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz, com
indicação do erro, obscuridade, contradição ou omissão, e não se sujeitam a preparo.
Correto. Aplicação do art. 1.023, caput, CPC: Art. 1.023. Os embargos serão opostos, no prazo
de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao juiz, com indicação do erro, obscuridade, contradição
ou omissão, e não se sujeitam a preparo.
c) Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique modificação da decisão
embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra a decisão originária
tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites da modificação, no
prazo de 5 (cinco) dias, contado da intimação da decisão dos embargos de declaração.
Errado e, portanto, gabarito da questão. O prazo é de 15 dias e não de 05. Inteligência do art.
1.024, § 4º, CPC: Art. 1.024, § 4º Caso o acolhimento dos embargos de declaração implique
modificação da decisão embargada, o embargado que já tiver interposto outro recurso contra
a decisão originária tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos exatos limites
da modificação, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da decisão dos embargos
de declaração.
d) O juiz intimará o embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias,
sobre os embargos opostos, caso seu eventual acolhimento implique a modificação da decisão
embargada.
Correto. Aplicação do art. 1.023, § 2º, CPC: Art. 1.023. § 2º O juiz intimará o embargado para,
querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sobre os embargos opostos, caso seu
eventual acolhimento implique a modificação da decisão embargada.
e) Os embargos de declaração não possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a
interposição de recurso.
Correto. Aplicação do art. 1.026, caput, CPC: Art. 1.026. Os embargos de declaração não
possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a interposição de recurso.
2. (VUNESP - 2019 - Prefeitura de Itapevi - SP - Analista Jurídico - Procurador Municipal) No
que diz respeito ao recurso de embargos de declaração, assinale a alternativa correta.
A) Podem ser aviados para suprir omissão, contra sentença que deixe de se manifestar sobre
tese firmada em julgamento de casos repetitivos aplicável a lide por ela resolvida.
B) São incabíveis para corrigir erro material.
C) Não serão admitidos novos embargos de declaração se o anterior houver sido considerado
protelatório.
D) Se o seu acolhimento implicar em modificação da decisão embargada, o embargado que já
tiver interposto outro recurso contra a decisão originária tem o direito de alterar suas razões,
no prazo de 10 (dez) dias, contado da intimação do seu julgamento.
E) Possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a interposição de outro recurso
cabível contra a decisão embargada.
GABARITO: A
Alternativa A) É o que dispõe expressamente o art. 1.022, do CPC/15, senão vejamos: "Art.
1.022. Cabem embargos de declaração contra qualquer decisão judicial para: I - esclarecer
obscuridade ou eliminar contradição; II - suprir omissão de ponto ou questão sobre o qual
devia se pronunciar o juiz de ofício ou a requerimento; III - corrigir erro material. Parágrafo
único. Considera-se omissa a decisão que: I - deixe de se manifestar sobre tese firmada em
julgamento de casos repetitivos ou em incidente de assunção de competência aplicável ao
caso sob julgamento; II - incorra em qualquer das condutas descritas no art. 489, §1º".
Afirmativa correta.
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/vunesp-2019-prefeitura-de-itapevi-sp-analista-juridico-procurador-municipal
73
Alternativa B) Ao contrário do que se afirma, os embargos de declaração podem ter por objeto
a correção de erro material (art. 1.022, III, CPC/15). Afirmativa incorreta.
Alternativa C) A respeito, dispõe o art. 1.026, §4º, do CPC/15, que "não serão admitidos novos
embargos de declaração se os 2 (dois) anteriores houverem sido considerados protelatórios".
Afirmativa incorreta.
Alternativa D) O prazo para a complementação das razões será de 15 (quinze) dias - e não de
dez, senão vejamos: "Art. 1.024, §4º, CPC/15. Caso o acolhimento dos embargos de declaração
implique modificação da decisão embargada, o embargado que já tiver interposto outro
recurso contra a decisão originária tem o direito de complementar ou alterar suas razões, nos
exatos limites da modificação, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da intimação da decisão
dos embargos de declaração". Afirmativa incorreta.
Alternativa E) Dispõe o art. 1.026, caput, do CPC/15, que "os embargos de declaração não
possuem efeito suspensivo e interrompem o prazo para a interposição de recurso". Afirmativa
incorreta.
3. (ADM&TEC - 2018 - Prefeitura de Pão de Açúcar - AL - Procurador) Leia as afirmativas a
seguir: I. Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a conclusão do
julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da publicação do julgamento
dos embargos de declaração será processado e julgado independentemente de
ratificação. II. Contra as decisões interlocutórias que versarem sobre exclusão de litisconsorte
cabe agravo de instrumento. III. Para os fins da Lei 8.666, de 1993, consideram-se serviços
técnicos profissionais especializados os trabalhos relativos à prestação de serviços de
manutenção de aparelhos de ar condicionado, entre outros. IV. À luz da Lei 8.666, de 1993, a
confecção de fardamento e crachás para os servidores públicos é considerado um serviço
técnico profissional especializado.
Marque a alternativa CORRETA:
A) Nenhuma afirmativa está correta.
B) Apenas uma afirmativa está correta.
C) Apenas duas afirmativas estão corretas.
D) Apenas três afirmativas estão corretas
E) Todas as afirmativas estão corretas.
GABARITO: C
A assertiva I está CORRETA. Reproduz o art. 1024, §5º, do CPC:
Art. 1024, CPC (...)
§ 5º Se os embargos de declaração forem rejeitados ou não alterarem a
conclusão do julgamento anterior, o recurso interposto pela outra parte antes da
publicação do julgamento dos embargos de declaração será processado e julgado
independentemente de ratificação.
A assertiva II está CORRETA. Reproduz o art. 1015, VII, do CPC:
Art. 1.015, CPC - Cabe agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias
que versarem sobre:
(...)VII - exclusão de litisconsorte.
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/adm-tec-2018-prefeitura-de-pao-de-acucar-al-procurador
74
A assertiva III está INCORRETA. A atividade não consta na listagem do art. 13 da Lei 8666/93:
Art. 13. Para os fins desta Lei, consideram-se serviços técnicos profissionais
especializados os trabalhos relativos a:
I - estudos técnicos, planejamentos e projetos básicos ou executivos;
II - pareceres, perícias e avaliações em geral;
III - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras;
III - assessorias ou consultorias técnicas e auditorias financeiras ou tributárias;
IV - fiscalização, supervisão ou gerenciamento de obras ou serviços;
V - patrocínio ou defesa de causas judiciais ou administrativas;
VI - treinamento e aperfeiçoamento de pessoal;
VII - restauração de obras de arte e bens de valor histórico.
A assertiva IV também está INCORRETA. Também não é atividade listada no art. 13 da Lei
8666/93. Duas assertivas, portanto, estão corretas.
RECURSO ESPECIAL E EXTRAORDINÁRIO
De acordo com Barbosa Moreira, seriam espécie do gênero “Recursos Extraordinários”, que
buscam a análise de direito objetivo, e não rever a justiça da decisão diretamente. O objetivo
desses recursos é a análise de ofensa a normas jurídicas pela decisão recorrida.
Assim, teríamos duas espécies* de “Recursos Extraordinários”:
- Recurso Especial: buscando verificar eventual ofensa à lei federal.
- Recurso Extraordinário: proteção à Constituição.
*Alguns autores citamtambém os embargos de divergência.
Esses recursos possuem algumas características comuns:
- Efeito devolutivo RESTRITO: tais recursos possuem efeito devolutivo limitado à análise de
questões de direito.
- Vedação ao reexame de matéria fática. Nesse sentido, temos as súmulas 7 do STJ e 279 do
STF, entendendo que não cabe o reexame de provas ou de fatos no âmbito desses recursos.
OBSERVAÇÃO: O STJ, em sede de recurso especial, admite exceções, em que, para o tribunal,
não seria reexame de matéria fática, mas sim controle da qualificação jurídica dos fatos, como
forma de proteção à razoabilidade. São os casos de:
. indenizações por dano moral exorbitantes ou irrisórias.
75
. multas coercitivas para o cumprimento de obrigação (astreintes), que poderiam ser reduzidas
em sede de Resp, quando muito elevadas.
. honorários advocatícios em valores exorbitantes.
Seriam questões de política judiciária, para evitar a indústria do dano moral ou o
enriquecimento sem causa.
OBSERVAÇÃO²: O simples fato da multa ser elevada não garante que a mesma seja reduzida.
Recentemente, em julgado do final de maio de 2020, o STJ confirmou multa de R$ 3,1 milhões
por descumprimento de decisão de R$ 20 mil16, afirmando que não é possível admitir que em
toda e qualquer hipótese haja a limitação do valor de multa por descumprimento de decisão
judicial, sob pena de conferir ao condenado livre arbítrio para decidir o que melhor atende a
seus interesses. O destinatário da ordem judicial deve ter em mente a certeza de que sua
desobediência trará consequências mais gravosas do que o cumprimento.
"O destinatário da ordem judicial deve ter em mente a certeza de que a desobediência
trará consequências mais gravosas do que o cumprimento, e não ter a expectativa de
limitação da multa, sob pena de tornar inóquo o instituto processual e violar o direito
fundamental à tutela jurisdicional. Estaríamos aceitando a tese do descumprimento
eficiente da ordem. Bastaria fazer as contas para deixar de cumprir [uma decisão]”
REsp 1.840.693
OBSERVAÇÃO³: Esta vedação de reexame de provas não impede eventual recurso versando
sobre algum dispositivo que trate de direito probatório, pois isto não se trata de reexame de
provas (Exemplo: aplicabilidade de uma regra procedimento de produção de provas).
