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ADOÇÃO CONJUNTA DE IRMÃOS Em nossa sociedade, existe um número considerável de crianças e adolescentes residindo nas ruas ou abrigos, acontece que, na maioria das vezes, as genitoras abandonam seus filhos em hospitais logo depois do parto ou na casa de terceiros. Essa triste história possui inúmeras explicações, no entanto, vale-se ressaltar que em grande maioria, essas mulheres se encontram em estado de extrema pobreza e miséria. Ora, não é incomum em cada esquina vermos crianças abandonadas, onde uma criança cuida das outras. Dessa forma, irmãos devem ficar juntos, veja que uma vez desamparados juntos, o ideal é que sejam acolhidos e logicamente também colocados na mesma família. De acordo com a ilustre juíza, ROCHA (2013): “Se as crianças vão sair de sua família de origem, mesmo que por breve espaço de tempo, será mais fácil enfrentarem o desconhecido juntas. E a instituição de acolhimento é o desconhecido para estas crianças. Esse irmão está na mesma situação, tem os mesmos medos e inseguranças. Sofreu idênticas violências, abandonos, omissões, ou negligências. Chorou junto nas noites de abandono, teve o mesmo pavor quando levado para a instituição” Uma criança sente dor e medo desde o momento em que é colocada sob custódia do Estado. Sem contar que em muitos casos, os irmãos adotivos são separados nesse ponto, sendo cada um enviado para uma instituição e não no mesmo lar adotivo, como muitos imaginam. Ora, é angustiante considerar que o menor já carrega consigo inúmeros traumas da deterioração familiar biológica e ainda ter que passar por um rompimento de uma relação fraternal com um irmão, que por muitas vezes, pode ter sido um alicerce para o outro e vice-versa. Nesse sentido, é de total e extrema necessidade possuir uma atenção e cuidado quando se trata de um grupo de irmãos, a fim de diminuir o máximo possível o impacto durante a admissão em um abrigo, durante o processo de adoção e após a sua implementação. ROCHA (2013) faz esclarecimentos importantíssimos acerca das responsabilidades que circundam o instituto da adoção, cujas responsabilidades pesam ainda mais em se tratando da adoção conjunta de irmãos: O instituto da adoção representa, por todas as controvérsias que o cercam, um grande desafio para quem deseja exercer de forma incondicional e plena as prerrogativas parentais de pai ou mãe em relação a uma criança ou a um jovem com histórico de abandono e de privação do convívio familiar. Criar laços verdadeiramente parentais e filiais com quem não se tem elos biológicos é a marca diferencial da adoção. Se adotar uma criança já é uma experiência cercada de compromissos e responsabilidades, imagine aquela família postulante que se predispõe a adotar um grupo de irmãos. Vou além: imagine uma família que se mostra aberta e motivada para adotar um grupo de seis irmãos tendo já em seu histórico a concretização de outras dezesseis adoções. Não é coisa de novela, nem de filme. É fato, foi registrado no Distrito Federal e merece ser retratado com reverência e muito respeito. O ECA em sua legislação dispõe acerca de irmãos cadastrados para fins de adoção, que os mesmos sejam acolhidos preferencialmente juntos, no entanto, em situações que houver a separação deverá ter uma causa ou motivo plausível. O legislador tem como objetivo resguardar e proteger os laços afetivos entre os irmãos, pois já irão estar em uma situação de tristeza por ter a ruptura do vínculo que possuíam com os país biológicos, dessa forma é necessário minimizar os impactos e o sofrimento emocional gerados em casos de abandono. Segundo leciona ROCHA (2013): “No caso de irmãos em regime de acolhimento institucional, é natural que se crie entre eles, na maioria dos casos, uma mutualidade protetiva, em especial dos mais velhos em relação aos mais novos. Na hipótese de o magistrado autorizar a separação dos irmãos, a recomendação da Lei é no sentido de se tentar manter, mesmo após a adoção, os laços de fraternidade. Se a separação entre pais e filhos é um