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Milena Marques 145 Neuro – Doenças Desmielinizantes do SNC (Esclerose Múltipla, Neuromielite óptica e ADEM) Introdução: Nessa aula vamos citar três condições patológicas de doenças desmielinizantes do sistema nervoso central: • Esclerose Múltipla • Neuromielite óptica • ADEM (Encéfalo mielite disseminada aguda) Caso clínico: Mulher de 21 anos se apresenta para avaliação 5 dias após a perda de visão do olho direito. Ela descreve um início gradual e progressão dos sintomas, associada com dor periocular que piora com os movimentos dos olhos. Sem antecedentes patológicos ou neurológicos. O exame neurológico revelava um Defeito pupilar aferente relativo, e uma acuidade de 20/70 no olho direito. O restante do exame oftalmológico era normal. A ressonância revelou realce ao contraste no nervo ótico a direita e 4 lesões ovoides hiperdensas em T2, uma dessas lesões era justa cortical, enquanto as outras eram subcorticais ou na substância branca profunda. A ressonância da cervical e torácica mostrou pequenas lesões em T2 a nível de C6 localizadas posteriormente. O liquor mostrou 9 bandas oligoclonais e pleocitose de 11 células com predomínio linfocítica. Esclerose Múltipla: • Condição desmielinizante e inflamatória do sistema nervoso central • Apresenta etiologia autoimune • Afeta mais de 2 milhões de pessoas no mundo • Afeta predominantemente população jovem (maior prevalência em mulheres do que homens) Os sintomas que o paciente vai apresentar vão depender da área afetada, uma placa desmielinizante ao nível do nervo ótico vai gerar uma baixa de acuidade visual, se for a nível do cerebelo uma ataxia. • Processo multifocal em várias topografias do SNC • A disfunção neurológica do paciente tem como característica durar mais de 24h. → para considerar um ataque imune da doença duração maior de 24h • Caráter reversibilidade (surto-remissão) • O paciente intercala períodos de surto com períodos de remissão da doença • Disseminação no tempo e no espaço → acontece em tempos diferentes e em topografias diferentes → placa desmielinizantes na medula e outra no córtex (tem espaços diferentes) e que tem um surto em 2017 e outro em 2021 (disseminou no tempo) A esclerose múltipla é uma doença multifatorial = fatores ambientais + fatores genéticos. 1. Fatores genéticos • A EM não apresenta herança mendeliana • Taxa de concordância de gêmeos monozigóticos em 25% • Genes candidatos – HLA (cromossomo 6) → A presença desse gene implica em um risco maior de desenvolver esclerose múltipla (mas não quer dizer que vá, é apenas um risco, por isso não é dosado) o Cromossomo 6 → genes relacionados a tolerância imunológica, alterações nesses genes podem levar a doenças autoimunes. • HLA DRB1 15:01 – 3x mais risco de EM; Milena Marques 145 2. Fatores ambientais → fatores de risco para desenvolvimento da EM → interferem no mecanismo de tolerância imunológica. • Vírus do Epstein Barr • Obesidade na adolescência • Tabagismo • Deficiência de vitamina D • Baixa exposição solar Epidemiologia → “cinturão da EM” → Maior prevalência em áreas temperadas (baixa exposição solar) Tipos de Apresentação da EM: 1. RIS (Síndrome radiologicamente isolada) • Paciente tem lesões características de EM na RNM, mas não tem clínica • Fez a RNM por outros motivos. • Nessa situação específica não se trata. → vigilância e repetição da RNM; 2. CIS (Síndrome clinicamente isolada) • Paciente que chega no primeiro surto, mas ainda não preencheu os critérios para EM porque ainda não tinha tido o segundo surto. • Atualmente com um surto: CIS + RNM + LCR pode ser dado o diagnóstico de EM. → tratamento. 3. EMSR (Esclerose múltipla Surto-Remissão) • Maioria dos casos (85%) • Doença se apresenta em surtos e o processo de resolve e o paciente entra em remissão. • À medida que vai passando o tempo (observe o gráfico) a barrinha de incapacidade vai aumentando com o tempo • É importante tratar o paciente o mais precoce possível para aproveitar a “janela de oportunidade” → quanto mais cedo tratar menor a chance de progredir para forma secundariamente progressiva. • Apresenta lesões que realçam ao gadolínio – na ressonância magnética (lesões inflamatórias ativas) 4. EMSP (Esclerose Múltipla Secundariamente Progressiva) • Não é mais caracterizado por surtos, mas a incapacidade aumenta de forma considerável. • Apresenta baixo realce ao Gadolíneo – com poucas lesões inflamatórias ativas • Os medicamentos nessa fase não são tão efetivos. 