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Unidade 4

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Unidade 4 
 Aula 1 - Estado de direito ecológico
Surgimento do estado de direito ecológico
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Na modernidade, o constitucionalismo passou pelas feições de Estado Liberal, de Estado Social e, atualmente, encontra-se como Estado Democrático de Direito. Com o advento do Antropoceno, novas abordagens têm sido suscitadas, tais como Estado Socioambiental de Direito, Estado de Direito Ambiental e, mais recentemente, Estado Ecológico de Direito. 
Cada uma dessas novas perspectivas possui características assentadas na ética das relações com a natureza. Apesar da multiplicidade terminológica, há um ponto de partida unificador: a incorporação do meio ambiente como marco fundamental do Estado contemporâneo. 
A primeira proposição é o Estado Socioambiental de Direito, que estabelece o esverdeamento constitucional pela inserção da variável ecológica em conjunto com os valores e conquistas das concepções liberais e sociais (SARLET; FENSTERSEIFER, 2017). O constitucionalismo socioambiental incorpora, diante do contexto atual, a dimensão ambiental, de garantia de proteção do meio ambiente sem desguarnecer o combate às desigualdades sociais, especialmente nos países do Sul Global. 
Quanto ao Estado de Direito Ambiental, que, em muitos pontos, se aproxima do modelo socioambiental, trata-se de uma construção teórica como
“[...] aquele que faz da incolumidade do seu meio ambiente sua tarefa, critério e meta procedimental de suas decisões, o que não exclui, por óbvio, o âmbito social” (LEITE; SILVEIRA: BETTEGA; 2017, p. 68).
O Estado de Direito Ambiental é a firme inserção do meio ambiente nos textos e discussões constitucionais. Ele está aprumado para a proteção do meio ambiente reciprocamente como um direito fundamental e como um dever estatal, norteador das políticas públicas. O dever estatal é cumprido por meio de uma atuação positiva e negativa. A atuação positiva ocorre mediante políticas públicas para a proteção e melhoria da qualidade ambiental; a negativa, pela ausência de interferências deletérias no meio ambiente. 
O Estado de Direito Ambiental reconhece a importância dos sistemas ecológicos, considerando os componentes naturais sujeitos à proteção jurídica intrínseca, isto é, com tutela independente das valorações humanas. Temos, ademais, a compreensão de uma ética biocêntrica, que, a propósito, é a fundamentação para a proteção aos direitos dos animais. 
Por fim, o Estado de Direito Ecológico, teorizado mais recente, por vezes é tido como sinônimo de Estado de Direito Ambiental. Uma primeira proposição para o Estado de Direito Ecológico é que se trata de uma ampliação da interpretação ética, por meio do qual é possível o reconhecimento dos direitos da natureza e, portanto, a possibilidade de uma tutela jurídica em sentido amplo. O Estado de Direito Ecológico dialoga com as tradições do Sul Global, como as cosmovisões do bem-viver, pachamama, sumak kaysay e outras. Essas são a compreensão dos povos originários sobre as suas relações com a natureza, em um paradigma de interdependência, segundo o qual homem e natureza não estão separados. O Estado de Direito Ecológico é uma construção teórica que, diante das complexidades suscitadas pelas questões ambientais no mundo contemporâneo, converge para uma finalidade de salvaguarda da vida e da natureza. 
Uma outra formulação do Estado de Direito Ecológico sustenta a justificativa da proteção ambiental ligada aos desafios do Antropoceno. Com o avanço do conhecimento científico sobre os complexos processos do sistema planetário, incluindo os impactos da influência humana nele, é exigido, como expõe Aragão (2017), um arcabouço de proteção mais rigoroso, porque há uma obrigação geral, para todos os atores e em todas as escalas, de não ultrapassarmos os limites biofísicos do planeta. O Estado de Direito Ecológico, portanto, atua em benefício de um espaço operacional seguro para a vida planetária. 
É preciso atentar, por fim, ao fato que não há um modelo único para as denominações Estado Socioambiental, Estado de Direito Ambiental e Estado Ecológico de Direito. Por isso, optamos por usar a expressão Estado Ecológico de Direito, por conjugar os aspectos de todas as concepções.
Princípios estruturantes do estado de direito ecológico
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É possível falar na existência de um Estado de Direito Ambiental ou mesmo de um Estado de Direito Ecológico no Brasil? Entendemos que sim, porque a proteção da dignidade humana e dos processos ecológicos essenciais estão previstos na Constituição de 1988. 
O art. 225 da Constituição de 1988 traz como norma-matriz o direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Esse direito deve ser entendido como um meio ambiente não poluído, saudável, com salubridade. A sadia qualidade de vida só é realizável com o meio ambiente ecologicamente equilibrado. A propósito, a Constituição de 1988
“[...] associou o meio ambiente ecologicamente equilibrado ao direito à vida, em especial à sadia qualidade de vida, em direcionamento voltado para o princípio estruturante do texto constitucional: a dignidade da pessoa humana” (MELO, 2017, p. 45, grifo do autor).
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é um direito fundamental de terceira dimensão, diretamente relacionado ao cumprimento dos demais direitos fundamentais. Nesse sentido, 
[....] a efetivação dos direitos civis e políticos (direitos de primeira dimensão) e dos direitos econômicos, sociais e culturais (direitos de segunda dimensão) só é possível com um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Afinal, como é possível garantir o direito à vida, à saúde ou ao trabalho em um ambiente poluído? O meio ambiente ecologicamente equilibrado reveste-se como indeclinável para a efetivação das demais dimensões de direitos humanos. (MELO, 2017, p. 45) 
Portanto, sem um meio ambiente ecologicamente equilibrado não há a dimensão ecológica da dignidade da pessoa humana. Por essa razão, a Constituição de 1988 estabelece um conjunto de deveres para o poder público, expressos no § 1º do art. 225. 
Um deles é a obrigação de
“preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas” (BRASIL, 1988).
