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Avaliação �sioterapêutica para o esporte Thiago dos Anjos Ferreira Descrição Avaliação dos parâmetros e das variáveis (quantitativas e qualitativas) principais para a prática de atividade esportiva. Propósito Identificar a exposição a situações que geram riscos e lesões, diretas ou indiretas, na prática esportiva profissional, amadora ou recreacional para traçar um plano de tratamento adequado. Objetivos Módulo 1 Enfoque biopsicossocial e a lesão Reconhecer a possibilidade de lesão pelo enfoque biopsicossocial. Módulo 2 Alterações e variáveis biomecânicas e a lesão Identificar as principais alterações e variáveis biomecânicas que envolvem a lesão. Módulo 3 Testes especiais e funcionais na prática esportiva Empregar os testes especiais e funcionais relativos à prática esportiva. Introdução Nos últimos anos, pessoas de diferentes idades, gêneros e composição corporal inseriram-se na atividade física. Inicialmente, muitos procuram a prática esportiva para melhorar a condição de saúde; outros buscam aprimorar sua performance ou até se profissionalizar em algum esporte. Evidentemente, a intensa procura pela prática de atividades esportivas trouxe benefícios à saúde das pessoas, mas também causou o aumento do número de lesões envolvendo o sistema musculoesquelético. Cada modalidade esportiva tem incidências distintas de lesões que afetam determinados segmentos corporais. Devemos, portanto, individualizar a abordagem investigativa tanto para a intervenção quanto para a prevenção de possíveis lesões. É também importante ter em mente que existem variáveis que interferem na segurança da prática de esportes, tanto a profissional de alto rendimento quanto a amadora e a recreacional. É o que veremos neste conteúdo. 1 - Enfoque biopsicossocial e a lesão Ao �nal deste módulo, você será capaz de reconhecer a possibilidade de lesão pelo enfoque biopsicossocial. Avaliação prévia pré-participação A avaliação inicial ou pré-participação deveria ser a prática usual de todos os que querem começar alguma atividade esportiva. A avaliação médica identifica fatores de risco de doenças cardiovasculares, a fim de reduzir a possibilidade de mal súbito/morte súbita. A avaliação fisioterapêutica também deveria ser procurada pelos praticantes, a fim de avaliar e identificar os preditores de lesões possíveis, como: mobilidade; estabilidade; mobilidade sob estabilidade; valências físicas como força e velocidade (potência); habilidade. Sabemos que se tornou habitual médicos e fisioterapeutas indicarem atividade física para seus pacientes como forma ou parte do tratamento em algumas situações clínicas como: dores crônicas, osteoporose, doenças metabólicas, obesidade, depressão, acometimentos ortopédicos e outras disfunções do aparelho locomotor. Mas será que todos podem praticar atividade esportiva? Existem restrições para algumas modalidades esportivas? Todos podem realizar os exercícios sem ponderar volume e intensidade dos treinos? Na avaliação pré-participação, do ponto de vista fisioterapêutico, quais seriam as variáveis importantes a serem analisadas? As perguntas são muitas, mas quando estivermos diante do praticante, devemos sempre saber por onde começar, como planejar e acompanhar, se quisermos atingir o objetivo proposto. Fatores de riscos que comprometem a prática desportiva Todos os praticantes, profissionais ou amadores, criam expectativas em relação aos resultados almejados. No entanto, essa meta tem que ser traçada previamente de acordo com os aspectos morfológicos e fisiológicos da pessoa, a idade, o gênero e a modalidade esportiva escolhida. Existe um protocolo estabelecido pela Diretriz de Cardiologia do Esporte da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e pela Sociedade Brasileira de Medicina Esportiva e do Exercício (SBME), em que se sugere uma análise prévia de acordo com a modalidade esportiva: profissional, amadora ou recreacional. Esse protocolo sugere uma anamnese bem conduzida, objetivando relato de: Dor ou desconforto torácico, síncope ou lipotimia (desmaios, perda transitória da consciência), palpitações (alterações do ritmo cardíaco), dispneia (falta de ar ou dificuldade de respirar). Histórico familiar de cardiopatias. Etilismo, tabagismo ou uso de drogas (lícitas e ilícitas), que se associam com fatores de risco modificáveis ou adquiridos que podem comprometer as habilidades funcionais (neuropsicomotoras) e cognitivas e a capacidade cardiovascular. A análise prévia inclui exame físico para verificar os sinais vitais (pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória e ausculta cardíaca) e exames complementares laboratoriais, eletrocardiograma, teste ergométrico, teste cardiopulmonar e ecocardiograma. Lesões musculoesquelética acontecem frequentemente na prática de atividade esportiva, principalmente quando se trata de ganho de performance em atletas profissionais, mas também em atividades moderadas em participantes amadores e recreacionais. Evidentemente, a natureza dessas lesões difere de acordo com o esporte praticado, porém a maioria ocorre em razão de uma combinação de fatores, e é muito difícil identificar o exato mecanismo que provocou a lesão. A lição é respeitar o equilíbrio entre capacidade e demanda, pois grande parte das afecções ocorre por sobrecarga tecidual ou baixa capacidade do atleta em realizar as atividades a que se propõe. Fatores de risco intrínsecos e extrínsecos para lesões no esporte Parte dos praticantes de esporte sofre lesões que normalmente afetam seu desempenho. Elas são causadas por dois tipos de fatores que requerem intervenções preventivas multifatoriais: Intrínsecos Extrínsecos Os fatores de risco intrínsecos são características endógenas, ou seja, características do próprio indivíduo: idade, gênero, peso, estatura, experiência na prática esportiva, habilidade cognitiva e motora para determinada modalidade esportiva. Os fatores de risco extrínsecos incluem nível de competição ou habilidade, esporte de contato/trauma, tipo de calçado, uso de equipamento, material esportivo, piso/superfície e condições climáticas. Quando se fala em idade como fator de risco para lesões, entende-se que o extremo de idade é mais vulnerável por questões �siológicas e morfológicas. Esportistas muito jovens são acometidos por lesões epifisárias (doença de Osgood-Schlatter, por exemplo) e condrais (condropatias de forma geral, por exemplo, a condromalácea patelar, quando afeta a cartilagem articular da patela). Já os esportistas idosos, quando não treinados/capacitados ou sedentários, estão submetidos a alterações ou afecções cardiovasculares, condições ortopédicas (fraturas por estresse ou osteoporose), além de acometimentos osteoarticulares degenerativos, como artroses. Atenção! Tanto jovens quanto idosos estão sujeitos a lesões musculares, por conta de condições estruturais, força, resistência e capacidade de suportar cargas impostas pelo exercício. Associam-se ao gênero feminino fatores biomecânicos, neuromusculares e hormonais. No futebol, por exemplo, as atletas têm quatro vezes mais chance de sofrer uma lesão ligamentar do joelho. Na corrida de rua, essa proporção extrapola o índice de um homem para sete mulheres lesionadas para a mesma intensidade e volume de treinos. A tríade da mulher atleta também é uma condição clínica que requer cuidados especiais e intervenção precoce e envolve: Esses três fatores podem levar a consequências graves como distúrbios alimentares (bulimia e anorexia), amenorreia (ausência de menstruação) e osteoporose. O Índice de Massa Corporal (IMC — peso X altura2) não se aplica no esporte, pois podemos ter atletas altos e pesados com percentual de gordura abaixo da classificação de obesidade. Assim, quando analisamos isoladamente o peso e a altura, podemos ter resultados que comprometem a habilidade, agilidade, performance e velocidade do atleta, trazendo risco eminente de lesão. Experiência, habilidade cognitiva e motora é um complexode características que se aplica desde a base do movimento humano, desenvolvimento neuropsicomotor ou aprendizado motor, até a prática em alta performance de determinada modalidade esportiva. A experiência na prática esportiva determinada pela perfeita execução do gesto esportivo requer uma série de adaptações neuromusculares e cognitivas. Automatizar o movimento é algo que requer tempo de prática, que só se aprimora com tentativas e erros, determinados pelo treinamento específico de cada modalidade. Baixa disponibilidade energética, com ou sem distúrbio alimentar; Disfunção menstrual; Baixa densidade mineral óssea. Portanto, a falta de habilidade cognitiva e motora pode deixar o praticante vulnerável a possíveis lesões desportivas. Existem outros preditores intrínsecos de lesões descritos na literatura, que envolvem: mobilidade, estabilidade, mobilidade sob estabilidade, valências físicas como força e velocidade, que juntas são referidas como