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TEXTO DISSERTATIVO - CURRÍCULO E CULTURA

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TEXTO DISSERTATIVO
CURRÍCULO E CULTURA
Com o grande apelo que o paradigma do multiculturalismo tem tido, muitas políticas públicas têm sido desenvolvidas, mas somente algumas são cumpridas. A promessa de que a educação multicultural está presente no currículo e na prática diária, deve ser uma prioridade, já que faz parte dos currículos e programas oficiais do governo.
Desde o início a educação multicultural prometeu tratar todos os grupos como iguais. Por exemplo, ao nível da educação o que precisa é não desenvolver novas filosofias, mas respeitar a cultura e, sobretudo, promover uma cultura de respeito. Nesse sentido, a pluralidade cultural é um tema que vem sendo estudado por várias áreas do conhecimento, visando à abordagem da diversidade e das várias manifestações culturais presentes na sociedade. O intercâmbio entre as várias culturas pode propiciar a troca e vivências sobre práticas, costumes, regras de conduta, formas de alimentação, artes, enfim, ampliar o repertório de conhecimentos entre municípios, estados e países.
No Brasil, existe uma cultura afro-brasileira que faz parte da raiz histórica do país e que não pode ficar afastada do sistema educacional. Resgatar essa cultura significa valorizar e enriquecer o patrimônio cultural brasileiro, trazendo a pauta aos alunos toda construção coletiva historicamente criada pela humanidade, de forma contextualizada e centrada na criticidade.
A Constituição Federal de 1988 é a primeira, entre as constituições Brasileiras, que inscreve de modo explícito o direito ao atendimento educacional especializado dos portadores de deficiência na rede regular de ensino (Art. 208, inciso III). Inúmeras leis foram publicadas no Brasil em defesa do atendimento educacional às pessoas com necessidades educacionais especiais nas classes regulares. A essas mudanças correspondeu também uma nova estruturação do ensino, detalhada precisamente pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n. 9.394/96. Essa lei, em seu Título V, estabelece que a educação escolar compõe-se da educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.
O objetivo da educação básica “é assegurar a todos os brasileiros a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhes os meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (BRASIL, 1996, Arts. 21 e 22).
Reforçando os dispositivos supracitados, o Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei n. 8.069/90, Art. 55, determina que “os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino” (BRASIL, 1990).
Em 1999, o Decreto n. 3.298 regulamenta a Lei n. 7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a educação especial como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação complementar da educação especial ao ensino regular. Mesmo porque, para eliminar a cultura de exclusão escolar e efetivar os propósitos e as ações referentes à educação para todos, é necessário uma linguagem consensual, com base nos novos paradigmas educacionais da atualidade, tendo como base uma escola inclusiva.
Em 2003 foi sancionada a Lei n. 10.639, que alterou a Lei de Diretrizes e Bases (Lei n. 9.394/1996) e tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira no ensino fundamental e Médio e dá outras providências, como incluir o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”; prevê expressamente no caput do Artigo 26-A que, “Nos estabelecimentos de ensino fundamental e Médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira”.
O parágrafo primeiro afirma que:
O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política, pertinentes à História do Brasil.
No segundo parágrafo consta que: “Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira”.
Face à existência desta lei, faz-se necessário a proposição de atividades ou estratégias de ação para viabilizar o incremento desta temática a partir de vivências dos alunos.
A Lei n. 10.639/2003 traz a possibilidade de introdução de discussões desmistificadoras e conquista cada vez mais espaço, com práticas inovadoras acerca da questão racial, tirando-a da transversalidade, que beira ao descompromisso, e trazendo-a para um patamar maior, o da inserção dentro dos currículos escolares no dia a dia do professor/aluno. O ensino de história e cultura afro-brasileiras e africanas deve vir acompanhado de toda uma contextualização, que nos levará a discussão da questão racial no Brasil em seus diversos aspectos. Contudo, não basta, por exemplo, estudar a África pela África, é necessário desvendar a África que foi escondida desde os tempos do tráfico de escravos para se justificar a escravidão.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana (BRASIL, 2003) colocam que o negro, como todos os outros cidadãos brasileiros, têm o direito de cursar cada um dos níveis de ensino em escolas devidamente instaladas e equipadas, orientados por docentes preparados para o ensino das diferentes áreas de conhecimentos, o que significa profissionais que saibam trabalhar com diferentes situações decorrentes das desigualdades raciais, racismo, discriminação, de forma a conduzir a reeducação das relações entre os diferentes grupos étnico-raciais.