Os processos ecológicos essenciais são os fiadores da vida. Por meio deles, temos a proteção da biodiversidade, incluindo a variabilidade genética de espécies e de ecossistemas. No caso da humanidade, esses processos ecológicos são os garantidores da produção de alimentos, da saúde e das condições climáticas de habitabilidade terrestre. Nota-se, assim, que processos ecológicos essenciais assumem a salvaguarda tanto da vida humana quanto da biodiversidade e da natureza. 
É importante destacar outras obrigações constitucionais de proteção ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, tais como (i) preservar a integridade e a diversidade do patrimônio genético e (ii) definir espaços territoriais especialmente protegidos (BRASIL, 1988). A preservação do patrimônio genético, entendido como a informação de origem genética de espécies vegetais, animais ou microbianas, é o dever de proteção à biodiversidade. No que se refere aos espaços protegidos, trata-se da instituição de unidades de conservação, que são áreas com características naturais relevantes, legalmente instituídas pelo poder público para fins de preservação ou conservação ambiental. 
Com essas observações, constata-se a dupla dimensão protetiva, a partir da norma-matriz, do meio ambiente ecologicamente equilibrado, tanto em relação à dignidade da pessoa humana quanto em relação aos processos ecológicos essenciais. Em uma ou outra perspectiva, as nomenclaturas ambiental ou ecológica estão presentes no texto constitucional. Em síntese, a Constituição de 1988 permite, como decorrência das adversidades do Antropoceno, o alargamento conceitual-teórico para a salvaguarda ecológica.
A aplicação do paradigma ecológico
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Quais são os compromissos do Estado Ecológico de Direito? Quais as matrizes éticaspara essa abordagem estatal? 
Em primeiro lugar, a diferença do Estado tradicional e do Estado de Direito Ecológico está na força jurídica das obrigações impostas para a proteção do meio ambiente (ARAGÃO, 2017). 
No Estado tradicional, o direito ambiental assenta-se na obrigação de evitar os danos ambientais e, conjuntamente, melhorar a qualidade ambiental, tudo baseado em “esforços” (ARAGÃO, 2017). Trata-se de um direito ambiental que, basicamente, fixa restrições para os empreendimentos na gestão dos recursos naturais (WINTER, 2017). 
No Estado Ecológico de Direito, por sua vez, o objetivo é alcançar resultados na proteção ambiental; ou seja, diante do cenário atual, em que temos conhecimento sobre as consequências dos impactos humanos no planeta, não podemos nos contentar com meros "esforços"; é hora de adotar medidas e políticas públicas efetivas para o enfrentamento das emergências do Antropoceno (ARAGÃO, 2017). 
Nesse sentido, 
[...] não é suficiente aplicar estas medidas ambientais se, ao mesmo tempo, não houver um acompanhamento permanente para saber se os efeitos das medidas correspondem ao que é necessário para alcançar os fins, ou se é necessário adotar novas e reforçadas medidas de proteção ou recuperação ambiental. (ARAGÃO, 2017, p. 33) 
É preciso respeitar o espaço operacional seguro, de forma que as interferências econômicas no ambiente não acentuem o desequilíbrio dos sistemas de sustentação planetária. Afinal, se conhecemos os limites, não é aceitável que atividades dissonantes sejam franqueadas. 
Por isso, há a necessidade de redimensionar o princípio da precaução, pois ele é decisivo nas avaliações e monitoramentos ambientais. Esse princípio tem como objeto o controle da incerteza científica e do perigo in abstrato, entendidos como a ausência de pesquisas e informações sobre a potencialidade lesiva ou não de uma determinada atividade para o meio ambiente e a saúde humana. Além desses aspectos, redimensionar o princípio da precaução implica inserir a variável social de modo que as avaliações sobre as atividades e empreendimento considerem os impactos e consequências sociais para as comunidades. Deve-se observar que essas intervenções não ocasionem situações de vulnerabilidades ou desigualdades socioambientais. 
No cerne do Estado de Direito Ecológico, está a superação de uma compreensão ética assentada no antropocentrismo utilitarista, da humanidade como o centro de todas as relações jurídicas. A dimensão da dignidade ecológica impõe a aceitação da matriz biocêntrica que, não obstante as diversas correntes de interpretação, manifesta-se por meio da proteção da biodiversidade e dos animais, considerados como valores intrínsecos. 
A propósito, o conceito de meio ambiente na legislação brasileira, previsto na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, é de matriz biocêntrica. Nesse sentido, o art. 3º, I, da Lei nº 6.938/1981, compreende por:
“meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981).
Nota-se que a proteção ambiental é para todas as formas de vida, não somente a humana. A ética biocêntrica é exemplificada em julgados do Supremo Tribunal Federal (STF), que proibiram práticas consideradas cruéis contra os animais não humanos, como no caso das rinhas de galo, da farra do boi e da vaquejada (MELO, 2017). 
Por fim, tratemos do reconhecimento dos direitos da natureza, em uma visão ecocêntrica. Essa matriz não é contemplada pelo direito e pelos julgados dos tribunais superiores brasileiros. Na América Latina, todavia, temos exemplos da matriz ecocêntrica nas Constituições do Equador e da Bolívia. No âmbito do Poder Judiciário, um dos casos paradigmáticos é uma sentença da Corte Constitucional da Colômbia, que, ao decidir sobre a proteção e conservação do Rio Atrato, o qual corta aquele país, o reconheceu como sujeito de direitos. O Tribunal Constitucional do Equador, por sua vez, em decisão de novembro de 2021, afirmou que:
“Os direitos da natureza protegem os ecossistemas e processos naturais por seu valor intrínseco, complementando o direito humano a um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado” (ECUADOR, 2021, p. 77, tradução nossa).
Nota-se, assim, que a natureza como sujeito de direitos é uma dimensão que está em processo de aceitação nesses países, em um paradigma que poderá ser albergado por outros sistemas jurídicos.
Aula 2 – educação ambiental
O conceito de educação ambiental
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O que é educação ambiental? Quais os princípios e objetivos da educação ambiental no Brasil? E de que maneira a educação ambiental poderá auxiliar na construção de uma sociedade sustentável? 