processo que impinge elevada dor e sofrimento, igualmente o é a separação entre irmãos que usufruam de afinidade e cumplicidade emocional”. O ECA, em seu artigo 92, inciso V, coloca isso como princípio, cuja deve ser obrigatoriamente observado pelas instituições de acolhimento, bem como para as famílias de acolhimento, evitando-se ao máximo a ruptura ou o desmembramento de grupos de irmãos. Todavia não existia no ECA um dispositivo expresso acerca da adoção de irmãos, somente nos abrigos temporários. A legislação era silente sobre a questão de manter ou não os irmãos juntos na mesma família adotiva Hoje, a Lei 12.010/2009 introduziu tal preceito em seu §4º do artigo 28: “Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais.” Qual indivíduo ao ser questionado acerca do tema, concluirá sem dificuldades que se for possível, Irmãos não devem ser separados na adoção, mas sim mantidos juntos, visando a facilidade assim a adaptação destes em meio a um ambiente desconhecido, bem como apoiando-se uns aos outros em meio a está situação completamente desconhecida e de muita insegurança. Graças ao referido dispositivo normativo, tal preceito deixou de ser apenas um princípio e passou a ser uma obrigação expressa na lei. Por um lado visto de forma positivo, mas de outro lado é vista como um obstáculo ou empecilho visto que muitas famílias adotantes têm preferência em adotar apenas uma criança. O artigo 50, § 15, ECA, que foi acrescentado pela Lei 13.509/17, prevê em seu texto legal que: “será assegurada prioridade no cadastro a pessoas interessadas em adotar criança ou adolescente com deficiência, com doença crônica ou com necessidades específicas de saúde, além de grupo de irmãos”. DIFICULDADES E VIABILIDADES ACERCA DO INSTITUTO DA ADOÇÃO CONJUNTA DE IRMÃOS BIOLÓGICOS A adoção de irmãos é uma tarefa difícil e pouco comum, pois representa um desafio para a manutenção do vínculo entre crianças que compartilham vínculos biológicos. O processo de adoção segue um padrão tradicional, e as restrições financeiras complicam ainda mais as coisas, especialmente após a situação de pandemia. Essas crianças em transição necessitam dos cuidados e apoio tanto dos pais adotivos quanto de seus irmãos biológicos, como enfatizou o TJDF em 2018. Limitações da manutenção da adoção concomitante de irmãos: Os irmãos que acabam em instituições normalmente são recebidos simultaneamente devido a exigências legais e estão sujeitos a circunstâncias idênticas. Estes jovens partilham razões comuns para serem colocados em tais instalações, nomeadamente a negligência parental caracterizada por imprudência, maus-tratos e abusos. Tais atos hediondos invariavelmente resultam em motivos, oportunidades e procedimentos semelhantes. A presença de certos fatores pode tornar desafiador para os irmãos residirem na mesma instituição, particularmente se houver uma disparidade de gênero ou idade. Isso pode incluir situações em que os adolescentes se envolvem no uso de drogas ou em que as meninas sofreram abuso ou exploração sexual, levando a uma possível transferência para uma instituição especializada. Por outro lado, ter irmãos de idades variadas pode representar desafios que não são benéficos para a faixa etária alvo, pois a duração do processo é prolongada, resultando em casos em que uma criança pode amadurecer e um de seus irmãos entrar na adolescência enquanto ainda reside em uma casa de acolhimento ou instituição especializada e, consequentemente, continua a permanecer além da faixa etária que a organização atende (ROCHA, 2013). Os irmãos, que atualmente estão em lares adotivos separados, têm o direito de preservar o relacionamento. Como resultado, é responsabilidade das instituições facilitar as visitas regulares, garantir que frequentem a mesma escola e permitirque passem fins de semana e feriados juntos. No entanto, essa abordagem pode levar a desafios financeiros, já que o transporte e outras despesas devem ser cobertas pelo lar adotivo. (ROCHA, 2013). A não separação é crucial na adoção, pois carrega uma natureza