potência. Saiba mais O participante de atividade esportiva, seja amadora, recreativa ou profissional, deve passar por uma triagem investigativa, a fim de sejam identificados fatores de riscos tanto para mal súbito quanto para lesões musculoesqueléticas prévias. Com base nos resultados dessa avaliação, a prescrição das atividades deve considerar o volume e a intensidade da prática, a capacidade de força, o controle de carga e os exercícios específicos. Enfoque biopsicossocial Devemos ter uma visão holística durante o processo de avaliação, inspeção e abordagem terapêutica, mas como funciona esse processo? Grosso modo, a abordagem biopsicossocial ajuda a entendermos como funciona o ser humano em relação aos aspectos. Veja a seguir: Biológicos Estrutura morfológica, capacidade neuropsicomotora, condição física e habilidades. Psicológicos Habilidade emocional, como lida com conquistas e frustrações e num ambiente de competição e pressão em alto rendimento. Sociais Fatores culturais, socioeconômicos, influências do ambiente de trabalho, da família e do meio onde vive. Já falamos das influências dos fatores intrínsecos e extrínsecos no esporte. Devemos entender que os fatores psicológicos também influenciam o desempenho físico, assim como a participação em atividades esportivas afeta o desenvolvimento emocional, a saúde e o bem-estar. O enfoque biopsicossocial quebra o paradigma de que o ser humano é segmentado em estruturas corporais. Defende que o corpo e o desempenho reagem sobre os diversos aspectos psicoemocionais e isso tem influência em performance e desempenho, como também na incidência de lesões. Aspectos psicossociais da lesão esportiva O participante de atividade esportiva deve estar ciente de que as lesões fazem parte de seu cotidiano, qualquer que seja o nível da atividade. A forma como cada um encara esse processo é extremamente importante para o desfecho clínico da lesão e do processo de reabilitação. Cabe ao profissional esclarecer como funciona esse processo e o impacto que uma lesão pode causar ao atleta amador ou recreacional: pode impactar no desempenho do seu trabalho (profissão), afetando o aspecto socioeconômico e até mesmo a rotina familiar. Em caso de atletas profissionais de alto rendimento, o afastamento das atividades esportivas não só prejudica o aspecto socioeconômico e familiar, como também pode levar a uma aposentadoria precoce. Comentário Entender o ponto de vista psicológico do praticante de atividade esportiva significa integrar todo o sistema funcional e emocional, e não apenas quantificar os valores dos testes clínicos e funcionais. Hoje, a ciência conseguiu mostrar que, na fase final ou de transição para o retorno ao esporte, é extremamente importante assegurar que o aspecto emocional, que tange a segurança na prática esportiva, esteja íntegro. Algumas condições podem atrapalhar o retorno. A cinesiofobia é um dos mais importantes fatores psicossociais que contribuem para a incapacidade funcional e o prognóstico desfavorável da evolução clínica de pacientes com queixa de dor musculoesquelética crônica. Psicólogos descreveram a cinesiofobia clinicamente na década de 1990 e seu impacto negativo nas dimensões cognitivo-afetivas. Foi definida, inicialmente, como medo excessivo, irracional e debilitante do movimento e da atividade física, que resulta em sentimentos de vulnerabilidade a uma lesão dolorosa ou à reincidência de uma lesão. Anos depois, alguns pesquisadores definiram cinesiofobia como medo específico do movimento ou da atividade física que é (erroneamente) definida como causa de reincidência de lesão. Avaliação A avaliação do quadro cinesiofóbico, ou até psicossocial, deve seguir a anamnese convencional, correlacionando a queixa principal, a história da doença atual, o histórico patológico pregresso, o histórico familiar e social e aplicar o questionário específico para cinesiofobia e alterações psicoemocionais. Os objetivos da avaliação é coletar informações sobre aspectos cognitivos, comportamentais e psicofisiológicos da experiência dolorosa; compreender o papel da dor relacionada ao medo na manutenção das queixas; e descobrir a interferência nas atividades da vida diária (AVD). Confira a seguir um exemplo: Descreva sua dor atual (qualidade afetiva, gravidade, localização e características ao longo do dia). Quais as consequências da sua dor nas atividades diárias? (trabalho, casa, família, casamento, lazer, social). Quando a dor começou? (aprendizado experimental, evento traumático). Como a dor se comporta ao longo do tempo, desde o começo até agora? (mudanças, episódios intermitentes, número de episódios, aumento progressivo). O que faz sua dor aumentar ou diminuir? Você tem controle sobre a sua dor? O que você faz quando a dor piora? (fuga, comportamento de evitação, manutenção da rotina). O que você deixou de fazer por causa da dor? (comportamento de evitação). Como outras pessoas percebem que você está com dor? (comportamento que expressa dor). Como outras pessoas agem quando observam você sentindo dor? (reforços sociais). O que mudou na sua vida desde que começou a ter dor? (reforço negativo). O que você acha que está acontecendo com seu corpo? O que você acha que está causando a dor? (interpretações catastróficas). Por que você acha que essas são as causas de sua dor? (aprendizado verbal e por observação). O que seu médico/fisioterapeuta disse sobre a causa de sua dor? (aprendizado verbal). Roteiro de avaliação O que aconteceria se você continuasse em suas atividades diárias apesar da dor? (dor como ameaça). O que você acha que pode acontecer com sua dor num futuro próximo? (expectativas) O que você deseja alcançar com esse tratamento? (metas). Questionário Especí�co A abordagem da avaliação fisioterapêutica para o esporte é multidisciplinar, porém há questionários específicos para orientar quanto ao nível do medo de exposição à atividade esportiva pós-lesão. Dica Existem instrumentos clínicos referenciados para a mensuração das crenças de medo e evitação, como Escala Tampa de Cinesiofobia (TSK, Tampa Scale of Kinesiophobia), Questionário de Crenças de Medo e Evitação (FABQ, Fear Avoidance Beliefs Questionnaire), Pain Anxiety Symptoms Scale, Fear Avoidance Pain Scale, Fear Pain Questionnaire, Brief Fear of Movement e Fear Avoidance Components Scale. Somente os dois primeiros são validados para o português do Brasil. Os domínios catastrofização, depressão e ansiedade também podem ser avaliados utilizando-se, respectivamente, a Escala de Pensamentos Catastróficos sobre Dor, o Inventário Beck de Depressão/Inventário Beck de Ansiedade e a Escala Hospitalar Anxiety and Depression. Fatores de predisposição de lesão no praticante de esporte Neste vídeo, o especialista falará resumidamente sobre o esportista levando em consideração o enfoque biopsicossocial que envolve a lesão ou a possibilidade de lesão. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Um dos fatorespsicológicos que prejudica a capacidade funcional e a evolução clínica de pacientes com dor crônica musculoesquelética é: Parabéns! A alternativa D está correta. A cinesiofobia é um dos mais importantes fatores psicológicos e sociais que contribui diretamente para um prognóstico ruim sobre a evolução clínica e a incapacidade funcional de pacientes com queixa de dor musculoesquelética crônica. A Crença de lesão oculta pelo medo. B Depressão. C Experiências passadas. D Cinesiofobia. E Crença sobre lesão curada. Questão 2 Assinale a alternativa que contém os números que correspondem a fatores de riscos não modificáveis para a prática de atividade esportiva amadora e profissional. 1) Etilismo. 2) Dor ou desconforto precordial. 3) Histórico familiar de cardiopatia. 4) Síncope. 5) Baixa capacidade cardiorrespiratória. Parabéns! A alternativa B está correta. Fatores de riscos modificáveis comprometem a prática durante um período. Por exemplo, o etilismo pode deixar de ser um fator de risco, bem como a capacidade cardiorrespiratória pode ser melhorada com a prática gradativa e progressiva de atividade esportiva. Os fatores de riscos não modificáveis, como dor ou desconforto precordial, histórico familiar de cardiopatia e síncope, não se limitam a determinado período. A 1, 2 e 3. B 2, 3 e 4. C 3, 4 e 5. D 1, 4 e 5. E 1, 3 e 4. 