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BASES-ANATOMICAS-E-FISIOLOGICAS

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BASES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS 
 
 
NATÔMICAS E FISIOLÓGICAS 
 
 
 
 
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NOSSA HISTÓRIA 
 
 
A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empre-
sários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação 
e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade ofere-
cendo serviços educacionais em nível superior. 
A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de 
conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a partici-
pação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação 
contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos 
e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber atra-
vés do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. 
A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma 
confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base 
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições 
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, 
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Sumário 
NOSSA HISTÓRIA ......................................................................................................... 2 
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 4 
A ANATOMIA NA ANTIGUIDADE ............................................................................. 4 
WILLIAM HARVEY E A CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA ............ Erro! Indicador não 
definido. 
A ANATOMIA DEPOIS DE HARVEY ......................... Erro! Indicador não definido. 
ANATOMIA E ENTRETENIMENTO: AS DISSECAÇÕES PÚBLICAS E OS 
ANFITEATROS DA ANATOMIA ................................. Erro! Indicador não definido. 
O SURGIMENTO DO CONCEITO DE SAÚDE PÚBLICA ....................................... 16 
O SURGIMENTO DAS ATIVIDADES DE MEDICINA VETERINÁRIA 
PREVENTIVA ............................................................................................................... 17 
A SAÚDE PÚBLICA VETERINÁRIA ......................................................................... 21 
CENÁRIO ATUAL E TENDÊNCIAS DA MEDICINA VETERINÁRIA 
PREVENTIVA E SAÚDE PÚBLICA ........................................................................... 27 
REFERÊNCIAS ............................................................... Erro! Indicador não definido. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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INTRODUÇÃO 
Artefatos e inscrições, que marcam os primórdios do saber anatômico que datam 
da Pré-História, é possível inferir que já nesse período existiam alguns conheci-
mentos anatômicos. 
Estes foram perpetuados ao longo da história, por exemplo, através de desenhos 
como as figuras que representam a anatomia humana encontradas nas monta-
nhas de Tassili, no Saara, datadas de aproximadamente 3 mil anos antes da era 
cristã. 
Fósseis de crânios humanos perfurados permitem a inferência de que, por volta 
do ano 3000 a.C, a trepanação1 era realizada tanto em pessoas vivas quanto 
em cadáveres, com finalidades místico-terapêuticas (História da Medicina, 
1969a, 1969b). 
 
A ANATOMIA NA ANTIGUIDADE 
 
Das inúmeras obras de Anatomia deixadas pela civilização antiga, destaca-se a 
Coleção Hipocrática, que abarca tratados de 1 Técnica de perfuração do crânio, 
utilizada no período pré-histórico com o objetivo de livrar o indivíduo de demônios 
e maus espíritos. 
Atualmente, é uma técnica cirúrgica que visa efeitos terapêuticos, vasto período, 
de 600 a.C. até cerca de 300 a.C. 
Aponta-se também para as contribuições de Aristóteles (384-322 a.C.), tanto no 
que tange à sua filosofia quanto às descrições anatômicas por ele ilustradas, que 
se constituíram em ferramentas importantes para o posterior desenvolvimento 
do conhecimento anatômico. 
 
Além disso, é atribuída ao filósofo grego a criação da Anatomia Comparada. 
A Escola de Alexandria e seus discípulos sediada na cidade de Alexandria, no 
Egito, a Escola de Alexandria constituiu-se na maior escola científica da Antigui-
dade Clássica. 
Reduto de reis ptolomaicos, comportava bibliotecas e museus, e foi o local no 
qual a Anatomia logrou pela primeira vez o status de disciplina. 
 
 
 
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Segundo os registros de Galeno, as primeiras dissecações públicas de animais 
e corpos humanos teriam sido realizadas por Herófilo de Calcedônia e por Era-
sístrato nesse mesmo espaço. 
Nos primeiros dois séculos da era cristã, destacaram-se as produções de Rufo 
de Éfeso e de Sorano de Éfeso, que estudaram em Alexandria por volta do ano 
50 d.C. Dentre os poucos anatomistas do período acerca dos quais se tem co-
nhecimento, destacou-se ainda Marino de Tiro, seu discípulo Quinto, Numisiano, 
Sátiro, Pélops e Lico, o Macedônio, entre outros alunos da escola de Alexandria 
que acabaram por influenciar Galeno de Pérgamo (129-199 d.C.). 
Das contribuições de Herófilo à Anatomia, merece destaque o fato de que ele 
reconheceu o cérebro como órgão central do sistema nervoso e o considerou 
como sede da inteligência, além de ter dividido os nervos em motores e sensiti-
vos (Singer, 1996). 
Considerado o “príncipe dos médicos”, Galeno foi uma figura fundamental na 
história da medicina por realizar investigações que se apoiavam tanto nos escri-
tos hipocráticos quanto nos aristotélicos (Castiglione, 1947). 
No que tange à Anatomia, Galeno transpôs os conhecimentos que possuía 
acerca da Anatomia Animal (a única prática anatômica registrada nesse período) 
para a Anatomia Humana. 
Embarcou em hipóteses de base fisiológica para pensar as funções dos diversos 
órgãos e fundou sua teoria acerca do pneuma, essência da vida. 
A filosofia anatômica de Galeno era descritiva e de cunho filosófico estoico, de 
modo que o “príncipe dos médicos” procurou justificar a forma e a estrutura de 
todos os órgãos em relação às funções para as quais ele acreditava que fossem 
destinados. Das suas contribuições, é possível apontar para o estudo do esque-
leto humano, do sistema muscular, além de uma descrição do funcionamento do 
sistema circulatório, que, apesar de conter uma série de inferências equivoca-
das, seria utilizada até as descobertas de William Harvey, no século XVII. 
Apesar de Galeno ter “consciência da diferença existente entre determinados 
músculos de animais descritos por ele e os do homem”, ele utilizou, para suas 
dissecações, basicamente animais como bovinos e macacos (Singer, 1996). 
O período entre a morte de Galeno e a primeira tradução de uma obra de material 
médico no século XI, no Mosteiro de Monte Cassino, sul da Itália, constituiu a 
“Idade das Trevas” da Anatomia. 
 
 
 
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Acredita-se que tanto o modo de vida quanto as sensibilidades nutridas pela so-
ciedade medieval frente ao corpo humano teriam levado ao processo de dimi-
nuição da construção de conhecimentos que atingiu a Anatomia, a Medicina e 
outras áreas do saber (Singer, 1996). 
O surgimento das universidades na Europa Os séculos X e XI foram pontuados 
pelo aumento demográfico aliado à expansão territorial empreendida pelas cru-
zadas, o que permitiu o renascimento comercial. 
Com a retomada das atividades comerciais e a formação de espaços urbanos, 
as universidades proliferaram, com o intuito de atender às necessidades de co-
nhecimentos por parte dos comerciantes, no processo de expansão de seus ne-
gócios. 
Além disso, a própria forma de organização social que surgia clamava por certos 
serviços, como aqueles relativos à jurisprudência e à medicina. 
um ambiente fundamentalmente escolástico, o ensino das universidades em ge-
ral, bem como o ensino da Anatomia, era baseado nas traduções de textos ára-
bes, como os tratados de Avicena, Hali e Rhazes.Como a observação da natureza ainda era negligenciada nesse período, não 
havia instrumentação prática em Anatomia. 
A primeira dissecação pública, ou semi-pública, no espaço universitário da qual 
se tem conhecimento ocorreria apenas no início do século XIV, mais precisa-
mente no ano de 1302, na Universidade de Bolonha. 
A Universidade de Bolonha, uma das mais antigas do mundo, possuía desde o 
século XII uma faculdade de Direito, à qual estava subordinada uma estruturada 
faculdade de Medicina (Laín Entralgo, 1999). 
A relação entre as duas disciplinas certamente contribuiu para que as primeiras 
dissecações fossem realizadas nessa instituição. Do século XIII ao início do sé-
culo XVI, os avanços no conhecimento anatômico foram paulatinos, baseados 
na contínua revisão e ampliação de tratados preexistentes. 
A Anatomia Macroscópica foi privilegiada nesse período, mas para seu desen-
volvimento foi necessário o aprimoramento das técnicas de observação, de dis-
secação, de descrição, de ilustração e o gradual refinamento terminológico, pro-
cesso para o qual Mondino de Luzzi é considerado o precursor. Mondino de Luzzi 
(1270-1326) nasceu e estudou em Bolonha, onde foi aluno de Tadeu, condiscí-
pulo de Mondeville. Graduou-se aproximadamente no ano de 1290, e fez parte 
 
