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Espondiloartrites Definição e Epidemiologia Definição ● A espondiloartrite (EpA) é um grupo de doenças caracterizadas pela inflamação da coluna, além de manifestações extra-articulares, incluindo uveíte anterior, psoríase e doença inflamatória das articulações intestinais, com predisposição genética ligada a leucócitos humanos antígeno B27 (HLA-B27). ¹ ● O espectro SpA inclui espondilite anquilosante (EA), artrite psoriática (AP), artrite reativa (Are), artrite enteropática (EA) e espondiloartrite indiferenciada (uSpA). ¹ (Tabela retirada da referência 4) Epidemiologia ● A prevalência de todo o grupo das EpA é estimada em 1% da população geral.² ● Em geral, as EpA iniciam-se por volta da terceira década de vida.² ● A doença geralmente começa cerca de 5 anos mais cedo em pacientes HLA-B27 positivos do que em pacientes HLA-B27 negativos.³ ● O início após os 40 anos é incomum.5 ● Um pouco mais pacientes com espondilite anquilosante (EA) são homens do que mulheres (a proporção aproximada entre homens e mulheres é de 2–3:1).³ ● A incidência de EA foi descrita como sendo de aproximadamente 7,2 por 100.000 adultos nos Estados Unidos.³ Medicina 7º semestre ● A prevalência da espondilite anquilosante reflete a prevalência de HLA-B27 em uma determinada população.³ ● Dentro populações de descendência europeia HLA-B27 está presente em cerca de 8% e espondilite anquilosante em cerca de 0,5%.³ ● O HLA-B27 está presente em 90% dos paciente com EA.5 ● Entre 1-7% dos portadores do HLA-B27 desenvolve EA, e não parece haver correlação entre sua presença e a gravidade do quadro.5 ● o HLA-B27 responde por cerca de 50% do risco genético da EA, sendo que outros genes.5 ● A taxa de concordância entre gêmeos univitelinos gira em torno de 65%.5 ● A espondilite anquilosante é mais comum em brancos.³ ● A EpA-axNrx tem distribuição similar entre homens e mulheres e a proporção de pacientes com evidências objetivas de inflamação, tanto na RNM SI (edema de medula óssea) quanto pela avaliação da proteína C-reativa (PCR), é menor.² ● A prevalência das EpA-ax é de cerca de 0,5 a 1,4% na população geral, sendo a EA o subgrupo mais comum. ² ● Na população norte-americana, estima-se que 0,7% dos indivíduos entre 18 e 44 anos sejam acometidos por EpA-ax, sendo metade no espectro não radiográfico.² ● EpA periférica é observada em 12 a 30% do total de espondiloartríticos.² ● HLA-B27 está presente em, aproximadamente, 50% dos pacientes com EpA periférica, mas com frequência variável de acordo com a doença estudada. A positividade é, provavelmente, menor nas formas periféricas de artrite psoriásica e artrite enteropática do que na artrite reativa.² Patogênese ● A maioria dos estudos de patogênese concentra-se no passado na espondilite anquilosante. ³ ● Com base em estudos de gêmeos com espondilite anquilosante foi estimada uma herdabilidade superior a 90%. ³ ● 20-44% da predisposição genética foi atribuível a variantes do complexo principal de histocompatibilidade (MHC) (principalmente HLA-B27, mas 2 Medicina 7º semestre também HLA-B40, HLA-B51, HLA-B7, HLA-A2 e HLA-DPB1) e 7,38% para variantes não MHC. ³ (Figura retirada da referência 3) ● Além do HLA-B27, dois outros loci genéticos foram associados à espondilite anquilosante e podem ter relevância funcional: a aminopetidase do retículo endoplasmático (ERAP) e o receptor de interleucina, que ativa células T auxiliares.³ ● A êntese ou complexo entesossinovial, definido como o ponto de inserção de tendão, ligamento e/ou cápsula articular à superfície óssea, é a estrutura inicialmente acometida nas EpA (possibilita uma conexão robusta e ancoragem com a superfície óssea).² ● A inflamação da êntese, chamada de entesite, parece ser desencadeada por um estresse mecânico e/ou infeccioso em pacientes geneticamente suscetíveis, como aqueles HLA-B27-positivos e com determinados polimorfismos do receptor de interleucina (IL)-23. ² ● A entesite, ou entesopatia, se caracteriza por uma reação inflamatória crônica com erosão do osso adjacente, seguida por um processo também crônico de reparação tecidual, durante o qual costuma haver neoformação óssea e evolução para anquilose – radiograficamente, a entesopatia se revela pela ossificação das ênteses. 