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1 ESTUDO RETROSPECTIVO SOBRE DOENÇAS NEUROLÓGICAS EM RUMINANTES DA REGIÃO NOROESTE DO RIO GRANDE DO SUL Retrospective Study on Neurological Diseases in Ruminants From the Northwest of Rio Grande of Sul Andressa Trindade Nogueira1, Francini Thaís Strieder2, Stéfani dos Santos Torres2, Guilherme Konradt3, Cristina Krauspenhar Rossato4, Daniele Mariath Bassuino5 Resumo: Este estudo teve por objetivo a caracterização epidemiológica, clínica e patológica das doenças neurológicas que afetam ruminantes da região Noroeste do Rio Grande do Sul. Foi realizado um estudo retrospectivo no período compreendido entre janeiro de 2014 a dezembro de 2020, no qual 61 bovinos, 22 ovinos e 2 caprinos foram necropsiados. Destes, 12 bovinos, 2 ovinos e um caprino foram diagnosticados com doenças neurológicas. As doenças neurológicas de origem infecciosa totalizaram 10 casos: babesiose cerebral (6 bovinos); mielite abscedativa pós-caudectomia (2 ovinos); empiema basilar e meningite supurativa (1 bovino); meningite supurativa (1 caprino); Doenças de origem traumática com envolvimento neurológica incluíram um caso de fratura de vértebra lombar e mielomalacia hemorrágica (1 bovino); Doenças degenerativas: totalizaram 2 casos de polioencefalomalacia (2 bovinos); Neoplasias com envolvimento do sistema nervoso incluíram um caso de Leucose enzoótica bovina e um tumor maligno de bainha de nervos periféricos em bovinos, Nos bovinos, a babesiose cerebral foi a doença neurológica mais prevalente para a espécie, relacionada com a região ser endêmica para o carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus, o qual, é vetor da B. bovis. Dos dados analisados neste período, as doenças neurológicas infecciosas representaram um total de 66,6% (n=10) entre as doenças neurológicas de ruminantes diagnosticadas neste período e, com isso, conclui-se que representa uma importante causa de mortalidade para os ruminantes domésticos. Palavras-chave: Neuropatologia. Ruminantes. Doenças infecciosas. Abstract: Neurological diseases (ND) in ruminants represent an important group of diseases responsible for economic losses worldwide. This study aimed at the epidemiological, clinical and pathological characterization of neurological diseases that affect ruminants in the Northwest region of Rio Grande do Sul. A retrospective study was carried out in the period from January 2014 to December 2020, in which 61 cattle, 22 sheep and 2 goats were necropsied. Of these, 12 cattle, 2 sheep and 1 goat were diagnosed with neurological diseases. Infectious neurological diseases totaled 10 cases: cerebral babesiosis (6 cattle); post-caudectomy abscessive myelitis (2 sheep); basilar empyema and suppurative meningitis (1 bovine); suppurative meningitis (1 goat); Traumatic diseases with neurological involvement included one case of fracture of the lumbar 1 Bolsista PIBIC/CNPq. Discente do curso de Medicina Veterinária, Universidade de Cruz Alta- Unicruz., Cruz Alta, Brasil. E-mail: andressa2018.mv@gmail.com 2 Discente do curso de Medicina Veterinária, Universidade de Cruz Alta- Unicruz, Cruz Alta, Brasil. 3 Médico veterinário e patologista. Email: gkonradt@unicruz.edu.br 4 Médica veterinária e patologista. Email: ckrauspenhar@unicruz.edu.br 5 Pesquisador do Laboratório de Patologia Veterinária- LPV, Docente da Universidade Cruz Alta- Unicruz. E-mail: dbassuino@unicruz.edu.br. 2 vertebra and hemorrhagic myelomalacia (1 bovine); Degenerative diseases: totaled 2 cases of polioencephalomalacia (2 cattle); Neoplasms involving the nervous system included a case of enzootic bovine leukosis and a malignant peripheral nerve sheath tumor in cattle. In cattle, cerebral babesiosis was the most prevalent neurological disease for the species, related to the region being endemic for the tick Rhipicephalus (Boophilus) microplus,, which is a vector of B. bovis. Of the data analyzed in this period, infectious neurological diseases accounted for a total of 66.6% (n=10) among the neurological diseases of ruminants diagnosed in this period and, therefore, it is concluded that it represents an important cause of mortality for ruminants household appliances. Keywords: Neuropathology. Ruminants. Infectious diseases. 