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W BA 08 67 _V 1. 0 LAUDOS E PERÍCIAS EM ENGENHARIA 2 Julio Assis de Freitas São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 LAUDOS E PERÍCIAS EM ENGENHARIA 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Turchetti Bacan Gabiatti Camila Braga de Oliveira Higa Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Nirse Ruscheinsky Breternitz Revisor Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)_____________________________________________________________________________ Freitas, Julio Assis de Laudos e perícias em engenharia / Julio Assis de Freitas, - São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 33 p. ISBN 978-65-89965-54-1 1. Conceito de laudos e perícia. 2. Perito judicial. 3. Assistente técnico. I. Título. CDD 620 _____________________________________________________________________________ Evelyn Moraes – CRB: 8 SP-010289/O F866l © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO A perícia judicial e o papel do engenheiro de segurança _____ 05 Diligência, elaboração do laudo, esclarecimentos e impugnação ________________________________________________ 19 Cadastro on-line para peritos e conceitos de insalubridade e periculosidade _______________________________________________ 34 LAUDOS E PERÍCIAS EM ENGENHARIA 5 A perícia judicial e o papel do engenheiro de segurança Autoria: Júlio Assis de Freitas Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Objetivos • Apresentar a introdução e os conceitos gerais sobre laudos e perícias de engenharia de segurança do trabalho. • Descrever o papel do engenheiro de segurança do trabalho como perito judicial ou assistente técnico. • Detalhar os dispositivos legais que regulam a atuação dos peritos judiciais e assistentes técnicos. 6 1. Introdução Quando uma questão está sendo discutida no Judiciário, o juiz precisa de elementos probatórios para consolidar sua convicção, de modo que ele possa emitir uma sentença, fundamentada em evidências válidas. Porém, nem tudo pode ser aceito como prova para a justiça, como gravações de escutas telefônicas obtidas por meios ilegais, que são descartadas. No judiciário há uma máxima que diz que “o fruto da árvore podre é podre”, ou seja, uma prova ilegal é igualmente ilegal, não importa o seu teor. O CPC (Código de Processo Civil Brasileiro) (BRASIL, 2015) discorre sobre provas no Capítulo XII dentro de sua parte especial, Livro I. Ali se encontram os tipos de provas admitidas pelo direito brasileiro, sendo elas: • O depoimento pessoal previsto nos artigos 385 a 388. • A confissão prevista nos artigos 389 a 395. • A exibição de documento ou coisa prevista nos artigos 396 a 404. • A prova documental prevista nos artigos 405 a 438. • Os documentos eletrônicos previstos nos artigos 439 a 441. • A prova documental prevista nos artigos 442 a 449. • A prova testemunhal prevista nos artigos 450 a 463. • A prova pericial, prevista nos artigos 464 a 480. • A inspeção judicial, prevista nos artigos 481 a 484. 7 O Juiz é um indivíduo com notório saber jurídico, capaz de decidir segundo as regras e doutrinas do direito. Porém, quando se depara com matéria técnica, precisa de um auxiliar para lhe emitir parecer sobre o tema, de modo que ele, como leigo nessas pautas, tenha fundamentação para a sua tomada de decisão no processo. É nesse cenário que o engenheiro de segurança do trabalho pode atuar como auxiliar da Justiça, produzindo a prova pericial de que tratam os itens 464 a 480 do CPC. Por exemplo, se há em um processo trabalhista a discussão sobre eventual direito à insalubridade ou periculosidade, o engenheiro de segurança do trabalho será requisitado para analisar as condições de trabalho do reclamante e emitir um laudo que servirá de prova técnica. Para Beleze (2014, p. 19), a prova pericial “é a realização da perícia propriamente dita, que será realizada por profissional especializado com a finalidade de suprir a falta de conhecimento técnico do magistrado sobre determinado assunto”. Assim, se uma pessoa está reclamando um vício em um produto adquirido, como um carro, o Juiz pode solicitar a análise de um engenheiro mecânico; se a queixa for sobre manifestações patológicas em um imóvel por supostos defeitos na construção, o especialista a ser requisitado pela Justiça será o engenheiro civil ou arquiteto; se a questão envolver algum tipo de doença adquirida no exercício do trabalho, um médico será chamado para avaliar o caso; e assim por diante. Há situações em que o engenheiro de segurança do trabalho será o profissional que vai atuar como perito judicial. Na maioria das vezes, esse acionamento será para avaliar questões envolvendo o pagamento de adicionais de insalubridade e periculosidade, ou na determinação da responsabilidade sobre acidentes do trabalho. Neste material, vamos discorrer sobre esse universo, conhecendo os dispositivos legais que regulam a atuação do perito judicial e do 8 assistente técnico, a fim de entender esses papéis e onde o engenheiro de segurança pode assumir. 2. Dispositivos legais que regulam a perícia técnica A justiça se vale do apoio de alguns profissionais para que ela possa dar cargo de suas atribuições, sejam eles servidores públicos que integram o judiciário ou não, como é o caso dos peritos judiciais. O CPC lista os auxiliares da justiça, por meio do seu art. 149. [...] Art. 149. São auxiliares da Justiça, além de outros cujas atribuições sejam determinadas pelas normas de organização judiciária, o escrivão, o chefe de secretaria, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador de avarias. (BRASIL, 2015) O CPC (BRASIL, 2015) assegura, segundo o art. 156, que o Juiz será assistido por perito, quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico. O parágrafo 1º desse mesmo artigo determina que o perito judicial será profissional legalmente habilitado, o que significa que ele deve dispor da formação necessária para exercer a profissão ligada à especialização que a perícia técnica requer, ou seja, se o pleito jurídico em discussão for uma questão médica, o perito judicial deverá ser um médico. Quando a pauta discutida em um processo judicial é insalubridade, periculosidade, ou ambas, apenas o engenheiro de segurança ou o médico do trabalho são os profissionais legalmente habilitados para a realização da perícia técnica, segundo o art. 195 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). 9 [...] Art.195–A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se- ão através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho. (BRASIL, 1943) Está implícito, portanto, que, se apenas engenheiro de segurança e médico do trabalho podem emitir laudos de insalubridade e de periculosidade, apenas essesprofissionais podem exercer o mister de perito judicial nesses temas. Além disso, dentro ou fora da atividade pericial, para exercício dessas profissões, esses profissionais devem estar devidamente regularizados a adimplentes em seus respectivos concelhos de classe, isto é, o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), no caso dos engenheiros, e o CRM (Conselho Regional de Medicina), no caso dos médicos. Os artigos 156 a 158 do CPC (BRASIL, 2015) discorrem sobre a figura do perito. Nesse sentido, além da habilitação profissional já discutida, é possível verificar que o profissional que pretende atuar como perito deve estar previamente cadastrado para que possa ser nomeado pela Vara ou Secretaria para atuar em ações que demandem a sua especialidade profissional, devendo as perícias serem distribuídas aos profissionais cadastrados de forma equitativa, considerando a capacidade técnica e a área de conhecimento. O perito judicial não é um funcionário público ou detentor de qualquer tipo de vínculo empregatício com o judiciário, mas sim um profissional liberal que se coloca à disposição para exercer o mister de perito, prestando auxílio à justiça quando nomeado. Diante disso, não seria correto o indivíduo responder “sou perito judicial” ao ser perguntado pela sua profissão, já que ele “está” perito quando nomeado e atuando em auxílio à justiça. Portanto, encerrado o ato pericial e havendo a entrega do laudo, ele volta a ser apenas engenheiro, médico, empresário ou qualquer outra profissão, mas não perito judicial. 