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1 Júlia Morbeck – @med.morbeck Objetivos 1- Rever morfofisiologia da mama; 2- Discutir a avaliação das mamas; 3- Compreender epidemiologia, etiologia, fatores de risco, fisiopatologia, manifestações clínicas e diagnóstico das patologias benignas e malignas da mama. Morfofisiologia da mama ANATOMIA ↠ Cada mama é uma projeção hemisférica de tamanho variável anterior aos músculos peitoral maior e serrátil anterior, e ligada a eles por uma camada de fáscia composta por tecido conjuntivo denso irregular (TORTORA, 14ª ed.). As glândulas mamárias, os órgãos de produção de leite, estão localizadas dentro das mamas (SEELY, 10ª ed.). ↠ As mamas femininas variam em tamanho, formato e simetria — até mesmo entre as duas mamas de uma pessoa. As faces superiores achatadas não mostram demarcação nítida da face anterior da parede torácica, mas as margens laterais e inferiores são bem definidas. Muitas vezes há proeminência das veias na superfície das mamas, principalmente durante a gravidez (MOORE, 7ª ed.). Anatomicamente as mamas estão situadas entre as camadas superficial e profunda da pele, as mamas estendem- se entre a segunda e a sexta costelas e do esterno à linha axilar média (VIEIRA; MARTINS, 2018) QUADRANTES MAMÁRIOS ↠ A superfície da mama é dividida em quatro quadrantes para localização anatômica e descrição de tumores e cistos. Por exemplo, o médico pode escrever no prontuário: “Foi palpada massa irregular, de consistência dura, no quadrante superior medial da mama na posição de 2 horas, distante cerca 2,5 cm da margem da aréola.” (MOORE, 7ª ed.). ESTRUTURAS ↠ Ligeiramente abaixo do centro de cada mama, há um anel de pele pigmentado, a aréola, a qual circunda a papila mamária (mamilo) central que protrui (MARIEB, 3ª ed.). ↠ A papila mamária tem uma série de aberturas pouco espaçadas de ductos chamados ductos lactíferos, dos quais emergem leite (TORTORA, 14ª ed.). Grandes glândulas sebáceas na aréola da mama a tornam levemente rugosa e produzem sebo que reduz as rachaduras da pele da papila mamária. O sistema neurovegetativo controla as fibras de músculo liso na aréola e no mamilo, tornando a papila mamária ereta quando estimulada por estímulo tátil ou sexual e quando exposta ao frio (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Internamente, cada glândula mamária consiste de 15 a 25 lobos que se distribuem radialmente em torno da papila mamária, na qual se abrem. Os lobos são acolchoados e separados uns dos outros por tecido conjuntivo fibroso e gordura (MARIEB, 3ª ed.). ↠ O tecido conjuntivo interlobar forma ligamentos suspensores que unem as mamas à fáscia muscular subjacente e à derme sobrejacente. Como sugerido pelo seu nome, os ligamentos suspensores fornecem a sustentação natural para as mamas, como um sutiã embutido (MARIEB, 3ª ed.). Esses ligamentos tornam-se mais soltos com a idade ou com a tensão excessiva que pode ocorrer na prática prolongada de corrida ou atividade aeróbica de alto impacto. Utilizar um sutiã com bom apoio pode retardar este processo e ajudar a manter a força dos ligamentos (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Dentro de cada lobo, estão unidades menores chamadas de lóbulos, os quais contêm alvéolos glandulares que produzem leite quando uma mulher está lactando. Essas glândulas alveolares compostas passam o leite para os ductos lactíferos, os quais se abrem para o exterior na papila mamária (MARIEB, 3ª ed.). APG 25 – “O TOQUE QUE FAZ DIFERENÇA” 2 Júlia Morbeck – @med.morbeck A contração das células mioepiteliais em torno dos alvéolos ajuda a impulsionar o leite em direção às papilas mamárias (TORTORA, 14ª ed.). ↠ Logo abaixo da aréola, cada ducto tem uma região dilatada chamada de seio lactífero onde o leite se acumula durante a amamentação (MARIEB, 3ª ed.). ↠ Em mulheres não-grávidas, a estrutura glandular das mamas é pouco desenvolvida e o sistema de ductos é rudimentar; portanto, o tamanho da mama é principalmente devido à quantidade de depósitos de gordura (MARIEB, 3ª ed.). Antes da puberdade, a estrutura geral das mamas é semelhante em ambos os sexos. As mamas possuem um sistema glandular rudimentar, que consiste principalmente em ductos com alvéolos esparsos. As mamas femininas começam a crescer durante a puberdade, sobretudo sob a influência do estrogênio e da progesterona. Aumento da sensibilidade ou dor nas mamas muitas vezes acompanham esse crescimento (SEELY, 10ª ed.). Os homens muitas vezes experimentam as mesmas sensações durante a puberdade precoce, e suas mamas podem até mesmo desenvolver pequenos inchaços; no entanto, em geral, esses sintomas desaparecem rapidamente. Em raras ocasiões, as mamas de um homem podem crescer em demasia, uma condição chamada ginecomastia (SEELY, 10ª ed.). SUPRIMENTO SANGUÍNEO ↠ A irrigação arterial da mama provém de: (MOORE, 7ª ed.). • Ramos mamários mediais de ramos perfurantes e ramos intercostais anteriores da artéria torácica interna, originados da artéria subclávia • Artérias torácica lateral e toracoacromial, ramos da artéria axilar • Artérias intercostais posteriores, ramos da parte torácica da aorta no 2º, 3º e 4º espaços intercostais. ↠ A drenagem venosa da mama se faz principalmente para a veia axilar, mas há alguma drenagem para a veia torácica interna (MOORE, 7ª ed.). DRENAGEM LINFÁTICA ↠ A drenagem linfática da mama é importante devido ao seu papel na metástase de células cancerosas. A linfa passa da papila, da aréola e dos lóbulos da glândula mamária para o plexo linfático subareolar. Desse plexo: (MOORE, 7ª ed.). • A maior parte da linfa (>75%), sobretudo dos quadrantes laterais da mama, drena para os linfonodos axilares, inicialmente para os linfonodos anteriores ou peitorais. • A maior parte da linfa remanescente, sobretudo dos quadrantes mediais da mama, drena para os linfonodos paraesternais ou para a mama oposta, enquanto a linfa dos quadrantes inferiores flui profundamente para os linfonodos abdominais (linfonodos frênicos inferiores subdiafragmáticos). 3 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ A linfa da pele da mama, com exceção da papila e da aréola, drena para os linfonodos axilares, cervicais profundos inferiores e infraclaviculares ipsilaterais e, também, para os linfonodos paraesternais de ambos os lados (MOORE, 7ª ed.). A linfa dos linfonodos axilares drena para os linfonodos claviculares (infraclaviculares e supraclaviculares) e daí para o tronco linfático subclávio, que também drena a linfa do membro superior. A linfa dos linfonodos paraesternais entra nos troncos linfáticos broncomediastinais, que também drena linfa das vísceras torácicas. A interrupção dos troncos linfáticos varia; tradicionalmente, esses troncos se fundem um ao outro e com o tronco linfático jugular, drenando a cabeça e o pescoço para formar um ducto linfático direito curto no lado direito ou entrando no ducto torácico do lado esquerdo. No entanto, em muitos casos (talvez na maioria), os troncos se abrem independentemente na junção das veias jugular interna e subclávia, no ângulo venoso direito ou esquerdo, que formam as veias braquiocefálicas direita e esquerda. Em alguns casos, eles se abrem em duas veias imediatamente antes do ângulo (MOORE, 7ª ed.). HISTOLOGIA ESTRUTURA DAS GLÂNDULAS MAMÁRIAS DURANTE A PUBERDADE E NA MULHER ADULTA ↠ A unidade lobular do ducto terminal (ULDT) da glândula mamária representa um aglomerado de pequenos alvéolos secretores (na glândula em lactação) ou ductos terminais (na glândula inativa) circundado por estroma intralobular, consistindo nas seguintes estruturas: (ROSS, 7ª ed.) • Os ductos terminais estão presentes na glândula inativa. Durante a gravidez e após o nascimento, os ductos terminais, que são revestidos por células epiteliais secretoras, diferenciam-se em alvéolos secretores totalmente funcionais,produtores de leite. • O ducto coletor intralobular transporta secreções alveolares para dentro do ducto galactóforo. • O estroma intralobular é um tecido conjuntivo frouxo especializado sensível a hormônios, que circunda os ductos terminais e os alvéolos. O tecido conjuntivo intralobular contém poucos adipócitos. Antes da puberdade, as glândulas mamárias são compostas de porções dilatadas, os seios galactóforos, e várias ramificações desses seios, os ductos galactóforos. Seu desenvolvimento em meninas durante a puberdade faz parte do processo de aquisição das características sexuais secundárias (JUNQUEIRA, 13ª ed.). Na mulher adulta, a estrutura característica da glândula – o lóbulo – desenvolve-se a partir das extremidades dos menores ductos. Um lóbulo consiste em vários ductos intralobulares que se unem em um ducto interlobular terminal. Cada lóbulo é imerso em tecido conjuntivo intralobular frouxo e muito celularizado, sendo que o tecido conjuntivo interlobular que separa os lóbulos é mais denso e menos celularizado (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Próximo à abertura do mamilo, os ductos galactóforos se dilatam para formar os seios galactóforos. As aberturas externas dos ductos são revestidas por epitélio estratificado pavimentoso, o qual bruscamente se transforma em estratificado colunar ou cuboide nos ductos galactóforos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O revestimento dos ductos galactóforos e ductos interlobulares terminais é formado por epitélio simples cuboide, envolvido por células mioepiteliais (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O tecido conjuntivo que cerca os alvéolos contém muitos linfócitos e plasmócitos. A população de 4 Júlia Morbeck – @med.morbeck plasmócitos aumenta significativamente no fim da gravidez; eles são responsáveis pela