1 INTRODUÇÃO As afecções neurológicas em ruminantes compõem um importante grupo de doenças responsáveis por perdas econômicas em todo mundo (KONRADT et al., 2016). No Rio Grande do Sul há estimativa de perda de aproximadamente 11 milhões de reais/ano (SANCHES et al., 2000). As doenças que afetam o sistema nervoso apresentam uma casuística elevada no Brasil como demonstrado por alguns estudos no estado do Mato Grosso do Sul, no qual 57,19% (n= 588) dos bovinos necropsiados apresentavam sinais clínicos neurológicos e destes, 54,34% (n= 341) tiveram diagnóstico definitivo de doença neurológica (RIBAS et al., 2013). No semiárido nordestino o percentual de bovinos afetados por doenças neurológicas foi de 33,81% (n=139) (GALIZA et al., 2010) e no estudo de Sanches et al. (2000) realizado no Rio Grande do Sul, o percentual dessas doenças foi de 9,16% (n=552). Em relação ao rebanho de pequenos ruminantes vale ressaltar a região do Semiárido nordestino, a qual possui o maior rebanho do Brasil. 9,92% (n=63) dos animais estudados tiveram diagnóstico positivo para doenças neurológicas (GUEDES et al., 2007) e no Rio Grande do Sul 16% (n=58) dos diagnósticos envolveram o sistema neurológico (RISSI et al., 2010). Ainda, as enfermidades do sistema nervoso ganharam mais importância, bem como seu diagnóstico devido ao seu potencial zoonótico como a raiva e a encefalopatia espongiforme bovina (BSE) (TERRA, 2017). Dessa forma, os países exportadores de carne bovina, como o Brasil tem obrigatoriedade em demonstrar para a comunidade internacional que não possuem casos locais de BSE, assim, o diagnóstico definitivo das enfermidades desse grupo se torna ainda mais importante, já que o país deve demonstrar quais as enfermidades neurológicas estão presentes no rebanho nacional (SANCHES, 2000). 3 As causas das doenças neurológicas têm ampla variedade etiológica, podendo ser infecciosas, tóxicas, físicas, metabólicas, congênitas e neoplásicas, as quais produzem processos de natureza inflamatória, vascular e degenerativa no encéfalo ou na medula espinhal (BARROS et al., 2006). Devido a importância do diagnóstico das doenças neurológicas nos ruminantes, o objetivo deste estudo consiste em determinar quais as doenças neurológicas mais frequentemente diagnosticadas como causas de morte em ruminantes na área de abrangência do Laboratório de Patologia Veterinária da Unicruz. 2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Foi realizado um estudo retrospectivo sobre as doenças neurológicas de ruminantes diagnosticadas em propriedades atendidas pela equipe do Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade de Cruz Alta (LPV-UNICRUZ). A partir dos arquivos do LPV-UNICRUZ buscou- se pelas doenças que afetaram ruminantes no período de 2014-2020 e computou-se os achados epidemiológicos, clínicos e anatomopatológicos de cada doença, assim como, buscou-se pelos registros fotográficos dos casos. Ainda, um estudo prospectivo está em andamento, o qual consiste na necropsia de ruminantes atendidos à campo pela equipe do LPV-UNICRUZ, assim como de ruminantes recebidos no laboratório e realizada a coleta de amostras e fixação de tecidos em formalina 10%, clivagem, processamento e coloração com hematoxilina e eosina (HE) para exame histopatológico. Quando necessário, amostras dos órgãos foram coletadas e mantidas refrigeradas para a realização de exames complementares. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Durante os anos 2014 a 2020 foram diagnosticadas 85 enfermidades em ruminantes domésticos. Dessas, 17,6% (15/85 casos) obtiveram diagnósticos conclusivospara doenças neurológicas. As causas infecciosas (66,6% n=10) predominaram sobre as alterações degenerativas (13,3% n= 2), traumas (6,6% n=1) e neoplasias (13,3% n=2) de acordo com a tabela 1. 