Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FUNDAMENTOS SOCIOLÓGICOS DA EDUCAÇÃO Prezado aluno! Este material didático é parte integrante da disciplina de Fundamentos Sociológicos da Educação. Nesta Unidade, teremos a oportunidade de ver o entendimento sobre a educação, enquanto uma corrente entende-a não ser algo pronto a ser imposto às cabeças vazias das novas gerações, enquanto que, a perspectiva marxiana considera a educação uma relação social que se estabelece entre os sujeitos de uma sociedade. Como esta é encarada como um processo social em mutação constante, a educação é um elemento que deve ser considerado também em permanente transformação. Bons estudos! AULA 1 – SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Nesta aula, você vai conferir os contextos conceituais da psicologia entenderá como ela alcançou o seu estatuto de cientificidade. Além disso, terá a oportunidade de conhecer as três grandes doutrinas da psicologia, behaviorismo, psicanálise e Gestalt, e as áreas de atuação do psicólogo. Compreender o conceito de psicologia Identificar as diferentes áreas de atuação da psicologia Conhecer as áreas de atuação do psicólogo. b Nesta aula, você vai conferir os contextos conceituais da sociologia da educação e suas particularidades. Além disso, terá a oportunidade de conhecer percepção de Marx quanto ao papel da educação e a vida em sociedade. Após esses estudos, você será capaz de: Compreender o conceito de sociologia da educação Identificar as diferentes áreas de relação social da educação Conhecer o papel da escola na formação do cidadão. 1 A EDUCAÇÃO COMO DIMENSÃO DA VIDA SOCIAL Ao se iniciar os estudos envolvendo a sociologia da educação, é pertinente ter em conta a visão crítica de Karl Marx. Contudo, vê-se que em sua obra, embora isso possa ocasionalmente ser um fator em suas reflexões sobre a história e as sociedades capitalistas, não se pode dizer que haja um conhecimento sistemático e organizado da educação. Para Marx, a educação não é uma realidade externa que possui existência própria, mas uma relação social entre indivíduos e classes sociais, uma expressão da consciência social e, ainda, uma prática que se desenvolve em conjunto com outras esferas sociais como a forma como o trabalho é distribuído entre os membros da sociedade, as tecnologias existentes e como os seres humanos interagem para dividir os frutos do trabalho. (PRAXEDES; PILETTI, 2021). Seguindo tal perspectiva, ao se fazer uma inferência acerca da educação na obra, Contribuição à crítica da economia política, Marx (1978), a educação não pode ser devidamente entendida se for apenas analisada de maneira isolada, fora da totalidade social de que faz parte, influenciando os demais fatores da sociedade e, ao mesmo tempo, sendo por eles influenciada. Tendo em vista que, no sentido de que os tipos de consciência (a educação, por exemplo) compõem uma superestrutura que é condicionada pelas relações sociais de produção vigentes e pelas circunstâncias em que se encontram as forças produtivas materiais da sociedade (MARX, 1978). No entanto, alguns estudiosos marxistas chegaram a conclusões contraditórias sobre a relação entre a estrutura econômica da sociedade que, o Marx denominava de “base real” por sustentar um conjunto de instituições – em destaque – as jurídicas e políticas, e as concepções intelectuais, científicas e ideológicas, pois apoiavam seus argumentos em explicar os fenômenos sociais como efeito dos fatores econômicos. Vale destacar que, de acordo com Marx (1978), os eventos dentro de uma sociedade podem ter impacto uns sobre os outros e que a única maneira de obter uma compreensão satisfatória da sociedade como um todo é por meio do estudo dessa relação recíproca. Para melhor entendermos a concepção de Marx acerca da concepção de educação enquanto um tipo de consciência e uma prática social privada particular a um modo produção, se faz oportuno, então, compreender modo de produção. Assim, a noção de modo de produção pode ser entendida como uma teoria a ser testada com informações sobre a própria realidade histórica; em outras palavras, como