2 - Alterações e variáveis biomecânicas e a lesão Ao �nal deste módulo, você será capaz de identi�car as principais alterações e variáveis biomecânicas que envolvem a lesão. Incidência de lesão A lesão desportiva ocorre como resultado de uma soma de fatores. Mensurar uma relação linear entre causa e efeito não traduz a origem exata do processo que gera uma lesão. O efeito somatório da constante exposição a esforços repetitivos é que gera agressões ao organismo. Os desequilíbrios musculares são resultantes dessas ações repetitivas. Eles aparecem como vilões na origem das lesões. O desajuste entre o que uma ação motora específica demanda e a capacidade em realizá-la é determinante no processo de desenvolvimento de uma lesão. A prevalência de lesão no esporte encontra-se nos membros inferiores. As lesões musculares têm maior incidência: em primeiro lugar, os músculos isquiotibiais, seguidos por adutores de quadril, lesões no joelho (o ligamento cruzado anterior com alto risco de lesão) e tornozelo (o ligamento talofibular anterior é o mais atingido). Esses acontecimentos estão associados a princípios físicos, como força de reação do solo, força da gravidade, aceleração, momento, força de parada, deslocamento do centro de massa, atrito e princípios de alavanca. Comentário A maioria dos esportes proporciona constantes mudanças de direção e contato físico e permite entender o aparecimento de determinadas patologias. O atleta fica exposto a lesões traumáticas e por sobrecarga. Em 2005, um modelo de avaliação pré-participação foi desenvolvido e publicado por várias sociedades, como a American College of Sports Medicine e a American Academy of Pediatrics. Esse documento foi endossado pelo Special Olympics Medical Committee como padrão para a participação de atletas. Isso ilustra a crescente preocupação das organizações e autoridades esportivas com o processo de prevenção das lesões do esporte. Esse modelo pode ser adaptado para praticantes amadores ou recreacionais. Uma vez que o fisioterapeuta adote um modelo de avaliação, o planejamento deve incluir testes que possibilitem identificar a capacidade do atleta e/ou a demanda de atividade proposta, ou seja, avaliar a capacidade de o atleta suportar a demanda de atividade. Dessa forma, é necessário seguir quatro passos para o planejamento de intervenções preventivas. Veja a seguir: Passo 1 Identificar a incidência e a severidade das lesões no esporte. Passo 2 Estabelecer a etiologia e o mecanismo de lesão. Passo 3 Introduzir medidas preventivas. Passo 4 Avaliar a efetividade dos programas preventivos por meio da análise de incidência das lesões (retornar ao passo 1). Tendo em vista essa sequência de ações, a relação entre capacidade e demanda permite melhor entendimento do mecanismo de lesão (Passo 2), juntamente com as evidências científicas sobre a etiologia das lesões. Assim, a avaliação pré-participação é a fase inicial do Passo 3, pois, antes de iniciar as intervenções preventivas, torna se necessário avaliar cada atleta, a fim de identificar os fatores a serem incluídos nos programas preventivos. Portanto, o raciocínio clínico de capacidade e demanda complementa o modelo proposto por Van Mechelen, porque possibilita uma visão mais dinâmica do processo de lesão. Mecanismos diretos e indiretos Os mecanismos de lesões variam de acordo com: a modalidade esportiva; o gesto; o preparo; e a intensidade da prática. Mecanismos diretos de lesão Esse tipo de lesão é mais comum em praticante de esportes coletivos, por contato direto com outro participante. Geralmente classificado como lesão traumática e aguda, tem como desfecho fraturas, luxações, subluxações, contusões musculares, entorses e concussão (trauma na cabeça). Na prática desportiva, temos como causa de fraturas o contato direto com outro participante, quedas e entorses seguidos de fraturas traumáticas ou por avulsão. Os locais de fraturas variam de acordo com o esporte e/ou mecanismo de alavancas. Portanto, existe uma regra a ser seguida para a identificação de um possível surgimento de fratura, que é a regra de Ottawa. A regra de Ottawa fornece diretrizes sobre a recomendação de exames radiográficos para verificar fraturas em pacientes com lesões no joelho ou tornozelo. O uso dessa regra por profissionais na emergência foi sugerido para minimizar solicitações desnecessárias de exames radiográficos e reduzir o tempo de permanência dos pacientes em departamentos de emergência. Confira a seguir como essa regra de Ottawa deve ser utilizada: Primeiramente, devemos analisar o mecanismo da lesão, que geralmente está associado a um entorse severo de tornozelo tanto para inversão quanto para eversão, como também trauma direto no segmento. A avaliação consiste em: incapacidade de dar quatro passos sobre o membro afetado, palpação dolorosa em terço distal (últimos 6 cm) da fíbula e tíbia, palpação dolorosa no osso navicular e base do quinto metatarso. Os mecanismos mais comuns para a lesão do joelho são o traumatismo direto, a queda e a torção. De todas as lesões do joelho, as torções representam 75% do total. No entanto, 86% das fraturas do joelho têm origem num evento por traumatismo direto. Por isso, qualquer indivíduo adulto com dor aguda no joelho decorrente de um traumatismo direto deve efetuar radiografia, se for verificado pelo menos um dos seguintes critérios: idade superior a 55 anos, dor à palpação na cabeça da fíbula, dor isolada no corpo patelar, incapacidade para flectir o joelho até 90°; incapacidade para suportar o peso imediatamente após a lesão; incapacidade de caminhar quatro passos completos no momento da avaliação (CHEUNG et al., 2013). Nas demais possibilidades de fratura, devem ser analisados a incapacidade funcional do membro afetado, a presença de deformidade e os exames de imagem. Luxação ou subluxação e lesões musculares devem Para o tornozelo Para o joelho ser avaliadas, caso a caso, com testes clínicos especiais para cada segmento, como veremos no próximo módulo. A concussão cerebral e/ou trauma direto na cabeça, que causa perda momentânea de consciência, estão presentes na maioria dos esportes de contato. Existem órgãos esportivos, como a Federação Internacional de Futebol (FIFA), que colocam regras severas quando há este tipo de acometimento em uma partida oficial de futebol. O atleta é impedido de retornar à partida e encaminhado ao serviço de emergência para exames detalhados (até mesmo por imagens). Devemos examinar os pacientes que passaram por um evento concussivo potencial recente em busca de sinais de emergência médica ou patologiagrave (por exemplo, lesão cerebral mais séria, condições médicas ou lesão da coluna cervical) que justifiquem uma avaliação mais aprofundada por outros profissionais de saúde. Comentário Para pacientes que tiveram um evento concussivo e relataram tontura, vertigem e/ou dor de cabeça, os fisioterapeutas devem examinar cuidadosamente as fontes de disfunção da coluna cervical e torácica, disfunção vestibular e oculomotora e hipotensão ortostática/disfunção autonômica que podem contribuir para o surgimento ou a exacerbação desses sintomas. Os sintomas agudos da concussão (minutos iniciais pós-lesão) resultam, tipicamente, em perturbações neurológicas, tais como: perda da consciência, cefaleia, tontura, perturbações e confusões mentais, déficit de atenção e da capacidade de processar informação. O tempo de reação alterado/diminuído e o aumento da variabilidade das respostas estão também entre os principais sinais e sintomas agudos. Os sintomas agudos comuns da concussão nas primeiras 24 horas são: cefaleia, náuseas, tonturas, desequilíbrio, visão desfocada, perda da memória visual e fadiga. Nos dias posteriores à lesão, cansaço, irritabilidade, nervosismo, ansiedade, distúrbios do sono, sensibilidade à luz e sensibilidade ao ruído. Os atletas com histórico de concussão e perda da consciência têm seis vezes mais chances de sofrer uma nova concussão em comparação àqueles que não tiveram perda da consciência. As verdadeiras razões não estão bem elucidadas, mas o estilo de jogo, o posicionamento em campo, a idade e o nível de participação podem predispor o atleta e torná-lo mais suscetível a uma nova lesão. Mecanismos indiretos de lesão Os mecanismos indiretos de lesão ocorrem na ausência de contato e são observados mais frequentemente em modalidades esportivas que exigem esforço físico muitas vezes além da capacidade do corpo. Valências físicas como resistência, força, velocidade e potência exigem adaptação e capacitação do aparelho locomotor para a realização do gesto esportivo específico da modalidade. Curiosidade Estudos mostram que o não entendimento do volume e da intensidade de treino pode ser um preditor para lesões indiretas/atraumáticas. É difícil compreender e identificar sua causologia ou fisiopatologia, tornando o tratamento ou a intervenção muitas vezes empírica ou não assertiva. Quando falamos de mecanismos indiretos de lesão, é importante saber qual é o gesto esportivo predominante e a ocorrência das principais lesões na modalidade específica do participante, levando em consideração que nem sempre amadores e profissionais apresentam o mesmo tipo de lesão. Portanto, diversas variáveis influenciam no tipo de lesão com mecanismos indiretos. A incidência da lesão muda até na mesma modalidade esportiva. O fisioterapeuta deve ter expertise para identificar as diferenças no gesto predominante para cada atleta, como podermos ver a seguir: Futebol Um dos esportes mais praticados no mundo, o futebol pode ter diversas modalidades, a mais conhecida tem 11 jogadores, cada um em posicionamentos e com gestos