 
 
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do corpo docente da universidade a partir de 1306; trabalhou sistematicamente 
em Anatomia e dissecou o corpo humano publicamente. 
Foi considerado o “restaurador” da Anatomia, tendo publicado, em 1316, o tra-
tado Anathomia, considerado o primeiro trabalho “moderno” de Anatomia, base-
ado na difícil prática da dissecação. 
Também é atribuído a Mondino o pioneirismo na utilização de cadáveres com 
fins didáticos, que, em sua forma, guarda muita semelhança com os estudos 
práticos realizados na atualidade: os cadáveres eram a base empírica que auxi-
liava na memorização do livro-texto, e não numa investigação que reivindicava 
algo novo. 
Outra semelhança entre o ensino do anatomista italiano e o ensino atual de Ana-
tomia reside na presença das figuras do ostensor (aluno, atualmente a figura do 
“monitor”), que direcionava a prática da dissecação indicando as linhas de inci-
são, e do demonstrador ou incisor (criado, atualmente o técnico), que efetuava 
os procedimentos. 
O papel dos alunos, por seu turno, era ficar ao redor do cadáver, de onde reali-
zavam observações. Essa disposição das pessoas e do cadáver no momento do 
ensino juntamente com os instrumentos de dissecação, cada qual com seu lugar 
específico a ocupar, e com um papel a desempenhar, consagraram o ritual da 
aula de Anatomia em um espaço peculiar, denominado “estúdio anatômico” – os 
atuais “laboratórios de Anatomia”. 
Do século XIII ao século XVI, o desenvolvimento da Anatomia concentrou-se no 
cenário italiano e expandiu-se para outros países, em detrimento da bula papal 
promulgada em 1300. 
Sua inclusão enquanto disciplina nas universidades foi pautada também pelo 
aprimoramento das formas de representação das estruturas corporais engendra-
das pelo processo de ilustração do corpo, o que se tornou possível devido à 
influência do naturalismo na arte italiana. 
Naquele período, as substâncias conservantes ainda eram desconhecidas, o 
que implicava o rápido procedimento da dissecação, que deveria ser realizada 
sobretudo no inverno. 
 
 
 
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As técnicas mais utilizadas por Mondino e seus contemporâneos foram a disse-
cação a fresco, recomendada para o estudo dos nervos; a maceração, para in-
dicar a direção geral de músculos, tendões e ligamentos; e, ainda, preparações 
secas ao sol. 
Um segundo movimento, o humanismo6 (1450-1550), veio somar-se a esse pro-
cesso, contribuindo para a recuperação das obras clássicas de Aristóteles, Hi-
pócrates e Galeno, que passaram a ser traduzidas dos originais em grego, que 
estavam sendo recuperados nas bibliotecas conventuais. 
Dentre os feitos anatômicos que podem ser pontuados no século XV, por exem-
plo, destacou-se a postura observadora de Leonardo da Vinci, que proporcionou 
a realização de ilustrações acuradas acerca do corpo humano que foram, de 
certa forma, expressões antecipadas do movimento renascentista do século XVI 
sob a tendência naturalista (que se estabeleceu a partir do final no século XIII). 
Precursor da influência da arte renascentista italiana sobre a Anatomia, Leo-
nardo, que utilizou pela primeira vez o termo “demonstração”, foi considerado 
um dos maiores anatomistas de todos os tempos. 
Suas descobertas eram originais para a época, mas pouco contribuíram com o 
estágio mais avançado da disciplina anatômica, pois só foram encontrados dois 
séculos depois, por Johann Blumenbach (1752-1840) e William Hunter (1718-
1783), sendo que tais textos foram publicados entre os anos de 1898 e 1916. 
Os termos “ânus”, “abdômen”, “cartilagem”, “patela”, “rádio”, “escroto”, “tíbia”, 
“tonsila”, “útero” e “vértebra” pertenciam à nomenclatura celsiana e são utilizados 
até hoje. 8 Movimento filosófico-artístico pautado pelo intuito de representar o 
real, o natural e o humano nas artes. 
Dentre os expoentes da Anatomia no século XV, destacou- -se ainda Antonio 
Benivieni (1443-1502), pioneiro no uso da necropsia; da vertente humanista, 
Alessandro Benedetti11 (1452- 1512) foi um dos estudiosos que mais contribuí-
ram para a ascensão de Pádua no cenário anatômico europeu. 
Já o humanista inglês Thomas Linacre (1460-1524) dedicou-se à tradução das 
obras de conteúdo anatômico de Galeno; Jacob Berengario da Capri (1470-
1550) foi professor de cirurgia em Bolonha e um dos primeiros a publicar textos 
ilustrados com figuras elaboradas a partir das dissecações que realizou no perí-
odo de 1502 a 1527. 
 
 
 
 
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Andreas Vesalius e a Anatomia no século XVI 
Na história da Anatomia, o século XVI mostra-se de grande relevo em razão da 
obra do anatomista Andreas Vesalius (1514-1564). No cenário italiano, Vesalius 
revelou-se um ferrenho defensor da técnica da dissecação, que considerava 
como a única forma de se conhecer realmente o corpo humano. 
O intuito de sua obra era, a partir da dissecação sistemática de cadáveres, aban-
donar o caráter “revisionista” que prevalecia nas investigações anatômicas. Seu 
estudo intitulado De humani corporis fabrica foi concluído em 1543. 
O impacto que causou se deveu tanto ao nível de apuração dos detalhes anatô-
micos abarcados por suas ilustrações quanto pelo veio artístico de sua obra, de 
caráter tipicamente renascentista. 
Benedetti fundou o anfiteatro de Anatomia da Universidade de Pádua e, em 
1493, publicou a obra Cinco livros de Anatomia, sobre a história do corpo hu-
mano. Introduziu o termo “válvula”, como utilizado atualmente. 
Fundador do Royal College of Physicians, na Inglaterra. Coube a Capri a primeira 
descrição do apêndice vermiforme e do timo, além de outras contribuições em 
Anatomia Comparada, acrescida de influências galênicas, naturalistas e esco-
lásticas (Vesalius, 2002). 
Ao mesmo tempo que Vesalius se dedicava à pesquisa científica sobre o corpo 
humano ele dissecava animais, retomando a prática da Anatomia Comparada, 
cuja tradição remontava a Galeno. 
Entanto, em uma perspectiva nova na trajetória anatômica, a dissecação de ani-
mais realizada por Vesalius não objetivava a compreensão da anatomia humana 
e sim a sua paulatina distinção, permitindo-lhe identificar e corrigir inúmeros 
equívocos presentes nas obras de Galeno. 
Assim, o desenvolvimento da Anatomia Descritiva teve na figura e na obra de 
Vesalius um momento de renovação a partir do qual novas estruturas corporais 
foram sendo identificadas e/ou nomeadas. 
Dentre seus discípulos destacaram-se Gabriel Falópio (1523-1562) e Fabricio 
Aquapendente (1537-1619). 
A obra de Vesalius foi a síntese de um movimento histórico-cultural mais amplo 
que permeou a Europa renascentista. 
 
 
 
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O fio que conduziu sua construção, assimcomo ela se mostrou, foi engendrado 
por uma visão global do corpo, o microcosmo que existia em consonância com 
o macrocosmo, segundo a revolução copernicana. 
 