um todo que existe na história e expressa o estágio de desenvolvimento das chamadas forças produtivas combinadas com as relações sociais de produção (PRAXEDES; PILETTI, 2021). Ainda em relação ao modo de produção, se constata um continuum pela sociedade ao longo dos tempos ter experimentado vários modos e, que, estes, podem coexistir em espaços geográficos diversos e em momentos históricos próximos (MARX, 1984). No caso da comunidade primitiva e sociedade antiga, via- se a escravidão, no modelo de produção asiático e na Europa feudal, com base servidão, já no capitalismo, a existência da propriedade privada e o trabalho assalariado e, concomitante a esse período, surge o modelo de produção socialista, no qual a propriedade privada, é coletiva. Dessa forma, segundo este filósofo, é pelo trabalho dos indivíduos de forma coletiva, que gera a capacidade de transformação da natureza em recursos para a vida material. Em particular ao processo de transformação da natureza, por outro lado, depende do conhecimento técnico e das melhores formas de emprega-los, por meio de ferramentas que potencializem as forças do animal humano e, diante do acumulo de conhecimentos, garantem certo nível de produtividade do trabalho. Também deve ser notado que, ao longo dos períodos, os seres humanos estão se diferenciando cada vez mais do resto do reino animal, criando as formas mais eficazes de trabalhar, bem como os meios para melhor utilizar as técnicas de trabalho criadas, organizando a cooperação dos trabalhadores de dividir o trabalho entre pessoas de vários sexos e idades, por exemplo (PILETTI, 2022). Assim, a forma como as pessoas se comportam durante as atividades do trabalho social é expressa pelas relações sociais de produção, onde ao distribuírem autoridade de decisão entre os membros da equipe, as atividades a serem realizadas, quais técnicas devem ser utilizadas e quem terá acesso ao uso das ferramentas a serem empregadas, como até mesmo, a terra ou as próprias ferramentas (MARX; ENGELS, 1984). Em outras palavras, as relações sociais entre os membros de um coletivo definem quem trabalha, que tipo de trabalho é feito, em que ritmo, por quanto tempo cada trabalhador faz seu trabalho e, por fim, como é distribuído o resultado do trabalho do coletivo, ou, mais especificamente, quem tem o direito de possuir ou não possuir os recursos necessários para a existência social (PRAXEDES; PILETTI, 2021). Posto isso, vê-se como recorrente na história diante da relação entre as forças produtivas e as relações sociais de produção a possibilidade de ocorrer inadequações, conflitos, contradições, o qual leva à sociedade em vivenciar problemas na sua sobrevivência, expressadas por crises e revoluções (MARX, 1984). 1.1 Educação e alienação Ao se iniciar é oportuno observar a questão da alienação, em particular no trabalho, constata-se ser uma negação dessa unidade entre o homem e o mundo, pois tal atividade não satisfaz as necessidades materiais de uma pessoa e perverte sua relação com outras pessoas. Tendo em vista que, o ser humano é um ser social que só satisfaz suas necessidades relacionando-se com outros seres humanos, relacionando-se também com a natureza por meio do trabalho (MARX, 1979). Ainda em relação aos meios de satisfação às suas necessidades, tal pensador, em seu manuscritos econômico-filosóficos (1844), afirma que a propriedade privada que faz com que alguns seres humanos aproveitem os recursos que deveriam estar disponíveis para todos. Alinhado a isso, o direito de propriedade nega aposse de outrem, tornando-se alienação dos meios que de outra forma atenderiam às suas necessidades humanas (PRAXEDES; PILETTI, 2021). Permitindo-nos, diante do exposto, entender a alienação como o elemento que separa o “eu” do curso do progresso de sua própria sociedade e, como resultado, também dos demais seres humanos e outros membros da espécie, bem como do resto da natureza. Isso ocorre porque o “eu” individual ao alcançar e manter a propriedade individual, limita a possibilidade de outros humanos de também alcançarem. Observando de forma mais detida quanto a propriedade privada, permite