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AÇÕES COMUNITÁRIAS Módulo Unidade Didática – O Ser Enfermeiro Professora Ma. Andrelisa Vendrami Parra Professora Esp. Claudenice Valente da Silva Professora Esp. Roberta Machado Pereira Dorneles Pag 127-166.indd 127 11/21/09 12:54:34 Apresentação Caro(a) acadêmico(a), Nesta unidade você conhecerá qual o conceito de enfermagem, a evolução desta profissão ao longo da his- tória até os dias atuais; conhecerá os campos de atuação profissional e as entidades de classe. Relembraremos conceitos estudados anteriormente como ética e moral; conhecerá também as leis que re- gulam a atuação do enfermeiro e dos demais membros da equipe de enfermagem e alguns dilemas encontra- dos em nossa profissão. Bom estudo! Professora Ma. Andrelisa Vendrami Parraz Professora Ma. Claudenice Valente da Silva Professora Esp. Roberta Machado Pereira Dorneles Pag 127-166.indd 128 11/21/09 12:54:34 129 U n id ad e D id át ic a – O S er E n fe rm ei ro AULA 1 A EVOLUÇÃO DA ENFERMAGEM ATRAVÉS DA HISTÓRIA ■ Conteúdo Conceito de enfermagem• Evolução da enfermagem através da história• Campos de atuação do enfermeiro• Entidades de classe• Desafios atuais para a enfermagem brasileira• ■ Competências e habilidades Conhecer a evolução da enfermagem através da história• Identificar como o passado influencia no presente e compreender a sua importância como enfermei-• ro neste processo Conhecer as entidades de classe da enfermagem e a sua importância na prática diária do enfermeiro• ■ Materiais para autoestudo Verificar no Portal os textos e as atividades disponíveis na galeria da unidade ■ Duração 2 h-a – via satélite com professor interativo 2 h-a – presenciais com professor local 6 h-a – mínimo sugerido para autoestudo Início de conversa Você escolheu a profissão de enfermeiro para exer- cer, e nesta formação irá construir novos conheci- mentos para executá-la de maneira a cumprir com o papel social, político, cultural e econômico. Por isso vamos iniciar conceituando o que é pro- fissão, visto que vários acadêmicos ainda não tiveram esta experiência. Inicialmente havia o conceito de profissão liberal que se distinguia das atividades manuais de homem servil, porque era entendida como a atividade inte- lectual do homem livre, tinha o sentido de desenvol- ver uma atividade específica e fundamentada em um saber, com autonomia de exercer seu trabalho sem subordinação de um empregador. Collière defendeu que profissão é uma atividade composta de um corpo de pessoas que obtiveram um título, por meio de uma formação, com vistas a exer- cer determinadas atividades. Ela entende que profis- são deve ser um conjunto de pessoas que exercem a Pag 127-166.indd 129 11/21/09 12:54:35 130 Unidade Didática — O Ser Enfermeiro mesma atividade, com base em um regulamento, e são organizadas em associações profissionais dotadas de um código de deontologia e instâncias coletivas para a definição de regras. Na década de 1980 muitos estudos foram desen- volvidos na Europa, objetivando analisar o modo pelo qual as profissões modernas sugiram no conti- nente, nos séculos XIX e XX. Na maioria dos casos, o Estado desempenhou papel ativo para institucio- nalizar algumas e reorganizar outras, tendo funcio- namento como principal empregador daqueles que tinham uma profissão. Nesse cenário entendemos que as profissões estão intimamente ligadas ao pro- cesso político formal, o que implica uma constante atividade política por parte de todas elas para garantir sua manutenção e evolução. De acordo com o Dicionário de Ciências Sociais da Fundação Getulio Vargas, profissão é uma ativi- dade econômica especializada, permanente e insti- tucionalizada legalmente, cujo status e cujos papéis sociais de seus agentes podem ser modificados no tempo e no espaço. Como podemos perceber o significado de pro- fissão é dinâmico, devendo ser entendido com um processo em permanente construção semântica, com mudanças contínuas, que acontecem de acordo com as exigências de cada época. Sabe por que o enfermeiro tem muita responsa- bilidade? Porque ser enfermeiro não é apenas cuidar, mas também é estar ao lado de uma pessoa doente, ser seu amigo e de sua família, ser a pessoa responsável pelos seus cuidados e às vezes até proporcionar a dor para que o cuidado e o tratamento sejam alcançados. Ser enfermeiro é teorizar a prática e agir cienti- ficamente para agilizar o cuidado e prevenir com- plicações. Ser enfermeiro é lidar com frustrações, anseios e conflitos de equipes, pacientes e famílias. Ser enfermeiro é prestar a assistência integral ao paciente, é dar banho, fazer curativo, fazer medica- ções, fazer exames, acompanhar resultados, oferecer apoio emocional e espiritual, identificar prioridades em atendimentos. Ser enfermeiro é prevenir doenças, é vacinar, é educar, é ensinar, é realizar campanhas para a pro- moção à saúde como contra tabagismo, alcoolismo, drogas, obesidade, entre outras. Ser enfermeiro é ser líder, é manter uma equipe trabalhando em harmonia com conhecimentos cien- tíficos e habilidades para realizar procedimentos sim- ples e complexos nos pacientes submetidos aos seus cuidados. Ser enfermeiro é trazer novamente à sociedade pessoas excluídas, é reabilitar deficientes para ativi- dades diárias, é lutar contra o preconceito e colocar pessoas especiais no convívio da sociedade. Ser enfermeiro é administrar empresas, clínicas, hospitais, postos de saúde, pessoas, é cuidar da saú- de de trabalhadores, é manter os equipamentos em manutenção para evitar acidentes. Falando em acidentes, ser enfermeiro é socorrer, é prestar cuidados em emergências fora do hospital, é estar em uma ambulância ou resgate e correr para socorrer alguém necessitando de cuidado imediato fora do hospital. Ser enfermeiro é cuidar de si mesmo, é ser cuida- doso, é cuidar para cuidar. Ser enfermeiro é ser tudo isso e mais um pouco. Sabe por quê? Porque a enfermagem é uma profissão que possui conhecimentos próprios, voltados para o atendimen- to do ser humano nas áreas de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde. A enfermagem realiza seu trabalho em um contexto mais amplo e coletivo de saúde, em parceria com uma equipe mul- Pag 127-166.indd 130 11/21/09 12:54:36 131 AULA 1 — A Evolução da Enfermagem através da História tiprofissional representada por áreas como medici- na, serviço social, fisioterapia, odontologia, farmácia, nutrição, psicologia etc. O atendimento integral à saúde pressupõe uma ação conjunta desses diferentes profissionais, pois, apesar do saber específico de cada profissão, existe uma relação de interdependência e complementari- dade (Brasil, 2003). A enfermagem é uma ciência humana que enfoca o cuidado ao ser humano em seu estado de saúde e/ou doença com o objetivo de reduzir e evitar tensões bio- lógicas, físicas, psicológicas e sociais (Lima, 2005). Hoje pela manhã, quando entrei na UTI para o meu plantão, encontrei o Sr. Antonio já sentado em uma cadeira. Que melhora de ontem para hoje! Achei muito bom! Porém, quando cheguei mais perto, ob- servei que ele não estava tão bem assim, sua pele fria, suada, voz trêmula, demonstrando fraqueza e choro- so, sentei ao seu lado e segurei a sua mão, permaneci ali por trinta minutos e observei que sua mão já não estava mais suada e nem fria, o choro já havia acaba- do e com uma voz forte me pediu um copo de leite. Neste momento entendi o que é cuidar! Com este exemplo acima, podemos perceber como o relacionamento humano conquista e conserva o es- tado de saúde, a enfermagem está voltada para man- ter este bem-estar de pessoas que apresentam neces- sidades relacionadas com as qualidades de vida e que estão preocupadas em preservar a saúde e combater as doenças (Lima, 2005). A prática da enfermagem, a cada dia que passa exige que os profissionais estejam maispreparados, não só em habilidades técnico-científicas, mas tam- bém humanísticas. A enfermagem cada vez mais de- monstra ser a ciência e a arte, buscando estar com os seres humanos com que atua e lutando para fa- zer uma diferença na assistência à saúde (Carraro, 1997). Segundo Geovanini (2002), “a enfermagem é a arte e a ciência do CUIDAR, necessária a todos os povos e todas as nações, imprescindível em época de paz ou em época de guerra e indispensável à preservação da saúde e da vida dos seres humanos em todos os níveis, classes ou condições sociais.” Você sabe como surgiu a profissão de saúde? A enfermagem surgiu do desenvolvimento e evo- lução das práticas de saúde no decorrer dos períodos históricos, frequentemente associada ao cristianis- mo e forma de oferecer caridade, porém este cui- dado prestado aos doentes seria uma característica da natureza humana que advém do período cristão (Martin et al., 1997). Para melhor entender a realidade histórica, as prá- ticas de saúde foram divididas conforme suas mu- danças significativas, como descrita por Geovanini (2002), a seguir: As práticas de saúde instintivas:• foram as pri- meiras formas de prestação de assistência, ca- racterizado pela prática do cuidar nos grupos nômades primitivos, tendo como as concepções evolucionistas e teológicas. A figura feminina possui o domínio dos meios de cura devido ao seu instinto materno, sendo ela a responsável pelos cuidados de velhos, crianças e doentes (Fi- gura 1). Fonte: http://www.alzheimermed.com.br/m3.asp?cod_pagina=1067 Figura 1 – Hygeia (Higiene) – A deusa da boa saúde. As práticas de saúde mágico-sacerdotais:• abor- davam a relação mística entre as práticas reli- giosas e de saúde primitivas desenvolvidas pelos sacerdotes nos templos. Época pré-hipocráticas onde as concepções sobre o funcionamento do corpo humano, seus distúrbios e doenças, mar- caram a fase empírica da evolução dos