5 3 Medicina 7º semestre ● As articulações mais acometidas são aquelas de natureza “ligamentar”, como as do quadril e da coluna vertebral. A articulação mais precocemente (e caracteristicamente) envolvida é a sacroilíaca. 5 ● Além do quadril e da coluna, merecem destaque a entesite da sínfise púbica, do calcâneo, da patela e da articulação manúbrio-esternal. Na coluna, são acometidos inicialmente os discos intervertebrais. 5 ● A entesite começa na região anterior da vértebra, na inserção do ânulo fibroso do disco. Com o tempo, o osso neoformado (estimulado pela inflamação crônica) se transforma numa protuberância óssea denominada sindesmófito, formando “pontes” entre os corpos vertebrais. 5 ● Após anos de atividade clínica pode surgir a alteração mais clássica da doença: a rígida coluna “em bambu”. Nesse momento, a postura adotada pelo paciente é inconfundível, com cifose exagerada e perda da lordose lombar fisiológica. 5 ● Outras anormalidades que podem ser encontradas na coluna são osteoporose difusa, aspecto “quadrado” das vértebras e destruição da interface entre os discos intervertebrais e o osso. 5 ● O envolvimento da coluna se faz de forma ascendente, começando pelas articulações sacroilíacas e coluna lombossacra, atingindo posteriormente a coluna torácica e cervical. É importante ressaltar que o envolvimento das articulações interapofisárias (sinoviais) também se faz presente, contribuindo para o processo de espondilite. 5 (Figura extraída da referência 3) 4 Medicina 7º semestre (Figura extraída da referência 5) ● Na entesite, há predomínio da resposta imune inata e menor participação da resposta adaptativa.² ● Postula-se que o contato com agentes ambientais (ex.: certos microrganismos) possa deflagrar um descontrole do sistema imunológico em indivíduos geneticamente predispostos. 5 ● Em relação ao estresse infeccioso, há evidências de que o sistema imune inato poderia ser ativado por um microbioma intestinal alterado (disbiose), sendo o aumento da permeabilidade da barreira intestinal um fator facilitador.² ● Um importante mediador do processo inflamatório é a prostaglandina E2 (PGE2), produzida localmente por células mesenquimais da êntese em resposta ao gatilho mecânico e/ou infeccioso, levando à vasodilatação e ao recrutamento de neutrófilos e promovendo a ativação da via IL-23/IL-17.² ● A produção de IL-23 por células apresentadoras de antígenos, como os macrófagos, levará à ativação de linfócitos Tγδ e células linfoides inatas do tipo 3 (ILC3) residentes na êntese, que por sua vez produzirão a IL-17A e o fator de necrose tumoral (TNF).² ● A IL-17A e o TNF amplificam a resposta inflamatória, levando a mais recrutamento de neutrófilos, que liberam proteases e espécies reativas de oxigênio, acentuando a inflamação e ativando nociceptores.² 5 Medicina 7º semestre (Figura extraída da referência 6) Espondilite anquilosante e espondiloartrites axiais Quadro Clínico ● Predomina em homens, e na maioria das vezes se inicia no final da adolescência/início da vida adulta.² ● Entesites (30%), principalmente em calcâneo (imagem ao lado).A ● O primeiro sintoma costuma ser a dor lombar (pela sacroileíte), tipicamente unilateral (pelo menos no início), insidiosa e profunda, acompanhada de rigidez matinal ou após longos períodos de inatividade.² ● Essa rigidez melhora com as atividades físicas, mas retorna tão logo o doente volte a permanecer em repouso.² Dor de caráter inflamatório! 6 Medicina 7º semestre ● Passados alguns meses, muitos pacientes evoluem com piora da dor, que se torna bilateral e persistente. Pode haver também uma redução na amplitude de movimento da coluna lombar, especialmente nos planos ânteroposterior e laterolateral.5 ● Hipersensibilidade óssea (refletindoa existência de entesite/osteíte subjacente).5 ● Artrite em grandes articulações “centrais” (quadril e ombro) é encontrada em 25-35% dos casos. 2 ● Artrite periférica, geralmente assimétrica, pode ser vista em até 30%. 