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x 1 PSICOMOTRICIDADE Professora Mestre Fabiana Albino 1ª e di çã o x 2 DIREÇÃO SUPERIOR Chanceler Joaquim de Oliveira Reitora Marlene Salgado de Oliveira Presidente da Mantenedora Wellington Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA Gerência Nacional do EAD Bruno Mello Ferreira Gestor Acadêmico Diogo Pereira da Silva FICHA TÉCNICA Texto: Revisão Ortográfica: Rafael Dias de Carvalho Moraes Projeto Gráfico e Editoração: Antonia Machado, Eduardo Bordoni, Fabrício Ramos e Victor Narciso Supervisão de Materiais Instrucionais: Antonia Machado Ilustração: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos COORDENAÇÃO GERAL: Departamento de Ensino a Distância Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universo – Campus Niterói Bibliotecária: ELIZABETH FRANCO MARTINS – CRB 7/4990 Informamos que é de única e exclusiva responsabilidade do autor a originalidade desta obra, não se responsabilizando a ASOEC pelo conteúdo do texto formulado. © Departamento de Ensino a Distância - Universidade Salgado de Oliveira Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedora da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). http://www.universo.edu.br/ x 3 Palavra da Reitora Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSOEAD, que reúne os diferentes segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero bem-sucedidas mundialmente. São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se responsável pela própria aprendizagem. O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo o momento, ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de nossa plataforma. Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos. A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem- sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização, graduação ou pós-graduação. Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona. Seja bem-vindo à UNIVERSOEAD! Professora Marlene Salgado de Oliveira Reitora. x 4 x 5 Sumário Apresentação da disciplina ..................................................................................10 Plano da disciplina................................................................................................10 Unidade 1 - Introdução ao estudo da Psicomotricidade como Área Científica....14 Unidade 2 – O Desenvolvimento Psicomotor: da Ontogênese à Retrogênese.....39 Unidade 3 – A Organização e Desenvolvimento dos Fatores Psicomotores.........67 Unidade 4 – A Psicomotricidade Aplicada.........................................................100 Unidade 5 – Os Transtornos e Déficits Psicomotores.........................................131 Considerações finais...........................................................................................172 Conhecendo o autor...........................................................................................173 Referências........................................................................................................167 Anexos ................................................................................................................. x 6 x 7 Apresentação da Disciplina Olá, Caro Aluno, É com imenso prazer que apresento o conteúdo deste livro-texto sobre Psicomotricidade e suas aplicações práticas. A Psicomotricidade como área de estudo uma ciência e seu objeto de estudo é o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. A relação da Psicomotricidade se dá com o processo de maturação e o corpo é a origem das aquisições nos aspectos cognitivos, afetivos e orgânicos. A Psicomotricidade é sustentada por três subáreas de conhecimentos: o movimento, o intelecto e o afeto. O termo Psicomotricidade é empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, onde a ação é o resultado da sua individualidade, sua linguagem e seu processo de socialização. A Psicomotricidade pode ser uma estratégica ferramenta pedagógica aplicável à Educação Física. O objetivo deste livro-texto, composto por cinco unidades, é fornecer embasamento teórico-prático inerentes à Psicomotricidade de maneira didática a fim de contribuir para a sua formação, futuro profissional de educação física, ofertando fundamentos pedagógicos no processo ensino-aprendizagem. O conhecimento e a leitura são bases para o sucesso e espero que este livro- texto o ajude não somente na construção do saber, mas também na formação das próprias reflexões e senso crítico. Bons estudo e excelente leitura! Prof.ª Mestre Fabiana Albino x 8 Importante! Digitar aqui um breve texto (mínimo de 20 e máximo de 30 linhas), contendo o que será apresentado ao aluno ao longo da disciplina e tomando por base o Plano da Disciplina Neste livro-texto o objetivo é compreender e demonstrar os fundamentos pedagógicos práticos da Psicomotricidade. Desta forma abordaremos ao longo das unidades os seguintes temas Unidade 1: Introdução ao Estudo da Psicomotricidade como área de Estudo A unidade 1 apresenta análise da Psicomotricidade como área de estudo e sua organização; uma visão da Psicomotricidade como profissão e sua relação com a Educação Física. Unidade 2: O Desenvolvimento Psicomotor: da Ontogênese à Retrogênese Nessa unidade apresentamos a ontogênese do desenvolvimento, as fases do desenvolvimento nos seus principais aspectos e o refinamento da motricidade, passando pela educação até a reeducação psicomotora. Unidade 3: A Organização e Desenvolvimento dos Fatores Psicomotores Será apresentada análise e organização dos fatores psicomotores, por blocos funcionais, baseada na obra de Luria. Unidade 4: A Psicomotricidade Aplicada x 9 Essa unidade tem o objetivo de apresentar análise da aplicação da Psicomotricidade Institucional, Psicomotricidade Clínica, os Planejamentos e Programas Psicomotores. Unidade 5: Os Transtornos e os Déficits Psicomotores Apresenta-se nessa unidade análise dos Distúrbios e Déficits Psicomotores,tipos, características e a relação com o Controle Motor. Disciplina x 10 Caro Aluno, Esse livro-texto abordou os conteúdos que fundamentam as bases teóricas e práticas da Psicomotricidade como área de atuação e estratégia pedagógica possível de ser interdisciplinar em relação a Educação Física, pois o objetivo principal de todo esse trabalho é contribuir para a sua formação, futuro profissional de Educação Física, seja do bacharelado ou licenciatura, dando-lhe embasamento teórico-prático para auxiliar na sua atuação. Inicialmente foi descrito os conceitos, histórico básico e organização da Psicomotricidade como área de estudo, e posteriormente a Psicomotricidade aplicada até os déficits e transtornos psicomotores. Existem diversas propostas metodológicas e que constantemente estão sendo aprimoradas. Por isso a importância da atualização do referencial teórico, pois somente através do estudo, leitura, reflexão e questionamentos é que se pode desenvolver o senso crítico. Boa sorte nessa jornada e até a próxima! CONSIDERAÇÕES FINAIS x 11 Fabiana Albino . Mestre em Ciência da Motricidade Humana (UCB) . Especialista em Neurociência Aplicada à Educação (UCB) . Licenciada e Bacharel em Educação Física (UCB) . Pedagoga (FMB) . Apresentação de trabalhos em congressos nacionais e internacionais . Coordenadora Pedagógica do Instituto Brasileiro de Educação e Cultura IBEC Lattes: http://lattes.cnpq.br/3539232810969170 CONHECENDO O AUTOR x 12 Introdução ao Estudo da Psicomotricidade como Área Científica 1 x 13 Nesta unidade, faremos uma análise da Psicomotricidade como área de estudo, sua organização, breve histórico, linhas de pesquisa que permitiram sua aplicabilidade, visão da Psicomotricidade como profissão e sua relação com a Educação Física. A partir dessa primeira unidade poderemos entender o conceito e o objeto de estudo da disciplina Psicomotricidade. Objetivos da Unidade: - Analisar os conceitos da Psicomotricidade para facilitar seu entendimento como área de atuação. - Compreender a formação histórica e prática da Psicomotricidade na sua atuação profissional - Analisar as teorias de base, seus teóricos e métodos, para embasar a prática da Psicomotricidade. - Compreender a relação interdisciplinar entre a Psicomotricidade e a Educação Física nos programas aplicados Plano da Unidade: - Introdução ao estudo da Psicomotricidade como Área Científica – 1.1 - Conceito; 1.2 – Histórico e Habilitação Profissional 1.3 – Teóricos, Métodos Relacionados e Teorias de base 1.4 – A relação da Psicomotricidade com a Educação Física e a atuação do profissional Bons estudos! x 14 CONCEITO A Psicomotricidade é considerada uma ciência e seu objeto de estudo é o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. A relação da Psicomotricidade se dá com o processo de maturação e o corpo é a origem das aquisições nos aspectos cognitivos, afetivos e orgânicos. A Psicomotricidade é sustentada por três subáreas de conhecimentos: o movimento, o intelecto e o afeto. O termo Psicomotricidade é empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito, onde a ação é o resultado da sua individualidade, sua linguagem e seu processo de socialização (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE, 2017). O conceito da Psicomotricidade com base no contexto psicossocial tem base na concepção unificada do