permanente, mas também é a mais desafiadora de realizar na realidade. A verdade é que nem sempre é viável que os irmãos permaneçam juntos, nem podem residir sempre com a mesma família adotiva. Há inúmeros casos de irmãos que foram anteriormente separados por seus pais, confiados a conhecidos, membros da família ou deixados sozinhos, resultando em irmãos que não estão familiarizados uns com os outros e não formaram uma conexão de afeição mútua. O magistrado frequentemente o convoca no mesmo local para examinar os procedimentos relacionados a essa matéria. É uma alegria testemunhar o reencontro dos irmãos, ainda que por negligência dos pais que causaram a separação. Infelizmente, nem sempre é possível manter os irmãos juntos até que eles sejam adotados em conjunto. É comum que potenciais adotantes visitem essas instalações e sejam atraídos por irmãos mais novos, desconsiderando os mais velhos. Optar por adotar apenas uma criança pode ser uma decisão razoável diante de desafios econômicos. Nesses casos, talvez seja melhor focar na adoção de crianças que não tenham irmãos. No entanto, se um grupo de irmãos está sendo considerado para adoção, é crucial buscar uma adoção conjunta. (ROCHA, 2013). Viabilidade da adoção de grupo de irmãos: É necessário um tempo suficiente para a adoção conjunta. O juiz da Infância pesquisará todos os registros disponíveis para famílias dispostas a adotar irmãos e, se necessário, poderá entrar em contato com uma família qualificada e registrada, de acordo com as disposições legais. Com isso, caso não seja viável que os irmãos sejam adotados pela mesma família, serão feitos arranjos alternativos. Uma família estruturada e disposta a assumir maiores responsabilidades financeiras é necessária para a adoção de irmãos de idades e necessidades variadas. Essas crianças podem enfrentar questões como ciúmes, insegurança e disputas pelo afeto dos pais adotivos, que exigem estabilidade emocional da família adotiva para evitar o abandono. Nos casos em que as circunstâncias são desfavoráveis, pode ser necessário separar os irmãos ou adotar um deles enquanto os outros continuam a residir no lar adotivo. Essas decisões podem ser desafiadoras, pois muitas vezes é preferível manter os irmãos juntos, mas é importante evitar institucionalizá-los sem uma família. Isso vai contra as intenções da lei. Nos casos em que adotar irmãos juntos não é possível, ainda é preferível que eles sejam adotados por famílias separadas para que não possam experimentar as dificuldades de crescer sem uma família. Isso ficou demonstrado na adoção e guarda provisória concedida às famílias substitutas pelo Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Nestes termos: AGRAVOS DE INSTRUMENTO. DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR C/C ADOÇÃO. PEDIDO DE GUARDA PROVISÓRIA. JULGAMENTO CONJUNTO. SITUAÇÃO EXCEPCIONAL UTORIZADORA. MANUTENÇÃO DOS VÍNCULOS ENTRE GRUPO DE IRMÃOS. MELHOR INTERESSE. 1.Analisam-se conjuntamente os agravos de instrumento nº 70077106235 e 70077104677, ambos interpostos contra decisões semelhantes que, embora proferidas em ações distintas, dizem respeito a pedido de guarda provisória de dois irmãos, envolvidos no mesmo contexto familiar quanto à suposta ausência de condições dos genitores para o exercício da autoridade parental e pretensão de guarda por terceiros.2. Não se pode olvidar que, na doutrina da proteção integral e prioritária dos direitos da criança e do adolescente, consagrada pelo ECA e pela Constituição Federal, a intervenção do Estado deve atender prioritariamente aos superiores interesses dos menores, nos termos do art. 100, inc. II e IV, do ECA, e do art. 227 da CF.3. No caso, está configurada situação excepcional que autoriza o deferimento do pedido de guarda provisória em benefício aos infantes, diante da peculiaridade da situação posta, qual seja a colocação em famílias substitutas de um grupo de irmãos, no âmbito da pequena cidade interiorana em que todos residem, junto a casais de amigos, o que... permitirá a manutenção de contatos