- Vedação à interpretação de cláusula contratual (súmulas 5 do STJ e 454 do STF).
Nestes casos, a ofensa à Constituição ou a lei seria meramente indireta.
- Necessidade de esgotamento das instâncias ordinárias para a sua interposição.
Essa característica decorre da excepcionalidade desses recursos, que devem ser a última
hipótese para o jurisdicionado.
Essa característica é retirada do art. 102, III e 105, III da CF, que colocam o cabimento do Rext e
Resp contra decisão de única ou última instância.
Desse modo, da decisão monocrática de relator, como cabe agravo interno, não será cabível
recurso extraordinário ou especial.
Sobre o tema, confira-se a antiga Súmula 281 do STF, que ainda permanece aplicável:
Súmula 281 - É inadmissível o recurso extraordinário, quando couber na justiça de
origem, recurso ordinário da decisão impugnada.
“Consoante asseverado na decisão agravada, a jurisprudência desta Corte é uníssona
no sentido de não se admitir o recurso extraordinário quando ainda couber, na
instância ordinária, recurso da decisão impugnada. Com efeito, observo que a Turma
Recursal manteve a sentença de improcedência. A parte recorrente, por sua vez,
interpôs, concomitantemente, incidente de uniformização de jurisprudência para a
Turma Nacional de Uniformização e Recurso Extraordinário para o Supremo Tribunal
Federal, tendo sido ambos inadmitidos na origem. Na espécie, não se estava diante de
decisão de única ou última instância a viabilizar o cabimento do recurso extraordinário,
pois pendente o julgamento do incidente de uniformização. Isso porque, diante do
acórdão da Turma Recursal, a parte recorrente ainda poderia interpor, como de fato o
16 https://www.conjur.com.br/2020-mai-26/stj-confirma-multa-milhoes-nao-pagamento-20-mil
https://www.conjur.com.br/2020-mai-26/stj-confirma-multa-milhoes-nao-pagamento-20-mil
76
fez, o incidente de uniformização de jurisprudência para a Turma Nacional de
Uniformização e aguardar a conclusão do julgamento do incidente, para, em seguida,
interpor o apelo extremo.” [ARE 843.300 AgR, rel. min. Ricardo Lewandowski, P, j. 19-3-
2015, DJE 69 de 14-4-2015.]
- Necessidade de interposição simultânea dos recursos se o acórdão recorrido tiver
fundamento suficiente tanto em lei federal como na Constituição. (Súmula 126 do STJ)
Seria uma exceção à unirrecorribilidade dos recursos. Se apenas um dos recursos for
manejado, esse recurso será insuficiente para atacar a decisão, pois o outro fundamento, por
si só, tem o condão de levar à manutenção ou reforma da decisão.
SÚMULA 126: É inadmissível Recurso Especial, quando o acórdão recorrido assenta em
fundamentos constitucional e infraconstitucional, qualquer deles suficiente, por si só,
para mantê-lo, e a parte vencida não manifesta Recurso Extraordinário.
Nesse caso, o primeiro recurso a ser analisado, como regra, é o especial, conforme art. 1031.
Art. 1.031. Na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso
especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça.
§ 1o Concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão remetidos ao Supremo
Tribunal Federal para apreciação do recurso extraordinário, se este não estiver
prejudicado.
Contudo, se o relator do recurso especial considerar que o recurso extraordinário é prejudicial
àquele, poderá sobrestar o julgamento do Resp e, em decisão irrecorrível remeter os autos ao
STF. Diante disto, o relator do Rext poderá negar que existe tal prejudicialidade (também em
decisão irrecorrível), devolvendo os autos ao STJ para julgamento do recurso especial. Veja
que a última palavra sobre a existência de prejudicialidade ou não é do STF, por meio do
relator do Rext.
§ 2o Se o relator do recurso especial considerar prejudicial o recurso extraordinário, em
decisão irrecorrível, sobrestará o julgamento e remeterá os autos ao Supremo Tribunal
Federal.
§ 3o Na hipótese do § 2o, se o relator do recurso extraordinário, em decisão irrecorrível,
rejeitar a prejudicialidade, devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça para o
julgamento do recurso especial.
Indo além, os arts. 1032 e 1033 trazem uma espécie de fungibilidade caso a parte interponha o
recurso incorreto. No entanto, a fim de evitar que tal fungibilidade se torne inócua diante de
uma futura inadmissão, o recorrente deve ser intimado para adequar o recurso. Assim, por
exemplo, se o relator do Resp entender que é caso de Rext, deve conceder prazo à parte para
que demonstre a repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional.
Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o recurso
especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo de 15 (quinze) dias
para que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste
sobre a questão constitucional.
Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator remeterá o
recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de admissibilidade, poderá
devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça.
Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à
Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da
77
interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de Justiça
para julgamento como recurso especial.
- Vedação à análise de violação a direito local:
STF, Súmula 280 Por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário.
“Não cabe recurso extraordinário se houver a necessidade de se analisar normas
infraconstitucionais para se chegar à conclusãocontrária à adotada pelo tribunal de
origem.”
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. ICMS.
SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. TRANSFERÊNCIA DO CRÉDITO. REINTERPRETAÇÃO DA
LEGISLAÇÃO INFRACONSTITUCIONAL LOCAL. IMPOSSIBILIDADE. INCIDÊNCIA DA
SÚMULA 280/STF. AGRAVO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. I – Para chegar-se à
conclusão contrária à adotada pelo Tribunal a quo, necessário seria a análise de
normas infraconstitucionais locais, o que inviabiliza o extraordinário, a teor da Súmula
280/STF. Precedentes. II – Agravo regimental a que se nega provimento.
(ARE 1184956 AgR, Relator(a): RICARDO LEWANDOWSKI, Segunda Turma, julgado em
22/09/2020, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-259 DIVULG 27-10-2020 PUBLIC 28-10-2020)
Prequestionamento:
Não possui previsão expressa em lei, sendo uma construção feita pela jurisprudência dos
tribunais superiores.
Para a doutrina majoritária (Ex: Marinoni), o prequestionamento consiste na necessidade de a
parte ventilar, nas instâncias ordinárias, a matéria que será objeto de recurso especial ou
extraordinário. É um ônus da parte trazer para discussão na instância ordinária aquela questão
de lei federal ou norma constitucional que será objeto do recurso futuro.
A jurisprudência clássica do STF e do STJ, no entanto, entende que o prequestionamento
consiste na exigência de que a questão objeto do recurso especial ou extraordinário tenha sido
decidida nas instâncias ordinárias. O fundamento seria a redação da própria Constituição, que
fala em “causas DECIDIDAS em única ou última instância”.
Para a doutrina, então, o prequestionamento seria efetivado por uma conduta da PARTE.
Porém, para os tribunais superiores, o presquestionamento dependeria de uma conduta do
JUDICIÁRIO.
Diante desse raciocínio dos tribunais superiores, temos 2 espécies de prequestionamento que
são admitidas pelos tribunais superiores:
- Prequestionamento explícito: é aquele que é realizado através da manifestação do tribunal
recorrido sobre a questão objeto do recurso excepcional, com expressa menção ao dispositivo
legal ou constitucional supostamente violado.
Ex: acórdão do TJ trata, dentre outras coisas, da taxa de juros aplicável à condenação da
fazenda. O acordão menciona que deve ser aplicada a taxa prevista no Código Civil, pois a taxa
de juros prevista no art. 1º-F da L9494 seria inconstitucional. Nesse caso, estaria cumprido o
prequestionamento explícito.
78
- Prequestionamento implícito: é aquele que se considera realizado pela manifestação do
tribunal recorrido na decisão sobre a questão objeto do recurso excepcional, mas sem menção
ao dispositivo legal ou constitucional supostamente violado.
Ex: no caso acima, o acordão recorrido apenas fala que seria inconstitucional aplicar outra taxa
prevista em lei especial, que não a do Código Civil. Nesse caso, teríamos havido um
prequestionamento implícito.
O STF, em alguns precedentes, ainda admite uma 3ª espécie de prequestionamento, que seria
o prequestionamento FICTO, que se considera realizado pela mera oposição de embargos de
declaração pelo jurisdicionado.
O STJ, no entanto, não aceitava o prequestionamento ficto, à luz do CPC/73. Assim, para o STJ,
a parte precisaria interpor RESP alegando violação ao antigo art. 535 do CPC/73, buscando a
anulação do acórdão dos embargos. Tal raciocínio sempre foi criticável, pois ofendia a duração
razoável do processo e a economia processual.
O Novo CPC, no entanto, no art. 1025, consagra o prequestionamento ficto, considerando
incluídos no acordão os elementos que o embargante suscitou para fins de
prequestionamento, ainda que os EDs venham a ser inadmitidos ou rejeitados.
Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o embargante suscitou, para
fins de pré-questionamento, ainda que os embargos de declaração sejam inadmitidos ou
rejeitados, caso o tribunal superior considere existentes erro, omissão, contradição ou
obscuridade.
Qual a natureza jurídica do prequestionamento?
