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Da Modernidade à Pós-Modernidade

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73
ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
Unidade II
5 DA MODERNIDADE À PÓS-MODERNIDADE: NOVAS PRÁTICAS SOCIAIS E 
NOVA LINGUAGEM
O período atual, chamado por alguns autores de pós-moderno, novo capitalismo e capitalismo 
tardio, possibilita processos intrínsecos relativos à linguagem, os quais afetam radicalmente o discurso 
globalizado. Essas características históricas precisam ser desveladas para que o estudo linguístico, na 
perspectiva discursiva crítica, seja viabilizado.
Para se aprofundar no assunto, o leitor deve refletir sobre as mudanças sociais e os desenvolvimentos 
que afetam a vida das pessoas no início do século XXI e sobre a maneira de nomear e caracterizar essa fase.
A fim de iniciar a reflexão, sugerimos que se atente aos autores que escrevem sobre o período 
mencionado e se aprofunde, na medida do possível, no estudo das obras de referência apontadas nesta 
revisão bibliográfica. De acordo com Giddens (2000), há três perspectivas sobre os questionamentos 
em causa:
• o fato de que vivemos em uma sociedade pós-industrial;
• a ideia de que atingimos um período pós-moderno;
• a teoria a respeito do fim da história.
O início do século XXI, segundo Giddens (2000), é apontado por alguns observadores como momento 
de transição para uma nova sociedade, que não se assenta essencialmente na industrialização. Estaríamos 
entrando numa fase de desenvolvimento que iria muito além dessa era. A chegada de uma sociedade 
pós-industrial torna ultrapassada a antiga ordem industrial, pelo desenvolvimento de uma nova ordem 
social, baseada no conhecimento e na informação.
Para o autor, essas ideias subestimam o grau com que a ocupação de serviços está implantada na 
produção fabril e realçam em excesso o papel dos fatores econômicos, estabelecendo a tese de que 
tal sociedade é consequência dos desenvolvimentos da economia, os quais conduzem a mudanças em 
outras instituições.
Exemplo de aplicação
Sugerimos que reflita sobre estes pontos:
• Quais são os desenvolvimentos relevantes que afetam nossa vida neste início do século XXI?
• Como nomear e caracterizar esse período?
74
Unidade II
Lima (1998), ao citar o pensamento de Rouanet, faz algumas considerações a respeito da política 
no mundo pós-moderno. O autor afirma que ela está voltada para a sociedade civil e busca conquistar 
objetivos de grupos ou segmentos da sociedade, colocando-se assim em oposição à política moderna, 
que estava voltada para o Estado e buscava conquistar ou manter o poder estatal.
A política pós-moderna apresenta um indivíduo que cede seu lugar aos grupos e cujas finalidades 
não são mais universais – tornam-se micrológicas. A política especifica-se, passando a ser atributo de 
quem faz parte de campos setoriais de dominação: a dialética homem/mulher, antissemita/judeu, etnia 
dominante/etnias minoritárias.
Extinguiram-se os grandes atores políticos universais. Não existe mais um poder central localizado 
no Estado, mas um poder difuso, que estende sua rede por toda a sociedade civil. Desse modo, há uma 
pós-modernidade social que se dá a conhecer na vida cotidiana pela onipresença do signo, do simulacro, 
do vídeo e da hipercomunicação.
É necessário salientar que o período da pós-modernidade apresenta as ameaças ecológicas que a 
humanidade tem de enfrentar – ameaças globais, que são um perigo para o planeta. Os três principais 
tipos de ameaça ao ambiente são a produção de desperdícios, a poluição e o esgotamento de reservas 
minerais, desencadeados pelo desenvolvimento e pela expansão global das instituições sociais ocidentais 
e associados à importância dada ao crescimento econômico.
O mundo da modernidade tardia, na visão de Giddens (2002), vai além das fronteiras das atividades 
pessoais e dos compromissos individuais, estando pautado por riscos e perigos, os quais devem ser vistos 
não como momento de crise, mas como estado de coisas mais ou menos permanente. Esse pensamento 
é complementado pelas questões de insegurança, incerteza e periculosidade vivenciadas pela sociedade 
contemporânea, como:
• instabilidade em relação ao emprego;
• grande difusão da criminalidade;
• ataques terroristas;
• crise econômica mundial;
• desenvolvimento da internet como rede de conexão planetária.
 Observação
A internet, ao mesmo tempo que disponibiliza conhecimento, veicula os 
acontecimentos mundiais em tempo real e possibilita transações comerciais 
mais rápidas, instaura um novo paradigma em relação à identidade por 
intermédio de uma cultura da simulação, na qual se valoriza, sobremaneira, 
a representação do real (e não a realidade) e por meio da qual inimigos 
virtuais invadem nossas máquinas e, mais uma vez, nos fragilizam.
75
ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
De acordo com Rouanet (1993), há um ressentimento contra o modelo civilizatório que deu contorno 
à modernidade, o Iluminismo, que em síntese visava a autoemancipação da humanidade, por meio de 
valores e ideais consubstanciados em tendências como racionalismo, individualismo e universalismo.
• Racionalismo: implicava a fé na razão e na ciência. Desse modo, deixava para trás o obscurantismo, 
libertando a consciência humana do jugo do mito e usando a ciência para tornar mais eficazes as 
instituições econômicas, sociais e políticas.
• Individualismo: buscava a emancipação do ser humano por meio da individualização. O homem 
valia por si mesmo, e não pelo estatuto que a sociedade lhe outorgava.
• Universalismo: partia de postulados gerais sobre a natureza humana. Dirigia-se a todos os homens, 
independentemente de raça, cor, religião, sexo, nação ou classe, e combatia os preconceitos 
causadores de guerra e de violência.
Ainda segundo Rouanet (1993), embora o projeto iluminista tivesse propostas emancipatórias, é 
óbvio que, para sua concretização, teve de recorrer a métodos tão coercitivos quanto os do passado. 
Portanto, seria possível dizer que a pós-modernidade rebela-se contra o projeto iluminista fracassado.
 Saiba mais
Sobre esse tema, consulte a obra a seguir.
MORENO, L. V. A.; ROSITO, M. M. B. (org.). O sujeito na educação e 
saúde: desafios na contemporaneidade. São Paulo: Centro Universitário São 
Camilo; Loyola, 2007.
Exemplo de aplicação
Para dinamizar seu aprendizado, sugerimos que realize uma pesquisa e escreva um pequeno texto 
sobre estas questões:
Se estamos vivendo numa sociedade pós-industrial, como era a sociedade industrial? Quais eram 
as suas características? Como ela contribuiu para o sistema de produção da sociedade? O que uma 
sociedade pós-industrial traz de novidade para as relações sociais cotidianas? Como a sociedade 
pós-industrial é reconfigurada? O que seria um período pós-moderno?
A crise que vivemos na pós-modernidade afeta, ao mesmo tempo, os comportamentos econômicos, 
as relações sociais e as subjetividades individuais.
76
Unidade II
Se é verdade que um período de equilíbrio relativo, crescimento contínuo, políticas transparentes 
e instituições legítimas faz com que um conjunto de categorias seja partilhado pelo maior número de 
pessoas, não é menos verdade que a ruptura desse equilíbrio instaure uma situação de crise, que provoca 
mudança de normas, modelos e terminologia, ocasiona desestabilização de referências, denominações 
e sistemas simbólicos anteriores, e em última análise toca numa perspectiva crucial, a da subjetividade, 
ou seja, do funcionamento psíquico e das formas de individualidade (DUBAR, 2006).
Em relação às desigualdades sociais, dados do Relatório de Desenvolvimento Humano de 1998, 
coordenado pelas Nações Unidas, apontam a globalização como elemento responsável pelo aumento da 
desigualdade entre os países e dentro deles, conforme mostra Avelar (2001, p. 32):
 
Em 1960, a renda dos 20% da população mundial referentes aos países ricos 
era 30 vezes maior que a dos 20% mais pobres; em 1995 essa taxa aumentou 
para 82 vezes. Portanto, os ultrarricos estão deixando gradualmente para trás 
o resto do mundo, sua grande riqueza contrastando com as baixas rendas da 
maioria dospaíses em desenvolvimento. As três pessoas mais ricas do mundo 
têm ativos que superam o PIB conjunto de 48 países menos desenvolvidos.
