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Hipertensão arterial secundária Definição e Epidemiologia ● Hipertensão arterial secundária (HAsec): aumento de PA decorrente de uma causa identificável que pode ser tratada com uma intervenção específica, a qual determina cura da hipertensão ou melhora do controle da PA.¹ ● A hipertensão secundária é frequentemente uma hipertensão resistente, para a qual é difícil atingir uma pressão arterial alvo com o tratamento padrão. ● Prevalência estimada: entre 10 e 20%.¹ ● Sua prevalência varia com a idade e é mais prevalente nos extremos de idade.² ● Responde por 70 a 85 % dos casos de hipertensão em crianças < 12 anos e aproximadamente 17% dos casos em adultos com 65 anos ou mais.² ● Doenças do parênquima renal➝ responsáveis pela hipertensão secundária em 3-5% das pessoas diagnosticadas com hipertensão.² ● Aldosteronismo primário ➝ principal distúrbio endócrino que leva à hipertensão secundária e é encontrado em até 5% dos pacientes com hipertensão.² ● A hipertensão renovascular representa 1% dos pacientes com hipertensão e tem distribuição etária bimodal.² ● A HAsec deve ser investigada diante de indícios (história clínica, exame físico ou exames de rotina) que levem à sua suspeita clínica.¹ Suas principais manifestações são: Indícios de hipertensão arterial secundária Hipertensão estágio 3, com lesões em órgãos-alvo, antes dos 30 anos ou após os 55 anos Hipertensão resistente ou refratária Piora da função renal após tratamento com bloqueadores do sistema renina-angiotensina Hipopotassemia espontânea ou severa induzida por diuréticos (< 3,0 mEq/L) Presença de sopros em territórios arteriais ou massas abdominais Tríade do feocromocitoma: crises de palpitações, sudorese e cefaleia Fácies típica ou biótipo de doenças que cursam com hipertensão arterial Assimetria ou ausência de pulsos em membros inferiores Exame de urina anormal (hematúria glomerular – dismórfica – ou presença de albuminúria/proteinúria), diminuição do RFG estimado, aumento de creatinina sérica, ou alterações de imagem renal Utilização de hormônios exógenos, fármacos ou drogas que possam elevar a pressão arterial Indícios de apneia obstrutiva do sono (Tabela extraída da referência 1) Medicina 8º semestre Etiologias ● As principais causas de HAsec podem ser agrupadas em três grupos¹: ○ Causas não endócrinas¹; ○ Causas endócrinas¹; ○ Por uso de hormônios exógenos ou de medicamentos, drogas e substâncias exógenas¹. (Tabela extraída da referência 1) ● A tabela abaixo mostra achados sugestivos dos principais tipos de hipertensão secundária e testes necessários para seu diagnóstico diferencial.³ (Tabela extraída da referência 3) 2 Medicina 8º semestre Hipertensão arterial secundária de causas não endócrinas Doença Renal Crônica ● Definição: ○ DRC ➝ presença de alteração estrutural com diminuição irreversível da função glomerular e tubular, assim como da função renal endócrina, presentes por um tempo superior a 3 meses.¹ Alteração estrutural ➝ alterações no exame de urina, especialmente albuminúria, (30 mg/24 h ou razão albuminuria/creatininúria > 30 mg/g) e/ou na morfologia renal.¹ + Alteração funcional ➝ redução do ritmo de filtração glomerular estimado (RFG-e) < 60 mL/min.¹ ● Epidemiologia ○ A HA aumenta progressivamente de acordo com o declínio da função renal ➝ acomete 90% dos pacientes em estágio 5 de DRC.¹ ○ As causas mais comuns de DRC são: ■ Nefropatia diabética (30 a 40%), nefropatia hipertensiva (20%) e glomerulonefrite (15%).¹ ○ A prevalência global de DRC nos cinco estágios de gravidade é estimada em 13,4%, sendo o estágio 3 o mais prevalente.¹ ○ O envelhecimento da população provoca um aumento proporcional da prevalência de DRC (risco de 42% a partir dos 65 anos).¹ ● Fisiopatologia: ○ Redução da função renal➝ retenção de sódio, ativação do SRAA, aumento da atividade do sistema nervoso simpático e elevação das catecolaminas plasmáticas.¹ ○ O sódio pode ter um efeito direto sobre a vasculatura, acelerando a arteriosclerose e diminuindo a resposta vascular à medicação.