julgar que, ela transforma o trabalho humano em uma atividade inconstante a partir do momento em que o trabalhador passa a realizar tarefas cujo resultado final são mercadorias produzidas ou dinheiro proveniente de sua venda no mercado pertencerá exclusivamente ao capitalista. Tomando em conta que, o trabalhador só desempenha suas funções para satisfazer seu desejo de ser pago, o desenvolvimento de suas atividades laborais torna-se exaustiva, enfadonha e quase sempre sem sentido. Ao passo que, o capitalista regula rigorosamente o tempo do trabalhador e força-o a usar além do que apenas seus recursos físicos e intelectuais (MARX, 1979). Dessa forma, segundo Marx (1979), o processo de alienação do trabalho ocorre sem o consentimento do trabalhador e, para este, é como se o emprego não fosse necessário para atender às suas necessidades naturais e sociais. Quando isso é feito, o trabalhador nega a si mesmo porque não pode desenvolver plenamente o seu potencial. Pelo contrário, ele exaure fisicamente e mentalmente. Com base na relação social do trabalho alienado, o trabalhador sente que não pertence a si mesmo e só realiza seu trabalho para atender às suas necessidades e não como um meio de realização humana. Na contextualização da educação de forma a atender às demandas da divisão do trabalho capitalista, confirma-se, também um tipo de alienação, ao propagar entre os seres humanos uma consciência social parcelarizada, onde aceitando a divisão entre concepção e execução, entre trabalho intelectual e braçal, este, por sua vez, reduz o trabalhador às características de sua ocupação funcional, limitando-o de todas as potencialidades humanas (PRAXEDES; PILETTI, 2021). Passando a educação, para uma educação alienada, fará com que se tenha futuros trabalhadores limitados à sua formação, especializados, porém alheios aos possíveis impactos de suas atividades laborais às demandas dos demais na sociedade, voltados exclusivamente a obtenção do salário. A execução de um trabalho alienado pode levar tanto à rejeição da atividade pública quanto ao seu contrário, por compreender a realização do trabalho como um dever e um fim em si mesmo. Contudo, a atividade laboral em espaço público, foi desenvolvida para satisfazer uma necessidade que é simultaneamente privada e social para o ser humano (MARX; ENGELS, 1984). Como resultado, forçado a trabalhar de forma alienada, o ser humano sente- se alienado tanto de sua própria natureza como ser humano quanto dos demais membros de sua espécie. O trabalho deixa de ser uma atividade necessária para a realização humana e passa a ser apenas um meio de manutenção da existência (MARX, 1979). Posto isso, pode-se em outros termos, entender como alienação uma relação social onde, de um lado, um humano trabalhador que se submete a realizar trabalhos que os prejudica, mas mesmo sabendo desse fato, o faz por ser necessário para sua sobrevivência e, de outro, o humano proprietário que se preocupa em acumular mais propriedade privada. Constata-se, dessa forma, que o ser humano perdem suas relações sociais por se tornarem objetivos inferiores diante de suas próprias criações (PRAXEDES; PILETTI, 2021). Diante do exposto, se observa ser preciso mais do que apenas consciência das causas e efeitos da alienação para superar tal condição. Para tanto, exige-se no alcance de resultado positivo uma ação consciente por parte dos seres humanos para superá-la. O primeiro passo para uma transformação da alienação que a humanidade experimenta no capitalismo seja adotar um modelo de educação que desafie a dimensão alienada do trabalho e da vida pública. 