4 Tabela 1- Diagnóstico diferencial das doenças neurológicas dos bovinos (n= 15) diagnosticadas no Laboratório de Patologia Veterinária da Unicruz, entre 2014 e 2020. Causas Diagnóstico n % Infecciosas 10 66,6 Babesiose cerebral 6 40 Mielite abscedativa pós-caudectomia 2 13,3 Empiema basilar e meningite supurativa 1 6,6 Meningite supurativa 1 6,6 Traumas 1 6,6 Fratura de vertebra lombar e mielomalacia hemorrágica 1 6,6 Alterações degenerativas 2 13,3 Polioencefalomalacia 2 13,3 Neoplasias 2 13,3 Leucose enzoótica bovina 1 6,6 Tumor maligno de bainha de nervos periféricos 1 6,6 Total 15 100 Fonte: Elaborado pelos autores (2021). A babesiose possui relevância epidemiológica no estado do RS, tendo em vista que é uma área instabilidade enzoótica para o carrapato Rhipicephalus (Boophilus) microplus e predomínio de raças europeias (RISSI et al., 2010). As doenças de origem infecciosas foram as mais prevalentes no presente estudo, destas, a babesiose cerebral foi a doença de origem infecciosa com maior casuística. Como esperado, os casos de babesiose cerebral deste estudo eram pertencentes às raças europeias das raças Holandesa e Angus. Os animais apresentavam sinais clínicos de febre, incoordenação motora, decúbito, andar a esmo, cegueira, pressão da cabeça contra objetos, ataxia, palidez de mucosas e icterícia, e uma propriedade apresentou índice de mortalidade de 20%. Os sinais clínicos destes casos são condizentes com os descritos por Rodrigues et al. (2005) em que eritrócitos parasitados em capilares cerebrais pela B. bovis após infecção, podem induzir o sequestro destes eritrócitos nos capilares cerebrais resultando em sinais neurológicos, tornando-se ocasionalmente fatal. As lesões macroscópicas encontradas foram de palidez ou icterícia em mucosas, esplenomegalia, hepatomegalia, vesícula biliar com conteúdo grumoso, rins congestos e hemoglobinúria, lesões semelhantes foram descritas na pesquisa de Câmara et al. (2009) e Farias (2007). Dos 6 casos de babesiose cerebral todos apresentaram no córtex telencefálico a lesão patognomônica, que morfologicamente é descrita 5 como congestão difusa acentuada em substância cinzenta encefálica (cérebro em coloração cereja) (RODRIGUES et al., 2005). Na microscopia de seis casos o encéfalo apresentou congestão vascular e edema perivascular na substância cinzenta. Por meio da técnica de esfregaço e imprint de capilares do encéfalo a fresco, baço e fígado, microorganismos morfologicamente compatíveis com Babesia bovis no interior de eritrócitos foram observados, os quais apareciam solitários ou pareados, através da coloração de Giemsa e/ou panótico rápido. Os imprints dos órgãos possibilitam a visualização do hemoparasita dando subsídios para o diagnóstico (RODRIGUES et al., 2005; FARIAS, 2007). Foram observados dois casos de mielite abscedativa pós-caudectomia. Os ovinos foram submetidos a caudectomia com borracha e apresentaram paralisia progressiva de membros pélvicos. Os ovinos apresentaram sinais de déficit proprioceptivo após duas semanas do procedimento, paresia de membros pélvicos, incontinência urinária, com evolução para paralisia de membros pélvicos em um curso clínico de oito dias como descrito por Riet-correa et al. (2002), em que esses sinais clínicos estão relacionados a lesões medulares presentes, principalmente, nas vértebras dorsais, lombares e sacrais. De acordo com Radostitis et al. (2002), após procedimento de caudectomia inadequado e consequente lesão na região de cauda sem tratamento curativo proporciona local adequado para infecção por agentes piogênicos, os quais podem contaminar o canal medular por ascensão via extensão direta ou por via hematogênica. Macroscopicamente, os ovinos apresentaram acentuada quantidade de material purulento em região de medula espinhal sacral e intumescência