2 ● Alguns pacientes, principalmente os mais idosos, podem apresentar um importante componente sistêmico, queixando-se prioritariamente de sintomas constitucionais inespecíficos (ex.: fadiga, anorexia, perda ponderal, febre baixa).2 ● O grau de comprometimento axial da EA é variável, indo desde artrite exclusiva da articulação sacroilíaca até anquilose completa da coluna. O envolvimento das vértebras se faz de forma ascendente e progressiva. A ossificação das sínfises vertebrais é conhecida como “coluna em bambu” (imagem ao lado).5 ● O envolvimento da coluna torácica gera dor e cifose progressiva: pode gerar redução da expansibilidade torácica (podendo causar uma síndrome respiratória restritiva).5 ● O envolvimento da coluna cervical, com dor e rigidez, costuma ser tardio.5 7 Medicina 7º semestre ● Evolução da doença com acometimento de toda a colunaa: ○ Retificação da Lordose Lombar ○ Acentuação da Cifose Torácica ○ Retificação da Lordose ○ Cervical com projeção da cabeça para a frente ○ Associado à semi-flexão dos joelhos: POSTURA DO ESQUIADOR. ● Inicialmente, a limitação lombar é devido ao espasmo da musculatura paraespinhal, porém, em fases avançadas, o principal motivo passa a ser a anquilose óssea. 2 Manifestações extra-articulares ● Uveíte anterior:2,a ○ Sinônimo: Iridociclite (íris e corpo ciliar) ○ A uveíte anterior aguda é a manifestação extra-articular mais comum da EA, ocorrendo em 30-40% dos indivíduos em algum momento da evolução da doença, principalmente naqueles que têm o HLA-B27. ○ Pode preceder a espondilite. ○ Não existe qualquer relação do quadro ocular com a gravidade da doença. ○ A uveíte é quase sempre unilateral e origina sintomas de dor, lacrimejamento excessivo, fotofobia e turvação da visão. ○ Pode ser alternante. ○ Os episódios costumam ser autolimitados, por vezes recorrentes,mas só eventualmente exigem terapia com corticoides. ○ Em alguns casos, a uveíte pode abrir um quadro de EA, como manifestação única. ○ Outras complicações possíveis são o glaucoma secundário e a catarata. ● Cardiovascular:2,a ○ Insuficiência aórtica (3 a 10%) ○ Distúrbios de condução (até 10%) - fibrose. ○ Aortite ascendente ○ Disfunção diastólica ○ Pericardite ● Pulmonar: ○ Fibrose pulmonar apical (1%) ○ Distúrbio ventilatório restritivo 8 Medicina 7º semestre ○ A formação de cistos (fibrose bolhosa) e a subsequente invasão por Aspergillus podem resultar nos micetomas e justificar uma eventual hemoptise. ● Neurológica:2,a ○ Subluxação atlantoaxial (C1-C2) ○ Síndrome de cauna equina ■ Os sintomas iniciais incluem perda sensorial nos dermátomos sacrais (“anestesia perineal em sela”), dor e fraqueza dos membros inferiores, com hiporreflexia e flacidez. ■ Também faz parte do quadro a perda do tônus dos esfíncteres retal e urinário ■ O diagnóstico pode ser confirmado por TC ou RNM. ○ Fratura espinhal com mielopatia ● Renal:2,a ○ Amiloidose secundária (1-3%) ○ Nefropatia por IgA ○ Insuficiencia renal e necrose papilar por abuso de AINES ● Intestinais:2,a ○ Cerca de 5-10% dos pacientes com EA abrem o quadro florido de doença inflamatória intestinal. ○ Fibrose retroperitoneal ○ Aumento da prevalência de prostatite em homens. Exame físico ● O comprometimento das sacroilíacas pode ser evidenciado por manobras que tensionam essas articulações.² ● Já a limitação da mobilidade lombar, por sua vez, pode ser avaliada pelo teste de Schöber. ² ● Teste Tragus-parede: normal <15cma ● Expansibilidade torácica: normal >2,5cm a ● Teste de Schober: normal >5cma ● Distância intermaleolar: normal > 100 cma ● Rotação cervical: normal > 70° a ● Inclinação lateral: normal > 10cma ● Teste de Gaenslen e Patrick (FABERE): se positivos -> sacroiliítea 9 Medicina 7º semestre 1. Fabere/Patricka Pode referir dor em quadril ou em sacroilíacas F (flexão) AB (abdução) ER (Rotação externa) 2. Gaenslena Dor na hiperextensão da coxa sobre a bacia. 3. Teste de Schobera 4. Distância trago-paredea 5. Expansibilidade torácicaa 6. Inclinação laterala 7. Rotação cervicala 8. Distância intermaleolara 10 Medicina 7º semestre Exames complementares ● Radiografia simples ○ É o primeiro exame a ser solicitado diante da suspeita clínica de EpA axial.2 ○ Deve ser avaliado de acordo com os critérios de Nova York modificados.2 (Figura extraída da referência 2) ● Ressonância magnética ○ Deve ser solicitada apenas nos casos em que o RX apresenta-se normal e existe uma forte suspeita clínica de EpA axial (características de EpA). 