10 A responsabilidade do perito judicial é máxima, visto que ele vai entregar à justiça um laudo que servirá de prova para decidir sobre uma questão técnica. Portanto, se o laudo for equivocado, o Juízo poderá ser induzido ao erro. Em função disso, o CPC prevê responsabilização e sansões ao perito judicial que prejudicar uma das partes de um processo em função de erros em seu laudo, sejam eles intencionais ou não. Vejamos o que diz o art. 158 do CPC nesse sentido. [...] Art. 158. O perito que, por dolo ou culpa, prestar informações inverídicas responderá pelos prejuízos que causar à parte e ficará inabilitado para atuar em outras perícias no prazo de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, independentemente das demais sanções previstas em lei, devendo o juiz comunicar o fato ao respectivo órgão de classe para adoção das medidas que entender cabíveis. (BRASIL, 2015) Além da suspensão, o artigo deixa claro que o perito poderá responder pelos prejuízos eventualmente causados pelo seu trabalho falho, independentemente de outras sanções previstas em lei. Isso significa que, por exemplo, se constatado que houve dolo, como a fraude do laudo pericial para favorecer uma parte, fica o perito sujeito a responder criminalmente, com base no art. 171 do Código Penal (BRASIL, 1940), relativo ao crime de estelionato, ou outros artigos e esferas judiciais aplicáveis a depender das infrações cometidas. Essas são as principais referências legais que instituem o perito judicial como auxiliar da justiça e o laudo pericial como prova técnica. A área de segurança do trabalho é rica em oportunidades de atuação: o engenheiro de segurança pode compor o quadro da NR-04 de uma empresa; atuar na área de prevenção de incêndio; especializar-se em higiene ocupacional; empreender na área de consultoria de segurança emitindo laudos, programas e treinamentos; entre tantas outras possibilidades. Há ainda o meio judicial, que absorve o engenheiro de segurança tanto como perito judicial quanto como assistente técnico. 11 3. O perito judicial e o assistente técnico Vamos agora conhecer melhor as figuras do perito judicial e do assistente técnico, entendendo as atribuições e os papéis de cada um deles dentro de um processo judicial. Quando é necessário julgar matéria técnica, o art. 465 do CPC (BRASIL, 2015) determina que o juiz deverá nomear perito especializado no objeto da perícia, e o inciso primeiro desse mesmo artigo prevê algumas ações das partes após a nomeação do perito. A primeira delas é arguir sobre o impedimento ou a suspeição do perito; por exemplo, se o profissional nomeado foi funcionário da empresa ré no processo há menos de cinco anos; se ele é credor ou devedor de uma das partes; se atuou como assistente técnico ou testemunha naquele processo; entre outras possíveis justificativas que comprometam a imparcialidade do perito. Já a segunda ação prevista para as partes após a nomeação do perito judicial é a indicação do assistente técnico, que é um profissional legalmente habilitado, de preferência com as mesmas competências técnicas sobre o objeto da perícia e que irá emitir um parecer técnico acerca dele. No cenário, por exemplo, de uma ação trabalhista de periculosidade, tanto a parte reclamante (funcionário) quanto a parte reclamada (empresa) podem nomear assistentes técnicos, os quais irão acompanhar a perícia e expedir seus pareceres técnicos. Uma vez que a matéria é técnica, no caso da periculosidade, é regulamenta pela NR-16 (BRASIL, 2019), e espera-se que tanto o laudo pericial quanto os pareceres técnicos cheguem às mesmas conclusões. Porém, caso eles divirjam, servirão de contraprova técnica para que a parte que se sentir prejudicada pelo laudo pericial possa questioná-lo. Assim como o juiz é leigo e precisa do laudo pericial como prova para julgar o mérito técnico, os advogados das partes também são leigos e 12 não possuem habilitação legal para contestar a conclusão expedida por um engenheiro. Diante disso, o único meio eficaz para tentar reverter um laudo pericial desfavorável é demonstrando, por meio de uma contraprova igualmente técnica, que há algo de errado na conclusão pericial, o que deve ser observado pelo juiz. O inciso LV do artigo 5º da Constituição Federal (BRASIL, 1988) disciplina que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. O parecer do assistente técnico é, portanto, o meio que as partes possuem para exercer o direito ao contraditório e à ampla defesa, caso se sintam prejudicadas pelo laudo pericial. Tanto o perito judicial quanto o assistente técnico têm as mesmas prerrogativas e podem usar os meios disponíveis para analisar o objeto da perícia, vistoriando dependências do local de trabalho, registrando fotos, realizando medições, ou quaisquer outras ações pertinentes para que cheguem à conclusão necessária. Diante do exposto, o engenheiro de segurança do trabalho pode atuar em um processo como perito judicial ou como assistente técnico das partes. 4. O rito processual O perito judicial pode atuar em todas as esferas judiciais, como a trabalhista, cível, previdenciária e outras, mas, para fins de ilustrar o funcionamento de um processo, usaremos o exemplo da esfera trabalhista. Antes de seguirmos, vale destacar algumas nomenclaturas pelas quais as partes são normalmente denominadas em um processo trabalhista. O empregado que ingressa com uma ação é conhecido como autor ou reclamante; a empresa por ele acionada é a reclamada ou ré; e os advogados das partes também podem ser referidos como patronos. 13 Um trabalhador que entenda eventualmente que estava exposto à insalubridade e/ou periculosidade em seu labor, mas não recebeu o respectivo adicional salarial em função dessa exposição, pode ingressar na justiça para requerer as verbas supostamente devidas. Há regras de prazos para ingresso desse tipo de ação caso o trabalhador já tenha se desligado da empresa, previstas no art. 11 da CLT. [...] Art. 11. A pretensão quanto a créditos resultantes das relações de trabalho prescreve em cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho (BRASIL, 1943). Isso significa que, após o término do pacto laboral, o trabalhador tem até dois anos para ingressar com ação trabalhista pararequerer eventuais direitos; assim, quando passado esse prazo, ele não poderá mais requerê-los judicialmente. Uma vez respeitado o prazo máximo para ingresso com a ação, há ainda a prescrição de cinco anos, ou seja, ainda que o trabalhador tenha laborado 20 anos em uma empresa sem receber o adicional de periculosidade devido, apenas os últimos cinco anos, contados da data de ingresso da ação, serão julgados. Como exemplificação, vamos supor que um empregado trabalhou de 02/01/2010 a 31/12/2020 em uma empresa em que abastecia veículos da frota com óleo diesel sem receber adicional de periculosidade, e ele ingressou com ação apenas em 01/06/2021 para requerer tal direito. Nesse caso, serão avaliadas pelo perito judicial apenas as atividades que ele exerceu de 01/06/2016 até a data do seu desligamento, em função da prescrição quinquenal prevista no art. 11 da CLT (BRASIL, 1943). Ao ingressar com a ação trabalhista, o trabalhador, por meio de seu advogado, apresenta a sua petição inicial, que é uma peça jurídica na qual descreve o contrato de trabalho que manteve com a empresa e apresenta seus pedidos, ou seja, quais direitos ele entende que não lhe foram devidamente honrados pelo empregador citado como réu 14 na ação. A petição inicial geralmente é encerrada com a síntese de todos os pedidos postulados e seus respectivos valores estimados pelo reclamante, como ilustra o recorte de petição inicial apresentado na Figura 1. Figura 1 – Recorte de petição inicial contendo parte dos pleitos Fonte: acervo do autor. A reclamada é notificada pela Vara do Trabalho e as partes são intimadas a comparecer em data e hora predefinidas para a realização da audiência inicial. Nessa audiência, a reclamada apresenta uma peça denominada contestação, na qual se defende das acusações prestadas na petição inicial do reclamante, anexando eventuais provas em sua defesa, como espelhos de ponto, caso, entre outros pedidos, haja alegação de horas extras não honradas pela ré. Ainda na audiência inicial ocorre a tentativa de conciliação, na qual as partes têm a oportunidade de chegar a um acordo. Porém, caso isso não ocorra, registra-se na ata de audiência que a conciliação foi recusada, e, havendo pedido de insalubridade, periculosidade, ou outro que requeira perícia técnica, o Juiz nomeia o perito que conduzirá a vistoria e apresentará o laudo pericial, como ilustra o recorte de ata de audiência apresentado na Figura 2. 