lombar envolvendo predominantemente a região central medular. Microscopicamente, essa inflamação na configurou-se com intensa necrose liquefativa em região central medular associado a intenso infiltrado inflamatório composto por neutrófilos íntegros e degenerados, linfócitos e macrófagos, além de abundante quantidade de miríades bacterianas cocoides basofílicas e debris celulares intralesionais, condizente com as lesões macroscópicas e histológicas de Rissi et al. (2010). Neste estudo, houve um caso de empiema basilar (1,3%) também conhecido como síndrome do abscesso pituitário. De acordo com Santos et al. (2017) os abscessos no SNC comumente são causados por bactérias piogênicas como Trueperella pyogenes, Staphylococcus aureus, Escherichia coli, Streptococcus spp., Fusobacterium necrophorum e Pseudomonas spp. causando abscessos principalmente em ovinos, caprinos e bovinos. Relata-se que a técnica de desmame interrompido pelo uso de tabuleta nasal pode provocar a ocorrência de abscessos para- hipofisários e leptomeningite em bezerros, neste caso a patogênese se relaciona a lesão causada 6 na mucosa nasal como porta de entrada para bactérias que migram pela circulação venosa e ocasionam o abscesso de pituitária. No entanto, há relatos de casos de abscessos para- hipofisários associados a sinusite sem o uso da tabuleta nasal, pois as portas de entrada para as bactérias são múltiplas, incluindo via umbilical, faringe e trato gastrintestinal (SANTOS, et al. 2017). O bovino acometido não tinha histórico de uso da tabuleta nasal, o diagnóstico foi dado através de sinais clínicos e achados macroscópicos e histopatológicos. Os sinais clínicos apresentados foram de nistagmo, pleurostótono, evoluindo para decúbito esternal e lateral em um curso clínico de 12 horas. De acordo com Riet-Correa (2002) abscesso no SNC irão causar lesões variadas de acordo com a extensão do abscesso e afecção de vários pares de nervos cranianos quando a lesão é no tronco encefálico, nesta enfermidade os principais são o nervo trigêmeo, abducente, vestíbulo coclear, glossofaríngeo, vago e hipoglosso. No exame macroscópico o bovino apresentou acentuada quantidade de material purulento de coloração amarelada em região de osso basisfenoide (empiema basilar) e de forma difusa acentuada em superfície basal de encéfalo (meningite supurativa). Ao corte, em região de mesencéfalo havia uma área focal de necrose liquefativa com conteúdo purulento (abcesso). Na histopatologia observou-se acentuada necrose liquefativa associada a intenso infiltrado inflamatório composto por neutrófilos íntegros e degenerados, macrófagos com grande quantidade de debris celulares semelhante ao descrito anteriormente sobre leptomeninges e por vezes, perivascular. O gânglio do nervo trigêmeo continha infiltrado inflamatório multifocal moderado de linfócitos, plasmócitos, macrófagos e ocasionais neutrófilos. Esses achados macro e microscópicos levaram ao diagnóstico de meningoencefalite e ganglioneurite supurativa acentuada (empiema basilar) e são característicos da doença sendo descritos também por outros autores (KONRADT et al., 2016, LORETTI et al., 2003, CÂMARA et al., 2009). Houve ocorrência de apenas um caso neurológico em um animal da espécie caprina. O diagnóstico foi de meningoencefalite supurativa multifocal, o animal tinha apenas 30 dias de idade, macho, raça Boher. Cabe ressaltar que são escassos os relatos de meningoencefalite supurativa em caprinos. A inflamação pode chegar ao sistema nervoso, por uma porta de entrada em vias mucosas se instalando no SNC por via hematogênica ou por contato direto em fratura ou penetraçãodo crânio (JONES et al., 2003). Os sinais clínicos neurológicos incluíram depressão intensa, pleurostótono, pressão da cabeça contra objetos, incoordenação motora que evoluía para decúbito lateral e morte. Neste caso o agente etiológico não foi identificado, entretanto E. coli, Pasteurella spp., Streptococcus spp. e