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AULA 5

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PRINCÍPIOS E 
TÉCNICAS PARA 
A PRÁTICA 
DA REDAÇÃO 
JORNALÍSTICA
Tércio Saccol
Os valores da narrativa 
jornalística
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Reconhecer a narrativa jornalística como representação de mundo.
  Definir os principais valores da narrativa jornalística.
  Exemplificar narrativas jornalísticas que contemplam princípios fun-
damentais do jornalismo. 
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar como se dá a configuração das práticas do 
jornalismo enquanto recorte de realidade, considerando as suas limitações. 
Vai ver ainda como o jornalismo pode abarcar a complexidade social e 
quais as implicações inseridas nisso. Você também vai ler sobre alguns 
valores e princípios sociais e históricos presentes na narrativa jornalística 
e na figura do jornalista, como a ideia de objetividade marcada por uma 
controvérsia conceitual e interpretativa. Por fim, vai conhecer algumas 
narrativas jornalísticas que abarcam as discussões sobre uma profissão 
tão importante diante de um cenário de desinformação, que demanda 
rigor, ética e compromisso social. 
1 Narrativa jornalística: um recorte da realidade
Quando você escreve um texto, ele carrega o seu repertório e as suas percep-
ções, vivências, leituras de mundo. Isso está associado ao tempo e ao contexto 
social, econômico e cultural nos quais você, como autor, está inserido — ainda 
que não ocorra de forma proposital. No jornalismo, ainda que haja diversas 
particularidades, especifi cidades e contextos, essa realidade também existe.
O jornalista, como um profissional que narra transformações e fatos do 
seu tempo, acaba construindo uma espécie de fotografia da realidade ou de 
um momento, fato, local. Essa “fotografia” pode ser uma reportagem especial 
em vídeo, uma fala ao vivo de um repórter de áudio ou até um infográfico. 
De qualquer forma, além dos valores jornalísticos mais ou menos pactuados 
pela profissão, esse conteúdo materializará algumas perspectivas prévias do 
jornalista.
Um jornalista de economia brasileiro, por exemplo, provavelmente atentará 
para a inflação como uma pauta recorrente, em especial diante do histórico 
do país para esse assunto. Já um profissional que cobre o assunto no Japão 
pode olhar esse aspecto sob outra perspectiva. Os exemplos são inúmeros e 
incorporam diferentes olhares sobre esse complexo tópico. 
Antes mesmo de falar de jornalismo, é importante pensar que essa discussão 
se dá em diversas outras áreas. Berger e Luckmann (2014, p. 38) lembram:
Apreendo a realidade da vida diária como uma realidade ordenada. Seus 
fenômenos acham-se previamente dispostos em padrões que parecem ser 
independentes da apreensão que deles tenho e que se impõem à minha 
apreensão. A realidade da vida cotidiana aparece já objetivada, isto é, 
constituída por uma ordem de objetos que foram designados como objetos 
antes de minha entrada na cena. A linguagem usada na vida cotidiana 
fornece-me continuamente as necessárias objetivações e determina a 
ordem em que estas adquirem sentido e na qual a vida cotidiana ganha 
significado para mim. 
Embora os sociólogos não promovam essa reflexão olhando especificamente 
para o jornalismo, a realidade é que o nosso cotidiano é expresso dentro de 
algumas lógicas predefinidas. Nesse sentido, é importante que os jornalistas 
tenham uma visão clara sobre isso. 
Para Gomes (2000), a narrativa jornalística está baseada, em grande me-
dida, na ideia de verossimilhança. É ela que justifica a constante busca por 
elementos que ajudam a construir a ideia de veracidade no texto, os quais 
asseguram o referencial buscado, trazendo uma ideia construída de verdade 
objetiva. Para o autor, o que entendemos de forma muito rígida e estável está, 
de alguma forma, sujeito à interpretação, mesmo que isso muitas vezes não 
seja visto dessa maneira. 