¹ ● Diagnóstico: ○ É estabelecido com ➝ creatinina sérica, acompanhada do cálculo do RFG estimado (RFGe) e exame de urina.¹ ○ Rastreamento complementar ➝ ultrassonografia renal, TC ou RNM podem ser necessárias.¹ ○ Se declínio rápido do RFGe ou presença de hematúria glomerular e/ou proteinúria/albuminuria➝ biópsia renal.¹ ○ Classificação do estágio de DRC (KDIGO5)¹: 3 Medicina 8º semestre ● Tratamento: ○ Terapia anti-hipertensiva é necessária para maioria dos pacientes com DRC. ○ O alcance do alvo terapêutico (PA < 130/80 mmHg) é menor quanto maior o estágio da DRC. Doença renovascular ● Definição: ○ Doença renovascular (DRV) é o termo usado para definir o acometimento das artérias renais (estenose de artéria renal).¹ ○ Sua principal causa é a aterosclerose em pacientes de meia-idade e idosos e a displasia fibromuscular em pacientes mais jovens.³ Ob�.: O que é displasia fibromuscular? ● É uma doença idiopática, segmentar, estenosante, não aterosclerótica e não inflamatória da musculatura das artérias pequenas e médias.¹ ● O fenótipo clínico foi estendido também à dissecção arterial, aneurisma e tortuosidade, desde que associado à presença de pelo menos uma lesão estenótica. ● Aproximadamente 80% a 90% dos pacientes acometidos são do sexo feminino.¹ ● O Doppler de artérias renais é o exame preconizado de rastreamento. A angiografia das artérias renais é o padrão-ouro para a identificação da lesão na artéria renal.¹ ● Se apresenta de forma semelhante a um “colar de contas”.¹ ● Epidemiologia: ○ Corresponde a 1 a 2% de todos os casos de hipertensão na população em geral.¹ ○ Sua prevalência pode chegar a 6,8% na população com idade > 65 anos e 5,8% nos casos de hipertensão secundária em adultos jovens.¹ ○ Causas menos frequentes de EAR incluem trauma renal, oclusão de artéria renal por dissecção, trombose, embolia e vasculite inflamatória (ex.: arterite de Takayasu).¹ ● Fisiopatologia: 4 Medicina 8º semestre ○ Estenose da artéria renal ➝ ↓ das pressões de perfusão renal no rim ipsilateral + ativação do SRAA➝ liberação de peptídeos vasoativos. ○ Participação do sistema simpático e ↑ da atividade inflamatória (TGF-β, MCP-1, NGA, linfócitos T e macrófagos no parênquima renal).¹ ○ O rim contralateral sofre hiperperfusão e hiperfiltração glomerular. ○ Exposição prolongada à ativação do SRAA e hipertensão ➝ glomeruloesclerose segmentar focal secundária no rim normal.¹ ● Diagnóstico: ○ Pesquisa de indicadores clínicos:¹ (Tabela extraída da referência 1) ○ Principaismétodos de avaliação para detecção da DRV: ■ Doppler de artérias renais: indicada para rastreamento de estenoses significativas (≥ 70%).¹ ■ Cintilografia renal: baixa sensibilidade e especificidade em pacientes com estenose bilateral e função renal comprometida.¹ ■ Angiotomografia e ressonância nuclear magnética: angiografia de artérias renais é o padrão-ouro para o diagnóstico de EAR.¹ (Fluxograma extraído da referência 3) ● Tratamento: 5 Medicina 8º semestre ○ Controle pressórico adequado + proteção da função renal.¹ ○ Duas possibilidades terapêuticas: clínica (anti-hipertensivos) ou intervencionista (cirúrgico ou percutâneo, com ou sem implante de próteses vasculares – stents).¹ ○ Terapia intervencionista: está recomendada para os pacientes com HAR ou HA acelerada com perda progressiva da função renal, estenose bilateral ou com estenose em rim “único” e graves complicações (insuficiência cardíaca congestiva e edema agudo de pulmão de repetição).¹ ○ Estatina e terapia antiplaquetária estão indicadas pós-intervenção.¹ Coarctação de aorta ● Definição: ○ É uma alteração congênita que leva à constrição da aorta geralmente justaductal, proximal ou distal ao canal arterial.¹ ○ A manifestação hipertensiva depende da localização e severidade da coarctação, bem como da presença de outras malformações cardíacas que modificam seu prognóstico.