2 ○ A alteração que permite classificar o paciente com EpA é o edema ósseo subcondral, embora outras alterações, como erosões, esclerose subcondral e lesões gordurosas, possam estar presentes.2 (Figura extraída da referência 2) ● Laboratório ○ Reagentes de fase aguda (proteína C-reativa e velocidade de hemossedimentação) e o HLA-B27.2 11 Medicina 7º semestre Diagnóstico ● O diagnóstico das EpA axiais e da EA deve ser realizado levando-se em consideração aspectos epidemiológicos (idade e sexo), manifestações clínicas típicas articulares e extra-articulares e história familiar.2 ● Os critérios de classificação existentes não devem ser utilizados de forma compulsória na prática clínica, devendo ser assumida uma postura mais flexível, se necessário. 2 ● Em alguns casos, mesmo não sendo preenchidos os critérios de classificação, o paciente pode ter o diagnóstico de EpA axial ou EA, a depender da apresentação clínica.2 (Figura extraída da referência 2) Obs.: imagem de sacroiliite = RNM (edema de medula óssea) ou Rx (grau > 2 bilateral ou unilateral grau 3 ou 4).a ● Se Rx de sacroilíacas alterado: espondilite anquilosante.a ● Se apenas RNM de sacroilíacas alterada: espondiloartrite axial não radiográfica.a 12 Medicina 7º semestre (Figura extraída da referência 4) Avaliação da atividade de doença ● BASDAI (Bath Ankylosing Spondylitis Disease Activity Index): seis questões que abordam domínios relacionados à fadiga, dor na coluna, dor e sintomas articulares, dor causada pelo acometimento das enteses e duas questões relacionadas à intensidade e duração da rigidez matinal.² (Tabela extraída da referência 2) 13 Medicina 7º semestre ● ASDAS (Ankylosing Spondylitis Disease Activity Score): vantagem de ser menos subjetivo em relação ao BASDAI, pois utiliza em seu cálculo um marcador de atividade inflamatória: a proteína C-reativa (fórmula preferencial) ou da velocidade de sedimentação. ² (Tabelas extraída da referência 2) ● BASFI (Bath Ankylosing Spondylitis Functional Index): 10 escalas numéricas (0-10) ou escalas visuais analógicas (0-10 mm), autoaplicáveis, ancoradas pelos descritores “fácil” e “impossível”.² Tratamento ● Não farmacológico: ○ Educação de paciente, atividade física e fisioterapia são de extrema importância e devem estar presentes em todas as fases do tratamento.² ● Tratamento farmacológico: ○ Anti-inflamatórios não esteroidais (AINE): ■ Medicações de primeira linha no tratamento das EpA axiais.² ■ Cerca de 70 a 80% dos pacientes com EA apresentam melhora dos sintomas, incluindo melhora da dor e da rigidez axial, apenas com AINE.² 14 Medicina 7º semestre ■ A decisão entre o uso contínuo ou sob demanda depende da gravidade e intermitência dos sintomas, comorbidades e preferência do paciente.² ○ Sulfassalazina (SSZ): ■ Os consensos do American College of Rheumatology (ACR) e do European League Against Rheumatism (EULAR) recomendam a sulfassalazina apenas para pacientes com predominância de comprometimento periférico. ² ■ A experiência brasileira demonstra que pode haver benefício do uso da sulfassalazina em pacientes com comprometimento axial. A dose recomendada é de 2 a 3 g/dia.² ○ Metotrexato: ■ Recomendado apenas para as formas periféricas, na dose de 15 a 25 mg/semana.² ○ Medicamentosmodificadores de doença biológicos (MMCDb): ■ Estão indicados os inibidores do fator de necrose tumoral (anti-TNF – infliximabe, etanercepte, adalimumabe ou golimumabe) diante de doença ativa e grave, definida clinicamente como BASDAI ≥ 4 e dor na coluna > 4 pela Escala Visual Analógica (EVA) de dor, além de falha terapêutica com o uso de pelo menos dois AINE ou, no caso de artrite periférica, falha com sulfassalazina (ou metotrexato). ² ■ Aumento risco infeccioso – limiar baixo para pensar em infecção. ■ Screening: Sorologias Hepatite B, C, HIV, pesquisa de tuberculose: história de contato prévio, RX tórax e PPD: se história de contato positiva, RX suspeito ou PPD> 5mm → indicado profilaxia com isoniazida por 9 meses ou rifampicina por 04 meses.; pode começar o biológico 1 mês depois.