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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 4 2 CONCEITO DE PSICOSSOCIAL ....................................................................... 5 3 AS 8 FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DE ERIK ERIKSON...... .............................................................................................................. 7 3.1 Estágio 1 – Confiança vs. Desconfiança ............................................................. 7 3.2 Estágio 2 – Autonomia vs. Vergonha e Dúvida ................................................... 8 3.3 Estágio 3 – Iniciativa vs. Culpa ........................................................................... 9 3.4 Estágio 4 – Produtividade vs. Inferioridade ......................................................... 9 3.5 Estágio 5 – Identidade vs. Confusão de identidade .......................................... 10 3.6 Estágio 6 – Intimidade vs. Isolamento .............................................................. 10 3.7 Estágio 7 – Generatividade vs. Estagnação ..................................................... 11 3.8 Estágio 8 – Integridade vs. Desespero ............................................................. 11 4 RISCOS PSICOSSOCIAIS ............................................................................... 12 4.1 Principais causas e prevenção ......................................................................... 13 5 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PSICOSSOCIAL ............................................... 14 6 AS DOENÇAS PSICOSSOCIAIS E O AFASTAMENTO DO TRABALHO ...... 16 6.1 O que são as doenças psicossociais e quais são elas? ................................... 16 6.2 Quais são as causas das doenças psicossociais? ........................................... 17 6.3 A influência do estresse .................................................................................... 19 6.4 Como tratar doenças psicossociais? ................................................................ 19 3 6.5 Como as empresas podem cuidar de seus funcionários e evitar as doenças psicossociais? ........................................................................................................ 20 7 ESTRATÉGIAS PARA A PREVENÇÃO E GESTÃO DE RISCOS PSICOSSOCIAIS ...................................................................................................... 21 7.1 Aspectos psicossociais que envolvem o uso de substâncias psicoativas ......... 24 8 PSICOTERAPIA E PSICANÁLISE: O SUJEITO DA REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL E O SUJEITO DO INCONSCIENTE ............................................. 30 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 37 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 CONCEITO DE PSICOSSOCIAL Fonte: bit.ly/3LlqhUD A Psicologia Social é um ramo da Psicologia que trata específica e preferencialmente do funcionamento dos indivíduos em seu ambiente social, isto é, como parte integrante de uma sociedade ou comunidade, como seres humanos, e em como ambiente em que se desenvolvem contribui para sua determinação. Como em diferentes sociedades existem instituições que costumam ter características humanas, a vida social de cada ser humano tem muitas vezes, e quase em paralelo, se tornado crucial para o seu funcionamento psicológico, é justamente aí que reside a atenção da Psicologia Social. Embora este ramo não tenha nascido com a Psicologia, logo surgiria como uma necessidade imediata de explicar alguns processos que ocorrem na sociedade que são evidentemente o resultado da ação humana. Assim, no início do século passado, Floyd Allport trouxe suas principais definições se tornando uma verdadeira disciplina científica. Entre as questões específicas de interesse amplamente estudados por vários especialistas encontramos as atitudes, agressões, a comunidade, a comunicação, os estereótipos, habilidades sociais, expectativas, identidade, movimentos, obediência, 6 preconceito, socialização, valores, violência, etc. E no caso de uma pessoa apresentar uma disfunção em qualquer desses aspectos que a impeça de se integrar em um ambiente social ou se desenvolver como qualquer outra pessoa, um profissional da área deve intervir com suporte adequado para garantir que o paciente recupere ou adquira as habilidades necessárias para conviver adequadamente em sociedade, como se relacionar, trabalhar, conviver, entre outros. Em geral, a melhor terapia é aquela que tenta envolver a pessoa em dificuldade, sempre em um ambiente social, ou seja, em um ambiente comum que conhece, aceita e compartilha com os outros seus principais conflitos a serem resolvidos. 7 3 AS 8 FASES DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DE ERIK ERIKSON Fonte: bit.ly/36ALQSk 3.1 Estágio 1 – Confiança vs. Desconfiança A primeira fase da teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson acontece entre o nascimento e um ano de vida, sendo a fase mais fundamental da vida. Uma criança é totalmente dependente. O desenvolvimento da confiança se baseia na confiabilidade e qualidade de seus cuidadores. Nesta fase do desenvolvimento, a criança é totalmente dependente dos cuidados do adulto para tudo o que precisa para sua sobrevivência, o que inclui alimentação, amor, carinho, segurança. Absolutamente tudo. Se um cuidador não fornecer cuidados e atenção adequados, a criança se sentirá incapaz de confiar ou contar com os adultos em sua vida. Quando uma criança desenvolve confiança com sucesso, se sente segura no mundo. Cuidadores inconsistentes, emocionalmente indisponíveis ou desdenhosos contribuem para sentimentos de desconfiança nas crianças que que se encontram 8 sob seus cuidados. A falha em construir confiança leva ao medo e à crença de que o mundo é imprevisível e contraditório. É claro que nenhuma criança desenvolverá um senso de confiança ou dúvida por completo. Erikson acredita que o desenvolvimento bem-sucedido é baseado no equilíbrio entre os dois lados opostos. Quando isso ocorre, a criança ganha esperança, que Erikson descreveu como uma abertura à experiência temperada por um certo medo do perigo. 