Essa chamada busca pelo real reafirma o jornalismo como verdadeiro, 
corroborando a sua ideia de credibilidade. Isso faz parte de uma espécie de 
contrato social, em que o jornalismo busca apurar e registrar dados, falas 
e discursos, a partir de elementos compreendidos dentro de determinada 
sociedade. Estes são entendidos como um relato a partir de uma perspectiva 
possível, fugindo da ideia de subjetividade. 
Os valores da narrativa jornalística2
Resende (2006) lembra que o discurso jornalístico funciona dentro de uma 
série de mecanismos, entre os quais está a organização das ações. Também 
encarando as produções jornalísticas como narrativas, o autor chama a atenção 
para algumas particularidades da narrativa jornalística 
Nas narrativas jornalísticas, o ato de narrar é uma problemática a ser enfren-
tada. Nelas, a forma autoritária de narrar as histórias mantém-se, e, de certa 
forma, com muitos agravantes por apresentar-se velada. Envolto no real e na 
verdade como referentes, além de trazer a imparcialidade e a objetividade 
como operadores, o discurso jornalístico tradicional — aquele que é epis-
temologicamente reconhecido — dispõe de escassos recursos com os quais 
narrar os factos do quotidiano (RESENDE, 2006, p. 8).
Levando em conta o que você leu até agora, podemos dizer que as concepções 
de verdade, objetividade, imparcialidade e até da própria credibilidade estão dentro 
da ideia de apreensão do real. Como é impossível compreender toda a realidade 
de forma complexa, o que resta ao trabalho do jornalista é fragmentar e, depois 
disso, construir a narrativa. Isso significa que, por mais bem-intencionado que o 
jornalista esteja, por exemplo, ao escrever um texto sobre a falta de saneamento 
básico em um bairro, haverá limites para fazê-lo. Esses limites podem ser as fontes 
disponíveis, o número de depoimentos coletados, a área geográfica atendida, o 
tempo para entregar o texto, a linha editorial do veículo, entre outros.
Há inúmeros aspectos que constroem as barreiras e possibilidades para 
um conteúdo jornalístico. De acordo com Bahia (1990, p. 11), “A verdade 
reclamada por um veículo, um editor ou mesmo uma opinião pública pode 
não ser toda a verdade. De fato, em geral, ela é apenas uma parte ou uma 
versão da verdade”. Para a autora Gaye Tuchman (2009), a ideia de tratar 
textos jornalísticos como reflexo puro da estrutura da sociedade precisa ser 
revista. Nesse sentido, ficou latente a partir do século XIX a importância de 
entender a complexidade da narrativa jornalística. 
É suposto que as notícias digam respeito a esses tópicos reconhecíveis. Socia-
lizados nessas atitudes sociais e nas normas profissionais, os jornais cobrem, 
seleccionam e difundem histórias sobre temas identificados como interessantes 
ou importantes. Em virtude do cumprimento desta função por parte dos jor-
nalistas, as notícias reflectem a sociedade: as notícias apresentam à sociedade 
um espelho das suas preocupações e interesses (TUCHMAN, 2009, p. 93).
Assim, a autora dá mais ênfase à atividade dos jornalistas e das empresas, 
entendendo que as notícias não perdem a sua ligação com as estruturas sociais, 
mas passam a ser vistas como produto de uma construção profissional. 
3Os valores da narrativa jornalística
As notícias, nesse sentido, não espelham a realidade. Ajudam a constituí-la 
como um fenômeno social partilhado. As notícias registram a realidade social 
e são simultaneamente um produto dessa mesma realidade, na medida em que 
fornecem aos seus consumidores uma abstracção selectiva intencionalmente 
coerente, mesmo podendo descurar certos pormenores. [...] A abstracção e a 
representação selectivas da informação, e a atribuição reflexiva de significado 
aos acontecimentos enquanto notícias são características naturais da vida 
cotidiana (TUCHMAN, 2009, p. 98–99). 