indivíduo em sua interação cognitiva, sensório motora e psíquica, na compreensão das capacidades de ser e de expressar-se, partindo da referência do movimento. Ela se integra a partir dos conhecimentos psicológicos, fisiológicos, antropológicos e relacionais que utilizam o corpo como mediador. Em relação as linhas de atuação, a Psicomotricidade atua nas áreas: educativa, reeducativa, terapêutica, relacional e aquática (COSTA,2002). A Psicomotricidade utiliza as aquisições de numerosas ciências constituídas, são elas, biologia, psicologia, psicanálise, sociologia, linguística. O que leva a ser definida como uma área transdisciplinar que estuda e investiga as relações e as influências recíprocas e sistémicas entre o psiquismo e a motricidade. Essa área de estudo aponta uma visão holística do ser humano, integrando as funções cognitivas, sócio emocionais, x 15 simbólicas, psicolinguísticas e motoras, na intenção de promover a capacidade de ser e agir no contexto psicossocial. O principal conceito da Psicomotricidade perpassa a consciência corporal, da reflexão e da criatividade, além do pleno desenvolvimento afetivo, cognitivo e motor constituem alguns dos objetivos da psicomotricidade que, se alcançados, possibilitarão adultos sadios e felizes. Portanto, o trabalho psicomotor irá ajudar na estruturação da personalidade da criança, já que ela pode expressar melhor seus desejos, elaborar suas fantasias, desenvolver suas necessidades e trabalhar suas dificuldades. Esses novos conceitos definiriam a realidade de fenômeno da “consciência de si”, que se manifestaria como consciência de seu corpo e que permitiria a auto apreensão. Le Camus em 1986, descreveu as conclusões de Ajuriaguerra, afirmando os grandes eixos de psicomotricidade dos tempos modernos: coordenação estático-dinâmica e óculo-manual; organização espacial e temporal da gestualidade instrumental; estrutura do esquema corporal, afirmação da lateralidade e domínio tônico. Afirma também, que Ajuriaguerra procurou caracterizar distúrbios psicomotores de síndromes psicomotoras que não correspondem a uma lesão focal, com as que provocam as síndromes neurológicas clássicas, mas, sem, certas formas de debilidades psicomotoras, inibições psicomotoras, certas faltas de destreza de origem emocional ou devido à desordem da caraterização, dispraxias, distúrbios da fala e outras formas de desorganização. Assim, uma nova definição surge, colocando a Psicomotricidade como: “uma motricidade em relação”, o que no pensamento de Levin (1995) é onde se opera uma passagem no enfoque do olhar do psicomotricista, não mais voltado ao plano motor, mas direcionado a um corpo em movimento. A abordagem em tela com um enfoque “global” do corpo do indivíduo, estaria determinada por três dimensões: uma dimensão instrumental x 16 instrumental, uma dimensão cognitiva e a dimensão tônico emocional. Esse novo enfoque dado à relação, à afetividade e ao momento, possibilita uma reformulação na prática psicomotora: abandonam-se as técnicas reeducativas, abrindo-se espaço para a terapia psicomotora. Em 1995, o percurso da psicomotricidade é marcado profundamente pela teoria da psicanálise, sendo que Levin demarca uma fase fundamental na concepção teórico prática do campo psicomotor, situada num sujeito desejante com seu corpo. O psicomotricista leva em consideração não mais a relação empática, mas a relação transferencial, dando ênfase não mais à manifestação expressiva, mas simbólica, delineando-se, assim, o campo da clínica psicomotora (LEVIN, 2003) x 17 HISTÓRICO E HABILIATAÇÃO PROFISSIONAL DA PSICOMOTRICIDADE x 18 A Psicomotricidade como nome conceitual aparece, pela primeira vez, em 1870. O termo surgiu pela necessidade médica de encontrar uma área que explique os fenômenos clínicos que surgem com o desenvolvimento e as descobertas da neurofisiologia. Esses estudos da época constataram que pode haver diferentes disfunçõescerebrais, sem necessariamente, que o cérebro esteja lesionado ou sem que a lesão esteja x 19 localizada claramente. Essas descobertas foram chamadas distúrbios da atividade gestual, da atividade práxica, sem que anatomicamente estejam circunscritos a uma área ou parte do sistema nervoso. Alguns estudiosos dessa época perceberam que não tinha explicação até ali para as características patológicas. A origem, as pesquisas, ao campo psicomotor correspondem a um enfoque totalmente neurológico (LEVIN, 2003). Dupré em 1907, neurologista francês, a partir de estudos clínicos, definiu a síndrome da debilidade motora, composta de sincinesias (movimentos involuntários que acompanham uma ação), paratomias (incapacidade para relaxar voluntariamente uma musculatura) e inabilidades, sem que lhes sejam atribuídos danos ou lesão significativa cerebral. Suas conclusões mostravam conceitos diferentes das correspondências feitas, até então, entre a localização neurológica e perturbações motoras da infância. A partir daí formulou a noção de psicomotricidade através de uma linha filosófica neurológica, evidenciando o paralelismo psicomotor, ou seja, a asso associação entre o desenvolvimento da psicomotricidade, inteligência e afetividade (LEVIN, 2003). Wallon (1962), realizou um importante trabalho sobre os aspectos psicofisiológicos do desenvolvimento afetivo, a consciência corporal, a relação intrínseca do tônus e a emoção, chamando de diálogo tônico, assinalando que a atividade de relação e a atividade postural têm uma raiz comum. Seus estudos possibilitam construir, pela síntese de muitas correntes e teorias, uma técnica terapêutica nova, cujo objetivo era a reeducação das funções motoras. Segundo Fonseca (1988), Wallon forneceu observações definitivas acerca de desenvolvimento neurológico do recém-nascido e da evolução psicomotora da criança, resumindo o movimento é a única expressão e o primeiro instrumento do psiquismo, o movimento (ação), pensamento e x 20 linguagem são unidades inseparáveis. O movimento é o pensamento em ato, e o pensamento é o movimento sem ato. Os estudos que comparam essas ideias permitiu relacionar o movimento ao afeto, a emoção ao meio ambiente e aos hábitos da criança. O conhecimento, a consciência e o desenvolvimento geral da personalidade não podem ser isolados das emoções. A partir de estudos das obras de Wallon (1962) e Eduard Guilman (1983), inicia a prática psicomotora, que estabelece, por meio de diferentes técnicas provenientes da neuropsiquiatria infantil, a reeducação psicomotora, que são exercícios para reeducar a atividade tônica, a atividade de relação e controle motor. A aproximação prática entre a conduta psicomotora e o caráter da criança foi utilizado posteriormente, como modelo para diferentes reeducadores pedagógicos e psicomotores, como o trabalho dirigido a crianças que apresentavam déficit em seu funcionamento motor e não controlavam bem o próprio corpo, o que ocasionava uma série de problemas em seu meio social (LEVIN, 2003). Vários estudos após essa organização conceitual propiciaram uma melhor compreensão no desenvolvimento de criança, como Kofka, Kohler e os psicólogos da Gestalt, Schultz, Jacobson, Clapariede, Montessori, Piaget e Ajuriaguerra (OLIVEIRA, 2007). Outra influência que essas redefinições também sofreram foi a influência de conceitos psicanalíticos relativos ao campo de afetividade, destacando-se psicanalistas como S. Freud, M. Klein, J. Lacan, W. Reich, P. Schilder, F. Dolto, Samí Alí, D. Winnicott, Manoni, entre outros. Outros autores importantes nessas mudanças foram Ajuriaguerra e Datkine (1947 apud FONSECA,1988), que provocaram uma mudança na história da psicomotricidade e redefiniram o conceito de debilidade motora considerando-a como uma síndrome de propriedades particulares. x 21 Ajuriaguerra (1947), em seu Manual de Psiquiatria Infantil, delimita com clareza os transtornos psicomotores que oscilam entre o neurológico e o psiquiátrico. É nesta oscilação que situa os transtornos propriamente psicomotores. Ainda nesta época outros autores, tais como J. Berges, R. Na década de 70, devido à influência dos trabalhos de Wallon, surgem os trabalhos na educação psicomotora, por Le Boulch, que desde 1966, em seu livro “A Educação pelo Movimento”, tinha como objetivo inicial sensibilizar os professores das séries iniciais, quanto ao problema da educação psicomotora na escola, pois era um contexto desfavorável à pedagogia da época, centrada na aquisição das habilidades escolares de base. Somaram-se a estes os trabalhos de L. Pick, P. Vayer, André Lapierre, Bernard Auconturier, Defontaine, J. C. Coste e outros que percebiam nesse momento a educação psicomotora como uma forma de ajudar a criança inadaptada a desenvolver suas potencialidades e ter acesso ao mundo escolar. Esses autores agregaram conhecimentos e soluções inspiradas na psicologia genética, que evidencia o desenvolvimento da criança e o conhecimento de si mesma e do mundo que a cerca através de sua ação. A partir destas contribuições, a psicomotricidade diferencia-se de outras disciplinas adquirindo sua própria especificidade e autonomia. De acordo com Levin (2003), as contribuições da psicanálise passam a integrar os interesses teóricos e metodológicos da psicomotricidade e em 1977, Samí Ali, lança uma proposta para articulações entre as teorias