¹ ● Diagnóstico: ○ Suspeita clínica: HA resistente ou refratária, epistaxes, cefaleia,fraqueza nas pernas aos esforços, manifestações de IC, angina, dissecção da aorta ou hemorragia cerebral e confirmação de elevação da PA em MMSS (PAS > 10 mmHg na artéria braquial em relação à artéria poplítea), ausência ou diminuição dos pulsos em MMII, sopro sistólico interescapular e no dorso do tórax.¹ ○ Requer presença de gradiente de pressão pré e pós-coarctação > 20 mmHg.¹ ○ Exames de imagem: ■ Radiografia do tórax: aorta torácica com dilatações pré e pós-estenose, corrosão de costelas;¹ ■ Ecocardiograma: principal exame de rastreio;¹ ■ Angiotomografia ou angiorressonância: quando a janela acústica for inadequada. A angiorressonância é considerada o padrão-ouro para avaliação e acompanhamento pós-intervenção;¹ ■ Angiografia: quando as imagens de outros métodos não conseguem visualizar a coarctação, e em indivíduos mais velhos que podem ter DAC.¹ ● Tratamento: ○ Clínico: anti-hipertensivos de escolha tanto para o período pré-operatório quanto para a PA residual após a cirurgia são os BB e os IECA ou BRA.¹ ○ Intervencionista: angioplastia, implante de endoprótese vascular ou cirurgia aberta.¹ Apneia obstrutiva do sono ● Definição: 6 Medicina 8º semestre ■ É a cessação intermitente do fluxo das vias aéreas durante o sono, resultando em obstrução total e pausas respiratórias superiores a 10 segundos (apneia) ou obstrução parcial do fluxo aéreo superior a 50% (hipopneia).¹ ■ É acompanhada de quedas cíclicas da saturação de oxigênio (hipóxia intermitente), hipercapnia (usualmente discreta), microdespertares e fragmentação do sono.¹ ■ Gera ↑ do esforço respiratório, ↓ da pressão intratorácica e ↑ da pressão transmural do ventrículo esquerdo.¹ ○ Sua prevalência é de 9,6% das mulheres e 24,8% dos homens.¹ ○ A prevalência de AOS é 2 a 3 vezes maior nos homens que nas mulheres, mas aumenta entre as mulheres após a menopausa.¹ ● Fisiopatologia: ○ A presença de AOS em pacientes com HAR foi associada a um ↑ da retenção de líquidos, edema das vias aéreas superiores, associados a excesso de aldosterona e alta ingestão de sódio presentes em pacientes HAR.¹ ○ Esse efeito é atenuado pela intensificação da terapia diurética, incluindo o uso de espironolactona.¹ ● Diagnóstico: ○ Suspeita clínica: Ronco alto, cansaço, sonolência diurna, redução da capacidade de concentração, obesidade, circunferência do pescoço aumentada, insuficiência cardíaca e sinais de hipertensão pulmonar¹. ○ Polissonografia: exame diagnóstico, que registra os índices de apneia/hipopneia.¹ ● Tratamento: ○ Tratamento de escolha: CPAP (continuous positive airway pressure).¹ ○ Outros tratamentos: avanço mandibular, exercícios orofaríngeos, terapia posicional e cirurgias são opções para casos menos graves e selecionados.¹ ○ O impacto do tratamento da AOS sobre a PA é discreto, redução de 2 a 3 mmHg da PA.¹ ○ O tratamento farmacológico da HA não melhora a gravidade e sintomas relacionados à AOS.¹ Hipertensão arterial secundária de causas endócrinas Hiperaldosteronismo Primário ● Definição: ○ É a principal causa de hipertensão arterial sistêmica (HAS) secundária.4 ○ Caracteriza-se pela secreção autônoma de aldosterona (independente da angiotensina e dos níveis de potássio) e não supressível por sobrecarga de sódio.4 7 Medicina 8º semestre ○ Excesso de aldosterona ➝ retenção renal de sódio e água, expansão do volume do líquido extracelular ➝ supressão da atividade plasmática de renina (APR) e hipocalemia com alcalose metabólica.4 ○ Em níveis elevados, a aldosterona tem efeito no estresse oxidativo, ↑ o risco cardiovascular e a morbimortalidade.4 ● Epidemiologia: ○ 8 a 10% dos hipertensos em geral e em até 20% daqueles com hipertensão resistente.4 ○ Principais etiologias: adenoma produtor de aldosterona (APA) e a hiperplasia adrenal bilateral (HAB).4 ○ Juntas, correspondem a 95% dos casos, sendo a HAB mais prevalente (cerca de 60% dos casos).4 ○ Carcinomas (infrequentes) também podem ser responsáveis.