3.2 Estágio 2 – Autonomia vs. Vergonha e Dúvida A segunda fase da teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson ocorre na primeira infância e se concentra nas crianças que desenvolvem um maior senso de controle pessoal. Neste ponto do desenvolvimento, as crianças estão apenas começando a ganhar alguma independência. Elas começam a realizar ações básicas por si mesmas e a tomar decisões simples sobre o que preferem. Ao permitir que as crianças tomem decisões e assumam o controle, os pais e cuidadores podem ajudar as crianças a desenvolver senso de autonomia. Como Freud, Eriksonencara o “treinamento do toalete” como importante parte desse processo. No entanto, o raciocínio de Erikson foi muito diferente do de Freud. Erikson acreditava que aprender a controlar as funções corporais leva a uma sensação de controle e senso de independência. Outras questões importantes incluem adquirir mais controle sobre as escolhas alimentares e roupas e preferências de brinquedos. As crianças que concluem com sucesso esta etapa sentem-se seguras e confiantes, enquanto outras se sentem inadequadas e inseguras. Erikson acredita que encontrar um equilíbrio entre a autonomia, vergonha e dúvida levaria à força de vontade, que é a crença de que as crianças podem agir intencionalmente, dentro da razão e dentro dos limites. 9 3.3 Estágio 3 – Iniciativa vs. Culpa A terceira fase do desenvolvimento psicossocial ocorre na idade pré-escolar. Neste ponto do desenvolvimento psicossocial, as crianças começam a afirmar seu poder e controle sobre o mundo por meio de brincadeiras e outras interações sociais. As crianças que obtêm sucesso nesta fase sentem-se empoderadas e capazes de liderar os outros, aqueles que não adquirem essas habilidades desenvolvem culpa, insegurança e falta de iniciativa. Quando se alcança um equilíbrio ideal entre a iniciativa individual e a disposição de cooperar com os outros, surge a qualidade do ego conhecida como finalidade. 3.4 Estágio 4 – Produtividade vs. Inferioridade A quarta fase psicossocial ocorre nos primeiros anos escolares, por volta dos 5 aos 11 anos. Por meio de interações sociais, as crianças desenvolvem um sentimento de orgulho por suas realizações e habilidades. As crianças que são encorajadas e elogiadas pelos pais e professores desenvolvem competência e confiança nas suas capacidades. As crianças que recebem pouco ou nenhum incentivo dos pais, professores ou colegas duvidarão de sua capacidade de ter sucesso. O sucesso no equilíbrio nesse estágio do desenvolvimento psicossocial leva à força conhecida como competência, ou crença na autocapacidade de realizar as tarefas que nos são apresentadas. 10 3.5 Estágio 5 – Identidade vs. Confusão de identidade A quinta fase psicossocial acontece durante a adolescência, às vezes turbulenta, e desempenha um papel essencial no desenvolvimento de um senso de identidade pessoal que influenciará o comportamento e o desenvolvimento de um indivíduo pelo resto de sua vida. Durante a puberdade, as crianças exploram sua independência e desenvolvem a consciência de si. Aqueles que recebem o incentivo e o reforço corretos por meio da exploração pessoal emergirão desse estágio com uma forte consciência de si mesmos e um senso de independência e controle. Aqueles que não têm certeza de suas crenças e desejos se sentirão inseguros e confusos sobre si mesmos e o futuro. A conclusão bem-sucedida desta etapa leva à fidelidade, que Erikson descreveu como a capacidade de viver de acordo com as normas e expectativas sociais. 3.6 Estágio 6 – Intimidade vs. Isolamento Esta fase abrange o período do início da idade adulta, quando as pessoas exploram as relações pessoais. Erikson acreditava ser crucial que as pessoas estabeleçam relacionamentos próximos e comprometidos com os outros. As que são bem-sucedidas nesta fase formarão relacionamentos duradouros e seguros. Lembre-se de que cada fase se baseia nas habilidades aprendidas nas etapas anteriores. Erikson acredita que um forte senso de identidade pessoal é importante para o desenvolvimento de relacionamentos íntimos. Estudos mostraram que pessoas que não possuem uma boa consciência de si tendem a ter relacionamentos menos comprometidos e são mais propensas a experimentar isolamento emocional, solidão e depressão. 11 A superação bem-sucedida desta fase leva ao poder conhecido como amor, que se caracteriza pela capacidade de formar relacionamentos duradouros e significativos com outras pessoas. 3.7 Estágio 7 – Generatividade vs. Estagnação Ao longo da vida adulta, continuamos a construir nossas vidas e nos concentramos em nossas carreiras e família. Quem tiver sucesso nesta fase sentirá que está contribuindo para o mundo sendo ativo em sua casa e comunidade. Quem não alcança essa habilidade se sente improdutivo e não envolvido no mundo. O cuidado é a virtude alcançada quando esta fase é cumprida com sucesso. Ter orgulho de suas realizações, ver seus filhos se tornarem adultos e desenvolver um senso de unidade com o(a) parceiro(a) de vida são conquistas importantes desta fase. 3.8 Estágio 8 – Integridade vs. Desespero A última fase psicossocial ocorre na velhice e tem como foco a reflexão sobre sobrea vida. Neste ponto do desenvolvimento, as pessoas olham para trás, para os acontecimentos de suas vidas e determinam se estão satisfeitas com a vida que levaram ou se arrependem de suas escolhas. Aqueles que não tiverem sucesso neste estágio sentirão que suas vidas foram desperdiçadas e experimentarão muito arrependimento, deixando o indivíduo com sentimentos de amargura e desespero. Aqueles que se orgulham de suas realizações terão um senso de integridade. Completar com sucesso esta etapa significa olhar para trás com poucos 12 arrependimentos e uma sensação geral de satisfação. Essas pessoas alcançarão a sabedoria mesmo diante da morte. 4 RISCOS PSICOSSOCIAIS Fonte: bit.ly/36T8THO O risco psicossocial pode ser definido como a presença de condições de trabalho que afetam a saúde mental dos profissionais, podendo levar a prejuízos psicológicos, sociais ou físicos. Geralmente, esse tipo de risco está relacionado ao estresse da vida cotidiana, ao estresse do ambiente de trabalho e alguns outros fatores desfavoráveis. Podem ser definidos como possíveis causas de risco psicossocial: tarefas repetitivas, mudanças no ritmo das tarefas diárias, falta de organização, etc. Diversamente de outros tipos de riscos ocupacionais que são muitas vezes identificados facilmente, os riscos psicossociais podem ser negligenciados e ignorados por profissionais e empresas. Portanto, para evitar que causem problemas, é necessário estar atento à presença dos seguintes sinais: 13 - Cansaço; - Desmotivação; - Estresse excessivo; - Dificuldade de concentração; - Queda da produtividade; - Depressão. Esses problemas relacionados ao risco psicossocial afetam a qualidade de vida dos trabalhadores, impactando negativamente nas relações familiares, sociais e no desempenho ocupacional. Além disso, podem afetar a autoestima e a motivação do funcionário, levando-o a desenvolver doenças psicológicas. 