Numa perspectiva relacionada às questões identitárias, é possível estabelecer um diálogo com 
Leite (2007, p. 351), quando o autor aborda o pensamento de Lacan sobre a pós-modernidade, a qual 
se configura na “desestruturação dos saberes estabelecidos, no anonimato do modo de vida atual, 
produzindo laços sociais desarrumados e uma individuação extremada”. Essas características dão origem 
a um sujeito sem referência e sem valores pessoais, que transita em uma civilização marcada pelo 
discurso da globalização. A única coisa que vale é a lei do mercado.
Nesse contexto, o sujeito pós-moderno procura sua completude no consumo de objetos. Segundo 
Leite (2007), nesse período, caracterizado pela ausência de paradigmas, o saber muda e, juntamente 
com ele, muda o sujeito, constituído a partir desse mesmo saber, como mostram as figuras do sujeito 
definido historicamente.
Jenkins (2009) afirma que vivemos atualmente num mundo em que toda a história relatada a 
alguém passa por inúmeros veículos: TV, cinema, celular etc. O fluxo dessa história, portanto, é moldado 
por decisões tomadas tanto pelas companhias que produzem o conteúdo quanto pelos sujeitos que o 
recebem. O autor chama esse estado de produção e difusão da informação de cultura da convergência.
Assim, o conteúdo idealizado pelo produtor é apenas uma parte do processo e, muitas vezes, não é a 
principal. Um programa de TV, por exemplo, depois de criado, será reeditado e redistribuído na internet. 
Com certeza, o público vai falar sobre ele em diferentes redes sociais, e novas histórias serão escritas a 
partir dele. O conteúdo original torna-se apenas um ponto de partida, com base no qual o consumidor 
cria novas experiências. O foco, portanto, está em histórias conhecidas como transmidiáticas: em cada 
mídia distinta, a história ganha uma nova camada, que nos conta algo que não saberíamos assistindo 
apenas ao programa na TV.
77
ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
Ainda segundo Jenkins (2009), estamos na época da cultura participativa. Essa vontade de participação 
das pessoas, impulsionada pelo avanço da tecnologia, provoca uma mudança de comportamento: antes, 
apenas recebíamos; atualmente, produzimos e participamos. Isso muda radicalmente nossa vida, porque 
a comunicação está em tudo que realizamos.
Jenkins (2009) observa que podemos acompanhar a rotina de nossos filhos enquanto trabalhamos, 
mediante um vídeo deles veiculado pelo celular. Essa nova abordagem da comunicação alterou, 
inclusive, o modo como escolhemos os políticos. O autor cita a eleição de Barack Obama, que divulgou 
sua campanha em todas as mídias sociais possíveis, e isso é significativo se notarmos que ele ganhou as 
eleições, enquanto seu opositor, John McCain, que não usou a internet, não foi eleito.
Conhecendo esses elementos históricos constitutivos da era da globalização, podemos investigar 
com maior propriedade e acuidade os processos discursivos que aí se instauram.
 Observação
Até aqui, buscamos contextualizá-lo sobre as principais características 
da organização da sociedade pós-moderna e como ela atinge as relações 
sociais e a vida dos indivíduos em sociedade.
As transformações decorrentes da informatização na era pós-moderna também são discutidas por 
Lyotard (2004), no momento em que o filósofo analisa o estatuto do saber na sociedade pós-industrial. 
A premissa fundamental do autor é a ideia de que o saber mudou a partir das décadas de 1960 e 1970.
Antes, ele fazia parte da formação de cada indivíduo, para que este se tornasse um cidadão 
participante. Assim, o indivíduo entregava-se ao processo de interiorização do saber. A escola e 
os professores eram os donos do saber universal e os principais responsáveis pela transmissão do 
conhecimento aos alunos, os quais, por definição, tinham um saber incompleto. O desnível justificava 
a autoridade do professor e a obediência do aluno.
A partir da informatização, o saber passa a viver uma explosiva exteriorização, tornando-se 
abundante e acessível. De modo geral, já não há mais desnível entre professor e aluno quanto à 
informação. O desnível ocorre no modo de utilização do conhecimento. O saber perde sua condição 
de uso e passa a ter um valor de venda, vinculando-se a questões do poder econômico e político, ou 
seja, ele é a moeda que define, na cena internacional, os jogos hegemônicos (entre as nações e entre 
as empresas multinacionais).
Bauman (2001) afirma que fluidez ou liquidez são as metáforas mais adequadas para caracterizar 
o atual estágio da modernidade. Referindo-se ao que chama de modernidade líquida, e aludindo à 
célebre frase sobre derreter os sólidos do Manifesto comunista, de Marx e Engels, o autor afirma que
 
78
Unidade II
os poderes de derretimento da modernidade afetaram primeiro as 
instituições existentes, as molduras que circunscreviam o domínio das 
ações-escolhas possíveis, como estamentos hereditários com sua alocação 
por atribuição, sem chance de apelação (BAUMAN, 2001, p. 3).
Giddens (1991) fala sobre os discursos que circulam no período das novas tecnologias de informação 
e comunicação, e sobre o fato de que o universo de eventos que não compreendemos plenamente e 
que parecem estar fora de controle nos impõe um olhar para a natureza da própria modernidade. Uma 
interpretação descontinuísta da modernidade, em contraposição às teorias evolucionárias, revela um 
período em que as consequências da modernidade estão se tornando mais radicalizadas e universalizadas 
do que antes. O autor diz que os modos de vida produzidos pela modernidade
 
estão em descontinuidade com os tipos tradicionais de ordem social, tanto 
em sua extensionalidade quanto em sua intensionalidade, envolvendo o 
ritmo de mudança, o escopo da mudança e mesmo a natureza intrínseca 
das instituições modernas, como, por exemplo, o Estado-nação, as fontes 
de energia inanimadas e a transformação em mercadoria de produtos e 
trabalho assalariado (GIDDENS, 1991, p. 12).
O autor acrescenta que a alta modernidade ou modernidade reflexiva, longe de ser o lugar feliz 
e seguro suposto por algumas perspectivas sociológicas clássicas, é um mundo carregado e perigoso, 
envolvendo confiança e risco, em razão:
• da separação do tempo e do espaço;
• do desencaixe dos sistemas sociais;
• da ordenação e reordenação reflexiva das relações sociais pela contínua recombinação do 
conhecimento produzido e utilizado por indivíduos e grupos.
Nesse contexto, a confiança deve ser compreendida em relação ao risco, termo associado 
especificamente à época moderna. Citando Luhmann, Giddens (1991) diz que a confiança pressupõe 
a consciência das circunstâncias de risco como resultados inesperados decorrentes de nossa própria 
decisão. Advém da crença ou fé de que as coisas familiares permanecerão estáveis, podendo ser tomadas 
pelo indivíduo como referência ao considerar as alternativas para o curso da ação.
Essa característica faz com que a globalização seja vista como a totalidade a partir da qual se pode 
deduzir a profundidade e a extensão da nova configuração das linguagens em contexto midiático e os 
impactos decorrentes dela, reconfigurando as relações sociais.
A discussão que se segue tem como base a reorganização da sociedade globalizada sobre as 
questões de mídia, formas de mediação e configuração das relações espaciais e temporais, conforme 
as teorias que tratam do assunto, estudadas por Ormundo (2007), Wetter (2009) e Ormundo e Wetter 
79
ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
(2012). Vamos à revisão bibliográfica feita pelas autoras com foco na configuração da linguagem na 
sociedade globalizada.
As autoras dizem que a forma de circulação da linguagem no ambiente do novo capitalismo 
apresenta-se em um movimento de (des)marcação das relações espaciais e temporais, conforme 
apontado por Giddens (1991). O conceito de tempo-espaço, tão bem delimitado nas sociedades 
anteriores,foi esvaziado na pós-modernidade, para o que contribuíram as novas tecnologias.