¹ ○ Na última década, estudos genéticos propiciaram a descoberta de 4 formas familiares de HAP, as quais acometem indivíduos mais jovens.4 ● Fisiopatologia: ○ A aldosterona é um hormônio esteroide, sintetizado na zona glomerulosa do córtex adrenal.4 ○ Ela age no receptor mineralocorticoide (RMC).4 ○ Ação principal da aldosterona: promover em tecidos epiteliais a reabsorção de sódio e a secreção de potássio e hidrogênio.4 ○ Efeitos cardíacos: mediados por citocinas pró-inflamatórias e pró-fibróticas➝ inflamação e proliferação celular ➝ hipertrofia, fibrose miocárdica e alteração de ritmo cardíaco.4 ○ Tônus vascular e função endotelial: ↓ da recaptação de catecolaminas, ↓ da resposta vasodilatadora da acetilcolina e sensibilização dos receptores beta-adrenérgicos e de angiotensina, ↑ produção local de vasoconstritores, como prostaciclina e endotelina, e reduz a biodisponibilidade do óxido nítrico.4 ○ Metabolismo ósseo: ↑da excreção renal (segmento distal do néfron) e fecal de cálcio e magnésio, aumento na secreção de paratormônio (PTH). Os pacientes apresentam maior tendência à nefrolitíase e baixa densidade óssea, principalmente em tíbia e fêmur.4 ● Quadro Clínico e Diagnóstico: ○ Manifestações clínicas: ■ Paciente típico: hipertensão (Regra! Pode ser grave e refratária.), hipocalemia, alcalose metabólica e supressão de renina, sem edema periférico.4 ■ Hipocalemia ➝ manifestações inespecíficas, como fadiga, indisposição, cãibras, fraqueza muscular e parestesias.4 ■ Hipocalemia mais acentuada ➝ polidipsia, poliúria, nictúria (por diabetes insípido nefrogênico, e mesmo diabetes melito), paralisia periódica hipocalêmica, sinais de Chvostek e/ou Trousseau positivos e arritmias cardíacas graves, quadriparesia e rabdomiólise.4 8 Medicina 8º semestre ■ Alcalose metabólica➝ secundariamente à cossecreção de hidrogênio pelo túbulo renal.4 ■ Edema periférico é incomum no HAP (ação do peptídeo atrial natriurético a partir de certo nível de retenção).4 ■ Tolerância diminuída à glicose ou diabetes manifesto ➝ efeito da hipocalemia sobre a sensibilidade à insulina e sua secreção e pela ação da aldosterona sobre as células beta pancreáticas (multifatorial).4 ○ Rastreamento: ■ Rastrear em:4 (Tabela extraída da referência 4) ■ Avaliação da relação aldosterona:renina.4 ■ A RAR é mais sensível quando realizada no meio da manhã e após um período de repouso sentado de 5 a 10 minutos; o paciente deve estar recebendo dieta sem restrição de sal e estar repleto em potássio, visto que a hipocalemia inibe a secreção de aldosterona.4 ■ RAR ≥ 100 ➝ diagnóstico da aldosteronismo; valores < 20 a 30 indicam baixa probabilidade; e valores entre esses extremos detectam “potenciais portadores” dessa condição.¹ ■ A RAR é influenciada por algumas condições e medicamentos (ex.: betabloqueadores, diuréticos, AINE, IECA, BCC, agonistas α2-adrenérgicos de ação central, inibidores da renina) que devem ser suspensos por 4 a 6 semanas antes do rastreamento.4 ○ Testes confirmatórios: ■ Pacientes com hipocalemia espontânea, atividade plasmática de renina indetectável (APR) e aldosterona > 20 ng/dℓ ➝ não necessitam de testes adicionais.4 ■ Pacientes com RAR elevada, APR suprimida e aldosterona > 30 ng/dℓ➝ dispensados de testes confirmatórios.4 9 Medicina 8º semestre ○ Exames de imagem: ■ Tomografia computadorizada: Recomenda-se que todo paciente com HAP realize TC adrenal como avaliação inicial dos subtipos e para a exclusão de grandes massas que podem representar carcinoma adrenocortical. Na HAB, as adrenais apresentam-se de tamanho normal ou aumentadas bilateralmente.4 ■ Ressonância magnética: No geral, a ressonância magnética de adrenais não oferece vantagens adicionais.4 ■ Cintilografia de adrenais: podem ser úteis na detecção dos adenomas, podendo diferenciá-los das hiperplasias nodulares em até 90% dos casos.¹ ■ Cateterismo de veias adrenais com coleta sanguínea simultânea de aldosterona e cortisol: identifica a origem da secreção de aldosterona, sendo considerado o exame de maior acurácia na diferenciação dos diferentessubtipos de AP. Também está indicado sempre que os exames de imagem forem inconclusivos ou discordantes.