Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Tecnologias Educacionais e o Docente Neuroeducação e Tecnologias Educacionais Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autoria FRANCIANE HEIDEN RIOS AUTORIA Franciane Heiden Rios Olá! Sou formada em Pedagogia, especialista em Tecnologias Educacionais e Educação Especial e Inclusiva, com mestrado em educação. Estou na educação desde o início da minha vida profissional, cursei magistério, então iniciei com estágios em escolas e nunca mais sai. Esse espaço, rico de aprendizagens humanas, oportunizou-me pensar sobre diferentes questões e perceber as pessoas em suas diferentes necessidades. Durante dez anos fui servidora concursada, educadora e professora dos municípios de São José dos Pinhais, Curitiba e Araucária. Atuei como supervisora do curso de Pedagogia da UNIVESP, Universidade Federal do Paraná e lecionei em diversas instituições de ensino superior, sempre no curso de Pedagogia e em disciplinas correlatas à educação. Atualmente, sou diretora pedagógica da Curiosidade, instituição que atua em parceria com redes de ensino para desenvolvimento de boas práticas educativas, tendo como subsídio a perspectiva do desenho universal para a aprendizagem. Acredito no princípio básico da inclusão e no respeito pela diversidade, portanto, escrever, palestrar, capacitar ou qualquer outra ação, ou prática profissional relacionada ao tema, são hoje meu foco de atuação. E, nesse cenário, as tecnologias são essenciais, afinal, elas são ferramentas que permitem superar barreiras e ampliar possibilidades no processo ensino-aprendizagem. Porém, como todo processo relacional, é fundamental compreender que a tecnologia, por ela só, não significa transformação, é a ação do educador, do professor, do ser humano por trás dessa ferramenta que significa a condição humana ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: OBJETIVO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Interface das Tecnologias Educacionais e o Docente ................. 10 Definição de Competências .................................................................................................... 10 Conhecimentos, Habilidades e Atitudes para a Alfabetização em Tecnologia ............................................................................................................................................ 14 Conhecimentos, Habilidades e Atitudes para o Aprofundamento do Conhecimento ................................................................................................................................... 14 Conhecimentos, Habilidades e Atitudes para a Criação do Conhecimento ................................................................................................................................... 16 Ação Docente, Ensino-Aprendizagem e Tecnologias Educacionais ................................................................................................. 19 Ensino-Aprendizagem e a Ação Docente ..................................................................... 19 Mediação e Interação: Caminhos para o Ensino-Aprendizagem ................. 22 Intenção Pedagógica e a Significação da Tecnologia Educacional ...........24 Cidadania Digital: a Prática Docente Reflexiva ..............................27 Tecnologias Educacionais e a Prática Social ..............................................................27 Ética na Formação Docente ....................................................................................................32 Desenvolvimento Profissional................................................................ 37 Autonomia e Formação Inicial, Continuada e Permanente .............................37 A Prática Pedagógica Decorrente ...................................................................................... 40 7 UNIDADE 02 Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 8 INTRODUÇÃO Você já tentou ensinar algo que não sabe? Suponhamos a seguinte situação a seguir. Existe um doce austríaco tradicional chamado de strudel que é um pouco parecido com um doce de massa folheada, quase que uma torta, ou um rocambole. Se alguém pedisse para que você ensinasse uma turma a fazer esse doce, você conseguiria, sem ao menos ter algum dia da sua vida provado? Por mais absurdo que o exemplo possa parecer, ele nos diz muito sobre a formação de professores na relação com as tecnologias educacionais. O professor deve ser competente para o professor precisa ensinar aos alunos a, o professor isso, o professor aquilo. Quem ensina ao professor? Como ensinar ao professor? O que ensinar ao professor? É possível ensinar diferente se aprendemos da mesma forma? É possível inovar se a formação docente insistir em nos tratar como instrumentos para uma finalidade? É possível ser parte de algo quando é, no fim das contas, a tecnologia que recebe o destaque nas discussões? Essas questões nos motivam no percurso da aprendizagem dessa Unidade 2 e na busca de respondê-las, falaremos sobre o conceito de competências docentes para as tecnologias sob a premissa da UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, tida como referência mundial. Avançaremos para a relação dessas com o processo de ensino-aprendizagem e a interferência da formação docente, avançando para as reflexões e críticas necessárias a essas proposições. E aí? Pronto para esse desafio? Vamos juntos? Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo à Unidade 2. Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Identificar as competências esperadas dos professores na interface das tecnologias educacionais. 2. Interpretar a formação docente frente ao uso das tecnologias educacionais no processo ensino-aprendizagem. 3. Debater a necessidade da formação docente sob os princípios éticos e democráticos para a apropriação tecnológica. 4. Identificar o potencial das tecnologias educacionais para a formação continuada e para o desenvolvimento profissional docente. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 10 Interface das Tecnologias Educacionais e o Docente OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar as competências esperadas dos professores na interface das tecnologias educacionais. Isto será fundamental para que você, em sua trajetória profissional, compreenda a necessidade da formação constante, em todas as áreas, principalmente quando relacionada às tecnologias. O professor que não compreender que a principal competência relacionada às tecnologias educacionais é o “perfil aprendente”, corre o risco de ficar desatualizado e, com isso, ter dificuldadeem engajar seus alunos e cumprir seus objetivos de ensino. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Definição de Competências Para que, enquanto professores, possamos nos apropriar das tecnologias educacionais e, com isso, promover e fomentar situações significativas de ensino e aprendizagem para os estudantes, quais as competências que precisamos ter? A princípio, é necessário compreender o conceito de competência para que, assim, possamos significar as necessidades formativas ao professor que se define nesse cenário global e educacional. Em senso comum, a palavra competência é utilizada para indicar aquela pessoa qualificada para fazer/realizar algum serviço, em contraposição, temos o termo “incompetente” e todo o caráter depreciativo que ele carrega. Aqui, uma nova reflexão emerge: ao afirmarmos que é preciso determinadas competências aos professores, na relação com as tecnologias educacionais, afirmamos que eles são “incompetentes”? Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 11 Por isso, é necessário esclarecer o conceito de competência no cenário educacional, evitando essa polarização que marginaliza e deprecia o trabalho do professor e, consequentemente, desvaloriza a importância de sua figura frente à sociedade. Para Fleury e Fleury (2001), competência avança do sentido de desempenho priorizado no senso comum para: conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes (isto é, conjunto de capacidades humanas) que justificam um alto desempenho, acreditando-se que os melhores desempenhos estão fundamentados na inteligência e personalidade das pessoas. Em outras palavras, a competência é percebida como estoque de recursos, que o indivíduo detém (FLEURY; FLEURY, 2001, s. p.) IMPORTANTE: O conceito de competência, adotado pela BNCC, marca a discussão pedagógica e social das últimas décadas e pode ser inferido no texto da LDB, especialmente quando se estabelecem as finalidades gerais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio (Artigos 32 e 35). Além disso, desde as décadas finais do século XX e ao longo deste início do século XXI9, o foco no desenvolvimento de competências tem orientado a maioria dos Estados e Municípios brasileiros e diferentes países na construção de seus currículos10. É esse também o enfoque adotado nas avaliações internacionais da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que coordena o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês)11, e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, na sigla em inglês), que instituiu o Laboratório Latino- americano de Avaliação da Qualidade da Educação para a América Latina (LLECE, na sigla em espanhol) (BNCC, 2017 p.10-11) Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 12 E, portanto, esses “estoques de recursos” em uma sociedade dinâmica ao extremo, com amplo avanço tecnológico, heterogênea em suas condições sociais, culturais e econômicas, ao falarmos de competências docentes na interface das tecnologias educacionais, falamos da “condição de aprendente” do professor. Assim, na tríade conhecimentos, habilidades e atitudes, o que determina as condições de “competência” do professor é sua condição para aprender, e não depende apenas da disposição individual do docente, mas da promoção de políticas e ações formativas, questões que veremos a seguir. É no processo formativo que o professor transcende a técnica e a teoria significando as tecnologias adquirindo novos saberes que: “são transformados e passam a integrar a identidade do professor, constituindo- se em elemento fundamental nas práticas e decisões pedagógicas, sendo assim, caracterizados como um saber original” (NUNES, 2001, p. 31). Esse processo é inacabado, constante e vital, afinal, conforme evidencia Imbernón (2010), é desse constante aperfeiçoamento que o professor tem a oportunidade de autoavaliação, aperfeiçoando seus conhecimentos, habilidades e repensando suas atitudes. Para isso, é fundamental compreender que não há receitas para a formação docente, pois, cada realidade é única e precisa ser contextualizada, entretanto, três competências podem ser destacadas: • Utilização das tecnologias e suas potencialidades para apoiar o desenvolvimento social – alfabetização em tecnologia. • Prover práticas que permitam aos estudantes agregar valor à sociedade – aprofundamento do conhecimento. • Desenvolver práticas que possibilitem aos estudantes criar conhecimento e inovar – criação do conhecimento. Para isso, três elementos são fundamentais aos professores: conteúdos, habilidades e atitudes, que serão aqui referenciados a partir dos Padrões de Competências em Tecnologia da Informação e Comunicação - TIC para professores/UNESCO que apresenta uma matriz curricular com seis componentes do sistema educacional, são eles: Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 13 Figura 1 – Matriz Curricular – Competências em TIC/UNESCO POLÍTICA E VISÃO CURRÍCULO E AVALIAÇÃO PEDAGOGIA TIC ORGANIZAÇÃO E ADMINISTRAÇÃO DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL E DOCENTE Fonte: Adaptada de UNESCO (2019). O documento intitulado Padrões de Competência em TIC para professores em seu prefácio prevê: Para viver, aprender e trabalhar bem em uma sociedade cada vez mais complexa, rica em informação e baseada em conhecimento, os alunos e professores devem usar a tecnologia de forma efetiva, pois em um ambiente educacional qualificado, a tecnologia pode permitir que os alunos se tornem: usuários qualificados das tecnologias da informação; pessoas que buscam, analisam e avaliam a informação; solucionadores de problemas e tomadores de decisões; usuários criativos e efetivos de ferramentas de produtividade; comunicadores, colaboradores, editores e produtores; cidadãos informados, responsáveis e que oferecem contribuições (UNESCO, 2009, p. 3). Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 14 Conhecimentos, Habilidades e Atitudes para a Alfabetização em Tecnologia A Alfabetização em Tecnologia diz respeito à competência inicial e mais básica na relação tecnológica. Ela prevê que o professor seja formado e capacitado para fomentar a melhoria das habilidades de alfabetização – tradicional e digital – por meio da variedade de recursos, ferramentas, equipamentos e programas disponíveis e acessíveis. Para isso, o professor precisa incluir práticas que empreguem a tecnologia e adicionem o desenvolvimento de habilidades aos contextos curriculares relevantes, o que requer dos professores a transformação de suas práticas pedagógicas. Será necessário que envolvam o uso de diversas tecnologias, ferramentas e conteúdo eletrônico como parte de todas as atividades da turma, do grupo e individuais. Essas mudanças no perfil docente envolvem saber: onde, quando e se usar ou não a tecnologia no processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente, no seu próprio desenvolvimento profissional. Essa primeira competência resulta em pouca mudança na estrutura social, exceto por, talvez, promover o acesso e integração dos recursos tecnológicos, contribuindo para a inclusão digital. Porém, é o passo inicial e, portanto, opera em conjunto com as demais. Conhecimentos, Habilidades e Atitudes para o Aprofundamento do Conhecimento O aprofundamento de conhecimento diz respeito à competência de utilizar as tecnologias para solucionar problemas complexos e de alta prioridade em situações reais, em diferentes contextos. Para isso, é esperado dos professores conhecimentos que os permitam elaborar e utilizar atividades a partir de situações problemas, alterando o currículo mediante à necessidade do objetivo de ensino-aprendizagem. As habilidades aqui, também, centram-se no aprendizado colaborativo, com base em problemas e projetos em que os alunos Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 15 exploram profundamente uma matériae levam seu conhecimento para enfrentar questões, problemas e situações rotineiras e complexas. SAIBA MAIS: Você sabe o que é Pedagogia de Projetos? Como ela se estrutura? Qual sua proposta metodológica? Essas questões, quando respondidas, contribuem para entender um pouco mais sobre as competências esperadas do professor nesse cenário de trabalho colaborativo. Para avançar em conhecimento, indicamos a leitura do artigo: “Trabalho com projetos para criar aprendizagem significativa para os alunos”, que você pode acessar aqui. Outra questão importante aqui é a mudança na perspectiva do professor para o estudante. O ensino tem como foco o aluno, cabendo ao professor estruturar e propor as situações problemas. Essa perspectiva altera todas as demais relações da escola, desde a sala de aula até o processo avaliativo. Para tanto, as competências docentes esperadas são: A capacidade de gerenciar informações, tarefas-desafio e integração de ferramentas de programa abertas e aplicativos específicos da matéria com os métodos de ensino concentrados no aluno e projetos cooperativos, como forma de aprofundar o entendimento dos alunos sobre os principais conceitos, assim como suas aplicações para solucionar problemas complexos do mundo real (UNESCO, 2019, p. 10). Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 16 Figura 2 – Cooperação, articulação e mediação Fonte: Pixabay. Ao utilizar as tecnologias educacionais para aprofundar conhecimento, os professores criam e monitoram processos de colaboração individuais e colaborativos, em rede, o que contribui para sua autoformarção. Conhecimentos, Habilidades e Atitudes para a Criação do Conhecimento Na criação de conhecimento, os professores devem ter competências que os permitam criar e desenvolver propostas que, além dos conteúdos, possibilitem o desenvolvimento das habilidades do século XXI, que são necessárias para criar conhecimento. Veja a Figura 3, a seguir. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 17 Figura 3 – Habilidades para o século XXI Experimentação Solução de problemas Colaboração Pensamento crítico Comunicação Expressão criativa Fonte: Elaborada pela autora (2021). Assim, o professor é o “arquiteto” que estrutura as situações e mediam as relações para que os estudantes possam adquiri-las. É a construção de comunidades de aprendizagens, com a participação ativa de todos na construção de seus próprios conhecimentos e do conhecimento coletivo. O professor pode deixar de ser um transmissor de saberes para converter-se em um formulador de problemas, provocador de interrogações, coordenador de equipes de trabalho, sistematizador de experiências e memória viva de uma educação que, em lugar de prender-se à transmissão, valoriza e possibilita o diálogo e a colaboração (SILVA, 2003, p. 100). Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 18 RESUMINDO: E então? Gostou do que mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que quando falamos sobre competências no campo da educação, na relação com as Tecnologias Educacionais, falamos do conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes que justificam o desempenho dos professores, ou seja, é o estoque de recursos que ele tem. Diante de uma sociedade que muda rapidamente, é possível relacionar as competências docentes como a “condição de aprendente” do professor. Vimos que essa condição permite ao professor transcender a técnica e a teoria significando as tecnologias de acordo com sua realidade e adquirindo novos saberes que passam a integrar sua identidade. A partir dessa visão, vimos que não há “incompetência” na docência, pois a condição “aprendente” é inacabada e constante, precisando ser repensada sempre, não havendo fórmulas prontas, apenas alguns caminhos a serem seguidos. Desses caminhos, vimos os Padrões de Competências em Tecnologia da Informação e Comunicação para professores/ UNESCO, que aponta três competências: alfabetização em tecnologia, aprofundamento do conhecimento e criação do conhecimento. A primeira que prevê ao professor sua formação para promoção de práticas melhores de alfabetização na integração tecnológica; a segunda diz respeito à competência de utilizar as tecnologias para solucionar problemas e, por fim, a terceira diz respeito às competências que permitam aos professores criar e desenvolver propostas que, além dos conteúdos, possibilitem o desenvolvimento das habilidades do século XXI, fundamentais para criar novos conhecimentos e inovar. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 19 Ação Docente, Ensino-Aprendizagem e Tecnologias Educacionais OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de compreender a relação da formação docente no processo de ensino- aprendizagem frente à apropriação das tecnologias educacionais. Isto é fundamental para compreender o porquê o professor escolhe esse ou aquele caminho em suas propostas. Desconhecer essa relação esvazia os sentidos e significados que permeiam o processo educacional e contribuem para manter práticas que, por vezes, não avançam para a formação integral dos estudantes e limitam a formação do professor. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Ensino-Aprendizagem e a Ação Docente O processo de aprendizagem do professor, assim como todos os outros, é perpassado por diversos fatores, sendo necessário reforçar que, na relação com as tecnologias, apenas a existência e a disponibilidade do recurso não resolvem qualquer que seja o problema educacional. Para Barreto (2014, p. 19), é o professor que “de fato, define a melhor tecnologia a ser usada e como ela pode ser útil na formação do aluno”. Para isso, o professor precisa conhecer a tecnologia da qual se apropria. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 20 IMPORTANTE: As tecnologias educacionais convergem com “um princípio formativo, é uma tarefa social e cultural que, sejam quais forem as transformações que experimente, continuará dependendo, antes de tudo, de seus componentes humanos, de seus ideais e valores” (BARRETO, 2011, p. 77). Assim, as tecnologias estão diretamente ancoradas a esses ideais e valores, comungando com a proposta pedagógica atribuída pelo professor. Para a escola, atribui-se a função de formar intelectualmente as pessoas, oportunizando acesso e a apropriação do saber adquirido historicamente, de maneira sistematizada, bem como a construção de novos saberes (SAVIANI, 2003). Ainda, é nesse espaço que se fomenta a formação do pensamento crítico, instrumentalizando o sujeito para o exercício da cidadania e a transformação social. Dessa função da escola, temos o conceito de educação na qual se insere as tecnologias educacionais e que o professor as significa. Assim, no processo de ensino- aprendizagem as tecnologias carregam em si: “conhecimento e cultura” (ALVES, 2015, p. 7), mediam interações para a formação dos sujeitos. Desse princípio, ao “transmitir criticamente o conhecimento científico e cultural produzido pelo conjunto da sociedade” (SÁ, 2007, p. 7), as tecnologias educacionais contribuem para a democratização do conhecimento, “em favor dos diferentes grupos sociais, oportunizando às pessoas a participação no processo produtivo material e educacional” (SÁ, 2007, p. 2). Assim, as tecnologias educacionais, quando apropriadas pelos professores, aproximam o estudante dos conteúdos e efetivam uma das comunicações propostas e essenciais ao processo educacional. Comunicação que podemos entender como “o ato de educar” (FREIRE, 2009, p. 94), que se constituí em interação e resulta na transformação de que integra esse processo. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 21 Afinal, processo de comunicação é dinâmico e, portanto, a educação “não se faz de A para B oude A sobre B, mas de A com B, mediatizados pelo mundo” (FREIRE, 2009, p. 97), resultando em um “modelo pedagógico e comunicativo” (MARTÍN-BARBERO, 2014, p. 12). EXPLICANDO MELHOR: Compreender que as tecnologias educacionais estabelecem uma comunicação com os estudantes, um novo diálogo, é importante para que possamos entender como elas atuam, interferem e interveem no processo ensino-aprendizagem. Quando o professor propõe o uso de uma tecnologia em um momento de aprendizagem, ele estabelece “seus” objetivos, mas quando essa tecnologia chega nos estudantes, ele estabelece novos diálogos. Em uma perspectiva freiriana, o estudante estabelece seu próprio diálogo a partir de suas ideias, reflexões, opiniões, conceitos e análises. Diálogo permanente de buscas e trocas de saberes. Porém, nesse sentido a formação docente para compreender essa relação e sua disponibilidade para atuar nesses diálogos são essenciais. É importante discutirmos e pensarmos sobre o hiato comunicativo que se faz presente no modelo de tradicional de educação que: “nega a educação e o conhecimento como processos de busca” (FREIRE, 2009, p. 58). Como vimos anteriormente, essa superação é uma das premissas quando se discute as competências necessárias aos professores no processo de apropriação tecnológica. A tecnologia educacional “não pode, portanto, ser concebida enquanto um monólogo passiva. Deve ser pensada de forma criativa e crítica, possibilitando a construção de conhecimento descentralizado e plural” (MARTÍN-BARBERO, 2000, p. 58). Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 22 Figura 4 – Comunicação e atividade com as tecnologias educacionais Fonte: Pixabay É preciso, portanto, considerarmos a natureza da tecnologia, valendo-nos das relações e inter-relações que elas possibilitam enquanto meio promissor para de comunicação e, para tanto, a formação docente deve seguir a premissa de que: “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção” (FREIRE, 1996, p. 21). Mediação e Interação: Caminhos para o Ensino-Aprendizagem Não podemos, portanto, no processo ensino-aprendizagem estabelecer interações silenciosas com as tecnologias educacionais. É preciso considerar o potencial dessas ferramentas para “desenvolver projetos/programas que superem a reprodução e levem à produção ou à (re)construção do conhecimento numa perspectiva de emancipação e elevação cultural e moral (ética) dos cidadãos” (OLIVEIRA, 2003 apud SÁ, 2007, p. 46). Assim, a formação docente necessita considerar que “mais importante que a tecnologia é a mudança da organização na prática de ensino que é consequência do uso dessa tecnologia” (MOORE, 2003, p. 3). Para isso, as tecnologias educativas devem ser pensadas para promover Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 23 mediações e interações necessárias para a efetivação da comunicação e, consequente, do processo educativo. Esse deverá possibilitar ao estudante relações entre os diversos conteúdos relacionados às tecnologias, permitindo a leitura do todo para a construção do diálogo e, assim, a construção do conhecimento (MARTÍN-BARBERO, 2000). Esse diálogo é a interação que Andrade e Vicari (2011, p. 259) definem como parte: “do processo de mediação que ocorre por meio de instrumentos. Ambos podem estar modelados em toda e qualquer ferramenta que exerça a função de mediação”. IMPORTANTE: Interação é a ação de estabelecer diálogo de forma ativa e consciente na qual “cada um elabora e adiciona algo à contribuição de outra parte ou partes” (MOORE, 2003, p. 3). Figura 5 – Mediação, interação e comunicação Fonte: Pixabay. Assim, as mediações estabelecidas pelos professores devem otimizar as interações aluno-conhecimento, buscando qualificar as relações que garantam os objetivos educativos e promovam ao estudante Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 24 autonomia em relação ao conteúdo, à tecnologia e ao processo de construção de saberes. É a intenção pedagógica que significa a tecnologia. ACESSE: Indicamos o acesso ao vídeo A formação de professores para uso das novas tecnologias, com a fala de Vera Cabral, ex-coordenadora da Escola de Formação de Professores da Secretaria Estadual de Educação de São Paulo, proferida durante o 5º Seminário Líderes em Gestão Escolar. Você pode acessar aqui. Intenção Pedagógica e a Significação da Tecnologia Educacional A intenção pedagógica é, então, direcionada à apropriação tecnológica diante da demanda real observada pelo professor, dinamizando e qualificando o processo de ensino-aprendizagem. Para isso, quatro indicadores são essenciais: Figura 6 – Quatro indicadores para a mediação tecnológica METODOLOGIA CONTEÚDO PERFIL INFRAESTRUTURA Fonte: Elaborada pela autora (2021). Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 25 Desses indicadores, é possível estabelecermos um roteiro de perguntas que orientam o planejamento didático do professor, sendo esse o primeiro elemento a ser elaborado na relação com a tecnologia: • Conteúdo: Quais as tecnologias mais adequadas aos objetivos de ensino em relação ao conteúdo? • Perfil: Quais as tecnologias mais adequadas ao perfil dos estudantes a quem se pretende ensinar esses conteúdos? • Infraestrutura: Quais as melhores soluções diante da infraestrutura e recursos disponíveis no espaço da escola? • Metodologia: Qual o melhor encaminhamento metodológico diante das expectativas de aprendizagem pretendida aos estudantes? Esses indicadores estão correlacionados e são fundamentais para os objetivos que propomos sejam atingidos, permitindo que compreendamos o perfil global da tecnologia na relação do conteúdo com os estudantes. Ainda, desses indicadores vale a criatividade do professor e os caminhos que ela permitir. O importante é ampliar a interlocução do estudante com outros formatos e abordagens, ampliando seu repertório, o que permitirá ir além da apropriação do conteúdo propriamente dito, competências e habilidades para comparar, analisar e tecer reflexões de maneira crítica. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 26 RESUMINDO: E então? Gostou do que mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que o processo de aprendizagem do professor é perpassado por diversos fatores e adquirir conhecimentos é essencial para definir a melhor tecnologia a ser usada e como ela pode ser útil na formação do aluno. Vimos que, para isso, a formação docente deve proporcionar conhecimento da tecnologia, avançando para seu princípio formativo enquanto tarefa social e cultural, na qual os componentes humanos são os elementos fundamentais. Avançamos para compreender o papel da comunicação na relação com a educação, entendendo que o ato de educar se constitui em interação, sendo que ensinar não é transferir conhecimento. Vimos que a mediação e interação são os caminhos para o ensino- aprendizagem na relação com as tecnologias educacionais e, portanto, é preciso eliminar as interações silenciosas. Isso significa considerar, na formação docente, a mudança da organização na prática de ensino, afinal, intenção pedagógica é o que significa a tecnologia. E para tanto, vimos que quatro indicadores auxiliam o professor nesse processo: conteúdo, perfil, infraestrutura e metodologia. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 27 Cidadania Digital: a Prática Docente Reflexiva OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de entender a necessidade da formação docente sob os princípios éticos e democráticos para a apropriação tecnológica. Esses conhecimentos são fundamentais para, principalmente, avançarmos na perspectiva da tecnologia educacional para a construção do conhecimento e inovação, afinal, desconhecer questões que regulam a sociedade dainformação e que impactam nas relações humanas – seja no mundo virtual, seja no mundo real impossibilita o professor de desenvolver um bom trabalho junto a seus estudantes. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante! Tecnologias Educacionais e a Prática Social Ao trabalharmos os elementos críticos como violência, pornografia, crimes e outras condições da mazela social no mundo virtual ampliados em decorrência do advento da internet, nos deparamos com uma esfera da formação docente que, no cenário tecnológico por vezes, é um terreno a ser desbravado. Muito disso se deve ao que Freitas (2003, p. 1.096) definiu como “abandono da categoria trabalho pelas categorias da prática, prática reflexiva”, que pode nos levar a uma simplificação das relações docentes e, consequentemente, o esvaziamento do trabalho do professor. Esta questão do esvaziamento se depara com desafios específicos, mas que influenciam toda a sociedade de uma só vez, visto que o advento da Internet chegou de maneira massificada para toda a sociedade, ou seja, toda a sociedade, independente de sua idade, puderam ter acesso Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 28 ás ferramentas digitais, independentemente de sua condição de gênero, classe social ou posição política. Dessa maneira, compreende-se como essencial estabelecer mecanismos adequados para o equacionamento do uso das tecnologias da informação como o processo educacional. A referida questão é possível de se alcançar através de iniciativas éticas a partir de uma perspectiva educacional. Portanto, quando houver a percepção da ética no sistema da educação digital, torna-se essencial compreender a necessidade de se utilizar corretamente as ferramentas digitais, independente do seu local ou condição, conforme