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DESCRIÇÃO A construção da Farmacognosia como ciência multidisciplinar e ramo mais antigo das Ciências Farmacêuticas. PROPÓSITO Compreender a importância da Farmacognosia na prática farmacêutica de orientar e administrar medicamentos e outros produtos e serviços para o cuidado da saúde. OBJETIVOS MÓDULO 1 Reconhecer a Farmacognosia como ciência multidisciplinar e a origem do conhecimento sobre produtos naturais MÓDULO 2 Descrever a fotossíntese como principal processo biológico para obtenção de carboidratos MÓDULO 3 Identificar os carboidratos e algumas aplicações destes como insumos farmacêuticos INTRODUÇÃO Neste tema, vamos aprender a origem do termo Farmacognosia correlacionando-o com seu uso tradicional e novas terminologias. Vamos compreender o caráter multidisciplinar da Farmacognosia, que contempla conceitos de ciências básicas (Botânica, Zoologia, Genética, Física e Química) e aplicadas (Química Farmacêutica, Farmacodinâmica, Farmacotécnica, Tecnologia e Controle de medicamentos etc.), e destacar sua natureza de ciência privativa do farmacêutico, considerada o ramo mais antigo das ciências farmacêuticas. Por fim, entenderemos que a Farmacognosia é de extrema importância para o conhecimento de produtos naturais e o desenvolvimento de novos fármacos aplicáveis na medicina moderna. MÓDULO 1 Reconhecer a Farmacognosia como ciência multidisciplinar e a origem do conhecimento sobre produtos naturais ORIGEM DA FARMACOGNOSIA O termo Farmacognosia foi criado entre 1796-1809 por Johann Adam Schmidt, médico e professor de patologia geral, terapia e matéria médica da Universidade de Viena, na Áustria. Professor e médico Johann Adam Schmidt. SAIBA MAIS O primeiro registro do termo em texto foi em 1811, no livro Lehrbuch der Materia Medica, que tratava de plantas medicinais e suas propriedades. O termo Farmacognosia tem como base duas palavras gregas: Pharmakon "φάρμακο" Significa droga, medicamento, remédio, veneno. Gnosis "γνώσης" Expressa conhecimento. Você deve estar se perguntando: Não seria a mesma coisa que Farmacologia? Não. Na verdade, a Farmacognosia inclui os conhecimentos de Farmacologia como um dos pilares do conhecimento da droga em sua totalidade. A Farmacologia pode ser definida como a ciência que estuda como as substâncias químicas interagem com os sistemas biológicos. Pharmakon "φάρμακο", que quer dizer "droga", "medicamento", "remédio", "veneno"; e logia "λογία", derivado de logos "λόγος", que significa "palavra", "discurso", sintetizado em "ciência". DICA Para aprofundar ainda mais os seus conhecimentos, recomendamos uma pesquisa rápida pelo significado do termo “ciência”, no dicionário. A Farmacognosia inclui todo o tipo de conhecimento relacionado à droga, desde o conhecimento sobre sua fonte, como, por exemplo, o conhecimento etnobotânico de determinada espécie vegetal, o preparo da droga, seus possíveis usos, princípios ativos, efeitos farmacológicos etc. Durante o século XIX e começo do século XX, o termo Farmacognosia era utilizado para definir o ramo da medicina que estudava as drogas vegetais brutas ou não processadas de finalidade medicinal (matérias-primas vegetais). Atualmente, a definição mais ampla de Farmacognosia seria: A APLICAÇÃO SIMULTÂNEA DE VÁRIAS DISCIPLINAS CIENTÍFICAS COM O OBJETIVO DE CONHECER FÁRMACOS NATURAIS SOB TODOS OS ASPECTOS. Ou ainda: UMA CIÊNCIA MULTIDISCIPLINAR QUE CONTEMPLA O ESTUDO DAS PROPRIEDADES FÍSICAS, QUÍMICAS, BIOQUÍMICAS E BIOLÓGICAS DOS FÁRMACOS OU DOS FÁRMACOS POTENCIAIS DE ORIGEM NATURAL ASSIM COMO A BUSCA DE NOVOS FÁRMACOS A PARTIR DE FONTES NATURAIS. Atualmente, o termo Farmacognosia é usado por tradição. Porém, novas terminologias foram criadas para substituí-lo. Tais como: BIOLOGIA FARMACÊUTICA Na Alemanha MATÉRIA MÉDICA Na França BIOFARMACOGNOSIA No Brasil FARMACOGNOSIA E FARMÁCIA A Farmacognosia é a ciência privativa do farmacêutico, sendo este o profissional mais capacitado para conhecer fármacos naturais sob todos os aspectos. No campo das ciências básicas que entram no currículo farmacêutico, a Farmacognosia se relaciona, por exemplo, com a Botânica, Genética, Física e Química. No campo das ciências aplicadas, ela exerce influência na Farmacocinética, na Química Farmacêutica, na Farmacodinâmica, no setor de Tecnologia e Controle, tanto de medicamentos como de alimentos etc. INTERDISCIPLINARIDADE DA FARMACOGNOSIA A fonte dos fármacos naturais em Farmacognosia são as drogas, ou seja, todo organismo biológico (ex.: vegetal, animal) — mesmo que uma parte, órgão ou produtos derivados diretamente destes seres —, que, após sofrer processos de coleta, preparo e conservação, apresentem composição e propriedades tais que possibilitem seu uso como forma bruta de medicação ou como necessidade farmacêutica. Já as drogas vegetais podem ser definidas conforme RDC N. 26, de 13 de maio de 2014 e atualizações, que dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos, e o registro e a notificação de produtos tradicionais fitoterápicos: DROGA VEGETAL Planta medicinal, ou suas partes, que contenham as substâncias, ou classes de substâncias, responsáveis pela ação terapêutica após processos de coleta, estabilização (quando aplicável) e secagem, podendo estar na forma íntegra, rasurada, triturada ou pulverizada. REPRESENTAÇÃO GERAL DE TRANSFORMAÇÃO DE PLANTA MEDICINAL EM DROGA VEGETAL 1º ETAPA Coleta 2º ETAPA Preparo 3º ETAPA Conservação Para entender melhor como ocorre essa transformação, observe as imagens a seguir, que representam um exemplo de uma planta medicinal na natureza e da droga medicinal após passar por todas essas etapas: PLANTA MEDICINAL NA NATUREZA Chamomilla recutita L, com indicações terapêuticas de uso interno, como antiespasmódico, ansiolítico e sedativo leve; e de uso externo, como anti-inflamatório em afecções de cavidade oral. DROGA VEGETAL Droga vegetal composta por inflorescências secas, preparadas para uso terapêutico ou para preparo de derivados vegetais como tinturas, extratos fluidos etc. javascript:void(0) javascript:void(0) ATENÇÃO Apesar das drogas vegetais serem preparadas