esportivos diferentes. Além dessas diferenças, ainda o tipo de piso, o material esportivo e o tempo da prática podem influenciar na predominância de determinada lesão. Corrida de Rua Segue também critérios diferentes para cada modalidade de corrida, levando em consideração o tempo de prática, a velocidade e a distância. Terrenos irregulares, aclives e declives, tipos de solo/piso também influenciam o tipo específico de lesão. Natação Esporte basicamente composto por quatro estilos: livre (crawl), costas, borboleta e peito. O livre é o mais praticado, até mesmo para treino combinado com os demais estilos. Esses estilos combinam movimentos de braços, pernas e estabilidade ou posicionamento de tronco. Geralmente, na natação, as causas mais comuns de lesão são por erro da técnica, aumento do volume e intensidade dos treinos. Ciclismo O surgimento de lesões acompanha o crescimento desse esporte. No ciclismo, há modalidades diferentes e tipos de equipamentos (bicicletas) que determinam o posicionamento do atleta, a velocidade, a distância percorrida, o terreno e até mesmo a intensidade dos impactos sofridos pelo participante em sua modalidade. Em todas as modalidades esportivas, devemos entender como funcionam o gesto esportivo e a disposição do treino (volume e intensidade), haja vista que são preditores de lesão em mecanismos indiretos. Durante a prática esportiva, o corpo do atleta (cadeia cinética) é submetido a forças internas (forças musculares, articulares, inércias e intersegmentares) e forças externas (força de reação do solo e de impacto). Essas forças devem ser dissipadas ou transferidas de maneira adequada entre os segmentos e os tecidos do corpo, para garantir a eficiência do movimento e a integridade estrutural. Entretanto, se ocorre uma distribuição inadequada dessas forças pela cadeia cinética, o risco de lesão aumenta, uma vez que pode ocorrer concentração de energia em um tecido ou uma articulação. O salto, por exemplo, gesto comum em várias modalidades esportivas, como voleibol, basquetebol e ginástica, impõe altas cargas aos tendões, articulações e músculos dos membros inferiores (MMII). Os padrões de movimento pouco funcionais, alterações no controle neuromuscular e na força podem predispor a lesões do sistema musculoesquelético, como as destacadas a seguir: Mobilidade reduzida (Amplitude de Movimento); Assimetria anatômica; Estabilidade insuficiente do CORE (estrutura responsável pela estabilização de um segmento), reduzido controle neuromuscular. É consensual entre autores que pesquisam lesões no esporte que devemos levar em consideração, principalmente em lesões com mecanismos indiretos, a mobilidade segmentar, a estabilização, a mobilidade sob estabilidade, a habilidade funcional e as valências físicas como força, velocidade e potência. Mecanismos de lesão Neste vídeo, o especialista falará resumidamente sobre as principais alterações e variáveis biomecânicas que envolvem a lesão. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Leia as assertivas a seguir sobre concussão. 1 – A concussão envolve processos fisiopatológicos complexos no cérebro que podem levar a danos neurológicos inesperados e podem, ou não, resultar em perda da consciência. 2 – No esporte, a concussão é conhecida como “lesão silenciosa” e causa uma preocupação cada vez maior em todo âmbito esportivo mundial. 3 – A concussão é o termo histórico referente a lesões de baixa velocidade que causam movimentos no cérebro, resultando em sintomas clínicos que não estão necessariamente relacionadas com uma lesão patológica. Estão corretas as afirmativas: A Apenas a 1 e 2. B Apenas a 1 e 3. C Apenas a 1. D Apenas a 2. E Apenas a 2 e 3. Parabéns! A alternativa A está correta. As afirmativas 1 e 2 estão corretas. A concussão está atrelada à maioria dos esportes de contato. A FIFA, por exemplo, impõe regras severas no futebol quanto a este tipo de acometimento. Porém, a afirmação 3 está incorreta, pois a concussão é o termo histórico referente a lesões de alta velocidade que causam movimentos no cérebro, resultando em sintomas clínicos e que não estão necessariamente relacionados com uma lesão patológica. Questão 2 Sobre as lesões no esporte, assinale a alternativa correta: Parabéns! A alternativa C está correta. A prática esportiva traz uma série de benefícios para a saúde, mas também pode levar a consequências desfavoráveis, como as lesões. Quando alguém pratica um esporte, independentemente de ser iniciante A Qualquer atleta sofre lesões em qualquer modalidade esportiva. B A prevenção das lesões no esporte não é algo de importância na atuação do fisioterapeuta. C Sempre há probabilidade de ocorrer lesões no esporte, dependendo da modalidade esportiva. D Nas modalidades esportivas, as possibilidades de lesões são nulas. E Não existe relação entre a modalidade esportivae o tipo de lesão mais frequente. ou experiente, está sujeito a sofrer uma lesão. Por mais que haja maneiras de reduzir os riscos de lesões no esporte, não é possível eliminá-los, pois sempre há probabilidade de ocorrerem lesões. 3 - Testes especiais e funcionais na prática esportiva Ao �nal deste módulo, você será capaz de empregar os testes especiais e funcionais relativos à prática esportiva. Importância da avaliação funcional Vimos no módulo 1 que existem fatores intrínsecos preditores de lesão no esporte. Mas temos recursos, com objetivos variáveis, que avaliam tanto qualitativa (bom, ruim, instável, estável etc.) quanto quantitativamente (graus de amplitude de movimento, força muscular, scores de testes, tempo, velocidade etc.). A identificação de preditores (a possibilidade de lesão), a qualidade da habilidade funcional e de padrões de movimentos (principalmente quando há lesões de estruturas em segmento muscular, tendíneo, capsular, ligamentar etc.) e a orientação nos parâmetros de alta no tratamento e retorno à atividade esportiva (que se divide em três etapas: retorno à participação, retorno ao esporte e retorno à performance). Para que possamos conduzir da melhor forma possível a prevenção, o tratamento e a transição para alta no tratamento, é necessário traçar um plano terapêutico em curto, médio e longo prazos. O primeiro passo é a avaliação, embora, muitas vezes, seja ignorada pelo profissional. Quanto ao plano terapêutico, primeiramente, cabe definir os testes clínicos (especiais) para identificar uma possível lesão estrutural e os testes funcionais para identificar o que a ausência daquela estrutura traz de perda funcional para o atleta. Feitas essas identificações, devemos qualificar e quantificar os testes, para que tenhamos critérios de evolução e condução dos trabalhos até a alta no tratamento. Comentário Sem a realização dos testes, fica extremamente empírica a condução dos trabalhos, pois perde-se a referência de prognóstico — se está havendo melhora ou até mesmo se há possibilidade de retorno ao esporte. Veremos a seguir os principais testes validados pela ciência seguindo a regra: mobilidade, estabilidade, mobilidade sob estabilidade e habilidade funcional. Os testes funcionais são uma ferramenta útil e de baixo custo, além de uma prática que pode ser utilizada na clínica para prover informações sobre a habilidade funcional e de desempenho de segmentos corporais (TUCCI et al., 2014). Testes de mobilidade A rigidez articular é uma propriedade mecânica representada pela mudança no torque de resistência de uma articulação quando é movida (por forças externas ou internas do sistema musculoesquelético). É uma propriedade influenciada tanto pela resistência dos tecidos passivos em torno da articulação como pelo nível de ativação muscular. A baixa rigidez articular pode representar uma reduzida capacidade de resistência à movimentação, manifestando-se em movimentação articular excessiva, ao passo que a rigidez muito elevada pode resultar em restrições importantes em uma articulação e no surgimento de compensações ao longo da cadeia cinética. As articulações do quadril e do ombro são bons exemplos de articulações cujas alterações da rigidez são comuns e podem afetar a movimentação de toda a cadeia de movimento durante a prática As hipomobilidades podem ser avaliadas de duas maneiras: por inspeção e comparação direita/esquerda ou por testes manuais, avaliando o end-feel (sensação final) articular, que é de extrema importância para as restrições de movimento. Toda restrição de movimento gera um excesso de mobilidade em outros segmentos, sejam inferiores ou superiores ao “segmento bloqueado”. Ou seja: toda hipomobilidade gera uma hipermobilidade compensatória, podendo comprometer outros segmentos articulares, como pode ser verificado a seguir: Exemplo Um bloqueio articular no tornozelo, como o déficit da flexão dorsal em cadeia cinética fechada, pode gerar uma sobrecarga no joelho favorecendo a tendinopatia patelar e até mesmo um aumento da pressão patelofemural (atrito patelofemural); uma restrição na mobilidade do quadril gera