¹ ● Tratamento ○ Tratamento cirurgíco: tratamento habitualmente indicado aos pacientes com Adenoma produtor de aldosterona (APA) e naqueles com hiperplasia adrenal primária (HAPr) ou outras variantes de HAP unilateral.4 ■ Adrenalectomia videolaparoscópica: opção cirúrgica de escolha para APA.4 10 Medicina 8º semestre ■ Ablação percutânea por radiofrequência no adenoma produtor de aldosterona: alternativa para o tratamento de massas adrenais benignas e malignas.4 ○ Tratamento clinico: casos de HAB e de hiperaldosteronismo supressível com dexametasona.4 ■ Espironolactona: opção de escolha que, em doses de 50 a 200 mg/dia (tomados 1 ou 2 vezes/dia), reduz substancialmente a PA e normaliza os níveis de potássio desses pacientes.4 ■ Eplerenona (Inspra): se intolerância à espironolactona, em doses de 100 a 300 mg/dia.4 ■ Dexametasona: nos casos de hiperaldosteronismo supressível com dexametasona, na dose de 0,5 a 1 mg/dia, iniciando com a dose de 0,25 mg (para supressão da secreção hipofisária de ACTH no HF-I). A adição de amilorida ou espironolactona ao tratamento a longo prazo para melhor controle da PA.4 ○ Tratamento do carcinoma adrenal produtor de aldosterona: ■ Cirurgia é o tratamento de escolha.4 ■ Quimioterápicos podem ser utilizados, como o mitotano e a cisplatina adjuvante.4 ■ A espironolactona pode ser utilizada como paliativo no controle das manifestações de hipertensão e hipocalemia.4 (Fluxograma extraído da referência 4) Feocromocitoma ● Definição: ○ Paraganglioma (PGL): tumor neuroendócrino raro com origem no sistema nervoso autônomo simpático ou parassimpático.4 11 Medicina 8º semestre ○ Feocromocitoma (FEO): é um subtipo de PGL simpático com origem nas células cromafins da medula adrenal, que corresponde a 80 a 85% dos casos.4 ● Epidemiologia: ○ Prevalência estimada entre 1:6.500 e 1:2.500.4 ○ Incidência de 500 a 1.600 casos novos por ano.4 ○ Podem surgir em qualquer faixa etária, com maior ocorrência seja entre 40 e 50 anos.4 ○ Acometimento semelhante em ambos os sexos em adultos.4 ○ Entre adultos e crianças, aproximadamente 90% e 70% dos tumores adrenais são unilaterais, respectivamente.4 ○ PGL familiares: ocorrem de modo isolado ou como parte de distúrbios genéticos, como a síndrome de neoplasia endócrina múltipla tipo 2, a doença de von Hippel-Lindau, a neurofibromatose tipo 1 e as síndromes familiares de PGL.4 ● Fisiopatologia: ○ Os pequenos tumores intra-adrenais secretam predominantemente epinefrina → sintomas de hipermetabolismo e intolerância à glicose.4 ○ Tumores maiores produzem mais norepinefrina.4 ○ Tumores produtores apenas de dopamina são muito raros e podem cursar com manifestações atípicas, como hipotensão, taquicardia e poliúria.4 ○ Os FEO podem secretar uma grande variedade de peptídeos ativos: Substância Ação produzida Substância Ação produzida Cromogranina A - Prolactina Hiperprolactine mia Peptídeo vasoativo intestinal Rubor facial, diarreia aquosa Histamina Hipotensão Substância P e taquicininas Sudorese ACTH, CRH Síndrome de Cushing, hipertensão Opioides Hipotensão Renina Hipertensão Somatostatina Constipação intestinal Insulina Hipoglicemia Neuropeptídeo Y Palidez, vasoconstrição, hipertensão Enzima conversora da angiotensina Hipertensão Endotelina Vasoconstrição Vasopressina Hipertensão Peptídeo relacionado ao gene da calcitonina Rubor facial, hipotensão GHRH, GH Acromegalia Fator atrial natriurético Hiponatremia PTH-rp Hipercalcemia Interleucina-6 Febre, Leucotrienos Febre 12 Medicina 8º semestre trombocitopenia TRH Hipertensão Outros peptídeos: calcitonina, gastrina, eritropoetina, serotonina, neurotensina, motilina, betaendorfina, melatonina, gonadotrofina coriônica etc. - (Tabela extraída da referência 4) ● Quadro clínico e diagnóstico: ○ Hipertensão arterial: é amanifestação clínica mais frequente da doença (até 90% dos caso).4 ○ Paroxismos (“crises” ou “ataques”): achado mais característico, consequente à liberação de catecolaminas pelo tumor e subsequente estimulação dos receptores adrenérgicos.4 