Para uma primeira corrente, majoritária, o prequestionamento é exigido como um requisito
ESPECÍFICO de admissibilidade dos recursos.
No entanto, José Miguel Garcia Medina defende que o prequestionamento se insere no
cabimento dos recursos extraordinários, de modo que estes só serão cabíveis se atenderem ao
prequestionamento.
Adotando uma corrente ou outra, o prequestionamento está no âmbito da ADMISSIBILIDADE
desses recursos.
ATENÇÃO! Julgado recente do STJ: consideram-se prequestionados o(s) fundamento(s) das
razões de apelação desprezados no acórdão que deu integral provimento ao recurso? Em
outras palavras, a questão levantada nas instâncias ordinárias, e não examinada, mas cuja
pretensão foi acolhida por outro fundamento, deve ser considerada como prequestionada
quando trazidas em sede de contrarrazões?
De acordo com recente julgado da Corte Especial do STJ, SIM. O entendimento correto é o que
considera toda a matéria devolvida à segunda instância apreciada quando provido o recurso
por apenas um dos fundamentos expostos pela parte, a qual não dispõe de interesse recursal
para a oposição de embargos declaratórios.
De acordo com o STJ, a questão precisa ser analisada sob a perspectiva da sucumbência e da
possibilidade de melhora da situação jurídica do recorrente, critérios de identificação do
interesse recursal. Não se trata de temática afeta a esta ou aquela legislação processual
(CPC/73 ou CPC/15), mas de questão antecedente, verdadeiro fundamento teórico da
disciplina recursal. Só quem perde, algo ou tudo, tem interesse em impugnar a decisão, desde
que possa obter, pelo recurso, melhora na sua situação jurídica
79
Assim, se consideram prequestionados os fundamentos adotados nas razões de apelação e
desprezados no julgamento do respectivo recurso, desde que, interposto recurso especial,
sejam reiterados nas contrarrazões da parte vencedora. (EAREsp 227.767/RS, Rel. Ministro
FRANCISCO FALCÃO, CORTE ESPECIAL, julgado em 17/06/2020, DJe 29/06/2020)
Veja o exemplo dado pelo Marcinho do Dizerodireito17, para esclarecer:
João ajuizou ação contra a União. Na sentença, o juiz acolheu o argumento da União no
sentido de que teria havido prescrição. Em decorrência disso, extinguiu o processo com
resolução do mérito (art. 487, II, do CPC).
João interpôs apelação e, nas razões de apelação, invocou três fundamentos: 1) o prazo
prescricional utilizado pelo magistrado não seria o correto (o dispositivo legal seria outro); 2) o
requerimento administrativo formulado teria suspendido o prazo prescricional; 3) a prescrição
atingiria apenas as prestações pretéritas, mas não o fundo de direito.
O TRF deu provimento ao recurso de apelação, acolhendo o argumento 1 e desprezando os
demais. Logo, o TRF acolheu o pedido de João para dar prosseguimento à ação, concordando
com o argumento.
Como o argumento 1 já era suficiente, o TRF não falou nada sobre as teses 2 e 3. E como João
conseguiu o que queria, ele não recorreu. A União, por sua vez, opôs embargos de declaração
contra o acórdão, que foram parcialmente providos apenas para fins de prequestionamento.
Depois dos embargos, a União interpôs recurso especial questionando apenas o argumento 1.
Nas contrarrazões ao recurso especial, João reiterou que não houve prescrição com base nos
argumentos 1, 2 e 3 já expostos.
Além do argumento 1, o STJ poderá examinar também os argumentos 2 e 3? Os argumentos 2
e 3 podem ser considerados prequestionados? O STJ poderá manter o prosseguimento da
ação, mas com fundamento diferente do TRF, ou seja, acolhendo os argumentos 2 ou 3?
SIM. Consideram-se prequestionados os fundamentos adotados nas razões de apelação e
desprezados no julgamento do respectivo recurso, desde que, interposto recurso especial,
sejam reiterados nas contrarrazões da parte vencedora. STJ. Corte Especial. EAREsp 227.767-
RS, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 17/06/2020 (Info 674).
Repercussão Geral:
É a exigênciade que o recurso extraordinário supere os interesses puramente subjetivos de
recorrente e recorrido. Como o recurso é excepcional, deve transcender ao interesse das
partes.
A EC45 trouxe essa exigência no art. 103, §3º a fim de tentar combater a “crise dos tribunais
superiores” (incapacidade de os tribunais superiores darem uma solução para os recursos que
chegam até eles em tempo hábil).
CRFB, Art. 103, § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão
geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal
examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de
seus membros.
No NCPC, está regulamentada a partir do art. 1035. Neste dispositivo são previstas 2
“espécies” de repercussão geral:
17 https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2020/10/info-674-stj.pdf
https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2020/10/info-674-stj.pdf
80
- Repercussão geral necessária: é aquela que independe de juízo de valor por parte do STF (art.
1035, §3º). Presente uma das hipóteses listadas em lei, o STF terá que admiti-la, como se fosse
um repercussão geral presumida.
§ 3o Haverá repercussão geral sempre que o recurso impugnar acórdão que:
I - contrarie súmula ou jurisprudência dominante do Supremo Tribunal Federal;
II - tenha sido proferido em julgamento de casos repetitivos;
II – (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
III - tenha reconhecido a inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal, nos termos do art. 97
da Constituição Federal.
Com a revogação do inciso II, temos hoje 2 casos de repercussão geral presumida: (I)
contrariedade à súmula ou jurisprudência dominante do STF; (II) reconhecimento de
inconstitucionalidade de tratado ou de lei federal pela decisão recorrida.
- Repercussão geral por relevância e transcendência (art. 1035, §1º): se dá em virtude de haver
no recurso questão relevante do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico.
Ademais, deve haver a chamada transcendência (o recurso deve ultrapassar o interesse das
partes). Marinoni traz 2 espécies de transcendência: quantitativa e qualitativa; na primeira, a
questão ultrapassa os interesses subjetivos da causa por ter um EFEITO MULTIPLICADOR sobre
outras demandas (Ex: demandas de massa, como demandas previdenciárias ou de servidores).
Já na transcendência qualitativa, a questão ultrapassa os interesses subjetivos por possuir uma
fundamentalidade para a coletividade.
A repercussão geral é um requisito de admissibilidade que deve ser analisado exclusivamente
pelo STF (art. 102, §3° -> a repercussão geral só pode ser negada por decisão de 2/3 dos
membros do STF).
No entanto, o art. 1035, §2º prevê a necessidade de o recorrente demonstrar o requisito da
repercussão geral, de modo que os tribunais locais podem fazer um controle formal, podendo
inadmitir o recurso pela falta de demonstração do requisito. Eles não podem avaliar se a
repercussão geral existe ou não, mas apenas se a parte cumpriu a exigência de demonstração.
A decisão sobre a repercussão geral terá eficácia para outros recursos extraordinários que
tratem da mesma questão (eficácia panprocessual). Nesse sentido, temos o art. 1035, §8º, que
prevê a inadmissão dos recursos extraordinários que tratarem da mesma questão, quando
negada a existência de repercussão geral.
§ 8o Negada a repercussão geral, o presidente ou o vice-presidente do tribunal de
origem negará seguimento aos recursos extraordinários sobrestados na origem que
versem sobre matéria idêntica.
Em virtude dessa importância, é possível a intervenção de amici curiae (art. 1035, §4º do
NCPC).
§ 4o O relator poderá admitir, na análise da repercussão geral, a manifestação de
terceiros, subscrita por procurador habilitado, nos termos do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal.
De acordo com o NCPC (art. 1035, §5º), o relator do Rext no STF, reconhecendo a repercussão
geral, irá determinar a suspensão de todos os processos individuais e coletivos pendentes
sobre a matéria que tramitem no país. É uma inovação, pois antes a existência de Rext ou Resp
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art4
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art97
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm#art97
81
repetitivos só levaria à suspensão de outros RECURSOS que tratavam da matéria, conforme
literalidade do CPC/73. A ideia é tentar trazer uma cultura de precedentes, conferindo
igualdade de tratamento para causas que tratem da mesma questão de direito.
§ 5o Reconhecida a repercussão geral, o relator no Supremo Tribunal Federal
determinará a suspensão do processamento de todos os processos pendentes,
individuais ou coletivos, que versem sobre a questão e tramitem no território nacional.
Essa suspensão de processos é obrigatória ou é faculdade do relator ?
Existem 2 correntes sobre o tema:
1ª C: trata-se de discricionariedade do relator do processo paradigma (Leonardo da Cunha e
Didier)
2ª C: não se trata propriamente de discricionariedade do relator, diante do objetivo normativo
de concretizar o princípio constitucional da isonomia (Arruda Alvim). Ademais, a própria
literalidade do dispositivo induz a esse entendimento, pois fala em “determinará a
suspensão”.
O STF e o STJ recentemente enfrentaram a questão, posicionando-se de acordo com a primeira
corrente. Assim, a suspensão não seria decorrência automática, estando sujeita à
discricionariedade do relator. Confira-se:
STF, QO no ARE 966.177: “A suspensão de processamento prevista no parágrafo 5º
do artigo 1.035 do CPC não consiste em consequência automática e necessária do
reconhecimento da repercussão geral realizada com fulcro no caput do mesmo
dispositivo, sendo da discricionariedade do relator do recurso extraordinário
paradigma determiná-la”
STJ, Info 650 (de junho de 2019): O art. 1.035, § 5º do CPC/2015 não determina a
suspensão automática dos processos cuja repercussão geral seja reconhecida,
devendo esse entendimento ser aplicado aos recursos especiais que impugnam
acórdão publicado e com a repercussão geral reconhecida na vigência do CPC/1973.