Giddens tratou disso por meio do conceito de desencaixe, ou seja, o deslocamento das relações 
sociais de contextos locais de interação e sua reestruturação por meio de extensões indefinidas de 
tempo-espaço, o que interfere profundamente na forma como a linguagem se reconfigura no período 
do novo capitalismo.
De acordo com Giddens, a vida moderna – período iniciado no século XVIII – produziu mudanças 
profundas, que alteraram substancialmente todos os tipos tradicionais de ordem social. Apesar de entender 
que mudanças aconteceram em outras fases da história da sociedade, para o autor, nenhuma delas teve 
um impacto tão dramático e abrangente como o das mudanças dos últimos três ou quatro séculos.
Pensemos no modelo de comunicação em tempo real. Indivíduos espacialmente separados podem 
interagir sincronicamente, mesmo que cada um esteja em continentes diferentes, distanciados por 
milhares e milhares de quilômetros e em fusos horários distintos. Essa facilidade de circulação da 
comunicação possibilitou maior interação na forma como os sujeitos se relacionam socialmente.
Uma das aplicações do conceito de desencaixe desenvolvido por Giddens tem a ver com o modo 
como as relações pessoais vêm se reconfigurando. No mundo atual, as pessoas, em suas atividades 
sociais, devem a todo momento provar seu conhecimento e reconhecimento pelo grupo. O especialista 
é levado constantemente a reforçar diante do leigo o seu saber, o que causa uma grande procura 
por informações.
Giddens também fala dos conceitos de desterritorialização e reterritorialização. Trata-se de uma 
reorganização das fronteiras físicas, administrativas, jurídico-políticas e epistemológicas, e concorre para 
que determinadas maneiras de pensar, agir e sentir se tornem universais. Por um lado, isso consolida 
a globalização dos mercados e a produção flexível do capitalismo atual; por outro, contribui para a 
transformação das formas de sociabilidade e solidariedade entre os indivíduos e grupos, assim como da 
relação destes com o Estado, a sociedade e a natureza.
Giddens diz que a desterritorialização manifesta-se tanto na esfera da economia como na da política 
e da cultura. Ianni (1993) observa que todos os níveis da vida social, em alguma medida, são alcançados 
pelo deslocamento ou pela dissolução de fronteiras, raízes, centros decisórios e pontos de referência. 
Afirma que “desterritorializar significa dissolver ou deslocar o espaço e o tempo” (IANNI, 1993, p. 100).
Harvey (apud CASTELLS, 1999) assinala que concepções temporais e espaciais objetivas são 
necessariamente criadas por meio de práticas e processos materiais, os quais servem para reproduzir a 
vida social, e que o tempo e o espaço não podem ser entendidos independentemente da ação social.
80
Unidade II
No paradigma tecnológico informacional desenvolvido por Castells (1999), a competitividade dos 
territórios não advém da disponibilidade de recursos naturais e energéticos, da existência de uma base 
industrial herdada ou da posição geográfica, mas da capacidade de criar e intensificar sinergias entre 
agentes econômicos, educacionais e científicos.
Segundo Borja e Castells (1997), as estratégias de desenvolvimento local devem contemplar as 
exigências para a inserção competitiva, principalmente no que diz respeito:
• à infraestrutura adequada, no sentido de acesso a serviços essenciais;
• a um sistema de comunicações que assegure a conectividade do território aos fluxos globais de 
pessoas, informações e mercadorias;
• à existência de recursos humanos capazes de produzir e gerenciar no novo sistema 
técnico-econômico.
Thompson (1998, 2002), por sua vez, fala sobre o advento das telecomunicações, o que configura 
uma disjunção entre o espaço e o tempo na transmissão da informação e do conteúdo simbólico, 
levando à descoberta da simultaneidade não espacial e afetando as maneiras pelas quais os 
indivíduos experimentam as características de espaço e tempo da vida social. Para o autor, há três 
tipos de interação:
• interação face a face;
• interação mediada;
• quase interação mediada (quase interação midiática).
De acordo com Thompson, a quase interação mediada consiste na extensa disponibilidade de 
informação e de conteúdo simbólico no tempo e no espaço; na disseminação no tempo e no espaço; no 
estreitamento das deixas simbólicas; na produção de formas simbólicas para um número indefinido de 
receptores potenciais; no caráter predominantemente monológico.
Com o surgimento da quase interação mediada como modo significativo de intercâmbio social nas 
sociedades contemporâneas, ocorreu a transformação da natureza da publicidade e da visibilidade de 
um indivíduo ou evento. Até então, antes do desenvolvimento da mídia, o público – o visível ou acessível 
a outros, que difere do privado, o invisível, desempenhado secretamente por um círculo restrito de 
pessoas – ligava-se à partilha de um local comum, potencialmente de caráter dialógico. Com o advento 
dos meios de comunicação, criaram-se novas formas de publicidade, não mais ligadas à partilha de um 
lugar comum, mas sem substituí-la, ampliando-a e transformando-a. É a isso que Thompson chama de 
publicidade midiática.
81
ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
Quanto à organização social da quase interação mediada, Thompson apresenta duas regiões da 
ação interativa: a região frontal e a região de fundo. A região frontal pode ser entendida como certas 
suposições e as características físicas do ambiente em que ocorre a ação. Já a região de fundo é 
aquela que comporta ações e expressões consideradas inadequadas. Nela, o agente social relaxa e tem 
comportamentos incompatíveis com as utilizadas na região frontal.
Tal ação interativa, que Fairclough (2003a) e Chouliaraki e Fairclough (1999) chamam de ação a 
distância, é um dos traços da globalização que facilitam o exercício do poder; é a possibilidade de ações 
transcenderem diferenças no espaço e no tempo, unindo eventos sociais e práticas sociais diferentes, 
por meio de alguma tecnologia de comunicação. É a (inter)ação mediada. Os autores consideram as 
mídias de massa parte do aparelho de governância, em que um gênero de mídia, como os jornais, se 
insere num processo altamente complexo de recontextualização e de transformação de outras práticas 
sociais, como política e governo, presentes em textos e em interações de diferentes práticas – a vida 
cotidiana, por exemplo.
Um exemplo recorrente de como acontece a dissolução do sujeito estável da modernidade, autônomo 
e crítico, é a transformação operada pela passagem da informação impressa à informação eletrônica 
em tempo real.
Temos, assim, uma nova forma de interação, um fluxo de mensagem unidirecional, com uma quase 
participação. Os receptores elaboram e reelaboram as mensagens recebidas através dos meios de 
comunicação de massa, passando-as aos receptores secundários. Dessa maneira, vemos o que Thompson 
(1995) chama de mediação ampliada, para a qual a capacidade de gerenciamento da visibilidade se 
faz essencial. Com esse quadro, torna-se difícil aos que exercem o poder controlar e restringir o acesso 
à informação.
Na perspectiva da análise de discurso crítica (ADC), recorremos a Chouliaraki e Fairclough (1999) 
e à discussão que apresentam sobre escala e reescala, em uma perspectiva discursiva e social, com 
foco nas questões de linguagem. Os autores analisam os espaços e as práticas sociais, em que pessoas, 
como cidadãos, dialogam sobre questões de interesse comum, de modo que possam afetar a política e 
provocar mudança social. De acordo com a ADC, falar em esferas públicas como práticas sociais significa 
que, apesar de terem um momento discursivo, elas não são simplesmente discursivas; são práticas de 
ação social e política, conjunturas em que pessoas reúnem recursos para fazer algo sobre questões ou 
problemas. Nelas, dialogar é uma atividade primária.
Segundo Chouliaraki e Fairclough, com a pluralidadee a fragmentação da vida social da modernidade 
tardia, a literatura da pós-modernidade enfatiza a diferença social. Os autores mostram que isso se 
reflete nos processos linguísticos pela fragmentação e pela diferenciação.
O período da pós-modernidade é retratado em Chouliaraki e Fairclough como sociedade tardia. 
Recentes análises sugerem que, em vez de uma esfera pública simples e unitária, haveria nessa sociedade 
muitas esferas públicas, plurais e inacabadas e de fronteiras permeáveis, cujo diálogo se daria pelo 
trabalho da diferença.