 
WILLIAM HARVEY E A CIRCULAÇÃO SANGUÍNEA 
Em 1628, o inglês William Harvey (1578-1657) despontou no cenário anatômico 
mundial ao publicar, em Frankfurt, o Estudo anatômico do movimento do coração 
e do sangue dos animais. 
Seu tratado alterou profundamente a concepção do organismo humano, que a 
partir de então passou a ser pensado em termos fisiológicos. 
Harvey procurou investigar a anatomia a partir de bases mecânicas e físicas, 
esforçando-se em suprimir os suportes teológico-filosóficos de pensamento que 
predominavam até então. 
A observação do sistema circulatório de répteis permitiu a Harvey fazer conside-
rações prévias e levantar hipóteses acerca da circulação humana. 
Para provar sua teoria, Harvey realizou uma série de experimentos que incluíram 
a observação sistemática do coração e seu funcionamento em organismos vivos. 
Foram utilizados para esses experimentos algumas espécies de serpentes e, 
depois, o uso de torniquetes e garrotes no braço humano vivo. 
Através desta última experiência, Harvey pôde constatar os efeitos da compres-
são das veias e artérias. A contribuição de sua obra foi comprovar a hipótese de 
que o fluxo sanguíneo era circular e constante, e que a função do coração era 
justamente manter esse fluxo contínuo (Harvey, 2009; Friedman; Friedman, 
2001). 
A teoria de Harvey foi resultado de uma série de observações anatômicas rigo-
rosas que demandaram técnicas de vivissecção e dissecação, complementadas 
por um estudo teórico minucioso das descrições e ilustrações anatômicas dispo-
níveis, oferecidas por Galeno, Vesalius, Fabricio, Colombo, Ruini, dentre outros. 
O grande mérito de seu tratado foi ter aliado os conhecimentos anatômicos a 
uma perspectiva fisiológica do corpo, ultrapassando os limites impostos pela fi-
siologia aristotélica. Provavelmente coube a Harvey o início da experimentação 
moderna (Laín Entralgo, 1999). 
 
 
 
 
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A ANATOMIA DEPOIS DE HARVEY 
O homem dos séculos XVIII e XIX poderia ser descrito como o “homem da ciên-
cia”, que gradativamente desvendava os mistérios da física, explorava temas 
como a eletricidade, o magnetismo, o calor, a óptica, os gases e a astronomia 
etc. 
As descrições da natureza acumuladas nos séculos anteriores resultavam em 
novas indagações, modificando as perguntas e reajustando os olhares. Do “o 
quê”, passou-se pouco a pouco ao “como” e, finalmente, ao “por quê”. 
Ao final do século XVIII, a Anatomia Descritiva já tinha investigado, identificado 
e descrito grande parte das estruturas corporais humanas, cedendo lugar, pau-
latinamente, à Anatomia Topográfica (Coleman, 1977). 
Foi também o período de surgimento da Anatomia Patológica, inaugurada por 
Morgagni, e do ressurgimento da Anatomia parada, representada por Albrecht 
von Haller14 (1708-1777), John Hunter (1728-1793) e Georges Cuvier (1769-
1832), que propunham uma Anatomia Funcional que professava que “no coração 
desta doutrina estava a noção de que se deve examinar as partes do corpo como 
anatomista, mas entendê-las como um fisiologista” (Coleman, 1977, p.18). 
Quanto à Anatomia Patológica, destacou-se a figura de Giovanni Battista Mor-
gagni (1682-1771), que, com o emprego da Anatomia Macroscópica, foi o pri-
meiro a estabelecer relações entre os órgãos humanos e os sintomas das doen-
ças, através da realização de aproximadamente setecentas necropsias. Dentre 
suas contribuições, salienta-se a importância do diagnóstico e do prognóstico no 
exercício da medicina. 
Charles Bell (1774-1842) e François Magendie (1783-1855) também figuraram 
dentre os mais proeminentes anatomistas do século XVIII em razão de suas des-
cobertas sobre os nervos espinhais. 
A Anatomia Descritiva Macroscópica foi “esgotando-se” ao longo do século XVIII 
(Coleman, 1977). Exemplo disso é que, dentre os grandes nomes dessa moda-
lidade específica da Anatomia, nesse período, destacaram-se William Sharpey 
(1802-1880) e Henry Gray (1827-1861), ambos reconhecidos por suas contribui-
ções tanto na organização de algumas das edições do Quain’s Anatomy quanto 
na publicação do Gray’s Anatomy, obras destinadas à melhoria do conhecimento 
da anatomia humana por parte de médicos-cirurgiões, cujas atividades foram 
impulsionadas pelo advento da anestesia (Hayes, 2008, p.18). 
 
 
 
12 
O desenvolvimento científico do século XIX, por seu turno, buscou salientar a 
dimensão ativa do homem no ato de conhecer. Em seu texto Elementa Physio-
logiae Corporis Humani, Von Haller versou sobre sua teoria da sensibilidade dos 
nervos e a irritabilidade dos músculos, base da neurofisiologia moderna (Porter, 
2004, p.90). 
Destaca-se nesse período o surgimento de novas técnicas de medição e aferição 
que fizeram do século XIX o século da instrumentalização da biologia e da me-
dicina, oferecendo bases concretas para novas descobertas, inclusive no âmbito 
anatômico. 
Não se tratava de novas estruturas corporais a serem identificadas e descritas, 
mas, antes, de novas formas de visualização do interior do corpo, o que dava 
abertura para novas perguntas, de base fisiológica. 
Em 1816, René Théophile Hyacinthe Laënnec (1781-1826) inventou o estetos-
cópio, permitindo a ausculta pulmonar. 
Em 1830, o microscópio foi aperfeiçoado através da correção de distorções, o 
que comportou avanços na histologia, enquanto a microscopia avançada permi-
tiu o desenvolvimento da citologia por Rudolf Virchow (1821-1902), e da bacteri-
ologia por Louis Pasteur (1822-1895) e Robert Koch (1843-1910). 
Em 1847, Karl Ludwig (1816-1895) introduziu o quimógrafo, aparelho fundamen-
tal para o acompanhamento de sinais vitais durante experimentos com seres 
vivos; em 1850, Hermann von Helmholtz (1821-1894) criou o oftalmoscópio e, 
em 1854, o oftalmômetro. 
Em 1860, o fisiologista polonês Johann Czermak (1828-1873) criou o laringos-
cópio, o primeiro aparelho a permitir a visualização interna do corpo sem uso do 
bisturi. 
Em 1868, o químico alemão August Wilhelm von Hoffmann (1818-1892) desco-
briu o formol e passou a utilizá-lo como conservante em cadáveres da Anatomia. 
Em 1895, o professor de física alemão Wilhelm Roentgen (1845-1923) apresen-
tou à comunidade científica a primeira imagem em raios X da história. 
Em 1896, o fluoroscópio permitiu uma imagem interna, porém transitória, do in-
terior do corpo, possibilitando a visualização dos movimentos do coração e o 
funcionamento dos pulmões. 
No que tange à Anatomia, em 1910, o emprego de figuras de raios X permitiu a 
constatação de que as disposições dos órgãos se alteram em função da posição 
 
 
 
13 
do corpo; enfim, os raios X proporcionaram imagens internas do corpo sob pris-
mas até então inimagináveis (Porter, 2004; Reiser, 1990). 
 