No entanto, essa suspensão se dará por no máximo 1 ano e o julgamento terá preferência
sobre outros processos, salvo os que envolverem réu preso e habeas corpus (§9º). Ocorre que
o §10º, que previa que a suspensão cessava automaticamente com o decurso desse prazo de 1
ano, foi revogado pela L13256/16.
§ 9o O recurso que tiver a repercussão geral reconhecida deverá ser julgado no prazo
de 1 (um) ano e terá preferência sobre os demais feitos, ressalvados os que envolvam
réu preso e os pedidos de habeas corpus.
§ 10. Não ocorrendo o julgamento no prazo de 1 (um) ano a contar do reconhecimento
da repercussão geral, cessa, em todo o território nacional, a suspensão dos processos,
que retomarão seu curso normal.
§ 10. (Revogado).
Ademais, primando pela celeridade e pela economia processual, o §6º prevê a possibilidade de
um requerimento ao presidente ou vice-presidente do tribunal local para que este exclua da
decisão de sobrestamento os recursos que forem INTEMPESTIVOS. Como tais recursos sequer
seriam admitidos, revela-se correta a previsão, facultando-se à parte que tiver o recurso
inadmitido a interposição de Agravo Interno (§7º).
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art3
82
§ 6o O interessado pode requerer, ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal de
origem, que exclua da decisão de sobrestamento e inadmita o recurso extraordinário
que tenha sido interposto intempestivamente, tendo orecorrente o prazo de 5 (cinco)
dias para manifestar-se sobre esse requerimento.
§ 7º Da decisão que indeferir o requerimento referido no § 6º ou que aplicar
entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos
repetitivos caberá agravo interno.
Efeito Suspensivo nos Recursos Extraordinários:
O RE e o RESP são recursos dotados somente de efeito devolutivo, de modo que o efeito
suspensivo somente pode ser “ope judicis”.
A quem deve ser pedido o efeito suspensivo? Ao tribunal superior ou ao tribunal recorrido? Ao
relator ou ao Presidente? Vejamos as regras, que sofreram alterações com a L13256/16.
§ 5o O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário ou a recurso
especial poderá ser formulado por requerimento dirigido:
I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a publicação da
decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando o relator designado para
seu exame prevento para julgá-lo; (Redação dada pela Lei nº 13.256, de
2016)
II - ao relator, se já distribuído o recurso;
III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no período
compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da decisão de admissão
do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido sobrestado, nos termos do art.
1.037. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
PERÍODO: O PEDIDO DEVE SER DIRIGIDO A(O):
Entre a interposição do recurso e a decisão de
admissão
Presidente ou Vice-presidente do
Tribunal recorrido (o tribunal local).
Entre a publicação da decisão de admissão do
recurso e sua distribuição
Tribunal Superior
Após a distribuição Relator do recurso
Se o recurso estiver sobrestado Presidente ou Vice-presidente do
tribunal recorrido.
Exemplo: O Estado do Rio de Janeiro, vencido em segundo grau, interpõe recurso especial
alegando violação de lei federal pelo acórdão. Ainda não houve decisão sobre a
admissibilidade do recurso. Com isso, pretendendo evitar a produção de efeitos da decisão
que lhe foi desfavorável, o pedido de efeito suspensivo deve ser dirigido ao Presidente ou
Vice-Presidente do TJ-RJ (na prática, a 3ª Vice-Presidência).
Exemplo 2: O Estado do Rio de Janeiro, vencido em segundo grau, interpõe recurso especial
alegando violação de lei federal pelo acórdão. Contudo, o STJ afetou a questão tratada no
recurso como uma questão repetitiva, nos termos do art. 1037, e determinou a suspensão de
todos os RESp que versavam sobre a matéria. Diante disto, pretendendo evitar a produção de
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1037
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm#art1037
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art4
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efeitos da decisão que lhe foi desfavorável, o pedido de efeito suspensivo também deve ser
dirigido à 3ª Vice-Presidência, uma vez que o recurso do Estado está sobrestado.
Admissibilidade dos Recursos Extraordinários:
Originalmente, o CPC/15 também previu a ideia de juízo uno de admissibilidade aos recursos
especiais e extraordinários, que deveria ser realizado somente pelos tribunais superiores.
Contudo, a L13256/16 restaurou o duplo juízo de admissibilidade para o Resp e RE, conforme
veremos a seguir.
Em síntese, após apresentação das contrarrazões pelo recorrido, o Resp ou RE será
encaminhado ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal local, que poderá:
(I) negar seguimento ao recurso, quando:
- O Rext discuta questão constitucional à qual o STF não tenha reconhecido a
existência de repercussão geral.
- O acórdão recorrido estiver em conformidade com o julgamento do STF em sede de
repercussão geral.
- O acórdão recorrido estiver em conformidade com o julgamento do STF ou do STJ em
sede de recursos repetitivos.
(II) encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de retratação, se o
acórdão recorrido divergir do entendimento do STF ou STJ em julgamentos em RG ou recursos
repetitivos.
(III) sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter repetitivo ainda não decidida
pelo STF ou STJ.
(IV) selecionar o recurso como representativo de controvérsia constitucional ou
infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036 (o tema será aprofundado na apostila
sobre julgamento de casos repetitivos).
(V) realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao STF ou STJ, desde que:
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral ou de
julgamento de recursos repetitivos;
b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia; ou
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.
Qual o recurso cabível da decisão do Presidente do Tribunal?
DEPENDE. No caso dos incisos I e III (negativa de seguimento e sobrestamento do recurso),
será cabível agravo INTERNO, objetivando levar a questão para o Plenário do tribunal LOCAL.
Já no caso do inciso V (decisão acerca do juízo de admissibilidade), caberá, como regra, Agravo
ao tribunal SUPERIOR, que será julgado na forma do art. 1042 (próximo recurso que
estudaremos).
§ 1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V caberá
agravo ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042. (Incluído pela Lei nº
13.256, de 2016) (Vigência)
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art4
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§ 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo interno,
nos termos do art. 1.021. (Incluído pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
Agravo contra decisão que inadmite RE/RESP:
Trata-se de recurso voltado a combater a decisão de inadmissibilidade do RE/RESp pelo
Presidente do tribunal recorrido.
Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal
recorrido que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, SALVO QUANDO
fundada na aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em
julgamento de recursos repetitivos. (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016)
OBSERVAÇÃO: Nas duas hipóteses finais não caberá o Agravo do art. 1042, mas
ainda poderá caber o Agravo Interno, nos moldes do art. 1021 e 1030, §2º, para o
próprio tribunal. O STJ inclusive considera erro grosseiro tal confusão, vide julgado
recente de dezembro de 2020:
1. Nos termos do art. 1.030, § 2º, do Código de Processo Civil, é cabível agravo
interno contra a decisão que nega seguimento ao recurso extraordinário,
observando a sistemática da repercussão geral. 2. A interposição de agravo
em recurso extraordinário contra o referido pronunciamento judicial
configura erro grosseiro, impedindo a aplicação do princípio da
fungibilidade. Precedentes do STJ e do STF. 3. Recurso não conhecido.
(STJ; ARE-RE-EDcl-AgInt-AREsp 939.065; Proc. 2016/0162047-1; RS; Corte
Especial; Rel. Min. Jorge Mussi; DJE 18/12/2020)
#PEDAPROFUNDA:
De acordo com Alexandre Câmara, segundo o novo texto, caso se verifique que a
decisão recorrida foi proferida em conformidade com um padrão decisório (como
seria uma decisão prolatada no julgamento de REsp ou RE repetitivo), deverá o
recurso ser declarado inadmissível (artigo 1.030, I, a e b). E desta decisão caberá
apenas agravo interno (AInt) para o Plenário ou Órgão Especial do próprio tribunal
(artigo 1.030, § 2°).
Diante disso, pode parecer que estaria bloqueado o acesso ao STF ou STJ. Em outrostermos, havendo padrão decisório, e tendo a decisão sido proferida em conformidade
com ele, não se poderia levar a mesma questão ao tribunal superior que o
estabeleceu.
Câmara, contudo, critica esse entendimento, pois teríamos um “sistema em que
decisões vinculantes não são passíveis de superação (afinal, só o tribunal de onde se
origina o precedente tem competência para, revendo a tese, superar o padrão
decisório anteriormente estabelecido) Se só o tribunal que proferiu a decisão que
serve como precedente pode superá-lo, e não se lhe pode mais levar a mesma
questão, então não haveria meios para promover a superação. Haveria um
engessamento do direito inaceitável”.
Quais seriam os instrumentos, então, para levar a questão a questão ao tribunal
superior?
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art2
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art4
85
Uma primeira solução seria afirmar que, estabelecido um padrão decisório, ele só
poderia ser alterado por via legislativa. Em outros termos, seria preciso que se
editasse novo ato normativo, revogador daquele que serviu de base para o padrão
decisório, para que se pudesse ter uma nova norma jurídica, distinta da construída
quando da formação do precedente. De acordo com Câmara, está solução não é
adequada. É que, assim, se estaria a atribuir aos padrões decisórios originários do STF
e do STJ uma força que nem textos constitucionais têm: imunidade a mudanças
interpretativas.