² 15 Medicina 7º semestre (Figura extraída da referência 3) ■ Os inibidores de IL-17, secuquinumabe e exizequizumabe, podem ser utilizados quando da falha de um anti-TNF ou ainda como primeira opção em caso de contraindicação ou intolerância ao uso dos anti-TNFs. ( Figura extraída da referência 3) 16 Medicina 7º semestre Espondiloartrites periféricas 1. Artrite Psoriásica Definição ● A doença psoriásica é uma condição inflamatória crônica sistêmica e recorrente, caracterizada por hiperplasia da epiderme e estimulação imune inapropriada, decorrente de fatores ambientais e genéticos ainda não totalmente determinados, que atinge a pele, mucosas, fâneros e articulações, podendo se acompanhar de síndrome metabólica, depressão, ansiedade e outros comemorativos sistêmicos. ² ● Acomete de 2 a 3% da população mundial. ² ● No Brasil, a prevalência aproximada é de 1,33%² ● A doença é mais comum na raça branca. ² ● Homens e mulheres são igualmente acometidos. ² ● A idade de início da APs é em torno dos 40 anos, mas as formas graves podem ter início precoce.² ● Aproximadamente 10 a 30% dos pacientes com psoríase desenvolvem artrite psoriásica (APs), e esta pode ocorrer em qualquer das formas clínicas de psoríase.² ● Fatores preditivos: ○ Duração da doença: aumenta com o tempo² ○ Envolvimento cutâneo extenso² ○ Comprometimento de couro cabeludo² ○ Comprometimento do sulco interglúteo e das regiões perianais² ○ Comprometimento ungueal² ○ História familial para APs² ○ Uso de corticosteroides (CE)² ○ Fatores ambientais: traumas físicos, infecções (HIV, hepatite C) e obesidade.² Quadro Clínico e subtipos ● Oligoarticular (≤4 articulações)→mais comum (70%)a ○ Oligoartrite, Assimétrica, MMIIa ● Poliarticular (DRE-like)→ 15%a ● Predomínio de IFDs→ 5%a ● Predomínio Espondilite→ 5%a 17 Medicina 7º semestre ○ Associada a outras formas→ 40%a ● Artrite mutilante→menos comum (<5%)a ● O acometimento da pele precede o comprometimento articular na maioria dos casos.2 ● A maior parte dos pacientes descreve o quadro inicial como de padrão oligoarticular assimétrico, evoluindo após 8 a 12 anos de doença para padrão poliarticular.2 ● A doença das IFD e a artrite mutilante são consideradas as manifestações mais específicas da APs e associam-se com frequência à presença de dactilite e da doença ungueal. 2 ● A artrite mutilante caracteriza-se por ser o estágio final articular de um quadro erosivo e destrutivo, que em geral cursa com deformidades, subluxações e “encurtamento” dos dedos, levando à telescopagem digital.2 (Figura extraída da referência 2) ● Dactilite, também chamada de “dedo em salsicha”(30-40%), pode ocorrer em mãos e pés e se caracteriza pelo edema difuso de toda a extensão do dedo.2 ● Entesite (20-40%), inflamação no sítio de inserção de tendões, ligamentos, cápsula articular e fáscias, é manifestação característica e frequente na APs. Sítios preferenciais a fáscia plantar, tendão do calcâneo, ligamentos patelares superior e inferior e inserção de ligamentos dos ossos pélvicos.2 ● Assim como nas outras espondiloartrites, manifestações oculares como conjuntivite (20%) e uveíte (7%) também acontecem na APs.2 18 Medicina 7º semestre ● Pacientes com doença psoriásica apresentam maiores taxas de obesidade, dislipidemia, hipertensão arterial (HAS), resistência à insulina e diabetes (DM) que controles (maior risco CV) → modificação agressiva dos fatores de risco e a supressão da inflamação podem diminuir a frequência e gravidade dessas comorbidades.2 Exames complementares ● A velocidade de hemossedimentação (VHS) e a proteína C-reativa (PCR) apresentam-se elevadas em 50% dos pacientes. 2 ● Fator reumatoide e anticorpos contra peptídeos citrulinados podem ser encontrados em baixos títulos em até 10% dos casos.2 ● Achados pela radiografia: ○ Aumento de partes moles.2 ○ Reabsorção óssea e a osteoproliferação como → pencil in cup em casos de artrite mutilante. (Figura extraída da referência 2) ○ Sindesmófitos paravertebrais assimétricos e grosseiros.2 ○ Sacroiliíte assimétrica uni ou bilateral e, nos membros inferiores, em especial na fáscia plantar e tendão do calcâneo, os esporões.2 ● Achados no USG: ○ Inflamação nas ênteses e na membrana sinovial. 