A partir de críticas e revisões históricas, emergiram as ideias defendidas 
pelo newsmaking. Este contrapõe uma das primeiras teorias do jornalismo: 
a teoria do espelho. Segundo essa teoria, os jornalistas só têm a intenção de 
transmissão da realidade, sem interferências nos acontecimentos.
O news-
making é uma teoria que pressupõe a produção das notícias em uma escala 
mais ou menos industrial, diante da abundância de fatos no dia a dia, ou seja, 
o jornalista atua de forma mais ou menos lógica para atender às demandas. 
Conforme Felipe Pena (2006, p. 128): 
Embora o jornalista seja participante ativo na construção da realidade, não 
há uma autonomia incondicional em sua prática profissional, mas sim a sub-
missão a um planejamento produtivo. As normas ocupacionais teriam maior 
importância do que as preferências pessoais na seleção das notícias. 
Traquina (2004, p. 149) acrescenta:
O ethos dominante, os valores e as normas identificadas com um papel 
de árbitro, os procedimentos identificados com o profissionalismo, faz 
com que dificilmente os membros da comunidade jornalística aceitem 
qualquer ataque à teoria do espelho, porque a legitimidade e a credibi-
lidade dos jornalistas estão assentes na crença social de que as notícias 
ref letem a realidade.
Deve-se ressaltar que olhar para notícias e reportagens a partir de uma 
construção não é o mesmo que pensar na literatura ou em outros tipos de 
construção na comunicação. Há particularidades desse tipo de discurso:
[...] dizer que uma notícia é uma estória não é, de modo algum, rebaixar a no-
tícia, nem acusá-la de ser fictícia. Melhor, alerta-nos para o facto de a notícia, 
como todos os documentos públicos, ser uma realidade construída possuidora 
da sua própria validade interna (TUCHMAN, 1999, p. 262). 
Os valores da narrativa jornalística4
A partir disso, é importante entender que o trabalho jornalístico é a cons-
trução do real com a atribuição de sentido e significado a alguns tópicos, que 
se tornarão notícias. Assim, nada do que fazemos ou de como fazemos está 
completamente livre de interferências — de diversas ordens. Lage (2005) lem-
bra que, ao contrário do jornalista publicista e do sensacionalista no passado, 
o século XX é do jornalismo testemunho. 
[...] a informação deixou de ser apenas ou principalmente fator de acréscimo 
cultural ou recreação para tornar-se essencial à vida das pessoas. E o âmbito 
da informação necessária ampliou-se muito além da capacidade individual 
de acesso do homem comum a outras fontes — textos didáticos, documentos 
oficiais etc. (LAGE, 2005, p. 8). 
Assim, a partir da realidade social e do construto do mundo dos jornalistas, 
há um produto a partir da técnica e da prática por parte desses profissionais. 
Como lembra Tavares (2012), o jornalismo é agente ativo na construção 
social da realidade, mas também existe na própria realidade abordada pelo 
jornalista — um contexto muito complexo. Ele envolve restrições e limita-
ções na produção, na circulação e no reconhecimento, que se configuram 
e interagem entre si e com outros elementos. Dessa forma, fatos e pautas 
que são, na realidade, diversos e múltiplos acabam se replicando de forma 
mais ou menos parecida. 
As narrativas jornalísticas, dessa forma, acabam tendo uma série de prin-
cípios e valores entranhados ao longo de uma construção social e profissional 
de maneira mais ou menos constante, conforme o momento e o contexto. Você 
pode verificar essa construção social em uma reportagem do seu telejornal 
preferido ou no post do seu jornal em uma rede social: eles são, na realidade, 
marcados por um olhar profissional, com as suas técnicas e perspectivas. 
2 Valores e práticas nas narrativas jornalísticas
A difi culdade de construir um padrão generalista para o jornalista está as-
sociada à generalidade da atividade e dos contextos que a norteiam. Assim, 
qualquer apuração que elenque normas muito rígidas pode reduzir a atividade 
a apenas um aspecto ou transformar a ideia de jornalismo em uma concepção 
limitada. 