conheci- mentos em saúde (Figura 2). Pag 127-166.indd 131 11/21/09 12:54:37 132 Unidade Didática — O Ser Enfermeiro Fonte: http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2004/jusp690/pag08.htm Figura 2 – Opúsculo de Pedro Nava. As práticas de saúde no alvorecer da ciência:• inicia-se no século V a.C., estendendo-se até os primeiros séculos da Era Cristã. A prática de saúde, antes mística e sacerdotal, passa agora a basear-se na experiência, no conhecimento da natureza, no raciocínio lógico, que desencadeia uma relação de causa e efeito para as doenças. Aparece Hipócrates (Figura 3) que propõe uma nova concepção em saúde, dissociando a arte de curar dos preceitos místicos e sacerdotais, por meio da utilização do método indutivo, da ins- peção e da observação. Fonte: http://www.babroo.com/pensamiento.php Figura 3 – Hipócrates (460 a.C. – 377 a.C.). As práticas de saúde monástico-medievais:• esta época corresponde ao aparecimento da Enfer- magem como prática leiga, desenvolvida por re- ligiosos e abrange o período medieval compre- endido entre os séculos V e XIII. Foi um período que marcou a enfermagem como sacerdócio e não como prática profissional, devido a valores como abnegação, o espírito de serviço e a obediência (Figura 4). Fonte: http://clendening.kumc.edu/dc/rm/major_19th.htm Figura 4 – Hospital – Hotel Dieu Paris (651). As práticas de saúde pós-monásticas: corresponde • ao período que vai do final do século XIII ao iní- cio do século XVI. A retomada da ciência, o pro- gresso social e intelectual da Renascença e a evo- lução das universidades não constituíram fator de crescimento para a Enfermagem. Sob exploração deliberada, considerada um serviço doméstico, pela queda dos padrões morais que a sustentava, a prática de enfermagem tornou-se- indigna e sem atrativos para as mulheres de casta social elevada. Esta fase tempestuosa, que significou uma grave crise para a Enfermagem, permaneceu por muito tempo e apenas no limiar da revolução capitalista é que alguns movimentos reformadores, que par- tiram, principalmente, de iniciativas religiosas e sociais, tentam melhorar as condições do pessoal a serviço dos hospitais (Figura 5). Fonte: http://www.gutenberg.org/files/11956/11956-h/11956-h.htm Figura 5 – Hospital Necker (1778). Pag 127-166.indd 132 11/21/09 12:54:38 133 AULA 1 — A Evolução da Enfermagem através da História Até a Idade Média: os doentes eram vistos como merecedores da salvação divina e os hospitais eram destinados ao acolhimento das pessoas doentes e não à cura. As práticas de saúde no mundo moderno: ana-• lisam as ações de saúde e, em especial, as de En- fermagem, sob a ótica do sistema político-econô- mico da sociedade capitalista. Ressaltam o surgi- mento da Enfermagem como atividade profissio- nal institucionalizada. Esta análise inicia-se com a Revolução Industrial no século XVI e culmina com o surgimento da Enfermagem moderna na Inglaterra, no século XIX (Figura 6). Fonte: http://www.aadl.org/.../male-surgical-ward_300.gif.html Figura 6 – Hospital Pavilions, 1880. Por meio desta história, percebemos que o avanço da Medicina vem favorecer a reorganização dos hos- pitais. É na reorganização da Instituição Hospitalar e no posicionamento do médico como principal res- ponsável por esta reordenação, que vamos encontrar as raízes do processo de disciplina e seus reflexos na Enfermagem, ao ressurgir da fase sombria em que esteve submersa até então (Geovanini, 2002). Nesta época a imagem que a sociedade tem da en- fermeira é de uma mulher cristã e devotada ao atendi- mento daqueles que sofrem, que se manteve por mui- tos séculos, até que a cultura ocidental transformada pelo cientificismo substitui os dogmas e as crenças pelo conhecimento que se adquire por meio da pesquisa, da cognição e da correlação de saberes (Brasil, 2003). É neste momento que surge a Enfermagem Mo- derna, quando Florence Nightingale é convidada pelo Ministro da Guerra da Inglaterra para trabalhar junto aos soldados feridos em combate na Guerra da Cri- meia (Figura 7). Fonte: http://www.abennacional.org.br/.../nightngale.html Figura 7 – Florence Nightingale na Guerra da Crimeia em 1856. Desenhando este cenário da trajetória das influ- ências políticas, sociais e culturais na construção das profissões de saúde, é possível compreender como este processo é dinâmico e complexo e por esta ra- zão entendemos que este conhecimento favoreça di- retamente no seu envolvimento com uma profissão de saúde que tem história, que está em constante evolução e que é de fundamental importância para a sociedade. Completando nosso pensamento do processo de construção de uma prática profissional, apresenta- mos alguns requisitos concretos que torna uma ati- vidade ou ofício (de determinada área) em uma pro- fissão. Para Conway (1983) uma área para ser con- siderada uma profissão necessita preencher certos requisitos como ter: Autonomia sobre sua prática/trabalho profissional e, portanto, um corpo de conhecimento; Um sistema de valores e crenças estabelecido – Código de ética; Entidades de classe; Legislação referente à sua prática profissional; Condições de educar seus próprios membros. Estes itens são uma indicação de como vamos es- tudar a enfermagem brasileira, ainda neste capítulo. Vamos antes compreender a enfermagem no seu nas- cedouro na Inglaterra com Florence Nightingale. Pag 127-166.indd 133 11/21/09 12:54:40 134 Unidade Didática — O Ser Enfermeiro ENFERMAGEM PRÉ-NIGHTINGALIANA Na Idade Média como havia um alto índice de mor- talidade infantil e muitas perdas devido às guerras, devido à preocupação de perpetuação e sobrevivência do grupo e pelas características de gênero, a mulher recebeu o legado de cuidar. Viúvas e idosas experien- tes, auxiliadas pelas escravas, faziam os partos e cui- davam dos feridos e enfermos no domicílio. No século XI aconteceu as Cruzadas, expedições militaresorganizadas com o apoio da Igreja Católica e tinham por finalidade reconquistar o Santo Sepulcro, em Jerusalém, de domínio muçulmano que impediam a peregrinação de cristãos à Terra Santa. Além dos ob- jetivos religiosos, haviam outros interesses envolvidos: a nobreza feudal queria conquistar novas terras para ampliar as atividades mercantis no Oriente. Com o aumento de feridos decorrentes da Guerra a Igreja Católica com a ajuda da população começou a construir hospitais onde os monges militares pres- tavam o atendimento, estes primeiros enfermeiros ti- nham sua postura influenciada pela rígida hierarquia e disciplina existente na vida militar e religiosa. Porém no século XVI, ocorreu a Contrarreforma Protestante onde Martinho Lutero liderou um mo- vimento de contestação dos conceitos cristãos apre- sentados pela Igreja Católica, na Inglaterra foi criada a Inglesa Anglicana que confiscou todos os bens da Igreja Católica e expulsou seus religiosos, deixando uma lacuna nesta atividade de atender enfermos ins- titucionalizados. Desencadeando uma grande e prolongada crise nos hospitais e abrigos de pobres, doentes e órfãos, que não tinha quem os cuidassem, a saída naquele momento foi recrutar mulheres nas ruas e nas pri- sões para esta função, substituindo os religiosos que desempenham esta função. O Movimento do Renascimento que surgiu na Itália no século XII, expandiu para Europa Ocidental pro- movendo uma mudança importante para as mulhe- res que começaram a ocupar um papel mais ativo na sociedade, visto que tinha limitação cultural e social e apenas as mulheres da nobreza e as que buscavam a vida nos mosteiros recebiam instrução e estudos para desenvolver uma carreira intelectual ou espiritual. Telma, 2005 diz que as mudanças na prática de Enfermagem que ocorreram em meados do século XIX na Inglaterra e que iniciaram o desenvolvimen- to da enfermagem moderna, aconteceram no âmbito do discurso formal, elas foram baseadas na transfor- mação da pobreza em princípios de saneamento e compromisso institucional, propunham a mudan- ça do comportamento dos pobres em casa ou com clientes hospitalizados. A corporação médica já estava organizada e hie- rarquizada na expectativa de explorar um grupo pro- fissional, de preferência submisso o suficiente para não questionar suas intervenções terapêuticas, tudo em nome do suposto desenvolvimento científico do saber médico. Neste contexto Miss Florence apresenta sua im- portantíssima contribuição para a história da enfer- magem mundial. FLORENCE NIGHTINGALE Destacaremos neste momento alguns fatos da vida de Florence para contribuir com nosso entendimento do processo de construção da enfermagem profissão. Nasceu em 12 de maio de 1820, em Florência, Itá- lia, filha de ingleses; os pais transmitiram profundo senso de responsabilidade social e grande sensibili- dade para com os menos favorecidos. Segundo Carvalho, 1980 possuía uma inteligência incomum, determinada e perseverante em seus pro- pósitos, dominava com facilidade o inglês, o francês, o alemão, o italiano, além do grego e latim. Gostava de matemática, especialmente da estatística, que foi utilizada sabiamente em seu trabalho. Desde muito jovem manifestava em seu diário o interesse de auxiliar pessoas enfermas. Entretanto, havia uma barreira social que a impedia de seguir seu intento, pois os hospitais ingleses não eram conside- rados locais convenientes para moças de família. Por esta razão a família proporcionava viagens e uma vida social ativa para distraí-la e desviá-la de seu propósito. Em 1849 foi para Alexandria no Egi- to onde conheceu de perto o trabalho das Filhas da Caridade de São Vicente de Paula, depois visitou na Grécia um orfanato. Pag 127-166.indd 134 11/21/09 12:54:41 135 AULA 1 — A Evolução da Enfermagem através da História Aos 31 anos conseguiu vencer a resistência da fa- mília e foi