2 ● Achados na RNM: ○ Edema ósseo, erosões e osteoproliferação.2 19 Medicina 7º semestre Diagnóstico 3 ou mais pontos (Tabela extraída da referência 2) Tratamento ● Exames laboratoriais como hemograma, provas de atividade inflamatória (VHS e PCR), função renal e perfil hepático devem ser realizados. 2 ● Rastreio de HIV e hepatites B e C para pacientes que forem receber metotrexato (MTX) e leflunomida (LFN), além de investigação de tuberculose, latente ou ativa, naqueles que forem receber imunobiológicos.2 ● Orienta-se redução de peso a pacientes com elevado índice de massa corpórea e avaliação detalhada para aqueles com testes hepáticos alterados.2 ● Medidas não farmacológicas são importantes na terapêutica da APs e incluem educação dos pacientes, realização de exercícios físicos, fisioterapia, terapia ocupacional e, quando necessário, prescrição de órteses.2 ● Controle inicial de sintomas: AINE e, quando necessária, infiltração articular com corticosteroides (CE).2 ● Escalonar para DMCD sintéticas convencionais, como MTX, LFN ou CSP, com exceção daqueles pacientes com entesites sintomáticas ou doença axial.2 ○ MTX, 15 a 25 mg/semana, por via oral, subcutânea ou intramuscular. ○ LFN, 20 mg/dia, CSP de 3 a 5 mg/kg/dia. 20 Medicina 7º semestre ● Quando presentes fatores de mau prognóstico e/ou a doença permanecer ativa apesar das DMCD sintéticas por cerca de três meses, sugere-se introdução de DMCD biológicas, como os agentes inibidores do TNF alfa (TNFi) adalimumabe, certolizumabe, etanercepte, golimumabe e infliximabe, inibidores da interleucina 17 (IL-17i) ixequizumabe e secuquinumabe ou inibidor da IL12/23 (IL12/23i) ustequinumabe.2 2. Artrite reativa Definição e Epidemiologia ● Artrite transitória não purulenta reativa durante ou após uma infecção intestinal ou urogenital, em geral doenças sexualmente transmissíveis interligadas ao antígeno HLA-B27.2 ● O termo síndrome de Reiter não tem sido usado na sinonímia da doença, mas a tríade artrite, uretrite e conjuntivite descrita por Fiessinger-Leroy-Reiter é considerada na ARe.5 ● Prevalência é de 1 a 2%.2 ● Acomete principalmente indivíduos entre 18-40 anos, mas pode ocorrer em outras faixas etárias. 5 ● A proporção entre os sexos é cerca de 1:1, quando se fala de infecção entérica, mas predomina em homens quando a infecção é venérea.5 ● As artrites reativas são principalmente relacionadas com infecção prévia urogenital e intestinal e no fato de 60% dos pacientes serem HLA-B27 positivos. 2 ● As bactérias envolvidas são Chlamydia trachomatis e pneumoniae, Campilobacter jejuni, fetus e lari, Clostridium difficile, Salmonella typhimurium e enteriditis, Shigella flexneri e sonnei e Yersinia enterocolitica.2 ● A bactéria Chlamydia trachomatis é responsável em média por 50% das artrites reativas, e 1 a 3% dos pacientes com uretrite por Chlamydia trachomatis desenvolvem a ARe.2 Patogenia ● Supõe-se que os linfócitos T sejam induzidos por fragmentos bacterianos, comolipopolissacarídeos e ácidos nucleicos, quando bactérias invasoras atingem a circulação sistêmica. 2 ● Essas células T citotóxicas ativadas então atacam a sinóvia e outros autoantígenos por meio de mimetismo molecular. 2 21 Medicina 7º semestre ● Acredita-se que a resposta de citocinas antibacterianas também seja prejudicada na artrite reativa, resultando na diminuição da eliminação das bactérias. 2 Quadro Clínico ● A ARe pode apresentar uma grande variedade de sinais e sintomas, que surgem de 1 a 4 semanas após o evento infeccioso e variam desde sintomas gerais inespecíficos, como mal-estar geral, febre baixa e fadiga, até manifestações específicas, sendo as mais comuns: Balanite circinata (30%), queratoderma blenorrágico (20%) , úlceras orais indolores (25%), distrofia ungueal (10%).2 ○ Musculoesqueléticas: ■ Oligoartrite, periférica e assimétrica (mais comum).2 ■ O início geralmente é agudo, mas a forma insidiosa pode ocorrer. 