sobrecarga lombar; uma restrição no ombro gera sobrecarga na coluna cervical. Mobilidade do joelho O joelho é o segmento mais estável dos membros inferiores. Sua mobilidade deve ser mantida ou restabelecida, para que ocorram os movimentos fisiológicos sem compensação ou sobrecarga em outros segmentos. Podemos avaliar este segmento ativa ou passivamente e, também, em um contexto funcional, a fim de que os resultados sejam fidedignos e associados com uma possível sintomatologia. A avaliação também pode servir somente para a coleta de dados para verificações futuras. Quando avaliamos ativamente, essa mensuração pode ser sentada ou em decúbito dorsal para verificar a flexão e a extensão dos joelhos. Os resultados da flexão são de 0-135° e da extensão de 0-(-15°), valores estes verificados na goniometria – técnica e prática de medir ângulos. Geralmente mulheres tendem a ter a extensão de joelhos em -15°, considerado dentro dos padrões de normalidade. Na ausência da mobilidade de flexo-extensão, temos o joelho em flexo (quando há déficit de extensão completa) e joelho em recurvato (quando há extensão excessiva além dos valores normais). Essas alterações são melhor visualizadas com o atleta em pé e perfil: A) Geno flexo; B) Geno recurvato. A mobilidade patelofemural pode estar associada a algumas dessas alterações da mobilidade de flexão e extensão de joelho. Sua avaliação é feita de modo passivo, realizando o deslizamento lateral e medial dos dois membros, para verificar se há alguma assimetria em sua mobilidade. Normalmente, a patela deve mover-se até a metade de sua largura medial e lateralmente com o joelho em extensão. O teste deverá ser realizado também com o joelho a 45°, pois essa angulação é mais funcional. Teste de mobilidade patelofemural. É interessante que a avaliação ativa de flexo-extensão de joelhos seja realizada também com movimentos ativos resistidos, para tentar reproduzir uma possível dor no joelho, e em cadeia cinética fechada com agachamento. Mobilidade de quadril A articulação do quadril é uma das maiores do corpo, tem uma grande dimensão de amplitude de movimento, porém muito estável. Alterações em alguma estrutura do quadril facilmente são notadas por sua importância na marcha, resultando em marcha antálgica ou claudicante. Como as alterações no quadril podem ter relação com a sacroilíaca e lombar, a avaliação desses três segmentos é necessária para compor o diagnóstico funcional. Os movimentos ativos do quadril por vezes são avaliados em diversas posições. A posição supina (decúbito dorsal) é predominante para avaliar flexão, adução, abdução, rotação lateral (externa) e, em alguns casos, até a extensão. Já em prono (decúbito ventral), consegue-se avaliar melhor a extensão e a rotação medial (interna). As rotações também podem ser avaliadas em posição sentada. As referências de mobilidade ativa são: flexão 110°-120°, extensão 10°-15°, abdução 20°-50°, adução 30°, rotação lateral 40°-60° e rotação média 30°-40°. Os testes podem ser realizados com posturas sustentadas, movimentos repetitivos e movimentos combinados. Movimentos ativos do quadril. Teste de �exibilidade de isquiotibiais Neste teste, o atleta é posicionado em decúbito dorsal, com uma perna estendida e relaxada, enquanto o membro contralateral é posicionado pelo avaliador a 90o de flexão de quadril. O avaliador deve conter o membro não avaliado e a lombar juntos à maca de avaliação. O joelho deve ser estendido até a primeira resistência. Neste momento, o avaliador verifica a amplitude de extensão de joelho por meio do inclinômetro, posicionado a 5cm da tuberosidade da tíbia. Valores de referência são 134° para homens e acima de 160° para mulheres. Teste de flexibilidade de isquiotibiais. Mobilidade lombar Na avaliação da coluna lombar, há muitas possibilidades fisiopatológicas.Muitas vezes, as dores referidas nos membros inferiores são de origem lombar. Em virtude da localização estratégica no corpo, essa estrutura deve ser avaliada em qualquer investigação patológica dos membros inferiores. Portanto, é importante o entendimento da rede neurológica envolvida, como o mapa de dermátomos e miótomos. A avaliação da mobilidade da coluna lombar é necessária, pois há a possibilidade de ser fator causal de algumas perturbações (dor e desconforto) que comprometem as habilidades funcionais do atleta na prática desportiva. A possibilidade de a hipo ou hipermobilidade causar alguma alteração sensorial ou motora não quer dizer que todos que cursam com hipo ou hipermobilidade terão algum comprometimento na lombar ou em membros inferiores. Além de avaliar a mobilidade da coluna lombar, também é necessária a avaliação sensorial e motora. Durante a inspeção, é importante observar as alterações das curvaturas fisiológicas da lombar e também dos outros segmentos da coluna vertebral, procurando notificar se há presença de alguma alteração patológica nessas estruturas como: hiperlordose, hipercifose, retificações, inversões de curvas e escoliose. Essas alterações posturais podem influenciar na restrição ou no excesso de mobilidade. Os movimentos ativos são efetuados com o paciente em pé. O examinador procura diferenças na movimentação e na disposição do paciente em realizar o movimento. Enquanto o paciente realiza os movimentos ativos, o examinador procura a limitação de movimento e suas possíveis causas, como dor, espasmo, rigidez ou bloqueio. Os movimentos ativos da lombar se dispõem em: flexão para frente 40°-60°; extensão 20°-35°; inclinação lateral esquerda e direita 15°-20°; rotações direita e esquerda 3°-18°. Movimento I Movimento II Movimento III Movimento IV Movimento V Movimento VI Movimento VII Mobilidade do ombro A articulação do ombro possui a maior mobilidade no corpo. Envolve a articulação glenoumeral, as subacromial, acromioclavicular, escapulotorácica e externo-clavicular. A avaliação da região do ombro muitas vezes requer uma avaliação da coluna cervical, a fim de excluir a possibilidade de sintomas referidos no ombro provenientes de algum acometimento na coluna cervical, seguindo o entendimento do mapa de dermátomos e miótomos. Para haver uma movimentação adequada e fisiológica da articulação do ombro, deve haver não só a integração da coluna cervical, como também as outras articulações que compõem o ombro. Entretanto, hipomobilidade, instabilidade ou alterações no ritmo articular podem comprometer a dinâmica do ombro. Como em qualquer avaliação, o avaliador deve comparar um membro com o outro, por causa das diferenças individuais de cada atleta. Os movimentos ativos do complexo do ombro se dispõem como: elevação por meio da abdução 170°-180°; elevação por meio de flexão para a frente 160°-180°; elevação por meio do plano escapular 170°-180°; rotação lateral (externa) 80°-90°; rotação medial (interna, 60°-100°; extensão 50°-60°; adução 50°-75°; adução/abdução horizontal (flexão e extensão cruzada) 130°; circundução 200°. Movimentos no complexo do ombro. Sistema de movimento funcional (FMS) Functional movement screen (FMS) ou sistema de movimento funcional foi criado para identificar e quantificar disfunções em indivíduos que tenham desenvolvido movimentos compensatórios em sua cadeia cinética durante atividades funcionais. Essa identificação é feita com base em observações realizadas de forma unilateral (em que são comparados resultados obtidos entre os dois lados da cadeia cinética), a fim de se comparar déficits e desequilíbrios musculares, motores e/ou proprioceptivos. O FMS é composto por sete padrões de movimento multiarticular, desenvolvidos para avaliar e pontuar movimentos funcionais, incorporando sequência de movimentos dos MMII (membros inferiores) e dos MMSS (membros superiores) que requerem coordenação e estabilidade do tronco e da pelve. Além disso, esses testes incorporam vários domínios do movimento humano, como força, controle motor, equilíbrio e simetria. O atleta pode executar a habilidade utilizando padrões de movimento compensatórios para superar as ineficiências de estabilidade ou mobilidade. O padrão de movimento compensatório pode ser então reforçado ao longo do processo de treinamento. O teste é composto por sete padrões de movimentos: Os movimentos podem ser vistos a seguir: Agachamento profundo (deep squat). Passo por cima da barreira (hurdle step). Avanço em linha reta (in-line lunge). Mobilidade de ombro (shoulder mobility). Estabilidade rotacional (rotatory stability). Elevação de perna estendida (active straight leg raise). Estabilidade de tronco (trunk stability). Os sete padrões de movimento do sistema de movimento funcional (FMS). A pontuação para o FMS consiste em quatro possibilidades. As pontuações variam de zero a três, sendo três a melhor pontuação possível: Zero Sentir dor ao executar o movimento. O examinador deve anotar o segmento para avaliação. Um Ser incapaz de completar o padrão de movimento ou de assumir a posição para realizar o movimento. Dois Ser capaz de completar