4.1 Principais causas e prevenção Em geral, as diversas causas dos riscos psicossociais podem ser divididas em três grupos principais: - Atividades cotidianas no trabalho: Tarefas repetitivas e em grande volume, alta responsabilidade, ritmo acelerado, prazos curtos, pressão, tarefas que exigem atenção e concentração em demasia; - Organização do tempo de trabalho: Mudança de turno, horas extras frequentes, trabalho noturno, alteração do ritmo de trabalho, falta de pausas e períodos de descanso, aumento da carga horária; - Estrutura organizacional: Conflitos internos, falta de organização e comunicação entre setores, má qualidade das relações interpessoais entre os colaboradores, mudanças bruscas, competição excessiva, falta de perspectiva, crescimento e reconhecimento. 14 Como prevenir os riscos psicossociais: Para prevenir riscos psicossociais na empresa, é essencial a participação ativa e dinâmica de todos os colaboradores. Além disso, é importante que o empregador implemente medidas de conscientização da satisfação, motivação, estresse e relacionamento interpessoal, para que o clima e a cultura organizacional sejam mais positivos e ofereçam aos profissionais uma melhor qualidade de vida. 5 AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA PSICOSSOCIALFonte: bit.ly/3qL089H A Avaliação Psicológica é uma ferramenta analítica de grande importância na escolha de um profissional. De acordo com as Normas Regulamentadoras, as empresas devem realizar a avaliação de seus funcionários, visando analisar os aspectos clínicos e laborais que compõem o perfil da pessoa e em busca de obter informações sobre o trabalhador nos diferentes contextos em que está inserido para identificar e avalia-los. 15 Os riscos associados ao trabalho em ambientes adversos aos quais os trabalhadores podem estar expostos durante o turno podem levá-los a condições extremas que afetam suas respostas cognitivas, emocionais e comportamentais. Por isso, por meio das normas regulamentadoras, O Ministério do Trabalho e Emprego recomenda que as empresas que operam em ambientes adversos submetam seus trabalhadores a uma avaliação psicossocial para a emissão do Atestado de Saúde Ocupacional (ASO) baseado no Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) da empresa e observando os riscos psicossociais. Para manter a saúde mental e psicológica dos profissionais das empresas que exercem atividades em espaços confinados e áreas de risco, tornou-se necessária a realização, além dos exames médicos, da Avaliação Psicossocial Psicossocial como exigência do MTE, conforme descrito nas Normas Regulamentadoras: - NR 33: Segurança e saúde nos trabalhos em espaços confinados; - NR 35: Trabalho em altura; - NR 20: Segurança e saúde no trabalho com inflamáveis e combustíveis. A avaliação psicossocial é realizada por profissional habilitado e deve ser realizada regularmente, pois mesmo que o trabalhador esteja em condições de saúde física e mental adequadas, ele pode, ao longo do tempo, apresentar estressores que afetem seu desempenho laboral e é necessário que essa avaliação seja realizada dentro da periodicidade especificada no PCMSO da empresa. 16 6 AS DOENÇAS PSICOSSOCIAIS E O AFASTAMENTO DO TRABALHO Fonte: bit.ly/3Nt9Wip Foi-se o tempo em que as doenças mentais eram consideradas uma desculpa ou frescura do funcionário, e hoje reconhece-se que seu tratamento é tão importante quanto os das doenças físicas. O que é ainda mais alarmante é que elas compõem grande parte das principais causas de afastamento do trabalho. 6.1 O que são as doenças psicossociais e quais são elas? A palavra “psicossocial” refere-se à relação entre aspectos psicológicos e sociais (do próprio convívio em sociedade) do indivíduo. Trata-se, portanto, do ramo de estudo que abrange os aspectos da vida social em conjunto com a Psicologia clínica. Também chamadas de doenças ocupacionais, as doenças psicossociais são provocadas pela influência do ambiente de trabalho sobre a saúde psicológica do funcionário. Elas afetam não apenas este aspecto, mas também a saúde física, como o funcionamento do organismo biológico, gerando efeitos negativos a nível mental, físico, consequentemente, social do colaborador. 17 São muitos tipos de doenças que se enquadram nessa categoria, como, por exemplo o estresse, o esgotamento e a própria depressão. É impossível negar que, quando o assunto é convívio social, o ambiente de trabalho representa uma importante influência sobre o colaborador e sua saúde psicológica. Afinal, o colaborador desempenha diversas atividades, sejam elas em conjunto com outras pessoas ou não, em um extenso período de tempo. Contudo, o ambiente de trabalho passa a representar um risco apenas quando causa algum tipo de pressão exacerbada sobre o colaborador, por exemplo, quando apresenta um clima organizacional problemático, deficiências na gestão ou comunicação interna. 6.2 Quais são as causas das doenças psicossociais? Entre as principais razões que podem levar ao desenvolvimento de doenças psicossociais relacionadas ao ambiente ocupacional estão: - Intensidade do trabalho ou carga horária excessiva; - Insegurança ou má gestão; - Pressão no trabalho; - Má remuneração; - Longo período no desempenho da função; - Exigências emocionais da função; - Excesso de cobranças e prazos; - Não reconhecimento do desempenho e das qualidades do colaborador; - Exigências contraditórias e falta de clareza na definição das funções; - Dificuldade no relacionamento com chefia ou colegas; 18 - Falta de participação na tomada de decisões; - Assédio moral ou sexual. Essas situações podem gerar um quadro sintomático progressivo capaz de incapacitar os colaboradores. Contudo, como se tratam de sintomas cognitivos em sua maioria, podem ser menos evidentes à percepção de terceiros. Os sinais iniciais mais comuns costumam envolver: - Tristeza; - Desânimo; - Insônia; - Irritabilidade; - Cansaço excessivo; - Dores sem causa aparente; - Perda do interesse pela atividade; - Dificuldades na tomada de decisões. Mas não são apenas os colaboradores que sofrem com essa condição. As doenças psicossociais são responsáveis não apenas por causar o absenteísmo, como também por reduzir a produtividade dos colaboradores. Como sintomas cognitivos são mais fáceis de esconder, o colaborador pode optar por não buscar ajuda médica, o que torna difícil manter seu rendimento. Geralmente incapacitantes, as doenças psicossociais impactam diretamente na qualidade do trabalho e, consequentemente, nos resultados da empresa. Trata-se, portanto, de um problema que não afeta apenas o colaborador, mas também a empresa. Se, por um lado, os problemas no trabalho representam enfermidades para o colaborador, para a organização eles interferem diretamente em seu desempenho 19 geral. Além disso, colaboradores que se apresentam ao trabalho doentes e incapazes de exercer suas funções eficazmente aumentam o risco de provocar acidentes e lesões. 