T. pyogenes já foram isolados em casos de meningite em 7 ovinos e caprinos (MARCHEN et al., 2005; LEMOS; BRUM, 2007; KONRADT et al., 2017). Para Fecteau et al. (2009) em ruminantes neonatos como neste caso, a principal doença neurológica nessa faixa etária é a leptomeningite de origem bacteriana. Isso está associado com a falha na transmissão de imunidade passiva devido, nutrição deficiente e infecções virais concomitantes. No exame macroscópico o cérebro apresentou discreta hiperemia das leptomeninges e microscopicamente havia no encéfalo proliferação de infiltrado inflamatório misto, constituído principalmente por neutrófilos na meninge e perivasculares, associado a microbascessos. Em região de meninge havia infiltrado exuberante constituído principalmente por neutrófilos infiltrando vasos sanguíneos. Lesões macroscópicas e microscópicas semelhantes foram encontradas em outros estudos (KONRADT et al., 2017; RADOSTITS et al., 2002, MACHEN et al., 2004). Dentre doenças de natureza traumática houve um caso de fratura de vértebra lombar e mielomalacia hemorrágica em um animal da espécie bovina, fêmea, 2 anos, Holandesa. O bovino foi encontrado no campo em decúbito esternal apresentando intensa dificuldade de locomoção. No exame clínico, observou-se paresia com evolução a paralisia de membros pélvicos, sem resposta sensorial, a partir de L3 com curso clínico de dois dias. A debilidade dos membros é decorrente de acordo com o segmento medular afetado. Macroscopicamente, na abertura do canal medular observou-se uma fratura completa entre L5 e L6 com intensa compressão medular associada a intensas áreas de hemorragia, ao corte transversal de medula espinhal observou-se áreas multifocais de hemorragia semelhante aos relatos de Galiza et al. (2010). Histologicamente, essas lesões se mostraram por intensa degeneração walleriana, caracterizada pela formação de esferoides axonais multifocal acentuada, ocasionais astrócitos gemistocíticos e infiltrado de células Gitter. Ainda, intensa necrose neuronal com neurônios hipereosinofílicos, citoplasma retraído e núcleos picnóticos, além de acentuada hemorragia multifocal em substância branca e cinzenta. As lesões histopatológicas de traumas em coluna vertebral são pouco descritas em outros estudos. Neste caso foi descrita a mielomalacia hemorrágica, a qual é uma necrose aguda, isquêmica, hemorrágica e progressiva da medula espinhal com liquefação da mesma, causada por pressões na medula espinhal (ZILIO, 2013). A polioencefalomalácia (PEM) teve casuística de 2,6% (n=2) neste estudo. Um dos casos era um bovino, macho de 8 meses de idade, raça cruzada (Holandês/Angus). Os sinais neurológicos eram de incoordenação motora, cegueira bilateral, opistótono e decúbito lateral, evolução clínica de 3 dias. O segundo caso foi de um animal da espécie bovina, macho, 1 ano de 8 idade, zebuíno encontrado em decúbito. No ano em que a necropsia foi realizada 4 animais morreram na propriedade com as mesmas manifestações e 15 animais morreram no ano anterior com os mesmos sinais clínicos. A PEM ou necrose cerebrocortical, descreve literalmente “malacia da sustância cinzenta do encéfalo” ou seja é um termo que indica a lesão de necrose laminar do córtex cerebral que pode ocorrer em inúmeras etiologias como, intoxicação por cloreto de sódio e síndrome de privação de água, envenenamento por chumbo, encefalite por herpesvírus bovino-5 (BHV-5), envenenamento por cianeto e intoxicação por enxofre ou para indicar uma neuropatologia causada por distúrbios no metabolismo da tiamina, que apresenta também necrose laminar do córtex cerebral (RADOSTITS et al., 2007). As lesões macroscópicas no sistema nervoso central no primeiro caso foram áreas de malacia multifocais distribuídas em córtex telencefálico parietal e occipital, caracterizadas por áreas acinzentadas, por vezes com hemorragias, com depressão e achatamento de giros telencefálicos envolvendo predominantemente região de