Na primeira conferência das Nações Unidas para o meio ambiente, em Estocolmo, 1972, a educação ambiental passou a ser uma temática central nas proposições ecológicas, ao envolver não apenas as escolas, mas os meios de comunicação, as empresas e toda a sociedade. Nesse sentido, a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano destacou em seu princípio 19 que: 
É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais, dirigida tanto às gerações jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos privilegiado, para fundamentar as bases de uma opinião pública bem-informada, e de uma conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão humana. É igualmente essencial que os meios de comunicação de massas evitem contribuir para a deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter educativo sobre a necessidade de protegê-lo e melhorá-lo, a fim de que o homem possa desenvolver-se em todos os aspectos. (ONU, 1972, p. 5) 
A Constituição de 1988, por sua vez, estabelece no art. 225, § 1º, VI, como dever do poder público “[...] promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 1988). Esse dever foi regulamentado pela Lei nº 9.795/1999, que instituiu a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), inserindo a educação ambiental como componente essencial e permanente da educação nacional, e disciplinando os seus princípios, objetivos e responsabilidades para todos os atores públicos e privados. 
Para a PNEA, a educação ambiental é entendida como “[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente [...]” (BRASIL, 1999). Ademais, a PNEA, ao teor da Constituição de 1988, reconhece o meio ambiente como “[...] bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade” (BRASIL, 1999). 
A educação ambiental “[...] é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal” (BRASIL, 1999). Entende-se por educação formal aquela que ocorre nos sistemas oficiais de ensino, desenvolvida no âmbito dos currículos das instituições públicas e privadas. A PNEA estabelece que a educação ambiental deve ser considerada como “[...] uma prática educativa integrada, contínua e permanente em todos os níveis e modalidades do ensino formal” (BRASIL, 1999). Já a educação ambiental não formal são “[...] as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da qualidade do meio ambiente” (BRASIL, 1999). As práticas e vivências em ambientes como comunidades e entidades em geral são exemplos de iniciativas da educação não formal. 
O documento com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, aprovado pelo Conselho Nacional de Educação em 2012, estabelece que: 
[...] A Educação Ambientalé uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental. (MEC, 2012, p. 2) 
Por meio da educação ambiental, é possível uma formação crítica e dialógica sobre o contexto, as complexidades e as exigências estabelecidas pelas questões ecológicas à sociedade contemporânea. Ademais, a educação ambiental permite o conhecimento dos mecanismos e instrumentos para o exercício de uma cidadania ecológica ativa.
As abordagens sobre a educação ambiental
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A implementação dos planos, programas e projetos de educação ambiental são orientados por oito princípios, estabelecidos no artigo 4º da PNEA (BRASIL, 1999). 
O primeiro princípio é o “enfoque humanista, holístico, democrático e participativo” (BRASIL, 1999). Ao contrário de uma leitura reducionista, fragmentada e de mero repasse de informações, esse princípio pressupõe uma perspectiva dialógica para a educação ambiental, por meio da problematização das causas e efeitos das temáticas ecológicas, com o chamamento à participação comunitária a partir de pressupostos democráticos. 
O segundo princípio é “a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade” (BRASIL, 1999). Esse princípio refuta concepções estanques e supostamente independentes dos elementos que compõem o meio ambiente. Ao reverso, reconhece o meio ambiente como totalidade, com suas dimensões interligadas, em uma relação de interdependência; o meio ambiente é uno e indivisível. 
O terceiro princípio é “o pluralismo de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, multi e transdisciplinaridade” (BRASIL, 1999). Não há uma única perspectiva pedagógica, mas olhares e possibilidades múltiplas na abordagem sobre o meio ambiente, que devem ser contempladas e conjugadas nas práticas educacionais. Por perspectiva multidisciplinar, temos o reconhecimento de que as questões ambientais envolvem saberes disciplinares distintos; por interdisciplinar, temos a interação e reciprocidade entre os princípios desses saberes disciplinares; por perspectiva transdisciplinar, a compreensão de que os conhecimentos disciplinares fazem parte de um mesmo “sistema” complexo e integrado. 
O quarto princípio, é “a vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais” (BRASIL, 1999); isto é, não há desvinculação entre essas práticas e valores e a proteção ao meio ambiente. 
O quinto princípio é “a garantia de continuidade e permanência do processo educativo” (BRASIL, 1999). A educação ambiental não se resume a ações datadas ou transitórias e, conforme o sexto princípio, inclui a “permanente avaliação crítica do processo educativo” (BRASIL, 1999). Trata-se de reconhecer a educação ambiental como um contínuo de avaliações e reavaliações, de críticas e autocríticas, diante das dinâmicas e transformações ecológicas em curso. 
O sétimo princípio é “a abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais” (BRASIL, 1999). As demandas ambientais estão em múltiplas escalas, do global ao local. Só podemos ser globais com as ações locais. Os programas e projetos de educação ambiental devem contemplar essas múltiplas escalas, sem perder, todavia, o contexto e os desafios do chão da vida, isto é, a escala da proximidade. 
Por fim, o oitavo princípio é o “reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural” (BRASIL, 1999). É preciso levar em conta a pluralidade e a diversidade cultural de um país como o Brasil, com os saberes e conhecimentos dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira. Para tanto, faz-se necessária uma ecologia dos saberes, em que o conhecimento científico dialoga com as práticas populares, em uma abertura para as tradições e vivências dos povos originários, das comunidades tradicionais, das periferias e dos rincões do Brasil. 
A partir desses princípios, temos os objetivos fundamentais da educação ambiental no Brasil, previsto nos art. 5º da PNEA (BRASIL, 1999). Destacaremos três deles, que reputamos necessários para a compreensão da educação ambiental. 
O primeiro objetivo, “o estímulo e o fortalecimento de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social” (BRASIL, 1999), é o compromisso da educação ambiental como um elemento crítico para a conscientização e a mobilização em face dos impasses contemporâneos. Sem contextualizar as estruturas que estão no cerne e que engendram a problemática ambiental, a educação ambiental perde a possibilidade de fomentar um sujeito e uma sociedade comprometidos com o exercício dos direitos socioambientais. 