Assim, é preciso encontrar instrumentos no próprio processo civil para evitar esse
engenssamento. E o professor menciona alguns deles:
• Embargos de declaração: em primeiro lugar, é o próprio novo CPC que
estabelece, de forma expressa, que são admissíveis embargos de declaração
(EDcl) contra qualquer decisão (artigo 1.022). Se os EDcl podem ser opostos
contra qualquer decisão, então são cabíveis contra a que declara
inadmissível o REsp ou RE. E tinha de ser assim, já que tal decisão pode
conter algum dos vícios que através dos embargos são corrigidos. Tenha-se
claro, então, que apesar do texto reformado, contra a decisão que declara
inadmissível o recurso excepcional são cabíveis EDcl e AInt.
• Novo RE ou REsp: o acórdão que acórdão que nega provimento ao agravo
interno é um acórdão proferido em última instância, que pode ser
impugnado por REsp ou por RE. Entendimento diverso contraria o disposto
nos artigos 102, III e 105, III, CF. A questão é: qual teria sido a norma
constitucional ou infraconstitucional violada, capaz de permitir a
interposição de RE ou REsp contra acórdão do Pleno ou do Órgão Especial
que nega provimento ao AInt interposto contra decisão que deixou de
admitir recurso excepcional por estar a decisão recorrida em conformidade
com padrão decisório? De acordo com Câmara:
- no caso do REsp: seriam os artigos 947, parágrafo 3°, 985, II, e 986
do novo CPC, na sua aplicação supletiva aos recursos excepcionais,
por força do microssistema de casos repetitivos (esses dispositivos
são previstos para o IRDR, e aplicam-se supletivamente ao RE e
RESp, pois seriam uma forma de viabilizar a “revisão de tese”,
evitando-se o engessamento do direito);
- no caso do RE: o parâmetro seria o próprio art. 102 da CF, já que
caberia ao STF, como guardião da Constituição, promover a
evolução interpretativa desta. Confira-se as palavras do autor:
“Agora é preciso identificar a norma constitucional violada nesse mesmo
caso. Há, na hipótese, violação ao caput do artigo 102 da CF, por força do
qual incumbe ao STF o papel de guardião da Constituição, em razão do
qual ao STF incumbe promover a evolução interpretativa da Constituição,
evitando o engessamento do direito.
A não se entender assim, ter-se-á de considerar que o novo CPC reformado
retira do STF seu papel de atribuidor de sentidos aos dispositivos
constitucionais. E isto impediria o Supremo de contribuir para a evolução
do direito. Basta pensar nos casos em que o STF modificou sua
interpretação acerca de dispositivos constitucionais (por exemplo, a
mudança de orientação acerca dos efeitos do julgamento do mandado de
injunção). Pois não se pode considerar compatível com a Constituição uma
interpretação do texto reformado do novo CPC que bloqueie o acesso ao
STF pelo fato de já ter se manifestado uma vez sobre certa questão
constitucional.
É o caso, então, de dar-se ao novo texto do novo CPC interpretação
conforme a Constituição, para considerar que, no caso do RE, só pode
haver vedação de acesso ao STF quando o recorrente não tiver
expressamente suscitado ser caso de superação do padrão decisório, com a
86
dedução de argumentos novos. E, quando se inadmitir o RE, será então
cabível novo RE, por violação do artigo 102, caput, da CF. Este novo RE,
evidentemente, não terá caráter repetitivo e, por isso, não se poderá
inadmiti-lo pelos mesmos fundamentos do recurso anterior.
Câmara frisa que o novo recurso, interposto contra o acórdão que julga o agravo, não
se submete ao regime dos recursos repetitivos. É que nele se terá necessariamente
suscitado questão nova, ainda não submetida ao tribunal de superposição. E se a
questão é nova, inédita, não é repetitiva. Assim, no caso do RE, incidirá o artigo 1.030,
V, a, do novo CPC reformado e, positivo o juízo de admissibilidade, o recurso deverá
ser encaminhado ao STF para verificação da existência de repercussão geral do novo
fundamento suscitado. De outro lado, no caso do REsp, este deverá ser — se positivo
o juízo de admissibilidade — remetido ao STJ para exame do REsp, que não terá,
como visto, caráter repetitivo.
Fica, assim, não obstante a reforma do novo CPC, assegurada a possibilidade de
revisão das teses, impedindo-se engessamento interpretativo incompatível com um
sistema de precedentes que se pretenda implantar em um ordenamento compatível
com o Estado Democrático de Direito.
Tentamos simplificar e resumir a discussão, mas o tema é complexo, de modo que
recomendamos a leitura do texto do professor Câmara: http://conjur.com.br/2016-
fev-12/alexandre-camara-cpc-permite-superacao-decisoes-vinculantes#
Procedimento:
A petição do agravo em RE/RESP será dirigida ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal
de origem, mas o juízo de admissibilidade é feito pelo tribunal superior competente. (v. art
.1042 § 4º). Veja, portanto, que quem julga o Agravo do art. 1042 é o tribunal SUPERIOR, não
podendo este recurso ser confundido com o Agravo Interno dos arts. 1030, §2º e art. 1021
(julgado pelo tribunal local, como visto).
OBSERVAÇÃO: Na hipótese de interposição conjunta de recursos extraordinário e especial, o
agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não admitido.
Ainda sobre o tema, confira importante precedente do STJ, noticiado no Informativo 638,
segundo o qual a decisão de inadmissibilidade do recurso especial não é formada por capítulos
autônomos, mas por um único dispositivo, o que exige sua impugnação total.
A decisão de inadmissibilidade do recurso especial não é formada por capítulos
autônomos, mas por um único dispositivo, o que exige sua impugnação total. Em
outras palavras, o agravante deve atacar, de forma específica, TODOS os fundamentos
da decisão que, na origem, inadmitiu o recurso especial. STJ. Corte Especial. EAREsp
831.326-SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, Rel. Acd. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 19/09/2018 (Info 638).
O regimento interno do STJ também tem dispositivo em sentido semelhante:
Art. 253. O agravo interposto de decisão que não admitiu o recurso especial obedecerá,
no Tribunal de origem, às normas da legislação processual vigente.
http://conjur.com.br/2016-fev-12/alexandre-camara-cpc-permite-superacao-decisoes-vinculantes
http://conjur.com.br/2016-fev-12/alexandre-camara-cpc-permite-superacao-decisoes-vinculantes
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Parágrafo único. Distribuído o agravo e ouvido, se necessário, o MinistérioPúblico no
prazo de cinco dias, o relator poderá: I - não conhecer do agravo inadmissível,
prejudicado ou daquele que não tenha impugnado especificamente todos os
fundamentos da decisão recorrida;
Diante de uma uma interpretação literal e pragmática da norma regimental, todos os
fundamentos utilizados pelo Tribunal de origem para inadmitir o recurso especial,
independentemente de eventual caráter autônomo, deverão ser impugnados, sob pena de
não conhecimento do agravo em recurso especial. A decisão que não admite o recurso
especial não é formada por capítulos autônomos. Nela existe um único dispositivo (ela é
incindível). Logo, todos os fundamentos que a embasam devem ser atacados. Aplica-se aqui,
por analogia, a Súmula 182 do STJ:
Súmula 182-STJ: É inviável o agravo do art. 545 do CPC (1973) que deixa de atacar
especificamente os fundamentos da decisão agravada.
Exemplo: a decisão do Presidente do TJ não admitiu o Resp com base em dois fundamentos:
• violação do art. 535 do CPC/1973; e
• incidência da Súmula nº 7-STJ.
Se a parte agravante impugnar apenas um desses fundamentos, o agravo não será conhecido.
OBS: O julgado acima foi baseado no CPC/1973, mas existem vários precedentes já na vigência
do CPC/2015 aplicando o mesmo entendimento, com base no art. 932, do CPC vigente e
também no Regimento Interno do STJ. Nesse sentido:
“Incumbe ao agravante infirmar, especificamente, todos os fundamentos da decisão
que inadmitiu o Recurso Especial, demonstrando o seu desacerto, de modo a justificar
o processamento do apelo nobre, sob pena de não ser conhecido o Agravo (art. 932, III,
do CPC vigente). STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 1122084/RS, Rel. Min. Assusete
Magalhães, julgado em 05/12/2017.”
“Nos termos da 182 da Súmula desta Corte, é manifestamente inadmissível o agravo
em recurso especial que não impugna, especificamente, todos os fundamentos da
decisão confrontada. STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 915.415/ES, Rel. Min. Nefi
Cordeiro, julgado em 05/09/2017.”
Por fim, cuidado: este entendimento defensivo do STJ só se aplica ao agravo da primeira parte
do art. 1042 (Agravo em RE ou RESp), mas não ao agravo interno da parte final, contra decisão
do Tribunal a quo que inadmitir o recurso especial, com base na aplicação do entendimento
consagrado no julgamento de recurso repetitivo.
Embargos de Divergência:
Trata-se de recurso que tem por objetivo a uniformização da jurisprudência nos tribunais
superiores. Seu objeto é sempre um acórdão de órgão fracionário do tribunal superior, que
está divergindo de outro acórdão paradigma (Exemplo: 1º turma do STJ, divergindo da 2ª
turma do STJ).