das crianças entre si, de modo a preservar os vínculos entre os infantes. Inteligência do art. 197-C, §1º,do ECA. DERAM PROVIMENTO AOS AGRAVOS 70077106235 e 70077104677. UNÂNIME. (Agravo de Instrumento Nº 70077104677, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 24/05/2018) Ao examinar o precedente legal, verifica-se que os juízes têm favorecido a adoção conjunta de irmãos ao avaliar criteriosamente a necessidade e a viabilidade da defesa do princípio da priorização do melhor interesse dos filhos, o que, nesse cenário, envolve a preservação das relações fraternas. Como observado anteriormente, a maioria das famílias elegíveis para adoção em todo o país expressa preferência pela adoção de crianças jovens e saudáveis, sem irmãos. No entanto, o juízo responsável pela infância e adolescência tem optado por facilitar as futuras famílias que buscam maior adaptabilidade e critérios diversos, resultando em processos de adoção céleres e incrementais (TJDF, 2018). O CNJ informa que há 47 milhões de crianças em acolhimento no Brasil. No entanto, apenas 9,5 mil dessas crianças estão cadastradas para adoção, e apenas 5 mil estão efetivamente disponíveis para adoção, já que as demais crianças têm a opção de morar com a família extensa. O candidato ideal para adoção, como preferido por indivíduos qualificados, é tipicamente uma criança branca com menos de 4 anos de idade, sem irmãos e sem quaisquer condições médicas. Aqueles que buscam adotar crianças muitas vezes desejam aqueles que não se encaixam nos critérios delineados pelos lares adotivos. As famílias cadastradas para adoção estão em busca de um perfil específico que não reflita as crianças reais disponíveis. Consequentemente, estão em busca de crianças que não estão presentes no sistema de acolhimento (LIMA, 2019). No entanto, é importante notar que, embora as crianças possam ser capazes de viver sem irmãos, elas não podem prosperar emocionalmente sem o amor e o cuidado dos pais. Quando os irmãos não estão fortemente ligados, é comum que sejam emitidas sentenças de separação, o que pode causar imenso sofrimento devido à perda que já vivenciaram em suas vidas. É importante ressaltar que crianças e adolescentes têm direito à família, e esse direito não pode ser negado simplesmente por terem um irmão que não pode ser adotado pela mesma família. Dessa forma, Em algumas situações, pode ser possível colocar irmãos de famílias diferentes para adoção separadamente ou ter apenas alguns deles adotados enquanto os demais permanecem na instituição (ROCHA, 2013). As varas da infância e juventude empregam uma técnica chamada adoção compartilhada para tratar da questão da separação de irmãos. Esse método envolve colocar irmãos com famílias diferentes, mesmo que já crescidos, com o entendimento de que manterão seu relacionamento e continuarão a viver juntos. Espera-se que as famílias sejam reconhecidas por suas capacidades educativas, ao mesmo tempo em que enfatizam a importância das relações entre irmãos. Para aqueles que pensam em adotar dentro desse quadro, é essencial receber treinamento especializado. Antes de trazer as crianças para conviver, oferece uma oportunidade para que as famílias interajam e se envolvam em conversas mediadas, permitindo que elas se familiarizem e compreendam o conceito de adoção compartilhada. Além disso, é fundamental que as crianças tenham uma plataforma de comunicação para reconhecer as expectativas e limites desse novo arranjo familiar (RIBEIRO, 2019). Apesar de ter feito preparativos exemplares, a dupla responsabilidade de reconhecer e estabelecer-se como família pode revelar-se extremamente desafiante em casos de adoção em que pode parecer que as crianças estão a ser partilhadas ou adotadas emconjunto. Isso pode criar uma sensação de não haver uma unidade familiar singular. Portanto, é imperativo reconhecer a importância de estabelecer limites para cada família recém-formada e para que cada indivíduo que adotou um irmão tenha a liberdade de criar seus filhos como achar melhor. O conceito de adoção