secreção de imunoglobulinas (IgA secretora), que conferem imunidade passiva ao recém-nascido (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ O mamilo tem forma cônica e pode ser rosa, marrom- claro ou marrom-escuro. Externamente, é coberto por epitélio estratificado pavimentoso queratinizado contínuo com o da pele adjacente. A pele ao redor do mamilo constitui a aréola. Sua cor escurece durante a gravidez, como resultado de acúmulo local de melanina, e após o parto pode ficar mais claro, mas raramente retorna à sua tonalidade original (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ A aréola contém glândulas sebáceas, glândulas sudoríparas e glândulas mamárias modificadas (glândulas de Montgomery). Essas glândulas apresentam estrutura intermediária entre as glândulas sudoríparas e as glândulas mamárias verdadeiras e produzem pequenas elevações na superfície da aréola. Acredita-se que as glândulas de Montgomery produzam uma secreção lubrificante e protetora que modifica o pH da pele e inibe o crescimento microbiano (ROSS, 7ª ed.) GLÂNDULAS MAMÁRIAS DURANTE A GRAVIDEZ E A LACTAÇÃO As glândulas mamárias sofrem intenso crescimento durante a gravidez por ação sinérgica de vários hormônios, principalmente estrógenos, progesterona, prolactina e lactogênio placentário humano. Uma das ações desses hormônios é o desenvolvimento de alvéolos nas extremidades dos ductos interlobulares terminais (JUNQUEIRA, 13ª ed.). As glândulas mamárias exibem várias alterações durante sua preparação para a lactação. Essas alterações ocorrem de acordo com o trimestre de gravidez. (ROSS, 7ª ed.) • O primeiro trimestre caracteriza-se por alongamento e ramificação dos ductos terminais. As células epiteliais de revestimento e as células mioepiteliais proliferam e diferenciam-se a partir das células progenitoras da mama encontradas no epitélio dos ductos terminais. As células mioepiteliais proliferam entre a base das células epiteliais e a lâmina basal nas porções tanto alveolares quanto ductais da glândula. • O segundo trimestre caracteriza-se pela diferenciação dos alvéolos a partir das extremidades em crescimento dos ductos terminais. O desenvolvimento do tecido glandular não é uniforme. Observa-se variação no grau de desenvolvimento até mesmo em um único lóbulo. As células variam quanto a seu formato, de achatadas a colunares baixas. O estroma de tecido conjuntivo intralobular é infiltrado por plasmócitos, linfócitos e eosinófilos à medida que a mama se desenvolve. Nesse estágio, a quantidade de tecido glandular e a massa da mama aumentam principalmente devido ao crescimento dos alvéolos. • O terceiro trimestre começa com a maturação dos alvéolos. As células glandulares epiteliais tornam-se cuboides, com núcleos localizados no citoplasma basal da célula. Essas células desenvolvem um RER extenso, e surgem vesículas secretoras e gotículas de lipídios no citoplasma. A proliferação efetiva das células estromais interlobulares declina, e ocorre aumento subsequente da mama por meio de hipertrofia das células secretoras e acúmulo de produto secretor nos alvéolos. ↠ As alterações no tecido glandular durante a gravidez são acompanhadas de uma diminuição na quantidade de tecido conjuntivo e tecido adiposo (ROSS, 7ª ed.). 5 Júlia Morbeck – @med.morbeck SECREÇÃO MERÓCRINA E APÓCRINA As glândulas mamárias são glândulas sudoríparas apócrinas tubuloalveolares modificadas (ROSS, 7ª ed.). ↠ As células secretoras contêm retículo endoplasmático rugoso abundante, um número moderado de mitocôndrias grandes, um complexo de Golgi supranuclear e vários lisossomos densos. Dependendo do estado secretor, pode haver grandes gotículas de lipídios e vesículas secretoras no citoplasma apical. As células secretoras produzem dois produtos distintos, que são liberados por mecanismos diferentes (ROSS, 7ª ed.). • Secreção merócrina: O componente proteico do leite é sintetizado no RER, acondicionado em vesículas secretoras limitadas por membrana para o seu transporte no complexo de Golgi e liberado da célula por fusão da membrana da vesícula com a membrana plasmática. • Secreção apócrina: O componente de gordura ou lipídios do leite surge como gotículas de lipídios livres no citoplasma. O lipídio coalesce para formar grandes gotículas que passam para a região apical da célula e projetam-se no lúmen do ácino. As gotículas são revestidas por um envoltório de membrana plasmática quando são liberadas. Uma fina camada de citoplasma é retida entre a membrana plasmática e a gotícula de lipídio e liberada juntamente com o lipídio, mas a perda de citoplasma nesse processo é mínima. REGRESSÃO PÓS-LACTACIONAL ↠ Quando cessa a amamentação (desmame), a maioria dos alvéolos desenvolvidos durante a gravidez sofre degeneração por apoptose. Assim, células inteiras são liberadas no lúmen dos alvéolos, e seus restos são retirados por macrófagos (JUNQUEIRA, 13ª ed.). ↠ Depois da menopausa, ocorre a involução das glândulas mamárias em consequência da diminuição da produção regular de hormônios sexuais. A involução é caracterizada por redução em tamanho e atrofia das porções secretoras e, até certo ponto, dos ductos. Modificações atróficas afetam também o tecido conjuntivo interlobular (JUNQUEIRA, 13ª ed.). FISIOLOGIA DA LACTAÇÃO DESENVOLVIMENTO DAS MAMAS As mamas começam a se desenvolver na puberdade. Esse desenvolvimento é estimulado pelos estrogênios do ciclo sexual feminino mensal; os estrogênios estimulam o crescimento da parte glandular das mamas, além do depósito de gordura que dá massa às mamas. Além disso, ocorre crescimento bem mais intenso durante o estado de altos níveis de estrogênio da gravidez, e só então o tecido glandular fica inteiramente desenvolvido para a produção de leite (GUYTON, 13ª ed.). ESTROGÊNIO ↠ Durante toda a gravidez, a grande quantidade de estrogênios secretada pela placenta faz com que o sistema de ductos das mamas cresça e se ramifique (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Quatro outros hormônios são igualmente importantes para o crescimento do sistema de ductos:hormônio do crescimento, prolactina, os glicocorticoides adrenais e insulina. Sabe-se que cada um desses hormônios tem pelo menos algum papel no metabolismo das proteínas, o que, presumivelmente, explica a função deles no desenvolvimento das mamas (GUYTON, 13ª ed.). PROGESTERONA ↠ O desenvolvimento final das mamas em órgãos secretores de leite também requer progesterona. Quando o sistema de ductos estiver desenvolvido, a progesterona - agindo sinergicamente com o estrogênio, bem como com os outros hormônios mencionados - causará o crescimento adicional dos lóbulos mamários, com multiplicação dos alvéolos e desenvolvimento de características secretoras nas células dos alvéolos. Essas mudanças são análogas aos efeitos secretores da 6 Júlia Morbeck – @med.morbeck progesterona no endométrio uterino na última metade do ciclo menstrual feminino (GUYTON, 13ª ed.). AÇÃO DA PROLACTINA E DO SEU INIBIDOR Embora o estrogênio e a progesterona sejam essenciais ao desenvolvimento físico das mamas durante a gravidez, um efeito especial de ambos esses hormônios é inibir a verdadeira secreção de leite (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Por outro lado, o hormônio prolactina tem o efeito exatamente oposto na secreção de leite, promovendo-a. A prolactina é secretada pela hipófise anterior materna, e sua concentração no sangue da mãe aumenta uniformemente a partir da quinta semana de gravidez até o nascimento do bebê, época em que já aumentou de 10 a 20 vezes o nível normal não grávido. Esse nível elevado de prolactina, no final da gravidez, é mostrado na figura abaixo (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Além disso, a placenta secreta grande quantidade de somatomamotropina coriônica humana, que provavelmente tem propriedades lactogênicas, apoiando, assim, a prolactina da hipófise materna durante a gravidez. Mesmo assim, devido aos efeitos supressivos do estrogênio e da progesterona, não mais do que uns poucos mililitros de líquido são secretados a cada dia até após o nascimento do bebê (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Imediatamente depois que o bebê nasce, a perda súbita tanto de secreção de estrogênio quanto de progesterona da placenta permite que o efeito lactogênico da prolactina da hipófise materna assuma seu papel natural de promotor da lactação, e no período de 1 a 7 dias as mamas começam a secretar quantidades copiosas de leite, em vez de colostro (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Essa secreção de leite requer uma secreção de suporte adequada da maioria dos outros hormônios maternos também, porém os mais importantes são hormônio do crescimento, cortisol, paratormônio e insulina. Esses hormônios são necessários para fornecer aminoácidos, ácidos graxos, glicose e cálcio, fundamentais para a formação do leite (GUYTON, 13ª ed.). ↠ Depois do nascimento do bebê, o nível basal da secreção de prolactina retorna aos níveis não grávidos durante algumas semanas. Entretanto, cada vez que a mãe amamenta o bebê, sinais neurais dos mamilos para o hipotálamo causam um pico de 10 a 20 vezes da secreção de prolactina, que dura aproximadamente 1 hora (GUYTON, 13ª ed.). AÇÃO DA OCITOCINA NA EJEÇÃO DO LEITE ↠ O leite é secretado de maneira contínua nos alvéolos das mamas, mas não flui facilmente dos alvéolos para o sistema de ductos e, portanto, não vaza continuamente pelos mamilos. Em vez disso, o leite precisa ser ejetado dos alvéolos para os ductos, antes de o bebê poder obtê- lo. Essa ejeção é causada por um reflexo neurogênico e hormonal combinado, que envolve o hormônio hipofisário posterior ocitocina (GUYTON, 13ª