2 ■ Acometimento axial: coluna vertebral em qualquer segmento e a articulação sacroilíaca geralmente de forma unilateral.2 ■ Entesite e dactilite ou “dedo em salsicha” nos artelhos são comuns e bastante sugestivas de espondiloartrite.2 ○ Manifestações mucocutâneas: ■ Ceratodermia blenorrágica ou pustulose palmoplantar e a balanite circinada (mais comuns).2 ■ Úlceras orais indolores e autolimitadas e alterações ungueais similares a lesões psoriásicas.2 ■ As lesões mucocutâneas têm importante relação com a presença de HLA-B27.2 ○ Manifestações genitourinárias: ■ Uretrite: queimação ou ardor ao urinar, além de uma secreção mucoide e discreta, edema e hiperemia no meato uretral (mais comum).2 ○ Manifestações gastrointestinais: ■ O episódio intestinal mais comumente é de leve intensidade e ocorre de dias a semanas antes do aparecimento da artrite.2 ○ Outras manifestações: ■ Acometimento cardíaco, como distúrbios de condução e insuficiência aórtica (raras).2 ■ Glomerulonefrites e nefropatias IgA relacionadas (raras).2 22 Medicina 7º semestre (Figuras extraídas dos slides) Diagnóstico ● Quadro clínico + história de antecedente infeccioso + apoio laboratorial.2 ○ Hemograma: algum grau de anemia, leucocitose.2 ○ Marcadores de inflamação.2 ○ Pesquisa de HLA-B27.2 Tratamento ● AINE’s: sintomático e, com frequência, na dose plena.2 ● Glicocorticoides: ○ Evitá-los como primeira escolha.2 ○ Necessidade de se introduzir glicocorticoide por via oral em doses variáveis.2 ○ Infiltrações intra-articulações podem ter benefício.2 ● Antibióticos: ○ Fluoroquinolonas: enteroartrites.2 ○ Doxiciclina: infecção por Chlamydia.2 ● Sulfassalazina: ○ Bons resultados em até 60% dos paciente.2 ○ A dose pode variar de 500 mg até 3 g/dia.2 ● Metotrexato: ○ Considerar na ARe crônica.2 ○ Utilização de metotrexato com protocolo semelhante ao de artrite reumatoide.2 ● Anti-TNF: ○ Aguardam-se estudos prospectivos que comprovem a eficácia. 3. Artrite enteropática Definição e Epidemiologia 23 Medicina 7º semestre ● Artrite enteropática são as espondiloartrites (EpA) associadas às doenças inflamatórias intestinais.2 ● Considera-se a doença de Crohn (DC) e a colite ulcerativa (CU) como as duas principais formas de apresentação da DII.2 ● DII têm como sintomas principais a tríade formada por diarreia, dor abdominal e sangramento digestivo baixo, além de sintomas sistêmicos como febre, emagrecimento e fadiga.2 ● Sintomas obstrutivos, doença fistulizante ou ainda com manifestações extraintestinais como inflamação ocular (uveíte), artrite, lesões cutâneas (pioderma gangrenoso, eritema nodoso) e doença hepatobiliares (colangite e litíase biliar, entre outras). 2 ● Apresentam, com frequência, curso intermitente alternando períodos de exacerbações e remissões.2 ● DC: inflamação profunda (transmural), descontínua, com potencial para acometer todo o tubo digestivo, mas com envolvimento predominante do íleo terminal e cólon proximal.2 ● CU: caracteriza-se pela inflamação superficial (mucosa), contínua e ascendente a partir do reto. 2 (Figura extraída da referência 2) ● Pico de incidência na 2ª e 3ª décadas de vida, com prevalências estimadas, cada uma, nos EUA, em até 0,2% da população geral. 2 ● Ambas ocorrem em homens e mulheres com a mesma proporção, sendo a DC ligeiramente mais comum emmulheres e a CU em homens.2 ● Quadros de artrite periférica ocorrem com frequências similares entre DC e CU.2 Patogênese 24 Medicina 7º semestre ● Alterações na permeabilidade da mucosa, com quebra das barreiras intestinais epitelial e vascular, fenômeno presente nas DII e associado a alterações da microbiota intestinal, poderiam favorecer a translocação de bactérias e/ou seus subprodutos, garantindo um acesso ao sistema imune central e induzindo respostas imunes com efeito extraintestinal, compondo o que se chama de eixo intestino-articulação.2 Quadro Clínico ● Na DII, até 50% dos pacientes apresentarão pelo menos uma manifestação extraintestinal, que algumas vezes pode anteceder o quadro intestinal. 2 ● Dentre essas manifestações, a artropatia inflamatória é a mais comum. 2 ● São fatores de risco conhecidos para seu aparecimento: ○ DII ativa (principalmente se houver outras manifestações extraintestinais);2 ○ História familiar de DII;2 ○ Tabagismo e fatores genéticos.2 ● A artrite periférica é usualmente não deformante e não erosiva.2 ○ Tipo 1: se correlaciona com DII ativa ou pode precedê-la e é a mais comum. ■ É oligoarticular, assimétrica e predomina nas grandes articulações dosMMII. 