compartilhada não envolve necessariamente a ideia de ter uma família numerosa. O significado dessa abordagem está em manter a conexão entre irmãos e a garantia de manter relações familiares biológicas ao longo da vida, como afirma RIBEIRO. DIREITO DE FAMÍLIA E PROCESSUAL CIVIL. GUARDA E REGIME DE CONVIVÊNCIA. GENITORES APTOS AO EXERCÍCIO DO PODER FAMILIAR. ADOÇÃO PRIORITÁRIA DA GUARDA COMPARTILHADA. ? RESIDÊNCIA ALTERNADA? COMPATIBILIDADE COM A GUARDA COMPARTILHADA. SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA. DIVISÃO PROPORCIONAL DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. I. Dada a sua potencialidade nociva para o menor, a guarda alternada não encontra previsão legal, nos termos do artigo 1.583, caput, do Código Civil, e tem pouca receptividade doutrinária e jurisprudencial. II. Estando ambos os genitores aptos ao exercício do poder familiar, somente em situações extraordinárias pode deixar de ser adotada a guarda compartilhada, consoante a inteligência do artigo 1.584, caput e § 2º, do Código Civil. III. O regime de convivência mediante ?residência alternada?, que não se confunde com ?guarda alternada?, é perfeitamente compatível com a guarda compartilhada e pode ser utilizado quando se revela apropriado aos interesses do filho, à luz do que dispõem os artigos 1.583, § 2º, e 1.584, § 3º, do Código Civil. IV. Caracterizada a sucumbência recíproca, os honorários advocatícios devem ser distribuídos proporcionalmente, conforme o disposto no artigo 86, caput, do Código de Processo Civil. V. Recursos providos parcialmente. Assim, é fundamental manter o equilíbrio entre ambas as conexões, sem prejudicar a relação afetiva compartilhada pelos irmãos. Um dos métodos para garantir o bem-estar desse vínculo é protegendo seu direito de visitação (LOPES, 2020). “Para mim a adoção é uma experiência sem igual, que só se torna linda quando encontramos uma família que nos transforma no melhor que podemos ser. Hoje somos melhores irmãos e filhos extremamente felizes”. O candidato a adoção de três irmãos também deu seu depoimento dizendo que “Não tive nenhuma dúvida quando os conheci, mas confesso, quando o sentimento deles me tocou, nunca mais fui a mesma e desde então os amos mais a cada dia e não canso de me entregar de forma plena, apaixonada e sem reservas. Para mim adoção é um encontro que não se desfaz” (TJDF, 2018). O casal pretendia adotar uma criança, mas, na verdade acabou por adotarem duas que iremos chamar pelas iniciais de cada uma. A vida mudou com adoção de “A” e “k” que são irmãos que por “R” e “D”. A maioria dos casais que querem adotar que se alocam no Cadastro Nacional de Adoção declaram que não querem adotar irmãos. Eles pensaram muito ao adotar apenas um, pois perceberam que a ligação das duas crianças era muito sólida e que a separação de ambos causaria um trauma muito forte. O menino “A” de apenas três aninhos já tinha uma preocupação com a irmã diante da ausência dos pais biológicos. Quando estava no abrigo eles e preocupava em guardar a sobremesa para a irmã. O menino assumiu um papel que não era dele, que no caso, era de pai. Foi trabalhoso convence-lo a cuida dos dois. O casal recomenda a adoção porque o vínculo é muito lindo. Além de adotar irmãos, esse casal fugiu do perfil padrão mais procurado pelos cadastrados para adoção, que foi a adoção de crianças negras e com a idade avançada. Anderson, já com quatro anos e meio de idade, era uma criança já velha e negra para ser adotada pois a preferência pelos adotantes é de crianças recém-nascidas e brancas. O processo da adoção dessas duas crianças demorou 4 anos e neste trâmite apresentaram documentos, receberam visita de assistentes sociais e participaram de cursos para, então, serem considerados aptos no cadastro de adoção. Quando eles receberam a ligação com o chamado para ir na vara de infância a descrição deles foi indescritível. Hoje, as crianças estão há três anos com as crianças e tiveram o cotidiano alterado por elas tais como a mudança de imóveis, nas atividades que eram feitas pois as