5Os valores da narrativa jornalística
Ainda que haja um alto grau de subjetividade, há princípios que norteiam 
a atividade do jornalista, bem como regras que valoram o seu trabalho e 
estabelecem uma espécie de repertório da profissão. Mesmo com diferenças, 
sejam elas de linguagem, plataforma, atuação ou técnica, há uma partilha na 
forma de se analisar o mundo e de reportar a realidade. 
De fato, a técnica da notícia vincula-se às relações contingentes das sociedades 
humanas; na comunicação social, o objeto é a sociedade e a comunicação um 
aspecto de sua existência. Relações contingentes levam à escolha de deter-
minadas opções discursivas, com o abandono de outras; de qualquer modo, a 
estrutura da notícia representa algo de relativa constância, se comparada com o 
universo móvel em que se funda a avaliação dos conteúdos noticiados. Quanto 
a estes, cabe uma discussão crítica, de natureza filosófica (LAGE, 2001, p. 33). 
Dessa forma, há uma construção que entendemos como comum sobre essa 
profissão. Esses princípios estão diretamente ligados ao trabalho com notícia, 
já que, a partir do que você viu anteriormente, entendemos o jornalismo como 
apreensão, recorte e narrativa da realidade. 
Assim, é importante ressaltar que fazem parte do olhar do jornalista pers-
pectivas sobre características que um fato deve ter para que se transforme ou 
não em notícia, as quais se caracterizam como construções coletivas. A prova 
de que há uma configuração mais ou menos coesa é que você encontra notícias 
relativamente alinhadas em portais, emissoras de rádio ou perfis de Twitter. 
Logo, há um reconhecimento mais ou menos coletivo. 
Para que haja algum grau de previsibilidade, estabelecem-se critérios de 
noticiabilidade, ou seja, valores-notícia compartilhados pelos jornalistas. 
Para Traquina (2004, p. 63): 
Podemos definir o conceito de noticiabilidade como o conjunto de critérios 
e operações que fornecem a aptidão de merecer um tratamento jornalístico, 
isto é, possuir valor como notícia. Assim, os critérios de noticiabilidade são o 
conjunto de valores-notícia que determinam se um acontecimento, ou assunto, 
é suscetível de se tornar notícia, isto é, de ser julgado como merecedor de 
ser transformado em matéria noticiável e, por isso, possuindo valor notícia. 
Diferentes autores mapearam distintos critérios sobre esse aspecto. Desse 
modo, o objetivo aqui não é escolher um desses conjuntos usá-lo como regra — 
até porque regrar de forma estrita não combina com a liberdade para retratar 
o real. Nesse sentido, a técnica da notícia representa relativa constância. Há 
alguns valores que são seguidos para que se busquem e construam notícias, 
fazendo com que públicos reconheçam a importância e possam corroborar 
Os valores da narrativa jornalística6
o valor daquele profissional. O rigor no levantamento das informações, a 
exatidão, a transparência e uma noção de distanciamento estão ligados ao 
papel de reportar e recortar a realidade. 
Traquina (2004, p. 78) entende que os valores devem ser divididos entre 
os de seleção e os de construção. Os valores de seleção seriam aqueles que 
o jornalista utiliza para selecionar, dentro dos acontecimentos, os que efeti-
vamente vão virar notícia ou reportagem. Mais especificamente, Traquina os 
divide entre substantivos, com a avaliação do acontecimento em questão de 
importância, e contextuais, que são relativos ao contexto em que o jornalista 
está atuando.
São nove os valores-notícia de seleção em termos de critérios substantivos 
elencados por Traquina (2004, p. 79-88): morte, notoriedade, proximidade, 
relevância, novidade, tempo (entendido aqui como atualidade), notabilidade, 
inesperado, conflito, infração (crime) e escândalo. Os valores-notícia em 
termos de critérios contextuais são disponibilidade, equilíbrio, visualidade, 
concorrência e dia noticioso.