15 Figura 2 – Recorte de ata de audiência em que ocorre a nomeação do perito judicial Fonte: acervo do autor. Outro ponto relevante a se dar destaque na ata de audiência é que nela o Juiz determina prazos para as partes arguirem suspeição ou impedimento do perito nomeado, indicarem seus assistentes técnicos e apresentarem os quesitos prévios. Quesitos são perguntas que o perito judicial deverá, obrigatoriamente, responder em seu laudo pericial, de modo a elucidar dúvidas sobre o objeto da perícia. A quesitação está prevista no CPC (BRASIL, 2015), e pode o próprio Juiz, inclusive, formular quesitos, como prevê o art. 470, inciso II, do CPC, em que se lê que incumbe ao Juiz “formular os quesitos que entender necessários ao esclarecimento da causa”. O inciso IV do art. 473 do CPC (BRASIL, 2015) disciplina que o laudo pericial deverá conter “resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público”. As partes podem, ainda, apresentar quesitos suplementares durante a perícia, ferramenta prevista no art. 469 do CPC. 16 [...] Art. 469. As partes poderão apresentar quesitos suplementares durante a diligência, que poderão ser respondidos pelo perito previamente ou na audiência de instrução e julgamento (BRASIL, 2015, art. 469). Os quesitos suplementares são uma ferramenta prevista no CPC para que as partes possam exercer o direito à ampla defesa, uma vez que algum acontecimento durante a diligência pode levar à necessidade de colocação de novos quesitos que não tenham sido previstos na fase da elaboração dos quesitos prévios. Exemplificando, é importante deixar claro que, ao designar uma perícia de periculosidade, compete ao perito avaliar o trabalho do reclamante e compará-lo com todos os anexos da NR 16 (BRASIL, 2019), e não apenas aquele que foi reclamado. Imagine, portanto, que o autor está pedindo periculosidade por entender que realizava atividades com eletricidade, porém, durante a diligência, o perito identifica que havia também o armazenamento de inflamáveis dentro da oficina onde o reclamante laborava e começa a avaliar essa exposição. As partes, nesse caso, podem ter apresentado quesitos prévios exclusivamente focados na atividade com eletricidade, fazendo-se necessária, então, a apresentação de quesitos suplementares durante a diligência. Uma vez realizada a perícia e apresentado o laudo pericial, as partes passam a ter prazo para se manifestar acerca do seu teor. Essa manifestação pode tanto ser favorável, em caso de concordância integral ou parcial, quanto desfavorável, quando é feita uma impugnação, refutando integral ou parcialmente as conclusões do laudo pericial. No caso da impugnação, a parte que se sente prejudicada pela conclusão do laudo faz apontamentos dos pontos de discordância. Ela pode ainda apresentar quesitos complementares, ou seja, novos questionamentos, os quais devem ser respondidos pelo perito judicial, a fim de elucidar pontos de dúvida ou de discordância em relação ao teor do laudo pericial por ele apresentado. 17 Em tese, não há limite para o número de vezes que a parte pode seguir impugnando e apresentando quesitos complementares até que as divergências sejam sanadas, mas não é comum que os juízes permitam que isso ocorra indefinidamente, se, ao seu ver, foi assegurado o direito à ampla defesa e todas as dúvidas estão esclarecidas. Assim, não havendo risco de arguição de cerceamento de defesa, dá-se por encerrada a questão em uma ou duas rodadas de manifestações e impugnações, e as provas técnicas (laudo pericial e pareceres técnicos) são usadas para fundamentar a futura sentença a ser emitida na audiência de instrução. Em geral, assim se desenrola um processo trabalhista de insalubridade e periculosidade, que é o tipo mais comum e recorrente de ação que demanda a atuação do engenheiro de segurança como perito judicial. Porém, não existe apenas essa, havendo outras esferas de atuação possíveis, como a previdenciária, em que segurados tentam comprovar o direito à aposentadoria especial no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social); perícias cíveis envolvendo acidentes de trânsito e acidentes do trabalho; reclamações da comunidade quanto a ruído gerado por atividade industrial; ações cíveis públicas movidas pelo Ministério Público do Trabalho em relação a trabalho análogo ao escravo; entre outras possibilidades. Nesses casos, a matéria pode eventualmente ser mais ou menos complexa, mas o rito processual aqui discutido é exatamente o mesmo, haja visto que ele está previsto e regulamentado no Código de Processo Civil Brasileiro. 5. Conclusão Com base nos conceitos discutidos neste material, você adquiriu noções do que norteia e de como se dá o trabalho do perito judicial. Você viu 18 também as principais leis aplicáveis ao processo judicial, que incluem a atuação do perito e do assistente técnico. Foi discutido ainda, em detalhes, todo o rito processual, desde o ingresso da ação trabalhista, passando pela nomeação do perito judicial, pela apresentação de quesitos e pela realização da perícia, até a entrega do laudo pericial, as manifestações e as impugnações. O objetivo deste material era introduzir conceitos básicos sobre os temas abordados. Caso queira saber mais, uma boa sugestão de pesquisa é a leitura do Código de Processo Civil, disponível na internet. Veja na íntegra os artigos e os itens aqui abordados, a fim de reforçar seus conhecimentos no assunto! Referências BELEZE, CleversonA. Perícia trabalhista e avaliação de desempenho. Londrina: UNOPAR, 2014. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, 1988. BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro: Presidência da República, 1940. BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do trabalho. Rio de Janeiro: Presidência da República, 1943. BRASIL. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília: Presidência da República, 2015. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 16 – Atividades e operações perigosas. Brasília: MTPS, 2019. 19 Diligência, elaboração do laudo, esclarecimentos e impugnação Autoria: Júlio Assis de Freitas Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Objetivos • Apresentar o laudo pericial sob a ótica do Código de Processo Civil (CPC). • Discorrer sobre a metodologia de elaboração de laudo pericial. • Ilustrar um modelo comentado de estrutura para a elaboração de um laudo pericial. 20 1. Introdução A elaboração do laudo pericial segue uma estrutura mínima, que é imposta pelo CPC (Código de Processo Civil Brasileiro) (BRASIL, 2015). Para Beleze (2014), uma vez que a perícia é indispensável no processo para a comprovação de métodos ou procedimentos, existe a necessidade de estabelecer critérios e metodologias para a condução do trabalho pericial e a construção do laudo. Nesse sentido, veremos aqui uma estrutura básica sugerida para a construção de um laudo pericial, comentada tópico a tópico. Por fim, encerraremos com o fluxo de tramitação desde a nomeação do perito, passando pela realização da perícia, elaboração do laudo pericial e a resposta a quesitos, manifestações e impugnações. 