psicanalíticas e a psicomotricidade. Sendo assim a psicomotricidade incorpora em suas construções teóricas vários conceitos psicanalíticos, tais como inconsciente, transferência, imagem corporal, sublimação e outros, formando um esboço de uma teoria psicanalítica de psicomotricidade. No Brasil, a história da psicomotricidade vem acontecendo de maneira semelhante à história mundial. Os primeiros documentos registram seu nascimento na década de 50, quando Gruspun, psiquiatra da infância, e x 22 Lefévre, neurologista, enfatizaram o movimento para os processos terapêuticos da criança especial, caracterizando distúrbios psiconeurológicos. Gruspun (1956), mencionava atividades psicomotoras indicadas no tratamento de distúrbios de aprendizagem. Pelos registros pode-se considerar que a partir de 1968, foi realmente difundida a psicomotricidade no Brasil, através de cursos e cadeiras de psicomotricidade em universidades de diversos estados brasileiros. Inicialmente a psicomotricidade foi introduzida nas escolas especializadas como um recurso pedagógico que visava corrigir distúrbios e preencher lacunas de desenvolvimento das crianças com deficiência. A Educação Especial foi o elo de surgimento e ligação da psicomotricidade na Europa e no Brasil. Em abril de 1980 é fundada a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade, se integrando a Sociedade Internacional de Psicomotricidade, que era sediada em Paris/França. Entidade de caráter científico cultural sem fins lucrativos, promovendo congressos, encontros científicos, cursos, entre outros. A evolução da Psicomotricidade Brasileira tem influência direta da França. Iniciou com a reeducação psicomotora, a educação, terapia e clínica psicomotora (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE, 2017). Na direção dos estudos do autoconhecimento André Lapierre (1988) e Francoise Desobeau (1976), tiveram influência no Brasil, com uma abordagem psicomotora relacional, que valorizava o movimento espontâneo e a parte fantasmática do mundo interno de cada indivíduo. Desobeau, dentro de uma abordagem relativamente nova e revolucionária, a partir de atividade espontânea, acompanha o indivíduo em suas explorações, que vão lhe permitir perceber o mundo e colocar-se nele, vivenciando diferentemente os vários níveis de desenvolvimento: sensório motor psicomotor e tônico emocional. x 23 O termo Motricidade de Relação definia,na década de 70, a psicomotricidade por diferentes autores. Começa então, a ser delimitada uma diferença entre uma postura reeducativa e uma terapêutica que, ao despreocupar-se da técnica instrumentalista e ao ocupar-se do corpo de um sujeito vai dando progressivamente, maior importância à relação, à afetividade e ao emocional. Numa visão psicomotricista, a criança constitui sua unidade a partir das interações com o mundo externo e nas ações do outro sobre ela. Para entender o psicomotricista, podemos situar esse profissional como o profissional que compreende a gênese do psiquismo e dos elementos fundadores da construção da imagem e da representação de si. O sintoma psicomotor instala-se, quando ocorre um fracasso na integração somatopsíquica, consequente de fatores diversos, seja na origem do processo de constituição do psiquismo, ou posteriormente em função de disfunções orgânicas e/ou psíquicas. A patologia psicomotora é, portanto, uma patologia do continente psíquico, dos distúrbios da representação de si cuja sintomatologia pode se apresentar no somático e/ou no psíquico. O profissional considerado Psicomotricista age na interface saúde, educação e cultura, avaliando, prevenindo, cuidando e pesquisando o indivíduo na relação com o ambiente e processos de desenvolvimento, tendo por objetivo atuar nas dimensões do esquema e da imagem corporal em conformidade com o movimento, a afetividade e a cognição. O posicionamento da Psicomotricidade como área de atuação encontra-se permeada pela interdisciplinaridade, com linhas de análise diferenciadas que se entrecruzam nas práticas existentes. Essa fundamentação da sua prática tem base nas concepções psicomotoras existentes e tendem a considerar que os determinantes biológicos e culturais da criança contribuem dialeticamente na construção do motor (corpo), da mente (emoção) e da inteligência. x 24 Os primeiros trabalhos realizados em psicomotricidade tinham uma proposta reeducativa e um caráter terapêutico, já que se preocupavam em reabilitar funções psicomotoras que se encontravam prejudicadas. Esta ação tinha como alvo, sujeitos que apresentavam déficits motores e cognitivos. As práticas em psicomotricidade se estabelecem não somente como uma reeducação psicomotora, mas também como educação psicomotora. Considerada Educação de Base, a Educação Psicomotora aplicava- se de forma mais predominante na pré-escola, na atualidade podemos dizer que a Psicomotricidade Institucional está presente na escola até a adolescência. A Educação Psicomotora está intrinsecamente ligada à capacidade de aprender os conteúdos do período pré-escolar e após este até a pré-adolescência. Os fundamentos relacionados aos conteúdos trabalhados na Educação Psicomotora levam a criança a tomar consciência do seu corpo, da lateralidade, da sua situação e da situação de outros objetos no espaço, do domínio temporal, além de adquirir habilidades de coordenação de seus gestos e movimentos. No Brasil, a psicomotricidade foi norteada pela escola francesa. Durante as primeiras décadas do século XX, época da primeira Guerra Mundial, a escola francesa também influenciou mundialmente a psiquiatria infantil, a psicologia e a pedagogia (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE, 2003). A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (2003), define a psicomotricidade e o emprego de seu termo como uma explicação neurocientífica que transforma o pensamento em ato motor harmônico. O indivíduo é visto na sua globalidade, e não num conjunto de suas inclinações. A Psicomotricidade é a sintonia fina que coordena e organiza as ações gerenciadas pelo cérebro e as manifestam em conhecimento e aprendizado. Psicomotricidade é a manifestação corporal do invisível de maneira visível. Também é considerada um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das x 25 experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização. Ajuriaguerra (1960), conclui que a psicomotricidade se conceitua como ciência da Saúde e da Educação, pois ela é diferente das diversas outras escolas, como da psicológica, condutista, evolutista e genética, visa à representação e à expressão motora, através da utilização psíquica e mental do indivíduo. Fonseca (2001), afirma que se deve tentar evitar uma análise desse tipo para não cair no erro de enxergar dois componentes distintos: o psíquico e o motor, pois ambos se completam no complexo do desenvolvimento do indivíduo. A psicomotricidade para esse autor não é exclusiva de um novo método ou de uma “escola” ou de uma “corrente” de pensamento, nem constitui uma técnica, um processo, mas visa fins educativos pelo emprego do movimento humano. A definição da psicomotricidade como ciência apresenta o homem como objeto de estudo, engloba várias outras áreas, como educacional, pedagógicas e saúde. Leva em conta o aspecto comunicativo do ser humano, do corpo e da gestualidade. A Sociedade Brasileira de Psicomotricidade Instituiu como Áreas de Atuação: 1) Educacional, Institucional e Clínica 1.1) Eixos de atendimento Educacional: Ensino básico e ensino superior, incluindo educação especial e outras modalidades. 1.2) Hospitalar: UTI, ambulatórios, enfermarias e brinquedotecas. 1.3) Empresarial: Ergomotricidade 1.4) Psicomotricidade aquática 1.5) Terapia psicomotora: Saúde mental 1.6) Gerontopsicomotricidade x 26 Os programas de Psicomotricidade aplicados, a prática psicomotora se dá de forma Individual ou em grupo, da fase bebê à terceira idade, compreendendo as necessidades de adaptação sensoriais, sociais, comportamentais e de crescimento pessoal. Na data de 03 de janeiro de 2019 foi aprovado a LEI Nº 13.794, DE 3 DE JANEIRO DE 2019, que regulamenta a profissão de Psicomotricista. Regulamenta a atividade profissional de Psicomotricista e autoriza a criação dos Conselhos Federal e Regionais de Psicomotricidade. O documento apresenta a área Psicomotricidade como função motivar e estimular a capacidade sensitiva e perceptiva para ajudar as pessoas a descobrirem e expressar suas capacidades, criar segurança e consciência sobre seu espaço e o espaço dos outros. Atendendo a esses objetivos várias técnicas como brincadeiras e jogos. Poderão exercer as atividades relacionadas a profissão, de acordo com o texto, sem prejuízo ao uso do recurso pelos demais profissionais de saúde de profissões regulamentadas, os profissionais registrados nos conselhos regionais de Psicomotricidade e os portadores de diploma de curso superior na área. Após a promulgação da lei, em até quatro anos, também poderão se habilitar à profissão os portadores de diploma de curso de pós-graduação nas áreas de saúde ou de educação, desde que, em quaisquer dos casos, com especialização em Psicomotricidade. Também está garantido o exercício da profissão àqueles que, até a data do início da vigência da lei, tenham comprovadamente exercido