autorizada a ir estudar na Instituição de Kaiserswerth, na Alemanha. Voltou para França obteve autorização oficial para completar seus estudos e obser- vações com as Filhas da Caridade para ver a prática da enfermagem e conhecer as comunidades religiosas. Retornou a Kaiserswerth indicada para trabalhar como supervisora da Instituição e depois foi convi- dada a trabalhar no Hospital King’s College. Nos anos de 1853 a 1856 ocorreu a Guerra da Cri- meia, uma disputa entre a Rússia e as forças aliadas da França, Inglaterra e Turquia, na Península da Cri- meia. Como em todos os combates as vítimas eram inúmeras a Rússia e a França tinham as religiosas para atender os doentes e feridos de seus exércitos, mas a Inglaterra contava apenas com alguns poucos homens sem nenhum treinamento para cuidar de seus soldados. Um jornalista fez uma ampla cobertura da situa- ção nessa guerra, causando uma mobilização social. Florence ao saber ofereceu seus serviços ao Ministro de Guerra, após recusa e resistência inicial foi aceita e recrutou 38 mulheres dentre milhares que manifes- taram interesse. O critério de seleção de Florence era mulheres anglicanas, católicas, alfabetizadas, com boa índole e que tinha o interesse em atender enfermo. Ao chegar à base militar foram recebidas com re- sistência pelos militares e médicos que achavam que a presença de mulheres na guerra era inconvenien- te, no início foram proibidas de cuidar dos feridos, aproximadamente 1.500 homens. Com as condições sanitárias inadequadas, Floren- ce e suas auxiliares se responsabilizaram da limpeza e organização dos ambientes (ar fresco, boa ilumi- nação, calor adequado) e dos pacientes priorizando higiene pessoal, alimentação e repouso. Devido a sua habilidade com estatística organizou dados para demonstrar que estas medidas estavam reduzindo a mortalidade no hospital de 40% para 2%. Com a demonstração deste resultado ganhou credibilidade. Uma situação comum rendeu-lhe o título da Dama da Lâmpada. Todas as noites Florence percorreu as enfermarias para certificar-se da ordem e atendimen- to das necessidades dos enfermos sob a luz de uma lamparina e nos casos graves realizava leitura da bí- blia para os moribundos. No campo de batalha Flo- rence contraiu febre tifoide quando ficou debilitada e retornou a Londres. Ao retornar da Guerra recebeu atenção da Rainha Vitória de Londres, tornando uma figura popular nacionalmente e seu nome era sinônimo de doçura, eficiência e heroísmo. Em 1960 com 15 alunas começaram a funcionar a Escola de Enfermagem, considerada a data do nasci- mento da moderna enfermagem, era um curso de 2 anos com ensino teórico, especialmente sobre ana- tomia, fisiologia e farmacologia e ensino prático nas enfermarias. Muitos julgavam desnecessário o trei- namento, bastava obedecer as ordens médicas e não tentassem substituí-las, mas com o prestígio pessoal de Florence foi possível elevar o status social da pro- fissão, tornando-a uma ocupação digna e fundada em educação moderna. Por fim destacamos alguns conceitos que Florence repassava a suas alunas, que ainda hoje encontramos reflexo no trabalho de alguns profissionais: A saúde precisa estar presente tanto no corpo como na alma. É preciso estimular o desenvolvimento individual das alunas. O treinamento é uma forma de fazer com que as alunas usassem seus recursos intelectuais inatos. A enfermagem era uma arte de ajudar a pessoa, arte esta que requer treinamento, organização, co- nhecimento teórico e prático. A enfermagem deveria saber adaptar suas habili- dades ao trabalho da equipe, para tanto, ela deveria obedecer de forma inteligente e sempre usar o dis- cernimento. Souza et al., dizem que na visão de enfermagem de Miss Florence, a profissão era vista sob dois as- pectos distintos: primeiramente, a enfermagem sob a direção de cientistas, ficando institucionalizada a prática da Enfermagem vinculada à prática médica. O outro aspectoela chamou de Enfermagem de Saúde ou Enfermagem Geral, como arte da saúde que toda mulher deveria aprender. Pag 127-166.indd 135 11/21/09 12:54:41 136 Unidade Didática — O Ser Enfermeiro Na escola existiam dois tipos de alunas com pro- postas distintas de formação, já que a origem social das alunas não era a mesma, às ladies caberiam o comando, o poder e o saber da profissão e às nurses, o fazer. Era uma divisão de categoria, de tarefas e principalmente social das enfermeiras. Com base em suas observações meticulosas em 1859 Florence publicou seu livro Notas de Enferma- gem; nela ela definia enfermagem como o cuidado que dava à pessoa a melhor condição possível para que a natureza pudesse restaurar ou preservar e curar doenças ou ferimentos. E O QUE ACONTECIA NO BRASIL? No Brasil em 1889, a sociedade era predominan- temente rural e não havia o setor saúde, mas por pressão do mercado internacional foram adotadas medidas radicais de saneamento dos portos e con- trole de doenças epidêmicas. Em 1890, houve a transferência do Hospital Pedro II e dá-se início oficial do ensino de enfermagem no Brasil na Escola de Enfermeiro e Enfermeiras (atu- al Escola de Enfermagem Alfredo Pinho da Unirio). Em 1894 foi fundado em São Paulo o Hospital Sa- maritano, pela comunidade evangélica, estrangeiros e brasileiros. O serviço de enfermagem era realizado por enfermeiras inglesas; em 1896 começaram a re- ceber alunas em regime de internato e as candidatas deveriam ser solteiras e falar inglês, grau suficiente de instrução, de educação e “robustez física”. Ocorreu no Rio de Janeiro em 1918 a epidemia de gripe espanhola que matou quase 13 mil pesso- as, evidenciando a ineficiência dos serviços de saúde pública, aumentando o clamor por uma reforma sa- nitária. Desencadeando a criação em 1920 do Depar- tamento Nacional de Saúde Pública — DNSP, tendo como Diretor Carlos Chagas, que iniciou o programa de cooperação técnica com a Fundação Rockefeller que deveria enviar para o Brasil uma missão técnica de cooperação para o desenvolvimento da enferma- gem no DNSP. Por esta razão, em janeiro de 1921, 12 enfermeiras formadas segundo o modelo nightingaleano desem- barcaram no Rio de Janeiro e fizeram o mapeamento da cidade, constataram a deficiência dos hospitais e falta de mão de obra para o atendimento; foi estabe- lecida uma estratégia de trabalho onde algumas delas ocuparam a chefia dos serviços e outras se dedicavam à formação de enfermeiras brasileiras. O primeiro curso de Enfermagem foi inaugura- do em 1923 com 15 alunas na Escola de Enfermei- ras D. Anna Nery, um pavilhão construído ao lado do Hospital. O regime e normas disciplinares vigen- tes na época estavam imbuídas do mesmo rigor que os serviços requeriam, e as alunas eram submetidas ao cumprimento de plantões noturnos e horários diurnos, mantendo o serviço hospitalar, ininterrup- tamente. Tinham como valores individuais das alunas a impregnados da abnegação em servir e evocavam a submissão e a vocação para a dedicação ao traba- lho de enfermagem. A prática profissional era quase, exclusivamente, pautada na execução de técnicas de enfermagem, as quais constituíam parte primordial no currículo de enfermagem desta primeira escola e das seguintes, as quais adotavam o mesmo padrão curricular, que era o aprender a cuidar, cuidando. O foco da atuação das enfermeiras era o serviço. Em 1931, a Escola de Enfermagem Anna Nery foi elevada à categoria de Escola Oficial Padrão, referin- do-se ao alto padrão de ensino, contudo havia um preconceito e elitismo na seleção das alunas, influen- ciado pelas enfermeiras americanas, que recebiam apenas alunas brancas e vindas de famílias ricas ou de classe média do interior do país. As enfermeiras formadas na primeira turma tenta- ram formar uma associação de ex-alunos, como era comum nos Estados Unidos, mas o grupo estava re- duzido, pois várias estavam cursando pós-graduação nos exterior, então em 1926 surgiu uma organização mais ampla – Associação Nacional de Enfermeiros Diplomados Brasileiros, conhecida atualmente como Aben – Associação Brasileira de Enfermagem, que estudaremos no final deste capítulo. Nas décadas de 1940 e 1950 muitas enfermeiras brasileiras que foram fazer cursos norte-americanos de Administração Hospitalar retornaram ao país e neste momento no Brasil acontecia a expansão da Pag 127-166.indd 136 11/21/09 12:54:42 137 AULA 1 — A Evolução da Enfermagem através da História rede hospitalar com a unificação dos institutos pre- videnciários. E por esta razão a escolas voltam à for- mação das enfermeiras líderes e com competências para chefiar e supervisionar o trabalho de enferma- gem nos hospitais. Provavelmente, pela necessidade de mão de obra para prestar a assistência de enfermagem direta ao paciente, foi formalizado então em 1949 o primeiro curso de Auxiliar de Enfermagem, sendo delegada maior parte do desenvolvimento de técnicas de en- fermagem para auxiliares e atendentes. Dentro da visão gerencial administrativa as en- fermeiras que ocupavam os cargos de chefia, come- çaram a escrever manuais de técnicas e de rotinas como guia para que os procedimentos fossem exe- cutados de maneira correta e com embasamento teó- rico científico; conhecimentos decorrentes de outras áreas do saber, como: fisiologia, biologia, psicologia e outras que foram incorporadas no ensino da enfer- magem, por meio de “apostilas” as quais continham uma transcrição organizada de matérias dessas outras áreas do saber, elas também dispunham de normas, rotinas ou guias de sequência de uma atividade, com- pondo os procedimentos técnicos (Almeida, Rocha, et al. 1986). Na década de 1950, houve uma procura bem ex- pressiva das enfermeiras para os cursos de pós-gra- duação em administração no Brasil, cursos esses que ofereciam vagas para diferentes profissionais, inclu- sive