ANATOMIA E ENTRETENIMENTO: AS DISSECAÇÕES PÚBLICAS E OS AN-
FITEATROS DA ANATOMIA 
Em meados do século XIV, enquanto as dissecações tornavam- -se cada vez 
mais comuns no âmbito acadêmico italiano, um decreto oficial ordenou ao Colé-
gio de Médicos e Cirurgiões de Veneza que efetuasse pelo menos uma disseca-
ção pública por ano. Tratava-se do agendamento de um evento de periodicidade 
regular – geralmente no inverno – oferecido à apreciação pública, que ao longo 
do século XIV e XV passou a ser praticada não só na Itália como na Inglaterra e 
França (Laín Entralgo, 1999, 1954). 
As dissecações públicas anuais eram um evento social esperado tanto pela co-
munidade hipocrática quanto pelo público leigo. Realizavam-se em teatros ana-
tômicos projetados segundo algumas especificações, sendo que a maioria delas 
se referia à “visibilidade do espetáculo”, em detrimento das normas de higiene e 
de moral que mais tarde as restringiriam (Le Breton, 1993). 
A princípio, as dissecações eram realizadas no período do Carnaval,e costuma-
vam obedecer a um ritual mais ou menos ordenado. Iniciando-se com uma missa 
dedicada ao morto, passava-se à realização da dissecação propriamente dita e, 
no final, havia um grande banquete no qual se reunia a elite médica. 
Rapidamente tornou-se um evento social da maior importância, um “ponto de 
encontro”, celebração de um tipo de divertimento mundano, no qual muitos dos 
participantes leigos se apresentavam trajando fantasias (Le Breton, 1993). Para 
obedecer a um padrão cultural que passou a ser valorizado, e para sintonizar-se 
com um novo tipo de sensibilidade, barroca, para a qual os limites entre o belo e 
o grotesco, o agradável e o repugnante tornaram-se imprecisos e maleáveis, a 
aristocracia anglo-saxônica logo tratou de providenciar seus próprios anfiteatros, 
que proliferaram ao longo dos séculos XV e XVI. 
Nos teatros anatômicos particulares eram realizadas sessões privadas de disse-
cação para um número restrito de “convidados”. 
Essa sensibilidade anatômica encorajou não só a proliferação dos teatros ana-
tômicos particulares como também as práticas de se colecionar órgãos e esque-
letos humanos. 
 
 
 
14 
As imagens mórbidas da carne apontadas pela dissecação ampliaram os limites 
do que se poderia “ver”, e casos de malformação física, mutilações e exposição 
de corpos putrefatos passaram a ser alvo de curiosidade e audiência semelhan-
tes. As imagens e o imaginário oferecidos pela prática anatômica exerceram, 
portanto, uma forte influência sobre as sensibilidades coletivas, sobretudo no 
que concernia às questões da vida e da morte. 
A banalização da morte engendrada pelas teatralizadas dissecações públicas 
contribuiu para esse fenômeno, que aproximou a realidade do corpo à dos ho-
mens, lembrando-lhes de sua precariedade e de seu destino (Le Breton, 1993). 
Se as lições de Anatomia, por um lado, foram ganhando cada vez mais legitimi-
dade e adesão pública, por outro, geravam conflitos em virtude da origem dos 
cadáveres e de outras questões religiosas. 
A princípio deveriam ser utilizados corpos de indivíduos condenados por homi-
cídio e executados por enforcamento (os mesmos corpos que eram destinados 
às dissecações dentro das universidades) (Le Breton, 1993, p.143; Arasse, 
2008). 
No entanto, muitas vezes, a dissecação era parte da pena imposta ao criminoso, 
o que gerava reticência por parte do público. Esse fato conferia um caráter puni-
tivo e exemplar para a sociedade, e nesse encaminhamento o anatomista ou 
cirurgião era apenas “mais um carrasco” (Richardson, 2000, p.75-6). O aumento 
do número de teatros anatômicos (inclusive particulares) e a ampliação do pleito 
por corpos requisitados pelas universidades fizeram com que a demanda por 
cadáveres aumentasse vertiginosamente em comparação ao rol de executados 
disponibilizados pelas autoridades, fazendo surgir o fenômeno “infame” dos rou-
bos de cadáveres que marcaram os grandes centros europeus ao longo dos sé-
culos XVI, XVII e XVIII. 
Na maioria das vezes, os furtos ocorriam em cemitérios da própria cidade onde 
posteriormente os corpos seriam dissecados, não sendo raros os casos nos 
quais um espectador ou estudante de Anatomia deparava-se com um “conhe-
cido” na mesa de dissecação. 
Acredita-se que Vesalius, na Universidade de Pádua, tenha utilizado para disse-
cação, basicamente, cadáveres roubados por seus alunos, e que ele próprio, 
durante sua formação, teve acesso ao ossário do Cemitério dos Inocentes, de 
Paris (Saunders; O’Malley, 2002). 
 
 
 
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O problema da origem e obtenção dos corpos e, sobretudo, a doação, por parte 
das autoridades, dos corpos de suicidas, prostitutas e não reclamados dificulta-
ram a instituição da Anatomia como disciplina científica independente e autô-
noma. 
Ela precisaria ser despopularizada, porém, já em meados do século XIX, Sir As-
tley Cooper, um dos mais renomados cirurgiões de Londres, discursava sobre 
as inúmeras contribuições do estudo empírico proporcionado pela prática da dis-
secação, realizada semanalmente – às segundas-feiras – no lotado Surgeon’s 
Hall, anfiteatro fundado pelo College of Surgeons. 
Esse evento, além de ser uma extensão do “espetáculo” da execução pública, 
correspondia, para o próprio público, não raras vezes pagante, à exposição de 
um capítulo à parte da história individual que ensejava uma contemplação ainda 
maior: o processo da morte e da corrupção do cadáver. Uma das contingências 
que certamente levaram à adesão pública foi o medo generalizado da morte e, 
mais precisamente, do post mortem. 
A aversão ao purgatório foi paulatinamente substituída por outros temores. Nu-
tria o imaginário coletivo, por exemplo, o medo de ter o corpo subtraído da se-
pultura ou, ainda, de ser enterrado vivo. A questão do momento da morte foi 
amplamente explorada nessas ocasiões. 
As dissecações realizadas pelo físico italiano Giovanni Aldini (1762-1834) cons-
tituíam-se em verdadeiros shows, superlotados e aclamados pelo público, so-
bretudo nas ocasiões em que o anatomista adotou técnicas de galvanização. 
A princípio considerada como uma prática macabra destinada a pessoas de 
“gosto duvidoso”, a dissecação paulatinamente foi banida do cotidiano social dos 
leigos, à medida que foi se tornando o privilégio de uma classe cada vez mais 
restrita de “iniciados”. 
De início, limitou-se aos anfiteatros das escolas públicas e/ou privadas de Ana-
tomia; depois, ao final do século XIX, passou a ser uma exclusividade da classe 
médica, encerrando-se definitivamente dentre os muros da academia, com o ad-
vento da ciência moderna, no início do século XX. Na Inglaterra, as últimas dis-
secações públicas foram realizadas em 1832, quando a lei que regulamentava 
essa prática, o Anatomy Act, do mesmo ano, foi implementado pelas autorida-
des. 
 
 
 
16 
O espetáculo da dissecação só viria a ser proporcionado em Londres nova-
mente, sob torrentes de críticas e empecilhos legais, no começo do século XXI, 
com a chegada da exposição itinerante de corpos de Gunther von Hagens (Ma-
cDonald, 2006, p.2). 
Enfim, as dissecações públicas surgiram no contexto social renascentista para, 
sob os auspícios do naturalismo, suprir a necessidade do homem de se conhecer 
a partir do conhecimento do próprio corpo. 
A intensidade com a qual esses eventos foram investidos, tanto psicológica 
quanto emocional e culturalmente, permitiu que a realidade irrefutável da finitude 
do corpo fosse incorporada à sensibilidade europeia. 
Com o advento da modernidade e com a necessária organização das instâncias 
científicas, as dissecações, enquanto práticas culturais, deixaram sua esfera 
mais ampla para restringirem-se à subcultura científica, aos laboratórios de ana-
tomia, às aulas práticas de cirurgia e aos museus universitários. 
Nesses casos, o cadáver passou a ser um objeto anônimo de ensino. É com 
esse objeto anatômico-científico, dotado de uma história que a Anatomia tenta 
permanentemente exorcizar, que se deparam professores e estudantes de Ana-
tomia na atualidade que datam da Pré-História, é possível inferir que já nesse 
período existiam alguns conhecimentos anatômicos. 
Estes foram perpetuados ao longo da história, por exemplo, através de desenhos 
como as figuras que representam a anatomia humana encontradas nas monta-
nhas de Tassili, no Saara, datadas de aproximadamente 3 mil anos antes da era 
cristã. 
Fósseis de crânios humanos perfurados permitem a inferência de que, por volta 
do ano 3000 a.C, a trepanação era realizada tanto em pessoas vivas quanto em 
cadáveres, com finalidades místico-terapêuticas (História da Medicina, 1969a, 
1969b). 
 