Desse modo, o sancionamento Lei n. 10.639/03 contribuiu grandemente com esses objetivos, sendo considerado um grande passo na inserção da população negra na educação, com a intenção de resgatar a história e a contribuição dos negros na construção e formação da sociedade brasileira. É inegável a importância da Lei n. 10.639/03, não somente para a população negra, mas para toda a população brasileira, pois havia uma grande lacuna formada pela ausência de discussão sobreo tema, o que se refletia significativamente nas ações sociais e étnico-raciais dentro do ambiente escolar.
Como se pode perceber a grande tarefa dos docentes é buscar caminhos e métodos para desconstruir e eliminar as mazelas deixadas pelo racismo e discriminação, e a Lei n. 10.639/03 vem justamente oficializar a inclusão do tema em nossos currículos. O que antes era um tema transversal, agora é parte oficial e integrante do currículo, pois consta da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, não pode mais ser trabalhado por opção pessoal do educador ou apenas em datas pontuais. Isso só vem confirmar que na educação urge a tomada de posições e ações efetivas de promover políticas equalizadoras. Faz-se necessário a adoção de uma postura ética que possibilite a cidadania frente à cultura e identidade de cada povo.
A Lei citada trouxe, ainda, a discussão sobre a urgente necessidade de mudança nos discursos, raciocínios, lógicas, gestos e formas de tratar a diversidade e de encarar as relações raciais. Entretanto, para enfrentar as dificuldades encontradas nesse processo, a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR, em parceria com o Ministério da Educação (MEC), lançou o Plano Nacional de Implementação do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena, que vai ao encontro das orientações estabelecidas nas diretrizes curriculares nacionais para educação das relações étnico-raciais e para o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, definidas em 2004.
Assim, em 2008, a edição da Lei n. 11.645/2008 veio complementar a legislação, reconhecendo que indígenas e negros convivem com problemas da mesma natureza, embora em diferentes proporções. A Leiincorpora a História e Cultura Afro-Brasileira Africana e Indígena nas escolas, tornando obrigatório no ensino fundamental e Médio, nas escolas brasileiras públicas e particulares, a análise da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena.
A nova legislação (que alterou a Lei n. 9.394/96) estabelece que o conteúdo programático incluirá diversos aspectos da história e da cultura que formaram a população brasileira, levando em consideração os índios e africanos.
Aspectos como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas brasileiros, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política.
A inclusão da temática na educação brasileira precisa estar entrelaçada com os movimentos sociais e políticas públicas para haver uma real implementação da legislação.
Como se vê na inferência de Gomes (2003), é grande a necessidade de a escola assumir uma postura contra toda e qualquer forma de discriminação. Posicionamento este que deve levar a questionamentos mais profundos acerca das relações entre as diferenças e os diferentes que, apesar de passar necessariamente por uma postura político-individual, necessita do desenvolvimento de políticas e práticas voltadas para a diversidade étnico-cultural no âmbito desses espaços formadores.
Diante desse quadro e da necessidade de mudanças na formação do povo brasileiro as políticas públicas vêm ganhando fôlego e legitimidade, haja vista a criação da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial como órgão de assessoramento imediato ao Presidente da República na formulação, coordenação e articulação de políticas e diretrizes para a promoção da igualdade racial nos âmbitos federal, estadual e municipal.
Eis, então, que a educação se coloca como um grande desafio, o de romper com o racismo, e um dos caminhos, segundo Candau (2005), para a superação dessa situação é uma reflexão profunda sobre o tema e investimento na busca de soluções para esse mal que afeta a sociedade brasileira.
Entretanto, a grande a dificuldade apresentada pelos educadores é que tanto negros como não negros têm dificuldades em lidar com a questão e identificar a sua pertinência racial. Isso porque a escola não pode estar desvinculada da realidade histórica, social e cultural em que está inserida. Faz-se necessário, então, que assuma uma postura de mudanças nos discursos, gestos, posturas, modos de encarar e tratar a diversidade.