substância cinzenta de córtex telencefálico, microscopicamente essas lesões foram representadas por necrose neuronal laminar cortical caracterizada por neurônios retraídos com citoplasma hipereosinofílico e núcleos picnóticos. Ainda, extensas áreas de desprendimento na interface de substância cinzenta-branca, por vezes, contendo esferoides axonais, moderada vacuolização e infiltrado de “células Gitter” adjacente a vasos sanguíneos. Além de, necrose de células endoteliais de pequenos vasos sanguíneos em região de córtex telencefálico. Autores como Sant Ana et al., (2009); Lima et al., 2005 descrevem lesões semelhantes. No segundo caso na macroscopia havia no hemisfério direito, porção frontal, uma área focalmente extensa amarelada, friável e edematosa, além de acentuada hiperemia dos vasos sanguíneos. Histologicamente, necrose laminar multifocal de neurônios, presença de neurônios vermelhos com discreto edema perineural e perivascular. Devido à dificuldade de esclarecer as diferentes etiologias, o critério de diagnóstico de PEM é baseado no quadro clínico, achados de necropsia, e principalmente nos achados histopatológicos de necrose laminar de neurônios e malacia caracterizada pela presença de células de gitter (NAKAZATO et al., 2000). Foram diagnosticados 2 casos de neoplasias na presente pesquisa, um acometendo SNC e outro acometendo sistema nervoso periférico. Um caso de linfossarcoma (Leucose enzoótica bovina) foi diagnosticado em uma fêmea, bovina, 8º mês de gestação, 5 anos, Holandesa. Os sinais clínicos foram decúbito esternal com tetraparalisia súbita, sinais semelhantes foram encontrados no estudo de Galiza et al., (2010) e descritos por Oliveira, (2000). A leucose enzoótica bovina (LEB) é causada por um retrovirus (QUINN, et al., 2005), sendo distribuída 9 continentalmente e pode manifestar-se na forma tumoral, principalmente em órgãos linfoides de bovinos (baço e linfonodos) ou apenas com a presença de anticorpos para o vírus da leucemia bovina (VLB), podendo chegar à fase intermediária em que ocorre o quadro de linfocitose persistente (REBHUN, 2000). Macroscopicamente, havia aumento acentuado dos linfonodos hepáticos que ao corte exibiam coloração branco amarelada homogênea difusa, pouco delimitado com perda da arquitetura córtico-medular. Ainda, havia intenso espessamento da mucosa do abomaso que, ao corte, exibiam lesões brancas amareladas, não delimitadas que se estendiam de submucosa a região muscular. O coração apresentava uma massa de 3 cm de diâmetro em átrio direito infiltrando o parênquima adjacente. Observou-se ainda, na abertura do canal medular, massas difusas semelhantes às descritas anteriormente em região extradural, as quais comprimiam medula espinhal da região de intumescência lombar e sacral. De acordo com Rebhun, (2000) abomaso, coração, espaço retrobulbar e região epidural do sistema nervoso central são órgãos alvo específico do linfossarcoma, assim como, ocorre afecção de linfonodos e por fim, os tumores invadem demais órgãos não específicos como trato respiratório superior e inferior, úbere, pré-estômago, rins, ureteres, fígado, baço e medula óssea e trato intestinal. No exame histopatológico da medula espinhal (espaço extra-dural), abomaso, coração e linfonodos houve proliferação neoplásica maligna de linfócitos arranjadas em manto infiltrando o parênquima adjacente. Ainda, na medula espinhal (intumescência lombar e medula espinhal sacral) observou-se moderada vacuolização e esferoides axonais eosinofílicos em substância branca, lesões compatíveis com o descritopor Riet-correa et al., (2001). Geralmente a associação de sinais clínicos e epidemiologia associados os achados anatomopatológicos são suficientes para o diagnóstico confirmatório da doença (SILVA et al, 2008). Outra neoplasia foi diagnosticada em um bovino, fêmea, 6 – 7 anos, raça Holandesa. O diagnóstico de Tumor maligno de bainha de nervos periféricos foi dado a partir de achados macroscópicos