O segundo objetivo é “o incentivo à participação individual e coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania” (BRASIL, 1999). A proteção ambiental não se circunscreve a ativismos, com propagandas e discursos por mais e mais direitos. Ela requer ações políticas no encontro com a realidade, em uma cidadania contra a apatia e a passividade, de compromisso com a solidariedade entre as presentes e futuras gerações. 
O terceiro objetivo, por fim, é “o estímulo à cooperação entre as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia, justiça social, responsabilidade e sustentabilidade” (art. 5º, V). Esse objetivo reúne os valores fundamentais de uma sociedade ecológica e democrática, em conformidade com os objetivos constitucionais da República Federativa do Brasil, previstos no art. 3º da Constituição Federal (BRASIL, 1988).
A aplicação das educação ambiental nos contextos sociais e corporativos
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O art. 3º da PNEA estabelece as incumbências para que o poder público, as instituições educativas, os órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente, os meios de comunicação em massa, as empresas, as instituições públicas e privadas e a sociedade como um todo possam implementar os processos de educação ambiental (BRASIL, 1999). Essa conjugação de atores é um demonstrativo de que a educação ambiental, como processo integrante da cidadania, é um compromisso da sociedade brasileira. 
Em primeiro plano, cabe ao poder público, consoante as políticas de educação e meio ambiente
“[...] definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente” (BRASIL, 1999).
A condução dessas políticas é de responsabilidade dos Ministérios da Educação e do Meio Ambiente, que devem se articular na incorporação da dimensão ambiental tanto no ensino formal quanto na formação e capacitação de docentes em todos os níveis educacionais. 
Já às instituições educativas cabe
“[...] promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem” (BRASIL, 1999).
Pontua-se que a autorização e supervisão do funcionamento de instituições de ensino e de seus cursos, nas redes pública e privada, dependem do cumprimento das prescrições sobre a educação ambiental. 
Os órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (Sisnama) devem
“[...] promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente” (BRASIL, 1999).
Os órgãos do Sisnama, como indutores e fiscalizadores da proteção ambiental no país, não podem prescindir da execução de programas e projetos de educação ambiental. Afinal, entidades como o IBAMA, o Instituto Chico Mendes e os órgãos ambientaise municipais podem tanto promover quanto fomentar as dinâmicas de educação ambiental em suas áreas de atuação. 
A PNEA, consciente da importância e do papel dos meios de comunicação de massa na sociedade, estabeleceu para eles a incumbência de
“colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação” (BRASIL, 1999).
É preciso destacar que alguns desses meios de comunicação, como emissoras de televisão e de rádio, são concessões públicas e nada mais pertinente que contribuírem para a conscientização da sociedade sobre a necessidade de proteção e promoção dos valores ecológicos. 
Já às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, foi estabelecida a atribuição de
“promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente” (BRASIL, 1999).
Esse dispositivo conjuga dois aspectos. Primeiro, que o conceito de meio ambiente contempla questões laborais, ou seja, a preocupação com a saúde e a segurança dos trabalhadores. Segundo a conscientização dos trabalhadores sobre os efeitos da atividade produtiva sobre o meio ambiente, de modo a refletir em práticas sustentáveis. 
Por fim, à sociedade como um todo, é necessário
“manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais” (BRASIL, 1999).
É o reconhecimento de que a educação ambiental possui dimensões individual e coletiva, que se refletem na participação cidadã nos processos de decisão e no exercício das atividades, valores e atitudes compromissados com a promoção de uma sociedade sustentável.
Aula 3 – Consumo sustentável
O conceito de consumo sustentável
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Somos uma sociedade de consumo. Trata-se de reconhecer que as relações de consumo constituem um elemento indissociável das expectativas da sociedade contemporânea. 
Com a modernidade, o crescimento econômico e o consumo foram os fiadores da superação dos níveis básicos de sobrevivência para uma parcela da população mundial, por meio do sistema de produção em massa. Porém, a partir da segunda metade do século XX a sua maximização nos trouxe aquilo que é chamado de sociedade consumista. O consumo deixou de ser uma condição importante para a melhoria da qualidade de vida e se transformou em um vetor para o hedonismo individual, de um consumo pelo consumo, em um mundo supostamente de abundância, sem preocupação com o descarte dos produtos e seus impactos. Tem-se, então, o consumismo, que é uma distorção do consumo (CRESPO, 2012). 
De forma mais grave, nas últimas décadas, o consumo assumiu contornos emocionais, com a aquisição de produtos e serviços para atender o prazer de possuí-los como significado de vida e reconhecimento social (CRESPO, 2012). Esse estágio é chamado de hiperconsumo, ou seja, a identificação do que somos e como vivemos é marcada pela satisfação de nossas pulsões e desejos por meio do consumo. No entanto, essa exacerbação não significou o aumento dos níveis de satisfação e felicidade pessoal. 
Os pressupostos do consumismo são uma ameaça para os predicados de sobrevivência global. Afinal, quanto mais consumo, mais produção e maior geração de resíduos sólidos. Nesse sentido, 
O problema da produção e do consumo realizados em bases não sustentáveis é simples de ser entendido: não podemos extrair mais recursos naturais do que a natureza é capaz de repor, quando se trata de recursos renováveis, e não podemos extrair indefinidamente recursos finitos, não renováveis. Também não podemos descartar mais resíduos do que a natureza é capaz de assimilar. (CRESPO, 2012, p. 81) 
É por esse cenário que devemos redefinir a dinâmica das relações de consumo, pois trata-se de fator indissociável para uma sociedade sustentável. Por isso, surgiram expressões como “consumo sustentável”, “consumo verde”, “consumo consciente” e outras. Optamos pela denominação consumo sustentável, por ser ampla e abarcar as demais, como o consumo verde, que confere ênfase ao papel do ato de compra do consumidor para as escolhas sustentáveis; e o consumo consciente, como aquele efetuado a partir de concepções éticas, a partir de definições como produção local, autossustentável e outras variantes. 