Para tanto, o acórdão recorrido deve ser comparado com um acórdão paradigma, de modo a
demonstrar uma similitude fática entre os mesmos. Em outras palavras, a divergência entre o
acórdão a ser objeto dos embargos e o paradigma (com o qual será feito o cotejo, a
88
comparação) não basta ser alegada, devendo ser comprovada. Neste sentido, clara é a
previsão do art. 1043, §4º:
§ 4o O recorrente provará a divergência com certidão, cópia ou citação de repositório
oficial ou credenciado de jurisprudência, inclusive em mídia eletrônica, onde foi
publicado o acórdão divergente, ou com a reprodução de julgado disponível na rede
mundial de computadores, indicando a respectiva fonte, e mencionará as
circunstâncias que identificam ou assemelham os casos confrontados.
As hipóteses de cabimento estão previstas no art. 1043 do CPC/15, o qual sofreu alterações
com a L13256/16:
Art. 1.043. É embargável o acórdão de órgão fracionário que:
I - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de
qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos, embargado e
paradigma, de mérito;
II - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de
qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo os acórdãos, embargado e paradigma,
relativos ao juízo de admissibilidade; (Revogado pela Lei nº 13.256, de 2016)
III - em recurso extraordinário ou em recurso especial, divergir do julgamento de
qualquer outro órgão do mesmo tribunal, sendo um acórdão de mérito e outro que
não tenha conhecido do recurso, embora tenha apreciado a controvérsia;
IV - nos processos de competência originária, divergir do julgamento de qualquer outro
órgão do mesmo tribunal. (Revogado pela Lei nº 13.256, de 2016)
De início, frise-se que a comparação pode se dar tanto entre acórdãos de mérito (inciso I)
quanto entre um acórdão de mérito e outro que não tenha conhecido o recurso, mas que
tenha apreciado a controvérsia (inciso II). Assim, verifica-se a necessidade de ambos os
acórdãos ao menos terem apreciado a controvérsia, não bastando que sejam, por exemplo,
relativos ao juízo de admissibilidade, uma vez que inciso II foi revogado.
Ademais, com a revogação do inciso IV, não são mais cabíveis os embargos de divergência nos
processos de competência originária dos tribunais. Assim, os embargos de divergência são
sempre ajuizados contra decisões colegiadas em julgamento em recurso especial ou
extraordinário, não cabendo também em face de decisões monocráticas.
No entanto, nada impede que as teses jurídicas a serem confrontadas estejam em um acórdão
em julgamento em ações de competência originária! Cuidado com o §3º do art. 1043:
§ 1o Poderão ser confrontadas teses jurídicas contidas em julgamentos de recursos e
de ações de competência originária.
É cabível embargos de divergência entre acórdãos oriundos da mesma turma?
SIM. À luz do CPC/73 o STJ entendia pela impossibilidade de o acórdão recorrido e o
paradigma serem da mesma turma, ainda que a sua composição tivesse sido alterada
(Informativo 457). Contudo, a partir do CPC/15, o art. 1043 passou a prever que a divergência
pode se dar em relação a qualquer outro órgão do mesmo tribunal. Ademais, o §3º do mesmo
artigo trouxe regra expressa sobre o tema, mencionando ser cabível divergência em face de
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art3
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/Lei/L13256.htm#art3
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acórdão da mesma turma, desde que sua composição tenha sido alterada em mais da metade
de seus membros.
§ 3o Cabem embargos de divergência quando o acórdão paradigma for da mesma
turma que proferiu a decisão embargada, desde que sua composição tenha sofrido
alteração em mais da metade de seus membros.
A divergência pode se dar sobre questão meramente processual?
SIM. Nos termos do §2º do art. 1043, a divergência que autoriza a interposição de embargos
de divergência pode verificar-se na aplicação do direito material ou processual.
§ 2o A divergência que autoriza a interposição de embargos de divergência pode
verificar-se na aplicação do direito material ou do direito processual.
OBSERVAÇÃO: o art. 1.043, § 5.º, do Novo CPC vedava ao órgão jurisdicional a inadmissão do
recurso com base em fundamento genérico de que as circunstâncias fáticas são diferentes,
sem demonstrar a existência da distinção. Havia, portanto, uma dupla exigência: uma voltada
ao recorrente, que deve demonstrar a similitude fática entre os acórdãos, e outra voltada ao
órgão julgador, que deveria fazer a distinção dos acórdãos comparados pelo recorrente para
poder inadmiti-los. Contudo, tal previsão foi revogada pela L13256/16, que retirou o dever
judicial de devidamente fundamentar a inadmissão do recurso por ausência de similitude
fática entre o julgamento recorrido e o paradigma. Nada obstante, entendemos que
permanece aplicável o dever de fundamentação previsto no art. 489 do CPC.
OBSERVAÇÃO²: a divergência, que será objeto do recurso de embargos de divergência, deve
necessariamente ser ATUAL (vide AgRg no EResp 507). Se o entendimento do acórdão
paradigma já tiver sido superado pela jurisprudência mais recente do tribunal, não será cabível
o recurso de embargosde divergência.
➔ Por fim: cadê os Embargos Infringentes?
Não estão mais previstos no NCPC. Em substituição aos Embargos Infringentes, tem-se hoje a
técnica de ampliação de colegiado, que será agora aprofundada.
O NCPC extinguiu os embargos infringentes, mas trouxe a técnica de ampliação de colegiado
(art. 942) para algumas hipóteses de julgamentos proferidos nos tribunais.
Art. 942. Quando o resultado da apelação for não unânime, o julgamento terá prosseguimento
em sessão a ser designada com a presença de outros julgadores, que serão convocados nos
termos previamente definidos no regimento interno, em número suficiente para garantir a
possibilidade de inversão do resultado inicial, assegurado às partes e a eventuais terceiros o
direito de sustentar oralmente suas razões perante os novos julgadores.
§ 1o Sendo possível, o prosseguimento do julgamento dar-se-á na mesma sessão, colhendo-se os
votos de outros julgadores que porventura componham o órgão colegiado.
§ 2o Os julgadores que já tiverem votado poderão rever seus votos por ocasião do
prosseguimento do julgamento.
§ 3o A técnica de julgamento prevista neste artigo aplica-se, igualmente, ao julgamento não
unânime proferido em:
I - ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença, devendo, nesse caso, seu
prosseguimento ocorrer em órgão de maior composição previsto no regimento interno;
II - agravo de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgar parcialmente o mérito.
90
§ 4o Não se aplica o disposto neste artigo ao julgamento:
I - do incidente de assunção de competência e ao de resolução de demandas repetitivas;
II - da remessa necessária;
III - não unânime proferido, nos tribunais, pelo plenário ou pela corte especial.
Pelo caput, quando o julgamento da apelação não for unânime, será continuado o julgamento
em outra sessão, com a presença de um número de julgadores que possam reverter o
julgamento (Ex: se o resultado foi 2x1, precisaria de mais 2 desembargadores para tentar
reverter o julgamento). Nessa nova sessão haverá inclusive a possibilidade de uma nova
sustentação oral, para tentar convencer os outros desembargadores, que atuarão como vogais
(só tomam conhecimento do processo na hora do julgamento).
Em outras palavras, não haverá um recurso, mas sim uma automática ampliação do colegiado
(no exemplo, de 3 para 5 desembargadores).
O 942, §3º ainda traz outros dois casos em que será aplicável a técnica:
- Quando houver julgamento não unanime de ação rescisória, que tenha como resultado a
rescisão da sentença. Nesse caso, o julgamento deverá seguir em órgão colegiado de maior
composição (Ex: órgão especial), conforme previsto em regimento interno.
- Em caso de julgamento não unanime de AGRAVO DE INSTRUMENTO, quando houver reforma
da decisão que julgar parcialmente o mérito.
A doutrina tem discutido a previsão do caput, que fala em julgamento não unânime de
apelação, mas sem mencionar a necessidade de julgamento pela reforma (como ocorria no
cabimento dos Embargos Infringentes, no CPC/73).
Só que como o §3º fala na necessidade de julgamento pela reforma para o agravo de
instrumento, alguns autores defendem que também seria necessário o julgamento não
unânime pela reforma no caso da apelação. Assim, não seria todo julgamento não unanime de
apelação que levaria à aplicação dessa técnica, mas tão somente o julgamento pela reforma,
interpretando-se o caput sistematicamente com o §3º. Contudo, este não é o entendimento
atual do STJ:
ATENÇÃO! INFORMATIVO 639, STJ: A técnica de ampliação de julgamento prevista no
CPC/2015 deve ser utilizada quando o resultado da apelação for não unânime,
independentemente de ser julgamento que reforma ou mantém a sentença impugnada.
A 4ª Turma do STJ, em outubro de 2018, decidiu que, nos recursos de apelação, a técnica de
julgamento ampliado prevista pelo artigo 942 do CPC/15 deve ser utilizada tanto nos casos
em que há reforma da sentença quanto nos casos em que a sentença é mantida, desde que a
decisão não seja unânime (REsp 1733820). Para o relator, ministro Luis Felipe Salomão, a lei
não deixa dúvidas quanto ao cabimento da técnica do artigo 942 nas hipóteses em que o
resultado não for unânime no julgamento da apelação. “Não obstante as críticas à opção do
legislador de adotar um escopo amplo para a técnica do artigo 942 do CPC de 2015 na
apelação, entendo que a interpretação não pode afastar-se da letra da lei, que não deixa
dúvidas quanto ao seu cabimento em todas as hipóteses de resultado não unânime de
julgamento da apelação, e não apenas quando ocorrer a reforma de sentença de mérito”.