Isso significa, conforme Candau (2005), que em qualquer sociedade a problemática da diversidade assume contornos diferentes de acordo com o processo histórico, relações de poder imaginários e práticas de inclusão e exclusão que incidem sobre os diferentes sujeitos e grupos.
Tem-se de desvendar a riqueza cultural e identitária de um povo que construiu as bases socioeconômicas, culturais e históricas do Brasil e não só atribuir meras contribuições, tais como o futebol, o samba, a capoeira, o candomblé. É preciso desvendar os mistérios de uma religiosidade calada e marginalizada.
Embora a história ensine que a diversidade é um dos fatores primordiais para o progresso material e cultural da humanidade, isso não se reflete nas ações, principalmente nas que acontecem dentro da escola que buscam uma padronização de comportamentos, tidos como adequados para as diferentes realidades que compõem o universo escolar.
A falta de valorização dada à questão leva a um cuidado muito grande na abordagem e no desenvolvimento do mesmo. Observa-se por parte de muitos educadores uma tendência a desvalorizar e desqualificar o discurso colocado em questão de grupos individuais justificando assim a não inserção ou discussão mais aprofundada no currículo.
Diante disso, a ausência de formação dos educadores e a falta de subsídios trazem prejuízos ao trabalho pedagógico, ocasionando uma grande resistência em discutir a temática ou mesmo até em admitir a sua importância nas relações entre educandos e educadores, comprometendo o processo educativo como um todo.
Torna-se, então, fundamental a desconstrução de discursos e conceitos firmemente arraigados que podem atravancar irremediavelmente o desenvolvimento dos educandos e empobrecer consideravelmente o trabalho dos educadores.
Mediante essa problemática, o papel dos gestores públicos se torna fundamental no sentido de garantir que a questão racial, que já é parte componente do cotidiano escolar e tem grande relevância na prática pedagógica, seja também inserida nos currículos oficiais, de modo que a prática pedagógica não esteja distanciada das relações sociais.
O termo desconstrução foi introduzido pelo filosofo francês Jacques Derrida, indicando a necessidade de comportamentos críticos de confronto das formas totalizantes e absolutizantes de cada tradição cultural, particularmente as do Ocidente. Na desconstrução existe sempre uma disponibilidade para a realização de uma experiência de descentramento, de se sair fora das próprias certezas (SOUZA; FLEURI, 2003, p. 53).
Pelo que se percebe o sancionamento da Lei n. 11.645/2008 vem contribuir grandemente com esses propósitos, sendo um avanço na discussão da inserção da população negra na educação brasileira, com o intuito de resgatar historicamente a participação/contribuição dos negros na construção e formação da sociedade brasileira.
A escola como instituição é, ou deveria ser, um espaço privilegiado para a construção de relações interculturais, possibilitando a troca de experiência entre os diferentes, o que até então tem sido tolhido por conta de uma visão eurocêntrica, que ao privilegiar uns, exclui e minimiza o valor de outros, produzindo relações desiguais e empobrecidas que estão retratadas em nossos currículos escolares.
Isto só vem confirmar a necessidade de escolher posições e práticas efetivas de promoção e incentivo de políticas de reparação no que diz respeito à educação.
Mas para isso não basta apenas a teoria, é preciso estabelecer metodologias que permitam converter, na prática, as contribuições étnico-culturais em conteúdos educativos. 
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Câmara dos Deputados, 1988.
______. Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990. Brasília: Câmara dos Deputados, 1990.
______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei n. 9.394, de 24 de dezembro de 1996. Brasília: Ministério da Educação, 1996.
______. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-raciais para o ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana – Lei n. 10.639/2003. Brasília: Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial/Secretaria de Educação Continuada/Alfabetização e Diversidade, 2003.
______. Lei n. 11.645, de 10 de março de 2008. História e Cultura Afro-Brasileira Africana e Indígena. Brasília: Secretaria de Promoção da Igualdade Racial/ MEC, 2008.
CANDAU, V. M. (Org.). Culturas e educação: entre o crítico e o pós-crítico. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.
GOMES, N, L. Trabalho docente, formação de professores e diversidade étnico-cultural. In: OLIVEIRA, D. A. Reformas educacionais na América Latina e os trabalhadores docentes. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.

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