82
Unidade II
Habermas (apud CHOULIARAKI; FAIRCLOUGH, 1999) concebe a esfera pública como um espaço 
social no qual os debates sobre as questões sociais e políticas são livremente direcionados a grupos 
de cidadãos fora das estruturas do Estado burguês, constituindo uma forma de usar a linguagem em 
público. Ou seja, essa esfera se configura como a esfera dos públicos.
Não há como discutir as questões de linguagem sem correlacioná-las com o modelo de sociedade 
derivado dos avanços tecnológicos, advindos da globalização e da expansão da internet na vida das 
pessoas. Isso interfere no âmbito público como espaço global e nos convida a discutir sobre o modelo 
de sociedade baseado nos modos de informação midiáticos. A explosão da internet na última década 
do século XX reconfigurou não só a linguagem, mas também a forma de produção das mídias, sob a 
interferência do avanço tecnológico de transmissão de dados via satélite.
Esse modelo de reconfiguração pode ser exemplificado por meio de ferramentas da sociedade 
tecnológica para criar novos softwares. Esses softwares desempenham um papel significativo tanto na 
circulação rápida de qualquer evento social que ocorra na aldeia global quanto na determinação de 
quem pode produzir e retransmitir a informação sobre qualquer evento social.
Poster (1996, 2000) reinterpreta os meios de comunicação mediante uma abordagem teórica 
centrada nos meios de informação e no desenvolvimento de uma teoria crítica que explique as 
iminentes reorganizações culturais advindas dos avanços tecnológicos dos novos meios de comunicação, 
especificamente daqueles advindos da organização da sociedade em rede por meio da internet.
 Observação
A abordagem teórica conhecida como teoria crítica está associada 
ao grupo de investigadores da Escola de Frankfurt. Ela representa a 
contracorrente no âmbito da pesquisa em comunicação.
A proposta de Poster está situada no que ele denominou segunda era das mídias. O autor defende 
que essa era está para a nossa época como os meios de produção estiveram para o final do século XIX, 
quando Marx elaborou sua teoria dos modos de produção.
 
Para uns, a classe operária, em quem a teoria marxista depositava tão grande 
esperança, foi em grande medida politicamente anulada pela mídia e, em 
sentido lato, incorporada na sociedade moderna como parte de uma massa 
maligna. Para outros, a sociedade moderna conseguiu uma integração da 
classe operária, em grande medida, sem recurso à repressão política explícita, 
mas mediante operações que Antonio Gramsci denominou de hegemonia 
(POSTER, 2000, p. 14).
Poster (1996) desenvolve uma teoria crítica da mídia com base em dois elementos fundamentais: o 
modo de informação e o modo de produção. Parte destas premissas:
83
ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
• Todas as relações sociais são transitórias e constituídas historicamente.
• O teórico constitui a realidade que analisa.
• O objetivo da teoria é revelar tanto as estruturas de dominação como o potencial libertador de 
todo e qualquer padrão de experiência linguística.
Em sua obra, Marx enfatiza o trabalho. Poster reconhece que o trabalho desempenha um papel 
importante na sociedade contemporânea, mas não lhe confere o mesmo grau de prioridade que Marx. 
Alguns motivos para isso:
• O conceito de trabalho é visto como inadequado para a análise das atuais situações de dominação.
• O modo de produção está centrado na forma como os objetos que satisfazem as necessidades 
humanas são produzidos e trocados, enquanto o modo de informação está voltado à maneira 
como os símbolos são usados para compartilhar sentidos e constituir objetos.
• A sociedade contemporânea, por meio da sofisticação tecnológica, caracteriza-se por diferentes 
modos de informação, que alteram radicalmente as inter-relações sociais.
Para os estudos linguísticos com foco na perspectiva da ADC, é interessante considerar como 
Ormundo (2007) tratou a proposta de Poster sobre o modo de informação na perspectiva da 
configuração da linguagem e da mudança social. Nesse trabalho, a autora investigou o processo 
de recontextualização de determinado evento social para o campo linguístico digital, tendo como 
exemplo a constituição da linguagem no campo jornalístico online. Ela verificou que os agentes 
sociais utilizam a linguagem como forma de poder para constituir-se na luta travada no campo 
jornalístico em que atuam. Com isso, pôde retratar o que foi abordado por Poster sobre a forma como 
a linguagem vem sendo alterada pelos sistemas eletrônicos de comunicação.
De acordo com Poster (2000, p. 44-45), o modo de informação é o conceito usado para designar
 
o modo como a comunicação eletronicamente mediada desafia e, ao 
mesmo tempo, reforça os sistemas de dominação emergentes na sociedade 
e cultura pós-moderna. […] Sustento que as comunicações eletrônicas 
constituem o sujeito de forma diferente das grandes instituições modernas. 
Se a modernidade ou o modo de produção significam práticas padronizadas 
que resultam em identidades autônomas e (instrumentalmente) racionais, 
a pós-modernidade ou o modo de informação indicam práticas de 
comunicação que constituem um sujeito instável, múltiplo e difuso. 
A superautoestrada de informação e a realidade virtual irão difundir o modo 
de informação a outras aplicações, ampliando a sua difusão ao inserir mais 
práticas e indivíduos no seu padrão de formação.
84
Unidade II
Outro ponto ressaltado por Poster é a relação entre linguagem e poder, em que o discurso é 
configurado como forma de poder, e a concepção de poder pressupõe a atuação por meio da linguagem. 
Discurso e poder são conceitos imbricados e inseparáveis, e esse é o primeiro contributo fundamental 
que Poster vai buscar nos estudos de Foucault.
Poster constrói sua discussão sobre as tecnologias da comunicação a partir de três pontos cruciais:
• a construção do sujeito na relação com as novas tecnologias;
• o tema do corpo;
• a pós-modernidade.
 Observação
Outra abordagem possível seria pensar a cultura de massas, conforme 
analisada por Theodor Adorno e Walter Benjamin. Poster opta pela 
tecnologia da comunicação por entender que essa abordagem tem sido 
amplamente omitida.
Para Poster (2000), os meios de comunicação de massa introduzidos no século XX, como 
telefone, rádio, televisão e internet, instauraram novos tipos de ação e de discurso. A vida cotidiana 
transformou-se radicalmente no último século devido aos avanços tecnológicos. Essas transformações 
distinguem, especificamente, a globalização e devem ser consideradas por meio dos discursos que 
determinam os sujeitos. Para compreender essa relação, é preciso estudar o papel da linguagem, que se 
reconfigura nas novas mídias. Será por meio do entendimento dos novos discursos que se instauram 
nesse meio que se poderá entender a constituição da linguagem.
Poster encara os sistemas de comunicação eletrônica como linguagens determinantes da vida dos 
indivíduos e dos grupos em todos os seus aspectos (social, econômico, cultural e político), muito mais do 
que acontecia na perspectiva do marxismo tradicional, em que funcionavam como simples dispositivos 
instrumentais, que em nada ou muito pouco alteravam as relações de poder.
Os meios e as formas de comunicação constituem, segundo o autor, tipos de discurso determinantes 
das relações de poder e de dominação nas sociedades contemporâneas. Poster (apud ORMUNDO, 2007, 
p. 71) defende como tese geral que “o modo deinformação decreta uma reconfiguração radical da 
linguagem, que constitui sujeitos fora do padrão do indivíduo racional e autônomo”.
Segundo Poster (2000), o sujeito familiar moderno é deslocado pelo modo de informação em 
favor de um que seja múltiplo, disseminado e descentrado. Essa concepção do sujeito tem a marca 
da globalização e da sociedade contemporânea, caracterizadas por instabilidade, flexibilidade 
e descentralização.
85
ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
 Lembrete
A noção de sujeito é diferente para a análise do discurso de linha 
francesa (AD) e para a análise de discurso crítica (ADC). Enquanto a AD 
considera o sujeito assujeitado à ideologia vigente, sem condições de 
mudança, a ADC tem uma visão mais flexível sobre o sujeito e sua relação 
com a ideologia – ele poderia transformá-la.