a partir das plantas medicinais, esses conceitos são bem distintos. Diferentemente do que se define por droga vegetal, as plantas medicinais são as espécies vegetais (cultivadas ou não) empregadas com finalidades terapêuticas. O esquema a seguir mostra correlações diretas de Farmacognosia com atividades relacionadas à droga para transformá-la em forma bruta de medicação ou necessidade farmacêutica. DICA As atividades envolvem procedimentos farmacêuticos como base em conceitos das ciências aplicadas como Farmacotécnica, Toxicologia, Farmacobotânica, Química Analítica, Química Medicinal, Tecnologia e Controle de Qualidade de Medicamentos. CORRELAÇÕES ENTRE A FARMACOGNOSIA E A OBTENÇÃO DE FORMA BRUTA DE MEDICAÇÃO OU NECESSIDADE FARMACÊUTICA Segundo a Federação Farmacêutica Internacional: A MISSÃO DA PRÁTICA FARMACÊUTICA CONSISTE EM ADMINISTRAR MEDICAMENTOS E OUTROS PRODUTOS E SERVIÇOS PARA O CUIDADO DA SAÚDE, AJUDANDO AS PESSOAS A UTILIZÁ-LOS DA MELHOR MANEIRA POSSÍVEL. (FIP, 1997) O objetivo social da Farmácia é auxiliar todo o processo de uso de medicamentos e outros recursos terapêuticos junto à sociedade, garantindo a manutenção, proteção e promoção da saúde. O contexto brasileiro apresenta uma forte cultura de uso de produtos naturais como recurso terapêutico, principalmente os de origem vegetal, tendo inclusive políticas públicas voltadas à área, como a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Portanto, levando em conta esse cenário, espera-se que o farmacêutico seja capaz de promover o uso racional de produtos naturais, principalmente os de origem em plantas medicinais, na perspectiva da integralidade das ações e da complementaridade de modelos e práticas de promoção da saúde, que consideram saberes e práticas das medicinas tradicionais, o legado cultural inerente ao contexto histórico douso de espécies vegetais, as exigências éticas, e a rigorosidade científica do processo de cuidado à saúde. FARMACOGNOSIA E PRODUTOS NATURAIS Embora os produtos sintéticos desempenhem papel importante na terapêutica da medicina moderna, a Farmacognosia não é uma ciência ultrapassada. O conhecimento farmacognóstico possibilita a descoberta e o desenvolvimento de novos fármacos e mantém o conhecimento sobre diversas substâncias medicamentosas naturais que ainda são utilizadas diariamente no tratamento de enfermidades cuja síntese ainda não foi alcançada. Imagem fotográfica da planta Digitalis lanata conhecida popularmente como dedaleira. Os cardenolídeos digitálicos, por exemplo, como o lanatosídeo C e a digoxina, são isolados da planta Digitalis lanata, conhecida popularmente como dedaleira, e atualmente ainda são a principal escolha para o tratamento de insuficiência cardíaca congestiva (ICC), apesar de baixos índices terapêuticos. As investidas na obtenção de novos fármacos inotrópicos (aqueles que aumentam o débito cardíaco por meio da elevação da contratilidade do miocárdio) suplementares ou substitutos desses glicosídeos ainda não foram bem-sucedidas, e a síntese ou obtenção por meio de cultura de células não competem economicamente com a produção destes a partir de cultivares agrícolas de D. lanata (BRAGA, 1997). Estrutura química do cardenolídeo digitálico Lanatosídeo C Estrutura química do cardenolídeo digitálico digoxina A definição de um produto natural está muito próxima ao que definimos como droga em Farmacognosia, com uma distinção marcante na possibilidade do produto natural poder apresentar uma origem completamente sintética. Um produto natural pode ser definido como: ... UM COMPOSTO QUÍMICO OU SUBSTÂNCIA PRODUZIDA POR UM ORGANISMO VIVO ENCONTRADO NA NATUREZA, QUE GERALMENTE POSSUI UMA ATIVIDADE FARMACOLÓGICA OU BIOLÓGICA PARA USO NA DESCOBERTA DE FÁRMACOS E NO SEU DESIGN. ESTE PRODUTO PODE SER CONSIDERADO COMO TAL, MESMO QUE POSSA SER PREPARADO POR SÍNTESE TOTAL. PODE SER EXTRAÍDO DE TECIDOS DE PLANTAS TERRESTRES, ORGANISMOS MARINHOS OU MICRORGANISMOS. (LAHLOU, 2013) PRODUTOS NATURAIS E DESCOBERTA DE NOVOS FÁRMACOS Os produtos de origem natural detêm uma enorme variabilidade química estrutural e funcional devido à flexibilidade metabólica que determinados organismos vivos possuem frente a situações de estresse ambiental causado por agentes químicos, físicos e biológicos. Em adaptação às condições ambientais, esses organismos ativam determinados mecanismos bioquímicos e genéticos para conseguirem sobreviver, assim como produzem metabólitos especializados, conhecidos também como metabólitos secundários, ou ainda, metabólitos especiais. Os produtos naturais podem ser utilizados in natura, como infusões de plantas medicinais, em preparações galênicas simples, como tinturas e extratos fluidos, em medicamentos fitoterápicos como, por exemplo, vegetais ou frações deles, quimicamente caracterizados e padronizados, incorporados em formas farmacêuticas ou substâncias puras, como a penicilina que tem origem microbiana. Esses produtos podem ainda ser usados como estrutura de base para obter moléculas farmacologicamente ativas, como recurso a processos de síntese parcial, com o objetivo de melhorar as propriedades farmacológicas, ou podem ser usados como modelos moleculares para a síntese total de novos compostos bioativos. Um trabalho de revisão publicado na Journal of Natural Products, realizado no período de 1º de janeiro 1981 a 30 de setembro de 2019, por Newman & Cragg (2020), revelou um fato bastante interessante que explicita a importância dos produtos naturais para a humanidade. Os autores mostraram que a prática de utilização de produtos naturais e/ou variações sintéticas com suas novas estruturas, a fim de descobrir e desenvolver a entidade final do fármaco, ainda está em alta. Dentre todos os agentes terapêuticos aprovados num período de quase 39 anos na área do câncer, aproximadamente 50% são naturais ou derivados de produto natural. Indicação Total Macromolécula de origem biológica Produto natural inalterado Produto natural botânico (mistura definida) Derivado de produto natural Droga sintética Droga sintética com farmacóforo de produto natural ̸ Mimético de produto natural Vacina Antibacteriana 