a atividade. Da mesma forma, poderão exercê-la os portadores de diploma x 27 em Psicomotricidade expedido por instituições de ensino superior estrangeira quando revalidado na forma da legislação em vigor. -Competências: Entre as competências do Psicomotricista destacam-se: • atuar nas áreas de educação, reeducação e terapia psicomotora, utilizando recursos para a prevenção e o desenvolvimento; • ministrar disciplinas específicas dos cursos de graduação e pós- graduação na área; • atuar em treinamento institucional e em atividades de ensino e pesquisa; • prestar auditoria, consultoria e assessoria nesse campo; • gerenciar projetos de desenvolvimento de produtos e serviços relacionados à profissão; • elaborar informese pareceres técnico-científicos, estudos, trabalhos e pesquisas mercadológicas ou experimentais relativos à Psicomotricidade; • participar de planejamento, elaboração, programação, implementação, direção, coordenação, análise, organização, avaliação de atividades clínicas e parecer psicomotor em clínicas de reabilitação ou em serviços de assistência escolar. A profissão é regulamentada em diversos países e surgiu em 1900 no âmbito de serviços de neuropsiquiatria infantil, com o nome de reeducação x 28 psicomotora. A psicomotricidade está presente em clínicas de reabilitação, consultórios, hospitais, maternidade, escolas especiais, associações, cooperativas, áreas públicas e demais locais que envolvam o desenvolvimento da motricidade e da psicomotricidade (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE, 2007). TEÓRICOS, MÉTODOS RELACIONADOS E TEORIAS DE BASE Wallon (2007), descreveu o desenvolvimento infantil sob um enfoque psicogenético, que enfatiza a gênese das funções psicológicas, considerando o desenvolvimento dos seus domínios afetivo, cognitivo e motor, procurando mostrar quais são, nos diferentes momentos do desenvolvimento, os vínculos entre cada um e suas implicações com o todo representado pela personalidade. O enfoque da psicogenética é o estudo da pessoa em sua totalidade, considerando suas relações com o meio (contextuada) e em seus diversos domínios (integrados). Contrário ao procedimento de se privilegiar um único aspecto no desenvolvimento da criança, como uma construção x 29 progressiva resultante da interrelação indivíduo meio e que apreende o desenvolvimento através de estágios. Wallon (2007), define o desenvolvimento da pessoa em campos funcionais. O movimento, a afetividade e a inteligência constituem a tríade que o autor toma como referência constante para buscar compreender a construção do Eu, da personalidade e do homem enquanto ser biológico e social. Um dos projetos do autor foi o estudo do homem em sua complexidade, em uma perspectiva multidimensional e integrada. As conclusões deste estudo descreveram a concepção do desenvolvimento não homogêneo e não linear, visão compatível com a dialética que permeia seu pensamento. Os estágios, em sua sucessão, aparentam oposição, ou alternância funcional dos polos afetivos emocionais e cognitivos, ora com a predominância de um, ora de outro campo funcional da atividade infantil. Trata-se de uma espécie de lei que rege o desenvolvimento, da infância à adolescência. A partir de observação de crianças em situação escolar e em situação hospitalar, assim como de adultos feridos na guerra, levaram-no a formular o desenvolvimento em etapas: vida intrauterina, nascimento (impulsiva emocional), tônico emocional, sensitivo motor, fase projetiva, personalística; escolar ou categorial e puberdade e adolescência. Ocorre uma alternância dos campos funcionais no decorrer dos estágios entre a afetividade e a cognição. A primeira especialmente implicada na construção do sujeito predomina nos estágios impulsivo emocional, tônico emocional, personalística e na puberdade e adolescência. Já a cognição especialmente implicada na construção do mundo apresenta-se predominantemente nos estágios sensitivo-motor e escolar ou categorial. Assim, nos estágios impulsivo-motor, tônico emocional, personalístico, puberdade e x 30 adolescência, o recurso predominante na relação com o meio é o afetivo- emocional, e o vínculo estabelecido é com o outro. Nos estágios sensitivo motor e escolar ou categorial o recurso predominante na relação com o meio é a cognição, e o vínculo preferencial é com o mundo (BRÉTAS, 2000). Brétas (2000), descreve a Educação Psicomotora como uma área que deve visar, antes de tudo, às funções comunicativo afetivo sociais (motricidade de relação) dos movimentos de seus sujeitos, ou seja, privilegiar a interação educador educando e educando em nível psicomotor, através de gestos, atitudes e posturas que instauram um verdadeiro diálogo corporal apreendido nas formas sensório motoras e intuitivo emocionais. A primeira função do movimento apontada por Wallon (1941) em sua psicogenética no estágio tônico emocional é a de promotora do vínculo social. O autor vê na agitação e choro do bebê um recurso que mobiliza o adulto emocionalmente a fim de que as necessidades da criança sejam seguramente atendidas. Esse é um mecanismo bem primitivo do neonato, que, dada a imperícia inicial de sua motricidade, apela ao outro para garantir o elo e os cuidados necessários à sua sobrevivência. É no contato mãe bebê que se instala o diálogo tônico corporal. Wallon (1941), aponta que no período sensitivo-motor (1-2 anos) ocorre a orientação predominante da criança, do seu agir voltado para o mundo objetivo, que diz mais respeito ao mundo físico que ao meio social. Wallon reconhece, nesse período, a ocasião em que se integram os diferentes campos sensoriais, de extrema importância na tomada de consciência pela criança da noção do próprio corpo, assim como da percepção do mundo exterior. A Educação Psicomotora é um processo educativo que, por meio do corpo e do movimento do sujeito, tomados como ação psicomotora x 31 deste, dirige-se ao outro, às relações sócio afetivas, priorizando-as por meio da instauração do diálogo tônico corporal, do olhar, gestos e posturas, mímicas e imitações entre outros instrumentos próprios da psicomotricidade. A Educação Psicomotora com base na teoria Walloniana é um processo que acompanha e promove o desenvolvimento da criança em suas vicissitudes, centralizada em sua atividade e distribuída em campos funcionais: a motricidade, a cognição e a afetividade. A aplicação da Educação Psicomotora promove os recursos sociais, afetivos, linguísticos, culturais, físicos, espaciais, materiais e pedagógicos que permitem ao sujeito estabelecer uma interação rica com seu meio, mobilizando elementos para seu desenvolvimento a partir dos recursos que ela própria dispõe em determinado momento e respeitando suas necessidades e tendências, que podem estar orientadas mais para si e/ou mais para o mundo. A Educação Psicomotora atende ao princípio da alternância funcional do desenvolvimento. Luria, foi o autor que, a partir da descrição de um sistema dinâmico e funcional explicou a relação da Psicomotricidade com a Neurociência, conseguiu observar dialeticamente o movimento histórico das neurociências. O próximo movimento esperado seria a síntese. Por um lado, cada área do cérebro era descrita como responsável por uma função mental específica e, por outro, o cérebro em sua totalidade era tido como responsável por todas as funções, Luria (1974), propõe sinteticamente que os dois modelos, de certa forma, estavam certos e errados ao mesmo tempo. Cada área cerebral seria responsável, sim, por uma especificidade mas também estas áreas atuariam conjuntamente, na forma de um sistema dinâmico e integrado, utilizando todo o sistema nervoso. A partir dessas conclusões Luria lança a ideia de Sistema Funcional. x 32 Luria (1974), idealizou o Sistema Funcional aplicando-a ao Sistema Nervoso Central humano. com a revisão de três conceitos: função, localização e sintoma. A função cerebral, para Luria (1974), não pode ser entendida como a função de uma área em particular, assim como a função respiratória não é “propriedade” apenas do pulmão, mas de todo o sistema respiratório. O entendimento é como um sistema funcional completo e complexo, sem reduzir uma atividade cognitiva complexa a uma ou poucos agrupamentos neuronais específicos. Desta forma, a localização perde o sentido se estiver limitada a busca áreas específicas para funções específicas. O objetivo da localização paraLuria era determinar quais as regiões do cérebro estão trabalhando conjuntamente para construir uma atividade mental complexa e qual a contribuição de cada uma destas áreas ao sistema funcional completo. A ideia do sistema funcional é buscar a identificação do fator básico que está por trás do sintoma observado. O que causa o sintoma é mais importante que o sintoma em si. Na divisão hierárquica de Luria (1974), o Sistema Nervoso Central está estruturado numa forma vertical. Das estruturas, as inferiores, serviriam de base para as atividades das estruturas superiores. As estruturas superiores, dependem do funcionamento das estruturas inferiores. Mais acima na hierarquia, mais as estruturas seriam novas na filogênese e na ontogênese, mais seriam elaboradas e seria, mais frágeis. Nessa hierarquia ocorreu a divisão das três grandes unidades funcionais, sendo a primeira