ed.). ↠ A ocitocina é transportada no sangue para as mamas, onde faz com que as células mioepiteliais (que circundam as paredes externas nos alvéolos) se contraiam, assim transportando o leite dos alvéolos para os ductos, sob uma pressão de +10 a 20 mmHg. Em seguida, a sucção do bebê fica efetiva em remover o leite. Assim, dentro de 30 segundos a 1 minuto depois que o bebê começa a sugar, o leite começa a fluir. Esse processo é denominado ejeção ou descida do leite (GUYTON, 13ª ed.). Avaliação das mamas ↠ A Semiologia Mamária compreende um conjunto de procedimentos que visam um diagnóstico do que é normal e do que é patológico, a partir de interpretações de sintomas e sinais obtidos através da anamnese e do exame físico (CARRARA; PHILBERT). ANAMNESE ↠ Os principais componentes da história clínica são: (PASSOS, 7ª ed.) Todas as mulheres • Idade da menarca; • Número de gestações; • Número de nascidos vivos; • Idade da primeira gestação; • História familiar de câncer de mama – Número de afetados, grau de parentesco, idade do diagnóstico e presença de doença bilateral; 7 Júlia Morbeck – @med.morbeck • História de cirurgias e/ou biópsias mamárias – Se possível, com o diagnóstico histológico. Mulheres na pré-menopausa • Data da última menstruação; • Duração e regularidade dos ciclos; • Uso de anticonceptivos hormonais. Mulheres na pós-menopausa • Data da menopausa; • Uso de terapia de reposição hormonal; • Idade – As patologias mamárias podem ocorrer em qualquer faixa etária. De modo geral, as patologias benignas são mais comuns em pacientes jovens. As patologias malignas aumentam em incidência a partir dos 45 anos, tendo seu pico aos 60 anos. • Etnia – Pacientes com descendência judaica asquenazi têm risco elevado por apresentar maior frequência de mutações no gene BRCA2, que, quando mutado, representa chance de 80% de desenvolvimento de neoplasia maligna ao longo da vida. • Antecedentes gineco-obstétricos – Menarca precoce (antes dos 12 anos), menopausa tardia (após os 55 anos), nuliparidade, idade tardia da primeira gestação (após os 28 anos), ausência de amamentação e uso de anticoncepção e terapias hormonais por mais de 5 anos também representam risco. • História pessoal – Cirurgias prévias de doenças benignas de mama podem representar aumento de risco, já que algumas lesões estão associadas, como as proliferativas e as proliferativas com atipias. História de outro tumor primário, por exemplo, tumor maligno de ovário, pode estar relacionada à mutação genética. • História familiar – Observa-se um aumento de risco (RR 2,6 vezes) em mulheres com familiares de primeiro grau (mãe, irmã ou filha). Esse risco é maior se o câncer tiver ocorrido antes dos 50 anos, em ambas as mamas ou se vários familiares apresentaram a doença. • Perfil psicossocial – A obesidade é relacionada ao aumento do número de casos de câncer de mama, principalmente na pós-menopausa. O consumo regular de álcool tem sido associado a maior risco em vários estudos epidemiológicos: o excesso de 10 g no consumo de álcool aumenta esse risco em 9%. Além desses aspectos gerais, é fundamental avaliar e caracterizar a queixa específica da paciente. O nódulo de mama é a queixa clínica mais frequente e é a apresentação mais comum do câncer de mama (PASSOS, 7ª ed.) • Nódulo – Data da percepção, localização, crescimento, relação com ciclo menstrual ou história de traumatismo; • Dor mamária – Data do início, localização, intensidade da dor, uso de medicações, relação com ciclo menstrual ou traumatismo, relação com esforço físico; • Derrame papilar – Data do início, cor, espontâneo ou provocado, unilateral ou bilateral e relação com o uso de fármacos; • Anormalidades de pele/mamilo e sinais inflamatórios – Data do início, se agudo ou crônico, localização, saída de secreção purulenta, flogose, presença de retração ou abaulamento. EXME FÍSICO ↠ O exame físico mamário deve ser parte integrante e obrigatório durante a consulta ginecológica (CARRARA; PHILBERT). ↠ Deve ser realizado em ambiente adequado, confortável para a paciente e para o examinador e a boa iluminação é fundamental. Deve ser realizado com critério e atenção e sempre de forma completa, abrangendo todosos diferentes tempos do exame (CARRARA; PHILBERT). O exame físico mamário é dividido em três etapas distintas, quais sejam: INSPEÇÃO (estática e dinâmica), PALPAÇÃO (cadeias linfáticas, mamas e outras estruturas) e terminamos com a EXPRESSÃO MAMÁRIA (CARRARA; PHILBERT). Inspeção estática Para esta etapa do exame físico, a paciente deverá estar em posição ortostática ou sentada, com os braços soltos ao longo do corpo. Lembrar que nas pacientes com mamas muito volumosas, e/ou muito flácidas, devemos elevá-las para melhor visualização do pólo inferior e sulco inframamário (CARRARA; PHILBERT). 8 Júlia Morbeck – @med.morbeck • Em relação às mamas, deve-se observar o número de mamas, localização, forma, volume, contornos (abaulamentos e retrações) e também a simetria. Em relação à pele, deve-se observar a cor, brilho, presença de cicatrizes, vascularização e distribuição dos vasos, pêlos, edema cutâneo (“peau d’orange”) e lesões (úlceras e feridas). • Em relação ao complexo aréolo-mamilar (CAM), avalia-se a forma, dimensões, simetria, características da pele e retração. Devem-se observar ainda eventuais alterações do tórax (cifoses, escolioses e defeitos das articulações costo- esternal) e da cintura escapular. Inspeção dinâmica Engloba três manobras distintas que visam mobilizar a glândula mamária sobre a parede torácica. Primeiramente pedimos que a paciente eleve progressivamente os braços, que devem estar estendidos, com o objetivo de tornar tenso a pele e ligamentos de Cooper (CARRARA; PHILBERT). Na sequência pedimos que a paciente coloque as mãos na cintura e faça compressão, ou com os braços na frente do tórax, comprima a palma da mão esquerda contra a palma da mão direita. O objetivo desta manobra é contrair o músculo peitoral maior, o que pode realçar eventuais nódulos mamários que estejam aderidos a esta estrutura (CARRARA; PHILBERT). A terceira manobra utilizada implica que a paciente estenda os braços e flexione o tronco anteriormente, de modo que as mamas fiquem pêndulas. Nesta etapa do exame físico devemos observar se há limitação da movimentação dos membros superiores, se há edema dos mesmos e a presença de escápula alada, principalmente em pacientes submetidas à cirurgia prévia (CARRARA; PHILBERT). Palpação Realizamos em dois tempos distintos, quais sejam: palpação das cadeias ganglionares e a palpação das mamas, sempre bilateralmente (CARRARA; PHILBERT). Iniciamos a palpação pelas cadeias ganglionares cervicais e supra-claviculares. Para a palpação destas cadeias, preferimos nos posicionar de frente para a paciente, porém há quem prefira estar posicionado atrás da mesma (CARRARA; PHILBERT). Na sequência, palpa-se as cadeias infra-ganglionares e finalmente as cadeias axilares. Deve-se fazer a palpação da cadeia da mamária interna com a paciente deitada. Para a palpação da cadeia linfática axilar direita, deve-se deixar o braço direito da paciente solto ao longo do corpo, ou apoiado ou sustentado pelo braço direito do examinador, enquanto com a mão esquerda, este faz a palpação (CARRARA; PHILBERT). Deve-se observar a presença de gânglios, localização dos mesmos, tamanho, consistência, mobilidade, relação entre si, 9 Júlia Morbeck – @med.morbeck aderência a planos profundos e eventuais ulcerações. Da mesma forma, todos os achados devem ser criteriosamente anotados (CARRARA; PHILBERT). Na palpação das mamas, lembrar que este tempo implica no exame da região que tem como limites a clavícula, o sulco infra- mamário, a linha axilar posterior, a linha médio-esternal e o prolongamento axilar. Para a palpação das mamas, a paciente deve estar em decúbito dorsal, de forma que toda a mama se distribua sobre a parede torácica (CARRARA; PHILBERT). Os braços devem estar elevados com as mãos atrás da nuca. Deve-se colocar um coxim embaixo do dorso (espádua) correspondente à mama que se palpa. Preconizamos iniciar a palpação pela mama “sadia”, palpando a mama afetada após, e sempre comparando os achados (CARRARA; PHILBERT). A palpação pode ser executada por meio de duas técnicas: (PORTO & PORTO, 8ª ed.). • a de Velpeaux, em que utiliza-se a região palmar dos dedos; • a de Bloodgood, em que são utilizadas as falanges distais, semelhante ao tocar de um piano. Para a descrição mais acurada do local onde a alteração se encontra na mama, dividimos a mama em quatro quadrantes, direitos ou esquerdos, quais sejam: Quadrante súpero lateral (QSL), quadrante ínfero lateral (QIL), quadrante súpero medial (QSM) e quadrante ínfero medial (QIM). Alguns consideram ainda um quinto quadrante que seria o quadrante central (retro areolar). Além destas informações, a descrição da lesão pode ser feita de forma bastante precisa tomando-se como referência um mostrador de relógio e a distância do CAM onde está a lesão (CARRARA; PHILBERT). Expressão Deve-se fazer ordenha, de forma firme, porém delicada. Os movimentos devem ser abrangentes, estendendo-se da base da mama até o CAM e de forma radiada. Caso ocorra a descarga papilar, devemos observar sua característica (líquida, oleosa ou pastosa), coloração (hialina, leitosa, sanguinolenta ou escura), volume, número de ductos excretores, bilateralidade e a presença de ponto gatilho, ou seja, ponto que ao ser tocado produz derrame papilar (CARRARA; PHILBERT). Patologias benignas ↠ O termo “doenças benignas da mama” engloba um grupo heterogêneo de lesões que pode representar uma ampla variedade de sinais e sintomas, e em faixas etárias variadas. O seu entendimento depende do conhecimento dos aspectos morfofuncionais da mama, desde a vida embrionária até a senectude (FEBRASGO, 2018). 