Já os valores de construção envolvem a forma de estrutura da notícia: o que 
deve ser exaltado, priorizado ou adequado. Os valores-notícia de construção 
são seis: simplificação, amplificação, relevância, personalização, dramatização 
e consonância (TRAQUINA, 2013, p. 90). Embora não seja o objetivo deste 
capítulo abordar esse tema, é importante pensar que as rotinas do jornalismo, 
seja em uma
rádio comunitária ou em uma emissora de TV nacional, passam 
por essas discussões em diferentes escalas do dia.
A pesquisadora Gislene Silva cruza diferentes perspectivas de critérios de noticiabilidade, 
que ela apresenta no artigo intitulado Para pensar critérios de noticiabilidade. No trabalho, 
disponível no link a seguir, há uma tabela com as diferentes perspectivas sobre o assunto. 
https://qrgo.page.link/5jnQf
A partir disso, vale lembrar que o jornalismo, sujeito a transformações, cons-
truções subjetivas e lógicas econômicas, geográficas e sociais, responde a um 
conjunto de normativas, a fim de que o seu trabalho seja sistematizado. Diante 
dessa construção, Henriques (2009) compila alguns valores e princípios para o 
jornalista a partir da revisão de manuais de redação consagrados e obras da área.
7Os valores da narrativa jornalística
Segundo o autor, a questão inicial seria definir o que é notícia. Assim, a 
partir de diversos fenômenos da realidade, é necessário fazer julgamentos 
e estabelecer hierarquias, identificando aquilo que tem importância. Com 
isso, pode-se então selecionar o conjunto do que será objeto da cobertura 
jornalística e aquilo que será descartado. O primeiro princípio apontado pelo 
autor é o da liberdade. 
A atividade se utiliza de critérios próprios para definir os assuntos e aconte-
cimentos que serão abordados. Mas como essa prática está baseada na defesa 
desse princípio, e é o resultado desse valor, pelo menos em tese, não existe 
uma norma que limite ou censure os assuntos e abordagens. De partida, todo 
e qualquer assunto é passível de cobertura e os jornalistas devem ser livres 
para escolher o que será ou não objeto de sua atenção e para definir como o 
trabalho será realizado (HENRIQUES, 2009, p. 5).
O segundo princípio, que está associado ao primeiro, é independência e 
autonomia. Trata-se de um afastamento, mesmo diante do relacionamento 
diário, para evitar a pressão por poderes econômicos e políticos. O terceiro 
princípio encontrado por Henriques (2009), ao cruzar bibliografias e manuais, 
é o da credibilidade. É o que distingue, por essência, o veículo jornalístico de 
outros conteúdos que circulam e são produzidos de forma abundante. 
A partir de Traquina (2004), que elenca como valor central no jornalismo 
a verdade, evidencia-se o quarto princípio. Ainda que estejamos mergulhados 
em um contexto no qual a verdade ganhou uma subjetivação discursiva, com a 
ideia de pós-verdade emergindo e obrigando veículos a repensarem estratégias 
de alcance, a verdade se refere a apuração, verificação, fidelidade. 
O rigor e a exatidão são encontrados por Henriques (2009) como o ou-
tro princípio. Traquina (2004, p. 135) já havia ressaltado que, “Num estudo 
comparativo dos códigos deontológicos em 51 países, o acadêmico Porfírio 
Ansejo (1979) descobriu que os valores como o rigor e a verdade aparecem 
em quase todos os códigos”. 
O sexto princípio é o da honestidade, evitando a troca de favores pessoais 
e interesses, ou vetando fatos a serem cobertos a partir de vínculos pessoais. 
O sétimo — e talvez mais polêmico — é o de objetividade e equidade. Como 
destacamos aqui, trata-se de uma série de procedimentos para evitar a expressão 
de valor do repórter na narrativa.