o movimento, mas compensar de alguma forma para realizar o movimento fundamental. Três Executar o movimento corretamente sem qualquer compensação. Os padrões de movimento alterados têm o potencial de levar a mais desequilíbrios de mobilidade e estabilidade, que foram previamente identificados como fatores de risco para lesões. Uma explicação alternativa para o desenvolvimento de padrões de movimento insuficientes é a presença de lesões anteriores. Indivíduos que sofreram uma lesão pregressa podem ter diminuição da propriocepção, quando não foi tratada ou tratada de forma inadequada. Atenção! FMS é uma triagem de padrão de movimento. Não informa ao profissional quais fatores devem ser utilizados na intervenção preventiva ou de reabilitação. A pontuação para o FMS consiste em quatro possibilidades. As pontuações variam de zero a três, sendo três a melhor pontuação possível. Agachamento profundo (deep squat) O agachamento é um movimento necessário na maioria dos eventos esportivos. É a posição pronta e necessária para a maioria dos movimentos de força envolvendo as extremidades inferiores. O teste agachamento profundo desafia a mecânica total do corpo quando realizado de maneira adequada. É usado para avaliar a mobilidade bilateral, simétrica e funcional dos quadris, joelhos e tornozelos. O bastão colocado acima da cabeça avalia a mobilidade bilateral simétrica dos ombros e da coluna torácica. Deve-se observar também a simetria do complexo dos MMII, o tipo de compensação do tornozelo, joelho e quadril, a postura de tronco e a mobilidade de ombro. Agachamento profundo. Passo por cima da barreira (hurdle step) O passo de barreira é projetado para desafiar a mecânica de passada adequada do corpo durante um movimento de passo. O movimento requer coordenação adequada e estabilidade entre os quadris e o tronco durante a passada, bem como estabilidade de apoio unipodal. A etapa de barreira avalia a mobilidade funcional bilateral e a estabilidade dos quadris, joelhos e tornozelos. Passo por cima da barreira. A realização do teste do degrau com barreira requer estabilidade da perna de apoio do tornozelo, joelho e quadril, bem como a extensão máxima da cadeia cinética fechada do quadril. A etapa de barreira também requer dorsiflexão em cadeia cinética aberta da perna de passo do tornozelo e flexão do joelho e quadril. Além disso, o atleta também deve apresentar equilíbrio adequado, pois o teste impõe a necessidade de estabilidade dinâmica. Avanço em linha reta (in-line lunge) O avanço em linha reta tenta colocar o corpo em uma posição que enfoca as tensões simuladas durante os movimentos de rotação, desaceleração e movimento lateral. Esse teste coloca as extremidades inferiores em uma posição do tipo tesoura, desafiando o tronco e as extremidades do corpoa resistir à rotação e a manter o alinhamento adequado. Avalia a mobilidade e a estabilidade do quadril e tornozelo, flexibilidade do quadríceps e estabilidade do joelho. Avanço em linha reta. A capacidade de realizar o teste de avanço em linha reta requer a estabilidade da perna de apoio do tornozelo, joelho e quadril, bem como abdução do quadril em cadeia cinética fechada. Esse teste requer mobilidade da perna de passo de abdução do quadril, dorsiflexão do tornozelo e flexibilidade do reto- femoral. O atleta também deve apresentar equilíbrio adequado em razão do estresse lateral imposto. Mobilidade de ombro (shoulder mobility) O teste de mobilidade do ombro avalia a amplitude de movimento bilateral do ombro, combinando rotação interna com adução e rotação externa com abdução. Requer mobilidade escapular normal e extensão da coluna torácica. O ombro flexionado identifica o lado marcado. Se a medida da mão for exatamente a mesma que a distância entre os dois pontos, faça uma pontuação baixa para o sujeito. O teste de compensação substitui a pontuação no resto do teste. Certifique-se de que o indivíduo não tenta "caminhar" as mãos — uma em direção à outra. Mobilidade de ombro. O teste é realizado bilateralmente. Lembre-se que o examinado deve estar com as mãos serradas e o examinador deve medir a partir do polegar de cada mão. É necessário que seja realizado o teste de compensação. Esse movimento não recebe pontuação, é simplesmente executado para observar se há presença de dor. Se houver, a pontuação zero será atribuída a todo o teste de mobilidade do ombro. Esse exame é necessário, porque o impacto do ombro às vezes pode passar despercebido no teste de mobilidade do ombro. Teste de compensação. A capacidade de realizar o teste de mobilidade do ombro requer mobilidade em uma combinação de movimentos, incluindo abdução/rotação externa, flexão/extensão e adução/rotação interna. Requer também mobilidade escapular e da coluna torácica. Quando ocorre dor nos testes, é recomendada uma avaliação detalhada no ombro para identificar a causa. Estabilidade rotacional (rotatory stability) O teste de estabilidade rotacional é um movimento complexo que requer coordenação neuromuscular adequada e transferência de energia de um segmento do corpo para outro através do tronco. Avalia também a estabilidade multiplano do tronco durante um movimento combinado das extremidades superior e inferior. O indivíduo assume a posição inicial em quatro apoios, com os ombros e os quadris a 90° em relação ao tronco. Os joelhos são posicionados a 90°, e os tornozelos devem permanecer em dorsiflexão. O indivíduo flexiona o ombro e estende o mesmo lado do quadril e joelho. A perna e a mão são levantadas apenas o suficiente para deixar o chão em aproximadamente 15 centímetros. O mesmo ombro é então estendido, e o joelho flexionado o suficiente para que o cotovelo e o joelho se toquem. Isso é realizado bilateralmente por até três repetições. Estabilidade rotacional. Um exame de compensação é realizado no final do teste de estabilidade rotativa. Esse teste não é pontuado, mas simplesmente executado para observar uma resposta à dor. Se houver, uma pontuação zero é atribuída a todo o teste de estabilidade rotatória. Esse exame é necessário porque a dor nas costas às vezes pode passar despercebida na triagem de movimento. A flexão da coluna pode ser eliminada assumindo primeiro uma posição de quatro apoios e, em seguida, balançando para trás e tocando glúteos nos calcanhares e o peito nas coxas. As mãos devem permanecer na frente do corpo, estendendo-se o máximo possível. Teste de compensação. A capacidade de realizar o teste de estabilidade rotatória requer estabilidade assimétrica do tronco nos planos sagital e transversal durante o movimento assimétrico das extremidades superiores e inferiores. Esse padrão de movimento se faz presente em quase todas as atividades esportivas. Elevação de perna estendida (active straight leg raise) A elevação ativa da perna reta testa a capacidade de desassociar a extremidade inferior do tronco, mantendo a estabilidade no tronco. O teste ativo de elevação da perna reta avalia também os isquiotibiais ativos e a flexibilidade do gastrocnêmio, enquanto mantém a pelve estável e a extensão ativa da perna oposta. O examinado assume primeiro a posição inicial em decúbito dorsal com os braços em posição anatômica e a cabeça apoiada no chão. O examinador identifica o ponto médio entre a espinha ilíaca anterossuperior (EIA) e o ponto médio da patela, e um bastão é colocado nesta posição perpendicular ao solo. Em seguida, o indivíduo é instruído a levantar a perna de teste com um tornozelo dorsiflexionado e um joelho estendido. Elevação de perna estendida. Durante o teste, o joelho oposto deve permanecer em contato com o solo, os dedos dos pés devem permanecer apontados para cima e a cabeça apoiada no chão. Uma vez que a posição da faixa final é alcançada e o maléolo localizado além do bastão, a pontuação é registrada de acordo com os critérios estabelecidos (explicados na introdução). Se o maléolo não passar pelo bastão, ele é alinhado ao longo do maléolo medial da perna de teste, perpendicular ao chão, e pontuado de acordo com os critérios estabelecidos. A capacidade de realizar o teste ativo de elevação da perna estendida requer flexibilidade funcional dos isquiotibiais, que é a flexibilidade disponível durante o treinamento e a competição. Isso é diferente da flexibilidade passiva, que é mais comumente avaliada. Estabilidade de tronco (trunk stability) A flexão de estabilidade do tronco testa estabilizar a coluna em um plano anterior e posterior durante o movimento da parte superior do corpo em cadeia fechada. O teste avalia a estabilidade do tronco no plano sagital enquanto um movimento simétrico da extremidade superior é realizado. O indivíduo assume uma posição deitada com os pés juntos. As mãos são colocadas na largura dos ombros na posição apropriada, conforme os critérios descritos no item UQYBT (upper quarter closed kinetic chain performance) mais adiante. Os joelhos devem estar totalmente estendidos e os tornozelos flexionados. O indivíduo é solicitado