2. O CPC e a prova pericial O CPC dita em seu art. 473 algumas informações obrigatórias que devem constar no laudo pericial. [...] Art. 473. O laudo pericial deverá conter: I–a exposição do objeto da perícia; II–a análise técnica ou científica realizada pelo perito; III–a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se originou; IV–resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do Ministério Público. (BRASIL, 2015) 21 O objeto da perícia de que trata o inciso I do art. 473 do CPC é aquilo que o Juiz do caso determinou que o perito apurasse. Essa informação geralmente é encontrada na ata de audiência ou em despachos, quando não ocorre audiência presencial. Nesse documento, o Juiz nomeia o perito que irá conduzir os trabalhos técnicos e indica o que deverá ser avaliado. A Figura 1 exemplifica um trecho de ata de audiência com a exposição do objeto da perícia. Figura 1 – Trecho de despacho com nomeação de perito Fonte: acervo do autor Como se pode observar no trecho destacado em amarelo na Figura 1, o objeto da perícia é a avaliação da insalubridade. O perito nomeado é engenheiro de segurança do trabalho, pois, quando a pauta discutida em um processo judicial é insalubridade, periculosidade ou ambas, apenas o engenheiro de segurança ou o médico do trabalho são os profissionais legalmente habilitados para a realização da perícia técnica, segundo o art. 195 da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). [...] Art.195–A caracterização e a classificação da insalubridade e da periculosidade, segundo as normas do Ministério do Trabalho, far-se- 22 ão através de perícia a cargo de Médico do Trabalho ou Engenheiro do Trabalho, registrados no Ministério do Trabalho (BRASIL, 1943). A periculosidade e a insalubridade estão previstas na Constituição Federal (BRASIL, 1988), mais especificamente no art. 7º, inciso XIII. Entretanto, ela apenas prevê o direito a esses adicionais, deixando a cargo do Legislativo definir as regras em maiores detalhes. A título de curiosidade, o mesmo dispositivo da Constituição Federal prevê também o adicional de penosidade, destinado, em tese, a trabalhadores que realizam atividades desgastantes, como cortadores de cana. Entretanto, o legislador até hoje não regulamentou esse adicional, e, ainda que alguns reclamantes tenham se aventurado em requerê-lo no judiciário, ninguém logrou êxito até hoje pela falta de previsão legal e regulamentação do chamado trabalho penoso. Dessa forma, a análise técnica ou científica de que trata o inciso II do art. 473 do CPC (BRASIL, 2015) é a fundamentação sobre a qual o laudo pericial foi construído. No caso das perícias de insalubridade e periculosidade, que são a vasta maioria das discussões que se dão na esfera trabalhista do judiciário, as técnicas a se empregar na análise da exposição do trabalhador estão previstas na CLT e nas normas regulamentadoras. Veremos a seguir, com os devidos comentários, como a CLT aborda a insalubridade e a periculosidade. [...] Art. 189–Serão consideradas atividades ou operações insalubres aquelas que, por sua natureza, condições ou métodos de trabalho, exponham os empregados a agentes nocivos à saúde, acima dos limites de tolerância fixados em razão da natureza e da intensidade do agente e do tempo de exposição aos seus efeitos. (BRASIL, 1943) [...] Art. 190–O Ministério do Trabalho aprovará o quadro das atividades e operações insalubres e adotará normas sobre os critérios de caracterização da insalubridade, os limites de tolerância aos agentes 23 agressivos, meios de proteção e o tempo máximo de exposição do empregado a esses agentes. (BRASIL, 1943) Os artigos 189 e 190 da CLT (BRASIL, 1943) nos mostram que a relação das atividades insalubres seria descrita pelo então Ministério do Trabalho e Emprego, que foi extinto em 1º de janeiro de 2019 e teve a maioria de suas atribuições, inclusive as relativas à segurança do trabalho, absorvidas pelo Ministério da Economia. [...] Art. 191–A eliminação ou a neutralização da insalubridade ocorrerá: I–com a adoção de medidas que conservem o ambiente de trabalho dentro dos limites de tolerância; II–com a utilização de equipamentos de proteção individual ao trabalhador, que diminuam a intensidade do agente agressivo a limites de tolerância. (BRASIL, 1943) O artigo 191 (BRASIL, 1943) deixa claro que não basta o trabalhador efetuar alguma atividade tida como insalubre à luz das normas regulamentadoras, mas esta deve, ainda, efetivamente expô-lo ao agente insalubre de modo que a sua saúde seja colocada em risco. Logo, caso seja adotada alguma medida de ordem coletiva ou individual que neutralize a exposição ao agente, também é neutralizada a insalubridade, sendo indevido o respectivo adicional salarial. Um exemplo prático disso é o ruído contínuo ou intermitente, que é considerado insalubre segundo o Anexo 01 da NR-15 (BRASIL, 2019a). Segundo esse anexo, para jornadas de 8 horas diárias, é insalubre a exposição a níveis de pressão sonora acima de 85,0 dB(A); entretanto, se a empresa adotar alguma medida de ordem coletiva, como o enclausuramento acústico da fonte do ruído, ou de ordem individual, como a adoção de protetores auriculares adequados ao nível de ruído do ambiente, fica neutralizada a insalubridade nos termos do art. 191 da CLT (BRASIL, 1943). 24 A periculosidade, por sua vez, é descrita pelo artigo 193 da CLT (BRASIL, 1943). Inicialmente era destinada apenas aos trabalhadores que operavam com explosivos e inflamáveis. Porém, ao longo dos anos, outras atividades foram sendo incorporadas ao texto original, incluindo os trabalhadores que as exercem no rol daqueles que têm direito a esse adicional. [...] Art. 193. São consideradas atividades ou operações perigosas, na forma da regulamentação aprovada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, aquelas que, por sua natureza ou métodos de trabalho, impliquem risco acentuado em virtude de exposição permanente do trabalhador a: I–inflamáveis, explosivos ou energia elétrica; II–roubos ou outras espécies de violência físicanas atividades profissionais de segurança pessoal ou patrimonial. [...] § 4o São também consideradas perigosas as atividades de trabalhador em motocicleta. (BRASIL, 1943) Apesar de não estar listado no art. 193 (BRASIL, 1943), a exposição a radiações ionizantes também pode ser considerada perigosa, nos termos do Anexo (*) da NR-16 (BRASIL, 2019b).1 Quanto à indicação do método utilizado de que trata o inciso III do art. 473 do CPC (BRASIL, 2015), no caso das perícias de insalubridade e periculosidade, estas estarão descritas nos anexos da NR-15 (BRASIL, 2019a) e NR-16 (BRASIL, 2019b), respectivamente. O ruído contínuo ou intermitente deverá ser aferido conforme a metodologia descrita no Anexo 01 e o ruído de impacto segundo o Anexo 02 da NR-15 (BRASIL, 2019a); já o calor é medido em IBUTG, conforme descrito no Anexo 03; e assim sucessivamente. Todos esses exemplos têm em comum o fato de serem agentes físicos de avaliação 1 É um anexo sem número mesmo, identificado apenas pelo asterisco entre parênteses, intitulado Anexo (*) – Atividades e operações perigosas com radiações ionizantes ou substâncias radioativas. 25 quantitativa, ou seja, há um limite de tolerância previsto na NR-15 (BRASIL, 2019a). É importante ressaltar que a insalubridade só se configura se o trabalhador exercer atividades exposto a uma intensidade ou concentração maior do que esse limite sem a efetiva proteção. Há outros anexos da NR-15 (BRASIL, 2019a) que são avaliados qualitativamente, ou seja, não é preciso medir para se constatar se há ou não exposição insalubre, basta haver exposição ao agente sem a devida proteção que já fica configurada a insalubridade. O exemplo mais clássico dos agentes qualitativos são os biológicos, afinal não há um nível de exposição seguro a um vírus ou uma bactéria. Enquanto a maioria das pessoas, a longo prazo, só desenvolverá problemas auditivos se ficar exposta a mais de 85,0 dB(A) sem alguma proteção, no caso do agente biológico, basta em teoria uma única exposição, a um único vírus de alguma doença infectocontagiosa, como as hepatites ou o vírus do HIV (Human Immunodeficiency Virus – Vírus da Imunodeficiência Humana), para que haja uma contaminação do trabalhador exposto. Já a periculosidade sempre será enquadrada mediante a inspeção do engenheiro de segurança ou médico do trabalho. Esses profissionais deverão verificar se há ou não atividade perigosa ou operação em áreas de risco previstas nos Anexos da NR-16 (BRASIL, 2019b). Para encerrar a análise dos incisos do art. 473 do CPC (BRASIL, 2015), o de número IV trata da resposta conclusiva a todos os quesitos formulados e apresentados pelas partes interessadas. Podem elaborar quesitos para resposta pelo perito tanto a parte autora ou reclamante quanto a parte ré ou reclamada ou mesmo o próprio Juiz. Quesitos são perguntas que devem ser respondidas pelo perito objetivamente para elucidar dúvidas sobre o objeto da perícia. Por exemplo, imagine que um trabalhador entrou com uma ação contra a empresa em que trabalhou alegando que o local é muito ruidoso. Nesse caso, a empresa ré, ciente de que sempre forneceu protetores 26 auriculares para neutralizar a exposição, pode colocar quesitos como: O perito verificou se no setor de trabalho do reclamante há