descrita como a responsável pela vigília e pelo tônus cortical; a segunda era a encarregada de receber, processar e armazenar as informações que chegavam do mundo externo e interno; e a terceira unidade funcional regula e verifica as estratégias comportamentais e a própria atividade mental. x 33 Le Boulch (1984), é um autor que contribuiu muito para a Psicomotricidade como a conhecemos, sua maior contribuição foi na Psicomotricidade Institucional. A prática da educação psicomotora deve iniciar desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite prevenir inadaptações difíceis de corrigir quando já estruturadas. Uma ação educativa dos movimentos espontâneos da criança e das atitudes corporais, beneficia a formação da imagem do corpo, essência da personalidade. A formação de base na educação psicomotora refere-se a uma formação imprescindível a toda criança. Vítor da Fonseca (1995), é o autor da Psicomotricidade atual. Sua obra específica na área da Psicomotricidade é embasada a partir dos estudos de Luria. Fonseca é responsável cl ínico, ao longo de 30 anos, em vários centros de observação e reeducação psicoeducacionais, dedicados a crianças com atrasos de desenvolvimento e a crianças com as mais diversas dificuldades. Fonseca é o criador da Bateria Psicomotora (1995). A BPM é um conjunto de situações ou tarefas que buscam analisar de forma dinâmica o perfi l psicomotor da criança, procurando em concordância com a organização funcional do cérebro, proposta por A.R. Luria (1973). A bateria não nos fornece informações neurológicas e patológicas muito detalhadas, a bateria faz a análise com base na aproximação entre a Psicomotricidade e a Psiconeurologia, as relações entre o comportamento humano e as funções do sistema nervoso a análise Psiconeurológica. x 34 A RELAÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE COM A EDUCAÇÃO FÍSICA Para Molinari e Sens (2002), a educação psicomotora é a educação do educando por meio de seu próprio corpo e do seu movimento, o indivíduo é considerado em sua totalidade. Contudo, quando o aluno realiza qualquer atividade utiliza o seu todo. Desta forma a Educação física e a psicomotricidade complementam-se. Segundo Rolim (2000 citado por x 35 GAVA e Col 2010), quando a Educação Física surgiu na Educação Infantil, tinha como intuito instrumentalizar o aspecto psicomotor dos alunos por meio de atividades que trabalhasse a área motora, que poderia proporcionar também um êxito maior na alfabetização das crianças e dando suporte às aprendizagens de cunho cognitivo. Molinari e Sens (2002), afirmam que a psicomotricidade na educação infantil em aulas de Educação Física, é abordada como forma preventiva, evitando diversos problemas na fase de alfabetização, como também a falta de concentração. Uma criança que tem seu esquema corporal mal formado não consegue empregar com êxito seus movimentos, como por exemplo, o ato de realizar a leitura sem ritmo, suas 6 habilidades manuais deficitárias e entre outros. Se caso sua lateralidade também não estiver bem desenvolvida e definida, por exemplo, a criança se depara com problemas no ato de ler, possuindo dificuldades por onde inicia-se a leitura e não sabendo também diferenciar seu lado dominante. A Psicomotricidade pode ser uma ferramenta, que introduzida, na Educação Física escolar, no Treinamento Esportivo ou na prática da Educação Física como atividade física, pode contribuir e completar os programas aplicados (DARIDO, 2003) A Educação Física atende aos objetivos com exigência no desenvolvimento motor do indivíduo. A Educação Física vai trabalhar com a Aprendizagem Motora. Para atender ao desenvolvimento motor do indivíduo em seus vários ciclos de vida, infância, adolescência, idade adulta e idade idosa, os programas de Educação Física, nas suas variadas vertentes de aplicação, vão trabalhar com as valências físicas e a base da organização do movimento humano, estabilização, locomoção e manipulação. As bases da Aprendizagem Motora apontam para um trabalho integrado nos 3 aspectos do desenvolvimento humano, MOTOR, COGNITIVO e AFETIVO (MAGILL, 1995). A Psicomotricidade apresenta como base para a sua prática a integralidade do indivíduo em seus múltiplos aspectos desenvolvimentistas. x 36 Esse é o motivo da Psicomotricidade permear a Educação Física como um apoio. Os estudos da psicomotricidade avançaram muito e tem epistemologia própria. A aplicação da Psicomotricidade, em seus programas, tem base nas estruturas psicomotoras, Tonicidade, Equilibração, Lateralidade, Organização Espacial Temporal, Coordenação Motora Geral e a Coordenação Motora Fina. As estruturas Psicomotoras, como natureza já estimulam todos os aspectos desenvolvimentistas do indivíduo, quando introduzida na prática da Educação Física. A interdisciplinaridade da Educação Física escolar com a Psicomotricidade é direta, em termos de aplicabilidade, pois vai trabalhar com objetivos relacionados, e as relações com a aprendizagem no contexto escolar. . A Educação Física escolar garante as diversas possibilidades para trabalhar a formação integral do indivíduo por meio do movimento humano. A psicomotricidade nas aulas de Educação Física pode auxiliar na aprendizagem escolar, contribuindo para um fenômeno cultural que consiste de ações psicomotoras exercidas sobre o ser humano de maneira a favorecer comportamentos e transformações (BARRETO, 2000). A interdisciplinaridade da Educação Física relacionada ao treinamento esportivo, segmento fitness e atividade física, vai ocorrer com a identificação e solução das diferenças individuais em atividade física, adequando-as ao contexto em que elas se desenrolam, ligado à promoção de estilos de vida ativos e saudáveis, com a finalidade de minimizar os problemas psicomotores que interferem no desenvolvimento pessoal do ser humano (MONTEIRO e PEREIRA, 2013). x 37 Nesta unidade vimos a trajetória da Psicomotricidade como história até chegar a sua aplicabilidade nos dias atuais, suas formas de aplicação e como pode ser interdisciplinar em relação a Educação Física. Na próxima unidade vamos analisar a ontogênese do desenvolvimento, as fases do desenvolvimento nos seus principais aspectos, o refinamento da motricidade, passando pela educação até a reeducação psicomotora. Bons estudos! Exercícios – Unidade 1 1) Sendo a psicomotricidade a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Marque a alternativa que corresponde às três subáreas de conhecimento que sustentam a Psicomotricidade: a) O corpo, a mentee o comportamento b) Imagem corporal, esquema corporal e projeção corporal c) Educação Psicomotora, reeducação psicomotora e clínica psicomotora d) O movimento, o intelecto e o afeto e) O corpo, a motricidade e o afeto 2) Wallon foi o autor que falou pela primeira vez sobre reeducação das funções motoras. A partir dessa premissa marque a alternativa correta: x 38 a) Wallon se baseou nos aspectos da psiquiatria para fundamentar o que chamou de equilíbrio e consciência psicomotora b) Wallon se baseou nos aspectos psicofisiológicos no seu mais importante trabalho sobre o desenvolvimento afetivo, o que chamou de diálogo tônico. c) Wallon se baseou nos estudos da consciência corporal no seu estudo mais importante sobre a relação tônus e emoção, o que chamou de função simbólica d) Wallon se baseou nos aspectos da psicologia relacional no seu estudo mais importante sobre o desenvolvimento da cognição, o que chamou de função tônica cognitiva e) Wallon se baseou nos aspectos da psiquiatria em seus estudos sobre o desenvolvimento emocional, o que chamou de terapia tônica 3) A Psicomotricidade é uma área profissional e de atuação específica. Marque a opção que descreve a atuação do Psicomotricista: a) O Psicomotricista age na interrelação da saúde, educação e cultura, melhorando os processos de desenvolvimento. b) O Psicomotricista age na interrelação dos aspectos psicológicos e motores melhorando os processos de desenvolvimento c) O Psicomotricista age na interrelação das dimensões corporais e psiquiátricas melhorando os processos de desenvolvimento d) O Psicomotricista age na interrelação das dimensões afetivas e biológicas melhorando os processos de desenvolvimento x 39 e) O Psicomotricista age na interrelação das dimensões tônicas e estabilizadoras melhorando os processos de desenvolvimento 4) André Lapierre teve grande influência nos estudos do autoconhecimento ao propor uma abordagem diferenciada. Marque a opção que descreve essa abordagem: a) Abordagem Comportamental, valoriza o movimento coordenativo b) Abordagem Tônico Emocional, valoriza o movimento segmentar c) Abordagem Sensório Perceptiva, valoriza o movimento voluntário d) Abordagem Cognitiva, valoriza o movimento globalizado e) Abordagem Psicomotora Relacional, valoriza o movimento espontâneo 5) A Psicomotricidade em sua aplicabilidade desenvolvimentista apresenta as vertentes Educação e Reeducação psicomotora. Assinale a afirmativa que corresponde a Educação Psicomotora: a) Está ligada aos processos psicológicos entre a primeira infância e adolescência, seus fundamentos estão relacionados diretamente às fases do desenvolvimento psicológico b) Está ligada aos processos cognitivos na sua formação, durante a infância. Seus fundamentos estão relacionados as competências