10 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ A incidência das lesões benignas mamárias começa a aumentar durante a segunda década de vida, com picos na quarta e quinta década. Diferentemente, as lesões malignas continuam a aumentar após a menopausa (FEBRASGO, 2018). ↠ Podem ser classificadas em três categorias: (SOGIMIG, 2017). • Lesões não proliferativas: alterações fibrocísticas (cistos, ectasia ductal e fibrose), adenoses não esclerosantes, mastites, fibroadenomas, hamartomas e hiperplasias ductais mínimas (até quatro camadas de células) sem atipias. Representam até 70% dos achados histopatológicos. • Lesões proliferativas sem atipias: hiperplasia ductal sem atipia ou usual (HDU), papilomas, adenose esclerosante, fibroadenoma complexo e cicatriz radial (lesão esclerosan- te complexa). • Lesões proliferativas com atipias: hiperplasia ductal atípica (HDA), hiperplasia lobular atípica (HLA) e atipia epitelial plana (AEP). ANOMALIAS DO DESENVOLVIMENTO ↠ Diferenças no tamanho e no formato da mama são tão frequentes que dificilmente podem ser classificadas como anormalidades. As verdadeiras anomalias incluem aquelas em que a mama é ausente, rudimentar, existe assimetria grosseira, hipertrofia ou glândula e mamilos acessórios. As anomalias do desenvolvimento podem ser divididas, de acordo com o comprometimento, em anomalias de volume e de número (PASSOS, 7ª ed.). VOLUME • Hipomastia: Mama de pequeno volume, unilateral ou bilateral. Costuma não responder a tratamento hormonal. A solução é cirúrgica com inclusão de próteses de silicone (PASSOS, 7ª ed.). • Hipertrofia: Mama de grande volume, unilateral ou bilateral. Causa danos psicológicos e de postura, alterando o centro gravitacional da coluna. Casos extremos, que redundam em ressecções > 1.000 g, são denominados gigantomastia (PASSOS, 7ª ed.). • Simastia: Confluência medial das mamas, ou seja, uma ponte de tecido na linha média une as duas mamas. É congênita e está associada a mamas hipertróficas, geralmentesimétricas (PASSOS, 7ª ed.). NÚMERO • Amastia: Ausência total da glândula, unilateral ou bilateral. É extremamente rara e, quando unilateral, é quase sempre acompanhada de hipotrofia ou agenesia do grande peitoral, constituindo a síndrome de Poland (o quadro completo inclui sindactilia). Quando bilateral, frequentemente se associa à agenesia ovariana. • Amazia: Ausência do tecido mamário, com a presença do complexo areolomamilar, podendo ser adquirida – iatrogênica (por cirurgias, trauma, queimadura sobre o botão mamário), mais comum – ou congênita. • Atelia: Ausência areolomamilar, de extrema raridade. • Polimastia: Presença de mais de duas glândulas mamárias, podendo ser completa (com aréola e mamilo) ou apenas com parênquima. A forma mais comum é a mama axilar que se manifesta por um abaulamento na região, geralmente durante o ciclo grávido-puerperal. • Politelia: Presença de mamilo acessório, geralmente na região torácica inferior e no abdome superior. 11 Júlia Morbeck – @med.morbeck Tanto a polimastia como a politelia acontecem ao longo da linha láctea. A ocorrência do tecido mamário fora dessa localização chama- se mama aberrante (PASSOS, 7ª ed.). GINECOMASTIA ↠ É a hipertrofia de uma ou ambas as mamas no homem. No recém-nascido, na adolescência e na senectude, pode assumir caráter transitório. Apresenta pico de incidência entre 13 e 14 anos, e tende a regredir em até 2 anos. O segundo pico de incidência ocorre entre 50 e 80 anos. Em boa parte dos casos, é induzida por uso de substâncias como anabolizantes, estrogênios, digitálicos, isoniazida, espironolactona, reserpina e metildopa ou está vinculada a doenças orgânicas como lesões testiculares e hepáticas, carcinoma corticossuprarrenal, adenoma de hipófise ou hipertireoidismo (PASSOS, 7ª ed.). A avaliação com exames de imagem é feita com a mamografia, sendo que a solicitação de US mamária não deve ser encorajada, pois a mamografia consegue distinguir a ginecomastia verdadeira da lipomastia (PASSOS, 7ª ed.). PROCESSOS INFLAMATÓRIOS MASTITE AGUDA ↠ É mais comum no puerpério tardio, podendo acometer cerca de 2 a 10% das lactantes. Os agentes patogênicos normalmente envolvidos são Staphylococcus aureus, principal agente, presente em 60% dos casos, Staphylococcus epidermidis, estreptococos, Escherichia coli, entre outros (PASSOS et al., 2023). ↠ Normalmente, há história de fissura do mamilo ou de queimadura da pele, que resulta na quebra dos mecanismos de defesa do organismo e em aumento do número de bactérias sobre a pele da mama. Esses germes também chegam ao mamilo pelas roupas, pelas mãos ou pela nasofaringe do recém-nascido. A penetração acontece pelos linfáticos superficiais, expostos pelas fissuras mamilares (PASSOS, 7ª ed.). ↠ Os fatores predisponentes de mastite aguda incluem: (PASSOS et al., 2023). • Mamas ingurgitadas. • Fissura mamilar. • Infecção da rinofaringe do lactente. • Anormalidade do mamilo. • Primiparidade. • Má higiene. • Escabiose. Inicia com estase láctea e, posteriormente, aparecem os sinais clássicos de inflamação: dor, tumor, calor, rubor, que podem ou não estar acompanhados de sintomas gerais (febre, mal-estar, calafrios). Adenopatia axilar costuma se apresentar (PASSOS, 7ª ed.). Se, após 48 a 72 horas de tratamento, persistir infecção, deve-se suspeitar de abscesso, o qual se estabelece em 5 a 10% dos casos, apesar do tratamento (PASSOS et al., 2023). ECTASIA DUCTAL ↠ Trata-se da dilatação dos ductos terminais por acúmulo de material lipídico e detritos celulares que levaria a inflamação, espessamento, atrofia e perda da elasticidade da parede ductal, podendo causar derrame papilar (PASSOS et al., 2023). Na maioria dos casos, manifesta-se como secreção papilar bilateral, multiductal e colorida (esbranquiçada, amarelada, acastanhada, esverdeada e enegrecida), podendo haver associação com nodularidade e alterações anatômicas do complexo areolopapilar. Eventualmente, o fluxo é hemorrágico, e, nesse caso, o diagnóstico deve ser amparado por alguns exames de imagem para exclusão de outras causas, como papilomas e câncer (PASSOS et al., 2023). O diagnóstico é clínico, e, quando há dúvidas, a US é o método de imagem que pode trazer mais informações, pois consegue mostrar toda a árvore ductal retroareolar. Por esse método, considera- se ectasia quando o diâmetro do ducto é igual ou superior a 5 mm (PASSOS et al., 2023). ↠ As formas clínicas são as seguintes: (PASSOS et al., 2023). • Derrame papilar: Mais comum em mulheres peri ou pós-menopáusicas, surgindo secreção amarelo- esverdeada, purulenta. Desde que o sintoma não seja espontâneo e abundante, não requer tratamento. Se a descarga for desconfortável para a paciente, indica- se a exérese do sistema ductal terminal. • Tumoral: A ectasia, com o tempo, pode ocasionar ruptura dos ductos e inflamação circundante, com sinais típicos de mastite. Esse processo, ao se cronificar, pode originar massa endurecida e retração do mamilo, simulando um carcinoma. É comum a retração do mamilo no local do ducto ou dos ductos encurtados. A idade é um fator importante na 12 Júlia Morbeck – @med.morbeck etiologia da ectasia ductal, pois a frequência dessa condição aumenta com a idade. SECREÇÕES BENIGNAS GALACTORREIA ↠ Galactorreia consiste na eliminação de secreção láctea pelos mamilos em homem, mulher nulípara ou pelo menos 12 meses após a gravidez ou lactação. Sua principal causa é farmacológica, mas pode ser idiopática ou secundária a adenomas hipofisários. Estímulo papilar, trauma, cirurgia da parede torácica e distúrbios da tireoide também podem ser fatores etiológicos (SOGIMIG, 2017). MACROCISTOS ↠ Os cistos mamários são a expressão da etapa involutiva do lóbulo mamário. Estima-se que ocorram em 7 a 10% das mulheres, predominantemente na meia-idade e no final do período reprodutivo. Eles têm importância clínica, pois, em geral, apresentam-se como tumor de aparecimento rápido, trazendo ansiedade para as pacientes (PASSOS et al., 2023). ↠ A etiologia é desconhecida, mas estudos demonstraram que eles podem ser divididos em dois grandes grupos: um revestido por epitélio atrófico e com líquido intracavitário contendo relação Na:K > 3, e o outro formado por epitélio apócrino, cuja relação Na:K é < 3. Este último, para alguns autores, teria risco maior para carcinoma (PASSOS et al., 2023). ↠ Podem ser cistos simples (apenas com conteúdo líquido) ou complexos (com componente sólido no interior) e provocam dor quando crescem repentinamente (PASSOS et al., 2023). ↠ O pico de incidência se dá entre os 40 e os 50 anos, aumentando em frequência a partir dos 35 anos. É importante salientar que essa incidência se refere a macrocistos palpáveis. Se forem considerados, na estatística, os microcistos (< 1 cm) detectados apenas por exame ultrassonográfico, esse número sobe para 70% (PASSOS et al., 2023). ↠ O quadro clínico é de surgimento rápido de tumor móvel, de consistência firme/elástica, às vezes apresentando aspecto “achatado”. Na grande maioria das vezes, não há dor à palpação. Essa alteração é mais frequentemente identificada nas regiões centrais da mama e no período pré-menopausa (é raríssimo na senectude, a não ser nos casos em que a paciente esteja em vigência de terapia de reposição hormonal) (PASSOS et al., 2023). O tratamento consiste na punção evacuadora do cisto, procedimento ambulatorial simples que, além de ser diagnóstico (pois afasta a possibilidade de câncer), também tem caráter terapêutico. Cabe ressaltar que cistos simples não palpáveis, identificados apenas em exame ultrassonográfico, não devem ser abordados ou acompanhados, e a paciente deve ser tranquilizada. Nas pacientes portadoras de cistos múltiplos, também não hánecessidade de puncionar todos os cistos em todas as ocasiões; deve-se apenas realizar a avaliação da alteração por meio da US. Se essa avaliação mostrar que se trata de cistos simples (não complexos e não habitados), deverão ser programadas sessões de punção dos cistos maiores, sintomáticos. Os cistos com conteúdo espesso, septos finos ou microcistos agrupados apresentam pouco risco de malignidade e podem ser acompanhados clinicamente (PASSOS et al., 2023). TUMORES BENIGNOS LESÕES FIBROEPITELIAIS ↠ As lesões fibroepiteliais da mama englobam neoplasias constituídas pela proliferação do tecido conectivo do estroma e pelo componente epitelial, representados pelos ductos e ácinos. Os dois componentes estão presentes em proporções variáveis, mas são os diferentes graus de proliferação e atipia estromal que determinam a classificação e o comportamento clínico dessas lesões (PASSOS et al., 2023). ↠ Esse grupo heterogêneo de lesões bifásicas predominantemente manifesta comportamento benigno, sendo representado pelos fibroadenomas e pelos tumores filoides (PASSOS et al., 2023). FIBROADENOMAS ↠ Os fibroadenomas são os principais tumores benignos da mama, ficando atrás apenas dos carcinomas em termos de prevalência geral (PASSOS et al., 2023). Macrocistos. (A) Aspecto clínico. (B) Aspecto mamográfico. (C) Aspecto ultrassonográfico. 