5. EMPP (Esclerose Múltipla Primariamente progressiva) • Uma minoria dos pacientes pode entrar diretamente nessa fase progressiva (10-15%) • Passa rapidamente para a forma progressiva (Ainda não se sabe muito bem o por que) • Apenas um medicamento atua nessa fase: Ocralizumabe (anticorpo monoclonal anti CD20) Fisiopatologia da EM: Modelo Extrínseco = ocorre uma disseminação/ desregulação das células autoimunes fora do Sistema Nervoso central (não reconhecendo o próprio) e migram para o SNC Modelo intrínseco = ocorre uma disseminação/ desregulação das células autoimunes dentro do sistema nervoso central (não reconhecendo o próprio) e migram para o restante do corpo. • Células T autorreativas • Células B autorreativas • Células regulatórias defectivas. Figura 1 - Lesões tipicas de EM - dedos de Dawson. Milena Marques 145 Células T: Células T consegue se diferenciar em duas subpopulações: Th1 (T helper) e a Th17; → lembrando que as células Th1 e Th17 são tipos de células CD4; Todas essas células (Th1, Th17 e CD8) aumentam a produção de citocinas e potencializam a função das APCs (células apresentadoras de antígeno) e maior produção de ROS (Espécies reativas de oxigênio) que liberam mais radicais livres e dano axonal. → celulas mais reativas. Além desse processo as células inibitórias como NK, CD8 regulatório estão defeituosas. Células B: A célula B é também uma célula apresentadora de antígeno para a célula T. A célula B apresenta a proteína básica da mielina para a célula T desencadeando o processo acima, além disso ela produz anticorpos que são captados no liquor (bandas oligoclonais); Paciente com Sintomatologia de EM + banda oligoclonal = sugestivo de EM. A célula B produz Centros Ectópicos germinativos – são centros meníngeos terciários (células para ataque) → agregado linfoide. → isso porque no SNC não existe um local para acúmulo de célula de defesa como o linfonodo. Revendo o modelo extrínseco = células autorreativas no timo perdem a capacidade dos mecanismos de tolerância, a célula dendrítica (APC) apresenta a um antígeno que é a proteína básica da mielina para células autorreativas T CD4, essas diferenciam em Th1 e Th17 e ganham a circulação para atacar o SNC. Medicações atuam nesse mecanismo: • Acetato de glatirame – inibição competitiva da proteína básica da mielina e desvia a resposta Th1 para Th2 (imunidade humoral) → isso proporciona como efeito colateral sintomas gripais (da resposta Th2) • Natalizumabe – atua bloqueando a alfa 4 beta 1 integrina que é a “senha” para os linfócitos autorreativos adentrarem no sistema nervoso central, bloqueando essa estrutura ela não consegue entrar no SNC Milena Marques 145 • Fingolimode - bloqueiam a saída de células autorreativas no timo (efeito colateral – maior predisposição a infecções) Para aprofundar: De uma forma geral, a hipótese do modelo extrínseco é mais popular por sua maior reprodutibilidade clínica e experimental. Linfócitos T autorreativos são estimulados na periferia e se enquadram em um perfil eminentemente inflamatório. Tais células invadem o sistema nervoso central por quebra da barreira hematoencefálica epropiciam início do dano. Destas células T autoreativas, encontram-se células T CD4+ com predomínio dos subtipos Th1 e Th17 precocemente no curso da doença. Células Th1 promovem produção de interferon-gama e fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), já células Th17 produzem as interleucinas 17, 21 e 22 bem como interferon-gama. Consequentemente ocorre ativação astrocitária e de macrófagos a nível 21 de SNC acarretando aumento da secreção de citocinas, potencialização da função das células apresentadoras de antígeno (APC) e produção de ROS promovendo estresse oxidativo importante. Estabelecer, farmacologicamente diferenciação para uma maior resposta Th2, desviando das respostas Th1 e Th17, é um dos mecanismos de ação de terapias modificadoras da doença de primeira linha como Interferon-beta (KOZOVSKA et al., 1999) e acetato de glatiramer (MILLER et al., 1998) Os efeitos animadores da