tarefas são voltadas para essas crianças. Para eles, a atitude de adotar foi muito boa e com um vasto aprendizado. O amor dado pelo casal é retribuído pelos irmãos com carinho e esperteza. Em contrapartida, todo casal que quer ter filhos, passa por um processo difícil de educação pois, nesta fase, há muitas birras entre eles e questionamentos típico da idade, além de virem de convivências diferentes (AQUINO, 2019). Na ocasião que não há a possibilidade de adoção simultânea de irmãos, temos uma outra alternativa que é um outro ponto a ser considerado, que é a adoção compartilhada de irmãos. Sabemos, conforme o CNJ, que há milhares de crianças em situação de abandono e acolhimento. Quando se esgota a possibilidade de retorno à família de origem, que são os pais, ou extensa, que são os avós, tios, irmãos mais velhos, essas crianças são potentes candidatas à adoção. A adoção compartilhada mostrou-se como uma tentativa das Varas de Infância e Juventude para enfrentar tal situação. Este tipo de adoção, surgiu como tática para viabilizar que diferentes famílias adotem separadamente irmãos, incluindo os mais velhos com o comprometimento de preservar o vínculo e a convivência entre eles. Com isso, é esperado que famílias sejam reconhecidas em suas limitações para a quantidade de filhos e simultaneamente garantindo a proximidade e convivência entre irmãos (RIBEIRO,2019) Esse processo de adoção representa um desafio, pois exige que as famílias trabalhem juntas para realizar a difícil tarefa. Envolve a experiência de terapeutas e supervisores experientes para navegar pela situação. O sucesso na criação de novos vínculos familiares é alcançado por meio de apoio clínico, análise criteriosa e níveis adequados de cuidado e autoridade no processo de adoção (RIBEIRO, 2019). Assim, com base na experiência das famílias, o preparo adequado é fundamental para esse tipo de adoção. O conhecimento prévio entre os indivíduos é essencial antes da coabitação com as crianças. Isso pode ser alcançado por meio da participação em discussões facilitadas para compreender as consequências da adoção compartilhada. Além disso, é imperativo proporcionar às crianças oportunidades de expressar suas expectativas e limites em relação à nova família proposta (RIBEIRO, 2019). No entanto, esse modelo de adoção não é a opção preferida no Brasil. As circunstâncias do nosso país divergem significativamente dos dois modelos mencionados. A situação está nas características desejadas buscadas pelos brasileiros, ou seja, crianças brancas menores de quatro anos, e 61% se recusam a adotar irmãos, conforme informou o CNJ. Esta é uma situação deplorável, e a criança também deve estar bem de saúde, sem doenças. Indivíduos que aguardam na fila para se inscrever para adoção estão buscando crianças com características únicas que diferem daquelas disponíveis em lares adotivos. Especificamente, há crianças com mais de quatro anos, de várias etnias, incluindo pretas e pardas, muitas das quais têm irmãos. Além disso, algumas dessas crianças foram abandonadas devido a condições médicas presentes no nascimento, o que é uma realidade dolorosa. Os pais que estão entusiasmados com a adoção por ter grandes expectativas acerca das exigências podem esperar bastante, porque os critérios para adoção diferem dos perfis de crianças disponíveis. Infelizmente, apenas um número limitado de casais está disposto a adotar crianças com mais de 8 anos de idade, o que resulta em um número maior de crianças permanecendo em acolhimento até atingirem a idade adulta. Portanto, essas expectativas não se alinham com a situação atual em nosso país (LIMA, 2019). Os candidatos à adoção abrangem uma gama de diversidade, incluindo casais heterossexuais, homossexuais,indivíduos solteiros e indivíduos de várias origens raciais. Apesar dessa diversidade, o processo de adoção continua consistente para todos os candidatos. O processo não é fácil, pois é influenciado não só pelo perfil do candidato, mas também pelo desejo da criança de formar conexões com esses indivíduos. Pode-se