13 Júlia Morbeck – @med.morbeck EPIDEMIOLOGIA: Eles acometem preferencialmente mulheres com idade entre 15 e 35 anos. Em decorrência da presença de receptores hormonais, apresentam tendência a crescimento durante a gestação e degeneração e calcificação após a menopausa, sendo um achado comum em mamografias de rotina (PASSOS et al., 2023). ↠ O fibroadenoma apresenta-se como nódulo indolor, sólido, de consistência firme, formato arredondado ou lobulado, limites nítidos e ampla mobilidade. O crescimento é lento, raras vezes atingindo grandes dimensões. Os fibroadenomas podem ser múltiplos em 20% dos casos, uni ou bilateralmente (PASSOS et al., 2023). ↠ O diagnóstico é eminentemente clínico, podendo ser complementado por exames de imagem e/ou análise cito/histológica (PASSOS et al., 2023). Os exames de imagem evidenciam massa sólida regular ou lobulada, de margens bem definidas. Em pacientes jovens, a US mamária auxilia a caracterização dessas lesões e a diferenciação entre lesões sólidas ou císticas. À mamografia, lesões involutivas podem apresentar as clássicas calcificações grosseiras em pipoca (PASSOS et al., 2023). O fibroadenoma comum apresenta estroma de baixa celularidade, uniforme, sem pleomorfismo celular. Em pacientes idosas, o estroma pode estar hialinizado. Existe uma forma especial de fibroadenoma com estroma com maior celularidade e hiperplasia epitelial, conhecido como gigante juvenil, que ocorre na puberdade e causa acentuada assimetria mamária, atingindo grandes dimensões (> 5 cm) (PASSOS et al., 2023). ↠ É rara a transformação de componentes epiteliais do fibroadenoma em carcinoma mamário, bem como a coexistência entre essas lesões (PASSOS et al., 2023). TUMORES FILOIDES ↠ Respondem por menos de 1% dos tumores da mama e 2,5% dos tumores fibroepiteliais (PASSOS et al., 2023). EPIDEMIOLOGIA: Costumam se manifestar dos 35 aos 55 anos, faixa etária mais avançada quando comparada com seu principal diagnóstico diferencial, os fibroadenomas (PASSOS et al., 2023). ↠ O seu comportamento biológico engloba tumores benignos, borderline e malignos, levando em consideração alterações do componente estromal e características de margens da lesão. São lesões clinicamente semelhantes aos fibroadenomas, com rápido crescimento. Embora tumores malignos ocorram em apenas 10% dos casos, mesmo benignos, eles têm tendência à recidiva local e podem atingir grandes volumes (PASSOS et al., 2023). ↠ O seu diagnóstico pela amostra histológica via core biopsy pode ser desafiador e, por vezes, só é confirmado em análise com maiores amostras teciduais. O tratamento envolve ressecção da lesão com margens livres (idealmente de 1 cm em tumores de comportamento borderline e malignos (PASSOS et al., 2023). PAPILOMA INTRADUCTAL ↠ É uma lesão hiperplásica caracterizada pela proliferação do epitélio ductal com um eixo fibrovascular com crescimento para o lúmen de um ducto, distendendo-o, formando lesões em geral sólido-císticas (PASSOS et al., 2023). EPIDEMIOLOGIA: É mais frequentemente observado em mulheres entre a quarta e sexta décadas de vida. Os papilomas intraductais em geral são solitários e centrais, localizados nos ductos terminais, atingindo pequenas dimensões (PASSOS et al., 2023). ↠ Essas lesões costumam apresentar achado clínico característico de descarga papilar sanguinolenta ou serosa; em 50% delas, nota-se nódulo subareolar. Elas apresentam potencial de abrigar áreas de atipia ou carcinoma in situ (menos de 10% dos casos) (PASSOS et al., 2023). ↠ Em contrapartida, lesões múltiplas e periféricas são denominadas papilomatose múltipla e estão mais relacionadas com nódulos do que com a descarga papilar. A sua etiologia está correlacionada com hiperplasia ductal ou lobular e apresenta maior risco de desenvolvimento de carcinomas em comparação com a população geral (PASSOS et al., 2023). ↠ O diagnóstico de papiloma intraductal exige análise histológica, e seu tratamento consiste em exérese com ressecção total do papiloma (PASSOS et al., 2023). 14 Júlia Morbeck – @med.morbeck CONDIÇÕES BENIGNAS DA MAMA E RISCO PARA O CÂNCER A quantificação do risco histológico é obtida pelo acompanhamento, em longo prazo, dos casos de patologia benigna submetidos à biópsia e é expressa em termos de risco relativo (RR) (PASSOS et al., 2023). Patologias malignas ↠ O câncer de mama é o mais incidente na população feminina mundial e brasileira, excetuando-se os casos de câncer de pele não melanoma (PASSOS et al., 2023). EPIDEMIOLOGIA ↠ O câncer invasor de mama é a primeira causa de morte por câncer na população feminina em todas as regiões do Brasil, exceto na região Norte, onde o câncer de colo do útero ocupa essa posição. A taxa de mortalidade por câncer de mama, ajustada pela população mundial, foi de 14,23 óbitos/100.000 mulheres em 2019, com as maiores taxas nas regiões Sudeste e Sul, com 16,14 e 15,08 óbitos/100.000 mulheres, respectivamente (PASSOS et al., 2023). ↠ O aumento das taxas de incidência em países com índice de desenvolvimento humano (IDH) mais elevado reflete uma prevalência mais alta de longa data de fatores de risco reprodutivos e hormonais (idade precoce da menarca, idade tardia da menopausa, idade avançada no primeiro parto, menor número de filhos, menos tempo de amamentação, terapia hormonal na menopausa, anticoncepcionais orais), bem como de fatores de risco de estilo de vida (ingestão de álcool, excesso de peso corporal, sedentarismo), além de maior detecção por meio de rastreamento mamográfico organizado ou oportunista (PASSOS et al., 2023). ↠ Uma prevalência excepcionalmente alta de mutações em genes de alta penetrância, como BRCA1 e BRCA2, entre mulheres de herança judaica asquenazi (variação de 1-2,5%) é, em parte, responsável pela alta incidência em Israel e em certas subpopulações europeias (PASSOS et al., 2023). FATORES DE RISCO ↠ A maioria dos carcinomas mamários é esporádica, e apenas 10% estão associados a história familiar ou fatores genéticos. Dessa forma, o conhecimento dos fatores de risco que podem estar associados é importante, uma vez que alguns deles podem ser modificados, reduzindo o risco de ocorrência (PASSOS et al., 2023). SEXO E IDADE ↠ As mulheres apresentam risco de serem diagnosticadas com câncer de mama 100 vezes maior que os homens. Além disso, a incidência do câncer de mama está diretamente relacionada com o aumento da idade, justificandoo início do rastreamento mamográfico a partir dos 40 a 50 anos (PASSOS et al., 2023). OBESIDADE E AUMENTO DE PESO ↠ A obesidade (índice de massa corporal [IMC] ≥ 30 kg/m2) está associada ao aumento de morbidade e mortalidade relacionadas com o câncer de mama. Esse risco está ligado ainda ao aumento da incidência do câncer de mama, quando ocorre na pós-menopausa. Tal associação resulta dos maiores níveis de estrogênio pela conversão periférica no tecido adiposo mediada pela aromatase e pela hiperinsulinemia (PASSOS et al., 2023). ↠ A perda de peso, mesmo após o início da menopausa, está associada à redução do risco. Além disso, a atividade física é um fator protetor para a mama na pré- menopausa, levando a uma redução de risco de 23% (RR 0,75), e na pós-menopausa, a uma redução de risco de 17% (RR 0,87), mesmo após o ajuste para outros fatores (PASSOS et al., 2023). DENSIDADE MAMÁRIA ↠ Mulheres com mamas densas na mamografia – ou seja, com a presença de tecido mamário (parênquima) formando ≥ 75% da mama – apresentam maior risco para câncer de mama quando comparadas com mulheres 15 Júlia Morbeck – @med.morbeck da mesma idade com mamas menos densas ou lipossubstituídas. O aumento da densidade mamária não representa impacto em maior mortalidade por câncer de mama (PASSOS et al., 2023). DOENÇAS BENIGNAS DA MAMA ↠ As lesões proliferativas da mama (em especial, alterações com atipias histológicas) estão associadas ao aumento do risco de câncer de mama. Tais lesões são consideradas marcadores de risco tanto para a mama afetada como para a mama contralateral. As lesões proliferativas incluem hiperplasia ductal atípica, hiperplasia lobular atípica e carcinoma lobular in situ (PASSOS et al., 2023). TERAPIA HORMONAL NA MENOPAUSA ↠ A terapia hormonal combinada de estrogênio/progesterona na menopausa aumenta o risco de câncer de mama receptor