162 4 11 -- 78 36 1 32 Anticâncer 247 52 18 1 43 42 81 10 Antiviral 186 17 -- -- 6 46 30 87 Antiparasitário 20 -- 2 7 9 -- -- 2 Tabela: Novas entidades químicas e indicação terapêutica por fonte do composto, no período de 01 jan de 1981-30 set de 2019. Extraído de NEWMAN & CRAGG (2020). Atenção! Para visualização completa da tabela utilize a rolagem horizontal COM BASE NESSES DADOS, É POSSÍVEL PERCEBER O QUANTO A FARMACOGNOSIA AINDA SE FAZ NECESSÁRIA PARA O CONHECIMENTO E OBTENÇÃO DE NOVOS FÁRMACOS. Veja a seguir alguns exemplos de produtos naturais descobertos em outras décadas, mas que ainda são utilizados como fármacos na medicina moderna: AGENTES ANTIBACTERIANOS Em 1928, Alexander Fleming detectou a inibição do crescimento de colônias de bactérias gram-positivas (Staphylococcus aureus) contaminadas com fungos do Gênero Penicillium. Esta observação fortuita levou-o à descoberta da penicilina (BARREIRO et al., 2006). Mais tarde, com o conhecimento estrutural da penicilina, foi possível criar as penicilinas semissintéticas como a oxacilina e a meticilina, obtidas a partir da modificação química de derivados da penicilina G. Esquema representativo de produto natural como fonte de fármacos antibacterianos aplicáveis na medicina moderna: Staphylococcus aureus. AGENTES ANTICÂNCER A vimblastina e a vincristina, extraídas de planta Catharanthus roseus, são importantes fármacos introduzidos na terapêutica nos últimos 20 anos, fundamentais para o renascimento do interesse nos produtos naturais por parte da indústria farmacêutica (BARREIRO et al., 2006). Em 1962, o botânico Arthur Barclay descobriu o paclitaxel (Taxol), isolado da casca do teixo (Taxus baccata L. e Taxus brevifolia Nutt). Entretanto, o baixo rendimento apresentou-se como um problema. Para se obter 1kg de paclitaxel, são necessárias, em média, 3 mil árvores de crescimento extremamente lento, e que morrem quando processadas para a extração. Logo, na atualidade, o paclitaxel é obtido por meio de processos de síntese total ou semissíntese (BARREIRO, et al., 2006). Esquema representativo de produto natural como fonte de fármacos anticâncer aplicáveis na medicina moderna: AGENTES ANTIPARASITÁRIOS Em 1820, Pelletier e Caventou isolaram a quinina de espécie vegetal Cinchona L. (Rubiaceae), um alcaloide que durante quase 300 anos foi o único princípio ativo eficaz contra a Malária (BARREIRO et al., 2006). A quinina deu origem a antimaláricos sintéticos do grupo dos 4- e 8-aminoquinolínicos, do qual fazem parte a cloroquina e a primaquina (BARREIRO et al., 2006). Esquema representativo de produto natural como fonte de fármacos antiparasitários aplicáveis na medicina moderna: Para concluir o módulo, assista a uma breve explicação da especialista Jessica Helen da Silva sobre fármacos naturais e miméticos, grupos farmacofóricos e auxofóricos: VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 2 Descrever a fotossíntese como principal processo biológico para obtenção de carboidratos DESCOBERTA DA FOTOSSÍNTESE O termo fotossíntese significa síntese mediada pela luz. E consiste em um processo que envolve reação com fótons da luz, por meio do qual seres fotossintetizantes, principalmente plantas, sintetizam compostos orgânicos (majoritariamente carboidratos), a partir da água (H2O) e do gás carbônico (CO2). Representação em desenho da fotossíntese vegetal. Retrato de Joseph Priestley. Joseph Priestley (1733-1804), por meio de seus diversos experimentos, foi quem mais contribuiu para o conhecimento da fotossíntese e da respiração que, posteriormente, foi completamente compreendida e elucidada a partir do conhecimento de outros nomes comoRobert Boyle (1627-1691); Johann Joachim Becher (1635-1682); John Mayow (1643-1679); Georg Ernst Stahl (1660-1734); Stephen Hales (1677-1761); Jan Ingen-Housz (1730-1799), que destacou a importância da luz no processo de fotossíntese, observando que apenas a parte verde das plantas era capaz de produzir oxigênio; e Jean Senebier (1742-1809). ROBERT BOYLE javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) Pesquisador inglês que fez muitos estudos sobre o ar e o vácuo, no século XVI. Dentre as descobertas científicas relevantes de Boyle, podemos citar a lei dos gases, mais conhecida como Lei de Boyle-Mariotte. O cientista deu uma importante contribuição ao estudo da respiração e da combustão, necessários para a compreensão do processo de fotossíntese e respiração. JOHANN JOACHIM BECHER Médico, alquimista e precursor da química, que propôs uma distinção entre o fogo propriamente dito e um princípio material do fogo. Elaborou uma teoria da matéria, que concebeu uma explicação para uma propriedade da combustibilidade. Em sua obra fundamental, intitulada Physica Subterranea, ele expressa suas teorias sobre combustão. Em 1669, Becher descobriu o gás eteno (Etileno), pela desidratação do álcool em meio ácido e quente. JOHN MAYOW Mayow estudou na Universidade de Oxford e em 1674 publicou Tractatus Quinque, no qual explica suas descobertas sobre a composição natural da atmosfera. Discípulo de Robert Boyle, ele fez experimentos em que estudou a combustão e a respiração de um camundongo em recipientes fechados e foi o primeiro a compreender o mecanismo da respiração e combater a teoria de que o ar inspirado destinava-se a refrigerar o coração. GEORG ERNST STAHL Químico, médico e metalúrgico alemão que criou a teoria unificadora da Química, a teoria do flogisto. Segundo ele, o flogisto poderia existir dentro de vários materiais, sem manifestar as qualidades do fogo (luz, calor). Durante a queima de um material, o flogisto seria liberado para o ar. Stahl também foi responsável por estabelecer diferenças entre a combustão de materiais como a madeira ou o carvão e a calcinação de um metal. STEPHEN HALES Fisiologista e químico que estudou o papel do ar e da água na manutenção da vida animal e vegetal. Hales repetiu muitos experimentos de Boyle e de Mayow a respeito do ar e da respiração. Assim como investigou se a respiração de pessoas saudáveis também tornava o ar impróprio para a vida, e concluiu que sim: há alguma mudança do ar