a realizar uma flexão nessa posição. O corpo deve ser levantado como uma unidade — sem “retardo” na coluna lombar. Posição correta. Posição incorreta. Um exame de compensação é realizado no final do teste de flexão de estabilidade do tronco. Não há pontuação, pois o teste serve para observar a resposta à dor. Se houver, uma pontuação zero é dada para todo o teste de flexão. Teste de compensação. A capacidade de realizar o push-up de estabilidade do tronco requer estabilidade simétrica do tronco no plano sagital durante um movimento simétrico da extremidade superior. Muitas atividades funcionais no esporte requerem que os estabilizadores de tronco transfiram a força simetricamente das extremidades superiores para as inferiores e vice-versa. Testes funcionais Os testes funcionais são importantes para verificar, qualitativa e quantitativamente, a capacidade do avaliado de exercer suas habilidades funcionais. Esses testes são aplicados para prevenir lesões, analisar o que a lesão estrutural (avaliada no teste clínico) trouxe de prejuízo funcional e acompanhar as intervenções durante o processo de reabilitação. Teste de alcance lateral da perna (leg lateral reach test) Muitas atividades esportivas exigem movimentos de rotação de tronco. A flexibilidade diminuída na rotação do tronco pode induzir padrões anormais de movimento do tronco e resultar em algum acometimento principalmente na região lombar. Assim, a observação contínua dessa flexibilidade em atletas que realizam rotação de tronco repetitiva é necessária para prevenir lesões, bem como para orientar na reabilitação e monitorar o desempenho. Para realizar o teste, o atleta deve estar deitado em decúbito dorsal, com os braços ligeiramente afastados e paralelos ao tronco. Um bastão de madeira com umafita métrica deve ser fixado perpendicularmente na direção do joelho oposto ao lado testado. Então, o atleta deve ser instruído a levantar a perna que está sendo testada e alcançar com o pé na direção do bastão perpendicular à perna oposta, realizando uma rotação do tronco para alcançar o mais distante possível a marcação do bastão. Realização do teste de alcance lateral da perna. Importante que o avaliado não tire os braços do chão, permaneça com o pé tocando no bastão por 5 segundos e repita três vezes para cada lado. Deve ser anotada sempre a última medida (KIM et al., 2017). O teste verifica a habilidade e a mobilidade na rotação de tronco, e é aceitável que de um membro para o outro as medidas tenham uma diferença menor que 7 centímetros. Teste de dorsi�exão em CCF (lunge test) A avaliação da dorsiflexão em CCF (cadeia cinética fechada) é realizada com o atleta em pé tentando flexionar o joelho sem retirar o calcâneo do solo. O fisioterapeuta deve posicionar o inclinômetro a 15cm distal da tuberosidade anterior da tíbia e anotar a angulação. Realização do lunge test. Consideram-se restrição de amplitude de movimento para dorsiflexão em cadeia cinética fechada, angulações menores que 45° e distância inferior a 9cm da parede ao hálux. Recomendam-se avaliação bilateral, repetição do teste três vezes em cada membro e sempre a anotação da última medida. O movimento da articulação tibiotalar é fundamental para as atividades diárias e esportivas que envolvem saltos e exercícios em CCF com flexão do tornozelo e flexão do joelho. A redução da ADM da articulação tibiotalar está relacionada ao aumento do risco de lesão. Langarika-Rocafort e colaboradores (2017) recomendam três medidas: a do ângulo de dorsiflexão em CCF, a da distância do calcanhar até a parede que serve como anteparo e a da distância entre o hálux e a parede. Realização do lunge test. Teste da estrela – SEBT Durante a prática desportiva, os atletas realizam atividades que exigem dinamismo do controle postural, como pular, andar, mudar de direção. Portanto, é importante que haja equilíbrio na dinâmica do controle postural. O teste da estrela (SEBT star excursion balance test — modificado para Y-balance ou Y-test) é utilizado com o objetivo de fornecer medidas objetivas para diferenciar déficits e melhorias no controle postural dinâmico, como forma de prevenção de possíveis lesões de membros inferiores que estão correlacionadas com instabilidade do controle postural estático e dinâmico. Esse teste requer força, flexibilidade e propriocepção. A elaboração da estação de Y-test é simples: bastam três fitas métricas separadas por 135°. Primeiro, coloca-se a fita métrica da direção anterior; em seguida, com um goniômetro, define-se 135° para, então, colocar as fitas da direção PL (posterolateral) e PM (posteromedial). As fitas métricas das direções PM e PL devem estar separadas por 90°. Antes de iniciar o teste, é necessário medir o comprimento dos membros inferiores do atleta para obter um dado real (CRMM). Para isso, o examinador deve medir bilateralmente a distância da espinha ilíaca anterossuperior (EIAS) até a porção mais distal do maléolo lateral. O teste começa com o atleta fazendo o movimento dos membros inferiores na direção anterior, seguido das direções PM e PL, e deve repetir por três vezes cada movimento. O examinador deve anotar sempre a última medida. Realização do Y-balance (Y-test).lunge test. A equação deve se dispor da seguinte forma: Rotacione a tela. Os resultados que mostram assimetria acima de 4 centímetros no deslocamento anterior de um membro em relação ao outro e valores abaixo de 94% são preditores de lesão. Modi�cado para lateral (step down) O padrão alterado de movimento dos membros inferiores consistindo em adução femoral excessiva e rotação interna, levando ao alinhamento excessivo do joelho em valgo, está associado ao risco aumentado de lesão ligamentar do joelho, bem como de síndrome da dor femoropatelar. Essa análise de movimento nos dá dados qualitativos (bom, moderado e ruim) de acordo com a estabilidade do lado apoiado durante a execução do movimento de descida do membro contralateral. O avaliador deve ajustar a altura do step, para que o indivíduo faça 60° de flexão de joelho, pois o pé oposto ao do teste deve encostar no chão como ponto de referência. Além disso, para facilitar a análise do alinhamento do teste, é indicado colar um marcador na tuberosidade da tíbia (RABIN; KOZOL, 2010). A) Bom; B) Moderado. O examinador orienta o indivíduo a colocar a mão na cintura, manter o tronco ereto e encostar o pé oposto na madeira ou no chão, sem fazer descarga de peso nessa perna. Após encostar o pé no chão, o indivíduo deve imediatamente reestender o joelho da perna de apoio. É recomendado realizar cinco repetições de treinamento para, em seguida, fazer as cinco repetições do teste. Teste da ponte (single leg bridge test) O teste da ponte para extensores do quadril surgiu com a proposta de minimizar riscos de lesões na parte posterior de coxa. A redução da força muscular dos isquiotibiais, principalmente na força excêntrica, é ANT + PM + PL 3 × CRMM × 100 comumente percebida como um fator de risco para lesões nos isquiotibiais. No entanto, as evidências são inconclusivas. Testar a força dos isquiotibiais com o quadril e o joelho em ângulos funcionais e avaliar os parâmetros de resistência pode ser mais relevante para examinar o risco de lesão dos isquiotibiais. O avaliador deve instruir o atleta a deitar no chão com um calcanhar sobre uma caixa de 60 cm de altura. A perna de teste deve ser posicionada em aproximadamente 20° de flexão do joelho. O atleta deve cruzar os braços sobre o peito e empurrar para baixo com o calcanhar para levantar os glúteos do chão. Repetir o máximo possível até a falha (FRECKLETON, COOK, PIZZARI, 2014). Realização do teste da ponte. Os resultados dentro da normalidade variam de 22 a 26 repetições. Em caso de qualquer compensação no posicionamento inicial, o teste deve ser interrompido e o número da última repetição validado. Salto vertical Nesse teste, o avaliador se posiciona diante do atleta para proceder a análise, podendo utilizar marcadores em referências ósseas para facilitar a visualização. Deve solicitar três repetições consecutivas do salto ao atleta, para observar o padrão de movimento aguardando surgir fadiga muscular. Existem diferentes tipos de salto a serem executados. O que se descreve aqui é conhecido na literatura como drop jump. O indivíduo deve realizar salto vertical com os braços na cintura em velocidade constante para alta. A presença do valgismo dinâmico é apontada como fator de risco para rupturas do ligamento cruzado anterior (LCA). Deve-se observar, por exemplo, se há presença de rotação medial excessiva da coxa ou da perna, ou se há presença do valgismo dinâmico. Confira a seguir: Posição de prontidão. Posição de agachamento autosselecionada. Fase de voo do salto. Hop test O hop test é um teste complexo que avalia força, equilíbrio estático e dinâmico, consciência corporal, confiabilidade e potência. Deve cumprir uma hierarquia de capacidade musculoesquelética e sensório- motora. É utilizado como