6.3 A influência do estresse Um dos principais fatores relacionados ao surgimento das doenças psicossociais é o estresse. Geralmente desencadeado quando as exigências do trabalho são excessivas e superam a capacidade do trabalhador, o estresse é o elemento chave. Além de influenciar no desenvolvimento de problemas de saúde mental, o estresse é um fator de risco para o surgimento de doenças graves, como lesões musculoesqueléticas e problemas cardiovasculares. Outro exemplo de doença psicossocial é o esgotamento mental e físico, característico da Síndrome de Burnout. Além de se apresentar sem energia ou disposição para realização de atividades que antes seriam simples, o colaborador pode apresentar alterações comportamentais, tornando-se mais agressivo e ansioso, bem como maior predisposição para desenvolver doenças devido à baixa resistência imunológica. Esse quadro pode ainda desencadear uma depressão no colaborador, devido, entre outros fatores, à falta de disposição no convívio social. 6.4 Como tratar doenças psicossociais? O tratamento de qualquer doença psicossocial começa pelo diagnóstico do problema! Ele é feito por meio do acompanhamento de um profissional médico da área, como um Psicólogo ou Psiquiatra. O Doutor leva em conta não apenas o quadro sintomático, mas também todo o contexto do funcionário, inclusive sua vida pessoal, como sua condição familiar, de moradia, entre outros aspectos. http://blog.consultadobem.com.br/psicologia/ http://blog.consultadobem.com.br/psiquiatra/ 20 Entre os métodos mais utilizados para tratar doenças psicossociais estão a terapia ocupacional, os grupos de convivência, e o suporte vocacional. Contudo, cada caso é tratado de forma particular, dependendo do tipo da doença, causas e sintomas. 6.5 Como as empresas podem cuidar de seus funcionários e evitar as doenças psicossociais? A melhor forma de combater o surgimento de doenças psicossociais e proteger o quadro de colaboradores é promover um ambiente psicossocial positivo. Esse investimento é capaz de garantir não apenas o bom desempenho dos colaboradores,mas ainda seu desenvolvimento pessoal, juntamente com seu bem-estar mental e físico. Não se trata apenas de uma obrigação da empresa, a gestão do estresse e outros riscos constitui, na realidade, um dos principais investimentos em pessoal que uma empresa pode realizar em termos de resultados, independentemente de seu porte ou segmento. Mas, para isso, é preciso adotar a abordagem correta. Uma forma de realizar essa gestão é identificar os fatores de risco psicossociais do ambiente de trabalho. Nesse momento, é essencial garantir também o envolvimento dos colaboradores, pois são eles que possuem a melhor percepção dos problemas e realidade do ambiente em que estão inseridos. A participação deles contribuirá tanto com a identificação dos problemas, para realização dos ajustes, quanto com a garantia de que as medidas adotadas sejam relevantes, adequadas e eficazes para a realidade de todos. De todos os riscos psicossociais, o mais difícil de ser gerido é o estresse. Enquanto conflitos, falta de organização e condições precárias do trabalho podem ser administrados, o estresse se apresenta, muitas vezes, como um mal necessário. Contudo, ele pode ser prevenido ou mesmo gerenciado. Para minimizar os impactos de um ambiente de trabalho estressante, o ideal é converter as condições negativas em aspectos desafiadores, promovendo um ambiente de trabalho construtivo e estimulante, em que os colaboradores sintam-se 21 bem preparados e estejam motivados para apresentar o melhor desempenho. Quando o colaborador percebe que tem o suporte da empresa, passa a desempenhar o seu papel de forma mais segura e satisfatória para ambos os polos da relação de trabalho. A dica, portanto, é estar sempre atento ao bem-estar dos colaboradores. Isso porque o fato do colaborador continuar trabalhando mesmo apresentando sintomas, além de ser prejudicial para sua própria saúde, pode ser mais custoso para a organização do que seu afastamento, uma vez que seu desempenho é inferior e pode ser uma influência negativa também no rendimento e desenvolvimento de seus colegas de trabalho. 7 ESTRATÉGIAS PARA A PREVENÇÃO E GESTÃO DE RISCOS PSICOSSOCIAIS Fonte: bit.ly/3DjoigJ A prevenção dos riscos psicossociais e do estresse no trabalho é um aspecto importante do objetivo principal da OIT, de promoção da saúde no local de trabalho. As medidas para a prevenção e gestão de riscos psicossociais abrangem iniciativas, estratégias e ações na prevenção do estresse no trabalho e a promoção da saúde mental dos trabalhadores. 22 Dentre outras iniciativas para ajudar os empregadores e os trabalhadores na prevenção e gestão do estresse no trabalho, foram desenvolvidas as seguintes: a) ferramentas de medição (principalmente baseado em questionário), visando a avaliação de riscos psicossociais e os níveis de estresse, individual e coletivo; b) ferramentas de gestão (incluindo orientações, plataformas on-line, fichas de informação e outros recursos). A Organização Mundial de Saúde tem contribuído para a prevenção dos riscos psicossociais, através da publicação de pesquisas, orientações, ferramentas e outros recursos. O trabalho da OMS sobre a saúde ocupacional é regido pelo Plano de ação mundial sobre a saúde dos trabalhadores 2008-2017, que especifica ações de promoção da saúde no local de trabalho, afirmando que a avaliação e gestão de riscos deve ser melhorada, definindo as intervenções essenciais para a prevenção e controle de riscos mecânicos, físicos, químicos, biológicos e psicossociais no ambiente de trabalho. As instituições nacionais de vários países desenvolveram modelos de monitoramento, avaliação de riscos e ferramentas de gestão, e outras iniciativas de sensibilização para ajudar a compreender e prevenir o estresse relacionado com o trabalho. Entre os modelos de monitoramento, o Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ) desenvolvido em 1997 pela Centro Nacional de Investigação para o Ambiente de Trabalho da Dinamarca, foi o primeiro a incluir valores de referência de base populacional para avaliar a necessidade de ação e de apoiar o processo de tomada de decisões em medidas preventivas no local de trabalho. A Confederação Sindical Internacional (CSI) no seu Congresso sobre Resoluções do Trabalho Digno de 2010, chamou as suas organizações membros, parceiros e afiliados para trabalhar com a OIT para fazer campanha para a extensão https://jus.com.br/tudo/processo 23 da proteção social a todos, incluindo a prevenção de exposição a produtos químicos perigosos, riscos psicossociais e lesões e acidentes ocupacionais. Um programa de trabalho eficaz para prevenir o estresse no trabalho exige a identificação adequada dos riscos psicossociais. A avaliação deve ser feita de forma sistemática e os trabalhadores devem ser convidados a expressar sua preocupação sobre qualquer situação que pode estar causando o estresse no trabalho. As medidas preventivas específicas destinadas a reduzir o potencial de consequências para a saúde