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Doensv Anatomia das mamas Localização As mamas situam-se na parede torácica anterior, na altura do 2o e 6o arcos costais. (PORTO, 2019) Seus limites anatômicos são: superiormente, a segunda costela, o sulco inframamário inferiormente, a borda esternal medialmente e a linha axilar anterior lateralmente, estendendo- se até o andar inferior da axila, onde se situa o prolongamento axilar da mama ou cauda de Spence. (PORTO, 2019) Composição A mama assemelha-se a uma glândula sudorípara especializada. O sistema ductal tem origem ectodérmica e o estroma (conjuntivo e adiposo), origem mesodérmica. (PORTO, 2019) As mamas são constituídas de pele, tecido adiposo e glandular. Frequentemente são assimétricas. (PORTO, 2019) Estruturalmente, a mama consiste em gordura, tecido conjuntivo fibroso e tecidos glandulares. O tecido conjuntivo fibroso superficial está ligado à pele e esse é um fato importante para o exame visual dos movimentos da pele sobre a mama durante o autoexame. (NORRIS, 2021) Na pele identificam-se a aréola e a papila. A aréola tem de 10 a 15 diminutos nódulos subcutâneos, denominados tubérculos de Morgagni, que correspondem às glândulas sebáceas. Esses nódulos tornam-se salientes durante a gravidez e o aleitamento, sendo designados, então, de tubérculos de Montgomery. Nas papilas, abrem-se de 15 a 20 ductos lactíferos (PORTO, 2019) As mamas são estruturas tuberoacinosas que apresentam de 15 a 20 lobos distribuídos radialmente e separados entre si por tecido conjuntivo denso. De cada lobo emerge um ducto lactífero que se abre no ápice da papila. (PORTO, 2019) Sob a aréola, o ducto lactífero apresenta uma dilatação saciforme denominada de seio lactífero. (PORTO, 2019) Os ductos lactíferos subdividem-se dicotomicamente, a partir da papila, com progressiva diminuição do calibre canalicular (dúctulos), até terminarem em formações acinares (os ácinos mamários). O conjunto de ácinos, células secretoras de leite, denomina-se lóbulos. O conjunto de lóbulos chama-se lobo. (PORTO, 2019) As glândulas mamárias fixam-se à pele sobrejacente e à fáscia do peitoral subjacente por meio de septos fibrosos, denominados ligamentos de Cooper. (PORTO, 2019) Esses ligamentos também conferem suporte às mamas e formam septos, que as dividem em 4 a 20 lobos. Cada lobo consiste em grupos de tecidos em forma de cachos – alvéolos ou glândulas – interconectados por ductos. Os alvéolos estão revestidos por células secretórias capazes de produzir leite ou líquidos em condições hormonais apropriadas (NORRIS, 2021) O trajeto de saída do leite e de outras secreções é dos alvéolos aos ductos, depois ao ducto intralobar, em seguida ao ducto e reservatório lactíferos e, finalmente, ao mamilo. (NORRIS, 2021) Rede linfática Os linfáticos da mama drenam para os linfonodos mamários internos (3%) e axilares (97%). Os linfonodos axilares podem ser divididos em níveis, segundo a classificação de Berg (1955): nível 1, os linfonodos encontram-se lateralmente à borda do músculo peitoral menor; nível 2, atrás do músculo peitoral menor; nível 3, medialmente à borda do músculo peitoral menor. (PORTO, 2019) Os linfonodos interpeitorais também são conhecidos como linfonodos de Rotter. (PORTO, 2019) Suprimento sanguíneo O suprimento sanguíneo da mama é proveniente das artérias subclávia (torácica interna ou mamária interna), axilar (torácica lateral ou mamária externa) e intercostais. (PORTO, 2019) Divisão Para fins clínicos, as mamas são divididas em quadrantes, por meio de duas linhas que se cruzam no nível da papila, uma na direção horizontal e outra na vertical. Essas linhas dividem as mamas nos quadrantes superiores e inferiores e nos laterais e mediais A aréola é usada como ponto de referência, o que possibilita uma localização mais precisa (distância em centímetros do “achado semiológico” em relação à aréola). (PORTO, 2019) Histologia das mamas Cada glândula mamária consiste em 15 a 25 lóbulos de glândulas tubuloalveolares compostas, cuja função é secretar leite para nutrir os recém-nascidos. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) Cada lóbulo, separado dos vizinhos por tecido conjuntivo denso e muito tecido adiposo, é, na realidade, uma glândula individualizada com seu próprio ducto excretor, chamado de ducto galactóforo (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) A estrutura histológica das glândulas mamárias varia de acordo com o sexo, a idade e o estado fisiológico. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) Antes da puberdade, as glândulas mamárias são compostas de porções dilatadas, os seios galactóforos, e várias ramificações desses seios, os ductos galactóforos (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) O aumento das mamas durante a puberdade resulta do acúmulo de tecido adiposo e conjuntivo, além de certo crescimento e ramificação dos ductos galactóforos. A proliferação desses ductos e o acúmulo de gordura se devem ao aumento da quantidade de estrógenos circulantes durante a puberdade (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) Na mulher adulta, a estrutura característica da glândula – o lóbulo – desenvolve-se a partir das extremidades dos menores ductos. Um lóbulo consiste em vários ductos intralobulares que se unem em um ducto interlobular terminal. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) Cada lóbulo é imerso em tecido conjuntivo intralobular frouxo e muito celularizado, sendo que o tecido conjuntivo interlobular que separa os lóbulos é mais denso e menos celularizado. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) Próximo à abertura do mamilo, os ductos galactóforos se dilatam para formar os seios galactóforos As aberturas externas dos ductos são revestidas por epitélio estratificado pavimentoso, o qual bruscamente se transforma em estratificado colunar ou cuboide nos ductos galactóforos. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) O revestimento dos ductos galactóforos e ductos interlobulares terminais é formado por epitélio simples cuboide, envolvido por células mioepiteliais. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) O tecido conjuntivo que cerca os alvéolos contém muitos linfócitos e plasmócitos. A população de plasmócitos aumenta significativamente no fim da gravidez; eles são responsáveis pela secreção de imunoglobulinas (IgA secretora), que conferem imunidade passiva ao recém-nascido. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) A estrutura histológica dessas glândulas sofre pequenas alterações durante o ciclo menstrual, como, por exemplo, proliferação de células dos ductos em torno da época de ovulação. Essas mudanças coincidem com o período no qual o estrógeno circulante está no seu pico. A maior hidratação do tecido conjuntivo na fase pré-menstrual pode provocar aumento do volume da mama. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) O mamilo tem forma cônica e pode ser rosa, marrom-claro ou marrom-escuro. Externamente, é coberto por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado contínuo com o da pele adjacente. (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) A pele ao redor do mamilo constitui a aréola. Sua cor escurece durante a gravidez, como resultado de acúmulo local de melanina, e após o parto pode ficar mais claro, mas raramente retorna à sua tonalidade original. O epitélio do mamilo repousa sobre uma camada de tecido conjuntivo rico em fibras musculares lisas, as quais estão dispostas circularmente ao redor dos ductos galactóforos mais profundos e paralelamente a eles quando entram no mamilo. O mamilo é provido de abundantes terminações nervosas sensoriais, importantes para produzir o reflexo da ejeção do leite pela secreção de ocitocina (JUNQUEIRA, CARNEIRO, 2017) Fisiologia das mamas Antes da puberdade, a mama é um botão rudimentar com poucos ramos de ductos cobertos por botões alveolares, botões terminais ou lóbulos pequenos. Na puberdade, em geral entre os 10 e os 13 anos, o estrogênio e a progesterona ovarianos cooperam no direcionamento da comunicac ̧ão organizadaentre as células epiteliais e as células mesenquimais da mama, resultando em ramificac ̧ão extensa do sistema ductal e no desenvolvimento de lóbulos. A diferenciac ̧ão final da mama é mediada pela progesterona e pela prolactina, não sendo concluída até a primeira gravidez completa. (TORTORA, DERRICKSON, 2016) Na puberdade e adolescência, a hipófise determina a liberação dos hormônios FSH e LH para estimular a maturação dos folículos de Graaf ovarianos. Eles liberam estrógeno, que estimula o desenvolvimento dos ductos mamários, sendo o hormônio responsável pelo desenvolvimento da glândula até 2 a 3 anos após o início da puberdade. (TORTORA, DERRICKSON, 2016) Durante os anos reprodutivos, os ductos terminais próximos aos ácinos e os próprios ácinos ficam mais sensíveis