O autor exemplifica as diferenças em relação ao passado por meio do livro impresso. No processo 
de interação do produtor com o receptor, há um isolamento espaçotemporal entre eles devido à 
materialidade espacial da imprensa, à linearidade das frases, à estabilidade da palavra impressa na página 
e ao espaço ordenado de forma sistemática, por meio de letras pretas sobre um fundo branco. Isso tudo 
promove, segundo Poster, o afastamento, já que o produto é consumido no isolamento. Esse exemplo 
serve para demonstrar que a relação de autoridade é criada na modernidade pelo distanciamento entre 
quem produz e quem consome o produto.
Exemplo de aplicação
Com o avanço das novas tecnologias de informação e comunicação, houve reconfigurações 
no sistema de produção baseado nos modos de informação. Uma dessas reconfigurações foi a 
disponibilização do sistema de livros digitais. Reflita a respeito disso, correlacionando a superestrutura 
e as características de acesso dos livros digitais e dos livros impressos.
A proposta teórica de Poster sobre como o modo de informação entende as linguagens no ambiente 
tecnológico é contrária à teoria tradicional de como a informação circulava, conforme já vimos. 
A lacuna existente na imprensa entre produtor e receptor também aparece no ambiente tecnológico, 
mas há alteração no processo relacional devido à possibilidade de comunicação em tempo real e de 
interação entre os agentes envolvidos nessa relação, algo permitido pelas ferramentas próprias dos 
gêneros de comunicação dos websites.
A comunicação mediada pelo computador possibilita tanto a aproximação como o distanciamento 
entre os agentes envolvidos na situação comunicativa. Poster (2000, p. 73) diz que, nas comunicações 
eletrônicas, “a linguagem é entendida como performativa, retórica, como um veículo ativo na construção 
e no posicionamento do sujeito”. O agente do processo de comunicação mediado pelo computador 
aparece em Poster como alguém que se constitui enquanto um outro, pois está num ambiente dinâmico, 
sujeito a ser reconfigurado em diferentes pontos do espaço e do tempo.
Por meio das questões apontadas por Poster, verifica-se que a linguagem já não representa a 
realidade e não é uma ferramenta instrumental que enfatiza a racionalidade mecânica das estruturas 
sociais. A linguagem reconfigura a realidade.
86
Unidade II
Desse modo, as estruturas sociais são afetadas pela linguagem. Não é possível se manter imune a tal 
reconfiguração. A ADC fornece elementos teóricos para pensar essa mudança social no que se refere às 
alterações na linguagem no momento da globalização.
Norman Fairclough (2006) afirma que os meios de comunicação de massa desempenham um papel 
importante na constituição de novas escalas e na transformação das relações entre elas, na reescala 
das entidades espaciais, e na construção e consolidação da nova “dificuldade” entre um regime de 
acumulação e um modo de regulamentação social.
Segundo o autor, todos esses processos dependem da disseminação social de discursos, narrativas, 
ideias, práticas, valores etc. que os legitimem, da posição e da mobilização do público em relação a 
eles, e da geração de consentimento para que no mínimo se aceite a mudança. Fairclough (2006) 
apresenta cinco pontos para explicar resumidamente os meios de comunicação de massa e a mediação 
na globalização.
• Os meios de comunicação de massa são um elemento crucial na difusão de informação e de 
reações para a sua interpretação, assim como de novas estratégias, discursos, ideias, práticas, 
normas e valores para atividades econômicas, sistemas políticos, instituições sociais, organizações 
etc. Mensagens sobre todos os aspectos da vida social circulam globalmente.
• As mensagens são mediadas, o que significa que qualquer elemento da vida social é representado 
no meio de comunicação de massa e passa por códigos semióticos, convenções, normas e práticas 
de mídias específicas, sendo sua forma e seu sentido transformados no processo. A análise de 
discurso crítica pode contribuir para explicar esses códigos, convenções, normas e práticas.
• O domínio global de corporações da mídia transnacional e a conexão íntima com os centros de 
poder na política e na economia mostram que é possível usar os meios de comunicação de massa 
a fim de disseminar mensagens que concorram para estratégias particulares.
• O impacto dos meios de comunicação de massa depende da recontextualização da mídia. 
Características estruturais, históricas, institucionais, sociais e culturais, específicas e circunstanciais, 
moldam a recepção.
• A globalização dos meios de comunicação de massa tem contribuído para a construção de um 
público e uma opinião pública globais, igualando a esfera comum cosmopolita na qual são gerados 
debates, ações e mobilizações em uma base global. Entretanto, esse fenômeno ainda é limitado 
e emergente por várias razões, incluindo a continuidade da centralidade da escala nacional para 
a imprensa e a radiodifusão (broadcasting). A ADC pode produtivamente ser usada para mostrar 
como os meios de comunicação de massa constroem e contribuem para construir certos eventos 
globais e audiências como um público global.
87
ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
6 MUDANÇAS SOCIAIS E TECNOLÓGICAS: INTERAÇÃO MIDIÁTICA
Norman Fairclough (1995) ressalta a importância de compreender o papel dos meios de comunicação 
de massa para a mudança social, uma vez que as transformações dependem da influência desses 
meios, bem como das crenças, das práticas, dos valores, das atitudes, das identidades e da mediação. 
A experiência social das pessoas é uma complexa combinação de vivências não mediadas, que 
acontecem por interação direta com outras pessoas, e vivências mediadas, que moldam e direcionam 
a resposta ao outro.
Em uma sociedade globalizada, a informação circula em velocidade acelerada, em tempo real. Uma 
nova forma de divulgar a informação se constitui por meio dos avanços tecnológicos. Essa tecnologização 
da sociedade reconfigura as formas de interação através da comunicação midiática. Segundo Poster 
(2000, p. 52),
 
as novas tecnologias instalam a interface, “face entre as faces”; a face 
que insiste em lembrar-nos que temos “faces”, lados que estão presentes 
no momento do enunciado, e que não estamos presentes de uma forma 
simples ou imediata. A interface tornou-se um fator crítico para o êxito da 
internet. Para ser apelativa para muitas pessoas, a internet não pode ser 
apenas eficiente, útil ou proporcionar distrações: ela tem de apresentar-se 
de uma forma agradável.
Veja que, como proposto pelo autor, a reconfiguração da linguagem pelo modo de informação altera 
também as formas de interação – outro processo de mudança social e tecnológica. De acordo com 
Poster (2000, p. 52), a internet deve, além de eficiente, ser agradável, e por isso a interface reconfigura 
a relação máquina-usuário, por meio de um parecer “transparente”, ou seja, “não deve parecer uma 
interface, algo que está presente entre dois seres estranhos”. O autor afirma ainda que, ao mesmo tempo 
que a internet demonstra o seu lado fascinante pelo anúncio de novidades, deve encorajar a exploração 
das diferenças inerentesà máquina.
 Saiba mais
Ao tratar da língua e de questões como hegemonia linguística, entramos 
no âmbito da política linguística, vertente importante da nossa área. Leia 
sobre o tema na obra indicada a seguir.
CALVET, L.-J. As políticas linguísticas. Tradução: Izabel de Oliveira Duarte, 
Jonas Tenfen e Marcos Bagno. Florianópolis: Ipol; São Paulo: Parábola, 2007.
88
Unidade II
Poster diz que o problema da internet não consiste meramente na tecnologia, mas na mecânica, 
pois rompe a fronteira que há entre homem e máquina, visando criar mecanismos para atrair o homem 
à tecnologia com o propósito de transformar a máquina em equipamento já usado, e o homem em 
ciborgue (uma interligação com a máquina).
O conceito de mediação na proposta de Poster inclui a noção de comunicação feita por um meio 
cujas propriedades específicas afetam a natureza da comunicação. Esse meio intervém no processo a 
partir das ferramentas da internet, que alteram significativamente os gêneros de comunicação através 
de websites e novas mídias sociais.
Chouliaraki e Fairclough (1999) discutem a natureza textualmente mediada da vida social 
contemporânea. Segundo os autores, o discurso escrito é um discurso mediado no sentido de que um 
meio técnico é usado para aumentar o distanciamento espaçotemporal. Outras características do texto 
mediado são a ruptura de contextos de produção e recepção, a redução do conhecimento compartilhado 
e a redução do âmbito dos recursos simbólicos disponíveis para construir e interpretar significados.