durante a respiração, independentemente do estado de saúde do indivíduo. JAN INGEN-HOUSZ Fisiologista, biólogo e químico neerlandês, que nasceu em 8 de dezembro de 1730, em Breda. Foi reconhecido por demonstrar que a luz é um elemento essencial para a respiração das plantas, um importante passo para a descoberta da fotossíntese. JEAN SENEBIER Padre católico suíço e autor de numerosos trabalhos sobre a fisiologia vegetal, principalmente sob a influência da luz. Junto a Jan Ingen- Housz, deram importantes contribuições para a compreensão das relações entre as plantas e o ar. Em seus trabalhos, eles começaram a isolar os fatores que influenciavam a purificação do ar (ou produção de ar deflogisticado) pelas plantas. Foi demonstrado que este processo só ocorria quando as plantas eram iluminadas pela luz solar, e que não tinha nada a ver com o calor, pois não se obtinha o mesmo resultado em um cômodo aquecido. Além disso, descobriu-se que as plantas respiravam como os animais e que reduziam a qualidade do ar à noite. Priestley não era biólogo, mas um pastor protestante e educador que se interessava por pesquisas científicas. Ele notou que, quando um animal era mantido em um recipiente fechado até a morte, havia uma redução da quantidade de ar — este diminuía aproximadamente 20%. Quando queimava uma vela até ela se apagar, a redução da quantidade de ar era bem menor (apenas cerca de 6%). Ele imaginou que um animal não poderia viver no ar onde haviam sido queimadas velas até se apagarem. Contudo, para sua surpresa, percebeu-se que eles viviam sim, quase tanto tempo quanto no momento em que não ocorria a queima de velas antes. Sabe-se atualmente que isso ocorre porque os animais continuam vivos até consumir quase todo o oxigênio do ar. Priestley também fez um experimento ao colocar um ramo de hortelã (menta) flutuando sobre a água e coberto por um jarro de vidro cheio de ar comum. Ele achava que a planta também morreria, como os animais. No entanto, o ramo de menta não morreu e cresceu durante vários meses. Por analogia com o que ocorria com os animais, Priestley esperava que o ar dentro do jarro de vidro estivesse cheio de “ar fixo” (gás dióxido de carbono), e que esse fosse impróprio para a respiração de animais e para manter chamas acesas. Ficou mais surpreso ainda ao ver que uma vela colocada lá dentro ficava acesa, e que um camundongo ficava vivo e não parecia sentir nenhum desconforto. Representação do experimento de Priestley com o ramo de menta e um rato. Imagem representativa do experimento de Joseph Priestley. Ao analisar a figura representativa dos equipamentos utilizados por Priestley em seus experimentos, é possível ver: Tubos contendo planta; Tubos com um gás sendo introduzido; Uma taça invertida, onde um camundongo é mantido sobre a água; Um tubo de vidro com uma vela suspensa por um suporte de arame. FOTOSSÍNTESE A equação química geral da fotossíntese pode ser representada da seguinte forma: Equação química geral da fotossíntese. Ao avaliar a equação química, é possível observar que: HÁ CONSUMO DE GÁS CARBÔNICO (CO2) Conhecido no processo como fixação de carbono. CONSUMO DE H2O Conhecido no processo como oxidação da água. COMO PRODUTOS, TÊM-SE carboidratos (CH2O)n e gás oxigênio (O2). Nota-se também, a participação da clorofila e da luz no processo, além da produção de ATP e NADPH. O CO2 e a água são pouco energéticos, enquanto os carboidratos formados são altamente energéticos. A FOTOSSÍNTESE TRANSFORMA ENERGIA LUMINOSA EM ENERGIA QUÍMICA. De forma geral, o processo da fotossíntese pode ser dividido em duas fases (etapas): PRIMEIRA ETAPA SEGUNDA ETAPA PRIMEIRA ETAPA Envolve reações dependentes de energia luminosa (fótons), ou seja, reações de claro, e é conhecida como etapa Fotoquímica, ou como Fotofosforilação, porque envolve reações que culminam na produção de ATP a partir da fosforilação de ADP em ATP. SEGUNDA ETAPA Envolve reações de “escuro”, que ocorrem tanto no claro como no escuro, porém não usam a energia solar diretamente, e sim indiretamente, na forma de ATP. Essa etapa também pode ser chamada de etapa química ou ciclo de Calvin. REPRESENTAÇÃO ESQUEMÁTICA DAS REAÇÕES E PRODUTOS DAS FASES/ETAPAS DA FOTOSSÍNTESE As reações de claro (etapa fotoquímica) compreendem: A oxidação da H2O, liberando 2 elétrons, 2 prótons (H+) e gás O2. A produção de agente redutor NADPH2, que é capaz de retirar hidrogênios juntamente com seus elétrons associados. A produção de ATP. Já as reações de “escuro”, compreendem a redução de CO2 e a produção de carboidratos (fixação de carbono). LOCALIZAÇÃO DA FOTOSSÍNTESE Dentre os seres fotossintetizantes, as plantas são maioria, logo, focaremos o processo fotossintético vegetal localizado nos cloroplastos vegetais. Cada célula vegetal pode conter até 50 cloroplastos, que consiste em uma organela vegetal que possui o pigmento clorofila, principalmente clorofilas a e b, e outras estruturas como tilacoides, ribossomos, ADN, amido, estroma etc. Imagem microscópica de células vegetais e seus cloroplastos. As clorofilas são moléculas que pertencem à classe das porfirinas, são complexos derivados delas, tendo como átomo central o magnésio (Mg). Possuem quatro anéis pirrólicos e um anel isocíclico, que são ligados entre si por pontes metilênicas. As clorofilas a, b e d diferem nos substituintes do carbono C-3 e do carbono C-2. Representação da estrutura químicade clorofilas a, b e d. Em termos de localização organelar, as reações da etapa clara ocorrem nos tilacoides, enquanto as reações da etapa “escura” (ou ciclo de Calvin) ocorrem no estroma. IMAGEM REPRESENTATIVA DE LOCALIZAÇÃO GERAL DA FOTOSSÍNTESE VEGETAL ETAPA CLARA DA FOTOSSÍNTESE VOCÊ JÁ SE PERGUNTOU POR QUE A GRANDE MAIORIA DAS FOLHAS SÃO VERDES? De forma geral, uma folha é verde porque essa cor é refletida por ela, e não absorvida. A absorção luminosa é feita por pigmentos de clorofila, que absorvem luz das regiões vermelha e azul do espectro da luz solar e refletem a luz da região não absorvida, em torno do verde. Imagem representativa da absorção de luz das clorofilas a e b. Localização dos fotossistemas nas