O SURGIMENTO DO CONCEITO DE SAÚDE PÚBLICA 
O surgimento do conceito de saúde pública veterinária foi analisado, bem como 
as atividades realizadas pelo médico veterinário dentro desse âmbito, até chegar 
ao cenário atual, apontando as tendências e desafios para o setor.17 
A prática veterinária tem sido muito voltada aos aspectos populacionais e pre-
ventivos e muitas táticas utilizadas para o combate de enfermidades em popula-
ções humanas foram contribuições prestadas pela Medicina Veterinária. 
Há dois tipos de prática da Medicina Veterinária que estão direcionadas para a 
medicina populacional. Uma delas é a Medicina Veterinária Preventiva que está 
ligada à saúde humana por aplicar conhecimentos da epidemiologia para preve-
nir as enfermidades animais e melhorar a produção de alimentos. 
O segundo tipo de prática veterinária voltada para a medicina populacional é a 
saúde pública, que foi primeiramente desenvolvida por meio da higiene de ali-
mentos. 
 
O SURGIMENTO DAS ATIVIDADES DE MEDICINA VETERINÁRIA PREVEN-
TIVA 
SCHWABE (1984) descreve as ações praticadas pela Medicina Veterinária Pre-
ventiva dividindo-as em cinco fases e as considera aparentadas com as ativida-
des relacionadas à “doença animal”: 
 
Fase de ações locais 
Este período tem seu princípio na pré-história e continua até o primeiro século 
da era cristã. 
Os primeiros esforços dirigidos contra a doença animal que se tem conhecimento 
foram descritos nas antigas civilizações da Suméria, Egito e Grécia, com refe-
rências a curandeiros de animais antes da era cristã. 
Esse tipo de ocupação acompanhou o surgimento da civilização urbana, desen-
volvimento que dependeu da habilidade das populações rurais em produzir ali-
mentos em quantidade suficiente para sua subsistência, fazendo uso da força 
animal. 
Ao lado do tratamento médico, cirúrgico e obstétrico individual, duas outras táti-
cas eram aplicadas localmente para o controle das enfermidades animais, antes 
ainda que tivesse sido desenvolvida a teoria do contágio: o emprego da quaren-
tena (segregação dos animais doentes dos sadios) e o sacrifício de animais en-
fermos. 
 
 
 
 
 
18 
Fase militar 
Essa fase tem seu início no primeiro século da era cristã. A expansão das nações 
levou aos esforços no controle de doenças animais em larga escala. 
Houve a criação de estruturas organizadas de pessoas que curavam os animais 
dentro dos exércitos, pela importância militar que o cavalo assumia. 
Durante esse longo período de serviços veterinários que abrangeu a Idade Mé-
dia e o Renascimento, os avanços no controle de doenças se limitaram ao aper-
feiçoamento das técnicas básicas do diagnóstico clínico com o desenvolvimento 
da habilidade de diferenciar as combinações dos sinais de doenças específicas. 
Essa quarta tática para o controle das enfermidades dos animais estava associ-
ada à melhoria na organização de infraestrutura dos serviços. 
 
Fase da polícia sanitária animal 
A terceira fase começa em 1762 – com a criação da primeira escola de veteriná-
ria. O início dessa fase se precipitou pelos problemas econômicos ocasionados 
pelo rompimento de enfermidades atingindo um grande número de animais na 
Europa. 
Essa crise foi germinal para o estabelecimento da primeira escola de medicina 
veterinária separada da medicina humana. Os líderes militares reconheceram o 
potencial de tais esforços educacionais organizados e muitos estudantes das 
primeiras escolas eram oficiais militares. 
Nessa fase, houve o estabelecimento de centros organizados de tratamento ve-
terinário, primeiramente como parte das escolas de veterinária e, mais tarde, 
como serviços separados. 
Duas novas táticas para o controle de enfermidades animais foram adotadas: a 
higiene (quinta tática) e o controle sobre o abate de animais (sexta tática). 
O controle sanitário incluía os locais de produção de animais e os matadouros, 
com o objetivo de combater as doenças animais e também as enfermidades hu-
manas que estavam sendo associadas a alimentos de origem animal. 
Essas ações forneceram diretamente a base para os primeiros esforços direcio-
nados à saúde pública. 
A aplicação dessas táticas representou uma oportunidade para o trabalho edu-
cacional dos proprietários de animais. Observou-se que uma das principais fa-
lhas dos programas veterinários para o controle de enfermidades não estaria nas 
 
 
 
19 
deficiências técnicas dos programas, mas nas deficiências da comunicação com 
o público. 
 
 Fase das campanhas ou ações coletivas 
Os anos 80 do século XIX inauguram essa fase, com as observações e experi-
mentos sobre o anthrax por Delafond – diretor da Escola de Veterinária de Alfort 
(segunda escola de veterinária fundada no mundo) – e pelos conhecidos traba-
lhos de Pasteur, Chauveau, Koch e Salmon. Esses nomes e outros conduziram 
à “revolução microbiológica” como resultado da compreensão das formas de 
contágio, que forneceu a base para uma nova abordagem para a investigação 
de doenças na busca e identificação de seus agentes etiológicos. 
Foram iniciados programas de ações governamentais no combate às infecções 
dos animais de fazenda. Durante essa fase houve grande sucesso no controle 
de doenças, o que abriu a possibilidade para a criação de animais em produção 
intensiva. 
Nessa fase, foi introduzida uma outra tática para a prevenção e controle de en-
fermidades que consiste em ações populacionais como o diagnóstico, a imuni-
zação e a terapia em escala populacional, além de alguns procedimentos em 
ecologia aplicada como o controle de vetores. 
Muitas dessas medidas, primeiramente visualizadas e praticadas pelos veteriná-
rios, foram posteriormente extrapoladas e se mostraram bem-sucedidas para 
problemas similares em saúde pública. 
A aplicação dessas medidas permitiu o uso rápido e sistemático de outros pro-
cedimentos como a quarentena, sacrifício de animais reagentes e desinfecção 
local. 
O controle de vetores surgiu como uma medida preventiva única, sem preceden-
tes como resultado dos estudos epidemiológicos de juntamente com Kilborne, 
Smith e Curtice. 
 
Esses pesquisadores foram os primeiros a demonstrar a transmissão de um mi-
crorganismo por meio de artrópodes sobre a febre do gado no Texas – piroplas-
mose bovina ou babesiose. 
Ao lado das táticas citadas para essa fase, que durou até os anos de 1960, está 
a educação em saúde dos proprietários dos animais. 
 