Há diversas discussões sobre a objetividade e se ela responde à contempo-
raneidade das práticas jornalísticas. Por ora, é importante saber que ela está 
associada diretamente ao histórico do jornalismo recente. Com a ideologia 
da objetividade, os jornalistas substituíram uma fé simples nos fatos por uma 
Os valores da narrativa jornalística8
fidelidade às regras e aos procedimentos criados para um mundo no qual até 
os fatos eram postos em causa (TRAQUINA, 2004). O Quadro 1 resume os 
princípios mapeados por Henriques (2009).
Fonte: Adaptado de Henriques (2009, documento on-line).
Princípios Descrição
Liberdade Defesa da expressão e manifestação
Independência e autonomia Ter compromisso com o público
Credibilidade Manter a confiança na relação com o público
Verdade Princípio capital
Rigor e exatidão Evitar ou eliminar imprecisões, erros e falhas
Honestidade Respeitar o decoro profissional
Objetividade e equidade Questão metodológica que marca a essência 
profissional
Quadro 1. Princípios fundamentais do jornalismo
Para Tuchman (1999), há procedimentos usados que são perceptíveis na 
construção da ideia de objetividade na produção da notícia. O primeiro seria 
o levantamento de informações com fontes (tantas quantas forem possíveis). O 
segundo é a apresentação de provas auxiliadoras. O terceiro é o uso de aspas 
nas citações de opiniões das fontes, porque, segundo a autora, isso faz com 
que os jornalistas deixem de acreditar que são parte da notícia e permite que 
os fatos falem sozinhos. O último seria a ideia de estrutura de informação 
no texto noticioso.
Note que a autora escreveu esses procedimentos em 1993, em um tempo 
de amplo protagonismo do jornalismo impresso. Não é incomum encontrar, 
hoje, autores de diferentes espectros ideológicos e países questionando a ideia 
arraigada na cultura profissional, porque a internet mudou hábitos de consumo 
de informação e a própria concepção de manchete, historicamente consolidada 
na venda de jornais e revistas. 
Com frequência, diferentes teóricos abordam a objetividade. Entre as 
críticas, está a possibilidade de uma perseguição da objetividade por si só, sem 
questionamentos quanto à sua significância e às etapas em que se configura 
9Os valores da narrativa jornalística
essa ideia de subjetividade. Pode-se dizer que a objetividade é um valor guarda-
-chuva que, para muitos, traz consigo ideias como equilíbrio, transparência, 
concisão e exatidão. 
O último princípio listado por Henriques (2009) é a comunicabilidade e o 
interesse, que se referem à compreensão da notícia. Nesse sentido, o jornalista 
deve usar linguagem coloquial, transitando entre a demanda do discurso formal 
e a compreensão coletiva. 
De qualquer forma, é importante citar que o ethos da profissão é determi-
nante na sua configuração. Em tempos de multiplicidade de informações por 
todos os lados, a instantaneidade e a preocupação com o volume de informa-
ções, em detrimento da qualidade, estão arraigadas na cultura dos jornalistas:
A instantaneidade é outro valor usado pelos jornalistas. Ser obcecado pelo 
tempo é ser jornalista de uma forma que os membros desta comunidade 
interpretativa consideram ser especialmente sua, quase como um ato de fé 
num deus chamado Kronos. O valor do imediatismo traduz, melhor dito, 
exprime como fator tempo constitui o eixo central do campo jornalístico 
(TRAQUINA, 2013, p. 36). 
Embora a discussão sobre critérios de noticiabilidade e valores da pro-
fissão esteja em disputa, é importante entender que há uma configuração 
base, que ajuda a nortear a atividade de quem está entrando na profissão. 
Portanto, é possível que você se depare com uma discussão sobre um prin-
cípio em uma redação que é importante para alguns, mas nem tanto para 
outros — não se trata de instituições estanques. A Associação Brasileira de 
Imprensa (c2013) entende como princípios internacionais da ética profissional 
os seguintes aspectos:
  o direito de retificar a informação;
  a dedicação para a realidade objetiva;
  a responsabilidade social do jornalista;
  a integridade;
  o acesso e a participação pelo público;
  o respeito à dignidade humana e à privacidade;
  o respeito ao interesse público;
  o respeito à diversidade cultural e aos valores universais;
  a eliminação da guerra e de outros males;
  a promoção de uma nova ordem de informação e comunicação. 