mental dos riscos psicossociais no trabalho relacionados ao estresse devem ser colocada através de uma abordagem de gestão de risco, garantindo práticas preventivas e incorporação de medidas de promoção de saúde, envolvendo dentre outros aspectos, os seguintes: prevenção ocupacional, bem como lesões ocupacionais; melhoraria das condições de trabalho e organização do trabalho; incorporação dos riscos psicossociais na avaliação dos riscos e medidas de gestão e implementação de medidas preventivas coletivas, adaptando a organização do trabalho e as condições de trabalho; construção de sistemas de apoio sociais para os trabalhadores no local de trabalho; e avaliação das necessidades da organização levando em consideração o indivíduo. A participação dos trabalhadores na identificação dos riscos psicossociais é fundamental, como forma de estabelecer prioridades de intervenção. A OIT propõe como objetivos de ação nesta temática, os seguintes: apoio às iniciativas de pesquisa e parcerias estratégicas, para investigação, ações de sensibilização, educação, partilha de boas práticas e desenvolvimento de competências globais; harmonização das listas nacionais de doenças; integração da avaliação dos riscos psicossociais em sistemas de gestão da saúde e segurança do trabalho; ampliação do diálogo social sobre prevenção do estresse no trabalho e promoção da saúde, em colaboração com Organização Mundial de Saúde. 24 7.1 Aspectos psicossociais que envolvem o uso de substâncias psicoativas Droga vem do holandês ‘droog’, que significa folha seca. Isto porque, antigamente, a maioria dos medicamentos era à base de vegetais. As notícias de seu uso de drogas pelo homem vêm desde os primórdios da sociedade, quando achados arqueológicos e desenhos pré-históricos demonstraram que provavelmente o uso e consumo de substâncias psicoativas. O Egito antigo era conhecido por ser o armário de remédios do mundo, pois conheciam uma grande variedade de toxinas e substâncias psicoativas (SPA). O ópio era conhecido pelos egípcios desde 1500 a.C., isto estava descrito no Papiro de Ebers, os documentos medicinais mais antigos do mundo. Utilizavam as substâncias, como o olíbano e mirra, em cerimônias e magias, além da cerveja vermelha. Os maias possuíam uma variedade de SPA naturais, que usavam em rituais de adoração, para entrar em contato com os deuses e divindades. Nesta época, faziam uso de cravagem e cogumelos mágicos. Nos rituais dos Mistérios de Elêusis, na Grécia, faziam uso de uma bebida com centeio e um tipo de hortelã. Nestes rituais, ou reuniões, ou Assembleias, ou ainda Congresso, começava-se a purificação com queima de incensos de substâncias botânicas. O objetivo era induzir o espírito jovial, e assim poderem discutir sobre política. Dentre os gregos mais conhecidos está Hipócrates, o paida medicina moderna. O veneno de cobra era uma das drogas mais comuns na antiguidade, por isso ela é símbolo da medicina. O mais interessante nestas exemplificações de historicidade está no fato de que as drogas até então não tinham peso moral, eram vistas em termos religiosos, culturais e filosóficos. Os gregos, por exemplo, reconheciam o prazer que as substâncias proporcionavam como parte primordial de como viver uma boa vida. 25 Embora tivessem a consciência de que o uso errado das substâncias fosse perigoso, por isso o uso era controlado somente para rituais. Há relatos de uso em demais civilizações antigas e o uso continua até hoje em muitas outras. Devido ao uso indiscriminado para fins recreativos, passou a ser considerada ilícita, principalmente quando saiu do âmbito médico, ganhando as ruas. Com isso desencadearam as proibições, devido ao a toxicidade. No que se refere ao uso de drogas, quando o jovem resolve fumar maconha, aumenta a probabilidade de desenvolver doença pulmonar, ou sofrer consequências legais, sociais, psicológicas, conflitos familiares, baixo rendimento escolar, falta de atenção, ansiedade, entre outros. No entanto, o que o adolescente procura na droga é se sentir bem, diminuir alguma dor psíquica, decepções, ou puramente por recreação a fim de sentir algum prazer, não procura sentir dor. Desta maneira, entende-se que o uso de drogas parte do princípio da busca pelo prazer, e não somente adolescentes, mas em qualquer faixa etária, não se visa o uso de quaisquer substâncias psicoativas com a finalidade de sentir dor, mas prazer e sociabilidade. O uso continuado e descontrolado pode gerar problemas bem maiores, como os supracitados. Os fatores de risco mais comumente conhecidos e que também são vistos como fatores de proteção, vão depender do contexto em que se está inserido, como família, amigos, escola, sociedade comunidade, trabalho e fatores individuais (atitudes e predisposições do sujeito). A família pode ser um fator de risco quando é desestruturada e desprovida de oferecer suporte ou um norte ao sujeito, sem as mínimas condições de orientação frente as dificuldades da vida e sobre as drogas propriamente ditas. A família passa a ser fator de proteção quando todos os fatores descritos estão a favor do sujeito, quando este é levado em consideração, monitorado, orientado, isto é, quando se tem o apoio e atenção dos pais ou responsáveis pela educação. A concepção do que seja droga ou remédio está relacionado com a cultura. 26 Na sociedade nativa, por exemplo, se ouve muito sobre remédio ruim e remédio bom; enquanto na nossa, normalmente, remédio está relacionado a algo que faz bem ao organismo, curando ou tratando diversos males. Um fator primordial frente a estas discussões é que nem todas as substâncias psicoativas possuem a capacidade de ocasionar a dependência. Muitas delas possuem finalidades terapêuticas, produzindo efeitos benéficos, como tratamento de doenças. Um exemplo disso são os medicamentos. Antigamente, as farmácias eram conhecidas como drogarias. Nelas eram vendidos inúmeros medicamentos e substâncias que hoje são consideradas ilícitas. Um exemplo é a cocaína, vendida como medicamento. Aqui permeia a discussão acerca do que realmente venha a ser droga. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o termo “droga refere-se a qualquer entidade química ou mistura de entidades que altere a função biológica e possivelmente a estrutura do organismo” (OMS, 1981). Logo, os psicofármacos igualmente devem ser vistos como drogas. A diferença entre droga e psicofármacos está no fato de entender quais dessas substâncias são, hoje, lícitas ou ilícitas. E essa denominação, sua produção e comercialização passam pelo âmbito político e econômico. Não se consegue proibir o uso do álcool pois o mesmo está enraizado culturalmente na sociedade, ao mesmo tempo que as outras, mesmo também estando, são proibidas. O grande questionamento está no fato do significado que damos ao uso das substâncias psicoativas. A questão perpassa a forma de uso, e está impregnada no fato cultural de que se foi receitado pelo médico não faz mal e, logo, não é prejudicial, nem, portanto, é droga. Mas lembrem-se de que inúmeras das drogas proibidas hoje, já foram receitadas como medicamento em outras épocas não muito distantes. Um exemplo bem claro é a cocaína, e quem fazia uso dela era, justamente, as donas de casa e seus filhos. Hoje, a cannabis sativa é usada de forma medicinal (maconha medicinal) em alguns países, em outros ela continua a ser proibida. 