Ob�.: Os paroxismos têm como tríade clássica cefaleia intensa (em 80%), palpitações (em 64%) e sudorese (em 57%), de aparecimento súbito. Podem ser acompanhados de elevação da pressão arterial, tremor, palidez, dor torácica ou abdominal e, menos comumente, rubor facial.4 Podem surgir espontaneamente ou ser precipitados por fatores ou condições que comprimam o tumor ou determinem aumento da secreção de catecolaminas pelo mesmo (ex.: cirurgia, anestesia, parto, medicamentos etc).4 ○ As manifestações e sua incidência aproximada incluem hipertensão (90%), dores de cabeça (80%), diaforese (70%) e palpitações ou taquicardia (60%). ○ Outros sintomas comuns: ansiedade episódica, tremor, dor abdominal ou no peito, palidez e náuseas ou vômitos, hipoglicemia, febre, fadiga, flushing, dispneia, constipação intestinal ou diarreia, mudanças visuais.4 ○ Cerca de 10% dos pacientes com FEO podem ser completamente assintomáticos.4 ○ Perante a suspeita clínica de PGL simpático ou FEO, é preciso demonstrar a hipersecreção de catecolaminas (epinefrina, norepinefrina, dopamina) ou dos seus metabólitos (metanefrina, normetanefrina, metoxitiramina).¹ ↓ Dosagem das metanefrinas livres plasmáticas (MLP) e/ou das metanefrinas fracionadas urinárias (MFU): teste de eleição para o rastreio.¹ ○ Suspender 2 semanas antes da dosagem o uso de antidepressivos tricíclicos, agentes antipsicóticos, levodopa (podem cursar com aumento das catecolaminas endógenas).¹ ○ Teste de supressão com clonidina: se exames laboratoriais não elucidativos ➝ administração de 0,200 mg de clonidina com dosagem de catecolaminas 1 hora antes e 2 horas após a ingestão do fármaco.¹ 13 Medicina 8º semestre ○ Tomografia computadorizada com cortes finos para adrenal e a ressonância nuclear magnética (feocromocitoma apresenta hipersinal em T2): diagnóstico topográfico dos tumores e eventualmente de metástases.¹ ○ A RNM é superior na identificação de paragangliomas.¹ ○ Cintilografia de corpo inteiro com 123I-MIBG ou 68Ga DOTATE-PET-CT é muito eficaz em localizar feocromocitomas e paragangliomas, doença metastática ou identificação de múltiplos tumores cromafins.¹ ● Tratamento: ○ É cirúrgico. ○ Preparo pré-operatório: alfa1-bloqueadores (doxazosina ou prazosin) e hidratação adequada por pelo menos 2 semanas antes da cirurgia.¹ Deve-se realizar o bloqueio adrenérgico para prevenir complicações cardiovasculares perioperatórias. O uso de bloqueadores dos receptores adrenérgicos alfa-1-seletivos (doxazosina 2 a 32 mg/dia, prazosina 1 a 20 mg/dia) foi associado a menor PAD pré-operatória, menor FC intraoperatória, menor tempo para recuperação hemodinâmica e menos efeitos adversos, como taquicardia e hipotensão sustentada no pós-operatório, quando comparado com bloqueadores adrenérgicos não seletivos (fenoxibenzamina e fentolamina).5 ○ Tratamento medicamentoso crônico: alfa1-bloqueadores, betabloqueadores (apenas após início de alfa1-bloqueadores, quando taquicardia sintomática), IECA e BCC, e agonistas de ação central.¹ Iniciar sempre com bloqueadores alfa-adrenérgicos e adicionar o betabloqueador (propranolol 20 a 40 mg a cada 8 h ou atenolol 25 a 50 mg/dia) somente 3 a 4 dias após, pois o uso de betabloqueadores (na ausência de uso prévio de bloqueador alfa-adrenérgico) pode desencadear crise hipertensiva grave, pois há estímulo dos alfarreceptores livres, induzindo a vasoconstrição.5 ○ Com base em estudos retrospectivos, o objetivo é manter uma pressão arterial < 130/80 mmHg sentado e PAS > 90 mmHg em pé, com uma FC-alvo de 60 a 70 bpm sentado e 70 a 80 bpm em pé.5 ○ O tratamento também deve incluir dieta rica em sódio e ingesta abundante de líquidos para reverter a contração do volume sanguíneo induzida pelas catecolaminas no pré-operatório, evitando a hipotensão grave após a remoção do tumor. Evitar diuréticos no perioperatório.5 ○ Crisehipertensiva paroxística do feocromocitoma: emergência e deve ser tratada com nitroprussiato de sódio ou fentolamina injetável e reposição volêmica, se necessário.