Os valores da narrativa jornalística10
Você também deve entender que esses valores precisam se traduzir em 
significação social. Não se trata de atender a todos os pressupostos e requisitos, 
e fazer um jornalismo correto, mas pouco eficaz do ponto de vista do impacto 
social. A apuração e a ética profissional são motores do profissional jornalista.
3 Os valores narrativos do jornalismo em prática 
Embora se possa facilmente citar falhas na cobertura jornalística diária, como 
problemas de critérios, estrutura, tempo, é possível encontrar diversos exemplos 
do jornalismo que cumpre muito bem o seu propósito a partir de princípios 
históricos. Vale lembrar que o jornalista, dentro das diversas limitações im-
postas ao trabalho, deve investir o máximo de tempo para conhecer o objeto 
do seu trabalho, seja com visitas recorrentes a locais de apuração, espaço para 
diálogo com fontes ou tempo para imersão na pauta. 
É comum que diferentes premiações jornalísticas respaldem o trabalho 
dessas produções, seja em veículos de comunicação consagrados ou plataformas 
experimentais. Ainda que alguns prêmios de tradição tenham sido congelados 
ou tenham deixado de ocorrer, ainda existem inúmeras distinções locais e 
nacionais a reportagens de diferentes propostas.
A reportagem vencedora da edição 40 do Prêmio Jornalístico Vladimir 
Herzog de Direitos Humanos na categoria “Produção jornalística em texto”, 
da revista digital Galileu, intitulada A Síndrome do Preconceito, é um bom 
exemplo disso. O texto de 2017, assinado por Nathan Fernandes e equipe da 
revista, começa com um relato em primeira pessoa, valorando os aspectos 
discricionais e destacando a humanização necessária para tratar do tema e 
mostrar a universalidade de um vírus que atinge pessoas de todas as classes, 
etnias, idades e regiões: o HIV. 
A reportagem traz uma série de outros aspectos que a tornam mais completa, 
impactante e digna da menção como uma referência em direitos humanos. 
Ela explica os estigmas que a população portadora de HIV ainda enfrenta, 
mostra o cenário global do tratamento da AIDS, contextualiza e critica a 
espetacularização do tema pela própria imprensa e traz dados e informações. 
O rigor da apuração e o texto acessível para diferentes públicos também 
são encontrados na reportagem. Soma-se a isso a pluralidade de fontes, que 
envolve, além de estatísticas, entrevistados de diferentes campos da ciência, 
pessoas que vivem com o vírus, obras científicas e referências da cultura 
11Os valores da narrativa jornalística
popular, como artistas. Apesar de a reportagem contar com muitos elementos 
humanos e descritivos, ela segue os preceitos de objetividade, garantindo 
acesso ao interesse coletivo com exatidão. 
Acesse o link a seguir para ler a reportagem Síndrome do preconceito: como o estigma 
contribui para o aumento da epidemia de aids no site da Revista Galileu.
https://qrgo.page.link/EKQUX
A sensibilidade também é a marca do especial Um Mundo de Muros, do 
jornal Folha de S. Paulo. A partir de uma pauta pouco tangível — o cresci-
mento de barreiras físicas que separam comunidades, povos e cidades —, o 
jornal conseguiu, com base em relatos, um precioso resultado jornalístico. 
A reportagem de 2017 conta com um excelente trabalho de ilustração e 
imagem, e um investimento expressivo em reportagem, já que foi feito em 
diferentes países de vários continentes. Segundo o jornal:
A ideia de buscar quem estava do outro lado desses muros veio dos repórteres 
Patricia Campos Mello e Lalo de Almeida e consumiu oito meses de trabalho 
deles e de outros 20 repórteres de texto e imagem, editores, programadores, 
infografistas e técnicos (COELHO, 2018, documento on-line). 