 
 
20 
 
Fase de vigilância e ações coletivas 
O surgimento da teoria sobre os agentes etiológicos de doença pela revolução 
microbiológica marcou uma fase muito produtiva para a Medicina Veterinária 
Preventiva. 
No entanto, observou-se que outros fatores intervinham no aparecimento das 
enfermidades, sendo necessária uma abordagem mais ampla do problema. Mui-
tas vezes, a presença do agente etiológico é necessária, mas não suficiente para 
explicar o aparecimento das enfermidades. 
Essa constatação gerou uma crise na Medicina Veterinária Preventiva que se 
instalou no início dos anos de 1950 pela verificação de vários aspectos 
(SCHWABE, 1984): 
a) apesar de serem efetuadas campanhas contra uma série de enfermidades, 
houve uma redução das mesmas, mas sem produzir sua eliminação; 
b) o custo para o controle de muitas enfermidades era muito grande; 
c) ausência de conhecimentos para o controle de algumas doenças; 
d) incapacidade em lidar com novas situações práticas que surgiam na criação 
intensiva. Em resposta a essa crise, surgiu a “revolução epidemiológica”, com a 
compreensão de que cada situação requer análise dos fatores que interagem 
para a ocorrência de doenças. 
A epidemiologia, que focaliza seus estudos sobre populações, foi introduzida na 
Medicina Veterinária Preventiva por meio da Saúde Pública para auxiliar sua 
prática. 
O diagnóstico epidemiológico passou a constituir uma nova tática para o controle 
de enfermidades. 
Essa fase teve seu início na década de 1960 e continua até os dias de hoje 
(SCHWABE, 1984). Neste período, a epidemiologia começou a ser reconhecida 
como campo de estudo e muitos médicos e médicos veterinários se tornaram 
conscientes da aptidão destes últimos para trabalharem saúde pública. 
O ingresso simultâneo dos profissionais da Medicina Veterinária no campo das 
doenças transmissíveis e nos serviços médicos preventivos foi permitido pelo 
reconhecimento dos seus conhecimentos e habilidades em medicina populacio-
nal e também pela importância das zoonoses, que perfazem 80% das doenças 
transmissíveis em humanos. 
 
 
 
21 
Essas habilidades dos veterinários e esses atributos que eles podem levar para 
a saúde pública fazem desta profissão um elo de ligação entre o setor da agri-
cultura e da saúde humana (ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD, 
1975). 
 
A SAÚDE PÚBLICA VETERINÁRIA 
A saúde pública é a segunda área da prática veterinária voltada para as popula-
ções. 
ROSEN (1994) descreve algumas ações ligadas a essa área na idade média. 
Nessa época, não havia planejamento urbano e as moradias se apinhavam sob 
os muros de proteção das cidades onde os habitantes conservavam hábitos da 
vida no campo. 
Animais como porcos, gansos e patos eram criados nas casas, o que causava 
incômodo pelo acúmulo de excrementos. Para resolver o problema, os municí-
pios criaram uma série de regulamentos, que incluía a construção de instalações 
para os animais e a criação de matadouros municipais. 
As medidas para o controle de alimentos já eram tomadas na época, porém em 
certas cidades a carne de animais doentes era enviada para hospitais. Após a 
fundação das primeiras escolas de Medicina Veterinária, na segunda metade do 
século XVIII seguiram-se dois movimentos. 
O primeiro deles estava destinado a deter as epidemias que atingiam o gado 
naquela época e o segundo voltado para reduzir os riscos para a saúde humana 
ao abate indiscriminado de animais para comercialização (SCHWABE, 1984). 
O início das atividades da Medicina Veterinária em Saúde Pública ocorreu no 
século XIX, na indústria da carne. Robert von Ostertag na Alemanha e Daniel E. 
Salmon nos Estados Unidos da América deram início ao que se conhece atual-
mente como proteção dos alimentos (ORGANIZACIÓN PANAMERICA DE LA 
SALUD, 1975). 
A importância da Medicina Veterinária para a saúde humana coincidiu com o 
crescente reconhecimento entre os núcleos de estudiosos de médicos e veteri-
nários europeus que desenvolviam pesquisas médicas comparadas em parceria 
nas áreas de anatomia e fisiologia. 
 
 
 
22 
Esses estudos ocorreram particularmente nas escolas de veterinária francesas 
na primeira metade do século XIX e o prosseguimento dessas pesquisas forne-
ceu os princípios para a elaboração da “revolução microbiológica”. 
O incremento da pesquisa médica comparada no final do século XIX propiciou 
uma forte ligação entre a Medicina Veterinária e a Medicina Humana e 1664 
Pfuetzenreiter et al. Influenciou o desenvolvimento de uma tradição educacional 
em algumas escolas de veterinária mais intimamente ligada aos interesses da 
medicina humana que da agricultura (SCHWABE, 1984). 
SCHWABE (1984) descreve os períodos de atividade da saúde pública dentro 
da Medicina Veterinária. 
O primeiro período teve como alicerce a higiene de alimentos e foi a partir dessa 
base que alguns poucos veterinários assumiram posições administrativas nos 
programas de saúde pública de vários países, no final do século XIX e início do 
século XX. 
Seguiu-se um intervalo de relativa estabilidade da participação veterinária no tra-
balho de saúde pública que durou até a Segunda Guerra Mundial. 
A segunda fase da Medicina Veterinária na saúde pública, que teve seu início 
após a Segunda Guerra, se caracterizou pelo trabalho voltado para a população 
com o uso da epidemiologia no desenvolvimento de programas de controle de 
zoonoses pelas agências de saúde pública. 
Como consequência da interação com profissionais da medicina humana, os 
médicos veterinários começaram a ocupar várias posições nas áreas técnicas e 
administrativas da saúde pública. 
Em 1944, a Organização Pan-americana de Saúde começou a contratar veteri-
nários como consultores. 
Em 1946, a conferência de estruturação da Organização Mundial de Saúde re-
comendou a criação de uma seção de saúde veterinária, que foi estabelecida 
em 1949 (VIANNA PAIM & CAVALCANTE DE QUEIROZ, 1970). 
A evolução da saúde pública veterinária será vista a seguir, sendo utilizados 
como base os documentos produzidos na época para a pesquisa histórica em-
preendida. 
O termo saúde pública veterinária foi utilizado oficialmente pela primeira vez em 
1946, durante um encontro que incumbia a OMS de fornecer uma estrutura con-
ceitual e programática para aquelas atividades de saúde pública que envolvem 
 
 
 
23 
a aplicação do conhecimento em Medicina Veterinária direcionado para a prote-
ção e promoção da saúde humana. 
Na primeira reunião da OMS/FAO o termo foi assim definido: “A saúde pública 
veterinária compreende todos os esforços da comunidade que influenciam e são 
influenciados pela arte e ciência médica veterinária, aplicados à prevenção da 
doença, proteção da vida, e promoção do bem-estar e eficiência do ser humano”. 
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1951). 
O documento aponta que o termo saúde pública veterinária era relativamente 
novo na língua inglesa – veterinary public health, mas já havia ganho grande 
aceitação. 
O médico veterinário se incorpora muito facilmente ao grupo de profissionais de 
saúde por estar habituado a proteger a população contra as enfermidades cole-
tivas. 
O tipo de formação recebida pelo veterinário está em harmonia com o conceito 
de saúde pública, que considera todos os fatores que determinam a saúde cole-
tiva, sem limitar-se às necessidades do indivíduo. 
O informe complementa que em muitas escolas de veterinária, a medicina pre-
ventiva – que se ocupa em combater as enfermidades animais – forma uma parte 
tão importante do programa quanto a patologia, a clínica e a cirurgia veterinária 
(ORGANIZACIÓN MUNDIAL DE LA SALUD, 1957). 
As atividades da saúde pública veterinária citadas são: as zoonoses, a higiene 
dos alimentos e os trabalhos de laboratório, de biologia e as atividades experi-
mentais. 
O informe assinala que a luta contra as zoonoses se constitui em uma das prin-
cipais atividades da saúde pública veterinária. Essas enfermidades constituem 
um importante fator de morbidade e pobreza, pelas infecções agudas e crônicas 
que causam aos seres humanos e pelas perdas econômicas ocasionadas na 
produção animal. 
A prevenção e a eliminação desse tipo de enfermidade no homem dependem, 
em grande parte, das medidas adotadas contra essas doenças nos animais. No 
texto, argumenta-se que as ações de combate não podem ser adotadas inde-
pendentemente pelas autoridades sanitárias e agrícolas e a melhor maneira para 
enfrentar o problema seria coordenar os esforços dos serviços de saúde e de 
 
 
 