argumentar que a jornada para a adoção é muitas vezes longa e burocrática, com o risco adicional de "devolução" - uma situação em que a criança é devolvida ao lar adotivo durante a fase de convivência, enfrentando rejeição mais uma vez, apesar do desejo de ficar com seus pais adotivos. Tal resultado pode resultar em graves problemas psicológicos para a criança. A "devolução" pode ocorrer por diversos motivos, como a morosidade dos procedimentos, problemas com o temperamento da criança, falta de adaptação com os irmãos (biológicos ou não) ou o processo burocrático. Apesar de ter filhos biológicos com sucesso, é crucial notar que esses fatores não são motivos válidos para o retorno de uma criança ao acolhimento familiar, pois nenhum dos pais devolveria seu próprio filho em caso de gravidez. (LIMA, 2019). Em alguns casos, o acompanhamento inadequado e a insistência em combinar o perfil de uma criança com um adotante específico podem levar a resultados infelizes. Isso pode causar complicações para os abrigos e, para evitar adoções malsucedidas, é importante evitar a coerção e, em vez disso, usar táticas persuasivas ao convencer potenciais adotantes. Essa abordagem pode evitar que problemas psicológicos surjam mais tarde na vida da criança. (LIMA, 2019). Um exemplo de adoção conjunta de irmãos que falhou, foi o caso do Senador Magno Malta que adotou uma menina que tinha 3 irmãos e conforme ele, o processo demorou porque o juiz estava na esperança de que fossem adotados por um casal italiano e ainda disse, ao entregar a criança elas deixariam de ser irmãos pois talvez não se vissem mais. O juiz enfatizou que há situações que a separação é inevitável. O magistrado confessa que nãos e pode aguardar por anos o processo de adoção de grupo de irmãos numerosos. Sob tais argumentos tem-se o acórdão 3ª Vara Cível da Comarca de Araranguá/SC que aborda acerca disto: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE GUARDA E RESPONSABILIDADE. OUTORGA DA GUARDA DO FILHO MENOR A PESSOA DIVERSA DOS GENITORES. POSIBILIDADE. PERMANÊNCIA DO INFANTE SOB A GUARDA DOS PAIS NÃO RECOMENDÁVEL. SITUAÇÃO DE RISCO EVIDENCIADA. PRIMAZIA INTERESSE MENOR. NECESSIDADE DE CONCEDER A GUARDA A TERCEIROS. PADRINHOS QUE POSSUEM RELAÇÃO DE AFETIVIDADE E AFINIDADE COM O MENOR. CONDIÇÕES PARA SEU EXERCÍCIO. GUARDA CONCEDIDA A ESTES. DIREITO DE VISITAS À GENITORA. POSSIBILIDADE. PRESERVAÇÃO DO VÍNCULO COM OS ANCESTRAIS. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. Se ficar demonstrado nos autos que o filho não deve permanecer sob a guarda dos genitores, deverá esta ser concedida à pessoa que revele compatibilidade com a natureza da medida, conforme dicção do § 5º do art. 1.584, do Novo Código Civil. Mesmo que a guarda da criança seja concedida a terceiros, deve-se preservar o vínculo existente entre a mãe biológica e seu filho quando o caso assim permitir e propiciar uma relação de afeto do menor com seus ancestrais através da fixação de direito de visitas aos genitores. (TJSC, Apelação Cível n. 2010.070805-9, de Araranguá, rel. Des. Saul Steil, j. 29-03-2011). (SANTA CATARINA, 2014-a) A escolha ideal no caso citado foi separar os irmãos, com base no raciocínio de que a criança foi adotada ainda criança e formou fortes vínculos com os irmãos da família substituta, enquanto sua irmã não sofreu maus-tratos e já estabeleceu uma relação próxima com seus pais adotivos (BORGES, 2014). Assim, é crucial garantir que as crianças sejam capazes de manter seus laços afetivos com seus irmãos. Consequentemente, é imperativo considerar a localização dos futuros pais adotivos, resguardando o melhor interesse da criança. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS <http://www.atenas.edu.br/uniatenas/assets/files/magazines/ADOCAO_CONJUNTA_DE_IRMAOS.pdf> Acessado em: 18/05/2023 <http://repositorio.undb.edu.br/bitstream/areas/726/1/LUCIANA%20FREIRE%20GUTERRES.pdf> Acessado em: 18/05/2023 LIMA, Mariana.Adoção no Brasil: a busca por crianças que não existem. 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