O consumo sustentável conjuga as obrigações de todos os atores da sociedade de consumo para com a sustentabilidade intergeracional. Isto é, adotar o consumo sustentável é respeitar a capacidade dos sistemas de sustentação da vida na terra e, por decorrência, garantir um mundo com disponibilidade de recursos naturais para as futuras gerações. Nessa perspectiva, a ênfase não está exclusivamente nas questões tecnológicas, mas também no desafio das mudanças dos valores socioambientais. Afinal, apesar da importância dos avanços tecnológicos, eles isoladamente não são suficientes para resolver os impasses da população, da poluição e do consumismo sem que determinações legais, econômicas e morais sejam estabelecidas para mudar a relação com a natureza (ODUM, 2001). 
Portanto, no paradigma do consumo sustentável, é estipulado um conjunto de obrigações para o poder público, o setor produtivo e os consumidores, como partícipes decisivos para as mudanças necessárias. Para o poder público, tem-se a exigência de normas de regulação e de incentivo para os processos de produção ecologicamente equilibrados. Para o setor empresarial, a adoção de processos de produção que respeitem a finitude dos recursos naturais, além de minimizarem o descarte dos produtos. Para o consumidor, o imperativo de mudança nos padrões de consumo, o que, é preciso reconhecer, não é uma tarefa das mais fáceis. 
Com esses apontamentos, podemos definir o consumo sustentável como os princípios, as políticas e as obrigações do poder público, do setor produtivo e dos consumidores para a definição de padrões de consumo compatíveis com a capacidade de suporte planetário e a garantia dos recursos naturais para as futuras gerações.
Políticas para o consumo sustentável
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A legislação brasileira prevê políticas públicas com parâmetros para a produção e o consumo sustentáveis. Ambos estão correlacionados, isto é, a produção e o consumo são faces de uma mesma moeda. 
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece os padrões sustentáveis de produção e consumo. Esses devem
“[...] atender as necessidades das atuais gerações e permitir melhores condições de vida, sem comprometer a qualidade ambiental e o atendimento das necessidades das gerações futuras” (BRASIL, 2010).
Portanto, produção e consumo são orientados para a sustentabilidade no diálogo ético entre as gerações. 
Contudo, algumas dinâmicas de mercado estão em dissonância com os pressupostos da sustentabilidade. Para exemplificar, uma prática sensível e altamente gravosa às exigências atuais: a obsolescência planejada. Trata-se de um conjunto de técnicas e procedimentos que, de forma artificial e deliberada, definem limites na durabilidade e/ou desejabilidade dos produtos, como forma de estimular o consumo repetitivo. Os produtos são feitos para serem trocados ou repostos após curto período de duração ou uso, antecipando de forma intencional a sua substituição, em um estímulo do consumo pelo consumo. Embora a obsolescência seja natural em qualquer produto, com a planejada temos uma estratégia de mercado perniciosa para que ela ocorra antes. 
Moraes (2015) menciona a existência de três modalidades de obsolescência: (i) de qualidade; (ii) de função ou funcional; e (iii) de desejabilidade ou psicológica. A obsolescência de qualidade é aquela em que o produtor, de forma deliberada, projeta o tempo de vida útil do produto, por meio de técnicas e materiais inferiores, com a redução da durabilidade (MORAES, 2015). A obsolescência de função oufuncional torna um produto obsoleto com o lançamento, no mercado, de outro ou do mesmo com ajustes e melhoramentos pontuais (MORAES, 2015). Por fim, há a obsolescência de desejabilidade ou psicológica, que consiste na estratégia de defasagem do produto em decorrência da aparência ou design, afetando o desejo por ele e, por consequência, colocando o consumidor em estado de ansiedade pela sua substituição (MORAES, 2015). 
A obsolescência planejada tem efeitos prejudiciais nas relações de consumo, quebrando a boa-fé objetiva, e danosos em matéria ambiental, especialmente no que se refere à geração de resíduos sólidos. 
Na primeira perspectiva, do direito do consumidor, o Superior Tribunal de Justiça possui julgado sobre os problemas da obsolescência, a saber: 
(...) independentemente de prazo contratual de garantia, a venda de um bem tido por durável com vida útil inferior àquela que legitimamente se esperava, além de configurar um defeito de adequação (art. 18 do CDC), evidencia uma quebra da boa-fé objetiva, que deve nortear as relações contratuais, sejam de consumo, sejam de direito comum. Constitui, em outras palavras, descumprimento do dever de informação e a não realização do próprio objeto do contrato, que era a compra de um bem cujo ciclo vital se esperava, de forma legítima e razoável, fosse mais longo. (BRASIL, 2012) 
 Na decisão, evidenciou-se a obsolescência em razão de qualidade, pois, ao se constatar duração inferior de produto com expectativa de vida útil maior, ocorreu um procedimento incompatível com as relações de consumo. Atualmente, por ausência de legislação sobre a obsolescência planejada no Brasil, o Código de Defesa do Consumidor é um importante instrumento para questionamento de práticas prejudiciais aos consumidores, impondo ação governamental no sentido de protegê-los, com a
“[...] garantia dos produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança, durabilidade e desempenho" (BRASIL, 1990). 
Na segunda perspectiva, a de viés ambiental, temos que a obsolescência planejada é dissonante com as exigências ecológicas. O estímulo ao consumismo, por meio da substituição permanente de produtos, tem por correspondência a extração maior de recursos minerais e o aumento do consumo de energia, com impactos significativos sobre o meio ambiente, tanto na disponibilidade de recursos quanto na geração de resíduos sólidos, ou seja, de poluição por resíduos sólidos.
A implementação de instrumentos para o consumo sustentável
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A definição das responsabilidades e a implementação dos instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) são fundamentais para a construção de uma sociedade sustentável. Com efeito, a PNRS estrutura-se na conjugação de obrigações para as diferentes esferas do poder público, o setor empresarial e os segmentos da sociedade para a proteção da saúde pública e da qualidade ambiental (BRASIL, 2010). 