Fairclough (2003a), com base nos estudos de Silverstone, usa o termo mediação como “movimento 
de significado” – de uma prática social a outra, de um evento a outro, de um texto a outro. Trata-se de 
um processo complexo, que se dá por meio da cadeia ou rede de textos transformados e transformativos. 
Tal rede envolve práticas sociais de diferentes domínios, campos ou escalas da vida social. Portanto, a 
capacidade de influenciar ou controlar processos de mediação é um importante aspecto do poder nas 
sociedades contemporâneas.
Os modelos de realidade linguística podem, a um só tempo, ser antagônicos na disputa pela 
hegemonia no campo da produção, mas estar em solidariedade orgânica na divisão do trabalho. Dessa 
forma, importa o papel dos agentes no campo. Castells (1999) definiu três pontos que permitem 
verificar esse papel:
• Produção: a ação da humanidade sobre a matéria, visando sua apropriação para transformá-la 
em benefício próprio.
• Experiência: a ação dos sujeitos sobre si mesmos, determinada pela interação entre as identidades 
biológicas e culturais e seus ambientes sociais e naturais.
• Poder: a relação entre os sujeitos que, por meio da produção e da experiência, vão impor a 
vontade de uns à de outros pelo emprego potencial ou real da violência física ou simbólica.
Ormundo (2007) analisa os pontos destacados por Castells. Diz que eles fornecem elementos para 
estabelecer a dinâmica das linguagens utilizadas no campo linguístico online por meio dos aspectos 
multimodais, hipertextuais, interativos e das relações existentes entre usuário e produtor, naquilo 
que este tem acumulado em produção, experiência e poder sobre o que enuncia, gerando capital 
simbólico para si.
89
ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
O avanço das novas tecnologias desencadeou discussões no meio acadêmico e na mídia sobre a 
forma como a sociedade em geral e as práticas de linguagem se consolidaram e ainda se consolidam no 
contexto da rede mundial de computadores.
Iniciamos o assunto pelas discussões acerca das linguagens na contemporaneidade que decorreram 
da revolução tecnológica e da emergência das novas tecnologias da informação e comunicação (NTICs). 
Da noite para o dia, elas possibilitaram aos sujeitos e instituições o acesso, em tempo real, a bancos 
de dados online, softwares e outras tecnologias cognitivas e provocaram mudanças profundas na 
maneira como a sociedade se reorganizou, tanto institucionalmente quanto linguisticamente. Com a 
revolução tecnológica e as NTICs, as relações sociais que estavam estabilizadas offline se reconfiguraram 
como novas práticas no campo linguístico online, devido à dinamicidade e à flexibilidade próprias do 
ambiente da rede.
Esse novo tipo de sociedade foi identificado por pesquisadores das teorias sociais do discurso 
como sociedade informacional, pós-modernidade, novo capitalismo, modernidade reflexiva e 
modernidade tardia.
Como definir a rede? Castells (2003) diz que a internet é um meio que permite a comunicação 
de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global. Fukuyama (2000) aponta duas 
características importantes da rede:
• Ela é diferente de um mercado, na medida em que é definida por suas normas e valores comuns. 
Isso significa que as trocas econômicas dentro de uma rede serão realizadas em bases diferentes 
daquelas das transações em um mercado.
• Ela é diferente de uma hierarquia, porque se baseia em normas comuns informais, não em uma 
relação formal de autoridade.
Castells (2003) observa que essa é uma das causas da proliferação das redes em todos os domínios 
da economia e da sociedade. Uma consequência disso é o que o autor definiu como desbancamento de 
corporações verticalmente organizadas e burocracias centralizadas, que são superadas em desempenho 
e se reestruturam com a comunicação em rede.
O autor acrescenta que apesar das vantagens em termos de flexibilidade, as redes têm de lidar com 
um grande problema: a considerável dificuldade em coordenar funções, em concentrar recursos em 
metas específicas e em realizar dada tarefa, dependendo do tamanho e da complexidade da rede.
Segundo Castells, a rede é um conjunto de nós interconectados. O autor diz que a formação de redes 
é uma prática humana antiga. Ao longo da história, as redes foram suplantadas como ferramentas 
de organização capazes de congregar recursos em torno de metas centralmente definidas. As redes 
eram o domínio da vida privada, em uma sociedade que apresentava hierarquias centradas no feudo 
do poder e da produção. Nos dias atuais, porém, elas ganharam vida nova por meio da introdução da 
informação e das tecnologias de comunicação baseadas no computador.
90
Unidade II
Castells afirma que a internet confere às redes de hoje grande vantagem em relação às redes do 
passado: elas saem de um âmbito centralizado e se constituem num ambiente com ferramentas de 
organização extraordinárias, com flexibilidade e adaptabilidade, o que para o sociólogo é essencial à 
sobrevivência e à prosperidade num meio em rápida transformação.
Nessa esfera mutante, os sujeitos participantes do processo, vinculados ao ambiente da web 
e usuários das linguagens do campo linguístico online, organizam-se em rede com o propósito de 
acumular capital social – ligado a informação, economia, política –, do qual dependem. Eles são mais 
flexíveis para atender às mudanças sociais e mais adaptados às transformações constantes do que 
aqueles que se encontram no campo linguístico offline.
Cabe lembrar que as redes mundiais de linguagens revelam uma característica extremamente 
significativa, que também se verifica em outras redes que se formam no interior do campo linguístico: o 
que motiva a reunião dos agentes é o interesse comum, visando atingir um fim específico. A flexibilidade 
do ambiente online se mostra ainda na migração de um gênero para outro com muita liberdade. Esse 
movimento marca a democratização e a transparência das decisões e funções sociais que motivam os 
sujeitos a se organizarem neste ou naquele grupo.
A nova estrutura social é baseada em redes e motivada por três processos que Castells (2003) apontou 
como independentes, mas que no final do século XX se uniram. São eles:
• a exigência da economia por flexibilidade administrativa e globalização do capital, da produção e 
do comércio;
• a demanda da sociedade por liberdade individual e comunicação aberta;
• a revolução microeletrônica, que possibilitou avanços extraordinários na computaçãoe nas 
telecomunicações.
Castells diz que esses fatores alteraram o modo de utilizar a internet. Ela deixou de ser uma 
tecnologia obscura, centrada no mundo isolado de cientistas computacionais, hackers e comunidades 
contraculturais, e se transformou em um instrumento importante para o estabelecimento de uma nova 
forma de sociedade – a sociedade em rede.
A configuração de uma sociedade em rede no ambiente da globalização desestrutura toda a 
forma mecanicista de organização da sociedade, surgindo assim uma nova economia e também novas 
práticas sociais.
O ciberespaço se estrutura como um modelo de sociedade digital. Segundo Lévy (2005), ele constitui 
um espaço aberto de comunicação para a interconexão mundial dos computadores e das memórias dos 
computadores. O autor analisa a sociedade digital sob a ótica da cibercultura, pois compreende que as 
mudanças sócio-históricas influenciaram a cultura do homem, acrescentando a ela valores e práticas 
surgidas com a virtualidade.
91
ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
 Observação
A palavra ciberespaço apareceu pela primeira vez na obra Neuromancer, 
de William Gibson, em 1984. É um livro de ficção científica cuja trama 
se desenvolve num mundo hipertecnológico, em que computadores 
são onipresentes.
Santaella (2004, p. 45) entende o ciberespaço “como um sistema de comunicação eletrônica global 
que reúne os humanos e os computadores em uma relação simbiótica, que cresce exponencialmente 
graças à comunicação interativa”. O conceito de ciberespaço em André Lemos (2004) aparece por meio 
de duas perspectivas:
• o lugar onde estamos quando entramos num ambiente simulado (a realidade virtual);
• o conjunto de redes de computadores, interligados ou não, em todo o planeta (a internet).
O autor observa que o ciberespaço é um não lugar, uma utopia em que se deve repensar a significação 
sensorial de nossa civilização com base em informações digitais, coletivas e imediatas. É um espaço 
imaginário e sem dimensões, um enorme hipertexto planetário, um universo de informações navegável 
de forma instantânea e reversível.