membranas dos tilacoides e do complexo de proteínas de cadeia de transporte de elétrons. Para que as reações de claro (etapa fotoquímica) aconteçam, são necessários dois fotossistemas, o Fotossistema I (PSI) e o Fotossistema II (PSII), constituídos por um complexo de proteínas de cadeia de transporte de elétrons, moléculas de clorofila e outros pigmentos, localizados nas membranas dos tilacoides. Representação tridimensional do complexo de moléculas de centro de reação fotossintético. Os centros de reação são formados por um complexo de moléculas de clorofila unidas à proteína de ligação e às clorofilas a e b. Representação da chegada de energia à clorofila a por meio do complexo antena. A clorofila a, por exemplo, que só consegue absorver luz num pequeno intervalo de comprimento de onda, trabalha em conjunto com outros pigmentos antena (que são assim denominados porque captam a energia luminosa e canalizam-na para o centro de reação), para ganhar mais energia a partir de um intervalo maior do espectro de luz. Os pigmentos absorvem luz de vários comprimentos de onda, transferindo a energia ganha para a clorofila do centro de reação. Quando a energia chega à clorofila a, ocorre a liberação de dois elétrons. Figura representativa dos fotossistemas I e II, com sentido de transferências de elétrons. Cada fotossistema pode ser identificado pelo comprimento de luz ao qual é mais reativo, 700 e 680 nm, P700 e P680 para o PSI e PSII, respectivamente. O processo fotossintético ocorre após a chegada da energia luminosa à molécula de clorofila do fotossistema II (P680). A energia que chega provoca excitação dos elétrons que, em sequência, migram para a cadeia de transporte de elétrons (Feofitina→ plastoquinonas→ complexo citocromo b/f → plastocianina) até o fotossistema I. Neste caminho, os prótons que estão no estroma do cloroplasto vão para o interior do tilacoide (lúmen), via citocromo b/f. A energia dos elétrons vai diminuindo e, ao chegarem no fotossistema I, eles repõem os dois elétrons liberados pelo centro de reação, após excitação por energia da luz. Os elétrons liberados pelo fotossistema I ligam-se à fitoquinona → às proteínas ferro-enxofre de membrana → à ferrodoxina → e à flavoproteína NADP+, que pela ação da NADP+ redutase transformam-se em NADPH (2NADP+ + 2e- + 2H+). REPRESENTAÇÃO DO SENTIDO DE TRANSFERÊNCIAS DE E- APÓS EXCITAÇÃO Simultaneamente, a molécula de H2O sofre fotólise, liberando 2 elétrons, 2 prótons (H +) e gás O2. Os 2 elétrons são encaminhados para repor os dois elétrons do fotossistema II. Os prótons H+ somam-se aos que foram bombeados pelos citocromos para o lúmem do tilacoide, e são utilizados pela ATP sintetase para síntese de ATP. REPRESENTAÇÃO DO FLUXO DE E- E H+ PELO COMPLEXO DE PROTEÍNAS DE CADEIA DE TRANSPORTE DE E- Todo o processo de fotossíntese em sequência fotossistema II → fotossistema I pode ser chamado de fotofosforilação acíclica, pois ocorre síntese de ATP (fosforilação) mediada pela energia da luz (-foto); neste processo, os elétrons liberados pela clorofila do fotossistema II não retornam para o mesmo fotossistema. Em condições ambientais muito favoráveis, com bastante luminosidade, pode ocorrer o que chamamos de fotofosforilação cíclica; neste caso, os elétrons liberados pelo fotossistema I, após passarem pela cadeia de elétrons, retornam para a clorofila do centro de reação, permitindo a síntese de ATP, mas não de NADPH. ETAPA ESCURA DA FOTOSSÍNTESE Como representado na figura adiante, o ATP e NADPH produzidos na fase clara da fotossíntese são utilizados na fase “escura”. A cascata de reações da fase “escura” é cíclica e, por isso, pode ser chamada de Ciclo de Calvin ou Ciclo das Pentoses. Conforme descrito previamente, o ciclo de Calvin ocorre no estroma do cloroplasto, local onde existe uma enzima de nome RuBisCO (enzima ribulose-1,5-bisfosfato carboxilase/oxigenase) que, juntamente com seu substrato RuBP (ribulose-1,5-bisfosfato), catalisa a reação de fixação de CO2, gerando como produto o 3-PGA (3-fosfoglicerato). Em seguida, o 3-fosfoglicerato recebe mais um grupo fosfato de ATP e um hidrogênio via reação de redução por NADPH, o que forma o 1,3-bifosfoglicerato e o gliceraldeído 3-fosfato (G3P), respectivamente. Veja que tanto o ATP quanto o NADPH utilizados vieram da fase clara. Figura representativa do Ciclo de Calvin ou Ciclo das Pentoses da fase “escura” da fotossíntese. A cada 6 moléculas de gliceraldeído 3-fosfato produzidas, apenas 1 é utilizada para a síntese de glicose. Porém, para a síntese de uma molécula de glicose, são necessárias 2 moléculas de gliceraldeído 3-fosfato, ou seja, com ciclo realizado 6 vezes. O ciclo está balanceado para a síntese de 2 moléculas de gliceraldeído 3-fosfato (12 moléculas de gliceraldeído 3-fosfato, para 1 molécula de glicose 12:1) e não para a síntese de 6 moléculas de gliceraldeído 3-fosfato, para meia molécula de glicose (6:0,5). Figura representativa do Ciclo de Calvin com as quantidades proporcionais entre os produtos de reação. De acordo com os eventos químicos que ocorrem no Ciclo de Calvin, ele pode ser dividido em três fases: FASE DE FIXAÇÃO Referente à fixação de CO2. FASE DE REDUÇÃO Referente à reação de redução por agente redutor NADPH. FASE DE REGENERAÇÃO Referente à reconstituição da molécula de ribulose-1,5-bisfosfato. Na figura, é possível observar que a síntese de glicose ocorre tanto no cloroplasto quanto no citosol celular. Figura representativa da síntese de glicose a partir das trioses fosfato do Ciclo de Calvin. 1 No cloroplasto, a glicose é encaminhada para a produção de amido; e, no citosol, para a produção de sacarose. Ela é destinada aos principais locais de demanda energética da planta. javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) 2 3 Já o amido é um carboidrato insolúvel, de reserva, presente em quase todas as plantas e acumulado durante o dia. Durante a noite, é hidrolisado e usado na respiração noturna da folha, quando o conteúdo de amido cai nos cloroplastos para sustentar a exportação de sacarose para outros órgãos vegetais. 