enfermeiras. A oferta desses cursos era feita por Escolas de Administração ou por Fundações, cuja fi- nalidade precípua era a formação de administradores hospitalares. O foco da atuação da enfermagem passa a ser para administração e não mais do serviço. Na passagem dos anos 1960 para 1970 surgem, no Brasil, os Cursos de Especialização em Enfermagem, constituindo-se numa formalização inicial da pós- graduação sensu lato, como enfermagem pediátrica e estes cursos eram instrumentais para o ensino e a prática. Consequentemente pelo envolvimento com ensino e pesquisa houve uma influência do desen- volvimento acadêmico, sendo registrado a partir de 1972, os Cursos de Pós-Graduação sensu scricto na caracterização de Curso de Mestrado (formação de mestres) e nessa mesma década, os exames para a ob- tenção do título de doutor, primeiramente Docente Livre e, mais tarde, doutorados plenos. A enfermagem brasileira começa o processo de conceitualização, tendo como ponto de partida os estudos feitos pelas enfermeiras norte-americanas, num processo de utilização de teorias de outras áre- as para desdobramentos de aplicação teórica na en- fermagem. Importante dizer que os valores defini- dos neste momento eram influenciados da situação sociocultural da sociedade onde foram geradas. No Brasil, esta teorização é mais evidente na década de 1970 com as publicações iniciadas por Horta e con- tinuadas por outros enfermeiros (Horta, 1979). O modelo de trabalho da enfermagem aproxima do modelo da medicina, então predominantemente biológico e curativo. Destoando do que as teoristas falam enfatizando o holismo, que permeava uma pos- tura intelectual, mas não na prática da enfermagem assistencial. Percebemos então que o foco da enfermagem neste momento da história da enfermagem é o estudo, a pesquisa que sustentava a evolução científica e prá- tica da profissão. Geovanini, 2005 aponta para o aspecto social da categoria neste período ondeos profissionais de en- fermagem do Brasil não realizaram grandes conquis- tas por falta de movimentos para definir o perfil do enfermeiro no mercado de trabalho e não havia ma- turidade intelectual necessária à discussão dos aspec- tos políticos e sociais que envolvem a qualidade da prática assistencial. Nas décadas de 1970 e 1980 ocorreram transfor- mações importantes na estrutura social do país, de- terminadas pela mudança no quadro político – na- cional que tinha um crescimento da classe operária e da demanda do setor previdenciário, gerando dis- cordância nas prioridades de saúde da população e nas ações efetivadas o que gerou uma crise na esfera da saúde. Em 1975 foi definido um novo modelo de aten- ção à saúde para priorizar a assistência profilática e preventiva, sem descuidar dos aspectos curativos e de reabilitação. Nessa época a pós-graduação em Pag 127-166.indd 137 11/21/09 12:54:43 138 Unidade Didática — O Ser Enfermeiro enfermagem acelerou consideravelmente, aumen- tando a produção científica, estimulando a ABEn a criar em 1979 o Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem com objetivo de promover e incentivar a pesquisa na Enfermagem, bem como organizar suas áreas de interesse. Enquanto os enfermeiros se especializam, ocorreu uma multiplicação de categorias de enfermagem que aceleravam o processo de proliferação dos profissio- nais desta área. Na divisão de tarefas era necessária a divisão de atribuições ocorrendo no final da década de 1970 e início da de 1980, uma grande divulgação das chamadas teorias de enfermagem no interesse de reconhecê-las na aliança da teoria e da prática. A construção de marcos conceitual decorre de con- cepções teóricas geradas no Brasil a exemplo da cons- trução da teoria de necessidades humanas básicas de Wanda Horta. Existem inúmeras publicações sobre ex- periência de utilização desse modelo fazendo a enfer- magem repensar sua prática, suas experiências e desta forma promover avanços qualitativos na enfermagem que precisa de constante e contínua transformação para atender o que a sociedade precisa e espera. Para que isto ocorra defendemos que os profissio- nais de enfermagem precisam conhecer, compreender e exercer as dimensões técnicas, éticas e legais da pro- fissão. Porém, antes de discutirmos este enfoque social e cultural queremos dar destaque a duas personalida- des que marcaram a história da enfermagem Brasileira – Ana Justina Nery e Wanda Aguiar Horta. Ana Nery – “mãe dos brasileiros” As histórias de mulheres heroínas também encon- tram espaço na enfermagem brasileira, Ana Justina Ferreira Nery é considerada a primeira enfermeira do Brasil. Ela nasceu em Vila de Cachoeira de Paraguaçu – Bahia em 13/12/1814, casou-se com Isidoro Anto- nio Nery enviuvando-se aos 30 anos, teve 2 filhos (um médico militar e outro oficial do Exército). Quando ocorreu a Guerra do Paraguai (1864- 1870) e os dois filhos foram convocados a servir a Pátria, Ana Nery não resistindo à separação da famí- lia escreveu ao Presidente da Província colocando-se à disposição para cuidar dos soldados enfermos. Um trecho da carta dizia “(...) satisfarei ao mesmo tempo os impulsos de mãe e os deveres da humanidade para com aqueles que ora sacrificam as suas vidas para honra e brio nacional e integridade do Império.” Partiu da Bahia, de onde nunca tinha saído e em 1865 foi auxiliar o corpo de saúde do Exército que contava com escassos recursos materiais. Começou seu trabalho no hospital de Corrientes onde havia nesta época cerca de 6 mil soldados internados e al- gumas poucas freiras Vicentinas, com que aprendeu as primeiras noções de enfermagem. Como era mulher de posses com seus recursos mon- tou em sua casa em Assunção uma enfermaria limpa e modelar, onde trabalhou incansavelmente atendendo a todos os soldados, onde usava plantas medicinais e fazia todos os tipos de procedimentos e por isto os enfermos a intitularam Mãe dos Brasileiros. Alguns episódios demonstram o seu grande legado de atender sem qualquer tipo de discriminação, uma vez libertou dois soldados paraguaios presos que iam ser torturados por brasileiros e defendeu direito da vida. Dizia “Não importa amigo ou inimigo, todos são homens e merecem ser cuidados”. Após cinco anos retornou ao Brasil e recebeu uma coroa de Louros e Victor Meireles pintou sua imagem no edifício do Paço Municipal, recebeu ainda muitas medalhas humanitárias de Campanha. Ana Nery trou- xe de Assunção quatro órfãos para educar e por esta razão recebeu do Imperador uma pensão vitalícia. Fonte: http://www.abennacional.org.br/.../anna_nery.html Figura 8 – Ana Justina Ferreira Nery. Em 1926 Carlos Chagas a homenageou dando seu nome à primeira Escola Oficial brasileira de enferma- Pag 127-166.indd 138 11/21/09 12:54:44 139 AULA 1 — A Evolução da Enfermagem através da História gem de alto padrão e o Presidente Getúlio Vargas no Decreto no 2.956/38 instituindo o Dia do Enfermeiro dia 20 de maio, data de morte de Ana Nery. Drª Wanda de Aguiar Horta – pioneira e cientista da enfermagem Dentre muitas profissionais que atuaram na enfer- magem moderna no Brasil, destaco neste capítulo Wan- da Aguiar Horta, por ter se dedicado a mostrar o lado científico e humanístico da profissão, bem como pelo motivo que nas próximas unidades temáticas vocês es- tudarão sobre ela devido aos trabalhos publicados sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem. Nasceu em Belém do Pará, em 1926, quinta filha do casal Alberico e Feliz de Aguiar, uma família nu- merosa que permitiu que seus filhos crescessem num ambiente harmonioso. Desde cedo revelou uma in- teligência privilegiada, era estudiosa, introspectiva, sensível, destacando-se na música com pianista e como poeta. Aos dez anos a família mudou-se para Ponta Gros- sa onde fez ginásio e pré-médico e depois o curso para voluntários socorristas da Cruz Vermelha Brasileira. Em 1944 mudou-se para Curitiba onde se inscreveu para uma bolsa de estudos para estudar na Escola de Enfermagem de São Paulo, cursando enfermagem em 1945. Em 1949 trabalhou em Santarém no Serviço de Saúde Pública onde declarou que “este serviço, por sua filosofia de trabalho, deu-me uma perspectiva da enfermagem que se desenvolveu e que conservo até hoje, isto é, que a enfermagem é um todo indivisível, não se fragmenta em compartimentos estanques tal como o homem objeto de sua atenção.” Ao retornar a Curitiba, trabalhou, durante qua- tro anos, no serviço do Sanatório Médico. Em 1951, publicou um artigo sobre enfermagem na Gazeta do Povo (Curitiba), dando início à sua enorme produção intelectual. Este artigo foi elaborado por ocasião do Dia da Enfermagem. Nele ela declarou: “Embora a enfermagem seja tão antiga quanto a humanidade, no Brasil pouco se sabe sobre ela.” “Imagem poética, um anjo sofredor, heroína do trabalho, na cabeceira do doente, que tudo suporta sem queixa, sem tempo para estudar e progredir na profissão.” “O que se faz nestes hospitais não é enfermagem, e sim pseudoenfermagem. O objeto de toadas as aten- ções, a finalidade do serviço tem por centro o médi- co: servir o doente em relação ao médico. Há uma inversão de valores.” “A verdadeira enfermagem tem como objeto pri- mordial servir o doente e em segundo lugar, auxiliar o médico em relação ao doente.” Em 1959 voltou para São Paulo tornando-se do- cente da Escola de Enfermagem da USP, onde desen- volveu o núcleo central de seu trabalho que consistiu na elaboração de vasta fundamentação teórica para a enfermagem, culminando com a elaboração da Teo- ria das Necessidades Humanas Básicas. Fez pós-graduação em Pedagogia e Didática Apli- cada à Enfermagem na Escola de Enfermagem da USP em 1962, doutorou-se em Enfermagem pela Es- cola da Enfermagem Ana Neri da Universidade Fede- ral do Rio de Janeiro, em 1968, com