1.2 Educação, divisão social do trabalho e reprodução das relações sociais Com o passar do tempo, fica mais evidente que os grupos humanos – propositalmente ou não – sempre desenvolveram estratégias para preparar seus membros para o trabalho, treinando-os em tarefas produtivas específicas e ensinando-os a interagir com outros membros do grupo. Ao rever parte dos pensamentos marxista, estes consideram a educação uma superestrutura social com estreitas relações com o estágio de desenvolvimento das forças produtivas e da divisão social do trabalho. Alinhado a esse entendimento, segundo Marx (1978ª, p. 130), "o modo de produção da vida material condiciona o processo em geral de vida social, política e espiritual", ou seja, o modo de pensar dos seres humanos é influenciado pelas relações sociais estabelecidas pelos mesmos. Quando observado com atenção uma passagem da obra, A Ideologia do Ocidente, de Marx e Engels, ao delinearem sua metodologia de pesquisa, evidencia que ambos os autores viam a educação como um dos elementos da vida social, ao lado da moral, da religião e outras ideologias que expressam uma relação de interdependência com as condições materiais sob as quais os seres humanos existem (PRAXEDES; PILETTI, 2021). Numa sociedade capitalista, a manutenção de uma divisão social fundamental entre, de um lado, os proprietários dos meios de produção e, de outro, um número considerável de expropriados que devem vender sua força de trabalho aos primeiros para sobreviver, essa dinâmica garante a reprodução contínua da estrutura social estabelecida. Tal distância – em termos econômicos - promove uma divisão social entre o proletariado e a classe burguesa, colocando os assalariados e os capitalistas em oposição (MARX, 1986). Ao tratar a respeito das classes sociais, vê historicamente embasadas no espaço ocupado na produção de materiais das sociedades modernas mantendo, por sua vez, uma relação de complemento e, ao mesmo tempo, antagônica entre si. Ainda, de acordo com Marx (1986), as classes sociais são formadas por duas fases consecutivas: uma, em oposição e conflito com outras classes devido à sua posição no processo econômico de produção e distribuição; e, outra, quando se organizam em grupo humano com consciência de sua existência como classe social distinta, com interesses particulares e com objetivos políticos e econômicos definidos que norteiam suas ações políticas coletivas, concorrendo na união de forças com as demais classes no alcance da igualdade. Por meio de suas atividades laborais gerados, os trabalhadores, alimentam e educam seus filhos que os substituirão no futuro no mercado. Do mesmo modo, uma reprodução maior tanto do maquinário (capital fixo) quanto da força de trabalho (capital variável que assume a forma de salários) é pressionada pelo crescimento econômico. Em linha com o exposto, a educação se transforma em uma ferramenta de preparação das próximas gerações em proprietários e não proprietários para as posições que ocuparão na hierarquia produtiva. O ideário propagado de que a escola é de fato um lugar onde o conhecimento é distribuído democraticamente mascara uma contradição evidente da sociedade capitalista, ocultando o fato de que uma escola classista é mais um lugar onde as hierarquias econômicas, sociais e políticas entre proprietários e não proprietários, trabalhadores e os assalariados, governantes e governados, são reproduzidos. A frequência com que pessoas que ocupam cargos de destaque estão associadas aos de maior escolaridade oriundos de grupos e classes sociais onde tiveram acesso às mesmasoportunidades educacionais em épocas anteriores, fato que pode ilustrar esse cenário (SOUZA, 2015). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1978a. (Coleção Os Pensadores.) MARX, Karl. Teses contra Feuerbach. São Paulo: Abril Cultural, 1978b. (Coleção Os Pensadores.) MARX, Karl. Primeiro manuscrito: trabalho alienado. In: FROMM, Erich. Concepção marxista do homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1979, pp. 89-102. MARX, Karl. O capital crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1984, v.1, t. 2. MARX, Karl. Contribuição para a crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1986. (Coleção Os Pensadores.) PRAXEDES, Walter; PILETTI, Nelson. Principais correntes da Sociologia da Educação. São Paulo: Contexto, 2021. 192 p. PILETTI, Nelson. Sociologia da educação: da sala de aula aos conceitos gerais. São Paulo: Contexto, 2022. 160 p. SOUZA, João Valdir Alves de. Introdução à sociologia da educação. 3. Ed.; rev. amp. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2015.
Compartilhar