4 SACAROSE A sacarose é a principal forma de carboidrato solúvel que é translocada na planta via floema. Durante o dia, a sacarose flui continuamente do citosol das folhas para os tecidos drenos. Figura representativa da síntese de glicose a partir das trioses fosfato do Ciclo de Calvin. SAIBA MAIS As sínteses de amido e de sacarose apresentam praticamente os mesmos intermediários (frutose-1,6-bisfosfato, frutose-6-fosfato, glicose-1- fosfato etc.). No entanto, estas vias biossintéticas possuem isoenzimas, que são únicas para cloroplasto e citosol. As concentrações relativas de fosfato inorgânico (Pi) e triose-fosfato (gliceraldeído-3-fosfato) são os principais fatores que controlam se o carbono fixado fotossinteticamente será alocado como amido nos cloroplastos ou como sacarose no citosol (TAIZ & ZEIGER, 2004). Assista ao vídeo sobre fotossíntese e fotorrespiração em plantas C3, C4 e CAM. VERIFICANDO O APRENDIZADO MÓDULO 3 Identificar os carboidratos e algumas aplicações destes como insumos farmacêuticos CARBOIDRATOS O termo carboidrato significa “hidrato de carbono”, representado por fórmula moleculargeral Cn(H2O)m. A fórmula molecular da glicose, por exemplo, pode ser representada como C6H12O6 ou C6(H2O)6, e a da sacarose como C12H22O11 ou C12(H2O)11. OS CARBOIDRATOS SÃO OS COMPOSTOS ORGÂNICOS MAIS ABUNDANTES NA NATUREZA, PRINCIPALMENTE NO REINO VEGETAL. Atuam como reserva de energia química (glicose, amido e glicogênio). São componentes das estruturas de sustentação nas plantas (celulose), nas conchas dos crustáceos (quitina), e nos tecidos conectivos nos animais (polissacarídeos ácidos). São componentes essenciais dos ácidos nucleicos (D-ribose e 2-desoxi-D-ribose). Constituem aproximadamente ¾ do peso seco das plantas. SAIBA MAIS Nos animais e humanos que obtêm seus carboidratos comendo plantas (90% do peso seco da dieta), eles correspondem a menos de 1% de seu peso corporal. Representação de ligação glicosídica em dissacarídeo sacarose. Os carboidratos não monossacarídicos, como os polissacarídeos e oligossacarídeos, são formados por cadeias de monossacarídeos conectados entre si por meio de ligações glicosídicas. As ligações glicosídicas são covalentes e resultantes da condensação de dois monossacarídeos. A ligação formada ocorre entre o carbono de hemiacetal e o oxigênio de uma hidroxila livre de monossacarídeo. Representação de dissacarídeo formado por ligação glicosídica entre carbono hemiacetal e oxigênio de hidroxila. APLICAÇÃO FARMACÊUTICA DE CARBOIDRATOS Tem-se aplicação farmacêutica para praticamente todos os tipos de carboidratos, de monossacarídeo a polissacarídeo. REAÇÕES DE OBTENÇÃO OU MODIFICAÇÃO DE CARBOIDRATOS PARA APLICAÇÃO FARMACÊUTICA A seguir, temos os nomes e representações das principais reações de obtenção ou modificação de carboidratos oriundos da fotossíntese (Ciclo de Calvin). Essas reações são fundamentais para obtenção de alguns carboidratos de aplicação farmacêutica: MUTAÇÃO Reposicionamento de grupo fosfato (P) via intermediário difosfatado. Representação das reações de mutação, reposicionamento de grupo fosfato. EPIMERIZAÇÃO Mudança estereoquímica em um dos centros quirais do monossacarídeo, normalmente por meio de tautomeria ceto-enólica. Representação da mudança estereoquímica no centro quiral do monossacarídeo por meio de tautomeria ceto-enólica. INTERCONVERSÃO ALDOSE-CETOSE Também ocorre por meio da formação de um intermediário enol. Representação da interconversão aldose-cetose em um monossacarídeo. TRANSFERÊNCIA DE UNIDADES C2 E C3 A transferência dessas unidades de carbono ocorre por intermédio de ação catalítica enzimática, transcetolase e transaldolase, C2 - via tiamina difosfato (TPP) e C3 - via base de Schiff. Representação da interconversão aldose-cetose em um monossacarídeo. REAÇÕES DE OXIRREDUÇÃO A oxidação pode ocorrer em C-1 e em C-6 por intermédio de NAD+ e NADP+. Representação de reações de transferência de unidades C2 e C3. REAÇÕES DE TRANSAMINAÇÃO Ocorrem por meio da introdução de grupos amino (-NH2) na estrutura dos açúcares. Representação de reação de transaminação em um monossacarídeo. APLICAÇÃO FARMACÊUTICA DE MONOSSACARÍDEOS Quanto ao uso farmacêutico de monossacarídeos, podemos citar a D-glicose, que é um restaurador pós cirurgias, como nutriente e na escleroterapia (é um tipo de tratamento indicado para eliminar ou diminuir varizes e vasinhos nas pernas sem a necessidade de realizar cirurgias e procedimentos mais invasivos. O procedimento consiste na aplicação ou injeção de uma substância esclerosante que provoca a formação de uma cicatriz na veia varicosa, obstruindo a circulação sanguínea no local). A D-glicose também é utilizada no tratamento de intoxicação por clorofórmio, como aditivo farmacêutico nas manipulações de xaropes, e como precursor sintético de vitamina C. Glicose como restaurador pós cirurgias, aditivo farmacêutico e precursor sintético. A D-frutose e o D-sorbitol, ambos usualmente obtidos semissinteticamente a partir da glicose, são utilizados como adoçantes para diabéticos ou na nutrição parenteral. Imagem de adoçante de sorbitol. O D-manitol ocorre naturalmente em exsudato da espécie vegetal Fraxinus ornus (Oleaceae), mas é obtido industrialmente a partir da glicose e da manose, sendo utilizado terapeuticamente como diurético injetável e, também, como adoçante. FOTOGRÁFICA DE ESPÉCIE VEGETAL FRAXINUS ORNUS ESTRUTURA QUÍMICA DO D-MANITOL As reações de transaminação em ceto-açúcares permitem a introdução de grupos amino como visto nos amino açúcares glucosamina e galactosamina. Esses compostos, com seus derivados N-acetil, são parte das estruturas de vários polissacarídeos naturais, e outros amino açúcares incomuns são componentes dos antibióticos aminoglicosídeos naturais como: Biossíntese da estreptomicina em bactérias Streptomyces griseus a partir da D-glicose fosforilada. A estreptomicina de bactérias Streptomyces griseus, que é usada na medicina moderna para o tratamento da tuberculose. Estruturas de gentamicina produzidas por bactérias Micromonospora purpurea. E a gentamicina C1, de bactérias Micromonospora purpurea, clinicamente o mais importante dos antibióticos