a tese “Observa-ção Sistematizada na Identificação de Problemas de Enfermagem em seus Aspectos Físicos”. Em 1973 participou da elaboração do Documento Básico sobre Ensino de Fundamentos de Enfermagem a convite da Organização Pan-americana de Saúde e Organização Mundial de Saúde em Washington. As ideias desta pioneira perturbaram os baluartes conservadores da enfermagem, inúmeras barreiras ti- veram que ser vencidas e para melhor divulgar suas ideias, criou e manteve de 1975 a 1979, sem apoio de qualquer órgão oficial, a revista Enfermagem em Novas Dimensões, onde declarou “A enfermagem é a ciência e a arte de assistir o ser humano no atendimento de suas necessidades básicas de torná-lo independente desta assistência por meio da educação; de recuperar, manter e promover sua saúde contando com isto com a colaboração de outros grupos de profissionais”. Na busca de bases teóricas para a profissão, Wanda Horta jamais esqueceu a dimensão humana da enfer- magem, ela definia a enfermagem como “gente que cuida de gente” e que gente é que sente a responsa- bilidade do cuidado do outro, bem como, do destino da humanidade. Pag 127-166.indd 139 11/21/09 12:54:45 140 Unidade Didática — O Ser Enfermeiro Vítima de uma doença degenerativa que, nos úl- timos anos, a prendeu a uma cadeira de rodas, fale- ceu em 1981. O QUE É SER ENFERMEIRO HOJE? Nos dias de hoje, a enfermagem é entendida como ação social, como a atividade realizada por pessoas que cuidam de outras procurando manter a vida sa- dia, amenizando doenças, protegendo o meio am- biente e preparando as pessoas para o processo de morrer por meio das ações de proteção à saúde, pro- moção à saúde, prevenção de doenças, ações curati- vas, de reabilitação, de investigação epidemiológica, sociológica, administrativa e democrática e por meio das ações de ensino (Lima, 2005). Sei que acabou de passar no vestibular e que está preocupado em conhecer a profissão, porém também é importante saber desde já o que abrange a enfer- magem e os seus campos de atuação. Primeiro, para ser enfermeiro é necessário uma formação em graduação em enfermagem nível ba- charelado que se estende por 4 anos. O curso deve ser desenvolvido por meio da integração das disciplinas curriculares, como foi instituído pelo Ministério da Educação em 2001. As áreas temáticas que devem compor o curso são: ciências biológicas e da saúde, ciências humanas e sociais e ciências da enfermagem, que é composta por fundamentos da enfermagem, assistência da enfermagem, administração da enfer- magem e ensino da enfermagem (ME, 2001). Após realizar o curso de graduação você poderá já iniciar a carreira profissional ou poderá realizar uma pós-graduação, que pode ser lato sensu ou stricto sensu. Dentre cursos de pós-graduação lato sensu estão as especializações, que oferecem ao enfermeiro o título de especialista em uma área de sua escolha. Hoje exis- tem muitos enfermeiros especialistas e estes formam classes e sociedades como descritas a seguir: Sociedades de especialidades de enfermagem SAIBA MAIS SOBECC – Centro cirúrgico SOBEST – Estomoterapia SOBRAGEN – Gerenciamento SOPETI – Terapia intensiva ABENFO – Obstetrizes/neonatologia SOBEN – Nefrologia SOBENDE – Dermatologia SOBEAS – Auditoria em saúde SOBEO – Oncologia ANENT – Trabalho ABENTO – Tráumato-ortopedia GIEMEN – Ensino médio OBEUNE – Unidade de esterilização SOBEAS – Educação SBHCI – Hemodinâmica e cardiologia SOBEEG – Endoscopia gastrointestinal SOBEHC – Home care SOBENC – Cardiovascular SOBEOFT – Oftalmologia SOBEP – Pediatria SOBRATEN – Terapias naturais SOBRECEN – Educação continuada SOCESP – Cardiologia do Estado de SP Dentre os cursos de pós-graduação stricto sensu estão o mestrado, doutorado e pós- doutorado, estes também fornecem ao enfermeiro um conhecimento mais específico, porém com o objetivo de prepará-lo para a pesquisa e o ensino. Então, o enfermeiro deve possuir uma competên- cia técnico-científica e política que lhe confira ca- pacidade profissional para inserção no mercado de trabalho e para desenvolver atividades como: Profissional liberal (clínicos de enfermagem).• Docente (cursos de graduação em enfermagem • e escolas de técnico em enfermagem). Pesquisador (em órgãos e institutos de pesquisa • na área de saúde e nas universidades). Pag 127-166.indd 140 11/21/09 12:54:46 141 AULA 1 — A Evolução da Enfermagem através da História Assistencial (hospitais, unidades de tratamen-• tos intensivos, centro cirúrgico, maternidades, unidades de redes básicas de saúde, clínicas e creches, serviço de atendimento móvel de ur- gência, home care e indústrias). Do trabalho (empresas, indústrias, organizações • e escolas). Administrativa (hospitais, escolas, clínicas).• Auditoria (hospitais, clínicas, convênios e siste-• ma único de saúde). O enfermeiro só pode exercer suas atribuições pro- fissionais após realizar inscrição no Sistema COFEN/ CORENs, autarquia federal que tem por finalidade fiscalizar e disciplinar o exercício da enfermagem em todo o país. CURIOSIDADE: SÍMBOLO DA ENFERMAGEM Lâmpada: caminho, ambiente• Cobra: magia, alquimia• Cobra + cruz: ciência• Seringa: técnica• Cor verde: paz, tranquilidade, cura, saúde• Pedra Símbolo da Enfermagem: Esmeralda• Cor: Verde-esmeralda• Símbolo: lâmpada, conforme modelo apresen-• tado Fonte: http://www.abennacional.org.br/.../simbolos.html ENTIDADE DE CLASSES As entidades de classes são órgãos que motivados pelo interesse coletivo de uma categoria profissional elaboram e executam ações em defesa dos interesses científicos, político, social, cultural e econômico; na enfermagem dispomos do sindicato, associação, con- selho profissional e o conselho internacional. Embora possuam propósitos diversos nos esta- tutos que as originaram, são imprescindíveis como órgãos que representam dos interesses dos profis- sionais de enfermagem em todas as categorias em nível nacional e internacional. Entendemos que as entidades devem unir esforços para a valorização e o reconhecimento da enfermagem brasileira. Sindicatos A palavra sindicato que tem raízes no latim sin- dicus denominava o “procurador escolhido para de- fender os direitos de uma corporação” e no grego syn-dicos é aquele que defende a justiça. O sindicalismo tem origem nas corporações de ofí- cio na Europa Medieval, no século XVIII, durante a Revolução Industrial na Inglaterra, os trabalhadores, oriundos das indústrias têxteis, doentes e desemprega- dos juntavam-se nas sociedades de socorro mútuo. Nesta revolução, surge o capitalismo e se constitui duas classes sociais, o capitalismo e o proletariado; o capitalismo é o proprietário dos meios de produção e o proletariado era proprietário apenas de sua força de trabalho, passando a ser propriedade do capitalis- ta, que paga salários cada vez mais baixos para obter mais lucros, forçando-os a trabalhar em uma jornada de trabalho que chegava até 16 horas. A situação era crítica e a única possibilidade era juntar-se e tentar negociar condições de trabalho. Surge o sindicalismo como uma associação de ope- rários buscando vender melhor sua força de trabalho, constituído de pessoa jurídica de direito privado que tem base territorial de atuação e é reconhecida por lei como representante de categoria de trabalhadores ou empregados. No Brasil o movimento sindical mais forte ocorreu em São Paulo, onde os imigrantes integravam a massa de trabalhadores de fábricas e indústria, em 1930, o Governo Federal criou o Ministério do Trabalho, em 1931 foi regulamento por decreto-lei a sindicalização das classes patronais e operárias. No período de 1930 a 1945, houve um controle do estado sobre a atividade sindical, onde o gover- no centralizou e nacionalizou os instrumentos de controle e decisão; com o advento do Estado Novo Pag 127-166.indd 141 11/21/09 12:54:47142 Unidade Didática — O Ser Enfermeiro Getúlio Vargas, iniciou um processo de descaracte- rização do sindicato como instrumento de luta da classe trabalhadora. Com o golpe militar de 1964, os sindicatos e sin- dicalistas foram duramente reprimidos e limitaram a Lei de Greve e substituíram a estabilidade no em- prego pelo Fundo de Garantia. Atualmente temos a regulamentação dos sindi- catos na Constituição Federativa do Brasil nos se- guintes artigos; Artigo 8o: “É livre a associação profissional ou sin- dical, observando o seguinte: Associação sindical: possui prerrogativas especiais, as que lhe conferem significado próprio, a saber: Representar, ou seja, a capacidade ativa para atu- ar judicial e extrajudicial na defesa dos interesses da categoria e de seus membros; Regulamentação, que é a possibilidade de partici- par de negociações coletivas de trabalho, celebrando convenções e acordos coletivos; Política, que se traduz na possibilidade de realizar eleições para designar representantes da categoria; Financeira, já que pode impor contribuições fi- nanceiras aos sindicalizados, conforme conta no in- ciso IV deste artigo. Ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos, ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas. Ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato, porém é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalhadores. Também é papel dos sindicatos manter serviços de orientação sobre direitos trabalhistas e a maioria deles conta também com um departamento jurídico para defender os interesses de seus associados. Atribuições do Sindicato: Representar os interesses da categoria perante au- toridades administrativas (prefeituras, governadores, secretários de estado e municipais, delegados regio- nais do trabalho etc.) e judiciárias (presidentes dos tribunais e juízes em geral). Celebrar convenções coletivas de trabalho. Eleger ou designar os representantes da categoria respectiva ou profissão liberal. Colaborar com o estado, como órgãos técnicos e consultivos, para a solução de problemas relaciona- dos com a categoria profissional que representa. Recolher e administrar as contribuições de todos aqueles que participam da categoria profissional re- presentadas. Fundar e manter agência de colocação recoloca- ção profissional. O primeiro sindicato de enfermagem foi criado em 1929 – Sindicato Nacional dos Enfermeiros da Marinha Mercante, onde se filiavam todas as pessoas que de- senvolvia ações de enfermagem na Marinha brasileira, mesmo que não fossem formadas em escolas oficiais. Em 1933 teve origem o Sindicato de enfermeiros terrestre, ao qual se associava os práticos de enferma- gem, os atendentes e até enfermeiros diplomados. A partir de 1952, a Associação Brasileira de Enfer- meiras Diplomadas (ABED) e o Sindicato dos En- fermeiros em Hospitais e Casas de Saúde assumem uma postura de trabalho conjunto para defender os interesses da enfermagem. Associação É uma entidade sem fins lucrativos de direito pri- vado e não público, que se caracteriza pela reunião de duas ou mais pessoas para a realização comuns; seu patrimônio é constituído pela contribuição dos associados, por doações, subvenções, seus fins po- dem ser alterados pelos associados. A filiação é uma opção facultativa. A finalidade é prestar assistência social e cultural, atuar na defesa dos direitos das pessoas ou de classes específica de trabalhadores e/ou empresários. Para constituir uma associação é preciso à reunião de pes- soas com um mesmo ideal, elaboração da proposta de estatuto social e aprovação pela assembleia geral. As enfermeiras formadas pela Escola de Enferma- gem Ana Nery, no Rio de Janeiro, criaram a Asso- ciação Nacional de Enfermeiras Diplomadas em 12 de agosto de 1926, como uma entidade de âmbito nacional de caráter não governamental e de direito privado. Mantiveram esse nome até 1928, quando passou a ser denominada Associação Nacional de En- fermeiras Diplomadas, sendo, então, registrada juri- Pag 127-166.indd 142 11/21/09 12:54:48 143 AULA 1 — A Evolução da Enfermagem através da História dicamente; em 1954 recebeu o nome de Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) nome utilizado até os dias de hoje. A ABEn tem por finalidade: Congregar enfermeiros, obstetrizes, técnicos, auxi- liares de enfermagem e acadêmicos de enfermagem; Promover o desenvolvimento técnico-científico, cultural e político; promover a pesquisa e o intercâm- bio com outras organizações nacionais e internacio- nais e divulgar as atividades de enfermagem. Em 1929 a ABEn foi admitida no Conselho Inter- nacional de Enfermeiras (CEI), nele tendo permane- cido até 1997, quando foi substituída pelo COFEN. Desde 1947, a associação realiza um evento científico- cultural de abrangência nacional, que é o congresso brasileiro de enfermagem. Em 20 de maio de 1932, foi criado o primeiro meio de comunicação oficial da enfermagem, a Revista Brasileira de Enfermagem – REBEn, para divulgação da produção científica das diferentes áreas do saber de interesse da enfermagem. Com periódico trimes- tral a revisa publicava matérias inéditas sob forma de artigos dos resultados de pesquisas, atualizações e opiniões; coordenada pela Diretoria de Publicações e Comunicação Social da ABEn. A ABEn trabalhou por três décadas para aprova- ção de lei que criou o sistema COFEN3CORENs em 1973, com finalidade de fiscalizar o exercício da pro- fissão. A partir da década de 1980, coincidindo com a abertura política em nosso país, a ABEn passou a ser parceira de organizações sociais nas lutas em defesa da saúde da população e integrou-se a outros proces- sos sociais, lutando pela inclusão de novas concep- ções de saúde na Constituição de 1988; participou efetivamente dos Conselhos Nacionais, estaduais e municipais de saúde, dos fóruns de controle social das políticas de saúde instituídas pelo governo. Na década de 1990, enviou esforços para implan- tação da política de profissionalização dos atenden- tes de enfermagem, iniciados na década de 1960, que culminou na assunção da problemática pelo Minis- tério da Saúde que elaborou e implantou projeto de profissionalização dos trabalhadores de enfermagem – PROFAE (Brasil, 1998). São muitas as contribuições da ABEn nos cenários nacional e internacional, contribuiu diretamente pela evolução da enfermagem com profissão em parceria com as escolas de enfermagem brasileiras no desen- volvimento do conhecimento técnico e científico e cultural da profissão. Conselho Profissional As profissões que em seu exercício têm a missão de preservação de certos valores elementares como a vida, a integridade, a segurança física e social das pes- soas, devem ser regulamentadas e controladas pelo poder público, garantindo à sociedade, a segurança e tranquilidade em receber os serviços prestados por estes profissionais. Segundo Pinheiro e Pereira (2006), para fiscalizar as diversas profissões liberais, ou seja, daquelas que exigem a predominância do intelecto para seu desem- penho, o Estado optou pela forma descentralizada criando para tal, entidades administrativas cercadas de autonomia, que a doutrina e a jurisprudência clas- sificam como autarquia corporativa. Os Conselhos profissionais são entidades de Di- reito Público, com destinação específica de zelar pelo interesse social, fiscalizando o exercício profissional das categorias que lhe são vinculadas. A ação dos Conselhos dos Profissionais se desen- volve no sentido da valorização do Diploma, mora- lização profissional, proteção dos interesses sociais, da legalidade, e principalmente no resguardo dos princípios éticos. No Brasil constituem-se as autarquias como um serviço público descentralizado da União, dos Esta- dos, dos Municípios ou do Distrito Federal,dotado de personalidade de Direito Público, instituído por Lei, com autonomia administrativa e financeira, su- jeita ao controle (tutela) do Estado. Quanto à natureza jurídica são entidades fiscaliza- doras de atividades profissionais, quanto à natureza financeira são entidades sem fim lucrativo. As anuida- des são contribuições de caráter tributário, porque são contribuições de interesse de categoria profissional. Até 1973, a enfermagem era fiscalizada pelo ser- viço de fiscalização da medicina. Após anos de luta, Pag 127-166.indd 143 11/21/09 12:54:48 144 Unidade Didática — O Ser Enfermeiro tramitou e foi aprovada em 12 de julho 1973 a Lei n.º 5.905, pelo então Presidente da República Emilio G. Médici, que dispõe da criação dos Conselhos Federal (COFEN) e Regionais de Enfermagem (COREN). Desta norma, destacamos alguns artigos que justifi- cam a finalidade e atribuições da autarquia, a saber; Art. 2o O Conselho Federal de Enfermagem e os Conselhos Regionais são órgãos disciplinadores do exercício da profissão de enfermeiro e das demais pro- fissões compreendidas no serviço de enfermagem. Art. 8o Compete ao Conselho Federal: I- aprovar seu regimento interno e os dos Conse- lhos Regionais; II- instalar os Conselhos Regionais; III- elaborar o Código de Deontologia de Enfer- magem e alterá-lo, quando necessário, ouvidos os Conselhos Regionais. Art.15o Compete aos Conselhos Regionais de En- fermagem: I- deliberar sobre inscrição no Conselho e seu can- celamento; II- disciplinar e fiscalizar o exercício profissional, observando as diretrizes gerais do Conselho Federal; IV- manter o registro dos profissionais com exer- cício na respectiva jurisdição; V- conhecer e decidir os assuntos atinentes à ética profissional, impondo as penalidades cabíveis. VIII- zelar pelo bom conceito da profissão e dos que a exerçam. Os Conselhos Federal e Regional de enfermagem são órgãos fiscalizadores e disciplinadores do exer- cício da profissão, por isso a inscrição é obrigatória, constituindo a legalidade da atuação profissional. Os membros do COFEN são de nacionalidade brasileira e portadores de diploma de enfermagem de nível superior, sendo nove conselheiros efetivos e nove suplentes, com cargo honorífico com duração de três anos, admitida uma reeleição. A eleição dos COFEN é realizada em Assembleia dos Delegados Regionais e os membros serão os com maioria de votos, em escrutínio secreto. Os Conselhos Regionais serão instalados em suas respectivas sedes, com cinco a vinte e um membros e outros tantos suplentes, nacionalidade brasileira, na proporção de três quintos de enfermeiros e dois quin- tos de profissionais das demais categorias do pessoal de enfermagem reguladas em lei. Os membros dos COREN serão sempre ímpar e fi- xados pelo COFEN de acordo com o número de pro- fissionais inscritos na jurisdição, são eleitos por voto pessoal, secreto e obrigatório em época determinada pelo COFEN. Também são cargos honoríficos com duração de três anos, admitida uma reeleição. A renda dos Conselhos Federal e Regional é cons- tituída de taxa de expedição de carteira profissional, multas aplicadas, anuidades, doação e legados, sub- venções oficiais e empresas ou entidades particulares e rendas eventuais. No COREN é instalado, mediante denúncia, o pro- cesso de averiguação e/ou éticos, contra profissionais que ferem os postulados éticos e legais da enferma- gem; nos casos de confirmação da infração podem ser aplicadas as penas de advertência verbal, multa, censura, suspensão do exercício profissional e cassa- ção do direito ao exercício profissional; o recurso de segunda instância é atribuição do COFEN. Conselho Internacional O Conselho Internacional de Enfermeiras (CEI) congrega as organizações nacionais de enfermagem, é um órgão independente, não partidário e não governa- mental fundado em 1o de julho de 1899, em Londres. A missão do CEI é representar os enfermeiros de todo o mundo, fazer avançar a profissão e