O §4º traz hipóteses de DISPENSA da técnica de ampliação:
- Julgamento não unanime proferido pelo PLENÁRIO ou CORTE ESPECIAL.
91
- Julgamento de Incidente de Resolução de Demandas Repetitivas e de incidente de assunção
de competência. São incidentes próprios para formação de precedentes e que, via de regra, já
são julgados por órgão de maior composição no tribunal, em um procedimento diferenciado.
- Reexame necessário: como não se trata de um recurso, o legislador afastou a aplicação da
técnica de ampliação de colegiado.
Importante mencionar que, à luz do CPC/73, o STJ já havia pacificado o entendimento (Sumula
390) no sentido de que não caberia embargos infringentes de acórdão em reexame necessário.
Ainda sobre o tema, vale mencionar o importante REsp Nº 1.771.815 – SP, no qual foi feito
uma espécie de “resumo” acerca dos entendimentos da Corte sobre o tema:
“5. A técnica de ampliação do colegiado consiste em significativa inovação trazida
pelo CPC/2015, tendo cabimento nas hipóteses de julgamento não unânime de
apelação; ação rescisória, quando o resultado for a rescisão da sentença; e agravo
de instrumento, quando houver reforma da decisão que julgou parcialmente o mérito.
6. O art. 942 do CPC/2015 não configura uma nova espécie recursal, mas, sim, uma
técnica de julgamento, a ser aplicada de ofício, independentemente de
requerimento das partes, com o objetivo de aprofundar a discussão a respeito de
controvérsia, de natureza fática ou jurídica, acerca da qual houve dissidência.
7. Constatada a ausência de unanimidade no resultado da apelação, é obrigatória a
aplicação do art. 942 do CPC/2015, sendo que o julgamento não se encerra até o
pronunciamento pelo colegiado estendido, ou seja, inexiste a lavratura de acórdão
parcial de mérito.
8. Os novos julgadores convocados não ficam restritos aos capítulos ou pontos sobre
os quais houve inicialmente divergência, cabendo-lhes a apreciação da integralidade
do recurso.
9. O prosseguimento do julgamento com quórum ampliado em caso de
divergência tem por objetivo a qualificação do debate, assegurando-se
oportunidade para a análise aprofundada das teses jurídicas contrapostas e das
questões fáticas controvertidas, com vistas a criar e manter uma jurisprudência
uniforme, estável, íntegra e coerente.
10. Conforme expressamente autorizado pelo art. 942, § 2º, do CPC/2015, os
julgadores que já tenham votado podem modificar o seu posicionamento.
11. Não cabe a esta Corte Superior reexaminar as premissas fáticas sobre as quais se
fundamentou o Tribunal local, a fim de verificar se houve efetivamente divergência,
haja vista o óbice da Súmula nº 7/STJ.”
Importante destacar ainda outros entendimentos do STJ sobre o tema:
• Aplica-se a técnica de ampliação do colegiado quando não há unanimidade no juízo
de admissibilidade recursal:
(...) O art. 942 do CPC não determina a ampliação do julgamento apenas em relação
às questões de mérito. 6. Na apelação, a técnica de ampliação do colegiado deve ser
aplicada a qualquer julgamento não unânime, incluindo as questões preliminares
relativas ao juízo de admissibilidade do recurso.
92
7. No caso,o Tribunal de origem, ao deixar de ampliar o quórum da sessão realizada no
dia 9/6/2016, diante da ausência de unanimidade com relação à preliminar de não
conhecimento da apelação interposta de forma adesiva pelo autor, inobservou o
enunciado normativo inserto no art. 942 do CPC, sendo de rigor declarar a nulidade por
"error in procedendo". 8. Ainda que a preliminar acolhida pelo voto minoritário careça
de previsão legal, inviável ao Superior Tribunal de Justiça sanar a nulidade apontada,
pois o art. 942 do CPC enuncia uma técnica de observância obrigatória pelo órgão
julgador, devendo ser aplicada no momento imediatamente posterior à colheita dos
votos e à constatação do resultado não unânime quanto à preliminar.
9. Uma vez ampliado o colegiado, os novos julgadores convocados não ficam adstritos
aos capítulos em torno dos quais se estabeleceu a divergência, competindo-lhes
também a apreciação da integralidade das apelações.
(REsp 1798705/SC, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA,
julgado em 22/10/2019, DJe 28/10/2019)
• A técnica de ampliação de colegiado não se aplica à análise de admissibilidade da ação
rescisória, vide REsp 1762236/SP!
• A técnica de ampliação de colegiado aplica-se ao julgamento de apelação em
mandado de segurança.
Enunciado 62 da I Jornada de Direito Processual Civil do CJF
Aplica-se a técnica prevista no art. 942 do CPC no julgamento de recurso de apelação
interposto em mandado de segurança.
• A técnica de ampliação de colegiado não se aplica nas turmas recursais dos juizados
especiais, uma vez que estas não são consideradas tribunais!
Enunciado 552 do FPPC:
Não se aplica a técnica de ampliação do colegiado em caso de julgamento não
unânime no âmbito dos Juizados Especiais.
• Aplica-se a técnica de ampliação do colegiado quando o Tribunal, por maioria, der
provimento aos embargos de declaração para reformar a decisão embargada e, por
consequência, reformar a decisão parcial de mérito prolatada pelo juiz em 1ª
instância.
(...) Segundo lições doutrinárias, em se tratando de aclaratórios opostos a acórdão
que julga agravo de instrumento, a convocação de outros julgadores para compor o
colegiado ampliado (técnica de julgamento prevista no artigo 942 do CPC/2015)
somente ocorrerá se os embargos de declaração forem acolhidos para modificar o
julgamento originário do magistrado de primeiro grau que houver proferido decisão
parcial de mérito.
7. Recurso especial provido para declarar a nulidade do julgamento dos embargos de
declaração com determinação de retorno dos autos à origem para novo julgamento,
com a prévia intimação da parte embargada para apresentação de impugnação.
(REsp 1841584/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA,
julgado em 10/12/2019, DJe 13/12/2019)
93
• Técnica do julgamento ampliado também pode ser aplicada a embargos de
declaração opostos contra acórdão que julgou apelação, desde que cumpridos os
demais requisitos do art. 942 do CPC
1. A controvérsia recursal cinge-se a definir se a técnica de julgamento ampliado
prevista no art. 942 do CPC/2015 aplica-se quando os embargos de declaração opostos
ao acórdão de apelação são julgados por maioria, possuindo o voto vencido o condão
de alterar o resultado inicial da apelação.
2. A técnica de julgamento ampliado possui a finalidade de formação de uma maioria
qualificada, pressupondo, na apelação, tão somente o julgamento não unânime e a
aptidão do voto vencido de alterar a conclusão inicial.
3. O procedimento do art. 942 do CPC/2015 aplica-se nos embargos de declaração
opostos ao acórdão de apelação quando o voto vencido nascido apenas nos
embargos for suficiente a alterar o resultado primitivo da apelação,
independentemente do desfecho não unânime dos declaratórios (se rejeitados ou se
acolhidos, com ou sem efeito modificativo), em razão do efeito integrativo deste
recurso.
4. Recurso especial provido.
(REsp 1786158/PR, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, Rel. p/ Acórdão Ministro MARCO
AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/08/2020, DJe 01/09/2020)
QUESTÕES OBJETIVAS
1. (FCC - 2021 - DPE-BA - Defensor Público) O Código de Processo Civil de 2015 ampliou o
tratamento dispensado aos casos repetitivos no ordenamento jurídico. De acordo com os
instrumentos processuais previstos para o enfrentamento da litigiosidade repetitiva,
A) o juiz, ao observar a existência de demandas individuais repetitivas, deverá oficiar ao
Ministério Público e à Defensoria Pública para oferecimento de ação coletiva ou pedido de
instauração de incidente de demandas repetitivas, uma vez que não pode suscitar o incidente
de ofício.
B) é passível de agravo de instrumento a decisão de primeira instância que julgar o pedido
de distinguishing (distinção) feito pela parte que teve sua ação sobrestada por força de recurso
repetitivo.
C) o recurso especial ou extraordinário interposto em face de decisão proferida em ação
coletiva não poderá ser afetado como representativo da controvérsia.
D) é cabível a instauração de incidente de resolução de demandas repetitivas junto ao Tribunal
de Justiça de matéria de direito material ou processual já afetada pelos Tribunais Superiores
em sede de recurso repetitivo, desde que não tenha sido julgada definitivamente.
E) são admitidas as intervenções de amici curiae nos incidentes de resolução de demandas
repetitivas, mas não no julgamento de recursos especiais e extraordinários repetitivos.
GABARITO: B
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/fcc-2021-dpe-ba-defensor-a-publico-a
94
LETRA A- INCORRETA. o IRDD pode ser instaurado de ofício. Diz o art. 977 do CPC:
“ Art. 977. O pedido de instauração do incidente será dirigido ao presidente de
tribunal:
I - pelo juiz ou relator, por ofício;
II - pelas partes, por petição;
III - pelo Ministério Público ou pela Defensoria Pública, por petição."