hormonal positivo (RR 1,66), sobretudo com o uso por mais de 5 anos. Esse risco diminui significativamente após 2 anos da sua interrupção. A terapia hormonal com apenas estrogênio em pacientes histerectomizadas não está associada ao aumento de risco (PASSOS et al., 2023). CONTRACEPTIVOS HORMONAIS ↠ O risco de câncer de mama é maior entre as mulheres usuárias de contraceptivos hormonais em relação àquelas que nunca os utilizaram (RR 1,21; intervalo de confiança [IC] 95%, 1,11-1,33), e esse risco aumenta com o uso prolongado. No entanto, o aumento absoluto do risco é pequeno (risco absoluto de 13/100.000 mulheres-ano). Alguns estudos indicam que esse risco desaparece em 2 a 5 anos após a interrupção do uso (PASSOS et al., 2023). Apesar dos dados limitados, os dispositivos intrauterinos com levonorgestrel estão contraindicados em mulheres com história prévia de câncer de mama, devido a uma possível associação com aumento de recidiva, em especial nas pacientes que mantiveram seu uso durante o tratamento do câncer de mama (PASSOS et al., 2023). MENARCA PRECOCE E MENOPAUSA TARDIA ↠ Estudos demonstraram que cada ano de atraso do início da menarca diminui em 5% o risco de câncer de mama. Em contrapartida, cada ano de atraso para início da menopausa representa um aumento de risco de 3% para câncer de mama (PASSOS et al., 2023). NULIPARIDADE ↠ A nuliparidade representa um maior risco para câncer de mama (RR 1,2-1,7). Estudos sugerem uma redução de risco adicional para cada parto a termo em torno de 10% (PASSOS et al., 2023). IDADE NO PRIMEIRO PARTO A TERMO ↠ A incidência cumulativa de câncer de mama (até a idade de 70 anos) parece ser 10% menor para mulheres que tiveram o primeiro parto a termo até os 25 anos e 5% maior entre aquelas com primeiro parto a termo aos 35 anos, semelhante ao risco de mulheres nulíparas (PASSOS et al., 2023). HISTÓRIA FAMILIAR E MUTAÇÕES GENÉTICAS ↠ Os dois principais fatores que afetam esse risco são o número de familiares de primeiro grau com câncer de mama e a idade em que foram diagnosticados. Uma mulher com um familiar de primeiro grau com câncer de mama apresenta risco 1,75 vezes maior de desenvolver a doença em relação a uma mulher sem nenhum familiar afetado. Esse risco se torna 2,5 vezes maior com dois ou mais familiares de primeiro grau com câncer de mama. A idade jovem no diagnóstico dos familiares de primeiro grau também pode influenciar esse risco, principalmente quando ocorre na pré-menopausa (PASSOS et al., 2023). Mutações genéticas associadas à predisposição ao câncer de mama são raras. Cerca de apenas 6% de todos os cânceres de mama estão diretamente relacionados com mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2 (PASSOS et al., 2023). ÁLCOOL E TABAGISMO ↠ O consumo de álcool está associado ao aumento do risco para câncer de mama. O consumo de 35 a 44 g de álcool por dia pode aumentar o risco de câncer de mama em 32%. O risco aumenta diretamente em relação ao aumento do consumo de álcool, cerca de 7,1% de aumento no RR para cada 10 g de álcool adicional (1 taça de vinho – 20 mL, 1 copo de cerveja – 285 mL ou 1 dose de bebida destilada – 30 mL) consumida por dia (PASSOS et al., 2023). ↠ Embora a associação de risco com o tabagismo permaneça controversa (RR 1,1), parece haver uma correlação com o início precoce, em idade jovem, do consumo de cigarros (PASSOS et al., 2023). EXPOSIÇÃO À RADIAÇÃO IONIZANTE ↠ A exposição do tórax à radiação ionizante em uma idade jovem, como ocorre no tratamento do linfoma de 16 Júlia Morbeck – @med.morbeck Hodgkin, está associada ao aumento de risco para câncer de mama. Esse risco parece maior quando a exposição ocorre entre 10 e 14 anos, embora pareça persistir mesmo com exposições até os 45 anos (PASSOS et al., 2023). CLASSIFICAÇÃO MOLECULAR DO CÂNCER DE MAMA ↠ O carcinoma de mama é uma neoplasia com múltiplos achados morfológicos, além de comportamento clínico e resposta a regimes terapêuticos variáveis. Essa heterogeneidade está relacionada com a origem celular ou a via de diferenciação das células tumorais. O desenvolvimento da biologia molecular permitiu ampliar o conhecimento da evolução e das características do carcinoma de mama, lançando uma nova luz sobre seu prognóstico e respostas terapêuticas (PASSOS et al., 2023). ↠ A análise do perfil de expressão gênica, por meio do uso da metodologia de microarranjos de ácido desoxirribonucleico (DNA) (microarray), categoriza cinco subtipos moleculares diferentes de carcinoma de mama: (PASSOS et al., 2023). • Luminal A: Apresenta elevados índices de RE e RP, baixo grau histológico e baixos níveis de genes de proliferação celular (Ki-67), caracterizando um perfil de bom prognóstico; corresponde a 40 a 50% dos carcinomas de mama. • Luminal B: Também se caracteriza pela expressão de RE e RP, porém associado a grau histológico mais alto e maiores níveis de genes de proliferação celular, motivo pelo qual está relacionado com um prognóstico mais reservado. Os carcinomas luminais (A e B) correspondem a cerca de 75% dos carcinomas invasores de mama. • HER-2: Apresenta um comportamento mais agressivo, associado ao surgimento precoce de metástases a distância e metástases cerebrais; também se caracteriza pela ausência de expressão de RE e RP e amplificação do gene que codifica o HER-2. Cerca de 15% das pacientes com carcinoma de mama apresentam a amplificação desse gene. • Basaloide ou triplo-negativo: Denominação devida ao perfil de expressão gênica desses tumores, semelhante ao das células basais da mama, precursoras das células epiteliais glandulares e das células mioepiteliais. Os tumores basaloides ou triplo- negativos compreendem 10 a 15% dos tumores, estando associados a pior prognóstico, quando avaliados pela sobrevida livre de doença, sendo o risco de recidivas maior nos 5 anos após o diagnóstico. Estudos que avaliaram o perfil imuno- histoquímicodesse grupo de carcinomas revelaram tumores em geral negativos para RE, RP e para o produto proteico do HER-2. Devido à negatividade para esses três marcadores, esses carcinomas receberam a denominação triplo-negativo e têm sido relacionados com a mutação do gene BRCA1. São mais frequentes no grupo de mulheres na pré- menopausa, o que sinaliza provável incidência em pacientes jovens. Os tumores HER-2 e triplo-negativo estão associados a altos graus histológicos e maiores índices de proliferação celular (PASSOS et al., 2023). PATOLOGIA DO CARCINOMA DE MAMA ↠ O carcinoma de mama é uma doença heterogênea que difere quanto à sua apresentação histológica e seu comportamento biológico. Os dois tipos histológicos mais comuns de carcinomas invasivos são os carcinomas ductal e lobular, correspondendo a cerca de 75 e 15% de todos os casos, respectivamente. Os demais tipos histológicos de carcinomas são mais raros (mucinoso, tubular, medular, papilar, metaplásico) e correspondem aproximadamente a 10% de todos os casos (PASSOS et al., 2023). O câncer de mama pode ser dividido em lesões in situ e invasoras, e nessa divisão há vários tipos histológicos específicos com vários prognósticos (SOGIMIG, 2017). CARCINOMA DUCTAL IN SITU ↠ O carcinoma ductal in situ (CDIS) ou intraductal é uma forma não invasiva do câncer de mama. A sua incidência tem aumentado com o uso mais amplo do rastreamento mamográfico (PASSOS et al., 2023). ↠ O CDIS é caracterizado pela proliferação de células epiteliais neoplásicas no interior do ducto, sem invadir a membrana basal. Desse modo, sem a capacidade de metastatizar, seja por via linfática, seja por via hematogênica, não exige tratamento sistêmico adjuvante (PASSOS et al., 2023). 17 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ É considerado uma lesão precursora do carcinoma invasor, e sua presença aumenta em 10 vezes o risco de carcinoma invasor no futuro. Até o momento, sabe-se que alterações genéticas presentes no carcinoma ductal invasor também ocorrem no CDIS, mas preditores de progressão para invasão ainda não foram identificados (PASSOS et al., 2023). O carcinoma ductal in situ é considerado câncer de mama estádio 0 (SANARFLIX). ↠ O CDIS manifesta-se comumente por microcalcificações pleomórficas, agrupadas e com trajeto ductal na mamografia. Representa 15 a 30% dos cânceres detectados por mamografia e acomete, preferencialmente, mulheres com idade entre 50 e 70 anos. A expressão de receptores de estrogênio (RE) é observada em mais de 80% dos casos de CDIS, ao passo que os receptores de progesterona (RP) são encontrados em cerca de 60% dos casos. Os CDIS com RE negativos têm sido associados a maior risco de recorrência local (PASSOS et al., 2023). CARCINOMA LOBULAR IN SITU ↠ Este não é tradicionalmente visto como percussor do câncer de mama, mas sim como um marcador de risco aumentado (cerca de 1%/ano). Por ter como característica multifocal e bilateral, sua excisão torna-se difícil e por isso não costuma ser realizada (SANARFLIX). CARCINOMA INVASOR DA MAMA (CÂNCER DE MAMA) ↠ Os carcinomas invasores são aqueles cujas células tumorais invadem os tecidos adjacentes aos ductos mamários e apresentam capacidade de metastatizar para sítios anatômicos distantes (PASSOS et al., 2023). Dos cânceres que afetam as mamas, 97% são primários e 3% são metástases de outros sítios, sendo o carcinoma ductal invasivo o mais comum (80%) seguido do carcinoma lobular invasivo (15%). Esta é a neoplasia maligna mais incidentes em mulheres no mundo sendo que no Brasil, em 2019, foram 59.700 novos casos o que representa 29,5% dos cânceres em brasileiras, excetuando o câncer de pele não melanoma (SANARFLIX). CARCINOMA DUCTAL INFILTRANTE ↠ Como visto, esse é o tipo histológico mais comum, correspondendo a 80 a 90% dos carcinomas de mama, dependendo da série avaliada. Trata-se de um grupo heterogêneo de tumores cujo diagnóstico é feito por exclusão quando a lesão não preenche os critérios diagnósticos (achados morfológicos/histológicos) para os tipos especiais de carcinoma mamário, sendo classificado como carcinoma ductal infiltrante – sem outra especificação (CDI-SOE) (PASSOS et al., 2023). Os carcinomas ductais de tipo especial (medular, tubular, etc.) compreendem 10 a 20% dos carcinomas invasivos e apresentam, em geral, melhor prognóstico quando comparados com o CDI-SOE. Para ser classificado como tipo especial, é necessário que o carcinoma seja composto quase completamente (90% de um tumor) pelas características histológicas do tipo em questão (PASSOS et al., 2023). 