expressa obrigatoriedade de uso do protetor auricular? Os protetores auriculares fornecidos ao reclamante neutralizam a insalubridade? O inciso IV do art. 473 do CPC (BRASIL, 2015) possui três parágrafos aos quais o perito judicial deve estar atento: [...] § 1º No laudo, o perito deve apresentar sua fundamentação em linguagem simples e com coerência lógica, indicando como alcançou suas conclusões. § 2º É vedado ao perito ultrapassar os limites de sua designação, bem como emitir opiniões pessoais que excedam o exame técnico ou científico do objeto da perícia. § 3º Para o desempenho de sua função, o perito e os assistentes técnicos podem valer-se de todos os meios necessários, ouvindo testemunhas, obtendo informações, solicitando documentos que estejam em poder da parte, de terceiros ou em repartições públicas, bem como instruir o laudo com planilhas, mapas, plantas, desenhos, fotografias ou outros elementos necessários ao esclarecimento do objeto da perícia (BRASIL, 2015). A mensagem dada pelo parágrafo primeiro supracitado é que quem está demandando o laudo pericial é um Juiz de direito e, logo, o resultado desse trabalho deve ser inteligível a ele. O Juiz é uma pessoa com notório saber jurídico, mas depende de auxílio técnico para julgar certas questões que fogem à sua esfera de conhecimento e habilitação profissional. Assim, por mais que a conversão de dose de ruído para decibéis, a escala logarítmica usada para somar dois ou mais níveis de pressão sonora, ou a combinação das temperaturas de bulbo seco, úmido e globo para obtenção do IBUTG (Índice de Bulbo Úmido Termômetro de Globo) sejam conceitos técnicos complexos, mas necessários para a conclusão sobre a insalubridade por ruído ou calor, 27 deve-se tomar o cuidado de apresentar uma conclusão no laudo que seja entendida pelo Juiz e pelos advogados das partes. Já no parágrafo segundo igualmente supracitado, alerta-se sobre um erro que peritos iniciantes incorrem com frequência. Como foi dito, Juízes e advogados são leigos na matéria técnica de insalubridade e periculosidade e, por isso, recorrem a peritos e assistentes técnicos para discutir esses casos. Diante disso, não é incomum que o advogado de um reclamante erre no momento de redigir a petição inicial. Para exemplificar, imagine que um trabalhador procura um advogado para reclamar insalubridade, pois trabalhava em uma fábrica de tintas e solventes e supostamente estaria exposto a agentes químicos. A partir disso, o advogado procurado elabora uma petição inicial requerendo o suposto direito ao adicional de insalubridade não pago pela empresa, e o Juiz do caso determina a realização de uma perícia técnica para apurar a existência da alegada insalubridade. Porém, na diligência, o perito constata que o trabalhador na verdade atuava na área de expedição dessa fábrica de tintas, onde todas as latas e recipientes já estão embalados e lacrados, e apenas movimentava esse material que entrava e saia do depósito de produtos acabados. Logo, ele não estava exposto aos produtos, pois manuseava apenas embalagens fechadas. Caso o perito aponte em seu laudo pericial que o trabalhador não estava exposto à insalubridade por conta da ausência de contato direto com os produtos, movimentando apenas as embalagens fechadas, mas conclua que este teria direito à periculosidade, já que essas embalagens contêm produtos inflamáveis armazenados em recinto fechado, ele estaria incorrendo no descumprimento do parágrafo 2º do inciso IV em comento, ultrapassando os limites de sua designação, que estava restrita à análise da insalubridade. Isso é um problema na medida em que é vedado ao próprio Juiz pelo CPC proferir sentença extra petita ou ultra petita, ou seja, julgar algo que não foi pedido nos autos ou a mais do que aquilo que foi pedido nos autos pela parte autora. 28 Vale destacar, entretanto, que, se o objeto da perícia é insalubridade, todos os anexos da NR-15 podem e devem ser avaliados pelo perito. Assim, ainda que o reclamante, leigo, tenha reclamado apenas de ruído em sua petição inicial, caso o perito constate e enquadre a insalubridade por outro agente, isso não configuraria ato de ultrapassar os limites da designação. Por fim, o parágrafo 3º do inciso IV do art. 473 do CPC (BRASIL, 2015) dá ao perito e aos assistentes técnicos a prerrogativa de valer-se dos meios necessários, desde que lícitos, naturalmente, para realizar seus trabalhos e concluir acerca do objeto da perícia. Com isso, é possível entrevistar testemunhas, solicitar documentos, realizar registros fotográficos, reproduzir plantas, planilhas, mapas, entre outros meios que o profissional julgue pertinentes. 3. Construindoo laudo pericial ou parecer técnico Recapitulando brevemente, o perito judicial é nomeado pelo Juiz, enquanto os assistentes técnicos são nomeados pelas partes. Todos eles têm a atribuição de investigar o objeto da perícia determinado pelo Juízo e concluir, por exemplo, se há ou não direito a adicional de insalubridade ou periculosidade. No caso, o relatório elaborado pelo perito é conhecido como Laudo Pericial e o relatório dos assistentes técnicos é conhecido como Parecer Técnico. Neste item, será apresentada uma estrutura básica de tópicos de um laudo pericial, seguida de comentários sobre o conteúdo a ser inserido em cada um desses tópicos. 29 3.1 Capa Na primeira linha da página do laudo pericial ou parecer técnico, geralmente dirige-se o destinatário do documento com uma frase do tipo: “EXMO. SR. DR. JUIZ DA ‘X’ª VARA DO TRABALHO DE ‘CIDADE – UF’”. Em seguida, destaca-se o número do processo e o nome do reclamante e da reclamada, ou reclamadas caso haja mais de uma empresa no polo passivo. Após os dados do processo, faz-se um breve parágrafo de introdução, com um texto como “Fulano de Tal, engenheiro de segurança do trabalho, registrado no CREA/UF sob n. X, nomeado Perito por Vossa Excelência na Ação supra, tendo efetuado a vistoria e o levantamento das condições de insalubridade e periculosidade, vem mui respeitosamente apresentar Laudo Pericial”. Como se observa aqui, já fica explícito o objeto da perícia que foi avaliado (insalubridade e periculosidade no exemplo), mas poderia ser apenas uma delas, ou ainda outro objeto qualquer, como eventualmente pode ser requerido ao Perito, como a análise das condições ergonômicas do trabalho. 3.2 Introdução Neste item, pode-se, por exemplo, expor os argumentos que o autor traz em sua inicial para fundamentar seu pedido de insalubridade, bem como os argumentos de defesa da empresa reclamada a esse respeito. 3.3 Vistoria Aqui devem ser registrados data da vistoria; hora de início e término; endereço; nome e cargo das pessoas que acompanharam a vistoria pelas partes; nome e cargo dos paradigmas entrevistados; descrição dos ambientes vistoriados, detalhando a área e o tipo de construção, de piso, de cobertura, de ventilação natural e artificial, de iluminação natural e 30 artificial; entre outros dados relevantes sobre a vistoria que o Perito ou o AT (Assistente Técnico) entenda como pertinente registrar. 3.4 Metodologia Neste tópico, discorre-se sobre a metodologia técnico-cientifica utilizada para a elaboração do laudo pericial. No caso de trabalhos relativos à insalubridade e à periculosidade, em geral remete-se à NR-15 (BRASIL, 2019a) e à NR 16 (BRASIL, 2019b), respectivamente. 3.5 Descrição do setor Neste item, o Perito ou o AT pode descrever o setor de trabalho avaliado, informando o que é feito no local; como é feito; quantos trabalhadores o fazem; o maquinário envolvido; as matérias-primas e os insumos utilizados; se há movimentação de cargas manual ou mecanizada; se há e como se dá a circulação de pessoas pelo local, como clientes, fornecedores e visitantes; etc. 3.6 Descrição da função Diferentemente do tópico anterior, que foca em descrever o processo feito no setor como um todo, este tópico foca nas atividades que eram exercidas exclusivamente pelo reclamante. Este talvez seja um dos tópicos mais importantes, pois é a partir dele que se verificam as exposições do empregado. Aqui, o Perito ou o AT deve investigar o que o reclamante fazia. Nesse sentido, é importante descrever nos mínimos detalhes como ele fazia; com que frequência; por quanto tempo; que máquina, equipamento ou ferramenta utilizava; se fazia sozinho ou em mais pessoas. 