terapia anti-CD20 (ocrelizumab) em pacientes com esclerose múltipla destacam a importância das células B na patogênese da doença, apesar de esclerose múltipla ser considerada um patologia de células T (GREENFIELD; HAUSER, 2017). Tais células podem ser encontradas no líquido cefalorraquidiano (LCR), meninges e córtex cerebral. Principalmente nas formas secundarias, podem formar agregados meníngeos linfoides junto com células T, plasmócitos e células dendríticas de forma análoga a doenças infecciosas ou condições inflamatórias crônicas. Voltando... Quadro clínico e diagnóstico: Passos para o diagnóstico: 1) Identificação de uma síndrome típica: • É uma síndrome que vai afetar topografias sugestivas de que o paciente tenha EM • Topografias mais prováveis (locais de muito neurônio mielinizado) o Nervo óptico – neurite unilateral, dor no olho ao movimento, borramento da visão central ou parcial com disco optico normal, diminuição da acuidade visual, discromatopsia (perda das cores principalmente para o vermelho) o Tronco cerebral e Cerebelo – ataxia, nistagmo, paralisia do sexto nervo, dormência facial, bilateral internuclear oftalmoplegia o Medula – mielopatia, dormência, incontinência urinária, incontinência sexual, dormência com dermátomo. o Hemisfério cerebral – hemiparesia Milena Marques 145 2) Evidência objetiva de envolvimento do SNC • Não precisa ser necessariamente por exame complementar, pode ser por exame físico. (ao detectar um defeito pupilar aferente) • DPA (defeito pupilar aferente) Ao colocar um foco de luz no olho do paciente o nervo oculomotor vai gerar o estímulo de miose (contração do musculo), em paciente com neurite óptica (aqui representado a esquerda do paciente) ele ao invés de apresentar uma miose vai fazer midríase. Mas por quê? O defeito está no nervo óptico que impede que a informação passe para ser processada. • Oftalmoplegia internuclear • Nível hemisensitivo. • Evidências paraclínicas • RNM 3) Disseminação no tempo e no espaço: • RM de encéfalo e medula 1. Disseminação no espaço → topografias diferentes. Lesões do corpo caloso → dedos de Dawson (lesões típicas de EM) → imagem do meio e lesão de tronco → disseminou no espaço • Presença de, pelo menos 1 lesão em duas regiões anatômicas no SNC: (regiões mais frequentes) o Periventricular o Justacortical/cortical o Infratentorial o Medula 2. Disseminação no tempo: • Lesões que realçam ao contraste e lesões que não realçam ao contraste → sempre pedir RM com contraste!!!! • Processos inflamatórios em tempos diferentes Milena Marques 145 • O LCR com a produção de badas oligoclonais indica disseminação no tempo. → mesmo sem RM característica e apenas um Surto. 4) Exclusão de outras causas que mimetizam a EM: • A RM tem papel na exclusão de condições que mimetizam a EM o Sarcoidose o Deficiência de B12 o Doença de Behcet o Lúpus, SAF o HIV, Sífilis Critérios de McDonalds Tratamento: Depende da forma da EM (formas mais leves a formas mais graves • Ele comentou de outras medicações e seus mecanismos de ação mais a cima. • Ocralizumabe – antiCD20 que bloqueia a célula B não apresentando o antígeno para a célula T diminuindo o processo inflamatório. Milena Marques 145 Neuromielite Optica • Faz diagnóstico diferencial com EM • É uma doença inflamatória e desmielinizante do SNC • Neurite optica → geralmente bilateral e mais grave 20:100 e visão conta dedos (diferente da EM que costuma ser unilateral) • Mielite → transversa (alteração medular) → grave que acomete mais de 3 cm medulares. • Marcador específico: Antiaquaporina 4 IgG + (o nervo optico possui muitos canais de aquaporina 4, por isso é o mais atacado) • Área postrema (centro do vomito no bulbo) → possui receptores para aquaporina 4 → paciente apresenta síndrome de vômitos incoercíveis. • Doença do espectro NMO → Tem toda a sintomatologia da Neuromielite optica, mas tem o anticorpo negativo (cerca de 20% dos casos) ADEM • Encefalomielite disseminada aguda • Mais frequente em crianças • Pródromos virais e vacinação (gatilhos principais) • Lesões desmielinizantes em todo o SNC (que pode pegar cérebro e medula) • As lesões são muito semelhantes e em tempos iguais (diferenciar da EM) • Tratamento: metilpredinisolona. 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