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Doenças Imuno mediadas (Pênfigo Vulgar, Penfigoide benigno de mucosa) Pênfigo O pênfigo é doença mucocutânea que apresenta três formas clínicas distintas: vulgar, vegetante e foliáceo. Comentaremos somente o pênfigo vulgar, por ser o único que provoca lesões bucais cerca de dois anos antes da eclosão da doença na pele. Sua etiologia há pouco tempo era desconhecida, mas sabe-se hoje que é de origem imunológica. Tem como características clínicas o aparecimento de bolhas intraepiteliais na mucosa e na pele com conteúdo transparente e límpido, às vezes hemorrágico, além de mal-estar, febre e linfadenopatia. As bolhas que aparecem na mucosa bucal rapidamente se rompem, deixando áreas extensas ulceradas e doloridas, dificultando mastigação, deglutição e fonação (Figuras 11.1 e 11.2). Ocorre em adultos, em geral acima de 40 anos, e a incidência parece ser maior em mulheres. A lesão é relativamente grave e de evolução rápida. O aparecimento é repentino e as lesões iniciais ocorrem na mucosa bucal e face. As bolhas são múltiplas, de várias dimensões, e podem coalescer formando uma única e enorme bolha, que pode ter involução espontânea entre 7 e 10 dias. Em uma segunda manifestação, as bolhas podem disseminar-se pelo corpo, pela pele e pela mucosa e demoram mais para desaparecer, rompendo-se e formando, logo em seguida, áreas de grandes ulcerações, principalmente nas regiões mais solicitadas em termos de traumatismo masti- gatório, como mucosa jugal, palato duro e gengiva. Critérios para diagnóstico: Clinicamente, observa-se que, logo após se injuriar a mucosa bucal normal com uma espátula de madeira, próximo a uma lesão de pênfigo vulgar, aparece uma bolha hemorrágica, que se rompe em segundos. A manobra de semiotécnica serve como critério de diagnóstico, por provocar uma reação da mucosa — o aparecimento de bolha hemorrágica conhecida como sinal de Nikolsky (Figuras 11.3 e 11.4). A úlcera que se forma tem um fundo esbranquiçado, e o epitélio que se destaca fica inserido nas bordas da úlcera, fazendo uma dobra que margeia a lesão (Figuras 11.1 a 11.4), característica que muito auxilia o diagnóstico do pênfigo vulgar. A citologia esfoliativa é um método de grande valia, por detectar a presença de células acantolíticas, as chamadas células de Tzanck, típicas mas não patognomônicas. A biópsia fornece resultado nosológico baseado em características próprias, como formação de vesícula ou bolha suprabasal e edema que provoca desaparecimento das pontes intercelulares. Histologicamente, ocorre bolha infraepitelial entre a camada basal e a camada espinhosa de Malpighi. No interior da bolha encontram-se células epiteliais acantolíticas (células de Tzank), tumefação do núcleo e dos nucléolos, como se fossem células gigantes, aparentando ter vários núcleos, que apresentam hipercromatismo. Caso o estudo microscópico de rotina não seja elucidativo, pode-se solicitar exame do material colhido por meio de imunofluorescência, que revela anticorpos limitados à substância intercelular do epitélio e depósito intercelular de IgG. Prognóstico: reservado. Na maioria dos casos é controlado, com proservação criteriosa, todavia pode recrudescer e causar danos de monta ao organismo, até́ a morte. Tratamento: corticoides, imunossupressores, antibióticos e antifúngicos para as complicações infecciosas. Distúrbios decorrentes do tratamento: é comum o aparecimento de candidíase bucal, entre outros. Penfigoide benigno de mucosa É uma doença bolhosa que aparece na mucosa bucal sem causa aparente. Etiologia: desconhecida. Como os pênfigos, pode estar relacionado com alterações autoimunológicas Características clínicas: bolhas de menor tamanho que as do pênfigo vulgar, únicas ou múltiplas, principalmente na mucosa gengival, que rapidamente ulceram. Critérios para diagnóstico: Sinal de Nikolsky: negativo, na grande maioria dos casos. Biópsia: histopatológico revela bolha subepitelial não acantolítica. Imunofluorescência direta: positiva. Imunofluorescência indireta: na maioria dos casos, negativa. Prognóstico: bom. Tratamento: corticoides de uso tópico. Lúpus eritematoso. É uma doença sistêmica, uma colagenose ou, ainda, uma doença autoimunológica, que ocorre na boca sob a forma de úlcera, em geral acompanhada de erupções na pele da região zigomática bilateral: “asa de borboleta”. Etiologia Alteração autoimunológica decorrente da perda de tolerância imunológica a uma série de autoantígenos. Manifestações clínicas Úlceras rasas, com projeções brancas filiformes (em raios de sol) nos lábios, palato duro e mole e mucosa jugal (Figuras 20.4 a 20.7), acompanhadas em geral de lesões caracterizadas por “asa de borboleta” (Figura 20.4), que são placas e erosões na região malar e no dorso nasal, assim como na pele do lábio. As lesões de pele geralmente aparecem nas áreas expostas à luz: punhos, mãos e colo. Critérios para diagnóstico Aspectos clínicos Pesquisa de células L.E. no sangue Pesquisa de fatores antinucleares (FAN) Prognóstico Reservado. Em princípio, o paciente pode conviver com a doença de forma crônica e controlada, mas pode ser fatal em longo prazo, por comprometimento de órgãos ou mesmo em curto prazo (coma lúpico). Se controlado, o paciente convive com episódios de melhora e piora. Tratamento Corticoides tópicos e sistêmicos Antimaláricos (cloroquinas)