influenciar as políticas públicas de saúde. Os valores defendidos pelo CEI são liderança visio- nária, flexibilidade, inclusão, parceria e conquista. De acordo com seu Estatuto, as finalidades desse conselho contemplam: Influenciar nas políticas públicas de saúde e na regulamentação profissional da enfermagem; Ajudar as entidades nacionais de enfermagem a melhorar a competência dos enfermeiros; Promover o fortalecimento das associações nacio- nais de enfermagem (ANEs); Representar os enfermeiros e a enfermagem em nível internacional; Pag 127-166.indd 144 11/21/09 12:54:49 145 AULA 1 — A Evolução da Enfermagem através da História Estabelecer, receber e gerenciar fundos que con- tribuam para o progresso da enfermagem. No CIE existe um órgão de deliberação que é o Conselho de Representantes Nacionais. Este se reúne uma vez a cada dois anos para decidir sobre as políti- cas da organização, aprovar as contas, admissão de no- vos membros e eleição dos membros da diretoria. Todas as Associações Nacionais de Enfermagem (ANEs) podem enviar seus representantes para o Conselho de Representantes Nacional (CRN), com direito a voz e voto, porém cada organização nacio- nal, independente do tamanho, tem direito a apenas um voto. O CRN funciona como uma assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em que cada nação tem direito a um voto. O CIE é dirigido por uma diretoria composta de um presidente e três vice-presidentes, num total de 15 membros, todos enfermeiros, eleito para um man- dato de quatro anos. Com exceção do presidente, os demais membros, provenientes de todos os continen- tes, representam uma das sete regiões: Europa, África, América do Norte e Caribe de língua inglesa, América Latina e Caribe de língua espanhola, Leste do Medi- terrâneo, Sudeste Asiático e Pacífico Ocidental. Além desses sete representantes regionais, as re- giões geográficas com maior número de enfermei- ros associados podem eleger um ou mais membros suplementares. A diretoria reúne-se uma vez por ano, por quatro a cinco dias, na sede do CIE, em Genebra; com função de estabelecer e aplicar as políticas adotadas pelo CRN, bem como reconhecer a admissão de novas ANEs, den- tre outras atribuições, como representar a enfermagem em organismo e eventos internacionais. O princípio que fundamenta o CIE é fortalecer cada organização de enfermagem sem seu respecti- vo país, por isso, não existem duas ANEs oriundas de um mesmo país. O Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) passou a representar a enfermagem brasileira junto ao CIE desde 1997 e em 2001 a Enf. Msc. Dulce Dir- clair Huf Bais foi eleita para representar o Brasil na Junta Diretiva do CIE e reeleita em 2005. Em um Congresso de enfermagem a Enf. Dulce declarou que pode constatar após seus trabalhos jun- to ao CIE que “O Brasil possui uma das melhores lei profissional de enfermagem e lei orgânica de saúde do mundo, porém, isto ainda não se reflete na assis- tência de saúde e de enfermagem de qualidade, isto porque não há o pleno conhecimento das normas, o que impede a sintonia das legislações com as práticas profissionais”. Esta informação pode ser compreen- dida com um apelo para que nos apliquemos mais no conhecimento e na aplicação das normas exis- tentes no país em relação à saúde e os profissionais de enfermagem. ANOTAÇÕES * Pag 127-166.indd 145 11/21/09 12:54:50 146 Unidade Didática — O Ser Enfermeiro U n id ad e D id át ic a – O S er E n fe rm ei ro AULA 2 CÓDIGO DE ÉTICA E A LEI DO EXERCÍCIO PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM ■ Conteúdo Conceito de ética, moral• O enfermeiro e a responsabilidade legal no exercício profissional• Legislação da enfermagem (código de ética, lei do exercício profissional)• ■ Competências e habilidades Conhecer a legislação específica que rege a conduta e o desempenho profissional da equipe de en-•fermagem Distinguir princípios éticos e morais que regem a vida profissional do enfermeiro• Identificar problemas éticos na vida profissional e tomar decisão diante deles• ■ Materiais para autoestudo Verificar no Portal os textos e as atividades disponíveis na galeria da unidade ■ Duração 2 h-a – via satélite com professor interativo 2 h-a – presenciais com professor local 6 h-a – mínimo sugerido para autoestudo Início de conversa “Solenemente, na presença de Deus e desta assem- bleia, juro: Dedicar minha vida profissional a serviço da hu- manidade, respeitando a dignidade e os direitos da pessoa humana, exercendo a Enfermagem com cons- ciência e dedicação, guardando sem desfalecimento os segredos que me forem confiados. Respeitando a vida desde a concepção até a morte, não participando voluntariamente de atos que coloquem em risco a in- tegridade física e psíquica do ser humano, mantendo elevados os ideais da minha profissão, obedecendo aos preceitos da ética e da moral, preservando sua honra, seu prestígio e suas tradições.” Caros(as) alunos(as), Para quem ainda não conhece, este é o juramento do Enfermeiro, juramento que vocês irão proferir daqui a quatro anos no dia da colação de grau de vocês. Notem que ao final o futuro enfermeiro jura: “... obedecer aos preceitos da ética e da moral...”. Mas afinal que preceitos são esses? E o que é realmente ética e moral? E onde e como, nós, acadêmicos de enfermagem e futuros enfermeiros aplicaremos es- ses conceitos? Pag 127-166.indd 146 11/21/09 12:54:51 147 AULA 2 — Código de Ética e a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem Nesta aula conheceremos estes conceitos e as leis que regem os comportamentos da nossa profi ssão. E saberemos identifi car problemas que envolvam a moral e a ética e o que decidir frente a eles. Ética é uma palavra de origem grega ethos que sig- nifi cava “vida comum”, logo depois, na própria Gré- cia, conquistou outros signifi cados, como: hábito, caráter, modo de pensar. A partir desse vocábulo, o fi lósofo Aristóteles formulou o adjetivo ético como uma classe particular de virtudes humanas e a ética como a ciência que estuda essas virtudes. Em Roma, a palavra ethos encontra uma palavra latina equivalente, moris surgindo, daí, o adjetivo mo- ralis (moral) e mais tarde o termo moralidade. Mesmo sendo palavras com a mesma semântica1, os termos ética e moral, receberam um signifi cado diverso um do outro ao longo do processo de desen- volvimento cultural. Se procurarmos no dicionário encontraremos os termos da seguinte forma: Ética: estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana suscetível de qualifi cação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a deter- minada sociedade, seja de modo absoluto. Moral: conjunto de regras de conduta considera- das como válidas, quer de modo absoluto para qual- quer tempo ou lugar, quer para grupo ou pessoa de- terminada. Fonte: Novo dicionário eletrônico Aurélio, versão 5.0. Entendamos então, que comportamento moral trata-se de uma questão de ordem prática. “O que fazer em cada situação concreta.” E ética como a re- fl exão sobre esse comportamento prático. Para refletir O exercício da enfermagem deve estar embasado em três aspectos principais: técnico-científi co, legal e ético, que pode ser percebido nos afazeres diários da enfermagem. Referimos ao aspecto técnico-científi co quando executados a assistência de enfermagem respeitan- do os conhecimentos teórico e prático específi cos da enfermagem; o aspecto legal garante que os pro- fi ssionais de enfermagem exercerem as atribuições determinadas pela lei e com isto cumprem seu papel social; por fi m o aspecto ético se confi gura pela com- preensão e aplicação dos postulados apresentados no Código de ética dos profi ssionais de enfermagem. CÓDIGO DE ÉTICA DOS PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM O Código de Ética é um instrumento legal que re- úne um conjunto de normas, princípios morais e dos direitos relativos à profi ssão e ao seu exercício; expri- me o que é esperado dos profi ssionais de enfermagem diante da sociedade, paciente, outros profi ssionais, bem como a capacidade de reconhecer a todos como pessoas técnicas, científi cas e humanamente capazes de desempenhar um determinado conjunto de funções. Como as questões éticas não contêm fórmulas ma- temáticas com respostas exatas e fechadas é preciso compreender e refl etir sobre os princípios éticos e utilizar a autonomia e a experiência para caminhar às vezes na incerteza, mas nunca se omitindo da res- ponsabilidade de cuidar o paciente e dos membros de sua equipe. Entendemos o que difi culta a prática ética na pro- fi ssão não é só o conhecimento do Código de Ética são os dilemas de saber que os conceitos não são natos da pessoa; reconhecer às diferentes formas de dar valor às coisas e pessoas para ter um agir visando o bem, e a não compreensão de como atender aos pilares da saúde (universalidade, equidade, integralidade). O Código de Ética dos Profi ssionais de Enferma- gem (CEPE) declara nos princípios fundamentais que “O aprimoramento do comportamento ético do profi ssional passa pelo processo de construção de uma consciência individual e coletiva, pelo com- promisso social e profi ssional confi gurado pela res-1 Significação das palavras. Pag 127-166.indd 147 11/21/09 12:54:53 148 Unidade Didática — O Ser Enfermeiro ponsabilidade no plano as relações de trabalho com reflexos no campo científico e político.” A primeira discussão sobre a codificação ética na enfermagem surgiu em 1951, um grupo de religiosas e enfermeiras católicas leigas doaram à ABEn um an- teprojeto de um Código de ética. Em 1958 foi apro- vado 1o Código de ética de enfermagem, baseado no Código de ética do Conselho Internacional de En- fermagem e do Comitê Internacional Católico; fo- ram realizadas quatro revisões em 1975, 1993, 2001 e