 Lembrete
A discussão sobre o ciberespaço nos convida a verificar, em termos de 
linguagem, o que ele apresenta de novo.
Nesse ambiente, há multimodalidade na maneira como a informação é disponibilizada – texto, 
imagem, som, vídeo – e os mais variados tipos de arquivo são trocados por um número incalculável de 
usuários ao redor do mundo, separados fisicamente uns dos outros, porém interligados e conectados 
nesse ambiente digital. Entrar na rede, afirma Santaella (2004), significa penetrar e viajar em um mundo 
paralelo, imaterial, feito de bits de dados e partículas de luz.
No ciberespaço, não há limite para “os fluxos de signos, os jogos de linguagem”, uma vez que estes 
ocupam o primeiro plano. Independentemente de classe social, raça ou idade cronológica, a interatividade 
cumpre o seu papel: colocar “a nu o verdadeiro caráter dialógico da linguagem” (SANTAELLA, 2004, p. 171).
De acordo com Giddens (1991), no ciberespaço, há uma reestruturação do âmbito espaçotemporal. 
Na Pré-História, predominava a comunicação oral, na qual as mensagens eram transmitidas na presença 
do receptor, ou seja, emissor e receptor partilhavam do mesmo espaço físico, do mesmo contexto 
sócio-histórico e do mesmo universo semântico. Com o surgimento da escrita, um novo portal 
comunicativo foi aberto. Tornou-se possível enviar mensagens para aqueles que estavam espacial e 
92
Unidade II
temporalmente distantes. Até mesmo informações e mensagens emitidas por pessoas que viveram 
em épocas anteriores à do receptor ou que estavam a milhas de distância dele passaram a poder ser 
transmitidas. Os participantes da comunicação não necessariamente partilhavam o mesmo espaço-tempo.
Com o incremento da tecnologia, outro portal comunicativo foi aberto. É claro que o termo 
tecnologia não abarca somente a invenção do computador nem a interconexão que se tornou possível 
por intermédio dele. Outras invenções surgiram com a tecnologia, como o telefone, a televisão, o 
video game e a biogenética, reconfigurando com isso as possibilidades comunicacionais. O hipertexto, 
a interatividade, as redes e fluxos globais se constituíram nesse período de avanços tecnológicos 
na globalização.
Desde o seu surgimento, a internet tem recebido as mais diversas críticas, entre elas, a de favorecer 
o isolamento humano. Sugeriu-se que os homens não mais primariam pelo contato face a face, 
substituindo-o pela comunicação virtual. Castells (1999) entende que esse comportamento social é, 
sim, caracterizado pelo individualismo, mas o individualismo em rede. Assim, o ser humano, voltado 
para seus próprios interesses, não está só, isolado de tudo e de todos; ao contrário, interage com outros 
(interação sem face) por uma rede de comunicação e compartilha com outros usuários assuntos e 
informações de seu interesse. Na realidade, a comunicação, em si mesma, se torna a própria meta dessa 
prática social.
Outra crítica dirigida à internet é a de enfraquecer os laços. A internet dá suporte a laços fracos no 
sentido de que “raramente se constroem relações pessoais duradouras” (CASTELLS, 1999, p. 108), pois 
as pessoas conectam-se e desconectam-se da rede, mudam de interesse, simulam ou encobrem sua 
real identidade ou migram para outros padrões online. Entretanto, apesar de sua efemeridade, Castells 
considera que o ciberespaço tem exercido um papel positivo na manutenção de laços fortes a distância. 
Caso típico disso são as relações familiares, fortalecidas com o uso da comunicação virtual.
Exemplo de aplicação
A partir do que foi discutido sobre laços fortes e laços fracos, reflita a respeito da configuração 
desses laços nas redes sociais – Facebook, Twitter, LinkedIn etc.
Ao analisar um dos efeitos da interatividade virtual, Castells (2003) chama a atenção para o 
surgimento de novos suportes tecnológicos para a sociabilidade: as comunidades virtuais. O autor define 
comunidades como redes de laços interpessoais que proporcionam sociabilidade, apoio, informação e 
um senso de integração e identidade social.
Castells observou o deslocamento da comunidade tradicional para a rede como forma de organizar 
a interação. As comunidades tradicionais fundamentavam-se no compartilhamento de valores e na 
organização social. Muitas delas eram baseadas substancialmente em raízes espaciais, na proximidade 
física – por exemplo, pessoas que moravam no mesmo bairro, na mesma rua; alunos que estudavam na 
mesma escola, na mesma sala etc. Ainda que não houvesse participação ativa naquela comunidade, o 
indivíduo, de certo modo, encontrava-se inserido nela por razões espaciais.
93
ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
Entretanto, “padrões espaciais não tendem a ter um efeito importante sobre a sociabilidade”, 
afirma Castells (2003, p. 106). Isso pode explicar a existência das comunidades virtuais, que nasceram 
de escolhas estratégicas de indivíduos e grupos sociais e familiares. Os usuários da rede selecionam 
os grupos virtuais de sociabilidade (comunidades) a que vão aderir e têm a prerrogativa de criar 
outros grupos voltados para os seus interesses. Portanto, as comunidades virtuais são “formas de 
sociabilidade construídas em torno de interesses específicos” (CASTELLS, 2003, p. 110).
Segundo Marcuschi (2005), as comunidades virtuais têm características distintas em relação às 
comunidades tradicionais. Por exemplo:
• a existência de membros, indivíduos que se associam livremente a elas;
• o relacionamento (os membros desenvolvem relacionamentos casuais e até mesmo amizades 
estáveis);
• a confiança e a reciprocidade generalizada;
• os valores e práticas partilhados;
• os bens coletivos;
• a durabilidade (os aspectos anteriores só se efetivarão se a comunidade tiver longa duração).
Poderíamos resumir as propriedades mencionadas em sequencialidade, interatividade e conteúdo 
comum. Logo, as comunidades virtuais fazem parte dos chamados gêneros participativos, preconiza 
o autor.Outro autor que discorre sobre o assunto é Bauman (2003). De acordo com ele, nos dias de hoje, o 
conceito de comunidade está associado ao que denominou tempos de desengajamento. Depois da 
Segunda Guerra Mundial, aqueles que tinham o poder não queriam ser regulados por outro e muito 
menos regular os outros. O que marca a incerteza por meio do desmantelamento dos panópticos marca 
também um percurso de liberdade.
As comunidades virtuais refletem de certa forma esse conceito de desengajamento, por meio 
das estruturas próprias do ambiente da rede, que possibilitam o deslocamento de modo interativo, 
dinâmico. Os participantes dessas comunidades transitam por esses lugares motivados por interesses 
próprios, livres.
Com relação às práticas discursivas no âmbito online, a princípio havia confusão quanto à forma 
como a língua se consolidava ali. Um dos debates mais acirrados sobre o assunto referia-se ao caos e à 
desordem com que os adolescentes usavam a língua, refletidos no “internetês”. O discurso construído para 
desprestigiar a forma de linguagem advinda das novas tecnologias consistia em afirmações generalistas 
do tipo “Isso vai acabar com a língua” ou “Os estudantes vão escrever tudo errado”.
94
Unidade II
Ao mesmo tempo que esse sentimento catastrófico repercutia na sociedade em geral, outro discurso 
era construído por especialistas em linguagem. Esse novo discurso consistia em mostrar que as formas de 
linguagem utilizadas pelos usuários da rede tinham explicações fonológicas, morfológicas e semânticas. 
Com isso, foi possível verificar avanços na discussão das linguagens próprias das novas tecnologias.
 Resumo
Nesta unidade, contextualizamos a sociedade pós-moderna, globalizada 
e tecnológica. Contemplamos a forma como essa sociedade está constituída 
segundo a perspectiva teórica da análise de discurso crítica (ADC).
Vimos que, no âmbito digital, a informação não chega à casa das pessoas 
após o fechamento do jornal; ela passa a circular no momento mesmo em 
que está acontecendo. A comunicação torna-se instantânea e planetária. 
A essa forma de organização social, Castells denomina sociedade em rede.