31 Na eventualidade de o trabalhador, ao longo do período não prescrito, ter exercido mais de uma função, o Perito ou o AT deverá repetir essa análise para cada cargo, uma vez que as exposições insalubres ou perigosas podem ser diferentes. 3.7 Medidas de controle da exposição Neste tópico, o laudo pericial ou parecer técnico deverá refletir se havia medidas de controle que neutralizassem ou eliminassem a insalubridade, como preveem a CLT (BRASIL, 1943) e a NR-15 (BRASIL, 2019a). Essas medidas podem ser um EPC (Equipamento de Proteção Coletiva), como uma capela de manuseio de agentes químicos, que impede a dispersão de vapores e gases no ambiente para evitar que o trabalhador os respire; ou um EPI (Equipamento de Proteção Individual), como o protetor auricular, que protege o sistema auditivo do trabalhador do ruído alto. 3.8 Análise das condições de salubridade Geralmente, os dados que serão apontados no Item 3.5 (Descrição do setor), discutido anteriormente, são obtidos por meio de entrevistas com o reclamante e paradigmas, nome dado a trabalhadores que exercem naquele momento na empresa a mesma função que o reclamante exercia. Nessas entrevistas, o Perito e o AT já têm uma noção de quais agentes deverão avaliar no setor quando forem a loco vistoriar as atividades acontecendo. Por exemplo, se o reclamante e os paradigmas reportarem o uso de uma máquina, certamente será necessário avaliar o ruído; ou, se relatarem que era feita a manutenção de elementos mecânicos de máquinas, há de se investigar o contato com agentes químicos, como graxa e óleo; e assim sucessivamente. Dessa forma, a análise necessária para o preenchimento desse tópico normalmente ocorre no setor de trabalho, com a medição de eventuais agentes quantitativos ou a avaliação de agentes qualitativos aos quais o trabalhador se expunha. 32 A NR-15 (BRASIL, 2019a) possui atualmente 13 anexos vigentes, do número 01 ao 14, tendo sido o Anexo 04 revogado em 23 de novembro de 1990. Dessa forma, dentro desse tópico, todos os anexos da NR-15 pertinentes são detalhados, ou seja, caso o autor estivesse exposto a ruído, o laudo pericial ou parecer técnico apresentará o resultado das medições realizadas; se havia exposição ao calor, idem; se havia exposição a algum agente qualitativo, será descrito como se dava a exposição do autor. 3.9 Análises das condições de periculosidade A NR-16 (BRASIL, 2019b) conta com 06 anexos, do número 01 ao 05 mais o Anexo (*). Como já descrito no tópico anterior, caso a periculosidade seja objeto da perícia, neste tópico serão abordados os anexos pertinentes, descrevendo-se como se dava a exposição do trabalhador nas atividades ou áreas de risco previstas na NR-16 (BRASIL, 2019b). 3.10 Respostas aos quesitos O título deste tópico é autoexplicativo. Aqui o perito judicial deverá responder aos quesitos, como está previsto no art. 473, inciso IV, do CPC (BRASIL, 2015). 3.11 Conclusão Considerando tudo o que foi apurado e reproduzido nos tópicos anteriores, é neste item que o Perito ou AT dirá em linguagem simples, objetiva e fundamentada ao Juiz e aos advogados das partes se o trabalhador faz jus a algum adicional. 3.12 Encerramento Por fim, o Perito fecha o laudo pericial geralmente agradecendo a designação e requerendo que sejam arbitrados os seus honorários. 33 Muitos peritos deixam registrado aqui o valor dos honorários pretendidos, mas isso não significa que eles serão acatados pelo Juiz, que tem certa autonomia para decidir o quanto deve ser pago ao Perito dentro do princípio da razoabilidade. 4. Considerações finais Com base nos conceitos discutidos aqui, você adquiriu noções de como o CPC requer que seja construída a prova pericial. Também lhe foi apresentado um norte em forma de tópicos que devem ser contemplados em um laudo pericial ou parecer técnico. O objetivo deste material era introduzir conceitos básicos sobre os temas abordados. Caso queira saber mais, uma boa sugestão de pesquisa é leitura do Código de Processo Civil e da Consolidação das Leis Trabalhistas, que se encontram disponíveis na internet. Veja na íntegra os artigos e os itens aqui abordados, a fim de reforçar seus conhecimentos nesse assunto! Referências BELEZE, Cleverson A. Perícia trabalhista e avaliação dedesempenho. Londrina: UNOPAR, 2014. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília: Presidência da República, 1988. BRASIL. Decreto-Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Rio de Janeiro: Presidência da República, 1940. BRASIL. Decreto-Lei n. 5.452 de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do trabalho. Rio de Janeiro: Presidência da República, 1943. BRASIL. Lei n. 13.105 de 16 de março de 2015. Código de Processo Civil. Brasília: Presidência da República, 2015. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 15 – Atividades e operações insalubres. Brasília: MTPS, 2019a. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 16 – Atividades e operações perigosas. Brasília: MTPS, 2019b. 34 Cadastro on-line para peritos e conceitos de insalubridade e periculosidade Autoria: Júlio Assis de Freitas Leitura crítica: Joubert Rodrigues dos Santos Júnior Objetivos • Apresentar o sistema eletrônico para cadastro nacional de peritos na Justiça do Trabalho. • Discorrer sobre os documentos necessários para a realização do cadastro na Justiça do Trabalho. • Abordar a plataforma PJe (Processo Judicial eletrônico), na qual sãos acompanhadas as nomeações, apresentados os laudos periciais, entre outras operações. 35 1. Introdução Com a informatização do judiciário, houve significativo ganho de produtividade, uma vez que todas as partes envolvidas em um processo passaram a ter acesso em tempo real às informações que ficam disponibilizadas na nuvem. O perito judicial também foi impactado com a mudança na tecnologia, visto que antigamente era necessário ir pessoalmente à vara de origem da ação trabalhista e retirar o processo físico, que por vezes vinha em vários volumes com seis cadernos ou mais. Porém, enquanto o perito estivesse com o processo, ele ficava indisponível para consultas pelas demais partes, e isso também deixava sobre os ombros do detentor dos autos uma enorme responsabilidade, pois gerava grande transtorno a todos os envolvidos se um processo se extraviasse, o que não era raro. Há histórias, por exemplo, de peritos que tiveram seus carros roubados enquanto transitavam com processos para buscá-los ou devolvê-los na vara de origem. Considerando que a informática e a internet estão difundidas em nosso cotidiano já há algumas décadas, pode-se dizer que a informatização do judiciário demorou a acontecer, uma vez que o Processo Judicial eletrônico (PJe) só entrou em vigor oficialmente em 29 de março de 2010. Porém, hoje em dia o judiciário está operando de forma totalmente digital. Discorreremos neste material sobre as plataformas eletrônicas com as quais o perito judicial tem contato em seu cotidiano, desde o seu cadastro no sistema para que possa atuar na Justiça do Trabalho, até o sistema no qual ele verifica os processos nos quais foi nomeado, insere seu laudo pericial, responde a eventuais impugnações ao laudo, entre outras operações. 36 2. Dados cadastrais Há até pouco tempo o profissional interessado em prestar serviços como perito judicial deveria se dirigir às varas do trabalho nas quais desejasse atuar munido de currículo profissional para entregá-lo pessoalmente ao diretor ou secretário da vara. Porém, a partir do advento da Resolução n. 247/2019 do CSJT (Conselho Superior de Justiça do Trabalho) (BRASIL, 2019a), passou a ser necessário que o profissional que pretende atuar como perito, tradutor ou intérprete esteja previamente cadastrado no sistema AJ-JT (Assistência Judiciária da Justiça do Trabalho). Como definição de seu objetivo, essa resolução descreve o seguinte: [...] Institui, no âmbito da Justiça do Trabalho, o Sistema Eletrônico de Assistência Judiciária AJ/JT, destinado ao cadastro e gerenciamento de peritos, órgãos técnicos ou científicos, tradutores e intérpretes e ao pagamento dos profissionais nos casos dos processos que envolvam assistência judiciária gratuita, e dá outras providências. (BRASIL, 2019a, p. 1) Diante disso, o primeiro passo é o cadastro do profissional que pretende atuar como perito, intérprete ou tradutor no sistema eletrônico, o qual serve de base de dados ao judiciário quando é necessário encontrar auxiliares interessados. 