a última versão foi aprovada em 2007, a Resolução COFEN no 311 que aprova o Código de ética dos profissionais de enfermagem. O Código de Ética dos Profissionais de Enfer- magem está organizado por assunto e inclui prin- cípios, direitos, responsabilidades, deveres e proi- bições pertinentes à conduta ética dos profissionais de Enfermagem; esta norma considera a necessi- dade e o direito de assistência em Enfermagem da população, os interesses do profissional e de sua organização. Está centrado na pessoa, família e co- letividade e pressupõe que os trabalhadores de En- fermagem estejam aliados aos usuários na luta por uma assistência sem riscos e danos e acessível a toda população. O Código de Ética é composto dos fundamentos, a filosofia e a missão da profissão, nesta norma te- mos descrito de forma clara e objetiva quais os di- reitos, deveres e proibições, em relação ao exercício da enfermagem. A estrutura do documento é assim definida: • Capítulo I – Das relações profissionais Das relações com a pessoa, família e coletividade Das relações com os trabalhadores de enferma- gem, saúde e outros Das relações com as organizações da categoria Das relações com as organizações empregadoras • Capítulo II – Do sigilo profissional • Capítulo III – Do ensino, da pesquisa e da pro- dução técnico-científica • Capítulo IV – Da publicidade • Capítulo V – Das infrações e penalidades • Capítulo VI – Da aplicação das penalidades • Capítulo VII – Das disposições gerais Como forma didática, vamos destacar alguns arti- gos mais comumente aplicados na prática da enfer- magem discutido de forma contextualizada. DIREITOS - Das relações profissionais Art. 1o - Exercer a Enfermagem com liberdade, autonomia e ser tratado segundo os pressupostos e princípios legais, éticos e dos direitos humanos. A autonomia e a liberdade do profissional se dão quando ele aplica à competência técnica adquirida na formação técnica ou universitáriasomada à compe- tência legal e ética constituída pela aplicação da Lei e do Código de Ética dos Profissionais de Enferma- gem, propiciando a realização de uma assistência de enfermagem de qualidade. PROIBIÇÕES - Das relações profissionais Art. 8o - Promover e ser conivente com a injúria, calúnia e difamação de membro da Equipe de Enfer- magem, equipe de Saúde e de trabalhadores de outras áreas, de organizações da categoria ou instituições. Atitudes que podem parecer corriqueiras como fa- lar de outra pessoa sem certificar-se das informações ou mesmo apresentar críticas de sua conduta sem que tenha provas ou razão para expor a pessoa pode le- var a uma infração ética, visto que esta postura causa desordem no ambiente de trabalho e reflete direta ou indiretamente na atuação da enfermagem. RESPONSABILIDADES E DEVERES - Das relações com a pessoa, família e coletividade Art. 13 - Avaliar criteriosamente sua competência técnica, científica, ética e legal e somente aceitar en- cargos ou atribuições, quando capaz de desempenho seguro para si e para outrem. O profissional de enfermagem deve sempre apri- morar seus conhecimentos para prestar uma assis- tência adequada e ao ser convidado ou solicitado a fazer um procedimento novo ou desenvolver nova função deve ter a responsabilidade de ponderar sobre sua competência técnica e competência legal; exem- plo, ao ser solicitado a um auxiliar de enfermagem a realização de coleta de gasometria e o mesmo nunca realizou o procedimento este pode solicitar para ou- Pag 127-166.indd 148 11/21/09 12:54:54 AULA 2 — Código de Ética e a Lei do Exercício Profissional de Enfermagem tro profissional que tenha conhecimento na técnica assim não coloca em risco o paciente e o próprio profissional. Art. 25 – Registrar no prontuário do Paciente as informações inerentes e indispensáveis ao processo de cuidar. A anotação de enfermagem é atividade diária de toda a equipe e por meio dela podemos dar con- tinuidade da assistência, avaliar a evolução do pa- ciente aos cuidados, garantir documento legal sobre o atendimento e ainda realizar o levantamento dos custos. Esta anotação deve conter todas as informa- ções de forma objetiva, clara e ser realizada a cada procedimento evitando esquecimento ou ausência do registro. DIREITOS – Das relações com os trabalhadores de enfermagem, saúde e outros Art. 37 - Recusar-se a executar prescrição medica- mentosa e terapêutica, onde não conste a assinatura e o número de registro do profissional, exceto em situações de urgência e emergência. Parágrafo único – O profissional de enfermagem poderá recusar-se a executar prescrição medicamen- tosa e terapêutica em caso de identificação de erro ou elegibilidade. RESPONSABILIDADE Art. 38 - Responsabilizar-se por falta cometida em suas atividades profissionais, independente de ter sido praticada individualmente ou em equipe. O artigo 37 foi elaborado após inúmeros processos éticos onde o profissional de enfermagem era res- ponsabilizado pelos efeitos adversos e até óbitos de pacientes, decorrentes de medicamentos adminis- trados após prescrição verbal e que após o incidente era negada ou não confirmada a orientação de fazer tal droga. E o artigo 38 reafirma nosso conceito de ética, que afirma a necessidade de construir coletivamente as ações éticas em favor do paciente, da profissão e do sistema de saúde. Art. 113 - Considera-se Infração Ética a ação, omissão ou conivência que implique desobediência e/ou inobservância às disposições do Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem. Art.119 - As penalidades, referentes à advertência verbal, multa, censura e suspensão do exercício pro- fissional, são da alçada do Conselho Regional de En- fermagem, serão registradas no prontuário do profis- sional de Enfermagem; a pena de cassação do direito ao exercício profissional é de competência do Conse- lho Federal de Enfermagem, conforme o disposto no art. 18, parágrafo primeiro, da Lei no 5.905/73. Parágrafo único - Na situação em que o processo tiver origem no Conselho Federal de Enfermagem, terá como instância superior a Assembleia dos De- legados Regionais. Art. 120 - Para a graduação da penalidade e res- pectiva imposição, consideram-se: I - A maior ou menor gravidade da infração; II - As circunstâncias agravantes e atenuantes da infração; III - O dano causado e suas consequências; IV - Os antecedentes do infrator. Art. 122 - São consideradas circunstâncias atenu- antes: I - Ter o infrator procurado, logo após a infração, por sua espontânea vontade e com eficiência, evitar ou minorar as consequências do seu ato; II - Ter bons antecedentes profissionais; III - Realizar atos sob coação e/ou intimidação; IV - Realizar ato sob emprego real de força física; V - Ter confessado espontaneamente a autoria da infração. Art. 123 - São consideradas circunstâncias agra- vantes: I - Ser reincidente; II - Causar danos irreparáveis; III - Cometer infração dolosamente; IV - Cometer a infração por motivo fútil ou tor- pe; V - Facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a vantagem de outra infração; VI - Aproveitar-se da fragilidade da vítima; VII - Cometer a infração com abuso de autoridade ou violação do dever inerente ao cargo ou função; VIII - Ter maus antecedentes profissionais. Pag 127-166.indd 149 11/21/09 12:54:55 150 Unidade Didática — O Ser Enfermeiro Os cinco últimos artigos apresentados configu- ram o que é a penalidade ética e quais os critérios para a aplicação da pena ao profissional de enfer- magem; ao todo são 132 artigos no Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem que devem ser li- dos pelo profissional, mais de uma vez para favorecer uma prática adequada. Este documento foi aprovado pelo COFEN, é o conteúdo da Resolução COFEN no 311/2007, e encontra-se disponível na íntegra no site www.portalcofen.com.br. Nosso papel neste curso é despertar o interesse para este conhecimento que é muito amplo e indis- pensável à boa prática da enfermagem. LEI N.º 7498/86 E DECRETO-LEI N.º 94.406/87 Na trajetória histórica da enfermagem, tivemos algumas normas para regulamentar o exercício da enfermagem, a primeira foi o Decreto-Lei no 20.109, de 15 de junho de 1931. Ela regulava o exercício de enfermagem e fixava condições para a equiparação das Escolas de Enfermagem e instruções relativas ao processo de exame para revalidação do diploma. Em 22 de janeiro de 1946, foi criada a carreira de auxiliar de enfermagem no quadro permanente do Ministério da Educação e Saúde, por meio do De- creto-Lei no 8.772. No ano de 1955 foi aprovada no dia 17 de setembro a Lei no 2.604 que regulamenta o exercício da enfermagem profissional abrangendo todas as categorias como exercício na profissão. A Lei no 7.498 foi homologada em 25 de junho de 1986, é o instrumento legal que regulamenta do exercí- cio da Enfermagem e dão outras providências, no Brasil, a partir desta data, e deve ser considerada pelos profis- sionais a regra fundamental de suas práticas diárias. Devido a uma normativa do Poder Legislativo, a lei 7.498/86 foi regulamentada pelo Decreto-Lei 94.406 em 8 de junho de 87. Uma pausa para expli- car; os Decretos são decisões de uma autoridade su- perior, com força de lei, para disciplinar um fato ou uma situação particular. O Decreto, portanto, sendo hierarquicamente inferior, não pode contrariar a lei, mas pode regulamentá-la, ou seja, pode explicitá-la, aclará-la ou interpretá-la, respeitando, claro, os seus fundamentos, objetivos e alcance. A importância em conhecer a Lei e o Decreto-Lei que regulamenta o exercício da enfermagem, parte de um princípio constitucional que descrito no artigo 5o, inciso II, da Constituição da República Federativa do Brasil “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
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