A comunicação desenvolvida no ambiente digital e a interface entre 
homem e máquina trouxeram mudanças significativas ao esquema clássico 
de comunicação. O emissor não exerce mais o papel de criador, de proprietário 
da mensagem. O receptor, por sua vez, deixa de ter uma postura passiva, 
estática. A mensagem só ganha significado sob sua intervenção.
O ciberespaço ampliou a comunicabilidade, produzindo maior interação 
entre os indivíduos. Não há mais distância que se interponha à comunicação. 
Usuários conectados por uma rede nesse ambiente virtual trocam todo tipo 
de informação e mensagem, construindo cada um o seu eu sob a influência 
do discurso do outro.
95
ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
 Exercícios
Questão 1. Leia o texto e a charge a seguir.
A língua também é importante para a realização dessa reestruturação e reescalonamento do 
capitalismo. O termo neoliberalismo pode ser entendido como um referente a projetos políticos 
que visam remover obstáculos (tais como Estados com fortes programas de assistência social) para 
o desenvolvimento do novo capitalismo. Como mostra Bourdieu, os discursos neoliberais são uma 
parte significativa dos recursos empregados na busca da concretização do projeto neoliberal. É nesse 
ponto que entra o meu exemplo: um aspecto particularmente importante do discurso neoliberal é 
o da representação da mudança na economia global difundida nas sociedades contemporâneas 
como inevitável e irresistível, sendo necessárias apenas a adaptação e a convivência com ela. O novo 
capitalismo é, então, uma rede de práticas novas, e parte dessa distinção reside na maneira como a 
língua atua dentro da rede – seus gêneros, discursos e estilos. Podemos distinguir três objetos de análise 
interconectados: dominação, diferença e resistência.
Primeiramente, devemos identificar quais gêneros, discursos e estilos são dominantes. Para ilustrar, 
poderíamos mencionar os gêneros reguladores da ação e da interação nas organizações (o tipo de 
linguagem que constitui o trabalho em equipe, a troca de ideias, as parcerias ou as avaliações); os 
discursos da economia neoliberal (inclusive as representações da mudança) disseminados e impostos 
internacionalmente por organizações como o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial 
de Comércio (com palavras-chave como livre-comércio, transparência, flexibilidade, qualidade); e os 
estilos de figuras-chave que devem assumir na nova ordem, empresários, gerentes, líderes políticos 
etc. Precisamos também considerar como esses gêneros, discursos e estilos são disseminados 
internacionalmente, reescalonados, reestruturados, em meio às áreas da vida social. O discurso e o 
gênero de negociação, por exemplo, fluem na vida familiar, militar, política e econômica.
FAIRCLOUGH, N. Análise crítica do discurso como método de pesquisa social científica. 
Linha d’Água, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 307-329, 2012.
Figura 13 
Disponível em: https://bit.ly/3JGxEVM. Acesso em: 14 fev. 2022.
96
Unidade II
Com base na leitura e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas e a relação proposta entre elas.
I – A charge produz um discurso contra o neoliberalismo ao revelar que o termo empreendedorismo, 
valorizado no discurso capitalista atual, escamoteia a exploração do trabalho.
porque
II – De acordo com o trecho de Fairclough, a implantação do projeto neoliberal depende da produção 
e da circulação de discursos neoliberais, que defendem a ideia de que a mudança na economia global 
nas sociedades contemporâneas é inevitável, sendo necessária a adaptação a ela.
Assinale a alternativa correta.
A) As afirmativas I e II são proposições verdadeiras, e a II justifica a I.
B) As afirmativas I e II são proposições verdadeiras, e a II não justifica a I.
C) A afirmativa I é uma proposição verdadeira, e a II é uma proposição falsa.
D) A afirmativa I é uma proposição falsa, e a II é uma proposição verdadeira.
E) As afirmativas I e II são proposições falsas.
Resposta correta: alternativa B.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa verdadeira.
Justificativa: a charge mostra o trabalhador sendo explorado pelo capitalista enquanto é chamado 
de empreendedor. A flexibilização das leis trabalhistas, a defesa das leis do mercado e o incentivo ao 
empreendedorismo são ideias defendidas pelo discurso neoliberal.
II – Afirmativa verdadeira.
Justificativa: segundo o texto, “os discursos neoliberais são uma parte significativa dos recursos 
empregados na busca da concretização do projeto neoliberal”.
As duas afirmativas são verdadeiras, mas a segunda não se estabelece como causa da primeira.
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ANÁLISE DE DISCURSO CRÍTICA
Questão 2. Leia os textos 1 e 2.
Texto 1
A internet é um ecossistema digital caracterizado por arquitetura descentralizada, multiplicação 
de fontes de emissão, disponibilização ininterrupta de dados, sons e imagens, utilização simultânea e 
interações singulares. Em sua impressionante variedade de usos, a rede mundial de computadores tem 
permitido experiências de produção e difusão informativa com sentido contra-hegemônico – isto é, de 
questionamento do neoliberalismo e da ideologia mercantilista da globalização, bem como de denúncia 
de seus efeitos antissociais. O propósito aqui é refletir sobre a emergência da comunicação alternativa 
em rede, de viés anticapitalista, que defende a liberdade de expressão e os direitos da cidadania. 
Significa avaliar discursos e dinâmicas editoriais que procuram romper com crivos e controles da mídia 
convencional. Significa também concentrar o olhar em práticas comunicacionais que se posicionam 
na contramão de uma época de midiatização das relações sociais, ao mesmo tempo que interpelam 
a síndrome consumista que exalta o exibicionismo, o excesso e o desperdício. Trata-se de conceber a 
internet como mais uma arena de lutas e conflitos pela hegemonia, vale dizer,de batalhas permanentes 
pela conquista do consenso social e da liderança cultural-ideológica de uma classe ou bloco de classes 
sobre as outras.
MORAES, D. Comunicação alternativa, redes virtuais e ativismo: avanços e dilemas. 
Revista de Economía Política de las Tecnologías de la Información y Comunicación, v. 9, n. 2, mayo/ago. 2007.
Texto 2
O conceito político de hegemonia pode ser útil quando aplicado à análise de ordens de discurso. 
Uma determinada estruturação social da diversidade semiótica pode ser hegemônica, tornar-se parte do 
senso comum legitimador que sustenta as relações de dominação. Mas a hegemonia, em seus períodos 
de crise, será sempre contestada em maior ou menor proporção. Uma ordem de discurso não é um 
sistema fechado ou rígido, é, na verdade, um sistema aberto posto em risco pelo que acontece em 
interações reais.
FAIRCLOUGH, N. Análise crítica do discurso como método de pesquisa social científica. 
Linha d’Água, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 307-329, 2012.
Com base na leitura e nos seus conhecimentos, avalie as afirmativas:
I – Os textos 1 e 2 apresentam discursos antagônicos, na medida em que o primeiro aborda a 
contra-hegemonia, e o segundo discute a hegemonia.
II – O texto 1 considera a internet uma arena em que podem circular discursos contra-hegemônicos, 
o que se relaciona com a ideia da possibilidade de contestação dos discursos legitimadores de dominação, 
apontada pelo texto 2.
III – De acordo com os textos, a internet é democrática e permite a expressão de diferentes discursos, 
sem a intenção de dominação de uma classe sobre a outra.
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Unidade II
É correto o que se afirma apenas em:
A) I e II.
B) II e III.
C) I e III.
D) II.
E) I.
Resposta correta: alternativa D.
Análise das afirmativas
I – Afirmativa incorreta.
Justificativa: os textos não apresentam discursos antagônicos (contraditórios).
II – Afirmativa correta.
Justificativa: de acordo com o texto 1, trata-se “de conceber a internet como mais uma arena de 
lutas e conflitos pela hegemonia, vale dizer, de batalhas permanentes pela conquista do consenso social 
e da liderança cultural-ideológica de uma classe ou bloco de classes sobre as outras”. O texto 2 aponta 
que “a hegemonia, em seus períodos de crise, será sempre contestada em maior ou menor proporção”.
III – Afirmativa incorreta.
Justificativa: nenhum dos dois textos afirma que não há intenção de dominação; pelo contrário, 
eles apontam a permanente disputa pela hegemonia.

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