18 Júlia Morbeck – @med.morbeck Apresentação macroscópica ↠ Costuma apresentar-se como um nódulo sólido ou uma área de condensação no parênquima, com coloração acinzentada ou esbranquiçada, geralmente endurecido, com consistência de pera verde ao corte (carcinoma cirroso), o que depende da quantidade de fibrose no estroma, da elastose peritumoral e da presença de necrose e de calcificações relativamente grosseiras. As lesões podem ter forma espiculada ou circunscrita (PASSOS et al., 2023). Histologia ↠ Pode apresentar uma ampla variabilidade histológica, com proliferação de elementos epiteliais com atipias citológicas relativamente acentuadas, com uma tendência diversa a formar estruturas pseudoglandulares ou semelhantes aos ductos, e com atividade mitótica variável, citoplasma abundante e eosinofílico e núcleos que variam de regulares e uniformes a pleomórficos, com nucléolos proeminentes. Microcalcificações podem ou não estar presentes (PASSOS et al., 2023). A grande maioria corresponde ao tipo carcinoma ductal invasivo, que é usado aqui como exemplo. O tumor é pouco diferenciado. As células formam cordões sólidos que infiltram difusamente o tecido mamário. É característico que haja extensa reação desmoplásica do tecido infiltrado, ou seja, proliferação fibroblástica e produção de colágeno, o que dá ao tumor consistência dura na macroscopia. Na periferia, o tumor é mal delimitado e sem cápsula, infiltrando o tecido adiposo e o tecido mamário pré-existente. A avaliação histológica de três características (formação tubular, atipias nucleares e atividade mitótica) serve para graduar o CDI em bem diferenciado (grau 1), diferenciação intermediária (grau 2) e pouco diferenciado (grau 3) e tem um importante significado prognóstico (PASSOS et al., 2023). O prognóstico desses carcinomas depende de muitos fatores, sobretudo grau histológico, tamanho tumoral, status dos linfonodos regionais, invasão angiolinfática, além de outros fatores biológicos, como a expressão de RE e RP e do receptor tipo 2 do fator de crescimento epidérmico humano (HER-2, human epidermal growth factor receptor 2) (PASSOS et al., 2023). CARCINOMA LOBULAR INVASOR ↠ O carcinoma lobular invasor (CLI) constitui o segundo tipo mais comum de carcinoma infiltrante da mama, correspondendo a 5 a 15% dos carcinomas mamários, sendo mais frequente em mulheres na pós-menopausa, principalmente após os 60 anos. Estudos recentes sugerem uma forte associação entre a terapia de reposição hormonal pós- menopausa e o aumento da incidência de CLI (PASSOS et al., 2023). Esses carcinomas apresentam maior frequência de multifocalidade e multicentricidade (30% dos casos), assim como maior tendência à bilateralidade (6-8% dos casos) (PASSOS et al., 2023). Carcinoma ductal invasivo em mulher de 52 anos. (A) A mamografia mediolateral direita mostra densidade assimétrica no quadrante superior. (B) DMCE, imagem mediolateral mostra uma massa com realce espiculado (seta e pontas de seta). 19 Júlia Morbeck – @med.morbeck ↠ Os CLIs apresentam um padrão de infiltração tecidual insidioso, provocando pouca reação tecidual desmoplásica adjacente,fato que pode impedir a formação de massa palpável, tornando o diagnóstico clínico difícil e acarretando dificuldades de visualização da lesão nos exames de imagem. A forma mais comum de apresentação é uma densidade assimétrica à palpação, sem nódulo bem definido, e presença de assimetria e distorção arquitetural mamária no exame mamográfico. A extensão do tumor pode ser subestimada tanto pelo exame físico como pelo mamográfico (PASSOS et al., 2023). Apesar de ser considerado uma entidade única, existem subclassificações histológicas que apresentam padrões de agressividade diversos, desde o clássico (menos agressivo), sólido, alveolar, em “anel de sinete” até o pleomórfico (mais indiferenciado e agressivo) (PASSOS et al., 2023). Histologia ↠ O subtipo clássico (60% dos casos) se caracteriza pela presença de células tumorais pequenas e homogêneas semelhantes ao carcinoma lobular in situ (CLIS), que crescem em “fila indiana” com um padrão concêntrico, circundando os ductos mamários residuais, com formação de crescimento “em alvo”. Algumas vezes, observam-se vacúolos de secreção no citoplasma das células neoplásicas, deslocando o núcleo para a periferia da célula, conferindo a ela um aspecto de “célula em anel de sinete” – o que classifica um subtipo de carcinoma lobular invasor, chamado de carcinoma com células em anel de sinete (a lesão apresenta mucina intracelular). Em muitos casos, é possível identificar um componente de CLIS associado (PASSOS et al., 2023). O CLI clássico costuma expressar RE e RP em mais de 93% dos casos, sendo rara a expressão de HER-2, geralmente apresentando grau nuclear mais baixo e baixa fração de proliferação celular (Ki-67 < 20%) (PASSOS et al., 2023). ↠ O padrão de disseminação metastático difere do CDI, sendo mais raras as metástases pulmonares, cerebrais e hepáticas. Em contrapartida, são mais frequentes as metástases para leptomeninges, peritônio, trato gastrintestinal, órgãos pélvicos (p. ex., ovários) e ossos. Tal característica se reflete na elevada diferença de incidência de metástase para órgãos sexuais entre CLI (16%) e CDI (1%) (PASSOS et al., 2023). Em geral, o prognóstico do CLI é semelhante ao do CDI-SOE, sendo o tamanho tumoral, o estadiamento dos linfonodos axilares e os marcadores tumorais os mais importantes fatores prognósticos. No entanto, em relação ao aspecto histológico, o CLI clássico costuma apresentar melhor prognóstico que o CDI-SOE, e variantes como o pleomórfico e o alveolar podem apresentar um prognóstico levemente pior (PASSOS et al., 2023). CARCINOMA TUBULAR Para ser classificado como tipo especial, o carcinoma invasor de mama precisa ser composto quase completamente (90% de um tumor) pelas características histológicas do tipo em questão (PASSOS et al., 2023). ↠ É um tipo especial de carcinoma que costuma ser bem diferenciado e associado a um bom prognóstico. A lesão deve ser constituída por, no mínimo, 75% de elementos característicos; caso contrário, é considerado um carcinoma tubular misto. Esse carcinoma compreende menos de 1 a 4% dos carcinomas de mama, e a média de idade das pacientes é de 60 anos (PASSOS et al., 2023). ↠ Os tumores costumam ser pequenos, com diâmetro médio de 1 cm, em geral, sem comprometimento de linfonodos axilares. A consistência do tumor é firme- endurecida, com coloração branco-acinzentada e aspecto estrelado ao corte. Na mamografia, a lesão tem aspecto espiculado (PASSOS et al., 2023). Histologia ↠ A lesão é composta de proliferação de túbulos glandulares, de forma irregular, revestidos por uma única camada de células bem diferenciadas, homogêneas, apresentando, muitas vezes, secreção apócrina. O estroma adjacente aos túbulos costuma ser abundante, fibrótico e com elastase. As calcificações estão presentes em 50% dos casos, geralmente no componente intraductal (presente em 60-80% dos tumores) (PASSOS et al., 2023). 20 Júlia Morbeck – @med.morbeck CARCINOMA MEDULAR ↠ Compreende menos de 5 a 7% dos carcinomas mamários invasivos, e as pacientes costumam ser mais jovens (< 35 anos) no momento do diagnóstico. Muitos estudos encontraram associação entre a ocorrência de mutações genéticas em BRCA1 e o carcinoma medular (PASSOS et al., 2023). ↠ Esse tipo de tumor costuma ser bem delimitado, circunscrito, com consistência firme, em geral com 2 a 3 cm de diâmetro, sendo, muitas vezes, confundido com fibroadenoma ao exame físico. Tumores maiores podem sofrer degeneração cística. Na mamografia, também pode apresentar-se como um tumor bem circunscrito, sendo possível confundi-lo com tumor benigno (PASSOS et al., 2023). Histologia ↠ É composto de células pouco diferenciadas, com alto índice mitótico, estroma escasso, com intenso infiltrado linfoplasmocitário e um padrão sincicial de proliferação (sem a presença de estruturas glandulares) (PASSOS et al., 2023). ↠ O carcinoma medular, apesar de suas características histológicas de neoplasia pouco diferenciada e da ausência de receptores hormonais (RH), é uma neoplasia com prognóstico relativamente favorável, quando comparado com o CDI-SOE. No entanto, também costuma ser negativo para HER-2, fazendo parte do grupo dos tumores triplo-negativos, relacionados com prognóstico mais reservado (PASSOS et al., 2023). CARCINOMA MUCINOSO ↠ O carcinoma mucinoso, também chamado de carcinoma coloide, corresponde a 1 a 2% dos carcinomas de mama em geral. Representa 7% dos carcinomas de mama em mulheres com mais de 75 anos (PASSOS et al., 2023). ↠ Esse tumor costuma ser circunscrito e de aparência bocelada e mucinosa (gelatinosa) ao corte e caracteriza- se pela presença de abundante secreção mucinosa no tumor (quase totalmente extracelular). A quantidade relativa de mucina e estroma determina a consistência da lesão: macia, gelatinosa ou firme. A maioria dos carcinomas são RH positivos