24 
agricultura por meio da saúde pública veterinária (ORGANIZACIÓN MUNDIAL 
DE LA SALUD, 1957). 
No Segundo Comunicado Técnico de Especialistas em Zoonoses (WORLD 
HEALTH ORGANIZATION, 1959) foi reconhecida a existência de mais de cem 
zoonoses, o que fez com que aumentasse a importância dos programas de pre-
venção, controle e erradicação dessas enfermidades. 
Dando sequência à série de reuniões efetuadas para discutir temas ligados à 
saúde pública veterinária, especialistas do comitê da FAO/OMS em saúde pú-
blica veterinária se reuniram no final de 1974, em Genebra. 
O principal objetivo do encontro era reforçar a importância cada vez maior dos 
médicos veterinários no trabalho de saúde pública e a Evolução histórica da me-
dicina veterinária preventiva e saúde pública consequente necessidade de forta-
lecer os serviços de saúde pública veterinária. 
Na reunião, foram definidos os propósitos do campo de atuação: “A saúde pú-
blica Veterinária (SPV) é um componente das atividades de saúde pública devo-
tado à aplicação das habilidades, conhecimentos e recursos da profissão veteri-
nária para a proteçãoe melhora da saúde humana” (WORLD HEALTH ORGA-
NIZATION, 1975). 
No documento, há uma nota explicativa afirmando que a medicina veterinária é 
um braço estendido da medicina, que se ocupa da saúde de outras espécies 
animais que não os seres humanos. 
A saúde pública veterinária desempenha diversas funções na saúde pública que 
obedecem à vasta comunhão de interesses existentes entre a medicina veteri-
nária e a medicina humana e oferecem a oportunidade de uma proveitosa inte-
ração entre ambas. 
Como profissão cruzada, a saúde pública veterinária apresenta natureza inter-
disciplinar, voltando-se simultaneamente para ambas as direções: os seres hu-
manos e os animais. 
A produção de proteínas de alto valor biológico para consumo humano em quan-
tidade suficiente é resultado do sucesso da Medicina Veterinária em manter eco-
nomicamente sob controle as doenças animais. 
Essas atividades são importantes benefícios adicionais na proteção da saúde 
humana, especialmente quando os esforços no controle de doenças se direciona 
para o combate às zoonoses (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1975). 
 
 
 
25 
Atualmente, as atividades básicas de proteção da saúde animal, com especial 
atenção para o combate às zoonoses fazem com que as concepções de saúde 
e doença da Medicina Veterinária Preventiva sejam as mesmas da saúde pública 
veterinária formando um modo único de pensar – a preocupação com a promo-
ção da saúde na coletividade, constituindo um estilo de pensamento de Medicina 
Veterinária Preventiva e Saúde Pública (PFUETZENREITER, 2003). 
Os médicos veterinários podem desempenhar dois tipos de função dentro da 
saúde pública. 
O primeiro tipo estabelece as atividades para as quais o veterinário tem uma 
qualificação única. 
O outro abrange as atividades que podem ser desempenhadas igualmente pelos 
veterinários, pelos médicos e pelos demais profissionais do setor. 
A publicação da OMS resultante de uma reunião de especialistas em saúde pú-
blica veterinária (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1975) procurou especificar 
essas contribuições da Medicina Veterinária para a Saúde Pública, como será 
detalhado a seguir. 
 
Inúmeras as contribuições da Medicina Veterinária para a saúde humana 
A primeira e mais básica função do sanitarista veterinário está fundamentada no 
contexto puramente veterinário por sua conexão com os animais inferiores e 
suas doenças, relacionado à saúde e bem-estar humanos. 
Essas atividades refletem as qualificações específicas dos médicos veterinários 
e normalmente são a base da formação do veterinário de saúde pública dos or-
ganismos de saúde. 
O encargo relacionado diretamente com os animais inclui: 
a) diagnóstico, controle e vigilância em zoonoses; 
b) estudos comparativos da epidemiologia de enfermidades não infecciosas dos 
animais em relação aos seres humanos; 
c) intercâmbio de informações entre a pesquisa médica veterinária e a pesquisa 
médica humana com vistas à aplicação desta para as necessidades da saúde 
humana; 
d) estudo sobre substâncias tóxicas e venenos provenientes dos animais; 
e) inspeção de alimentos e vigilância sanitária; 
 
 
 
26 
f) estudo de problemas de saúde relacionados às indústrias animais, incluindo o 
destino adequado de dejetos; 
g) supervisão da criação de animais de experimentação; 
h) estabelecimento de interligação e cooperação entre as organizações de saúde 
pública e veterinária com outras unidades relacionadas com animais; 
i) consulta técnica sobre assuntos de saúde humana relativos aos animais. Ou-
tros contextos das atividades desempenhadas pelo sanitarista veterinário são o 
biomédico e o generalista. 
Ainda que o médico veterinário exerça atividades puramente veterinárias como 
as acima mencionadas, sua ampla formação básica nas ciências biomédicas o 
qualifica para desempenhar muitos papéis adicionais na saúde pública, que são 
comuns aos médicos e a outros membros da equipe como: 
 a) epidemiologia em geral; 
b) laboratório de saúde pública; 
c) produção e controle de produtos biológicos; 
d) proteção dos alimentos; 
e) avaliação e controle de medicamentos; 
f) saneamento ambiental; 
g) pesquisa de saúde pública. 
A formação conferida aos médicos veterinários os qualifica para desempenhar 
funções generalistas, que podem ser executadas por outros membros da equipe 
de saúde pública, como a administração, o planejamento e a coordenação de 
programas de saúde pública. 
De acordo com o Comitê de Especialistas em Saúde Pública Veterinária 
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 1975) o ponto crucial de implementar a 
ampliação da atuação do médico veterinário na saúde pública está não apenas 
em melhorar os canais de comunicação interprofissionais e em estabelecer uma 
infraestrutura apropriada para a carreira, mas sobretudo, em assegurar uma boa 
formação aos profissionais na área. 
Deve haver um estímulo e fortalecimento da educação veterinária – que deveria 
receber apoio tanto por parte dos setores de saúde pública, quanto da agricultura 
– para o ensino de saúde pública. 
 
 
 
27 
Todos os profissionais deveriam estar voltados para a importância da profissão 
veterinária para a saúde humana, sendo considerado lamentável quando um 
médico veterinário não está consciente disso. 
 
CENÁRIO ATUAL E TENDÊNCIAS DA MEDICINA VETERINÁRIA PREVEN-
TIVA E SAÚDE PÚBLICA 
A expressão saúde pública veterinária é utilizada para designar o marco concei-
tual e a estrutura de implementação das atividades de saúde pública que empre-
gam conhecimentos e recursos da medicina veterinária para proteger e melhorar 
a saúde humana. 
A saúde pública veterinária vincula a agricultura, a saúde animal, a educação, o 
ambiente e a saúde humana. 
Seus princípios de base estão fortemente ligados nas ciências biológicas e soci-
ais que se encontram amplamente difundidos na agricultura, na medicina e no 
meio ambiente (ARÁMBULO, 1991). 
A proteção dos alimentos e o controle e erradicação de zoonoses permanecem 
as funções de maior interesse na área. Também ganham destaque outros três 
enfoques: os modelos biomédicos (pesquisas em animais para estudar os pro-
blemas de saúde dos seres humanos), o desenvolvimento dos serviços de saúde 
pública veterinária, e o ensino e formação em saúde pública. 
Em relação ao último tópico, recomenda-se a mudança de abordagem dos cur-
rículos – com concentração excessiva na clínica – para fornecer uma educação 
mais voltada para os aspectos de saúde pública (ARÁMBULO, 1991). 
BÖGEL (1992) aponta para a importância da realização de pesquisas sobre as 
necessidades e tendências da educação veterinária e confirma a atenção que 
deve ser dispensada à formação veterinária enfatizando a saúde pública. 
O autor argumenta que em um mundo com uma população cada vez mais nu-
merosa, que recorre a novos sistemas de exploração do solo e a novas tecnolo-
gias, é importante o desenvolvimento de uma medicina veterinária populacional. 
A orientação dispensada à medicina veterinária dentro da tríade formada pelo 
meio ambiente, o animal e o homem deve ser acompanhada de uma importante 
expansão da saúde pública veterinária e de uma profunda modificação da for-
mação veterinária, mais centrada na interdisciplinaridade. 
 