pré-operacionais c) Está ligada a aprendizagem entre a primeira infância e adolescência, seus fundamentos estão relacionados diretamente à tomada de consciência do seu corpo, da sua situação e do outro. d) Está ligada aos processos afetivos na pré-adolescência e adolescência, seus fundamentos estão relacionados diretamente às competências emocionais. x 40 e) Está ligada a aprendizagem na primeira infância, seus fundamentos estão relacionados diretamente à tomada de consciência das estratégias cognitivas e perceptivas 6) O autor Brétas coloca a Educação Psicomotora como uma área que referencia a motricidade de relação e o diálogo corporal. Marque a seguir a opção que caracteriza as formas desse diálogo: a) Pré-Operacional e Tônico emocional b) Sensório motoras e Intuitivo emocionais c) Percepto Motoras e Psicoafetivas d) Sensorial e Psicodinâmica e) Concreta e Intuitivo afetivo 7) Tem um período da infância onde ocorre a orientação predominante e a formação do mundo objetivo. Marque a seguir a opção que descreve esse período: a) Período percepto-cognitivo b) Período sensitivo – corpóreo c) Período proprioceptivo d) Período sensitivo-motor e) Período de planificação motora 8) O desenvolvimento psíquico da criança complementa seus fatores de origem. Aponte esses fatores de origem: a) biológica e psicológica b) psicomotora e psicológica c) psicológica e social x 41 d) biológica e social e) neurofisiológica. 9) Dentre os teóricos que contribuíram para a formação da área da Psicomotricidade Wallon é considerado um dos mais importantes por suas conclusões desenvolvimentistas. Disserte sobre as contribuições dos estudos de Wallon para a Psicomotricidade como área de atuação 10) Disserte sobre a relação da Psicomotricidade e a Educação Física como áreas interdisciplinares e complementares x 42 x 43 . x 44 AS FASES MOTORAS DO DESENVOLVIMENTO MOTOR E COGNITIVO A ontogênese como estudo da organização e a forma como ocorre o desenvolvimento, conclui que a cultura social é o processo para evolução cérebro/corpo – motricidade – psicomotricidade. O desenvolvimento ocorre por fases. O estudo das fases motoras mostram que o indivíduo vai passando pelas etapas motoras e amadurecimento da percepção e da cognição a partir do amadurecimento motor. O amadurecimento motor é a prévia da maturação perceptiva e cognitiva do indivíduo (FONSECA, 2010). A primeira fase psicomotora á considerada fase reflexiva, essa fase vai do nascimento até aproximadamente quatro meses. Essa fase representa a expressão dos movimentos involuntários que formam a base para as fases dos movimentos propriamente ditos (voluntários). Estão reações (sensações), são por exemplo, ao toque, à luz, ao som e a temperatura. Essas reações provocam atividade motora involuntária como forma de defesa a favor da sobrevivência. Essa fase é o início da maturação neuromotora do indivíduo que vai depender da estimulação do meio na passagem de uma fase para outra. A segunda fase é chamada fase dos movimentos rudimentares (Essa fase vai aproximadamente até os 2 anos). Essa fase representa as primeiras formas de movimentos voluntários. Esses movimentos são inerentes ao ser humano (naturais da espécie), como arrastar-se, engatinhar, levantar, andar, correr, pular, subir, agarrar, soltar, arremessar e apanhar. Esses movimentos caracterizam a base das ações motoras necessárias à sobrevivência da espécie: ESTABILIZAÇÃO; LOCOMOÇÃO e x 45 MANIPULAÇÃO. A fase a seguir denomina-se a dos movimentos fundamentais (fase entre 2 e 6 anos). Os movimentos fundamentais são a base das habilidades motoras fundamentais e consequentemente após esta, as habilidades motoras especializadas. Os movimentos fundamentais são aqueles que envolvem os elementos básicos da ação motora, inicialmente limitando-se a realização elementar de um movimento em particular e progressivamente evoluindo para os movimentos combinados e alternados em relação aos membros e articulações (DESENVOLVE-SE EM ESTÁGIOS SOBREPOSTOS: INICIAL, ELEMENTAR E MADURO). Os movimentos fundamentais são classificados como estabilizadores, locomotores e manipulativos. Os classificados estabilizadores, caracterizam-se movimentos fundamentais como base para todos os outros. A estabilidade envolve a capacidade de manutenção do equilíbrio na relação corpo / força da gravidade em ações estáticas ou dinâmicas. Exemplos de movimentos estabilizadores.: erguer a cabeça; sentar; rolamento; desvio; atividades que requerem equilíbrio; inclinar; esticar; virar; balançar; alcançar; erguer; empurrar e puxar. Os movimentos locomotores são movimentos que envolvem a projeção do corpo no espaço, alterando sua localização em relação a base fixa à superfície. A locomoção proporciona a projeção do corpo no espaço nos planos horizontal,vertical e diagonal. Exemplos.: arrastar-se; rastejar; engatinhar; caminhar; correr e saltar Os movimentos classificados manipulativos são refinados e dissociados em relação aos membros, caracteriza especificamente a manipulação em uma tarefa motora. Essa manipulação envolve a aplicação e controle da força, conhecimento próprio corporal (a diferença, por x 46 exemplo, entre a manipulação manual e pedal) e espacial (coordenação viso-motora / alvo - foco, direção e trajetória antecipada) e na relação corpo / ambiente / implemento. Exemplos.: segurar e largar um objeto; arremessar; receptar; rolar algo; apanhar; aparar; rebater; driblar; chutar e conduzir a bola. A fase mais refinada dessa evolução é a das habilidades motoras (fase entre 6 e 10 anos). Levando em consideração que a aprendizagem motora depende do nível do desenvolvimento motor, ou seja, da contínua alteração no comportamento ao longo do ciclo da vida, realizado pela interação entre as necessidades das ações a desempenhar, do organismo biogenético e do ambiente, a evolução do movimento resulta na padronização das combinações entre os movimentos básicos, ou seja uma HABILIDADE. Na linha contínua entre as fases, a fase a seguir as habilidades é a de habilidade especializada. O amadurecimento das habilidades motoras especializadas ocorre em sua progressão com sucesso, a partir das condições internas (maturação física e neurológica) e condições externas ligadas a experiências das habilidades e aprendizado qualificado. Para chegar às habilidades especializadas o indivíduo passa por uma evolução perceptiva e cognitiva como pré-fases: - Estágio Transitório (aproximadamente entre 7 e 8 anos) – combinação e aplicação das habilidades motoras e cognitivas fundamentais ao desempenho de habilidades percepto cognitivas especializadas. - Estágio de Aplicação (aproximadamente entre 11 e 13 anos) – apresenta condição cognitiva avançada com aplicação de estratégias a partir de sua base de experiência para tomar decisões baseadas em análise perceptiva x 47 das tarefas solicitadas, da maturação própria do indivíduo e fatores ambientais. - Estágio de Utilização Permanente – utilização do repertório de habilidades e estratégias cognitivas adquiridas ao longo do desenvolvimento e solidificação de um estilo próprio na utilização de estratégias como respostas às solicitações do ambiente. O desenvolvimento ocorre nos diferentes aspectos que envolvem o ser humano. Wallon (1981), concluiu que o desenvolvimento humano ocorre de fato quando os aspectos avançam concomitantemente. Paralelo às fases do desenvolvimento motor irá evoluir o desenvolvimento cognitivo. Piaget (1952), descreveu as fases do desenvolvimento cognitivo em seus estudos. A teoria de Piaget explica o desenvolvimento cognitivo pelo processo de adaptação. A adaptação requer que o indivíduo faça ajustes às condições ambientais e intelectualize esses ajustes por processos complementares que Piaget chamou de acomodação e assimilação. A acomodação é a adaptação que a criança faz no ambiente quando informações novas são acrescentadas ao seu repertório de possíveis reações. A assimilação representa a interpretação de novas informações, baseadas nas interpretações presentes. É a retirada de informações do meio ambiente e sua incorporação às estruturas cognitivas já existentes no indivíduo. Piaget (1952), descreveu com estágios a evolução da cognição. As características das faixa etárias colocadas por Piaget são baseadas nos parâmetros de suas pesquisas com crianças da década de 30, para avaliarmos e analisar as características desses estágios com os parâmetros de evolução na década que estamos, precisamos levar em conta a evolução do desenvolvimento infantil até aqui. Isso não anula as características x 48 evolutivas de cada fase descrita por Piaget. . O primeiro estágio Piaget chamou de Estágio Sensório Motor, que vai do nascimento até os 2 anos de idade. Caracteriza-se pela avaliação sensória do comando ou necessidade e resposta motora. Nesse estágio o bebê sente e responde de forma motora. O estágio evolutivo a seguir ao sensório motor, Piaget (1952) chamou de fase cognitiva pré-operacional, que vai de 2 à 6 anos de idade. Esse estágio caracteriza-se pela manipulação dos símbolos, inclusive palavras; é a fase da imaginação infantil, do faz-de-conta. Como terceiro estágio Piaget chamou de estágio cognitivo operacional concreto, que vai dos 6 aos 12 anos. Caracteriza-se pela compreensão de regras lógicas básicas e