aos hormônios ovarianos e à prolactina. A maioria das formas benignas e malignas de doenc ̧a da mama surge nessas estruturas ácino-ducto terminal. (TORTORA, DERRICKSON, 2016) As células epiteliais mamárias proliferam durante a fase lútea do ciclo menstrual, quando os níveis de estrogênio e progesterona estão aumentados e também na fase da morte celular programada ao final da fase lútea, quando os níveis desses hormônios declinam. Esse efeito é mediado pela sinalizac ̧ão parácrina, induzida pela ativac ̧ão do receptor de estrogênio e está associado ao aumento no conteúdo de água da matriz extracelular. Em regra, isso é percebido como maior volume e sensibilidade da mama na semana anterior à menstruac ̧ão. Na menopausa, quando a produc ̧ão de estrogênio ovariano cessa, os lóbulos mamários atrofiam, e o estroma colágeno é substituído por gordura. (TORTORA, DERRICKSON, 2016) Em razão de a expressão do receptor de estroge ̂nio ser negativamente regulada pelo estroge ̂nio, observa-se aumento na expressão desse receptor após a menopausa. Apesar do declínio na produção de estrogênio ovariano, as mulheres na pós-menopausa continuam a produzi-lo por ação da enzima aromatase, que converte androge ̂nios suprarrenais em estrogênio. A aromatase é encontrada na gordura, nos músculos e no tecido mamário. (TORTORA, DERRICKSON, 2016) Exame das mamas Anamnese A obtenção cuidadosa da história clínica é o primeiro passo no exame da paciente, devendo-se obter informações sobre: 1. Ciclo menstrual 2. Fatores de risco para o câncer de mama. Importante anotar idade, cor, naturalidade, idade da menarca, número de gravidezes, partos, abortamentos e idade do primeiro parto. 3. Antecedentes familiares de câncer de mama, ovário e tuba uterina. 4. Antecedentes de doenças prévias ou atuais, tais como: hipertensão arterial, diabetes, cardiopatias, pneumopatias e tromboembolismo 5. História de cirurgias prévias de neoplasias e estéticas da mama 6. Uso de medicamentos que podem causar galactorreia e outros sintomas mamários. 7. Utilização de bebidas alcoólicas, tabagismo, etilismo, atividade física, alimentação e uso de terapia hormonal. Exame Físico O exame físico das mamas deve seguir a seguinte ordem: a) Inspeção estática e dinâmica b) Palpação dos linfonodos axilares, supra e infraclaviculares c) Palpação mamária d) Expressão papilar. Inspeção estática A inspeção estática é realizada com a paciente sentada, com os membros superiores dispostos paralelamente ao longo do tronco, usando avental tipo camisola com abertura na frente (PORTO, 2019) Observam-se pele, contorno, forma, volume e simetria glandular, pigmentação da aréola, aspecto da papila, presença de abaulamentos ou de retrações, circulação venosa e presença de sinais flogísticos (edema e rubor). (PORTO, 2019) A aréola deve ser cuidadosamente examinada, pesquisando eczema, dermatite de contato e doença de Paget, que é um tipo de câncer de mama. Na pele, eventualmente pode-se observar lesões vesiculares típicas de infecção viral por herpes-zóster. (PORTO, 2019) O carcinoma inflamatório pode cursar com edema do tecido subcutâneo, descrito classicamente como pele em casca de laranja. (PORTO, 2019) Inspeção dinâmica Solicita-se à paciente que eleve os braços acima da cabeça ou que pressione as asas dos ossos ilíacos, colocando as mãos na cintura e fazendo compressão. (PORTO, 2019) Tais manobras tornam mais evidentes as retrações e assimetrias, além de possibilitar a avaliação do comprometimento muscular pela neoplasia. (PORTO, 2019) As mamas podem ter variações fisiológicas e patológicas. Na puberdade, com frequência são encontradas assimetrias fisiológicas destituídas de significado clínico. (PORTO, 2019) As hipertrofias mamárias podem provocar sintomatologia dolorosa relacionada com modificações posturais. (PORTO, 2019) Palpação dos linfonodos axilares, supra e infraclaviculares Os linfonodos são melhor examinados com a paciente sentada de frente para o examinador. Com a mão espalmada (a mão direita examina o lado esquerdo da paciente e vice-versa), faz- se a palpação deslizante do oco axilar e de suas proximidades As fossas supra e infraclaviculares e as axilas são palpadas com as pontas dos dedos (PORTO, 2019) A presença de linfonodos palpáveis, móveis e fibroelásticos não representa sinal de suspeição. (PORTO, 2019) Linfonodos axilares aumentados, endurecidos, fixos e coalescentes são indicativos de metástase de carcinoma de mama, linfomas ou outros tipos de neoplasias malignas (PORTO, 2019) Palpação mamária A palpação pode ser executada por meio de duas técnicas: a de Velpeaux, em que utiliza-se a região palmar dos dedos, e a de Bloodgood, em que são utilizadas as falanges distais, semelhante ao tocar de um piano. (PORTO, 2019) Realiza-se a palpação das mamas com a paciente em decúbito dorsal com as mãos apoiadas atrás da cabeça e os braços bem abertos. A palpação deve ser feita delicadamente, partindo-se da região subareolar e estendendo-se até as regiões paraesternais, infraclaviculares e axilares (prolongamento axilar da mama). Em um primeiro momento, a palpação deve ser executada com leve pressão, a fim de permitir a detecção de nódulos superficiais, e, em seguida, com mais vigor, procurando nódulos profundos (PORTO, 2019) A consistência das mamas normais varia amplamente, dependendo das proporções relativas de tecido gorduroso e glandular, podendo ser observada certa irregularidade, que aumenta no período pré-menstrual. (PORTO, 2019) No período pré-menstrual, as mamas podem aumentar de tamanho e tornarem-se hipersensíveis à palpação. Há aumento também da nodularidade, que pode despertar a atenção da paciente no autoexame. (PORTO, 2019) Na presença de nódulo palpável, definir localização, tamanho, consistência (fibroelástica, cística ou endurecida), superfície (regular, lobulada ou irregular) e aderência a planos superficiais ou profundos. (PORTO, 2019) Expressão papilar Terminada a palpação, faz-se uma delicada pressão no nível da aréola e da papila, identificando as características da secreção como coloração (sero-hemática, citrina, serosa, láctea, esverdeada ou acastanhada); se ocorre por ducto único ou múltiplo, se é espontânea ou provocada. (PORTO, 2019) A pesquisa do ponto do gatilho, que é a digitopressão realizada de forma circular ao redor da aréola, pode auxiliar na identificação do ducto comprometido (PORTO, 2019) Geralmente os derrames papilares contendo sangue, sero- hemáticos ou cristalinos em água de rocha levantam a suspeita de neoplasia (papiloma ou carcinoma) e devem ser investigados com biopsia excisional. (PORTO, 2019) Doenças Benignas da Mama Grande parte das alterações mamárias consiste em doenças de caráter benigno, requerendo diagnóstico adequado para a definição da terapêutica clínico-cirúrgica apropriada para cada caso. Em geral, as alterações mamárias provocam desconforto e ansiedade nas pacientes, sendo necessário que o profissionalque presta atendimento em saúde da mulher compreenda essas doenças e seus diagnósticos diferenciais para que possa oferecer um cuidado de qualidade. (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) As doenças benignas das mamas não são progressivas. Contudo, algumas doenças mamárias benignas aumentam o risco de desenvolver câncer. Por isso, a adesão rigorosa a uma dicotomia entre doenças benignas versus malignas nem sempre pode ser apropriada. Contudo, essa divisão é útil por motivos didáticos e de clareza. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Anomalias do Desenvolvimento As anomalias do desenvolvimento mamário englobam alterações no tamanho e na forma das mamas e são tão comuns que dificilmente podem ser classificadas como anormalidades propriamente ditas. As anomalias do desenvolvimento podem ser divididas basicamente em anomalias de volume e de número (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Volume 1. Hipomastia – Anomalia que corresponde a mamas de pequeno volume, uni ou bilaterais. Costuma não responder a tratamento hormonal; nesses casos, a solução é cirúrgica – inclusão de próteses de silicone e/ou lipoenxertia. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) 2. Hipertrofia – Anomalia que corresponde a mamas de grande volume, uni ou bilaterais. Pode ocasionar danos psicológicos e posturais, pois altera o centro gravitacional da coluna. Casos extremos, que redundam em ressecções > 1.000 g, são denominados gigantomastia. O manejo sempre é cirúrgico, por meio da realização de mamoplastia redutora. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) 3. Simastia – Anomalia que corresponde à confluência medial das mamas, ou seja, uma ponte de tecido na linha média que une as duas mamas. É de caráter congênito e está associada a mamas hipertróficas, em geral simétricas. PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Número 1. Amastia – Corresponde à ausência total da glândula mamária, uni ou bilateral. PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) 2. Amazia – Corresponde à ausência do tecido mamário, com presença do complexo areolomamilar. Pode ser congênita (mais comum) ou adquirida (iatrogênica – por cirurgias, trauma ou queimadura sobre o botão mamário). (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) 3. Atelia – Corresponde à ausência do complexo areolomamilar. É uma anomalia extremamente rara. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) 4. Polimastia – Corresponde à presença de mais de duas glândulas mamárias. Pode haver apenas parênquima supranumerário ou pode ser completa, quando há aréola e mamilo, além do parênquima mamário. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) 5. Politelia – Corresponde à presença de mamilo acessório, que costuma estar localizado na região torácica inferior e no abdome superior. Trata-se de uma curiosidade médica e só deve ser retirado em caso de dano estético. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Ginecomastia Corresponde à hipertrofia de uma ou ambas as mamas em pacientes do sexo masculino. No recém-nascido, na adolescência e na senectude, essa alteração pode assumir caráter transitório. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Epidemiologia A ginecomastia apresenta dois picos de incidência: entre os 13 e 14 anos (tende a regredir em até 2 anos) e entre os 50 e 80 anos. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Etiologia Em uma porção considerável dos casos, essa hipertrofia é induzida por uso de substâncias, tais como anabolizantes, estrogênios, digitálicos, isoniazida, espironolactona, reserpina e metildopa. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Também pode estar vinculada a doenças orgânicas, tais como lesões testiculares e hepáticas, carcinoma adrenocortical, adenoma de hipófise ou hipertireoidismo (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Diagnóstico Na avaliação inicial de ginecomastia, deve-se solicitar dosagem sérica de gonadotrofina coriônica humana (hCG, human chorionic gonadotropin), hormônio luteinizante (LH, luteinizing hormone), testosterona e estradiol. (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) O exame de imagem de escolha para a avaliação da ginecomastia é a mamografia, pois permite o diagnóstico diferencial entre a ginecomastia verdadeira e a lipomastia. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A solicitação de ultrassonografia (US) mamária deve ser desencorajada. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Processos Inflamatórios Mastite Significa inflamação da mama. Na maioria das vezes, isso ocorre durante a lactação, mas também pode ser causado por outras condições em mulheres não lactantes (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Epidemiologia É mais comum no puerpério tardio, podendo acometer cerca de 2 a 10% das lactantes. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A mastite não ocorre apenas no período pós-parto e também pode ser causada por flutuações hormonais, tumores, traumatismo ou infecção da pele. A inflamação cíclica da mama ocorre mais comumente nas adolescentes, que frequentemente têm níveis hormonais oscilantes. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Tumores podem causar mastite secundária ao acometimento da pele ou à obstrução linfática. Traumatismo local ou infecção pode evoluir para mastite em consequência do bloqueio dos ductos por sangue ou restos celulares retidos, ou por extensão da inflamação superficial. (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Etiologia Os agentes patogênicos originam-se da nasofaringe do lactente ou das mãos da mãe. Durante as primeiras semanas da amamentação, as mamas são especialmente suscetíveis à invasão bacteriana por causa das soluções de continuidade e das fissuras causadas pela sucção vigorosa. Infecção e inflamação causam obstrução do sistema de ductos mamários. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Os agentes patogênicos normalmente envolvidos são Staphylococcus aureus, principal agente, presente em 60% dos casos, Staphylococcus epidermidis, estreptococos, Escherichia coli, entre outros. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Em geral, há história de fissura do mamilo ou de queimadura da pele, que resulta na quebra dos mecanismos de defesa do organismo e no aumento do número de bactérias sobre a pele da mama. A penetração se dá pelos linfáticos superficiais, expostos pelas fissuras mamilares. (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Fatores predisponentes 1. Mamas ingurgitadas. 2. Fissura mamilar. 3. Infecção da rinofaringe do lactente. 4. Anormalidade do mamilo. 5. Primiparidade. 6. Má higiene. 7. Escabiose. Quadro clínico Com relação aos sinais e sintomas, inicia-se com estase láctea, distensão alveolar e obstrução ao fluxo do leite (ingurgitamento mamário). Posteriormente, ocorre proliferação bacteriana, podendo evoluir para quadros mais graves, com abscessos mamários e sepse. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A clínica se apresenta com os sinais clássicos de inflamação: dor, tumor, calor e rubor, que podem ou não estar acompanhados de sintomas gerais (febre, mal-estar, calafrios). Adenopatia axilar é comumente observada. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) É recomendável que a mãe continue a amamentar durante o tratamento com antibiótico para evitar essas complicações. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Ectasia Ductal Trata-se da dilatação dos ductos terminais por acúmulo de material lipídico e detritos celulares que levaria a inflamação, espessamento, atrofia e perda da elasticidade da parede ductal, podendo causar derrame papilar. (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Etiologia Não se conhece a natureza exata de sua etiologia; o tabagismo parece estar envolvido, porém não há consenso. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Quadro clínico Na maioria dos casos, manifesta-se como secreção papilar bilateral, multiductal e colorida (esbranquiçada, amarelada, acastanhada, esverdeada e enegrecida), podendo haver associação com nodularidade e alterações anatômicas do complexo areolopapilar. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Eventualmente, o fluxo é hemorrágico, e, nesse caso, o diagnóstico deve ser amparado por alguns exames de imagem para exclusão de outras causas, como papilomas e câncer. (PASSOS,MARTINS-COSTA, 2023) As formas clínicas são as seguintes: (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) 1. Derrame papilar – Mais comum em mulheres peri ou pós-menopáusicas, surgindo secreção amarelo- esverdeada, purulenta. Desde que o sintoma não seja espontâneo e abundante, não requer tratamento. Se a descarga for desconfortável para a paciente, indica-se a exérese do sistema ductal terminal. (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) 2. Tumoral – A ectasia, com o tempo, pode ocasionar ruptura dos ductos e inflamação circundante, com sinais típicos de mastite. Esse processo, ao se cronificar, pode originar massa endurecida e retração do mamilo, simulando um carcinoma. É comum a retração do mamilo no local do ducto ou dos ductos encurtados. A idade é um fator importante na etiologia da ectasia ductal, pois a frequência dessa condição aumenta com a idade Diagnóstico O diagnóstico é clínico, e, quando há dúvidas, a US é o método de imagem que pode trazer mais informações, pois consegue mostrar toda a árvore ductal retroareolar. Por esse método, considera-se ectasia quando o diâmetro do ducto é igual ou superior a 5 mm. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Secreções Benignas Galactorreia É secreção de leite pelas mamas de mulheres que não estão amamentando. Galactorreia ocorre em homens e mulheres e, geralmente, é benigna. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Etiologia Isso pode ser causado por estimulação vigorosa dos mamilos, hormônios exógenos, desequilíbrio dos hormônios endógenos ou infecção ou traumatismo torácico localizado. Tumores hipofisários (p. ex., prolactinoma) podem aumentar expressivamente os níveis de prolactina e causar galactorreia. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Diagnóstico O acompanhamento clínico pode ser mantido por vários meses, antes que seja indicada triagem hormonal com finalidade diagnóstica. O extravasamento espontâneo de leite da mama (sem qualquer tipo de estimulação) é patológico e deve ser detalhadamente investigado. (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Tumores benignos As lesões fibroepiteliais da mama englobam neoplasias constituídas pela proliferação do tecido conectivo do estroma e pelo componente epitelial, representados pelos ductos e ácinos. Os dois componentes estão presentes em proporções variáveis, mas são os diferentes graus de proliferação e atipia estromal que determinam a classificação e o comportamento clínico dessas lesões(PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Fibroadenomas Epidemiologia Os fibroadenomas são os principais tumores benignos da mama, ficando atrás apenas dos carcinomas em termos de prevalência geral. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Eles acometem preferencialmente mulheres com idade entre 15 e 35 anos. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Em decorrência da presença de receptores hormonais, apresentam tendência a crescimento durante a gestação e degeneração e calcificação após a menopausa, sendo um achado comum em mamografias de rotina. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Quadro clínico O fibroadenoma apresenta-se como nódulo indolor, sólido, de consistência firme, formato arredondado ou lobulado, limites nítidos e ampla mobilidade. O crescimento é lento, raras vezes atingindo grandes dimensões. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Os fibroadenomas podem ser múltiplos em 20% dos casos, uni ou bilateralmente. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Diagnóstico O diagnóstico é eminentemente clínico, podendo ser complementado por exames de imagem e/ou análise cito/histológica. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Os exames de imagem evidenciam massa sólida regular ou lobulada, de margens bem definidas. Em pacientes jovens, a US mamária auxilia a caracterização dessas lesões e a diferenciação entre lesões sólidas ou císticas. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) À mamografia, lesões involutivas podem apresentar as clássicas calcificações grosseiras em pipoca. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) O fibroadenoma comum apresenta estroma de baixa celularidade, uniforme, sem pleomorfismo celular. Em pacientes idosas, o estroma pode estar hialinizado. Existe uma forma especial de fibroadenoma com estroma com maior celularidade e hiperplasia epitelial, conhecido como gigante juvenil, que ocorre na puberdade e causa acentuada assimetria mamária, atingindo grandes dimensões (> 5 cm). (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) É rara a transformação de componentes epiteliais do fibroadenoma em carcinoma mamário, bem como a coexistência entre essas lesões(PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Tumores filoídes Epidemiologia Respondem por menos de 1% dos tumores da mama e 2,5% dos tumores fibroepiteliais. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Costumam se manifestar dos 35 aos 55 anos, faixa etária mais avançada quando comparada com seu principal diagnóstico diferencial, os fibroadenomas. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Quadro clínico O seu comportamento biológico engloba tumores benignos, borderline e malignos, levando em consideração alterações do componente estromal e características de margens da lesão. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) São lesões clinicamente semelhantes aos fibroadenomas, com rápido crescimento. Embora tumores malignos ocorram em apenas 10% dos casos, mesmo benignos, eles têm tendência à recidiva local e podem atingir grandes volumes. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Diagnóstico O seu diagnóstico pela amostra histológica via core biopsy pode ser desafiador e, por vezes, só é confirmado em análise com maiores amostras teciduais. 1. (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Papiloma intraductal É uma lesão hiperplásica caracterizada pela proliferação do epitélio ductal com um eixo fibrovascular com crescimento para o lúmen de um ducto, distendendo-o, formando lesões em geral sólido-císticas. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Epidemiologia É mais frequentemente observado em mulheres entre a quarta e sexta décadas de vida. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Etiologia A sua etiologia está correlacionada com hiperplasia ductal ou lobular e apresenta maior risco de desenvolvimento de carcinomas em comparação com a população geral. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Quadro clínico Os papilomas intraductais em geral são solitários e centrais, localizados nos ductos terminais, atingindo pequenas dimensões. Essas lesões costumam apresentar achado clínico característico de descarga papilar sanguinolenta ou serosa; em 50% delas, nota-se nódulo subareolar. 1(PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Elas apresentam potencial de abrigar áreas de atipia ou carcinoma in situ (menos de 10% dos casos). (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Em contrapartida, lesões múltiplas e periféricas são denominadas papilomatose múltipla e estão mais relacionadas com nódulos do que com a descarga papilar. 1(PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Diagnóstico O diagnóstico de papiloma intraductal exige análise histológica, e seu tratamento consiste em exérese com ressecção total do papiloma (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Câncer de Mama Epidemiologia O câncer de mama é o mais incidente na população feminina mundial e brasileira, excetuando-se os casos de câncer de pele não melanoma. (VIANA, GEBER, 2012) O câncer invasor de mama é a primeira causa de morte por câncer na população feminina em todas as regiões do Brasil, exceto na região Norte, onde o câncer de colo do útero ocupa essa posição. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Os maiores percentuais na mortalidade proporcional por câncer de mama foram os das regiões Sudeste (16,9%) e Centro-Oeste (16,5%), seguidos pelos das regiões Nordeste (15,6%) e Sul (15,4%). (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) O aumento das taxas de incidência em países com índice de desenvolvimento humano (IDH) mais elevado reflete uma prevalência mais alta de longa data de fatores de risco reprodutivos e hormonais (idade precoce da menarca, idade tardia da menopausa, idade avançada no primeiro parto, menor número de filhos,menos tempo de amamentação, terapia hormonal na menopausa, anticoncepcionais orais), bem como de fatores de risco de estilo de vida (ingestão de álcool, excesso de peso corporal, sedentarismo), além de maior detecção por meio de rastreamento mamográfico organizado ou oportunista (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Aproximadamente 50% dos cânceres de mama acontece em mulheres entre 50-64 anos, 30% naquelas acima dos 70 anos e menos de 1% nas mulheres com idade inferior a 25 anos (SANARLFIX) Dos cânceres que afetam as mamas, 97% são primários e 3% são metástases de outros sítios, sendo o carcinoma ductal invasivo o mais comum (80%) seguido do carcinoma lobular invasivo (15%) (SANARFLIX) Fatores de Risco Sexo e idade As mulheres apresentam risco de serem diagnosticadas com câncer de mama 100 vezes maior que os homens. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Além disso, a incidência do câncer de mama está diretamente relacionada com o aumento da idade, justificando o início do rastreamento mamográfico a partir dos 40 a 50 anos(PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Obesidade e aumento de peso A obesidade (índice de massa corporal [IMC] ≥ 30 kg/m2) está associada ao aumento de morbidade e mortalidade relacionadas com o câncer de mama. Esse risco está ligado ainda ao aumento da incidência do câncer de mama, quando ocorre na pós-menopausa. Tal associação resulta dos maiores níveis de estrogênio pela conversão periférica no tecido adiposo mediada pela aromatase e pela hiperinsulinemia. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A perda de peso, mesmo após o início da menopausa, está associada à redução do risco. Além disso, a atividade física é um fator protetor para a mama na pré-menopausa, levando a uma redução de risco de 23% (RR 0,75), e na pós-menopausa, a uma redução de risco de 17% (RR 0,87), mesmo após o ajuste para outros fatores (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Densidade mamária Mulheres com mamas densas na mamografia – ou seja, com a presença de tecido mamário (parênquima) formando ≥ 75% da mama – apresentam maior risco para câncer de mama quando comparadas com mulheres da mesma idade com mamas menos densas ou lipossubstituídas.1 Embora mereçam atenção para manter um seguimento regular e adequado, a forma de rastreamento dessas pacientes não deve ser diferente das demais mulheres. O aumento da densidade mamária não representa impacto em maior mortalidade por câncer de mama. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Doenças benignas da mama As lesões proliferativas da mama (em especial, alterações com atipias histológicas) estão associadas ao aumento do risco de câncer de mama. Tais lesões são consideradas marcadores de risco tanto para a mama afetada como para a mama contralateral. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) As lesões proliferativas incluem hiperplasia ductal atípica, hiperplasia lobular atípica e carcinoma lobular in situ. As hiperplasias com atipia apresentam um risco relativo (RR) de aproximadamente 4 para a ocorrência do câncer de mama (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Terapia hormonal na menopausa A terapia hormonal combinada de estrogênio/progesterona na menopausa aumenta o risco de câncer de mama receptor hormonal positivo (RR 1,66), sobretudo com o uso por mais de 5 anos. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Esse risco diminui significativamente após 2 anos da sua interrupção. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A terapia hormonal com apenas estrogênio em pacientes histerectomizadas não está associada ao aumento de risco (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Contraceptivos hormonais O risco de câncer de mama é maior entre as mulheres usuárias de contraceptivos hormonais em relação àquelas que nunca os utilizaram (RR 1,21; intervalo de confiança [IC] 95%, 1,11- 1,33), e esse risco aumenta com o uso prolongado. No entanto, o aumento absoluto do risco é pequeno (risco absoluto de 13/100.000 mulheres-ano). (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Alguns estudos indicam que esse risco desaparece em 2 a 5 anos após a interrupção do uso. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Apesar dos dados limitados, os dispositivos intrauterinos com levonorgestrel estão contraindicados em mulheres com história prévia de câncer de mama, devido a uma possível associação com aumento de recidiva, em especial nas pacientes que mantiveram seu uso durante o tratamento do câncer de mama (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Menarca precoce e menopausa tarda Estudos demonstraram que cada ano de atraso do início da menarca diminui em 5% o risco de câncer de mama. Em contrapartida, cada ano de atraso para início da menopausa representa um aumento de risco de 3% para câncer de mama. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Nuliparidade A nuliparidade representa um maior risco para câncer de mama (RR 1,2-1,7). Estudos sugerem uma redução de risco adicional para cada parto a termo em torno de 10% (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Idade no primeiro parto a termo A incidência cumulativa de câncer de mama (até a idade de 70 anos) parece ser 10% menor para mulheres que tiveram o primeiro parto a termo até os 25 anos e 5% maior entre aquelas com primeiro parto a termo aos 35 anos, semelhante ao risco de mulheres nulíparas. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) História familiar Os dois principais fatores que afetam esse risco são o número de familiares de primeiro grau com câncer de mama e a idade em que foram diagnosticados. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Uma mulher com um familiar de primeiro grau com câncer de mama apresenta risco 1,75 vezes maior de desenvolver a doença em relação a uma mulher sem nenhum familiar afetado. Esse risco se torna 2,5 vezes maior com dois ou mais familiares de primeiro grau com câncer de mama. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A idade jovem no diagnóstico dos familiares de primeiro grau também pode influenciar esse risco, principalmente quando ocorre na pré-menopausa. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Mutações genéticas associadas à predisposição ao câncer de mama são raras. Cerca de apenas 6% de todos os cânceres de mama estão diretamente relacionados com mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Álcool e tabagismo O consumo de álcool está associado ao aumento do risco para câncer de mama. O consumo de 35 a 44 g de álcool por dia pode aumentar o risco de câncer de mama em 32%. O risco aumenta diretamente em relação ao aumento do consumo de álcool, cerca de 7,1% de aumento no RR para cada 10 g de álcool adicional (1 taça de vinho – 20 mL, 1 copo de cerveja – 285 mL ou 1 dose de bebida destilada – 30 mL) consumida por dia. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Embora a associação de risco com o tabagismo permaneça controversa (RR 1,1), parece haver uma correlação com o início precoce, em idade jovem, do consumo de cigarros. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Exposição à radiação ionizante A exposição do tórax à radiação ionizante em uma idade jovem, como ocorre no tratamento do linfoma de Hodgkin, está associada ao aumento de risco para câncer de mama. Esse risco parece maior quando a exposição ocorre entre 10 e 14 anos, embora pareça persistir mesmo com exposições até os 45 anos. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Classificação molecular do câncer de mama O carcinoma de mama é uma neoplasia com múltiplos achados morfológicos, além de comportamento clínico e resposta a regimes terapêuticos variáveis. Essa heterogeneidade está relacionada com a origem celular ou a via de diferenciação das células tumorais. O desenvolvimento da biologia molecular permitiu ampliar o conhecimento da evolução e das características do carcinoma de mama, lançando uma nova luz sobre seu prognóstico e respostas terapêuticas. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A análise do perfil de expressão gênica, por meio do uso da metodologia de microarranjos de ácido desoxirribonucleico (DNA) (microarray), categoriza cinco subtipos moleculares diferentesde carcinoma de mama: luminal A, luminal B, tipo mama-normal (normal breast-like), HER-2 e basaloide (triplo- negativo) (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) 1. Luminal A – Apresenta elevados índices de RE e RP, baixo grau histológico e baixos níveis de genes de proliferação celular (Ki-67), caracterizando um perfil de bom prognóstico; corresponde a 40 a 50% dos carcinomas de mama 2. Luminal B – Também se caracteriza pela ex-pressão de RE e RP, porém associado a grau histológico mais alto e maiores níveis de genes de proliferação celular, motivo pelo qual está relacionado com um prognóstico mais reservado. Os carcinomas luminais (A e B) correspondem a cerca de 75% dos carcinomas invasores de mama. 3. HER-2 – Apresenta um comportamento mais agressivo, associado ao surgimento precoce de metástases a distância e metástases cerebrais; também se caracteriza pela ausência de expressão de RE e RP e amplificação do gene que codifica o HER-2. Cerca de 15% das pacientes com carcinoma de mama apresentam a amplificação desse gene. 4. Basaloide ou triplo-negativo – Denominação devida ao perfil de expressão gênica desses tumores, semelhante ao das células basais da mama, precursoras das células epiteliais glandulares e das células mioepiteliais. Os tumores basaloides ou triplo-negativos compreendem 10 a 15% dos tumores, estando associados a pior prognóstico, quando avaliados pela sobrevida livre de doença, sendo o risco de recidivas maior nos 5 anos após o diagnóstico. Estudos que avaliaram o perfil imuno-histoquímico desse grupo de carcinomas revelaram tumores em geral negativos para RE, RP e para o produto proteico do HER-2. Devido à negatividade para esses três marcadores, esses carcinomas receberam a denominação triplo-negativo e têm sido relacionados com a mutação do gene BRCA1. São mais frequentes no grupo de mulheres na pré- menopausa, o que sinaliza provável incidência em pacientes jovens. Patologia do carcinoma de mama O carcinoma de mama é uma doença heterogênea que difere quanto à sua apresentação histológica e seu comportamento biológico. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Os dois tipos histológicos mais comuns de carcinomas invasivos são os carcinomas ductal e lobular, correspondendo a cerca de 75 e 15% de todos os casos, respectivamente. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Os demais tipos histológicos de carcinomas são mais raros (mucinoso, tubular, medular, papilar, metaplásico) e correspondem aproximadamente a 10% de todos os casos (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Carcinoma ductal in situ O carcinoma ductal in situ (CDIS) ou intraductal é uma forma não invasiva do câncer de mama. (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Representa 15 a 30% dos cânceres detectados por mamografia e acomete, preferencialmente, mulheres com idade entre 50 e 70 anos. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A sua incidência tem aumentado com o uso mais amplo do rastreamento mamográfico. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) O CDIS é caracterizado pela proliferação de células epiteliais neoplásicas no interior do ducto, sem invadir a membrana basal. Desse modo, sem a capacidade de metastatizar, seja por via linfática, seja por via hematogênica, não exige tratamento sistêmico adjuvante. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) O carcinoma ductal in situ é considerado câncer de mama estádio 0 (SANARFLIX) É considerado uma lesão precursora do carcinoma invasor, e sua presença aumenta em 10 vezes o risco de carcinoma invasor no futuro. Até o momento, sabe-se que alterações genéticas presentes no carcinoma ductal invasor também ocorrem no CDIS, mas preditores de progressão para invasão ainda não foram identificados (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Quando não tratado, este carcinoma pode recidivar localmente e, em 50% dos casos, as recorrências estão associadas ao carcinoma invasivo (SANARFLIX) O CDIS manifesta-se comumente por microcalcificações pleomórficas, agrupadas e com trajeto ductal na mamografia. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A expressão de receptores de estrogênio (RE) é observada em mais de 80% dos casos de CDIS, ao passo que os receptores de progesterona (RP) são encontrados em cerca de 60% dos casos. Os CDIS com RE negativos têm sido associados a maior risco de recorrência local (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Carcinoma invasor da mama Os carcinomas de mama apresentam diferentes apresentações clínica e patológica, associados a fatores genéticos e ambientais que, juntos, criam condições para o seu aparecimento.Também constituem a maioria das neoplasias malignas da mama, com origem na unidade lobular- ductal terminal, sendo a classificação histológica mais amplamente utilizada aquela descrita pela Organização Mundial da Saúde (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Os carcinomas invasores são aqueles cujas células tumorais invadem os tecidos adjacentes aos ductos mamários e apresentam capacidade de metastatizar para sítios anatômicos distantes. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) O tipo histológico mais comum é o carcinoma ductal invasor ou infiltrante (CDI). Na maioria das vezes, os carcinomas invasivos estão associados a uma extensão variável de componente de carcinoma in situ. (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Carcinoma ductal infiltrante Como visto, esse é o tipo histológico mais comum, correspondendo a 80 a 90% dos carcinomas de mama, dependendo da série avaliada (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Trata-se de um grupo heterogêneo de tumores cujo diagnóstico é feito por exclusão quando a lesão não preenche os critérios diagnósticos (achados morfológicos/histológicos) para os tipos especiais de carcinoma mamário, sendo classificado como carcinoma ductal infiltrante – sem outra especificação (CDI-SOE) (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Os carcinomas ductais de tipo especial (medular, tubular, etc.) compreendem 10 a 20% dos carcinomas invasivos e apresentam, em geral, melhor prognóstico quando comparados com o CDI-SOE. Para ser classificado como tipo especial, é necessário que o carcinoma seja composto quase completamente (90% de um tumor) pelas características histológicas do tipo em questão (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Costuma apresentar-se como um nódulo sólido ou uma área de condensação no parênquima, com coloração acinzentada ou esbranquiçada, geralmente endurecido, com consistência de pera verde ao corte (carcinoma cirroso), o que depende da quantidade de fibrose no estroma, da elastose peritumoral e da presença de necrose e de calcificações relativamente grosseiras. As lesões podem ter forma espiculada ou circunscrita (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Pode apresentar uma ampla variabilidade histológica, com proliferação de elementos epiteliais com atipias citológicas relativamente acentuadas, com uma tendência diversa a formar estruturas pseudoglandulares ou semelhantes aos ductos, e com atividade mitótica variável, citoplasma abundante e eosinofílico e núcleos que variam de regulares e uniformes a pleomórficos, com nucléolos proeminentes. Microcalcificações podem ou não estar presentes. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A avaliação histológica de três características (formação tubular, atipias nucleares e atividade mitótica) serve para graduar o CDI em bem diferenciado (grau 1), diferenciação intermediária (grau 2) e pouco diferenciado (grau 3) e tem um importante significado prognóstico. (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Carcinoma lobular invasor O carcinoma lobular invasor (CLI) constitui o segundo tipo mais comum de carcinoma infiltrante da mama, correspondendo a 5 a 15% dos carcinomas mamários, sendo mais frequente em mulheres na pós-menopausa, principalmente após os 60 anos. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Estudos recentes sugerem uma forte associação entre a terapia de reposição hormonal pós-menopausa e o aumento da incidência de CLI. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Esses carcinomas apresentam maior frequênciade multifocalidade e multicentricidade (30% dos casos), assim como maior tendência à bilateralidade (6-8% dos casos). (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Os CLIs apresentam um padrão de infiltração tecidual insidioso, provocando pouca reação tecidual desmoplásica adjacente, fato que pode impedir a formação de massa palpável, tornando o diagnóstico clínico difícil e acarretando dificuldades de visualização da lesão nos exames de imagem. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A forma mais comum de apresentação é uma densidade assimétrica à palpação, sem nódulo bem definido, e presença de assimetria e distorção arquitetural mamária no exame mamográfico. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Apesar de ser considerado uma entidade única, existem subclassificações histológicas que apresentam padrões de agressividade diversos, desde o clássico (menos agressivo), sólido, alveolar, em “anel de sinete” até o pleomórfico (mais indiferenciado e agressivo). (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) O subtipo clássico (60% dos casos) se caracteriza pela presença de células tumorais pequenas e homogêneas semelhantes ao carcinoma lobular in situ (CLIS), que crescem em “fila indiana” com um padrão concêntrico, circundando os ductos mamários residuais, com formação de crescimento “em alvo” (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Algumas vezes, observam-se vacúolos de secreção no citoplasma das células neoplásicas, deslocando o núcleo para a periferia da célula, conferindo a ela um aspecto de “célula em anel de sinete” – o que classifica um subtipo de carcinoma lobular invasor, chamado de carcinoma com células em anel de sinete (a lesão apresenta mucina intracelular). Em muitos casos, é possível identificar um componente de CLIS associado. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) O padrão de disseminação metastático difere do CDI, sendo mais raras as metástases pulmonares, cerebrais e hepáticas. Em contrapartida, são mais frequentes as metástases para leptomeninges, peritônio, trato gastrintestinal, órgãos pélvicos (p. ex., ovários) e ossos. Tal característica se reflete na elevada diferença de incidência de metástase para órgãos sexuais entre CLI (16%) e CDI (1%). (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Em geral, o prognóstico do CLI é semelhante ao do CDI-SOE, sendo o tamanho tumoral, o estadiamento dos linfonodos axilares e os marcadores tumorais os mais importantes fatores prognósticos. No entanto, em relação ao aspecto histológico, o CLI clássico costuma apresentar melhor prognóstico que o CDI-SOE, e variantes como o pleomórfico e o alveolar podem apresentar um prognóstico levemente pior (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Carcinoma tubular É um tipo especial de carcinoma que costuma ser bem diferenciado e associado a um bom prognóstico. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Esse carcinoma compreende menos de 1 a 4% dos carcinomas de mama, e a média de idade das pacientes é de 60 anos. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Os tumores costumam ser pequenos, com diâmetro médio de 1 cm, em geral, sem comprometimento de linfonodos axilares. A consistência do tumor é firme-endurecida, com coloração branco-acinzentada e aspecto estrelado ao corte. Na mamografia, a lesão tem aspecto espiculado. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A lesão é composta de proliferação de túbulos glandulares, de forma irregular, revestidos por uma única camada de células bem diferenciadas, homogêneas, apresentando, muitas vezes, secreção apócrina. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) O estroma adjacente aos túbulos costuma ser abundante, fibrótico e com elastase. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) As calcificações estão presentes em 50% dos casos, geralmente no componente intraductal (presente em 60-80% dos tumores) (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Carcinoma medular Compreende menos de 5 a 7% dos carcinomas mamários invasivos, e as pacientes costumam ser mais jovens (< 35 anos) no momento do diagnóstico. (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Muitos estudos encontraram associação entre a ocorrência de mutações genéticas em BRCA1 e o carcinoma medular. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Esse tipo de tumor costuma ser bem delimitado, circunscrito, com consistência firme, em geral com 2 a 3 cm de diâmetro, sendo, muitas vezes, confundido com fibroadenoma ao exame físico. Tumores maiores podem sofrer degeneração cística. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Na mamografia, também pode apresentar-se como um tumor bem circunscrito, sendo possível confundi-lo com tumor benigno. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) É composto de células pouco diferenciadas, com alto índice mitótico, estroma escasso, com intenso infiltrado linfoplasmocitário e um padrão sincicial de proliferação (sem a presença de estruturas glandulares). (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) O carcinoma medular, apesar de suas características histológicas de neoplasia pouco diferenciada e da ausência de receptores hormonais (RH), é uma neoplasia com prognóstico relativamente favorável, quando comparado com o CDI-SOE. No entanto, também costuma ser negativo para HER-2, fazendo parte do grupo dos tumores triplo-negativos (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Carcinoma mucinoso O carcinoma mucinoso, também chamado de carcinoma coloide, corresponde a 1 a 2% dos carcinomas de mama em geral. Representa 7% dos carcinomas de mama em mulheres com mais de 75 anos. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Esse tumor costuma ser circunscrito e de aparência bocelada e mucinosa (gelatinosa) ao corte e caracteriza-se pela presença de abundante secreção mucinosa no tumor (quase totalmente extracelular). (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A quantidade relativa de mucina e estroma determina a consistência da lesão: macia, gelatinosa ou firme. A maioria dos carcinomas são RH positivos e não expressam a oncoproteína HER-2. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) É um carcinoma de bom prognóstico (80-90% de sobrevida em 10 anos), sendo muito importante excluir as formas não puras, pois 60% dos carcinomas de mama produzem algum grau de mucina, não devendo ser classificados como mucinosos (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Carcinoma papilífero Corresponde a 1 a 2% dos carcinomas de mama, sendo mais frequente em mulheres na pós-menopausa e idosas (idade média de 63-67 anos) e com prognóstico favorável. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Em geral, é circunscrito ou lobulado, às vezes com componente cístico. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Costuma ser mais frequente na região central da mama, e 22 a 34% das pacientes apresentam derrame papilar no momento do diagnóstico. Apresenta uma arquitetura papilar do componente invasor e intraductal, e este último está presente em mais de 75% dos casos (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) Carcinoma metaplásico Representa um grupo morfologicamente heterogêneo de neoplasias, formado por uma combinação variável de adenocarcinoma ductal pouco diferenciado, células epiteliais glandulares com transformação em células epiteliais não glandulares (células escamosas) e células mesenquimais (sarcomatosas), correspondendo a 1% dos carcinomas de mama. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A idade média ao diagnóstico é de 47 anos, e mais de 50% das pacientes desenvolvem doença metastática em 5 anos do diagnóstico. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Os achados clínicos são semelhantes aos do CDI-SOE e, na mamografia, costuma apresentar-se como uma massa densa bem delimitada. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Embora os tumores possam ter grandes dimensões e crescimento rápido, as metástases para linfonodos axilares são relativamente incomuns (10-15% dos carcinomas com componente escamoso). A maioria desses carcinomas são RH negativos, sendo tratados de forma semelhante ao CDI-SOE, apesar de ser comum apresentarem pior resposta aos tratamentos quimioterápicos e radioterápicos (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Carcinoma com apresentação clínica não usual Doença de Paget A doença de Paget (DP),uma apresentação incomum das neoplasias malignas da mama, corresponde a 1 a 3% dos casos de câncer de mama e tem diferentes formas histopatológicas, podendo ser encontrada em associação com um carcinoma invasor ou intraductal, mas também sem nenhuma neoplasia subjacente.21 O pico de incidência ocorre entre 60 e 70 anos. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) É caracterizada pela presença de células epiteliais ductais neoplásicas no interior da epiderme do mamilo em direção à aréola, podendo ser assintomática ou associada a prurido, hiperemia, eczema e ulceração do mamilo (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A histopatogênese correta das células de Paget permanece controversa. A teoria mais aceita para seu desenvolvimento sugere que as células de Paget crescem nos ductos mamários e progridem ao longo dos ductos lactíferos até a epiderme do mamilo, o que permite entender os casos de DP que apresentam as mesmas características imunofenotípicas do tumor subjacente. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Na fase subclínica da doença, as pacientes costumam relatar dor, ardência e prurido mamilar. Ao longo da evolução da doença, os achados clínicos mais característicos são eritema, pele espessada, lesão em crosta e formação de pequenas vesículas, com exsudação serosa ou sanguinolenta, que pode evoluir para ulceração à medida que ocorre a infiltração epidérmica por células neoplásicas, ocorrendo, em geral, do mamilo em direção à borda da aréola, podendo causar a destruição completa do mamilo. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Apesar dos sinais de alteração superficial na mama, a média de tempo para o diagnóstico histológico após o aparecimento dos sinais e sintomas está entre 6 e 8 meses. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A palpação de nódulos ou adensamentos está presente em 50% dos casos de DP, sendo, em geral, um carcinoma invasor. É possível ocorrer alteração mamográfica sem massa palpável e até mesmo não existir nenhuma alteração palpável ou em exames de imagem. Nesses casos, a ressonância magnética da mama pode auxiliar a identificação do tumor. O prognóstico está diretamente relacionado com a presença de um carcinoma invasor subjacente e o estadiamento da axila (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Carcinoma de mama inflamatório O carcinoma de mama inflamatório (CMI) representa uma entidade clínico-patológica distinta, caracterizada por comportamento agressivo e rápida progressão da doença. Compreende 1 a 4% dos casos de carcinoma invasor de mama, sendo a idade média de 40 a 60 anos (semelhante aos casos de carcinoma invasor não inflamatório). (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Parece existir uma tendência de maior incidência na população negra. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A taxa de sobrevida em 5 anos costuma ser menor que 5%, com elevadas taxas de recidiva local (50-80%). Cerca de 23% das pacientes apresentam metástases no momento do diagnóstico, contra 4% das pacientes com carcinoma não inflamatório. Em geral, 90% das pacientes desenvolvem metástases em menos de 2 anos após o diagnóstico. O risco de morte é duas vezes maior que o risco associado aos carcinomas localmente avançados não inflamatórios após ajustes para etnia, idade, tamanho tumoral, grau histológico, status axilar e expressão de receptores hormonais. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A apresentação clínica é bastante específica, havendo aumento de volume e endurecimento da mama, sendo comum retração mamilar. Também há eritema e edema cutâneo, em geral com aspecto de casca de laranja (peau d’orange), hipersensibilidade local e calor, devido à importante obstrução linfática causada pela disseminação do carcinoma acometendo a mama. Linfadenopatias axilares ou supraclaviculares palpáveis ao exame clínico estão presentes em 55 a 85% dos casos. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A característica patognomônica que distingue o CMI do carcinoma de mama localmente avançado (CMLA – estádio III) é a presença de numerosos êmbolos tumorais na derme papilar e reticular da pele que envolve a mama. Embora êmbolos tumorais linfáticos confirmem o diagnóstico, a sua ausência na derme não descarta o diagnóstico na presença de manifestações clínicas características e achado de carcinoma na biópsia mamária percutânea (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Manifestações clínicas do câncer de mama O câncer de mama pode manifestar-se clinicamente como massa, retração mamilar deprimida, ou secreção mamária anormal. Alguns tumores são percebidos pelas próprias pacientes – algumas vezes quando há apenas espessamento ou alteração sutil do contorno mamário. A variedade de sintomas e a possibilidade de autodetecção ressaltam a necessidade de que todas as mulheres estejam familiarizadas com o aspecto e a textura normais de suas mamas. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) 1. Caroço (nódulo), geralmente indolor; 2. Pele da mama avermelhada, retraída ou parecida com casca de laranja; 3. Alterações no bico do peito (mamilo); 4. Pequenos nódulos na região embaixo dos braços (axilas) ou no pescoço; 5. Saída de líquido anormal das mamas; Rastreamento Autoexame das mamas O autoexame da mama (AEM) mensal não é mais recomendado, visto que há poucas evidências de que seja superior à conscientização sobre o câncer de mama para que novos sintomas relacionados com a mama nas atividades cotidianas sejam comunicados logo que percebidos. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Não se demonstrou melhora da sobrevida com o AEM. As mulheres devem ser informadas sobre os benefícios e as limitações do AEM mensal, principalmente o risco de um resultado falso-positivo. No caso das mulheres que ainda preferirem fazê-lo, é necessário ensinar e reavaliar a técnica esporadicamente. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A American Cancer Society retirou sua recomendação de que todas as mulheres façam autoexame sistemático periódico. (NORRIS, 2021) Estudos sugeriram que a maioria das mulheres que descobrem ter câncer o fazem fora das datas programadas para seu autoexame das mamas (AEM). (NORRIS, 2021) As mulheres pré-menopausa que fazem AEM devem realizar o exame pouco depois das menstruações. Esse período é mais apropriado em razão das alterações mamárias cíclicas que ocorrem em resposta às variações dos níveis hormonais. As mulheres pós-menopausa e as que fizeram histerectomia podem fazer o autoexame em qualquer dia do mês. (NORRIS, 2021) O exame deve ser realizado no chuveiro ou na banheira, ou à hora de deitar. O aspecto mais importante do AEM é adotar um método sistemático, conveniente e consistente para examinar as mamas. (NORRIS, 2021) Mamografia A mamografia de rastreamento – exame de rotina em mulheres sem sinais e sintomas de câncer de mama – é recomendada na faixa etária de 50 a 69 anos, a cada dois anos. Fora dessa faixa etária e dessa periodicidade, os riscos aumentam e existe maior incerteza sobre benefícios. (NORRIS, 2021) A mamografia permite identificar melhor as lesões mamárias em mulheres após a menopausa. Antes desse período, as mamas são mais densas e a sensibilidade da mamografia é reduzida, gerando maior número de resultados falso-negativos (resultado negativo para câncer em pacientes com câncer) e também de falsos-positivos (resultado positivo para câncer em pacientes sem câncer), o que gera exposição desnecessária à radiação e a necessidade de realização de mais exames (NORRIS, 2021) Mamografia é o único exame de triagem eficaz para estabelecer o diagnóstico precoce de lesões clinicamente imperceptíveis. (NORRIS, 2021) A mamografia pode detectar lesões de apenas 1 mm e áreas de calcificação, que podem justificar uma biopsia para excluir câncer. (NORRIS, 2021) A mamografia tem sensibilidade de 80 a 90% no diagnóstico desse tipo de câncer, mesmo quando é realizada nas instituições mais capacitadas. Por essa razão, mesmo que a mamografia seja negativa,a massa palpável deve ser avaliada com mais detalhes. (NORRIS, 2021) O uso crescente da mamografia de rastreamento aumentou a capacidade de detectar anormalidades impalpáveis da mama. O câncer de mama metastático é encontrado como um tumor axilar não suspeito em menos de 1% dos casos. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) A mamografia e o exame físico, métodos clássicos de rastreamento, se complementam. Cerca de 10 a 50% dos cânceres detectados por mamografia são impalpáveis, enquanto o exame físico detecta 10 a 20% dos cânceres não observados ao exame radiológico (PASSOS, MARTINS- COSTA, 2023) O objetivo do rastreamento é detectar cânceres ainda pequenos (< 1 cm), em que há maior possibilidade de cura cirúrgica. (PASSOS, MARTINS-COSTA, 2023) Diagnóstico do câncer de mama Os procedimentos realizados para diagnosticar câncer de mama incluem exame físico, mamografia, ultrassonografia, biopsia de aspiração por agulha fina, biopsia por agulha estereostática (i. e., biopsia com agulha cilíndrica) e biopsia excisional. (NORRIS, 2021) Ultrassonografia A ultrassonografia é o método de imagem, não invasivo, mais utilizado como adjuvante na avaliação das doenças mamárias. Tem baixo custo, ampla disponibilidade, e permite orientação dos procedimentos percutâneos, contudo, é operador- dependente e necessita de um médico experiente e conhecedor de anatomia e patologia mamárias. Tem menor sensibilidade nas mamas adiposas, sendo limitado na avaliação de microcalcificações (NORRIS, 2021) A ultrassonografia é indicada para avaliação de pacientes sintomáticas, sendo o exame de escolha para mulheres abaixo de 35 anos (NORRIS, 2021) A ultrassonografia é útil como exame diagnóstico para diferenciar entre lesões císticas e sólidas nas mulheres com espessamento inespecífico. Certas características das massas sólidas, como margens irregulares, ecos internos ou proporção entre largura e altura < 1,7, sugerem malignidade. Em caso de mamas muito densas, o médico poderá solicitar exames complementares, como o ultrassom. (NORRIS, 2021) Ressonância Magnética Essa opção de rastreamento foi avaliada recentemente entre mulheres geneticamente de alto risco. Esse exame é particularmente interessante nesse grupo de mulheres, que desenvolvem ca ̂ncer de mama a uma taxa de 2% ao ano entre 25 e 50 anos de idade, período em que a sensibilidade da mamografia é reduzida pela densidade do tecido mamário. (NORRIS, 2021) Em geral, a RM mostra-se mais sensível e específica do que a mamografia, mas o teste tem sido criticado por seu alto custo e alta taxa de resultados falsopositivos. (NORRIS, 2021) Biópsia A avaliação de uma massa sólida de mama é finalizada com biópsia por agulha. Essas biópsias devem ser realizadas após exame de imagem ou, no mínimo, duas semanas antes do exame de imagem, uma vez que o trauma tecidual resultante pode produzir artefatos de imagem que simulam malignidade. (NORRIS, 2021) • Punção aspirativa por agulha fina: Em geral a PAAF é realizada em lesões palpáveis ou guiada por ultrassonografia, com uma agulha de calibre 20 ou 22. A técnica tem alto nível de exatidão diagnóstica, com baixas taxas de falso-negativos e com resultados falso-positivos raros, porém persistentes (NORRIS, 2021) • Punção biópsia/ core biopsy: A punção biopsia (core needle biopsy ou core biopsy) pode ser realizada em nódulos palpáveis e impalpáveis na mama. A realização de core biopsy, em vez de PAAF, em uma lesão palpável tem a vantagem de obter material mais fidedigno para diagnóstico, inclusive para avaliar a existência de receptores de estrogênio e progesterona e Her2/neu, substituindo assim a PAAF, a menos que se esteja fazendo a aspiração de uma massa cística. A core biopsy de lesões impalpáveis da mama é guiada por mamografia ou ultrassonografia. Com a orientação da imagem, introduz-se uma agulha de biopsia na lesão e retira-se um fragmento de tecido para exame histopatológico. (NORRIS, 2021) • Biopsia cirúrgica: pode ser realizada caso não seja possível biopsiar a lesão com agulha ou se for mostrada pela PAAF ou core biopsy uma lesão que pode estar associada à neoplasia maligna, como hiperplasia ductal atípica (HDA) ou carcinoma lobular in situ (CLIS). A excisão deve ser realizada quando os resultados da biopsia com agulha são questionáveis ou divergem dos achados clínicos. É preciso obter um diagnóstico histopatológico inquestionável de câncer antes do tratamento do câncer de mama. Pode-se usar o diagnóstico citológico se o nódulo parecer maligno ao exame clínico ou à mamografia.A biopsia cirúrgica pode ser feita no consultório, sob anestesia local (NORRIS, 2021) Classificação do BI – RADS Bi-Rads é um sistema de padronização de laudos de exames de imagem da mama (mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética), no qual o resultado de cada exame é classificado em uma categoria que determina qual é o risco desse exame evidenciar um câncer de mama. Referências: PASSOS, Eduardo P.; MARTINS-COSTA, Sérgio H.; MAGALHÃES, José A.; et al. Rotinas em Ginecologia (Rotinas).: Grupo A, 2023. PORTO, Celmo C. Semiologia Médica, 8ª edição.: Grupo GEN, 2019. NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia.: Grupo GEN, 2021. JUNQUEIRA, Luiz Carlos U.; CARNEIRO, José. Histologia Básica - Texto e Atlas.: Grupo GEN, 2017.