 
 
28 
O autor aponta que os principais problemas enfrentados pela saúde pública ve-
terinária são as novas biotecnologias, o controle das infecções de origem ali-
mentar, os novos sistemas de exploração agrária e as questões éticas relativas 
a esses problemas. 
Tradicionalmente dentro do âmbito da saúde pública, a medicina veterinária tem 
trabalhado no controle das zoonoses e na proteção sanitária dos alimentos. Além 
destes setores, situações específicas relacionadas com o meio ambiente têm 
chamado a atenção para a atuação da profissão veterinária. 
O trabalho interdisciplinar, a incorporação nos grupos Inter setoriais e interinsti-
tucionais que planificam,executam e avaliam estudos e projetos de impacto am-
biental, estão abrindo oportunidades para a presença do médico veterinário 
nesse segmento (CIFUENTES, 1992). 
 Para realizar atividades ligadas à área ambiental, CIFUENTES (1992) aponta 
que o médico veterinário deve ter conhecimentos gerais sobre as ciências do 
ambiente, além de conhecimentos sobre: 
a) as relações ambiente-enfermidade; 
b) as atividades agropecuárias e suas relações sobre o ambiente; 
c) modelos de avaliação de estudos de impacto ambiental; 
d) tecnologia básica para a proteção e saneamento ambiental. 
Na formação acadêmica dos médicos veterinários, o autor propõe que as esco-
las ofereçam conhecimentos aprofundados nas áreas de ciências ambientais, 
ecologia, biologia e saneamento ambiental para que os profissionais possam ser 
incorporados e oferecer sua contribuição a esses setores. 
NIELSEN (1997) declara que o profissional de Medicina Veterinária deve ter um 
nível de competência consistente com as demandas da sociedade. 
O reconhecimento da importância da profissão para a sociedade está na depen-
dência de sua relevância social. 
As questões de maior relevância social apontadas para a profissão para este 
século são: 
a) produção de alimentos com utilização de métodos sustentáveis levando em 
consideração o crescimento populacional; 
b) proteção do meio ambiente à degradação e perda da biodiversidade; 
c) profilaxia das novas zoonoses com potencial epidêmico. Todas essas ques-
tões apontadas pelo autor estão ligadas à sustentabilidade. 
 
 
 
29 
A redução da pobreza especialmente nas comunidades rurais, a produção de 
alimentos sem produzir desgaste ambiental e o controle de Evolução histórica 
da medicina veterinária preventiva e saúde pública enfermidades relacionadas 
ao meio ambiente constituem alguns dos desafios para a população mundial 
atual. 
Nesse contexto cresce a importância da participação do sanitarista veterinário 
nessas questões ligadas à sustentabilidade, em que as populações devem exa-
minar seus padrões de produção e consumo e se comprometer com um cresci-
mento econômico responsável que respeite o meio ambiente. 
Todos esses tópicos ligados à sustentabilidade devem ser mais enfatizados na 
formação veterinária. 
O problema das zoonoses é destacado por vários autores (CRIPPS, 2000; OS-
BURN, 1996; STÖHR & MESLIN, 1997). 
Esse grupo de enfermidades continua a representar um importante problema de 
saúde para grande parte do mundo, com elevadas perdas para os setores de 
saúde e de agricultura, principalmente nos países em desenvolvimento. 
O risco de infecções emergentes por novas entidades patológicas ou por agen-
tes conhecidos aparecendo em novas áreas ou em novas condições vem au-
mentando nos últimos anos. 
O controle das enfermidades desta natureza requer uma cooperação inter-seto-
rial e interinstitucional, reunindo segmentos ligados à saúde, finanças, planeja-
mento, comércio, agricultura e indústria de alimentos, consumidores e comuni-
dade científica biomédica e agrária (STÖHR & MESLIN, 1997). 
Em 1999, reuniu-se na Itália um Grupo de Estudos para discutir as tendências 
da Saúde Pública Veterinária para o futuro. 
Na publicação resultante do encontro (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 
2002) está contida uma revisão que se tornou uma oportunidade de reexame do 
papel e funções sobre a área. 
A preocupação predominante da Saúde Pública Veterinária durante os anos de 
1970 e 1980 estava voltada para os riscos da poluição química ao ambiente e 
aos alimentos (resultante de pesticidas, resíduos animais, e outras substâncias 
tóxicas). 
Entretanto, nas duas últimas décadas as zoonoses emergentes e re-emergentes 
têm adquirido significância global. 
 
 
 
30 
Dentre outros, são citados os problemas relacionados à Salmonella enteritidis 
das aves, as febres hemorrágicas virais de Marburg e Ebola, a ligação entre a 
encefalite espongiforme bovina e a doença de Creutzfeldt-Jacob, as Hantaviro-
ses, e vários outros exemplos de agentes zoonóticos que requerem o trabalho 
conjunto de médicos, veterinários e biólogos. 
Ao lado desses problemas estão as novas tendências na prática de produção, 
as interferências nas populações de animais silvestres, as mudanças demográ-
ficas, a mobilidade das populações, a urbanização e globalização da indústria 
de alimentos. 
Essas alterações devem estar acompanhadas de níveis aumentados de vigilân-
cia epidemiológica e de novas abordagens para o controle e prevenção de do-
enças (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002). 
Em face dessa nova situação, as atividades da Saúde Pública Veterinária devem 
estar em consonância com outros esforços nas áreas da saúde, agricultura e 
ambiente. 
O Grupo de Estudos redefiniu a Saúde Pública Veterinária e o escopo de seus 
esforços colaborativos, e a Saúde Pública Veterinária passou a ser considerada 
como “a soma de todas as contribuições para o bem-estar físico, mental e social 
dos seres humanos mediante a compreensão e aplicação da ciência veterinária” 
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2002). 
A ciência veterinária engloba todas as atividades veterinárias incluindo a produ-
ção animal e a saúde, cumprindo as funções essenciais na saúde pública e in-
fluenciando diretamente a saúde humana pelo seu conhecimento e experiência. 
Pelo menos metade dos 1700 agentes conhecidos que infectam os seres huma-
nos tem um vertebrado como reservatório animal ou inseto como vetor e muitas 
doenças emergentes são zoonoses. 
Em vista disso, há necessidade de fortalecimento da ligação entre a medicina 
animal e a humana. 
Além das atividades habituais, os domínios específicos emergentes da Saúde 
Pública Veterinária que podem trazer contribuições significativas para a saúde 
pública são: 
a) investigação, epidemiologia e controle de doenças comunicáveis não zoonó-
ticas; 
 
 
 
31 
b) aspectos sociais, comportamentais e mentais da relação entre seres humanos 
e animais; 
c) epidemiologia e prevenção de doenças não infecciosas (incluindo a promoção 
de estilos de vida saudáveis); 
d) análises e avaliações de serviços e programas de saúde pública; 
e) atividades que envolvem o contexto social, especialmente aquelas em que há 
participação em programas de educação em saúde (WORLD HEALTH ORGA-
NIZATION, 2002). 
Deve ser ressaltada uma atividade importante do médico veterinário dentro da 
saúde pública que é a educação em saúde. 
Esse profissional pode atuar na difusão de informações e na conscientização 
das pessoas sobre os temas ligados à saúde. 
A participação do sanitarista veterinário é fundamental nos programas de edu-
cação em saúde para a proteção e promoção da saúde humana em comunida-
des dentro dos princípios do desenvolvimento sustentável. 
Esse significativo tema, ao lado daqueles discutidos aqui anteriormente, deve 
ser trabalhado com atenção na formação veterinária para acompanhar as neces-
sidades atuais da sociedade e antecipar as exigências para o futuro. 
O profissional formado em Medicina Veterinária que possuir sólidos fundamen-
tos nos conteúdos pertinentes à Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Pú-
blica, além da habilidade para trabalhar de forma interdisciplinar estará prepa-
rado para auxiliar as populações humanas a enfrentarem seus principais desa-
fios. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
32 
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