pelas manifestações de opiniões próprias sobre determinados eventos de respostas cognitivas. O último estágio da evolução cognitiva, sob a perspectiva de Piaget (1952), é o estágio cognitivo operacional formal, ocorre dos 12 anos em diante. Caracteriza-se pelo uso de variadas operações e estratégias na solução de problemas e um nível superior de análise dos eventos, sob vários aspectos, estágio do entendimento e percepção abstrata. x 49 O DESENVOLVIMENTO AFETIVO EMOCIONAL Erikson (1965), descreve o desenvolvimento afetivo no início da infância como o período do desenvolvimento da base de confiança básica e desconfiança. O autor descreve que esse desenvolvimento é latente até os 18 meses. A criança testa o tempo todo o quanto pode confiar nas pessoas e no mundo. A ocorrência é de equilíbrio entre confiança (permite formar relacionamentos íntimos) e desconfiança (permite a autoproteção/preservação). A necessidade protetiva nessa fase requer cuidado sensível, responsivo e regular como fundamental para o desenvolvimento da confiança. A necessidade se resume a uma base segura, pois o predomínio é da desconfiança mediante um mundo hostil e imprevisível (há dificuldade para formar relacionamentos íntimos). Aos 6 meses a relação mãe bebê ganha muita força. O relacionamento afetivo fica recíproco e estável entre duas pessoas cuja interação fortalece ainda mais sua ligação. Vai depender do temperamento do bebê e da qualidade do contato social proporcionada pela mãe e pessoas que vivem com o bebê. Erikson (1965) chamou esse momento de apego. Daí se forma relação de apego seguro ou confiança. Por exemplo, o bebê chora quando a mãe sai e se alegra quando ela retorna. É como se a mãe representasse a base segura para o bebê explorar o ambiente. Próximo aos 12 meses a criança experimenta e demonstra as suas x 50 emoções. Há uma emergência das emoções regulada pelo relógio biológico de maturação cerebral. As emoções vão evoluindo junto à essa maturação. Alegria, tristeza, surpresa, reserva, medo e raiva são exemplos. Após as experiências dessas e outras emoções, amadurecem as consideradas emoções de autoconsciência e daí empatia, aproximação e inibição. Após os 2 anos a criança passa pelo processo de autonomia, vergonha e dúvida. A partir dos 3 anos desenvolve o auto reconhecimento, autodescrição, auto avaliação e autorregulação. Entre 6 e 12 anos amadurece o autoconceito (ERIKSON, 1965) Piaget (1980), também defendeu o desenvolvimento psicológico como único em suas dimensões ativas e cognitivas, pois para ele durante toda a vida de um indivíduo existe uma equivalência entre as construções afetivas e cognitivas. O autor relacionou a psicologia afetiva da criança e o estudo da inteligência aos aspectos afetivos e intelectuais infantis ao julgamento moral, as reações rebeldes, a obediência e aos sentimentos de carinho e temor. A afetividade não se restringe somente as emoções e sentimentos, pois engloba também as tendências e as vontades da criança, ou seja, a afetividade assim como toda conduta visa a adaptação, pois o desequilíbrio reflete em uma impressão afetiva particular e a consciência de uma necessidade(PIAGET , 1980). Piaget (1980), defendeu que as noções de equilíbrio e desequilíbrio têm um significado essencial no ponto de vista afetivo e cognitivo, o que levou o autor a refletir sobre os processos de assimilação e acomodação afetivas. Tendo a assimilação o interesse principal no “eu” e a compreensão do objeto como tal, e a acomodação é o interesse relativo e o ajuste dos esquemas do pensamento aos objetos. Quanto a natureza, em tese, a afetividade e a inteligência são de naturezas distintas, ou seja, a energética da conduta vem da afetividade e as estruturas vêm das funções x 51 cognitivas, e assim o campo total junta ao mesmo tempo o sujeito, as relações e os objetos, todos sendo fundamentais para que ocorram as condutas e as interações entre sujeitos e objetos. O autor descreve o termo esquemas afetivos para designar as construções equivalentes sobre os sentimentos iniciais da criança, diretamente ligados as satisfações de suas necessidades. Aponta o conceito “força de vontade” como uma função reguladora exposta para a construção do pensamento lógico. Entre os 2 e os 12 anos, o indivíduo, sofre várias modificações no que diz respeito aos seus domínios de afetividade em conformidade com o desenvolvimento de sua cognição, ou seja, os valores, os sentimentos pessoais, interpessoais e as brincadeiras. Piaget (1980), afirmou que a formação e o enriquecimento afetivo da criança demonstra o quanto esse processo afetivo é continuo e inovador, onde a formação de sentimentos está diretamente ligada aos valores e evolução da sociedade, ou seja, os sentimentos interindividuais são construídos com a cooperação do outro e os intra individuais são elaborados com a ajuda do outro, sendo a troca intrapessoal. Oliveira (2008), define aspecto afetivo e social como a relação da criança com o adulto, com o ambiente físico e com outras crianças. Aqui são entendidos como todos os aspectos de socialização e desenvolvimento de traços de personalidade tais como organização, disciplina, responsabilidade, coragem e solidariedade. A criança percebe-se e percebe os seres e as coisas que a cercam, em função de sua pessoa. Sua personalidade se desenvolverá graças a uma progressiva tomada de consciência de seu corpo, de seu ser, de suas possibilidades de agir e transformar o mundo à sua volta. (MEUR e STAES, 1989). Oliveira (2008), destaca que a importância do aspecto afetivo é tamanha que é anterior a qualquer tipo de comportamento, assim pouco a x 52 pouco as crianças começam a se expressar através dos gestos que estão ligados a esfera afetiva e que são, portanto, o escape das emoções vividas. O mundo de emoções dá origem ao mundo da representação. O movimento, como um elemento básico de reflexão humana, aparece depois como um fundamento sociocultural. Durante o amadurecimento da criança até a pré-adolescência, deve-se considerar a influência dos motivos de ordem social como: desejo de aprovação social, de simpatia, de instinto gregário, e os motivos de ordem emocional, que são indispensáveis para a adaptação social. Essas experiências típicas com características da fase refletirá o adulto que será no futuro. Alguns estudiosos afirmam que todas as concepções que a criança tem sobre caráter, honestidade, solidariedade, condutas sociais são formadas até os três anos de idade pela sua convivência doméstica e social. É por isso que a família é importante e deve estar próxima para educar plenamente essa criança. A forma como o sujeito se expressa com o corpo traduz sua disposição ou sua indisposição nas relações com coisas ou pessoas. Esse aspecto psicológico, muito importante, ajuda-nos a identificar melhor certas perturbações devido a fatores afetivos. Esse processo chama também nossa atenção para a possibilidade de melhorar a vida social e afetiva das crianças, tornando precisas suas noções corporais e fazendo com que adquiram gestos precisos e adequados. (MEUR e STAES, 1989). As perturbações afetivas que causam atraso no desenvolvimento da criança, podem às vezes estar relacionado ao ambiente familiar. Suas causas quando investigadas a fundo por profissionais habilitados mostram certas crianças perturbadas com o desentendimento entre os pais ou ainda com a presença dos avós na família. Às vezes uma atitude muito exigente, muito perfeccionista cria na criança uma reação de oposição, de lentidão ou de rigidez. A família insiste muito sobre ‘o que não deve ser feito’ ou x 53 sobre as falhas da criança, esta reage por meio da falta de habilidade, pela timidez, pela falta de equilíbrio. Alguns pais desejam ter filhos fortes, que não chorem que não se deixem penetrar pelas emoções; nesse caso, por exemplo, as crianças podem reagir pelo exagero e pela rigidez. (MEUR e STAES,1989). Não existe uma resposta padrão para esses questionamentos e apontamentos. O ideal é uma equipe de apoio (professores, pais, psicólogos, e outros profissionais). As condutas que a criança representa são os papéis sociais, imitando a criança se vê vivenciando a posição social do outro e isso a auxilia a elaborar algumas questões. x 54 EDUCAÇÃO E REEDUCAÇÃO PSICOMOTORA Quando analisamos a nós mesmos, somos um todo, um complexo EU (CORPOREU), porém vivemos dissociados, perdemos a relação harmoniosa que a natureza nos legou, dando à mente soberania absoluta sobre nossa vida e ao corpo o papel secundário. O corpo é um manancial de informações precisas e verdadeiras. Por meio dele, podemos tomar contato com os desequilíbrios instalados, amenizando-os, dissolvendo-os para um melhor viver. A linguagem está embutida de corpo, isso é o que o diferencia de ser puramente “corpo, portanto podemos dizer que somos sujeito com um corpo. Essa linguagem simbólica que se estrutura vai determinar um sujeito. O corpo humano, por assim sê-lo, constitui-se por efeito da linguagem, e são estes efeitos dados pelo Outro os que marcam o corpo de um sujeito desejante (LEVIN, 2003). A constituição do corpo em sujeito começa antes mesmo de a criança nascer, pela imaginação. Pelo desejo de um Outro que simboliza um corpo “feito”. Pela linguagem utilizada pelo outro esse corpo será apresentado