aminoglicosídeos, amplamente utilizado para o tratamento de infecções graves, frequentemente em combinação com uma penicilina, quando o organismo infeccioso é desconhecido. Tem um amplo espectro de atividade, é ativo contra enterobactérias patogênicas, como Enterobacter, Escherichia e Klebsiella, e também contra Pseudomonas aeruginosa. APLICAÇÃO FARMACÊUTICA DE DISSACARÍDEOS Quanto ao uso farmacêutico de dissacarídeos, podemos citar: LACTOSE A lactose, que é utilizada como diluente e aglutinante na produção de comprimidos. SACAROSE A sacarose é aplicada nas preparações de xaropes, em fórmulas pediátricas, como adoçante e como componente principal de glóbulos homeopáticos. MALTOSE A maltose é obtida por meio da fermentação e hidrólise do amido e é usada em xaropes e cervejas. APLICAÇÃO FARMACÊUTICA DE POLISSACARÍDEOS Dentre os polissacarídeos de aplicação farmacêutica, podemos citar o amido, um polissacarídeo de glicose, empregado como emoliente, desagregante nas formulações de comprimidos, e para a obtenção química das dextrinas e de polióis (álcoois de açúcar, xilol, manitol, sorbitol etc). Representação das estruturas químicas do amido. Representação de estruturas de amido e derivados após as quebras estruturais. Representação da estrutura química de polímero de frutose (FOS) de origem vegetal. Os pré-bióticos, que são frutooligossacarídeos (FOS) contendo de 3 a 10 monossacarídeos de frutose, são usualmente encontrados ligados a uma molécula inicial de glicose e agem como as fibras não digeríveis, podendo ser utilizados para supressão do apetite, retardando o esvaziamento gástrico, além de estimular o aumento e o crescimento de probióticos como as bifidobactérias, que são um gênero de bactérias anaeróbicas que compõe a flora intestinal. As gomas são carboidratos complexos produzidos por algumas plantas, sendo consideradas produtos patológicos resultantes de uma ação física sofrida pelos tecidos (picadas de insetos, contusões, feridas etc.), ou pela ação de microrganismos que parasitam as plantas. Após sofrerem hidrólise, as gomas liberam: açúcares, como galactose, glicose, arabinose, xilose, ramnose; e ácidos urônicos na forma de sais de cálcio, magnésio e outros cátions. SAIBA MAIS As gomas são bastante utilizadas por apresentarem propriedades espessante, geleificante, estabilizante, emulsificante, agente de suspensão etc. Como exemplos, tem-se as gomas ghatti, arábica, adraganta e karaya. GOMA KARAYA ESTRUTURA QUÍMICA DA GOMA KARAYA EXEMPLO A goma adraganta é obtida comercialmente de duas espécies vegetais do gênero Astragalus, a Astragalus gummifer Labillardière e a Astragalus Microcephalus Willd. A goma pode ser usada como estabilizante em sorvetes para satisfazer as exigências de corpo e textura. Essas qualidades são mantidas durante o armazenamento, minimizando a formação de cristais induzidapor flutuações de temperaturas no congelador. Imagem da goma adraganta. javascript:void(0) Sorvete: uma das aplicações da goma adraganta. As mucilagens, amplamente distribuídas nos vegetais, apresentam natureza mista constituída por heteropolissacarídeos ácidos e/ou neutros, substâncias fenólicas e proteínas. Elas são rígidas quando estão secas, e tornam-se pegajosas quando úmidas, logo, apresentam propriedade de inchar-se na presença de água, aumentando seu volume. Devido a esta propriedade, possuem atividade laxativa, pois, durante seu trajeto pelo tubo digestivo, seu inchamento aumenta a motilidade intestinal. MUCILAGEM FORMADA EM RAÍZES E SEMENTES VEGETAIS Espécie do gênero Rhododendron L. (Ericaceae) javascript:void(0) Sementes de manjericão limão (Ocimum basilicum) PLANTAS MEDICINAIS COM PRINCÍPIOS ATIVOS DE CARBOIDRATOS Dentre as plantas medicinais com aplicação medicinal com base na ação de carboidratos, podemos citar o Plantago (Plantago ovata Forssk. e Plantago indica L.), a Malva (Malva sylvestris L.) e a Linhaça ou Linho (Linum usitatissimum L.). PLANTAGO (PLANTAGO OVATA FORSSK. E PLANTAGO INDICA L.) - PLANTAGINACEAE A PARTE UTILIZADA DA PLANTA COMPREENDE AS SEMENTES, CONHECIDAS COMO PSYLLIUM. O uso medicinal de plantago encontra-se descrito em diversas monografias como a farmacopeia americana (USP), a farmacopeia europeia (Ph. Eur.), e em monografia exclusiva do Ministério da Saúde (MS, 2014). Sementes de Plantago ovata. Mucilagem formada pelas cascas das sementes. O tegumento das sementes é particularmente rico em polissacarídeos (10 a 30%) do tipo xilano, constituídos por ácidos galacutônico, galactose, arabinose e ramnose. A mucilagem pode ser separada em polímeros neutros e ácidos. ATENÇÃO As sementes são laxativas, confirmado por ensaios clínicos, baseando-se no aumento do volume das fezes por absorção de água, estimulando o peristaltismo. Ela apresenta contraindicações em casos de obstrução intestinal e quando houver dificuldades de ajuste da administração de insulina. Pode também diminuir a absorção de alguns minerais, inclusive sais de lítio, vitamina B12, glicosídeos cardíacos, derivados de cumarinas e carbamazepina. MALVA (MALVA SYLVESTRIS L.) - MALVACEAE A PARTE UTILIZADA DA PLANTA COMPREENDE AS FLORES E AS FOLHAS O uso medicinal da malva encontra-se descrito em monografias como a farmacopeia brasileira (FB.5), a farmacopeia europeia (Ph. Eur.), e em monografia exclusiva do Ministério da Saúde (MS, 2015). Utiliza-se preparações das flores e folhas dessecadas, especialmente na forma de infusos, que são empregados na redução e/ou alívio do estímulo do catarro das vias respiratórias superiores e em estados inflamatórios das mucosas bucal e faríngea. Imagem fotográfica da Malva sylvestris L. VOCÊ SABIA A presença de polissacarídeos na malva tem sido descrita há mais de 50 anos. Mucilagens são um dos principais componentes responsáveis pelos efeitos terapêuticos da malva, principalmente devido às suas atividades de supressão da tosse. O conteúdo pode variar de acordo com a parte da planta, mas, em geral, elevadas percentagens de mucilagens podem ser encontradas nas folhas (6,0-7,2%), flores (3,8-7,3%) e raízes (7,5%). As mucilagens são constituídas principalmente de ácido glucurônico, ácido