Em primeiro lugar, destaca-se o papel do poder público, por meio dos planos de resíduos sólidos, articulados em vários níveis, como o plano nacional, os planos estaduais, os planos intermunicipais, os planos municipais e outros. Esses planos são instrumentos de diagnóstico, análise e planejamento para as políticas públicas de produção e consumo a longo prazo. No caso do plano nacional e dos planos estaduais de resíduos sólidos, o prazo de duração é de vinte anos com atualização a cada quatro anos (BRASIL, 2010). O plano nacional de resíduos sólidos traz em seu conteúdo as metas de redução, reutilização, reciclagem, entre outras, com vistas a minimizar a quantidade de resíduos e rejeitos produzidos no país (BRASIL, 2010). Os planos, em síntese, são os norteadores da gestão integrada e do gerenciamento de resíduos sólidos no Brasil. 
Com os instrumentos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, temos o compromisso de todos os atores com os padrões sustentáveis de produção e consumo e, ademais, com as dinâmicas do fluxo de gestão dos resíduos sólidos, notadamente a responsabilidade pós-consumo. Nessa perspectiva, dois instrumentos se destacam: a logística reversa e a coleta seletiva. 
A logística reversa é um instrumento econômico e social destinado a
“[....] viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial [...]” (BRASIL, 2010)
após o uso pelo consumidor. Esses resíduos poderão ser usados para reaproveitamento nos ciclos produtivos ou para destinação final ambientalmente adequada. A logística reversa é uma obrigação imposta aos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de produtos que causem riscos à saúde humana e ao meio ambiente (BRASIL, 2010). 
Pela Lei nº 12.305/2010, a logística reversa é obrigatória para os seguintes produtos: (i) agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso: (ii) pilhas e baterias; (iii) pneus; (iv) óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; (v) lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista; e (vi) produtos eletroeletrônicos e seus componentes (BRASIL, 2010). Outros produtos podem ser inseridos, de acordo com os riscos para a saúde humana e o meio ambiente, como é o caso de embalagens plásticas, metálicas ou de vidro etc. Os consumidores, por sua vez, deverão efetuar a devolução dos produtos e das embalagens após o uso, no caso aos comerciantes ou distribuidores (BRASIL, 2010). 
Outro instrumento relevante é a coleta seletiva, que é a
“coleta de resíduos sólidos previamente segregados conforme sua constituição ou composição” (BRASIL, 2010).
O ente federativo responsável pela implementação da coleta seletiva é o Município. Ele implementa a coleta seletiva por intermédio do órgão titular dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos. A coleta seletiva impõe duas obrigações para os consumidores: (i) acondicionar adequadamente e de forma diferenciada os resíduos sólidos gerados; e (ii) disponibilizar adequadamente os resíduos sólidos reutilizáveis e recicláveis para coleta ou devolução (BRASIL, 2010). 
Além da PNRS, é pertinente destacar a questão das compras governamentais. A Lei nº 14.133/2021, que é o novo diploma legal para as licitações, tem o desenvolvimento nacional sustentável como princípio e um de seus objetivos (BRASIL, 2021). O poder de contratação dos entes federativos é determinante para que padrões ambientalmente sustentáveis de produtos e serviços sejam produzidos e alocados não só na administração pública, como reflexamente em toda a sociedade. 
Em conjunto com as obrigações e procedimentos legais, como nós, consumidores, podemos articular as dinâmicas de consumo em uma perspectiva cidadã? Trata-se de uma questão sensível, mas é preciso destacar que o consumo ultrapassa a esfera individual e se constitui em conduta com impactos coletivos. Enquanto consumidores, as escolhas que são feitas no presente são determinantes para as disponibilidades futuras. Nisso, o imperativo de se atentar à solidariedade intergeracional, com o compromisso de legar às gerações futuras recursos e condições para a sobrevivência e mesmo para tentar algo diferente do rumo até hoje traçado. Por isso, um estilo de vida sem excessos ou desperdícios no consumo é requisito para as transformações requeridas. Sem repensar as relações e distorções do consumo, não há como acreditar na possibilidade de uma sociedade sustentável
Aula 4 - Desenvolvimento e pós-desenvolvimento
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Com o término da Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento, um conceito que foi associado ao crescimento econômico, tornou-se o objetivo social da comunidade internacional. 
A mensuração do sucesso e do insucesso de um país está na capacidade de crescimento da sua economia. Para tanto, a essência do crescimento é expressa pelo aumento do produto interno bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos por uma nação ou região durante o período de um ano. Aumentar o PIB tornou-se uma prioridade para governos e sociedade. Esseindicador, contudo, é criticado por conferir ênfase ao crescimento econômico e não contemplar outras variáveis. 
Por isso, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) estabeleceu o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), conjugando, ao lado dos parâmetros econômicos, indicadores como educação e saúde. Para exemplificar, o país com melhor IDH do mundo é a Suíça, ao passo que o Brasil ocupa a 87ª posição no ranking global, tendo como referência o ano de 2021. 
Em qualquer das métricas utilizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), a ideia de desenvolvimento é central, de tal forma que a ONU editou em 1986 a Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, em que pretende inserir o desenvolvimento no rol dos direitos humanos. Nesse sentido, 
O direito ao desenvolvimento é um direito humano inalienável em virtude do qual todos os seres humanos e todos os povos têm o direito de participar, de contribuir e de gozar o desenvolvimento económico, social, cultural e político, no qual todos os direitos humanos e liberdades fundamentais se possam plenamente realizar. (ONU, 1986, p. 3) 
A compreensão sobre o desenvolvimento passou por uma série de interpretações, sendo que, a partir do Relatório Nosso Futuro Comum, de 1987, recebeu o adjetivo sustentável (ONU, 1991). Assim, atualmente falamos em desenvolvimento sustentável, cujo maior exemplo da abrangência propositiva é o conteúdo da Agenda 2030, de 2015, com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para o ano de 2030 (ONU, 2015). 