2.1 Dados pessoais Para realizar esse cadastro, o interessado deve pesquisar por “AJ-TJ” na internet, e os primeiros itens dessa pesquisa devem direcionar ao site para cadastro de profissionais, como ilustra a Figura 1. 37 Figura 1 – Tela para log in ou cadastro de novos profissionais Fonte: captura de tela de https://aj.sigeo.jt.jus.br/aj2/loginInternet.jsf. Acesso em: 9 mar. 2022. Ao clicar em cadastrar um novo profissional, o sistema vai ser redirecionado para um termo de compromisso, no qual em apertada síntese o cadastrando declara estar ciente dos termos da Resolução n. 247/2019 do CSJT (BRASIL, 2019a) e se compromete a prestar informações verídicas sob pena da lei. Deve então ser digitado o CPF (Cadastro de Pessoas Físicas) do interessado para que o sistema verifique se a pessoa já possui cadastro, e, estando tudo certo, são acessadas as telas de cadastro – nada diferente do que qualquer internauta já está habituado ao se registrar em qualquer site ou fazer compras na internet. A primeira tela é focada em dados pessoais, como nome, endereço, número de CPF, e-mail, telefone e outros. Deverão ainda nessa tela ser juntados alguns documentos em formado PDF/A.1 O sistema não aceita PDF simples, mas não se preocupe, porque no momento da junção do documento ele próprio oferece uma ferramenta para converter o arquivo para PDF/A. Se, ao tentar anexar o arquivo PDF, aparecer na tela a mensagem “Atenção: Os documentos anexados devem estar no 1 Esse “A” de archive significa que o arquivo PDF não precisa de nenhuma fonte de dados externa para ser lido, pois já possui todas as fontes necessárias arquivadas consigo. 38 formato PDF/A. Clique aqui para convertê-los, caso necessário.”, basta clicar no link da mensagem e o sistema irá abrir a janela da ferramenta de conversão, como ilustra a Figura 2. Figura 2 – Ferramenta de conversão de PDF para PDF/A Fonte: captura de tela de https://aj.sigeo.jt.jus.br/aj2/internet/dadospessoais/ detalhamentodadospessoais.jsf#. Acesso em: 9 mar. 2022. Um dos primeiros documentos necessários já na tela de cadastro de dados pessoais é o CCM (Cadastro de Contribuintes Mobiliários), que é necessário para todos os contribuintes mobiliários da Secretaria da Fazenda do município onde o interessado mantém seu domicílio fiscal. Nesse contexto, contribuintes mobiliários são as pessoas físicas que exercem uma atividade econômica na forma de trabalho pessoal, sem relação de emprego. O interessado deverá pesquisar no seu domicílio fiscal como é feito o CCM localmente; muitas prefeituras já dispõem de plataformas on-line para tanto, enquanto outras ainda realizam o processo de forma presencial na Secretaria da Fazenda. Ao se cadastrar no CCM, o contribuinte passa a pagar uma taxa anual, que nada mais é do que um imposto sobre o lucro presumido que a prefeitura estipula para esses profissionais, ou seja, uma vez que esse perfil de pessoas físicas presta serviços no município, mas pela natureza autônoma de suas atividades não emite notas fiscais de serviço de onde possa ser computado o ISS (Imposto Sobre Serviços), o município estipula um valor de anuidade a ser recolhido presumindo determinado volume de serviços prestados. Esse valor varia para cada município, e 39 alguns, inclusive, como a cidade de São Paulo, isentam os contribuintes do CCM dessa taxa. Logo, o interessado deverá pesquisar também se há e qual será o valor de contribuição para obtenção do CCM. Uma vez de posse do documento, ele deverá ser juntado no sistema AJ- TJ, devidamente convertido para o formato PDF/A, assim como todos os outros documentos que apresentaremos neste material. O interessado também deverá apresentar uma certidão negativa de condenações cíveis por ato de improbidadeadministrativa e inelegibilidade do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), similar ao modelo ilustrado na Figura 3. Figura 3 – Modelo de certidão negativa do CNJ. Fonte: captura de tela de https://www.cnj.jus.br/improbidade_adm/consultar_requerido. php?validar=form. Acesso em: 9 mar. 2022. Para obter a certidão negativa supracitada, o interessado deverá pesquisar por “Cadastro Nacional de Condenações Cíveis por Ato de Improbidade Administrativa e Inelegibilidade” na internet. O primeiro resultado dessa pesquisa deve redirecionar para o sistema de emissão da certidão, no qual deve ser preenchido o formulário ilustrado na Figura 4. 40 Figura 4 – Sistema de emissão da certidão negativa do CNJ Fonte: captura de tela de https://www.cnj.jus.br/improbidade_adm/consultar_requerido. php. Acesso em: 9 mar. 2022. Os demais documentos que devem ser juntados na seção de dados pessoais são uma cópia frente e verso de documento de identificação oficial com foto; comprovante de endereço em nome do interessado emitido há no máximo três meses da data de cadastro; e comprovante da conta corrente bancária individual. É importante destacar que não são aceitas contas conjuntas ou empresariais para o recebimento de honorários periciais, apenas contas de titularidade exclusiva do CPF do interessado. Após inserir todos os anexos, deve-se clicar em “enviar para validar”. No rodapé da página de cadastro, há uma tabela com todos os documentos juntados e uma coluna chamada “situação”, que ficará como “pendente” até que os documentos sejam validados por servidores da área responsável dentro do órgão judicial responsável. Caso a situação se altere para “pendência”, significa que há algo a ser corrigido, e o profissional poderá verificar no histórico qual mensagem foi deixada, como “documento ilegível”, para providenciar a correção necessária. 41 Por fim, quando a coluna de situação registar “validado”, significa que o documento foi devidamente aprovado. 2.2 Dados profissionais No menu à esquerda do sistema, há o item seguinte para inserção de “dados profissionais”, no qual basicamente será apresentado um currículo do interessado. Aqui é possível cadastrar mais de uma habilitação, isto é, o profissional pode, por exemplo, inserir uma linha para engenheiro de segurança do trabalho, o que o habilita a atuar em perícias de insalubridade, periculosidade e afins, e outra linha para fisioterapeuta, supondo que ele também tenha essa formação, o que o habilitaria também a atuar em perícias de vistorias ergonômicas. Nessa tela de cadastro, deve ser selecionada a categoria (perito, tradutor ou intérprete); a profissão base (engenharia, medicina, química etc.); a especialização (engenheiro civil e segurança do trabalho, por exemplo); as cidades onde o profissional tem interesse em atuar, podendo ser selecionadas tantas quantas desejar; o órgão de classe ao qual o profissional é filiado, seguido da unidade federativa, do número de registro e da data de expedição do registro; e um minicurrículo de até 2000 caracteres. Nessa aba de dados profissionais, também devem ser inseridos os seguintes documentos: certificados de conclusão da graduação (ex.: eng. civil) e da especialização (ex.: eng. segurança do trabalho) referentes à habilitação profissional que está sendo cadastrada; cópia frente e verso da carteira de registro no órgão de classe; e certidão de quitação de débitos no órgão de classe. 2.3 Dados bancários e outros Esta aba é um cadastro muito simples e rápido, bastando informar os números do banco, a agência e a conta corrente individual, atrelada ao CPF do interessado. O sistema disponibiliza ainda algumas ferramentas 42 úteis para quando o profissional já estiver com seu cadastro devidamente validado e exercendo a atividade pericial. Nas abas de dados do INSS (Instituto Nacional de Seguro Social) e do ISS (Imposto Sobre Serviços), o profissional pode inserir comprovantes de recolhimento previdenciário e de recolhimento de ISS. Caso não o faça, esses encargos terão suas alíquotas máximas descontadas no momento do pagamento de honorários. Há também abas para consultar as nomeações nas quais o profissional foi indicado como perito e os pagamentos de honorários realizados e pendentes. Uma vez realizados todos esses cadastros e juntados todos os documentos solicitados, o interessado deve acompanhar o processo no sistema até que seja todo validado. O eventual surgimento de pendências pode ser verificado no menu “pendências do sistema”, as quais podem ser, por exemplo, a não aprovação de algum dos documentos; nesse caso, o validador deixará ao interessado uma mensagem descrevendo o problema a ser corrigido. 