e anatomopatológicos. O termo “Tumor Maligno da Bainha do Nervo Periférico” (TMBNP) se refere ao tumor primário do nervo periférico, é uma neoplasia de origem mesenquimal considerada incomum tanto em animais domésticos quanto em silvestres (ZACHARY, 2013). Neste relato, foi observado na macroscopia, a presença de uma massa em região ilíaca que media 15x20x8 cm, de coloração branca amarelada, firme, pouco delimitada que envolvia linfonodos ilíacos internos e estruturas vasculares adjacentes, predominantemente artéria aorta abdominal. Lecouter e Withrow, (2007) descrevem as massas de TMBNP com características semelhantes a estas encontradas. Ainda, os rins exibiam áreas nodulares brancas 10 de consistência firme, ao corte, envolvendo região cortical e medular. As adrenais estavam aumentadas de tamanho, ao corte, exibiam estruturas nodulares semelhantes às descritas previamente. À abertura da medula espinhal, em região de medula espinhal sacral, havia lesões nodulares, de consistência firme adjacente a gânglios e nervos paravertebrais, ao corte, apresentava coloração branca amarelada não encapsulada. Estas lesões eram observadas no interior de grandes vasos (artéria aorta abdominal nas proximidades da região ilíaca) aderidas na íntima do vaso. Essa neoplasia já foi relatada em variados órgãos em bovinos, nas cavidades torácica, abdominal, traqueia coração, fígado e linfonodos mediastínicos (BEYTUT et al., 2006). As massas em região ilíaca, rins, gânglio e nervos paravertebrais da região sacral, adrenal, linfonodos ilíacos internos histologicamente apresentaram proliferações neoplásicas nodulares pouco delimitadas e infiltrando tecido adjacente. As células se arranjam em feixes multidirecionais, por vezes em aglomerados delimitados por discreto tecido conjuntivo fibroso. Observou-se ainda nas regiões centrais intensa necrose, além de trombose acentuada de múltiplos vasos sanguíneos contendo inúmeras células neoplásicas em seu interior. Em relatos deste tumor em cães são descritos vários padrões morfológicos, anaplasia, elevado índice mitótico, necrose, invasão de tecidos adjacentes e metástase em órgãos distantes como o pulmão (STOICA; TASCA; KIM, 2001). Pela semelhança histológica a outros tumores como hemangiopericitoma, fibrossarcoma, histiocitoma fibroso maligno, leiomiossarcoma, rabdomiossarcoma e sarcoma sinovial, faz destes, diagnósticos diferenciais sendo recomendada a realização de exame histopatológico e imuno-histoquímico para o diagnóstico definitivo (GROSS et.al., 2005). 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS As doenças neurológicas representaram importantes enfermidades diagnosticadas em ruminantes. A babesiose cerebral foi a principal doença neurológica em bovinos, enquanto que nos pequenos ruminantes as principais doenças foram infecciosas e inflamatórias, com destaque para infecções bacterianas ascendentes pós-caudectomia. Cada enfermidade possui as suas particularidades, por meio de estudo epidemiológico, clínico e patológico é possível ter subsídios para o diagnóstico e estabelecimento de medidas preventivas ao surgimento de novos casos. REFERÊNCIAS BARROS, C.S.L. Neuropatias bovinas emergentes. Ciência Animal Brasileira, Santa Maria, vol.10, p. 1-18, 2009. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/vet/article/view/7667/5440. Acesso em 13 jan. 2017. 11 BEYTUT, E. Multicentric malignant schwannoma in a crossbed cow. Journal of Comparative Pathology, Amsterdã, vol. 134, n. 2-3, p. 260-265, 2006. Disponível em: https://sci- hub.se/10.1016/j.jcpa.2005.10.006. Acesso em: 10 jun. 2021. CAMARA, A.C.L. et al. Síndrome do abscesso pituitário em bezerros na Região Centro-Oeste. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v. 29, n. 11, p.925-930, 2009. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-736X2009001100011. Acesso em: 21 jun. 2021. FARIAS, N. A. Tristeza parasitária bovina. 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