2 ■ Aguda e remitente, com resolução em até 6 meses e raramente cronifica. 2 ○ Tipo 2: independe da atividade intestinal e émenos frequente. 2 ■ É poliarticular, simétrica e predomina emMMSS.2 ■ Atinge pequenas e grandes articulações. 2 ■ Intermitente com flares mais graves e tende a cronificar.2 ● Artrite axial: ○ Independe da atividade da doença intestinal. 2 ○ Lombalgia inflamatória, sacroiliíte sintomática ou não, ou ainda EA que pode progredir com grande limitação da mobilidade. 2 ○ É mais comum na DC, seu início precede a enterite e seu curso não está relacionado a ela. 2 ● Entesite e dactilite também podem ocorrer na artrite associada à DII. 2 ● Fasciíte plantar e entesite aquileana são as formas mais comuns. 2 ● A episclerite é o acometimento ocular mais comum associado à DII, mas uveíte anterior bilateral também pode estar presente.2 25 Medicina 7º semestre ● Eritema nodoso, pioderma gangrenoso, colangite esclerosante primaria, tireoidite de Hashimoto, trombose arterial e venosa e envolvimento ósseo (periostite, lesão óssea granulomatosa, osteoporose e osteomalácia). 2 Exames complementares ● PCR, VHS, contagem de leucócitos e plaquetas geralmente estão aumentadas na DII.2 ● FR geralmente negativo.2 ● Pode haver anemia da doença crônica ou ferropriva.2 ● HLA-B27 em 40% dos pacientes.2 ● ASCA, pANCA (65% dos pacientes com CU e em menos que 10% na DC) - baixa sensibilidade e especificidade.2 ● Calprotectina fecal: mais sensível para identificar inflamação intestinal, especialmente na doença do cólon.2 ● Radiografias de articulações periféricas: edema de partes moles, porose justa articular, leve periostite e sinais de derrame articular, usualmente sem erosões ou destruição articular.2 ● Radiografias de coluna e pelve: achados típicos de EA e sacroiliíte.2 ● Ressonância magnética: melhor método para detectar inflamação ativa em coluna e sacroilíacas. 2 ● Ileocoloscopia: método de referência para o diagnóstico para DII. 2 ● Êntero-tomografia e êntero-ressonância: quando a endoscopia não for conclusiva ou não puder ser feita.2 Tratamento ● AINES: ○ Utilizar de forma criteriosa.2 ○ Pacientes sem atividade da DII, por curtos períodos e em baixas doses. 2 ○ Se DII grave, preferir glicocorticoides para quadro articular.2 ● DMARDs (sulfasalazina, mesalazina ou azatioprina) + glicocorticoides se doença mais grave.2 ● Anti-TNFα monoclonais (infliximabe, adalimumabe, golimumabe, certolizumabe pegol): ineficácia, intolerância ou efeitos adversos àsmedicações citadas, está indicado o uso de terapia biológica.2 ● Em caso de falha primária ou secundária ao primeiro biológico anti-TNFα, está indicada a troca para um segundo biológico da mesma classe. 2 ● Em uma segunda falha, o ustequinumabe (um inibidor de IL-12/23) poderá ser utilizado.2 26 Medicina 7º semestre ● Inibidoras da enzima Janus quinase (JAK): Tofacitinibe, upadacitinibe, baricitinibe, filgotinibe e peficitinibe.2 ● Reabilitação física, o suporte nutricional e o psicológico.2 Ob�.: A espondiloartrite indiferenciada (EI) engloba os pacientes com manifestações clínicas diversas das espondiloartrites (EpA), mas que não apresentam os critérios para o diagnóstico de nenhuma outra doença do grupo. 2 Referências [1] RESENDE, Gustavo Gomes et al. The Brazilian Society of Rheumatology guidelines for axial spondyloarthritis – 2019. Advances in Rheumatolog, [s. l.], v. 60, n. 19, p. 1-35, 2020. [2] MARQUES, Claudia Diniz Lopes et al. Espondiloartrites axiais e espondilite anquilosant. In: SHINJO, Samuel Katsuyuki et al. Livro da Sociedade Brasileira de Reumatologia. 2. ed. Barueri: Elsevier, 2021. cap. 24, p. 170-177. [3] PODDUBNYY, Denis; SIEPER, Joachim. Axial spondyloarthritis. Lancet, [s. l.], v. 390, p. 73-84, 19 jan. 2017. [4] TAUROG, Joel D. Ankylosing Spondylitis and Axial Spondyloarthritis. New England Journal of Medicine, [s. l.], v. 374, p. 2563-74, 2016. [5] Medcurso 2019 - Reumatologia, vol.1, cap. 2. [6] SIEPER, J.; BRAUN, J.; DOUGADOS, M. et al. Axial spondyloarthritis. Nat Rev Dis Primers 1 , 15013 (2015). https://doi.org/10.1038/nrdp.2015.13 27
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