3. Processo Judicial eletrônico (PJe) Uma vez que o profissional já esteja devidamente cadastrado e validado no sistema AJ-JT, ele está apto a ser nomeado para atuar como perito judicial na esfera trabalhista nas cidades em que ele informou interesse durante o cadastro. Agora é necessário acessar o sistema PJe para acompanhar as nomeações; abrir os processos em que foi nomeado para ter acesso às informações neles contidas; inserir laudos periciais concluídos; responder a eventuais impugnações ou quesitos complementares apresentados pelas partes; entre outros movimentos que competem ao perito dentro do sistema. 43 Para tanto, o primeiro passo é obter uma assinatura digital, conhecida como e-CPF (Cadastro de Pessoa Física eletrônico), o que pode ser feito com uma certificadora credenciada. A busca por “e-CPF” na internet irá retornar várias alternativas de empresas que prestam esse serviço. O usuário poderá optar pelo certificado do tipo A1, que é instalado no computador e permite a assinatura digital de documentos apenas a partir desse aparelho, ou do tipo A3, que fica armazenado em uma mídia externa, como um cartão ou um token, e pode ser usado em qualquer computador em que o usuário conectar essas mídias. Todas as pessoas que inserem documentos em um processo, como advogados, peritos, tradutores e intérpretes, devem ter obrigatoriamente essas assinaturas digitais, pois são elas que asseguram que um documento está de fato sendo apresentado por aquela pessoa, ampliando o nível de segurança da informação do sistema eletrônico da justiça. De posse da assinatura eletrônica devidamente instalada no seu dispositivo de acesso ao sistema, o usuário deve ingressar no site do PJe e selecionar o TRT (Tribunal Regional do Trabalho) onde atua, conforme tela ilustrada na Figura 5. Figura 5 – Tela de seleção do TRT no sistema PJe Fonte: captura de tela de endereço http://www.pje.jus.br/navegador/. Acesso em: 9 mar. 2022. 44 Ao se selecionar o TRT desejado, o usuário será redirecionado para uma tela em que efetivamente realizará o log in no sistema, como ilustra a Figura 6. Aqui trazemos como exemplo o acesso ao TRT2, que é responsável pela região metropolitana de São Paulo. Figura 6 – Tela de log in no PJe Fonte: captura de tela de https://pje.trt2.jus.br/primeirograu/login.seam. Acesso em: 9 mar. 2022. Como se observa na Figura 6, há a opção para ingressar no sistema por meio da assinatura digital do usuário ou por meio do log in com CPF e senha. Aqui a diferença é que, se acessar o sistema por meio do CPF/ senha, o usuário só terá acesso à leitura de processos, isto é, não poderá juntar documentos, o que só é permitido ao usuário que ingressou com sua assinatura, pois, ao juntar um documento no processo, ele automaticamente o assina digitalmente. Feito o acesso, o sistema irá direto ao painel do perito, no qual estarão acessíveis todos os processos nos quais ele está atuando ou foi nomeado para atuar, como ilustrado na Figura 7. 45 Figura 7 – Painel do perito no PJe Fonte: captura de tela de https://pje.trt2.jus.br/pjekz/perito/atalhos-perito. Acesso em: 9 mar. 2022. Ao acessar esse painel, o perito judicial aceita ou declina uma nova perícia por meio do item “Novas designações”. Uma vez aceita, ela passaa contabilizar no grupo “Aguardando laudo”. Quando agendada e realizada a perícia, o profissional acessa o respectivo processo e junta o laudo, e esse item passa então a contabilizar no grupo “Laudo juntado”. Após a análise do laudo apresentado pelas partes e caso elas discordem de seu teor, podem apresentar impugnação e quesitos complementares a serem respondidos. Vale lembrar que, segundo Beleze (2014), quesitos são questões das partes que devem ser respondidas com clareza e embasamento técnico. Assim, o item passa a contabilizar no grupo “Aguardando esclarecimentos” e, após todas as discussões, entra no grupo das perícias “Finalizadas”. Por sua vez, o grupo “Arquivadas” se destina às perícias que não foram realizadas em função de sua dispensa pelo Juízo, como no caso de acordo entre as partes antes da realização da perícia, tornando-a desnecessária. 4. Conceitos de insalubridade e periculosidade A maior demanda com a qual o engenheiro de segurança do trabalho se depara em sua rotina como assistente técnico ou perito judicial é a 46 perícia de insalubridade, periculosidade ou ambas; logo, as respectivas normas devem ser dominadas pelo profissional profundamente. A insalubridade, por exemplo, pode ser avaliada de três maneiras distintas, como prevê a própria NR 15: 15.1 São consideradas atividades ou operações insalubres as que se desenvolvem: 15.1.1 Acima dos limites de tolerância previstos nos Anexos n.º 1, 2, 3, 5, 11 e 12; 15.1.3 Nas atividades mencionadas nos Anexos n.º 6, 13 e 14; 15.1.4 Comprovadas através de laudo de inspeção do local de trabalho, constantes dos Anexos n.º 7, 8, 9 e 10. (BRASIL, 2019b) Para as atividades previstas no Item 15.1.1 supracitado, as avaliações devem ser quantitativas, ou seja, deve ser realizada uma medição da concentração do agente no ambiente, de modo que se possa comparar com o limite de tolerância, a fim de que então se enquadre ou não a insalubridade. Já nas atividades previstas nos itens 15.1.3 e 15.1.4, a análise se dá de forma qualitativa, ou seja, não se faz necessária a medição do agente, bastando constatar que ocorre a atividade prevista nesses anexos para que se enquadre a insalubridade. Em todo caso, deve-se ainda avaliar se a exposição insalubre não foi neutralizada por medidas de ordem coletiva ou individual, como prevê o item 15.4.1 da NR 15 (BRASIL, 2019b). Já no caso da periculosidade, conceitos como exposição permanente/ habitual e intermitente/eventual são importantes para se concluir se dada atividade enseja o direito ao adicional ao trabalhador exposto. De qualquer forma, a mensagem final é: o título de Perito não é em vão, visto que o profissional deve ter alto nível de domínio dos conceitos técnicos que englobam a área na qual pretende atuar, a fim de ser capaz de produzir um laudo bem fundamentado na legislação. 47 5. Conclusão Com base nos conceitos discutidos aqui, você adquiriu noções de como um profissional interessado se cadastra no sistema AJ-JT para atuar como perito judicial e procede para operar o sistema PJe após já estar devidamente cadastrado e atuando como perito. O objetivo deste material era introduzir conceitos básicos sobre os temas abordados. Caso queira saber mais, uma boa sugestão de pesquisa é a leitura do manual disponível no site dos TRTs. Para isso, basta pesquisar por Manual do usuário externo AJ-TJ na internet ou usar o link disponível nas referências ao final. Referências BELEZE, Cleverson A. Perícia trabalhista e avaliação de desempenho. Londrina: UNOPAR, 2014. BRASIL. Conselho Superior da Justiça do Trabalho (Brasil). Resolução n. 247, de 25 de outubro de 2019. Institui, no âmbito da Justiça do Trabalho, o Sistema Eletrônico de Assistência Judiciária AJ/JT [...]. Brasília: CSJT, 2019a. BRASIL. Ministério do Trabalho e Previdência. NR 15 – Atividades e operações insalubres. Brasília: MTPS, 2019b. TRT. Tribunal Regional do Trabalho (Brasil). Manual do usuário externo. [s.d.]. Disponível em: https://ww2.trt2.jus.br/fileadmin/servicos/peritos/Manual_Usuario_ Externo.pdf. Acesso em: 9 mar. 2022. https://ww2.trt2.jus.br/fileadmin/servicos/peritos/Manual_Usuario_Externo.pdf https://ww2.trt2.jus.br/fileadmin/servicos/peritos/Manual_Usuario_Externo.pdf BONS ESTUDOS! Sumário A perícia judicial e o papel do engenheiro de segurança Objetivos 1. Introdução 2. Dispositivos legais que regulam a perícia técnica 3. O perito judicial e o assistente técnico 4. O rito processual 5. Conclusão Referências Diligência, elaboração do laudo, esclarecimentos e impugnação Objetivos 1. Introdução 2. O CPC e a prova pericial 3. Construindo o laudo pericial ou parecer técnico 4. Considerações finais Referências Cadastro on-line para peritos e conceitos de insalubridade e periculosidade Objetivos 1. Introdução 2. Dados cadastrais 3. Processo Judicial eletrônico (PJe) 4. Conceitos de insalubridade e periculosidade 5. Conclusão Referências
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