e não expressam a oncoproteína HER-2 (PASSOS et al., 2023). ↠ É um carcinoma de bom prognóstico (80-90% de sobrevida em 10 anos), sendo muito importante excluir as formas não puras, pois 60% dos carcinomas de mama produzem algum grau de mucina, não devendo ser classificados como mucinosos (PASSOS et al., 2023). CARCINOMA PAPILÍFERO ↠ Corresponde a 1 a 2% dos carcinomas de mama, sendo mais frequente em mulheres na pós-menopausa e idosas (idade média de 63-67 anos) e com prognóstico favorável. Em geral, é circunscrito ou lobulado, às vezes com componente cístico. Costuma ser mais frequente na região central da mama, e 22 a 34% das pacientes apresentam derrame papilar no momento do diagnóstico. Apresenta uma arquitetura papilar do componente invasor e intraductal, e este último está presente em mais de 75% dos casos (PASSOS et al., 2023). CARCINOMA METAPLÁSICO ↠ Representa um grupo morfologicamente heterogêneo de neoplasias, formado por uma combinação variável de adenocarcinoma ductal pouco diferenciado, células epiteliais glandulares com transformação em células epiteliais não glandulares (células escamosas) e células mesenquimais (sarcomatosas), correspondendo a 1% dos carcinomas de mama (PASSOS et al., 2023). ↠ A idade média ao diagnóstico é de 47 anos, e mais de 50% das pacientes desenvolvem doença metastática em 5 anos do diagnóstico. Os achados clínicos são semelhantes aos do CDI-SOE e, na mamografia, costuma apresentar-se como uma massa densa bem delimitada. Embora os tumores possam ter grandes dimensões e crescimento rápido, as metástases para linfonodos axilares são relativamente incomuns (10-15% dos carcinomas com componente escamoso). A maioria desses carcinomas são RH negativos, sendo tratados de forma semelhante ao CDI-SOE, apesar de ser comum apresentarem pior resposta aos tratamentos quimioterápicos e radioterápicos (PASSOS et al., 2023). Estadiamento ↠ Conforme aAmerican Joint Committee on Cancer (AJCC), 8ª edição, o estadiamento TNM do carcinoma de mama (invasor e in situ) visa a estabelecer critérios para 21 Júlia Morbeck – @med.morbeck agrupar os carcinomas de acordo com seu impacto no prognóstico da paciente (PASSOS et al., 2023). ↠ O estadiamento do carcinoma de mama baseia-se no diâmetro máximo do tumor (T), na presença ou não de metástases para linfonodos regionais axilares, infraclaviculares, supraclaviculares, mamários internos homolaterais (N) e na presença ou não de metástase a distância (M) (PASSOS et al., 2023). O estadiamento do tumor primário inclui estádios anatômicos e estádios prognósticos clínico e patológico, incorporando os marcadores biológicos tumorais. Os fatores RE, RP, HER-2, grau histológico e assinaturas gênicas, incluídos na nova edição do estadiamento TNM do câncer de mama, são amplamente usados na prática para definir prognóstico e determinar melhor as condutas terapêuticas. Ao associar os marcadores biológicos, um tumor a princípio classificado em um estádio anatômico poderá ter seu prognóstico modificado para um estádio menos ou mais avançado (PASSOS et al., 2023). Rastreamento Os exames de imagem são essenciais no rastreamento, na investigação de pacientes com queixas mamárias ou com alterações no exame físico das mamas e no seguimento de pacientes com doenças mamárias, bem como no estadiamento dos casos de câncer de mama (PASSOS et al., 2023). Os principais exames complementares de rotina para a avaliação das mamas são a mamografia e a ultrassonografia (US), esta última dividida entre avaliação de mamas e avaliação de axilas, conforme recomendação do Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR) (PASSOS et al., 2023). A RM mamária é uma importante aliada nos casos de complementação de dúvidas nos exames essenciais de rastreio, bem como amplamente utilizada na avaliação de implantes de silicone e no rastreamento de pacientes com alto risco de câncer de mama (PASSOS et al., 2023). AUTOEXAME DAS MAMAS ↠ Apesar de o autoexame das mamas não ter qualquer impacto sobre a mortalidade, ele permite que a paciente observe modificações que possam ter ocorrido. Ele tem especial importância nas pacientes não abrangidas nos programas de rastreamento, principalmente aquelas com idade inferior a 50 anos. As suas vantagens são a simplicidade, o custo inexistente e a possibilidade de repetição a qualquer momento. As desvantagens são a baixa sensibilidade e a falsa segurança que a paciente sente ao não notar alterações, evitando, assim, a realização de mamografia. Tal fato é tão importante que a Sociedade Americana de Oncologia não mais recomenda que o autoexame seja realizado (PASSOS et al., 2023). ↠ A técnica do autoexame é simples e segue os mesmos passos que o exame físico: inspeção e palpação. A inspeção é realizada em frente ao espelho. Com relação à palpação, recomenda-se que seja realizada durante o banho, mensalmente, nos 10 dias que se seguem à menstruação. As pacientes na menopausa podem estabelecer um dia do mês para a sua realização periódica (PASSOS et al., 2023). MAMOGRAFIA ↠ A mamografia é o exame de imagem mais utilizado, amplamente testado, questionado e aprovado internacionalmente como principal método de detecção do câncer de mama, sendo essencial para a avaliação mamária por imagem (PASSOS et al., 2023). A mamografia utiliza o raio X como fonte de obtenção da imagem, criado principalmente por meio de filamentos de molibdênio e não tungstênio, como é habitual nas radiografias simples (PASSOS et al., 2023). O Instituto Nacional de Câncer (Inca) recomenda mamografias bianuais dos 50 aos 69 anos. No entanto, as principais sociedades nacionais e internacionais, como a Sociedade Brasileira de Mastologia, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), o CBR, o American College of Radiology (ACR), a Society of Breast Imaging (SBI) e a European Society of Breast Imaging (Eusobi), recomendam rastreamento mamográfico bilateral anual a partir dos 40 anos, sempre que possível, para mulheres com risco habitual populacional geral de câncer de mama (PASSOS et al., 2023). ↠ A mamografia de rastreamento inclui duas incidências: mediolateral oblíqua (MLO) e craniocaudal (CC), sendo o 22 Júlia Morbeck – @med.morbeck estudo comparativo com os dois lados e com os exames anteriores (PASSOS et al., 2023). A capacidade de detectar lesões depende da densidade mamária, da morfologia da lesão, do treinamento do médico imaginologista e de fatores técnicos, como posicionamento adequado, dose apropriada de radiação, compressão, tempo de exposição correta e processamento correto do filme. Atualmente, a mamografia digital já substituiu a mamografia convencional na maior parte do país, tendo maior sensibilidade em mamas densas (PASSOS et al., 2023). ↠ De forma geral, as alterações mamográficas podem ser descritas como: (PASSOS et al., 2023). • Nódulos: Lesões observadas em duas projeções mamográficas classificadas quanto à forma (oval, redonda, irregular), às margens (circunscrita, obscurecida, microlobulada) e à densidade (alta densidade, isodensa, contendo tecido adiposo). Os nódulos de limites bem precisos, arredondados ou ovalados geralmente são benignos, ao passo que os irregulares e espiculados sugerem malignidade. • Assimetrias: Global, focal, em desenvolvimento. • Calcificações: Em geral benignas (pele, vascular, “em pipoca”, grande em bastão, redonda, anelar, distrófica, leite de cálcio, sutura), suspeitas (amorfa, grosseira heterogênea, pleomórfica fina, linear final ou fina linear ramificada), de distribuição (difusa, regional, agrupada, linear, segmentar). As microcalcificações agrupadas, pequenas, irregulares e lineares ou segmentares sugerem malignidade. Aproximadamente 60 a 90% dos carcinomas in situ da mama manifestam-se por microcalcificações. • Distorção da arquitetura: Vista como espículas irradiadas de um ponto, pode ser decorrente de cicatriz pós-cirúrgica, cicatriz radial ou carcinoma de mama. A partir de 1998, foi criado um léxico para padronizar os laudos de imagem de mama conhecido como BI-RADS (breast imaging reporting and data system), proposto pelo ACR, consistindo em vários termos a serem utilizados nos laudos, quatro classificações de densidade mamária e categorias que variam do 0 a 6, facilitando o entendimento do resultado do exame de imagem e as recomendações sugeridas pelo médico imaginologista durante a análise do exame. O objetivo maior do BI-RADS é melhorar a qualidade da comunicação, bem como padronizar os laudos de imagem da mama (PASSOS et al., 2023). ULTRASSONOGRAFIA MAMÁRIA E ULTRASSONOGRAFIA AXILAR ↠ A US é baseada na formação e na captação de ondas sonoras. O aparelho de ultrassom traduz essas ondas sonoras em imagens. A US mamária é um valioso complemento da mamografia, sendo o primeiro exame realizado em mulheres jovens ou grávidas. Comparada com a mamografia e a RM, a US é um exame rápido, seguro, bem tolerado e relativamente barato. Uma de suas limitações é não conseguir detectar microcalcificações agrupadas fora do tumor e em mamas adiposas, diminuindo a acuidade diagnóstica da US (PASSOS et al., 2023). O seu principal papel está na diferenciação de lesões císticas e sólidas, além de ser um método auxiliar à caracterização de nódulos benignos e malignos, com alta sensibilidade na diferenciação de lesões malignas, embora apresente alta taxa de falso-positivo (PASSOS et al., 2023). ↠ De modo geral, pode-se dizer que nódulos sólidos hipoecogênicos homogêneos, circunscritos, ovais, de contornos regulares e maior eixo paralelo à pele têm Mamografia demonstrando as duas incidências principais: mediolateral oblíqua (inferior e superior) e craniocaudal (medial e lateral).
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