Mas é preciso problematizar o desenvolvimento sustentável diante das emergências ecológica e climática, notadamente pelo acelerado esgotamento dos recursos naturais e o aumento da poluição. Nesse sentido, como repensar as questões da economia com o meio ambiente? É possível articular uma economia ecológica? Existem alternativas para o desenvolvimento sustentável? Essas são perguntas para a prospecção de novos debates. 
Em que pese a expressão "desenvolvimento sustentável" ser dominante nas instâncias de deliberação em nível internacional e nacional, nos últimos anos surgiram correntes que articulam novas leituras e compreensões para o enfrentamento das emergências contemporâneas. Entre elas, estão os defensores do que é denominado como pós-desenvolvimento, que reúne os críticos à ideia de desenvolvimento. 
Na corrente do pós-desenvolvimento, destaca-se a teoria do decrescimento, que, a partir da crítica ao crescimento econômico como objetivo social e de seus malogros para o meio ambiente, defende ser preciso parar imediatamente a velocidade e a intensidade do consumo global, sobretudo pelos países ricos. O conceito de decrescimento, segundo Latouche, tem
“[...] como objeto marcar fortemente o abandono do objetivo do crescimento pelo crescimento [...]” (LATOUCHE, 2006, p. 13).
Para os defensores do decrescimento, o crescimento é antieconômico e ecologicamente insustentável (DEMARIA; KALLIS; D’ALISA, 2016). É antieconômico porque os problemas causados são o aumento das desigualdades e das injustiças; é ecologicamente insustentável porque está exaurindo com os recursos naturais e aumentando significativamente a poluição no planeta. Em razão disso, o decrescimento vai propor uma abordagem não paliativa, consistente na redefinição das relações econômicas e sociais como forma de sustentação da vida planetária.
Economia e sustentabilidade
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Tanto o desenvolvimento sustentável quanto o pós-desenvolvimento terão de ser analisados à luz dos modelos e possibilidades da economia, com destaque para a economia verde e a economia ecológica. Ambas são estratégias para adequar a economia à sustentabilidade. 
A partir de 2008, o Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (Pnuma) começou a defender o fomento de uma economia verde, de modo que a sustentabilidade é inserida no centro da formulação das políticas econômicas. Essa ideia ganharia relevância com a Conferência Rio+20, realizada no Rio de Janeiro, em 2012. Conforme o Pnuma, a economia verde pode ser definida como
“[...] uma economia que resulta em melhoria do bem-estar da humanidade e igualdade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente riscos ambientais e escassez ecológica” (PNUMA, 2011, p. 2).
Esse modelo tem como objetivos uma economia de baixa emissão de carbono, de redução do uso dos recursos naturais e de inclusão social. Uma das aplicações dessa perspectiva é a substituição de energias fósseis por renováveis (energias limpas) e a redução da extração dos recursos naturais por meio da reciclagem contínua. 
Para os seus críticos, a economia verde não traz novidades quanto à escala ecológica, ou seja, de limitar o crescimento. Além disso, ela estrutura-se em dois pressupostos sensíveis: i) a mercantilização dos recursos naturais; ii) a crença na tecnologia como solução para os problemas das externalidades negativas, isto é, a poluição das atividades industriais. A mercantilização, que consiste em atribuir valores monetários a recursos como ar, águas, fauna e flora em busca de lucro, desconhece o valor intrínseco desses recursos e procura inseri-los nas lógicas de mercado. Da mesma forma, há uma aposta fundamental nas inovações tecnológicas ambientais para a superação dos problemas atuais, sem considerar as disparidades entre países ricos e os em desenvolvimento. 
Em síntese, nesse modelo o esverdeamento não altera a posição da economia em relação aos ciclos da vida: a natureza continua como acessória às determinantes do mercado e, portanto, não há alteração na crença de que o crescimento contínuo é possível. 
A economia ecológica, por sua vez, reconhece os processos econômicos e os ecológicos como sistemas interdependentes (LEFF, 2021) e que, por isso, há limites de crescimento para as atividades econômicas, notadamente pela finitude dos recursos naturais. A premissa é
“[...] que existem limites biofísicos à expansão da economia, principalmente de uma economia global fortemente ancorada na extração de minerais e queima de combustíveis fósseis [...]” (CECHIN, 2018, p. 51).
O sistema econômico atual, diante do uso acelerado dos recursos naturais, com a consequente escassez, está com os dias contados. De forma mais direta, não há como o planeta manter os padrões atuais de produção e consumo, assim como não possui capacidade de absorver o nível de poluição decorrente. 
A partir das constatações da economia ecológica, uma parcela de economistas propõe uma economia do “estado estacionário”, mais recentemente denominada como “economia estável”, em que
“[...] a quantidade de recursos da natureza seria suficiente para apenas manter constantes o capital e a população” (CECHIN, 2018, p. 45).
Por outras palavras, uma economia que não cresça acima do capital natural, da regeneração dos recursos e da absorção dos seus resíduos (LEFF, 2021). Essa proposta pressupõe que os estoques de bens manufaturados sejam duráveis e a degradação decorrente deles seja sempre em níveis mais baixos, de acordo com a recomposição dos sistemas (MORAES, 2015). Uma economia de “estado estável” se desenvolve, mas não cresce. 
Cechin (2018) propõe uma analogia para compreender uma economia de “estado estável”: a de uma biblioteca lotada. Para ele, 
Numa biblioteca lotada, a entrada de um novo livro deve exigir o descarte de outro de qualidade inferior. A biblioteca melhora sem aumentar de tamanho. Transposta para a sociedade, essa lógica significa obter desenvolvimento sem crescimento material: a escala da economia é mantida constante enquanto ocorrem melhorias qualitativas. (CECHIN, 2018, p. 45) 
Por fim, há a corrente do decrescimento, cuja premissa é uma inversão ao que temos, isto é, de que não há como manter os níveis de produção e consumo atuais, especialmente aqueles dos países do Norte Global. A teoria do decrescimento propõe uma mudança de paradigma, da passagem do desenvolvimento sustentável para a autossustentabilidade, o que implica em uma mudança de escala na produção, privilegiando as características e demandas locais. Assim,essa concepção
“[...] pretende construir formas de produção e de vida social e ecologicamente sustentáveis, justas e solidárias” (ACOSTA, BRAND, 2018, p. 117).