27 O consumo de drogas ilícitas está sendo um grande problema mundial e social, perpassando as diversas classes sociais e afetando a vida do sujeito numa perspectiva biopsicossocial. Como já mencionado, diversos fatores estão envolvidos no uso de drogas, os chamados fatores de risco. Contrário a eles estão os fatores de proteção que ajudam o sujeito a se distanciar das possibilidades do uso de SPA lícitas (como o álcool e o tabaco) e ilícitas. Questiona-se como como as políticas de prevenção estão em sua grande maioria fracassadas, já que o foco de prevenção e de combate às drogas se encontra desvirtuado. Como se pode combater as drogas, focando-se apenas no pequeno traficante, que às vezes é só um “laranja” ou está ali apenas pelo fato de que precisa ganhar um “troco” para comprar um par de tênis ou o leite do filho? O foco na verdade deve ir além dessa minúscula concepção de prevenção e combate. Com o foco voltado para o alvo certo, provavelmente, os fatores de risco não seriam tão preocupantes neste sentido. Segundo Schenker e Minayo: A expressão consagrada fatores de risco designa condições ou variáveis associadas à possibilidade de ocorrência de resultados negativos para a saúde, o bem-estar e o desempenho social (NEWCOMB; et al., 1986; JESSOR, 1991; JESSOR; et al., 1995). Alguns desses fatores se referem a características dos indivíduos; outros, ao seu meio microssocial e outros, ainda, a condições estruturais e socioculturais mais amplas (ZWEIG et al., 2002), mas, geralmente, estão combinados quando uma situação considerada social, intrapsíquica e biologicamente perigosa se concretiza. (SCHENKER; MINAYO, 2005) Os amigos podem contribuir ou proteger o sujeito quanto ao uso de drogas. Isto quer dizer que, “ela se configura como fator de risco quando os amigos considerados modelo de comportamento […] demonstram tolerância, aprovação […] ou consomem drogas […]” (SCHENKER; MINAYO, 2005). 28 Ainda segundo os autores citados, mesmo no caso de amigos e colegas, a questão não pode ser vista de forma simplista, pois o desenvolvimento de afiliações a pares tolerantes e que aprovam as drogas representa o final de um processo onde fatores individuais, familiares e sociais adversos se combinam de forma a aumentar a probabilidade do uso abusivo. (SCHENKER; MINAYO, 2005) A escola é um local onde o sujeito tem acesso, também, à educação e a outros fatores primordiais para o seu desenvolvimento educacional e psicossocial. Logo, por ser um local com um grande número de adolescentes e de crianças é um alvo proveitoso para os traficantes, facilitando o comércio e o acesso às SPA. Portanto, a escola tem o papel fundamental de orientar, e desenvolver o lado crítico de seus alunos para que tenham consciência das consequências que o uso de SPA pode provocar em seu organismo e na sua convivência psicossocial e familiar. Mas, principalmente, desenvolver a condição de sujeito autônomo, responsável por suas atitudes e ser capaz de refletir e dar importância aos significados que atribui às suas experiências e aprendizados. Quanto à sociedade, a preocupação que nós estudiosos temos e que sempre batemos na mesma tecla é o fato do preconceito e da estigmatização do sujeito enquanto usuário de SPA. Inúmeras nomenclaturaspreconceituosas e que excluem o sujeito são utilizadas, diminuindo sua autoestima e sua autoconfiança. Que levam o sujeito a achar que não presta, sentindo-se marginalizado. Além do processo de exclusão social, se deparam com a falta de acesso ao mundo do trabalho, à saúde, à moradia e inúmeras outras coisas. A comunidade é outro fator importante que pode vir a induzir o uso de SPA. Para Schenker e Minayo: "A disponibilidade e a presença de drogas na comunidade de convivência têm sido vistas como facilitadoras do uso de drogas por adolescentes, uma vez que o excesso de oferta naturaliza o acesso (…). Quando a facilidade da oferta se junta à desorganização social e aos outros elementos predisponentes no âmbito familiar e institucional, produz-se uma sintonia de fatores". (SCHENKER; MINAYO, 2005) Mas sujeitos que possuem uma boa capacidade de resiliência e uma boa estrutura psicossocial conseguem não se deixar levar pela oferta de drogas em sua 29 comunidade. São jovens que possuem objetivos de vida traçados e que vislumbram outras possibilidades para a vida. Além destes fatores, a mídia é algo importantíssimo, pois as mensagens vindas da mesma influenciam a capacidade do indivíduo de tomar decisões sobre vários assuntos, inclusive se vão fazer uso de álcool ou cigarro ao verem as propagandas com lindas mulheres bebendo ou o glamour passado pelo uso do cigarro nos filmes e novelas. Além do que, não se pode deixar de levar em consideração a capacidade crítica que os jovens possuem. E isso não pode ser subestimado pela população e pelos meios de comunicação. Este é um tema que precisa de muitas discussões, pois se fala muito sobre drogas, mas não se chega a um contexto ou forma adequada de cuidado com a sociedade e com os usuários de drogas. É fundamental que as políticas sobre drogas levem em consideração os fatores biopsicossociais envolvidos no processo de dependência química e no que leva o sujeito a fazer uso de substâncias psicoativas. E não somente se focar no processo de repressão e de combate ao tráfico ou ao uso de entorpecentes. Desta maneira, procurou-se discutir em que realmente consiste em a droga e sua repercussão enquanto substância que altera o organismo, comportamento e consciência do sujeito. 