¹ ○ Tumores malignos, com metástases não passíveis de ressecção: quimioterapia, embolização, radioterapia e, se possível, ablação com MIBG-131.¹ ○ Recomenda-se a detecção de mutações dos genes envolvidos para rastreamento familiar.¹ 14 Medicina 8º semestre Síndrome de Cushing ● Definição: ○ É a condição resultante da exposição prolongada a quantidades excessivas de glicocorticoides (GC).¹ ○ Pode resultar da administração prolongada de doses suprafisiológicas de GC (SC exógena ou iatrogênica) ou, bem menos frequentemente, da hiperprodução crônica de cortisol (SC endógena).¹ ○ Doença de Cushing: presença de adenomas hipofisários secretores de hormônio adrenocorticotrófico (ACTH).¹ ● Epidemiologia: ○ A SC endógena é mais comum em adultos, com idade mediana de 41,4 anos, e predomínio no sexo feminino (3:1).4 ○ Trata-se de doença rara, com incidência estimada de 0,7 a 2,4 casos novos por milhão de habitantes por ano e prevalência estimada de 37 a 39 por milhão.4 ○ O adenoma hipofisário produtor de ACTH é responsável por 85% dos casos. ○ 15% dos casos são causados por tumores ou hiperplasia adrenal.4 ● Quadro Clínico: ○ Obesidade, fácies de lua cheia, giba dorsal, hirsutismo e estrias purpúreas.¹ ○ Hipertensão arterial ocorre em 80% dos pacientes com Cushing.¹ Cortisol → ação vasopressora das catecolaminas, ação do cortisol nos receptores mineralocorticoides e ativação do SRAA pelo aumento da produção hepática de angiotensinogênio.¹ ● Diagnóstico: ○ Dosagem de cortisol basal (útil para excluir uso exógeno de dexametasona ou betametasona), cortisol salivar à meia-noite, cortisol em urina de 24 h e teste 15 Medicina 8º semestre de depressão com dexametasona 1 mg (tomar dexametasona 1 mg às 23 h e dosar cortisol sérico entre 7 e 8h na manhã do dia seguinte).¹ ○ Tomografia computadorizada de adrenal ou RNM de hipófise nos casos de hipercortisolismo ACTH-dependente (só devem ser realizados após diagnóstico clínico e laboratorial de hipercortisolismo). ¹ ● Tratamento: ○ O tratamento de escolha para a SC é a cirurgia curativa com ressecção do tumor. 4 ○ Se adenoma adrenal secretor de cortisol → adrenalectomia (reposição de glicocorticoide até a recuperação plena do eixo hipotalâmico-hipofisário-adrenal, o que pode levar até 12 meses ou mais). 4 ○ Doença de Cushing → cirurgia transesfenoidal (CTE) (recidivas são comuns). ■ Os tratamentos de segunda linha incluem segunda cirurgia, radioterapia, adrenalectomia bilateral e terapia medicamentosa → podem gerar hipopituitarismo.4 ■ Terapia medicamentosa: fármacos mais usados são aqueles que interferem na esteroidogênese adrenal (cetocononazol, metirapona levocetoconazol e osilodrostat), agentes moduladores da secreção de ACTH (cabergolina e pasireotide).4 Hipotireoidismo e hipertireoidismo ● A hipertensão arterial pode estar presente em 40% dos portadores que apresentam distúrbios da tireoide.¹ ● Hipotireoidismo: ○ Risco maior de HA diastólica: ocorre elevação da PA diastólica, pois o débito cardíaco baixo é compensado pela vasoconstrição periférica para manter a perfusão tecidual adequada.¹ ○ O hipotireoidismo aumenta a resistência vascular e o volume extracelular, mas a elevação na PA é usualmente discreta (< 150/100 mmHg).¹ ○ Quadro clínico: fadiga, sonolência e ganho de peso (discreto na maioria dos casos).¹ ○ Diagnóstico: níveis baixos de tiroxina (T4) livre e elevação do hormônio tireotrófico (TSH).¹ ■ Hipotireoidismo subclínico: o T4 livre está normal e o TSH, elevado.¹ ● Hipertireoidismo: ○ Aumenta o débito cardíaco em consequência do aumento do consumo periférico de oxigênio e do aumento da contratilidade cardíaca → HA sistólica é comum.¹ ○ Fibrilação atrial ocorre em 10 a 20% dos pacientes com hipertireoidismo.¹ ○ Quadro clínico: ■ É mais proeminente na doença de Graves ou adenoma tóxico: palpitação, perda de peso, exoftalmia, bócio, tremores de extremidades, pele quente, intolerância ao calor etc.¹ ○ Diagnóstico: ■ Tiroxina livre está elevada com o TSH suprimido.