à criança, ou seja, ele será “tatuado” como um “mapa” construído, puramente “coisa”, buracos, bordas, protuberâncias, faltas, que irá marcá-lo e transformá-lo num corpo erógeno e simbólico. Para reconhecer-se como corpo, é preciso que o outro também tenha x 55 um corpo. Quando o processo de maturação fisiológica e neuromotora, permite exercer o domínio real do seu próprio corpo e do seu funcionamento motor, este domínio é exercido dentro do que previamente foi constituído, transformado, no estágio especular. Levin (2003), afirma que o estágio especular constitui-se a partir de um esquema corporal mental, isto é, na formação do EU, que irá se projetar na elaboração de imagens que ele faz de si, criando espaço entre o seu corpo e o do Outro. Nessa linha de reflexão, formam-se conceitos corporalistas como o esquema corporal que se diferencia da imagem corporal. O esquema é o que podemos chamar de “configuração topográfica”, espacial do corpo. É a representação que temos de nós mesmos; enquanto a imagem é constituinte do sujeito desejante, está relacionada com o percurso libidinal que o Outro esquematizou no corpo, portanto, inconsciente. O corpo humano é feito da linguagem, que cria um sujeito e com ele o seu corpo e a sua motricidade. Assim surgem as funções exercidas pelos psicomotricistas, que se ocupam do ato psicomotor, do movimento e do fazer afetados e mediados pela linguagem. Aqui um dos tipos de linguagem a que nos referimos é o olhar.A proposta da Psicomotricidade é que se faça um trabalho com o corpo, não para verificar a motricidade, mas para observar a psicomotridade, o que deseja esse sujeito, quais as suas queixas, ter consciência de que o corpo não é um amontoado de carne e osso, mas algo que precisa atingir o simbólico. A área aplicada da psicomotricidade se sustenta em diagnósticos do perfil psicomotriz e na prescrição de atividades para sanar possíveis descompassos do desenvolvimento motriz. A estratégia pedagógica baseia- se na repetição sequencial das atividades, que são estereótipos criados e classificados constituindo as famílias de atividades voltadas para os equilíbrios estáticos e dinâmicos a x 56 coordenação motora ocular, global e fina, de flexibilidade, agilidade e destreza. Dentro desse eixo da psicomotricidade, a educação psicomotriz é uma ação psicológica e pedagógica que utiliza os meios da reeducação psicomotora com a finalidade de normalizar ou melhorar o comportamento da criança (LEVIN, 2003) Vayer e Picq (1975 citado por BUENO, 1998) explicam que, após a análise dos problemas encontrados, a psicomotricidade tem a finalidade de educar sistematicamente as diferentes condutas motoras, permitindo uma maior integração escolar e social. Os estudos e o desenvolvimento das sessões de psicomotricidade eram destinados a crianças que apresentavam problemas de aprendizagem, mais especificamente na leitura, na escrita e no cálculo matemático. Esse método se sustenta no discurso de que o desenvolvimento de certas habilidades motrizes permite a melhora do desempenho nas aprendizagens cognitivas. A reeducação psicomotora está contida em várias áreas profissionais: pedagogia, educação física, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia educacional, psicologia, arte-educadores, educadores, médicos da especialidade motora ou psíquica, dentre outros. Mas o importante para uma boa reeducação é a tranquilidade e o intercâmbio afetivo e presente do reeducador com o educando, condição básica para uma adequada reeducação. De Fontaine (1980), afirma que a reeducação embasa sua eficácia no fato de que se remonta as origens aos mecanismos de base que estão na origem da vida mental, controle gestual e do pensamento, controlando as reações tônico-emocionais, equilíbrio, fixação, atenção, justa preensão do tempo e espaço. O essencial na reeducação psicomotora é a qualidade do relacionamento corporal e da comunicação afetiva, de acordo com o ritmo do paciente e não do terapeuta; a tentativa de acelerar o ritmo de evolução x 57 pelo terapeuta bloquearia o processo. A reeducação psicomotora tem por objetivo estimular a criança a ter vontade de viver de agitar-se de entrar em contato com as pessoas e coisas. Essa reeducação é dirigida às crianças que sofrem perturbações instrumentais como: dificuldades ou atrasos psicomotores e dificuldades de aprendizagem escolares. O trabalho psicomotor beneficia a criança, no controle de sua motricidade. Utilizando maneira privilegiada a base rítmica associada a um trabalho, a uma técnica de controle tônico e de relaxação cautelosamente conduzido por profissionais especializados. Reeducação psicomotora é o método usado pelo terapeuta para trabalhar a psicomotricidade do indivíduo. A psicomotricidade consiste em fazer o indivíduo tomar consciência de suas possibilidades e de seus limites permitindo-lhe o reconhecimento de seu corpo e o desenvolvimento de suas potencialidades expressivas. Os exercícios usados para a reestruturação do esquema corporal reativam o próprio desenvolvimento dessas estruturas e acompanham as etapas da evolução da criança. As etapas aqui destacadas não têm qualquer caráter rígido imutável ou universal. São apenas pontos de referência (BUENO, 1998). A reeducação psicomotora é muito ampla, praticamente é sempre aplicável, não oferecendo perigo, a não ser em alguns casos bem particulares e em técnicas muito especiais. Ela se dirige evidentemente a crianças ou adultos, mas também pode ser indicada como profilaxia sob forma educativa. Na maioria dos casos, ela se dirige as crianças e, sendo cada criança um caso particular. Cada pessoa tem sua personalidade própria e não possui nem as mesmas possibilidades instrumentais, neurofisiológicas, nem os mesmos problemas afetivos, nem o mesmo potencial evolutivo, nem mesmo ambiente familiar ou social. Ela deverá se adaptar a cada um. Têm como finalidade organizar e criar traços que x 58 persistiram, procurando não destruir, se possíveis, as capacidades de outras organizações, respeitando assim, a originalidade e a criatividade de cada indivíduo. A reeducação psicomotora é importante principalmente por seu valor de relacionamento, e às vezes, é indicada, simplesmente por razões de comportamentos inadequados, afetivos ou da personalidade, sem nenhuma deficiência psicomotora, considerando que esse tipo de relacionamento é o melhor para certas crianças. Esse tipo de raciocínio ilustra em parte a evolução das ideias a respeito das indicações para reeducação psicomotora.. A terapia da reeducação psicomotora é destinada a crianças que apresentam dificuldades de comunicação, de expressão corporal e de vivência simbólica (NEGRINE, 2002). A terapia da reeducação psicomotora utiliza várias contribuições, da teoria psicanalítica, onde inúmeros conceitos são utilizados, como o inconsciente, transferência e imagem corporal. Agora os psicomotricistas estão mais atentos à vida emotiva de seus pacientes, dando importância à emoção, à expressão e à afetividade, considerando o corpo, a motricidade e a emocionalidade como uma globalidade e uma totalidade em si mesmas (LEVIN, 1995, p. 41). A sessão de terapia psicomotora se desenvolve de forma individualizada ou grupal. A relação que o terapeuta estabelece com a criança é de sintonia, escuta, empatia e o seu corpo é o depósito das emoções da criança, o tempo da sessão é de acordo com a disponibilidade da criança e vice-versa (AUCOUTURIER e LAPIERRE, 1977). O brincar compreende uma variedade de movimentos, condutas, consentimentos dos parceiros e fantasias que envolvem a criança no seu mundo de "faz-de-conta", ao mesmo tempo tão real (LARA, PIMENTEL e RIBEIRO, 2008). O brincar deve incitar e favorecer o movimento, a cognição, x 59 aprendizagem das regras e a criação. A oferta de estímulos adequados pode auxiliar nesse processo, mostrando para a criança que o mundo não está pronto e que pode ser alterado. É a atividade predominante na infância e vem sendo explorado no campo científico, com o intuito de caracterizar as suas peculiaridades, identificar as suas relações com o desenvolvimento e com a saúde e, entre outros objetivos, intervir nos processos de educação e de aprendizagem das crianças. As crianças têm diversas razões para brincar e uma destas razões é o prazer que podem usufruir enquanto brincam. Além do prazer, as crianças também podem, pela brincadeira, exprimir a agressividade, dominar a angústia, aumentar as experiências e estabelecer contatos sociais (DOHME, 2002). E mais, proporciona a exteriorização de medos e angústias e atua como uma válvula de escape para as emoções. Os aspectos simbólicos de sociabilidade, linguagem e cognição também são estimulados na brincadeira. No que se refere ao brincar, afirmam que o brinquedo possibilita o desenvolvimento infantil em todas as dimensões, o que inclui a atividade física, a estimulação intelectual e a socialização. O brincar pode ser visto primeiramente como produção cultural predominantemente imaginária, dotada de significado, seu valor torna-se incontestável na educação informal. A brincadeira pode ser entendida como ação lúdica com predominância de imaginação em constante interrelação com o jogo, prevalecendo a organização da atividade
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