A série venceu o Grande Prêmio Petrobras de Jornalismo, considerado 
o principal do país, e também o Prêmio Rei da Espanha, da Agência EFE, 
e o Prêmio do Comitê Internacional da Cruz Vermelha. Ainda que seja 
uma pauta para a editoria “mundo”, o trabalho da Folha tem o mérito de 
abordar um tema recorrente e de grande interesse público: a discussão 
sobre a diferença e a exclusão, e o preconceito contra povos, culturas e 
etnias. Esse tema ganhou uma dimensão ainda maior nos anos seguintes 
ao da reportagem. 
Os valores da narrativa jornalística12
Há um trabalho extenso de pesquisa, apuração, programação, infografia, 
artes, fotografia. Um dos motivos para o impacto, no entanto, é a capacidade 
de aproximar a narrativa jornalística do público final: os leitores da Folha de 
S. Paulo, um jornal brasileiro. Mesmo quando se mencionam barreiras como
um muro que segrega etnicamente a capital do Peru, Lima, ou o que separa o
Quênia da Somália com a justificativa de frear o terrorismo, há uma notória
aproximação de aspectos que tocam a população brasileira, como pobreza,
desigualdade, preconceito e desdém de autoridades.
É possível identificar, nas reportagens, as características esperadas da 
narrativa jornalística. Sobretudo, pode-se perceber como a construção social de 
realidade do jornal foi aumentada a partir de um recorte global com olhar local. 
Acesse o especial Um mundo de muros, do jornal Folha de S. Paulo, no google
O caderno Guerras desconhecidas do Brasil, do jornal O Estado de S. 
Paulo, também mostra a possibilidade de fazer jornalismo de profundidade e 
referência a partir de material histórico. O caderno reconhecido com o prêmio 
da Sociedade Interamericana de Imprensa de 2011, o Prêmio Vladimir Herzog 
de 2011 e o Prêmio Direitos Humanos da OAB RS, mostra nove de 32 conflitos 
regionais do século XX no Brasil, que mataram centenas de civis.
Além de uma minuciosa pesquisa, os repórteres do veículo Leonencio 
Costa e Celso Junior resgataram arquivos históricos e contaram com um vasto 
grupo de fontes para apoiar e construir um material visualmente didático, 
mas ao mesmo tempo profundo. A pluralidade de fontes é um destaque para a 
reportagem, baseada em obras, personagens, relatos e livros. Esse é mais um 
exemplo de boas práticas de apuração e narrativas que atendem a fundamentos 
como rigor, comunicabilidade, interesse público, verificação e credibilidade. 
A Figura 1 mostra a capa desse caderno.
13Os valores da narrativa jornalística
Figura 1. Capa do caderno Guerras desconhecidas do Brasil.
Fonte: O Estado de S. Paulo (2011, documento on-line).
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA. Princípios internacionais da ética profissional 
no jornalismo. Rio de Janeiro: ABI, c2013. Disponível em: http://www.abi.org.br/ins-
titucional/legislacao/principios-internacionais-da-etica-profissional-no-jornalismo. 
Acesso em: 16 fev. 2020.
BAHIA, J. Jornal, história e técnica. 4. ed. São Paulo: Ática, 1990. v. 1.
BERGER, P.; LUCKMANN, T. A construção social da realidade. 36. ed. Petrópolis: Vozes, 2014.
COELHO, L. Premiada, série 'Um Mundo de Muros' humanizou tragédias e foi além dos 
números. Folha de S. Paulo, 3 dez. 2018. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.
br/mundo/2018/12/premiada-serie-um-mundo-de-muros-humanizou-tragedias-e-
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GOMES, M. R. Jornalismo e ciências da linguagem. São Paulo: Hacker, 2000. 
Os valores da narrativa jornalística14
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Leitura recomendada
FRANCISCATO, C. E. A fabricação do presente: como o jornalismo reformulou a experiência 
do tempo nas sociedades ocidentais. São Cristóvão: UFS, 2005. 
15Os valores da narrativa jornalística

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