¹ 16 Medicina 8º semestre ■ A presença do anticorpo antirreceptor de TSH é diagnóstico da doença de Graves.¹ Hiperparatireoidismo primário ● 10 a 60% possuem hipertensão arterial.¹ ● Fisiopatologia: ○ Os mecanismos envolvidos na HA não estão definidos.¹ ○ A HA no hiperparatireoidismo primário se agrava com o comprometimento da função renal pela hipercalcemia.¹ ● Quadro Clínico: ○ A maioria é assintomática.¹ ○ Pode haver poliúria e polidipsia, osteoporose, constipação, litíase renal e HA.¹ ● Diagnóstico: ○ Dosagem da calcemia (cálcio total e/ou iônico), fósforo, PTH e dosagem de cálcio total em urina de 24 h.¹ ○ É importante dosar e repor vitamina D (principalmente se < 20 ng/dL) para excluir hiperparatireoidismo secundário à deficiência de vitamina D.¹ Acromegalia ● É causada por adenomas hipofisários secretores do hormônio de crescimento (GH).¹ ● Epidemiologia: ○ Mais comuns entre os 30 e os 50 anos.¹ ○ Microadenomas (< 1 cm) oumacroadenomas ( 1 cm ou mais) - 70% dos casos.¹ ● Fisiopatologia: ○ Excesso de GH → secreção hepática de IGF-1 → maioria das manifestações clínicas da acromegalia.¹ ● Quadro Clínico: ○ Hipertensão arterial: 30% dos casos.¹ ○ Diabetes, HVE, apneia obstrutiva do sono, defeitos visuais, paralisia de nervos cranianos, cefaleia, macrognatia, crescimento de pés e mãos, hipertrofia de tecidos moles, macroglossia e complicações musculoesqueléticas.¹ ● Diagnóstico: ○ Dosagem de IGF-1 e, após, do nível sérico de GH.¹ ○ Dosagem de GH após sobrecarga de glicose (75 g): teste laboratorial dinâmico que permite a demonstração da não supressão da secreção de GH. ○ RNM de sela túrcica: melhor exame de imagem para identificação do tumor.¹ ● Tratamento: ○ Pode envolver procedimentos cirúrgicos, radioterapia e terapia medicamentosa com análogos da somatostatina (octreotida, lanreotida e cabergolina).¹ Obesidade ● Fisiopatologia: 17 Medicina 8º semestre ○ Distribuição excessiva de gordura visceral → alterações hormonais, inflamatórias e endoteliais → citocinas e adipocinas → aumentam a resistência à insulina e determinam hiperatividade do SRAA e do SNS → retenção de sódio e água → HA e aumento do risco CV e renal.¹ ● Diagnóstico: ○ A obesidade é classificada de acordo com o IMC (kg/m2) em Classe 1 (IMC de 30 a < 35), Classe 2 (IMC de 35 a < 40) e Classe 3 (IMC ≥ 40).¹ ○ Circunferência abdominal: pode ajudar no diagnóstico de obesidade central. ○ Estudos complementares: bioimpedância e exames de imagem mais fidedignos para estudos clínicos (DEXA (dual-energy x-ray absorptiometry scanning), TC e RNM).¹ Causas medicamentosas, hormônios e substâncias exógenas ● Realizar anamnese completa de todos os fármacos, drogas e suplementos em uso em todo hipertenso.¹ ● Mecanismos hipertensores: ○ Retenção de volume: glicocorticoides, cetoconazol, anticoncepcionais orais, terapia andrôgenica, AINE.¹ ○ Hiperatividade simpática: descongestionantes, anfetaminas, IMAO, antidepressivos, outros medicamentos utilizados em psiquiatria e cocaína, inibidores de calcineurina.¹ ○ Hiperatividade do SRAA: imunossupressores.1 (Tabela extraída da referência 4) Referências 18 Medicina 8º semestre 1. TOLEDO, Juan Carlos Yugar- et al. Hipertensão arterial resistente, refratária e secundária. In: JATENE, Ieda Biscegli et al. Tratado de cardiologia SOCESP. 5. ed. Santana de Parnaíba [SP]: Manole, 2022. cap. 5, p. 544-564. 2. Hegde S, Ahmed I, Aeddula NR. Hipertensão Secundária. [Atualizado em 23 de novembro de 2022]. In: StatPearls [Internet]. Ilha do Tesouro (FL): StatPearls Publishing; 2022 Jan-. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK544305/ 3. THE JAPANESE SOCIETY OF HYPERTENSION. Secondary hypertension. Hypertension Research, [s. l.], v. 37, p. 349-361, 2014. 4. VILAR, Lucio. Endocrinologia Clínica. Grupo GEN, 2020. E-book. ISBN 9788527737180. 5. Bandeira, Francisco.Protocolos Clínicos em Endocrinologia e Diabetes. Disponível em: Minha Biblioteca, (4th edição). Grupo GEN, 2021. 19 https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK544305/
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