galacturônico, ramnose, galactose, frutose, glicose, sacarose e trehalose. Contudo, ácido urônico, arabinose, manose, xilose, fucose, rafinose e 2''-O-a-(4-O-metil- ad-glucuronosil)-xilotriose também foram encontrados (MS, 2015). Não há avaliações específicas referentes às contraindicações de infusos e outras formas farmacêuticas de malva em monografias oficiais. Sementes de Linum usitatissimum L. LINHAÇA OU LINHO (LINUM USITATISSIMUM L.) - LINEACEAE As sementes íntegras são a parte utilizada da planta O uso medicinal da linhaça encontra-se descrito na farmacopeia europeia (Ph. Eur.) e em monografia exclusiva da Agência Europeia de Medicamentos (EMA) (EMEA, 2015). Ela é indicada para uso interno em constipação crônica, irritação do cólon e diverticulite. E, para uso externo, como cataplasma em estados inflamatórios locais. De 6 a 10% da mucilagem das sementes de linhaça é constituída de um arabnoxilano (um polissacarídeo composto de xilose e arabinose) muito ramificado, composto de ácido D-galacturônico, D-galactose, L-ramnose, D-xilose e L-arabinose. Embora as indicações principais sejam baseadas em estudos etnofarmacológicos, os principais ensaios clínicos avaliam efeito anticarcinogênico, redução do risco de aterosclerose associado à hiperlipidemia e a propriedades nutricionais. As sementes de linhaça não devem ser usadas por pacientes com uma mudança repentina no hábito intestinal que persiste por mais de 2 semanas, sangramento retal não diagnosticado e falha na defecação após o uso de um laxante. A linhaça também não deve ser usada por pacientes que sofram de constrições anormais no trato gastrointestinal, como doenças do esôfago e cárdia ou obstrução intestinal existente (íleo), paralisia do intestino ou megacólon. RECOMENDAÇÃO DE PROTOCOLOS E PRÁTICAS Para diminuir o risco de obstrução gastrointestinal, a linhaça só deve ser usada em conjunto com medicamentos que inibem o movimento peristáltico (por exemplo, opioides, loperamida) e sob supervisão médica. A especialista Jessica Hellen Souza da Silva falará sobre as propriedades adoçante, edulcorante e hipoglicemiante da Stevia rebaudiana. Assista: VERIFICANDO O APRENDIZADO CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Visitamos os caminhos de transformação de um termo médico em uma grande ciência chamada Farmacognosia. Vimos sua importância para o conhecimento de novos fármacos e produtos naturais e como ferramenta para o cumprimento da missão da prática farmacêutica. Nos aprofundamos no incrível processo biológico realizado pelas plantas para transformar carbono gasoso em carbono de açúcar, com auxílio da luz. A Fotossíntese nos trouxe os carboidratos que, além de alimento, apresentam diversas aplicações farmacêuticas. Por fim, conhecemos as plantas medicinais de aplicação terapêutica com base em ações farmacológicas de carboidratos. PODCAST Para encerrar, a especialista Jessica Hellen Souza da Silva fará um resumo sobre todo o conteúdo estudado. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BARREIRO, E. J. et al. Os produtos naturais e a química medicinal moderna. Química Nova, v. 29, n. 2, p.326-337, 2006. BRAGA, F. C. et al. Avaliação quantitativa de cardenolídeos no cultivar experimental de digitalis lanatado maciço do itatiaia e perspectivas de seu emprego industrial. Química Nova, v.20, n.5, 1997. da SILVA, W. B. O lugar da farmacognosia na formação em farmácia: questões epistemológicas e suas implicações para o ensino. Revista Brasileira de Farmacognosia, n.20, cap.2, p.289-294, abr./mai. 2010. DEWICK, P.M. Medicinal natural product: a biosynthetic approach. 3. ed. Nova York: Jonh Wiley and Sons, 2009. EMEA - European Medicines Agency Evaluation of Medicines for Human Use. European Union herbal monograph on Linum usitatissimum L., sêmen. Comitê dos Medicamentos à Base de Plantas. Londres, publicado em 10 marc. 2015. FIP - International Pharmaceutical Federation 1997. The Tokyo Declaration (1993) Standards for quality of pharmacy services (FIP Guidelines for Good Pharmacy Practice, September 1993) and revised version FIP/WHO GPP (1997). LAHLOU, M. The success of natural products in drug discovery. Pharmacology & Pharmacy, n.4, p.17-3, 2013. MARTINS, R. A. Os estudos de Joseph Priestley sobre os diversos tipos de “ares” e os seres vivos. Filosofia e História da Biologia, v. 4, p. 167-208, 2009. MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2014. MONOGRAFIA DA ESPÉCIE Plantago ovata FORSSK. (PSYLLIUM) Ministério da Saúde e Anvisa, Brasília, 2014. MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2014. Dispõe sobre o registro de medicamentos fitoterápicos e o registro e a notificação de produtos tradicionais fitoterápicos. Brasil: Agência Nacional de Vigilância Sanitária, 2014. MINISTÉRIO DA SAÚDE.2015. MONOGRAFIA DA ESPÉCIE Malva sylvestris L. (malva). Ministério da Saúde e Anvisa, Brasília, 2015. NEWMAN, D. J. & CRAGG, G. M. Natural Products as Sources of New Drugs over the Nearly Four Decades from 01/1981 to 09/2019, J. Nat. Prod., n.83, p.770−803, 2020. SIMÕES, C. et al. Farmacognosia do produto natural ao medicamento. Porto Alegre, p. 502 -537,2017. TAIZ, L., ZEIGER, E., MØLLER, I. M., & MURPHY, A. Fisiologia e desenvolvimento vegetal. Artmed, 2017. TAIZ, L., ZEIGER, E. Fisiologia vegetal. 3. ed. Artmed, 2004. EXPLORE+ Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema, pesquise: Matéria Dossiê das Gomas publicada na Revista da FIB-FOOD INGREDIENTS BRASIL, nº 17, 2011. Aprenda um pouco mais sobre as gomas, seus tipos, seus usos históricos e atuais, estruturas e composição química. Tese de doutorado intitulada Produção de ciclodextrinas a partir de amidos de diferentes fontes vegetais e seu emprego na inclusão molecular de aroma cítrico, de Gisele Rodrigues Cucolo, 2009. Assista: Fotossíntese - dublado. Observe a passagem dos elétrons pela cadeia de transporte de elétrons, os complexos proteicos, as localizações celulares, a produção de energia etc. Tudo na forma animada. CONTEUDISTA Jessica Hellen Souza da Silva CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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