LETRA B- CORRETA. Reproduz o art. 1037, §13º, I, ou seja, cabe agravo de instrumento da
decisão em primeira instância que julga o pedido de distinção.
LETRA C- INCORRETA. Ofende o art. 1036 do CPC:
“ Art. 1.036. Sempre que houver multiplicidade de recursos extraordinários ou
especiais com fundamento em idêntica questão de direito, haverá afetação para
julgamento de acordo com as disposições desta Subseção, observado o disposto
no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal e no do Superior Tribunal de
Justiça."
LETRA D- INCORRETA. Se um Tribunal Superior já instaurou IRDR, não cabe a outro Tribunal
assim agir. Diz o art. 976, §4º, do CPC:
“ Art. 976 (...)
§ 4º É incabível o incidente de resolução de demandas repetitivas quando um dos
tribunais superiores, no âmbito de sua respectiva competência, já tiver afetado
recurso para definição de tese sobre questão de direito material ou processual
repetitiva."
LETRA E- INCORRETA. Ao contrário do exposto, cabe amicus curiae em sede de recurso
especial e recurso extraordinário. Diz o art. 1038 do CPC:
“ Art. 1.038. O relator poderá:
I - solicitar ou admitir manifestação de pessoas, órgãos ou entidades com
interesse na controvérsia, considerando a relevância da matéria e consoante
dispuser o regimento interno;
II - fixar data para, em audiência pública, ouvir depoimentos de pessoas com
experiência e conhecimento na matéria, com a finalidade de instruir o
procedimento;
III - requisitar informações aos tribunais inferiores a respeito da controvérsia e,
cumprida a diligência, intimará o Ministério Público para manifestar-se."
2. (VUNESP - 2019 - Prefeitura de Birigui - SP - Advogado) Pode-se corretamente afirmar,
sobre o recurso especial, segundo a Jurisprudência sumulada do Superior Tribunal de Justiça
que
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/vunesp-2019-prefeitura-de-birigui-sp-advogado
95
A) é admissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da oposiçãode embargos
declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo.
B) não cabem embargos de divergência contra acórdão que, em agravo regimental, decide
recurso especial.
C) cabem embargos de divergência no âmbito do agravo de instrumento que não admite
recurso especial.
D) cabe recurso especial contra decisão proferida, nos limites de sua competência, por órgão
de segundo grau dos Juizados Especiais.
E) não é necessário ratificar o recurso especial interposto na pendência do julgamento dos
embargos de declaração, quando inalterado o resultado anterior.
GABARITO: E
LETRA A- INCORRETA. Ofende a Súmula 211 do STJ:
“Súmula 211: Inadmissível recurso especial quanto à questão que, a despeito da
oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo Tribunal a quo."
--
LETRA B- INCORRETA. Ofende a Súmula 316 do STJ:
“Súmula 316: Cabem embargos de divergência contra acórdão que, em agravo
regimental, decide recurso especial."
LETRA C- INCORRETA. Ofende a Súmula 315 do STJ:
“Súmula 315: Não cabem embargos de divergência no âmbito do agravo de
instrumento que não admite recurso especial."
LETRA D- INCORRETA. Ofende a Súmula 203 do STJ:
“Súmula 203: Não cabe recurso especial contra decisão proferida por órgão
desegundo grau dos Juizados Especiais."
LETRA E- CORRETA. Reproduz a Súmula 579 do STJ.
3. (FUNDEP (Gestão de Concursos) - 2019 - Prefeitura de Contagem - MG - Procurador
Municipal) A respeito dos recursos extraordinário e especial, assinale a alternativa incorreta.
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/fundep-gestao-de-concursos-2019-prefeitura-de-contagem-mg-procurador-municipal
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/fundep-gestao-de-concursos-2019-prefeitura-de-contagem-mg-procurador-municipal
96
A) Conforme jurisprudência do STJ, não é necessário ratificar o recurso especial interposto na
pendência do julgamento dos embargos de declaração, quando inalterado o resultado
anterior.
B) Se o STF considerar como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso
extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-
lo-á ao STJ para julgamento como recurso especial.
C) Segundo entendimento do STF, é cabível a interposição de recurso extraordinário contra
acórdão de Tribunal de Justiça que defere pedido de intervenção estadual em Município.
D) Em observância aos princípios da efetividade processual e da instrumentalidade das formas,
o STF ou o STJ poderá desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua
correção, desde que não o repute grave.
GABARITO: C
LETRA A- CORRETA, LOGO NÃO RESPONDE A QUESTÃO. Reproduz a Súmula 579 do STJ, que diz
o seguinte:
Não é necessário ratificar o recurso especial interposto na pendência do
julgamento dos embargos de declaração, quando inalterado o resultado anterior.
LETRA B- CORRETA, LOGO NÃO RESPONDE A QUESTÃO. Reproduz o art. 1033 do CPC:
Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à
Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da
interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal de
Justiça para julgamento como recurso especial.
LETRA C- INCORRETA, LOGO RESPONDE A QUESTÃO. Ao contrário do exposto, a Súmula 637
do STF diz que não cabe recurso extraordinário contra acórdão de Tribunal de Justiça que
defere pedido de intervenção estadual em Município.
LETRA D- CORRETA, LOGO NÃO RESPONDE A QUESTÃO. Reproduz o transcrito no art. 1029,
§3º, do CPC:
Art. 1.029 (...)
§ 3º O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá
desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção,
desde que não o repute grave.
4. (VUNESP - 2019 - TJ-RJ - Juiz Substituto) Com base no tratamento conferido pelo Código de
Processo Civil de 2015 aos recursos direcionados para o Supremo Tribunal Federal e para o
Superior Tribunal de Justiça, é correto afirmar:
https://www.qconcursos.com/questoes-de-concursos/provas/vunesp-2019-tj-rj-juiz-substituto
97
A) da decisão que inadmite recurso extraordinário ou recurso especial em decorrência da
aplicação de entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de
recursos repetitivos, cabe agravo em recurso extraordinário ou em recurso especial.
B) nos processos promovidos perante a justiça federal de primeira instância em que forem
partes organismo internacional e pessoa domiciliada no país, cabe agravo de instrumento
dirigido ao Superior Tribunal de Justiça das decisões interlocutórias previstas no artigo 1.015
do diploma processual.
C) se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no
recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado,
inadmitirá o recurso interposto por se tratar de recurso exclusivamente cabível para corrigir
ofensa direta ao texto constitucional.
D) quando o recurso extraordinário ou especial fundar- -se em dissídio jurisprudencial, o
recorrente fará a prova da divergência com a certidão, cópia ou citação do repositório de
jurisprudência, oficial ou credenciado em que houver sido publicado o acórdão divergente,
bastando, nas razões recursais, transcrever a ementa do acórdão paradigma.
E) na hipótese de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso especial, uma vez
concluído o julgamento do recurso especial, os autos serão remetidos ao Supremo Tribunal
Federal para apreciação do recurso extraordinário ainda que este estiver prejudicado, pois é
da competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal declarar a existência de
prejudicialidade.
GABARITO: B
Alternativa A) Neste caso, teria cabimento o recurso de agravo interno, conforme se extrai do
art. 1.030, I, "b", c/c §2º, do CPC/15: "Art. 1.030. Recebida a petição do recurso pela secretaria
do tribunal, o recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze)
dias, findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal
recorrido, que deverá: I – negar seguimento: a) a recurso extraordinário que discuta questão
constitucional à qual o Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido a existência de
repercussão geral ou a recurso extraordinário interposto contra acórdão que esteja em
conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no regime de
repercussão geral; b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão
que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de julgamento de recursos
repetitivos. (...) § 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo
interno, nos termos do art. 1.021". Afirmativa incorreta.
Alternativa B) Esta regra de competência está contida no art. 1.027, II, "b", c/c §1º, do CPC/15:
"Art. 1.027. Serão julgados em recurso ordinário: (...) II - pelo Superior Tribunal de Justiça:
(...) b) os processos em que forem partes, de um lado, Estado estrangeiro ou organismo
internacional e, de outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País. § 1º Nos
processos referidos no inciso II, alínea “b", contra as decisões interlocutórias caberá agravo de
instrumento dirigido ao Superior Tribunal de Justiça, nas hipóteses do art. 1.015".
Afirmativa correta.
98
Alternativa C) Em sentido diverso, dispõe o art.1.033, do CPC/15: "Se o Supremo Tribunal
Federal considerar como reflexa a ofensa à Constituição afirmada no recurso extraordinário,
por pressupor a revisão da interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior
Tribunal de Justiça para julgamento como recurso especial". Afirmativa incorreta.
Alternativa D) Em sentido diverso, dispõe o art.1.029, §1º, do CPC/15:"Quando o recurso
fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará a prova da divergência com a certidão,
cópia ou citação do repositório de jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia
eletrônica, em que houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de
julgado disponível na rede mundial de computadores, com indicação da respectiva
fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias que identifiquem ou
assemelhem os casos confrontados". Afirmativa incorreta.
Alternativa E) Em sentido diverso, dispõe o art.1.031, caput, c/c §1º, do CPC/15: "Na hipótese
de interposição conjunta de recurso extraordinário e recurso especial, os autos serão
remetidos ao Superior Tribunal de Justiça. § 1º Concluído o julgamento do recurso especial, os
autos serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do recurso
extraordinário, se este não estiver prejudicado". Afirmativa incorreta.