Alternativas sistêmicas
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Os principais modelos discutidos, da dominante economia verde às prospectivas derivadas da economia ecológica, se quiserem ser implementadas em um processo de transição, terão que passar por uma série de políticas e ações que requerem a participação de todos os atores da escala global à local, incluindo organismos internacionais, Estados, comunidades e pessoas. 
Em qualquer perspectiva, é uma tarefa desafiadora, porque, de um lado, há a necessidade de se controlar a produção de bens e serviços em nível global, com os desafios ecológicos e climáticos cada dia mais evidentes; e, de outro lado, os riscos de um decrescimento com consequências imprevisíveis sobre os pressupostos da sociedade contemporânea. 
Em razão disso, articular-se-ão algumas medidas e iniciativas de transição tanto na perspectiva do desenvolvimento sustentável quanto do pós-desenvolvimento. Afinal
“[...] a contradição entre crescer e decrescer não deve ser entendida como uma disjuntiva sobre a qual se deva optar tão somente por um dos lados” (VEIGA, 2012, p. 13). 
Uma pauta importante entre essas leituras é a proteção dos serviços ecossistêmicos, que são aqueles benefícios diretos e indiretos gerados pelos ecossistemas. São exemplos de serviços ecossistêmicos
“[...] o solo fértil, a qualidade do ar, a qualidade da água, os produtos provenientes das funções ecossistêmicas, com os frutos, a madeira, as sementes, as plantas medicinais, os cultivos agrícolas, etc.” (JODAS, 2021, p. 138). 
Os serviços ecossistêmicos podem ser estimulados por meio dos serviços ambientais que, segundo a Lei nº 14.119/2021, são as
“atividades individuais ou coletivas que favorecem a manutenção, a recuperação ou a melhoria dos serviços ecossistêmicos” (BRASIL, 2021).
Essas atividades, no Brasil, se dão por intermédio de uma transação voluntária, chamada de pagamento por serviços ambientais (PSA),
“[...] mediante a qual um pagador de serviços ambientais transfere a um provedor desses serviços recursos financeiros ou outra forma de remuneração, nas condições acertadas [...]” (BRASIL, 2021).
Assim, um pagador, que poderá ser o poder público, uma organização da sociedade civil (ONG) ou um agente privado, pessoa física ou jurídica, proverá o pagamento de serviços ambientais para uma pessoa física ou jurídica, ou a um grupo familiar ou comunitário que se comprometam a manter, recuperar ou melhorar as condições ambientais dos ecossistemas. De forma mais simples, um agricultor ou uma comunidade será responsável por prover serviços ambientais, de forma a garantir a melhoria dos ecossistemas, recebendo, ademais, recursos financeiros ou outra forma de remuneração. O PSA é um instrumento econômico que contribui para o reconhecimento de pessoas ou comunidades que adotam serviços ambientais que, em última análise, proporcionam benefícios ecológicos para todos. 
Sob a perspectiva do decrescimento, as proposições são mais assertivas. O mais importante teórico dessa corrente, o economista Nicholas Georgescu-Roegen (2012), defende um processo mais intenso de adequação das estruturas econômicas e sociais para atender as equações planetárias. Ele elenca oito pontos fundamentais para o decrescimento, que são estruturantes para a formulação de um programa bioeconômico mínimo. 
O primeiro ponto é o fim da guerra e da produção de armamentos (GEORGESCU-ROEGEN, 2012). Para o autor, deve ser interditada a estrutura da máquina bélica, com o fim da mortandade em massa e, doravante, será possível traçar os novos rumos da humanidade. 
O segundo ponto é que, com o bloqueio dos conflitos bélicos, a produção de bens poderá ser usada para que nações subdesenvolvidas cheguem a um nível mais rápido de condições dignas de vida, mas sem luxo (GEORGESCU-ROEGEN, 2012). 
O terceiro ponto é que
“a humanidade deveria reduzir progressivamente a sua população até um nível em que uma agricultura orgânica bastasse para alimentá-la adequadamente” (GEORGESCU-ROEGEN, 2012, p. 133). 
O quarto ponto é o de evitar cuidadosamente todo desperdício de energia, enquanto o uso direto da energia solar não estiver totalmente implementado (GEORGESCU-ROEGEN, 2012). Compreende-se aqui a defesa do uso de energias limpas e renováveis. 
O quinto ponto é parar com a produção de “engenhocas extravagantes” ou “mamutes”, expressões que o autor usa para aqueles bens de utilidade duvidosa ou desnecessária, como é o caso de carrinhos de golfe e carros possantes (GEORGESCU-ROEGEN, 2012). 
O sexto ponto é abandonar a moda. Nas palavras do autor:
“[...] é, de fato, um crime bioeconômico comprar um carro "novo" a cada ano e remodelar a casa a cada dois anos. Outros autores já afirmaram que as mercadorias deveriam ser fabricadas para durarem” (GEORGESCU-ROEGEN, 2012, p. 133).
Ele vai consignar ainda que os próprios consumidores se eduquem, de forma a não levar em conta os excessos da moda (GEORGESCU-ROEGEN, 2012). 
O sétimo ponto, em conjunto com o anterior, aborda a necessidade de durabilidade das mercadorias em geral, devendo ser reparadas ao invés de descartadas. Aqui temos a proposição de um consumo sustentável, que privilegia o uso e o reaproveitamento em oposição à obsolescência e ao consumo pelo consumo. 
Por fim, o oitavo ponto, de que
“[...] temos de nos acostumar com a ideia de que toda existência digna de ser vivida tem, como pré-requisito indispensável, um tempo de lazer suficiente, usado de maneira inteligente” (GEORGESCU-ROEGEN, 2012, p. 134).
Trata-se da defesa de uma vida saudável, em que o tempo livre seja um pré-requisito para uma vida plena. À guisa de conclusão, quanto mais cedo começar o decrescimento, maior será a sobrevida das atividades econômicas (CECHIN, 2018).

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