destaca Educação e Mídia (2017 online) “A educação digital trata da utilização correta, lícita e ética desta forma de relacionamento, estando a pessoa conectada à rede por qualquer dispositivo, sejam os tradicionais computadores de mesa, notebooks, tablets ou telefones celulares. Portanto, a educação digital implica em conscientização sobre privacidade, segurança da informação e, tão ou mais importante, de prover uma ampla e constante abordagem sobre a ética digital em toda e qualquer forma de comunicação virtual. A Internet foi a única forma de conhecimento e comportamento humano – desde o início da civilização – que chegou ao mesmo tempo para todas as faixas etárias. Ou seja, não foi algo transmitido de uma geração para outra, não houve tempo hábil para a discussão de valores, limites e comportamentos”. (EDUCAÇÂO e MÌDIA, 2017 online) Ademais, esse esvaziamento atinge todos os campos do trabalho do professor, inclusive sua formação e, consequentemente, a forma como ele irá promover o ensino e a aprendizagem, selecionando e se apropriando das tecnologias educacionais. O que nos permite pensar sobre qual a posição o professor ocupa, na atualidade, frente aos desafios que se apresentam nas relações tecnológicas? Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 29 A questão é simples de ser solucionada quando se compreender a ética faz parte da construção deste processo e que, portanto, a inserção das tecnologias não pode ser de maneira vazia e sem fundamento social, conforme destaca BNCC (2017 p.15) “Uma discussão importante que se tem feito nos últimos anos e que vale destacar é que não se deve prezar somente pela utilização das tecnologias em si, mas sim pela reflexão crítica e pelo uso responsável. Assim, cabe aos professores trabalharem também conceitos relacionados a segurança na rede, cyberbullying, checagem de fatos (com ênfase nas famosas fake news) e informações e o uso da tecnologia como ferramenta de construção e compartilhamento de conhecimentos. Nesse cenário, o professor não precisa ser o detentor do conhecimento técnico sobre o uso das ferramentas disponíveis, mas sim o mediador que vai auxiliar os estudantes na reflexão sobre os melhores usos possíveis das TDICs”. (BNCC 2017 p.15) Para Barreto (2009 apud ANDRÉ, 2004), como base os documentos oficiais da educação nacional, podemos identificar uma comodificação dos elementos pedagógicos, atribuindo à formação dos professores: Inserir as diversas tecnologias da informação e das comunicações no desenvolvimento dos cursos de formação de professores, preparando-os para a finalidade mais nobre da educação escolar: a gestão e a definição de referências éticas, científicas e estéticas para a troca e negociação de sentido, que acontece especialmente na interação e no trabalho escolar coletivo. Gerir e referir o sentido será o mais importante e o professor precisará aprender a fazê-lo em ambientes reais e virtuais (BARRETO, 2004 apud ANDRÉ, 2009, p. 25). Ou seja, de um lado, a proposta formativa se abre para a diversidade, de outro, restringe a um padrão único. O trabalho docente é expandido e reduzido em constante contradição: ao mesmo tempo que se flexibiliza e se democratiza, convive-se com o monopólio e o controle. O que deveria ser proposto não é a receita, e sim espaços para uma maior interação para a formação docente: da discussão para o confronto, à produção de sínteses integradoras. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 30 Figura 7 – Espaços de interação DISCUSSÃO Das informações coletadas e dos processos vividos. CONFRONTO Dos diferentes percursos individuais. PRODUÇÃO Com vistas à produção coletiva de sínteses visando à produção coletiva de sínteses integradoras. Fonte: Adaptada de Barreto (2009). E, no sentido de se conseguir atingir a referida integração, destaca- se a necessidade de as instituições de ensino em conjunto com a sociedade local e os professores, a aplicação de técnicas que sejam capazes de inserir a comunidade estudantil no cenário democrático e de amplo acesso a informação consciente. “A oferta de diferentes itinerários formativos pelas escolas deve considerar a realidade local, os anseios da comunidade escolar e os recursos físicos, materiais e humanos das redes e instituições escolares de forma a propiciar aos estudantes possibilidades efetivas para construir e desenvolver seus projetos de vida e se integrar de forma consciente e autônoma na vida cidadã e no mundo do trabalho. Para tanto, os itinerários devem garantir a apropriação de procedimentos cognitivos e o uso de metodologias que favoreçam o protagonismo juvenil, e organizar-se em torno de um ou mais dos seguintes eixos estruturantes: I – investigação científica: supõe o aprofundamento de conceitos fundantes das ciências para a interpretação de ideias, fenômenos e processos para serem utilizados em procedimentos de investigação voltados ao enfrentamento de situações cotidianas e demandas locais e coletivas, e a proposição Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 31 de intervenções que considerem o desenvolvimento local e a melhoria da qualidade de vida da comunidade; II – processos criativos: supõem o uso e o aprofundamento do conhecimento científico na construção e criação de experimentos, modelos, protótipos para a criação de processos ou produtos que atendam a demandas para a resolução de problemas identificados na sociedade; III – mediação e intervenção sociocultural: supõem a mobilização de conhecimentos de uma ou mais áreas para mediar conflitos, promover entendimento e implementar soluções para questões e problemas identificados na comunidade; IV – empreendedorismo: supõe a mobilização de conhecimentos de diferentes áreas para a formação de organizações com variadas missões voltadas ao desenvolvimento de produtos ou prestação de serviços inovadores com o uso das tecnologias” (Resolução CNE/ CEB nº 3/2018, Art. 12, § 2º). EXPLICANDO MELHOR: Cada escola é única, assim como cada pessoa que está nessa escola, seja estudante, seja professor,é única. Há vários grupos, com suas diferenças e distâncias, que faz do espaço de cada escola único e especial, local de “juntar” pessoas e produzir conhecimentos que pouco, ou quase nada, tem relação com competência técnica: bons professores podem sim ser exitosos no trabalho com a ética, cidadania, humanidade, empatia, entre outras, mesmo que sua “competência técnica” com o celular seja deficitária. É essa contradição que esse capítulo propõe e é por isso que optamos por desenvolvê-lo: para sempre ficarmos alertas às “fórmulas mágicas” relacionadas às tecnologias, subjugando o professor e seu potencial de formação e transformação social. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 32 SAIBA MAIS: Indicamos a leitura da entrevista de Anthony Salcito, VP de Educação Global da Microsoft para a Revista Época que, entre outros temas, defende que é preciso celebrar papel do professor diante das transformações digitais. Uma afirmação que se destaca em sua fala é: “Não precisamos de tecnologias incríveis, mas de professores motivados”. Acesse clicando aqui. O que queremos efetivamente é destacar que o professor deve ser visto e respeitado enquanto profissional que atua, e não considerado “instrumento para finalidade”: deve isso, para aquilo etc. Assim, a formação é um exercício da cidadania e manter a lógica instrumental apenas contribui para “uma espécie de apartheid educacional” (BARRETO, 2009, p. 14), na qual estamos divididos, assim como os estudantes, em dois grupos: os incluídos e os excluídos, principalmente, ocupando a segunda posição, ao não conseguir significar a tecnologia e/ou acessar a informação que lhe faz sentido. Ética na Formação Docente Assim, a ética passa a ser objetivo formativo a ser alcançado, porém como se formar um profissional ético para além de conceitos? SAIBA MAIS: Você sabe o que é ética? E moral? E valores? Você sabe como esses três elementos se relacionam? Para responder essas questões, ninguém melhor que Mario Sérgio Cortella em uma de suas clássicas entrevistas, que você pode acessar aqui. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2018/07/nao-precisamos-de-tecnologias-incriveis-mas-de-professores-motivados.html https://www.youtube.com/watch?v=2gVCs2fIILo 33 Os conhecimentos relacionados à ética devem ser rigorosos e coerentes. Para Vasquez (1998): Didaticamente, costuma-se separar os problemas teóricos da ética em dois campos: no primeiro os problemas gerais e fundamentais (como liberdade, consciência, bem, valor, lei e outros) e no segundo, os problemas específicos, de aplicação concreta, (como os problemas de ética profissional, de ética política, de ética sexual, de ética matrimonial, de bioética etc.). É um procedimento para fins didáticos e acadêmicos pois, na realidade, eles não vêm assim separados (VASQUEZ, 1998, p. 6). Na ética, reside a condição do respeito e com isso o professor, quando em formação, passaria a reconhecer a diversidade de pensamento que compõe sua prática, resultado de processos de colaboração, e não de imposição de pontos de vistas externos que podem limar a curiosidade e a autonomia no processo de construção de conhecimento do docente. Não haveria exercício ético-democrático, nem sequer se poderia falar em respeito do educador ao pensamento diferente do educando se a educação fosse neutra – vale dizer, se não houvesse ideologias, política, classes sociais. Falaríamos apenas de equívocos, de erros, de inadequações, de “obstáculos epistemológicos” no processo de conhecimento, que envolve ensinar e aprender. A dimensão ética se restringiria apenas à competência do educador ou da educadora, à sua formação, ao cumprimento de seus deveres docentes, que se estenderia ao respeito à pessoa humana dos educandos (FREIRE, 2001, p. 38-39). Portanto, a formação docente na relação com a ética se direciona para uma formação integral atendendo os aspectos pessoais e globais para o exercício da cidadania. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 34 IMPORTANTE: Saber utilizar as diferentes fontes de informação e recursos tecnológicos visando não apenas o conhecimento acadêmico, mas o uso destes conhecimentos pelas pessoas com consciência, criticidade e responsabilidade é o que a sociedade espera da escola. Em nossa sociedade a escola é a instituição cuja função específica é a transmissão de cultura. De acordo com Rios, a escola é o espaço de transmissão sistemática do saber historicamente acumulado pela sociedade, que tem por objetivos formar indivíduos, capacitando-os a participar como agentes na construção dessa sociedade. (RIOS, 1999, p. 34) A educação ética efetiva-se não no discurso ou na imposição de valores, mas na ação e na reflexão acerca das situações cotidianas trazidas para o espaço escolar dentro de uma dinâmica dialógica de aprendizagem, onde o objetivo é a construção da personalidade autônoma do aluno como pessoa e como cidadão. (RIOS, 1999, p. 35) Educar com vistas a convivência solidária, onde o balizamento para as atitudes éticas são os interesses pessoais e também coletivos, é prever não o cidadão isolado, mas as pessoas em comunhão umas com as outras, onde o agir individual está conectado para a sensibilidade solidária, consciente e responsável de utilização das NTIC. E, portanto, o processo de incorporação das tecnologias nas ações docentes guia professores para uma educação libertadora e humanista, na qual homens e mulheres imergem na construção do conhecimento, tornando-se sujeitos da condução de sua própria aprendizagem, ou seja, um sujeito participativo e responsável pela sua própria construção, deixando de lado o sujeito passivo para se tornar autônomos e cidadãos democráticos do saber, exercendo a cidadania digital. (TRAUTMANN, 2002 p.89) Dessa maneira, destaca-se que o processo de inserção das novas tecnologias bno sistema educacional, deve levar em consideração aspectos importantes da formação ampla do indivíduo, ou seja, especificando a Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 35 necessidade de um processo de valorização da democracia e cidadania e, por isso, torna-se essencial a inclusão tanto de equipamentos adequados, como também, a construção de uma consciência crítica a partir de um sentido de coletividade, inlcusão e participação social. “Incluir novos conteúdos ou equipamento para uso didático nas salas de aula, mas continuar preso a um modelo de transmissão do conhecimento com aulas meramente expositivas, pressupondo um aluno passivo – receptor de conhecimento que serão cobrados em avaliações, não contribui para a construção de uma concepção de ciência e tecnologia a serviço da cidadania e da felicidade humana. Paulo Freire afirmava que conhecemos para: entender o mundo – palavra, significação e mundo; para averiguar – o certo e o errado, numa busca da verdade e para interpretar e transformar o mundo. 6 O conhecimento é uma ferramenta para modificar o espaço físico e social que rodeia a pessoa humana”. (TRAUTMANN, 2002 p.90) Considera-se, portanto, que cabe a escola socializar tanto a ciência - vista como o conhecimento historicamente construído e sistematizado, quanto à técnica - entendida como os procedimentos e instrumentos criados pelo homem para facilitar sua existência. (TRAUTMANN, 2002 p.92) RESUMINDO: E então? Gostou do que lhe mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que, em decorrência do advento da internet, há uma nova esfera na formação docente que precisa ser esclarecida e repensada para que a profissão “professor” não seja esvaziada de seu sentido. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 36 Vimos que esse esvaziamento decorre, muitas vezes, pelos discursos e propostas prontas de formaçãopara e com as tecnologias educacionais destinadas aos professores que, ao mesmo tempo, flexibilizam as oportunidades de conhecimentos e conteúdos, restrigem a autonomia do professor frente a eles, limitando suas ações à reprodução de “receitas”. Assim, refletimos sobre a importância da formação do professor ser pautada pela discussão, avançar para o confronto e resulte na produção de sínteses integradoras. Esse caminho permite ações efetivas em termos personalizados e, com isso, garantiria o respeito aos processos vividos, dos diversos percursos individuais e resultaria em conhecimentos compartilhados. Vimos que o objetivo desse capítulo foi de apresentar um contraponto em um cenário que, muitas vezes, destaca a tecnologia em detrimento do professor, sendo que é esse o que faz a diferença e deve ser respeitado, e não ser visto como instrumento para finalidade. Avançamos nessas discussões para a necessidade da formação ética que, ao reconhecer a diversidade de pensamento, resultando em processos de colaboração e não de imposição do que ele – o professor – e seu ponto de vista em relação à sua curiosidade, se estenderia ao respeito à pessoa humana em exercício da cidadania digital. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 37 Desenvolvimento Profissional OBJETIVO: Ao término deste capítulo, você será capaz de identificar o potencial das tecnologias educacionais para a formação continuada e para o desenvolvimento profissional docente. Conhecer essas potencialidades é fundamental para entender que, em se tratando de tecnologia, não haverá um “ponto de chegada”, “um ponto de conclusão” no processo de aprendizagem e formação do professor, afinal, a sociedade muda e demanda novas soluções que são atendidas via tecnologia, que “ingressam” nas relações de ensino-aprendizagem, em um ciclo infinito. Sem a percepção dessa condição, o professor corre o risco de perder oportunidades de aprender, inovar e transformar sua prática, a si mesmo, suas relações e a sociedade. E então? Motivado para desenvolver esta competência? Então, vamos lá. Avante!. Autonomia e Formação Inicial, Continuada e Permanente Quando falamos de formação docente, seja em qualquer oferta – inicial, continuada ou permanente -, falamos do desenvolvimento profissional do professor, ação essencial, não apenas quando se trata das tecnologias educacionais. Muitas são as possibilidades e abordagens que essa formação é proposta e efetivada, mas é possível sistematizá-las em dois grandes grupos: aquelas que buscam a aquisição de conhecimentos e as que buscam ofertar apoio profissional. Nesse sentido, observa-se que: “Ao considerar esse cenário das novas tecnologias, Bianchetti (2001) assegura que as instituições de ensino são levadas a rever os métodos e as práticas de ensino- aprendizagem uma vez que a tradição, a experiência e a formação deixaram de ser critérios de qualificação para o Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 38 trabalho. A mediação pedagógica é fundamental para o uso das tecnologias na educação, tanto as convencionais (quadro, giz, livro didático etc.) como as NTDIC (computadores, internet, aparelhos audiovisuais etc.) para melhorar o processo ensino-aprendizagem”. (MASETTO, 2012) Para Marcelo (1999), as ofertas relacionadas com a aquisição de conhecimentos podem ser entendidas como uma espécie de treino profissional. Nessa perspectiva, na interação com conteúdos pré- desenvolvidos por especialistas, espera-se que os professores adquiram conhecimentos e desenvolvam competências sobre determinados assuntos. Nesse sentido, observa-se que: “O uso de tecnologia delineia, pois, um novo modelo para a escola. Os recursos oferecidos pelos computadores e pela internet tornam as informações circulantes mais atraentes em forma e diversificadas em conteúdo do que aquelas existentes na escola tradicional. O maior desafio é caminhar para um ensino e uma educação de qualidade que integrem todas as dimensões do ser humano.” (MORAN, 2005 p.15) No modelo de apoio profissional, a busca vai além da aquisição: espera-se que o professor planeje e desenvolva seu percurso formativo. Para tanto, privilegia-se o trabalho cooperativo, colaborativo, a troca de experiências e a avaliação por pares. E, portanto, observa-se que a prática educacional deve ser delineada a partir dos seguintes elementos: “A prática pedagógica relaciona-se com domínio de conteúdo, aquisição de habilidades e busca de estratégias que viabilizem a aprendizagem em cada situação de ensino, além de ser fator fundamental ao processo de ensino e aprendizagem. A presença da multimídia propõe novos arranjos ao processo de ensino e aprendizagem que, por consequência, exigem do docente uma postura diferente. Portanto, o professor em suas práticas pedagógicas, além do giz, do quadro-negro e do livro didático incluirá Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 39 equipamentos eletrônicos, novos ambientes virtuais de aprendizagem e metodologias que permitiram construir e aplicar a informação e o conhecimento à realidade, transformando-a. O desenvolvimento de práticas pedagógicas deve respeitar o ritmo de aprendizagem de cada aluno”. (BORGES, 2018 p.31) E para que isso seja possível, destaca-se a necessidade de estabelecer estratégias que venham motivar o aprendizado no ambiente escolar, conforme especifica Masetto (2012, p. 144): “[...] haverá necessidade de variar estratégias tanto para motivar o aprendiz como para responder aos diferentes ritmos e formas de aprendizagem, pois nem todos aprendem do mesmo modo e no mesmo tempo.” (MASETTO, 2012 p.144) Desses dois modelos gerais, podemos ampliar as possibilidades de formação em outras cinco ofertas: Figura 8 – Modelos de desenvolvimento profissional O professor decide como, para que e o modelo da formação. Considera o professor autosuficiente para dirigir seu processo de aprendizagem. Os seminários são exemplos desse modelo. AUTÔNOMO Modelo baseado na reflexão, observação e supervisão. Consiste da escrita, análise e reflexão de casos. A supervisão com profissionais mais experientes é um exemplo desse modelo. REFLEXIVO Propõe o desenvolvimento de projetos de inovação curricular. Os professores planejam, adaptam, implementam e avaliam os projetos. DESENVOLVIMENTO CURRICULAR Consiste no treinamento por meio de atividades propostas por especialistas. CURSOS DE FORMAÇÃO O professor é visto como um pesquisador. Propõe a pesquisa e a reflexão.INVESTIGAÇÃO Fonte: Adaptada de Simonian (2018). Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 40 Os espaços que marcam a formação e a atuação dos professores incluem a história de vida, a formação inicial e continuada, o trabalho pedagógico, a materialização das políticas educacionais e as vivências socioafetivas e culturais dos docentes. Como já foi dito anteriormente, as mudanças na sociedade, advindas dos avanços tecnológicos e das telecomunicações, exigem novas competências dos profissionais, sobretudo do professor, que tem de rever seu papel de forma crítica para (res)significar sua prática incluindo nelas o uso das novas tecnologias. (BORGES, 2018 p.32) Fundamentalmente, o que cabe evidenciar em relação a esses modelos é que como o professor “se forma” é também aprendido para “formar”, ou seja, a experiência formativa vivida pelo professor irá repercutir em sua prática pedagógica. REFLITA: Se a vivência formativa do professor for tradicional, imóvel, em caráter de recepção de informações, estática e, nesse processo, não houver momento de construção, elaboração e ação, poderá esse professor, em decorrência dessas vivências, promover outras experiências à frente de suas turmas? A Prática Pedagógica Decorrente Portanto, é fundamental a compreensão da complexidade que a formação docente resulta na identidade do professor, principalmente sobre como “se ensina” a partir de como“se aprendeu”. Afinal, como aponta Zabala (1998, p. 16), “a estrutura da prática docente obedece a múltiplos determinantes, tem sua justificação em parâmetros institucionais, organizativos, tradições metodológicas”. Assim, a formação docente deve ser planejada com a intencionalidade focada na transformação, na educação liberadora, voltada para que o Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 41 professor, entendido com um sujeito histórico que produz e é capaz de se apropriar do conhecimento de forma significativa, exerça sua condição crítica, para que possa aprender e, consequentemente ensinar. IMPORTANTE: Veiga (2007, p. 160) sinteriza a realidade como algo concreto, bem como perceber que há vínculos entre os meios e os fins da educação. Desse modo, “professor e alunos buscam nas atividades didáticas pedagógicas um significado e uma finalidade, além dos métodos e técnicas fechadas em si mesmas, estabelecendo vínculos entre a teoria e a prática”. ACESSE: Indicamos que você acesse e assista a palestra do professor António Nóvoa, reitor honorário da Universidade de Lisboa, que, no dia 31 de maio de 2017, no evento organizado pelo SinfprofNH, falou sobre os desafios do trabalho e formação docentes no século XXI”. Acesse clicando aqui. Portanto, a forma como se capacita o professor devem considerar as demandas relacionadas à sociedade e, inegavelmente, as mudanças que tanto se cobra desse profissional em sua prática pedagógica. É necessária convergência entre oferta e cobrança, sendo fundamental: A diversificação dos modelos e das práticas pedagógicas atuais instituindo novas relações dos professores com o saber pedagógico e científico. Assim, os professos têm de se assumir como produtores da sua profissão, articulando com as escolas onde desenvolvem suas funções e os projetos nelas em ação (KULLOK, 2000, p. 16). Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 42 Figura 9 – Para pensar além Fonte: Pixabay Essa ideia de que para fazer é necessário experimentar não é novidade, já discutimos essa essência quando se trata do processo de ensino-aprendizagem dos estudantes, portanto nada mais justo que na formação docente essa condição também seja respeitada e fomentada. Moran (2012, p. 12) afirma: “aprendemos mais quando estabelecemos pontes entre a reflexão e a ação, entre a experiência e a conceituação, entre a teoria e a prática, quando ambas se alimentam mutuamente”. Nesse sentido, PERRENOUD (2000 p.128) destaca que; “Formar para o contexto educacional tecnológico supõe formar para o julgamento, o senso crítico, o pensamento hipotético e dedutivo, as faculdades de observação e de pesquisa, a imaginação, a capacidade de memorizar e classificar, a leitura e a análise de textos e imagens, a representação de redes, procedimentos e estratégias de comunicação”. (PERRENOUD, 2000, p. 128). Essa relação óbvia muitas vezes é esquecida, em decorrência retornamos a crítica feita: o professor passa a ser “instrumento para algo”, Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 43 perdendo, nesse processo, o sentido necessário entre a teoria e a prática frente a seu contexto e a necessidade de transformação social, extirpa- se o pensamento reflexivo que possibilita essas transformações e que possibilitariam novas experiências e novos saberes. Portanto, para que seja possível atingir, de maneira adequada, todos os elementos relacionados com o processo de formação de professores, destaca-se a necessidade de ir além das teorias, pois é essencial a conexão com elementos particulares de cada profissional, conforme destaca Ribeiro, Oliveira e Mil (2013 p.146) “é essencialmente um processo de comunicação não só de teorias, conceitos e habilidades, mas também de atitudes profissional e socialmente desejáveis”. Os autores consideram fundamentais o domínio e uso das NTDIC pelos professores tanto para favorecer a aprendizagem quanto para promover o letramento tecnológico e digital dos alunos, pois consideram ferramenta de acesso ao mercado de trabalho e de conquista da cidadania. Acrescentam, ainda, que é necessário dominar as NTDIC para que se possa ensinar aos alunos a vê-las de forma crítica, pois o letramento tecnológico tem sido relegado pelas políticas públicas e escolas a um plano funcional”. (RIBEIRO; OLIVEIRA; MILL, 2013, p. 146) Assim, a consciência da prática pedagógica não avança. A ação docente passa a reproduzir modelos: acesse, avance, faça etc. E, aos poucos, o significado desse caráter instrucional na relação com a tecnologia se perde e o professor cada vez menos se pergunta: por que acessar? Por que avançar? Por que fazer? Essas reflexões não significam dizer que o professor não irá fazer o uso da tecnologia, mas que, ao fazer seu uso, se apropriará dessa tecnologia e refletindo sobre ela em sua prática pedagógica. É o desafio constante do professor em “repensar sua intervenção pedagógica, buscando dinamizá-la e/ou reestruturá-la para que o aprendizado se efetive” (BRITO, 2006, p. 46). Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 44 Figura 10 – Eterno repensar Fonte: Pixabay. O professor pode, então, utilizar as tecnologias como um elemento complementar capaz de promover mudanças; para isso, ele pode se preparar e assumir o papel de protagonista. O professor pode, ainda, possibilitar o desenvolvimento da aprendizagem dos alunos de forma autônoma, pois é imprescindível tornar os alunos pessoas capazes de enfrentar situações e contextos variáveis, que exijam deles a aprendizagem de novos conhecimentos e habilidades. (POZO, 1998 p.23) Para tanto, a formação docente, no cenário tecnológico, deve, como brilhantemente aponta Freire (2006, p. 22), fomentar “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blablablá e a prática, ativismo”. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 45 RESUMINDO: E então? Gostou do que mostramos? Aprendeu mesmo tudinho? Agora, só para termos certeza de que você realmente entendeu o tema de estudo deste capítulo, vamos resumir tudo o que vimos. Você deve ter aprendido que quando falamos de formação docente, o desenvolvimento profissional do professor é essencial, não apenas quando se trata das tecnologias educacionais. Vimos que é possível sistematizar a oferta dessas formações em dois grandes grupos: aquelas que buscam a aquisição de conhecimentos e aquelas que buscam ofertar apoio profissional. O primeiro grupo privilegia a aquisição de conhecimentos, pode ser entendida como uma espécie de treino profissional, esperando que o professor adquira conhecimentos e desenvolva competências sobre determinados assuntos. Já o segundo, espera-se que o professor planeje e desenvolva seu percurso formativo, portanto faz com que ele “coloque a mão na massa” individualmente e em grupo. Destacamos que a proposta da formação é fundamental, pois como o professor “se forma” interfere em como ele “forma” os outros, assim, sua experiência frente a formação continuada interfere em sua prática pedagógica. Portanto, aprendemos que é necessário planejar e promover formações docente com intencionalidades de transformação, com perspectiva libertadora, capaz de instrumentalizá-lo para apropriação do conhecimento de forma significativa para que, com isso, ele possa exercer sua profissão de forma crítica. Afinal, na relação com as tecnologias educacionais, espera-se que esse professor “ensine os preceitos da criticidade” aos estudantes, mas em sua formação pouco se propõe a isso por vezes. Por fim, vimos que essa transformação na proposta de formação docente é fundamental para que reflexão transforme teoria e prática em uma unidade indissociável. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais 46 REFERÊNCIAS BORGES, Patrícia Ferreira Bianchini. OVAS TECNOLOGIAS E FORMAÇÃO PROFISSIONAL DOCENTE. Educ.Θ. | Belo Horizonte | v.23 | n. 1 | p. 31- 46 | jan./abr. 2018. BRASIL. Resolução CNE/CEB nº 3/2018. BRASIL. BNCC. 2017. Disponível em:http://basenacionalcomum. mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em 8 de novembro de 2021. FREIRE, P. A Educação na Cidade. Editora Cortez. 2. ed. São Paulo: 1995. FREIRE, P. Educação e mudança. 31. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008. FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1971 FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2009. FREIRE, P. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005. LÉVY, P. Cibercultura. São Paulo: 34, 1999. LÉVY, P. O que é o virtual? São Paulo: Editora 34, 2004. MARTÍN-BARBERO, J. América Latina e os anos recentes: o estudo da recepção em comunicação social. In: SOUZA, M. W. de. Sujeito, o lado oculto do receptor. São Paulo: Brasiliense, 1995. MARTÍN-BARBERO, J. De los medios a las mediaciones. Barcelona: Gustavo Gili, 1987.MASETTO, Marcus T. Competência pedagógica do professor universitário. São Paulo: Summus, 2003. MORAN, José Manuel. O que é Educação a distância. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/moran/ wp-content/uploads/2013/12/dist. pdf. Acesso em: 8 de novembro de 2021. MORAN, J. M. A educação que desejamos: novos desafios e como chegar lá. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 2007. POZO, Juan Ignácio (org). A solução de problemas. Porto Alegre: Artmed, 1998. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf http://www2.eca.usp.br/ 47 PERRENOUD, Philippe. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000. RIBEIRO, Luis Roberto de Camargo; OLIVEIRA, Marcia Rozenfeld Gomes de; MILL, Daniel. Tecnologia e educação: aportes para a discussão sobre a docência na era digital. In: MILL, Daniel (org). Escritos sobre educação: Desafios e possibilidades para ensinar e aprender comas tecnologias emergentes. São Paulo: Paulus, 2013 RIOS, Terezinha Azeredo. Ética e Competência. Coleção Questões da nossa Época. 8ª ed. Cortez. São Paulo. 1999. TRAUTMANN, Dagmar Aparecida. EDUCAÇÃO, ÉTICA E TECNOLOGIA Impressões e Reflexões UNESCO. Padrões de competência em TIC para professores: módulos de padrão de competências. Paris: Unesco, 2006. Neuroeducação e Tecnologias Educacionais
Compartilhar