preditor de lesão e acompanhamento no processo de reabilitação e, amplamente, nos pós-operatórios de LCA após treinos pliométricos. Os testes de salto de perna única são realizados na seguinte ordem (SCHMITT, 2012): salto único para distância (cm), salto triplo para distância (cm), salto triplo cruzado para distância (cm) e salto cronometrado de 6 metros (segundos). Esquema do hop test. O avaliador deve anotar a distância total atingida em centímetros. A comparação é realizada entre os membros, e o valor utilizado é a média dos dois saltos em centímetros. Esses valores devem ser anotados nos três tipos de salto: simples, triplo e triplo cruzando a linha. Já no salto com tempo, avalia-se o tempo total em centésimos de segundo. A comparação é realizada entre osmembros, e o valor utilizado é a média de tempo entre as duas séries de saltos. Teste de estabilidade da extremidade superior em cadeia cinética fechada CKQUEST (Close Kinetic Chain Upper Extremity Stability Test) é um teste de desempenho que fornece dados quantitativos (pontuação) para uma tarefa de extremidade superior em cadeia cinética fechada (CCF) sem necessidade de alta tecnologia para ser realizado em contextos desportivos ou clínicos. Primeiramente, é necessário fixar duas fitas adesivas no chão com 91,4 cm de distância entre elas, a fim de marcar a distância do posicionamento das mãos (TUCCI et al., 2014). O paciente deve ficar na posição de prancha (push-up) e o fisioterapeuta, durante 15 segundos, contar quantas vezes o atleta consegue tocar a mão de suporte com a outra mão que está flutuando. O teste também pode ser adaptado para a posição ajoelhada em atletas do sexo feminino, como pode ser verificado a seguir: Posição inicial push-up para teste masculino. Posição inicial push-up modi�cada para teste feminino. O valor registrado do CKCUEST é a média de três séries de 15s, com intervalo de 45s entre cada série. Somente são aceitas as repetições nas quais o atleta mantém a posição de prancha com o tronco reto. O MMSS de apoio deve manter-se perpendicular ao chão durante toda a execução do teste. Outra forma de reportar o resultado é por meio da pontuação normalizada, obtida com a divisão do número de toques pela altura do indivíduo. Rotacione a tela. Valores médios: Para homens: 18,5 toques e 150 de potência. Para mulheres: 20,5 toques e 135 de potência. Upper quarter closed kinetic chain performance (UQYBT) Trata-se de um teste Y-balance para avaliar o desempenho do quadrante superior (extremidade superior) com o propósito de uma avaliação em cadeia cinética fechada da mobilidade e estabilidade da extremidade superior. Antes de iniciar o UQYBT, é necessário mensurar o comprimento dos MMSS. Para isso, o ombro deve ser abduzido a 90° com o cotovelo estendido e o punho e a mão em posição neutra. A fita métrica deve ser posicionada no processo espinhoso de C7 até a ponta do dedo médio. A avaliação é realizada com o sujeito estabilizando seu peso corporal. A extremidade superior é testada enquanto ele realiza o alcance máximo em três direções. O indivíduo deve ficar na posição de prancha (push-up), com os pés afastados em no máximo 30cm e realizar alcance máximo com a mão livre nas três direções: medial, laterossuperior e lateroinferior. Verifique a seguir: Potência de MMSS : N ∘ de toques × (0, 68 × peso ) 15 s Direção de alcance medial. Direção de alcance lateral superior. Direção de alcance lateral inferior. Rotacione a tela. Resultados inferiores 94% são preditores de lesão. Avaliação funcional para o atleta Deve - se seguir a equação : M + I + S (3 × comprimento real do membro ) × 100 Neste vídeo, o especialista falará resumidamente sobre os testes especiais e funcionais para identificar, acompanhar e liberar para a prática esportiva. Falta pouco para atingir seus objetivos. Vamos praticar alguns conceitos? Questão 1 Sobre o sistema de movimento funcional (FMS), assinale a alternativa correta. A O uso de tecnologia faz dele uma ferramenta de alto custo para a clínica. B Sua confiabilidade varia de 0,5 a 1,0. C Sua grande vantagem é a avaliação geral de alterações do padrão de movimento. D Seu uso deve ser exclusivo na clínica, não é necessário teste complementar. E O FMS é composto por cinco padrões de movimento multiarticular. Parabéns! A alternativa C está correta. O sistema de movimento funcional (FMS), composto por sete padrões de movimento multiarticular, é uma avaliação das alterações de padrão de movimento muito útil na clínica. Não usa tecnologia, o que melhora o custo-benefício. Sua confiabilidade varia de 0,30 a 0,89. Entretanto, o FMS não indica possíveis intervenções de forma clara, ou seja, são necessários outros testes para verificar a causa da alteração do padrão de movimento. Questão 2 A respeito das hipomobilidades, analise as assertivas a seguir. I – As hipomobilidades podem ser avaliadas de duas maneiras: a primeira é a inspeção; a segunda é a comparação entre direita e esquerda. II – São de extrema importância, mas os pacientes que sentem dor utilizando amplitudes máximas provavelmente apresentam outra disfunção oculta. III – Para profissionais com pouca experiência na área, sugere-se iniciar pelos testes articulares, buscando qualquer assimetria e utilizando a comparação com o outro lado. Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s): A II. B III. C II e III. D I e III. E I e II. Parabéns! A alternativa C está correta. As assertivas II e III estão corretas, pois as hipomobilidades podem indicar outra disfunção oculta em pacientes que sentem dor utilizando amplitudes máximas. No caso de profissionais com pouca experiência, sugere-se iniciar a avaliação pelos testes articulares, identificando assimetrias e comparando ambos os lados. No tocante à assertiva I, está errada, pois as hipomobilidades podem ser avaliadas de duas maneiras: por inspeção e comparação direita/esquerda ou por testes manuais, avaliando o end-feel (sensação final) articular. Considerações �nais Vimos a importância da boa avaliação terapêutica para o esporte e entendemos que esse trabalho não exige recursos tecnológicos de ponta. É possível realizar uma boa avaliação quantitativa e qualitativa com custo zero, ou apenas caneta, fitas e goniômetro. O fisioterapeuta promove a saúde e oferece um serviço de qualidade e segurança para praticantes de esporte ao empregar corretamente os testes especiais e funcionais da prática esportiva. O profissional deve identificar as situações que geram riscos e lesões, diretas ou indiretas, na prática esportiva profissional, amadora ou recreacional a fim de traçar um plano de tratamento adequado a cada atleta ou praticante de esporte. Podcast Neste bate-papo, o especialista Thiago dos Anjos Ferreira mostrará a importância da atuação do fisioterapeuta na área do esporte. Explore + Para saber mais sobre os assuntos tratados nesse conteúdo, leia os artigos: A termografia no apoio ao diagnóstico de lesão muscular no esporte, de Fábio Bandeira, Eduardo Borba Neves, Marcos Antonio Muniz de Moura e Percy Nohama, publicado pela Rev Bras Med Esporte em 2014. Disponível na biblioteca digital SciELO. Termografia médica infravermelha aplicada à Medicina do Esporte, de Ana Carolina Ramos e Côrte e Arnaldo José Hernandez, publicado na Rev Bras Med Esporte em 2016. Reprodutibilidade e concordância entre diferentes protocolos de baropodometria dinâmica durante a marcha: um estudo preliminar, de Fernando Raphael Pinto Guedes Rogerio e Dartagnan Pinto Guedes, publicado na Fisioter Pesqui. em 2020. Disponível na biblioteca digital SciELO. Você já ouviu falar de baropodometria? É uma ótima alternativa para verificar as interações entre o pé e o sapato e entre o pé e a superfície. Sistema para análise cinemática da marcha humana baseado em videogrametria, de Alethéa Gomes Nardini Araújo e colaboradores, publicado em Fisioterapia e Pesquisa em 2005. Você sabia que novas tecnologias estão surgindo no Brasil para a análise biomecânica da marcha? A análise cinemática tridimensional por videogrametria permite que o avaliado seja monitorado por marcadores específicos em pontos anatômicos predeterminados pelo avaliador. Referências CHEUNG, T. C. et al.Diagnostic accuracy and reproducibility of the Ottawa Knee Rule vs the Pittsburgh Decision Rule. American Journal of Emergency Medicine, Elsevier Inc., v. 31, n. 4, p. 641-645, 2013. FRECKLETON, G.; COOK, J.; PIZZARI, T. The predictive validity of a single leg bridge test for hamstring injuries in Australian rules football players. Br J Sports Med, n. 48, p. 713-717, 2014. GAMA, Z. A. D. S. et al.Influence of the stretching frequency using proprioceptive neuromuscular facilitation in the flexibility of the hamstringmuscles. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v. 13, n. 1, p. 27-31, 2007. GRAY, C. et al.Pre-participation screening: the use of fundamental movements as an assessment of function. 2006a. p. 11. 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