30 8 PSICOTERAPIA E PSICANÁLISE: O SUJEITO DA REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL E O SUJEITO DO INCONSCIENTE Fonte: bit.ly/3DiYuBg No seu sentido instrumental, a reabilitação psicossocial representa um conjunto de meios (programas e serviços) que se desenvolvem para facilitar a vida de pessoas com problemas severos e persistentes de saúde mental (PITTA, 1996). A Reforma Psiquiátrica Brasileira se caracteriza como uma resposta política (tanto da sociedade quanto das autoridades governamentais) para a questão da loucura, a partir de leis, estatutos e movimentos sociais que integram o quadro da saúde mental. A luta pela cidadania representa não só um ideal, mas um desafio para a Reforma. Se a doença mental havia imposto às pessoas uma trajetória nefasta de internações, com o uso indiscriminado de medicamentos e a ausência de projetos terapêuticos, reconhecemos que “o processo da Reforma Psiquiátrica não se faz apenas com leis e propostas, essas precisam ser efetivamente implantadas e exercitadas no quotidiano das transformações institucionais, dos serviços e das práticas e relações interpessoais”. (BRASIL, 2002) A experiência italiana da reforma psiquiátrica, principal referência para o processo brasileiro, ressalta a relação da loucura com o contexto social, visando, 31 sobretudo, à reabilitação psicossocial a partir da reeducação social. Conforme uma pedagoga de um serviço pesquisado expõe: Cheguei aqui oferecendo um trabalho de alfabetização para os pacientes [...] quando eu comecei o trabalho eu vi que naquela época a demanda não era de alfabetização, era outra [...] não sei se é a palavra certa, resgate, mas eles precisavam sim resgatar aquilo que eles já sabiam, já tinham conhecimento e com inúmeras internações que eles tiveram eles perderam. O resgate de habilidades sociais, mais do que uma prática meramente pedagógica identificada com o alienismo, seria uma das qualidades dos novos dispositivos, onde o cuidado para reconhecer e respeitar a especificidade de cada usuário deveria possibilitar também um resgate do sujeito, vítima dos efeitos da longa institucionalização e da segregação social. Resgatar é uma forma de trazer o sujeito para o espaço social das trocas, da contratualidade, mas essas atividades que visam o “resgate” devem ser frequentemente questionadas por esses profissionais, como o fez a pedagoga mencionada acima. Devemos reconhecer, contudo, os limites de uma estratégia baseada apenas na reabilitação psicossocial que impõe aos usuários, por ela assistidos, a lógica da cidadania baseada na busca de direitos iguais e da participação produtiva na sociedade capitalista. Portanto, essas necessidades – que não são as do sujeito – podem soterrá-lo de exigências muito além de suas possibilidades de elaboração. (FIGUEIREDO, 1997) Sobre o que é melhor para o sujeito (sua cidadania ou seu desejo) os saberes travam um embate no cotidiano dos CAPS e, nesse bojo, a discussão sobre a natureza das práticas que são realizadas nesses serviços aponta ora para uma prática psicoterapêutica (em grupo) ora para a reabilitação psicossocial, ora para a prática psicanalítica Poderíamos fazer uma aproximação conceitual entre a reabilitação psicossocial e a psicoterapia, onde cabe um comentário sobre a origem desta última. Esta provém do vocábulo terapia, de origem grega, e está associada às noções de alívio, cuidado e cura. 32 A derivação psicoterapia refere-se ao tratamento psíquico, que anteriormente tinha ligação estreita com o campo da medicina a partir da clínica psiquiátrica, cujo alvo era tratar as doenças nervosas (histeria, neurastenia, melancolia, entre outras) por meios psíquicos e não físicos. As formas de tratamento geralmente associadas à psicoterapia, que surgiram no início do século XX (hipnose, sugestão e persuasão), foram criticadas por Freud, após o mesmo verificar que essas técnicas eliminavam os sintomas da neurose apenas temporariamente. A noção de sugestão está associada, desde a clínica pineliana, à figura de um especialista que é representante de uma moral e portador de um “bem”, que se debruça sobre o alienado, conduzindo-o da desrazão à razão. É a propósito da sugestão que fazemos a aproximação entre psicoterapia e reabilitação psicossocial. Nos CAPS, observamos que as práticas de reabilitação funcionam a partir de ações que visam fazer melhorar e proteger os portadores de sofrimento psíquico, mas que também indicam e impõem a direção em que se deseja obter uma transformação daquele que sofre e de sua relação com o mundo. A falta de iniciativa muitas vezes demonstrada pelos psicóticos atendidos nos serviços, seja em virtude de sua própria condição ou como consequência da medicação excessiva, é vista como um problema para alguns técnicos, que lidam com essa dificuldade, sugerindo uma atividade, o que muitas vezes não desperta o interesse dos usuários que frequentam os CAPS. Os grupos e oficinas de atividades ditas “terapêuticas” que funcionam somente dentro da lógica da cidadania, visam reabilitar o psíquico a partir de tarefas, a partir do entretenimento (SARACENO, 1996) mantendo seus usuários dentro da instituição, alienando-os de sua condição peculiar de sujeitos. Em nossa pesquisa, deparamo-nos com tais situações, onde o sentido do “fazer” dessas atividades, por vezes, desconsiderava o valor que esses usuários atribuíam ao espaço do CAPS, seu envolvimento nas atividades e sua forma particular de estar na instituição. Não podemos esquecer a especificidade do funcionamento da 33 psicose, que apresenta uma lógica própria,onde se revela certa dificuldade em estabelecer laço social (TENÓRIO, 2001). Um dos trabalhos importantes a ser sustentado no CAPS consiste em buscar reconhecer sua alteridade e diferença frente às exigências do social. A reabilitação psicossocial, contudo, trabalha ao modo de uma psicoterapia, a partir da sugestão, visando à reinserção do psicótico no laço social. A clínica psicanalítica nos ensina que as dificuldades de elaboração do sujeito psicótico decorrem de sua própria estrutura, marcada pela ausência de um significante primordial que amarre a cadeia simbólica onde ele está inserido, o que determina uma relação particular com o Outro, diferente da que ocorre na neurose. Esta é uma condição que deve ser respeitada pela “posição discreta” no acompanhamento desses sujeitos, a partir de uma postura de esvaziamento de saber por parte do profissional, bem indicada por Lacan quando designa o lugar do analista na clínica da psicose como sendo o de “secretário do alienado”. Vamos aparentemente nos contentar em passar por secretários do alienado. Empregam habitualmente essa expressão para censurar a impotência dos seus alienistas. Pois bem, não só passaremos por seus secretários, mas tomaremos ao pé da letra o que ele nos conta - o que até aqui foi considerado como coisa a ser evitado. (LACAN,1985) A ausência de projetos terapêuticos que levem em conta a singularidade de cada caso, frequentemente observada no trabalho da instituição, faz com que os profissionais tomem iniciativas inadequadas para seus assistidos, precipitando-se na tentativa de oferecer o que consideram o melhor para eles. Isto ocorre, por exemplo, quando é dado um direcionamento ao tratamento sem a participação do usuário, o que resulta muitas vezes na não implicação do mesmo em seu processo. Dar muita ênfase às atividades coletivas no sentido que é proposto pela reabilitação, pode resultar na negligência para com o trabalho da dimensão da singularidade, tarefa que a psicanálise tem viabilizado a partir de sua clínica na instituição. 34 Esta defende a necessidade de um acompanhamento caso a caso, mesmo num espaço coletivo, apontando as diferenças entre as estratégias de atenção psicossocial e a clínica do sujeito: Atenção psicossocial e clínica do sujeito não são a mesma coisa. Mas uma pode tornar a outra possível - desde que a primeira evite dois riscos: o de impor ao psicótico ideais de funcionamento que são nossos e aos quais ele muitas vezes não pode corresponder, e o de acreditar que o bem-estar psicossocial torna menos relevante o trabalho subjetivo da palavra. (TENÓRIO, 2001) Partindo da ideia de que a cidadania nem sempre é uma necessidade do sujeito, mas sim um ideal perseguido pela nossa sociedade, fundado em uma concepção filosófico-política que define de forma universalista os direitos do cidadão, observamos que a psicanálise se relaciona com as práticas em reabilitação psicossocial não sem conflitos. Esses dispositivos presentes nos serviços – o psicanalítico e o da atenção psicossocial, além do dispositivo médico – tornam complexo o papel dos profissionais de saúde na clínica cotidiana, na sustentação de novas práticas que estão permanentemente sendo reconstruídas. Promover a complementaridade e a interdisciplinaridade entre os saberes no campo da saúde mental é o desafio dos profissionais que trabalham nos CAPS, as atividades no serviço não se restringem só à uma área. Atualmente, no campo da saúde mental, se vive uma necessidade de desconstruir um pouco a identidade profissional e tentar fazer uma prática um pouco mais ampla, no sentido de que o trabalho com o psicótico não tem um determinado procedimento clínico que cura o cara. A produção interdisciplinar, que abriu espaço para que um novo campo de relações se estabelecesse a partir da ideia de clínica ampliada, é a marca da ruptura com o discurso psiquiátrico tradicional, ruptura essa que envolve certo deslocamento do profissional em relação às suas atividades de “especialista”. Entretanto, isto não significa desprezar a contribuição particular de cada saber para a conformação desta clínica. 35 Um dos instrumentos valorizados na clínica ampliada é a escuta da palavra do sujeito psicótico, o que evidencia a significativa influência do saber psicanalítico. A psicanálise traz um diferencial que é a importância da escuta. Isso faz com que não seja importante só o fato de o paciente estar delirando ou não, o que é importante é qual o conteúdo desse delírio, poder entender quais são os determinantes daquele sujeito. E algo ainda mais importante, que é passar para essa pessoa que o que ela está dizendo é importante. Isso faz toda a diferença, no sentido de a pessoa confiar, acreditar e saber que é recíproco. Isso é transferir responsabilidade para ela, até nos momentos de crise. É através da fala que o sujeito (do inconsciente) pode advir, seja nos sintomas, seja nos delírios ou alucinações. A escuta é, portanto, um instrumento essencial do trabalho clínico, na medida em que falar pressupõe um endereçamento ao Outro. Por isso, o papel fundamental do psicanalista consiste em acolher a produção psicótica, criando condições para a emergência das diferenças, dos conflitos e da singularidade do sujeito para, a partir disso, buscar trabalhar os investimentos que ele faz e o caminho que ele percorre, importantes para a construção do seu projeto terapêutico. Essa escuta é baseada numa relação de transferência e o acolhimento que ela porta difere do entendimento comum que é dado a esta noção dentro da própria clínica ampliada, onde acolher significar atender às demandas dos usuários do serviço. O acolhimento clínico está para além disso, na medida em que considera o desejo do sujeito, possibilitando que este trace seu próprio percurso e indique o direcionamento de seu tratamento. Atender às demandas pode ser o meio de impedir a emergência do desejo. Escutar é estar disponível a receber toda a criação do paciente, seja ela verbal ou não-verbal, seja uma coisa que ele pinte ou fale, seja um esporte que ele pratique. Enfim, qualquer linguagem com a qual ele esteja se expressando. 36 Ainda que o campo da saúde mental atualmente esteja marcado pela atenção psicossocial, a psicanálise tem influência neste campo, uma vez que contribui para as transformações das condições de tratamento e do lugar que o paciente ocupa nos novos dispositivos, ao chamar a atenção para a palavra do sujeito. Porém, sua presença nas instituições públicas ainda é restrita. Tradicionalmente formados para exercer a sua prática no consultório particular, os psicanalistas encontram dificuldades em construir estratégias de intervenção no contexto institucional, regido por orientações e normas que submetem o trabalho clínico com cada sujeito a injunções que lhe são externas. A prática do psicanalista na instituição não pode, de fato, resumir-se a reproduzir a aquela que desenvolve em seu consultório particular. Além disso, a clínica da psicose, ainda que em certos casos possa ser levada a efeito no consultório particular, está desde sua origem intimamente ligada à instituição, como importante lugar de referência e acolhimento para a deriva psicótica; por isso, os psicanalistas não devem recuar diante de nenhuma das duas. As dificuldades encontradas, contudo, levam alguns profissionais a se colocar de maneira tímida, como vemos no seguinte depoimento: Na clínica ampliada, tal como definida a partir da reforma psiquiátrica, a escuta assume um caráter compreensivo, buscando novas possibilidades para o sujeito se inserir no laço social, afastando-se, com isso, da proposta da psicanálise que valoriza a fala do sujeito, tendo em vista a abertura para suas próprias produções subjetivas, encaminhem-se elas ou não para a reinserção no laço social. Essa é a contribuição fundamentalque o saber psicanalítico traz para a reforma e para a mudança na forma de tratar em saúde mental, ao buscar a emergência de um sujeito singular através das noções de escuta e acolhimento. Preocupando-se em escutar o seu desejo; a psicanálise não se opõe, contudo, à luta pelos direitos, a partir do projeto de cidadania, mas traz este projeto para ser examinado caso a caso. 37 9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLPORT, Floyd Henry. Social Psychology. Boston: Houghton Mifflin Harcourt, 1924. BRASIL. Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. Livreto informativo sobre drogas psicotrópicas. 5 ed. Brasília: DF, 2010. BRASIL. Ministério da Saúde. Relatório Final da III Conferência Nacional de Saúde Mental. Brasília: Conselho Nacional de Saúde, 2002. BRASIL. Saúde e desenvolvimento da juventude brasileira: construindo uma agenda nacional. Brasília: Ministério da Saúde, 1999. CARVER, Charles; SCHEIR, Michael. Perspectives on Personality. 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