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O momento mais marcante do show foi com certeza a música A Cera

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“O momento mais marcante do show foi com certeza a música A Cera, ninguém ali imaginou que as pessoas fossem cantar a música, todo mundo em uma só voz ao estilo Love of My Life do Queen. Aquela foi a maior surpresa do mundo pra nós! Eu guardo essa lembrança muito clara na minha mente e no coração”. É assim que Franklin Roosevelt, baixista da banda de rock O Surto, relembra a participação do grupo no Rock in Rio 2001. 
As diferentes experiências que o festival proporciona tanto para o público como para quem participa são memoráveis, sendo consideradas marcantes desde sua primeira edição em 1985.
Se a vida começasse agora
Era 1980 quando Frank Sinatra se apresentou no Brasil pela primeira vez. Era um dia de janeiro chuvoso em meio a 175 mil pessoas no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. Trazer um dos mais badalados artistas da história da música para tocar em solo brasileiro era um desafio e tanto, que foi aceito pelo empresário carioca Roberto Medina. Vendo o sucesso do espetáculo, Medina desejou criar algo ainda maior: 10 dias ininterruptos de shows e emoções. 
Seu parâmetro era Woodstock, evento que aconteceu entre 15 e 18 de agosto de 1969 nos Estados Unidos. O nome do projeto: Rock In Rio. A ideia não foi aceita por todos. Reunir grandes nomes do cenário musical, receber mais de um milhão de visitantes e cobrar um preço razoável nos ingressos: patrocinadores e produtores enxergaram o plano como ousado demais. Insatisfeito com a recepção dos brasileiros, Roberto Medina se juntou com o jornalista Luiz Antônio Mello e o produtor Luiz Oscar Niemeyer para ir até os Estados Unidos convencer as bandas a participarem.
O Brasil não era bem visto no exterior e artistas que vieram exibir seus trabalhos no país anteriormente passaram por situações desagradáveis, como extravio dos instrumentos e até calotes. O Queen foi um dos procurados e um dos que tiveram uma experiência ruim, já que os músicos foram impedidos pelo governador do Rio de Janeiro de tocar no Maracanã, em 1983. O empresário da banda, Jim Beach, viu a proposta com ceticismo, dizendo que não acreditaria em um propósito daquele tamanho nem se fosse apresentado por um americano. Como um “prêmio de consolação”, deu a Roberto uma garrafa de champanhe.
Depois de receber um "não" de outros grupos como o Rolling Stones e o The Who, Roberto pediu ajuda ao agente de Frank Sinatra, Lee Solters. Explicou qual era a sua ideia e a rejeição que encontrou nos EUA. Foi nesse momento que a história começou a mudar. Medina organizou um coquetel para apresentar o que era o Rock in Rio e, com o apoio de Solters, conseguiu conquistar a confiança dos artistas. Ozzy Osbourne foi o primeiro e, ironicamente, o Queen foi o segundo a aceitar.
Um céu de estrelas
A confirmação do Queen foi uma espécie de "ímã" para as participações no evento. Com um pensamento parecido de "Se o Freddie Mercury vai fazer parte do Rock in Rio, quem sou eu para não ir", outras bandas aceitaram tocar. 
Uma verdadeira constelação composta por astros internacionais como James Taylor, George Benson, Rod Stewart, Iron Maiden, Scorpions, AC/DC e nomes da MPB: Alceu Valença, Ney Matogrosso, Elba Ramalho e Barão Vermelho estavam presentes. A primeira edição rendeu momentos históricos desde as 400 mil pessoas cantando Love of My Life em conjunto à vaia inesquecível que o Kid Abelha recebeu. 
Depois do sucesso, o Rock In Rio entrou definitivamente nos planos de Roberto Medina. Em 1991, saiu do espaço em Jacarepaguá e foi para o Maracanã. Onde passaram outros nomes importantes da música como Guns N Roses, A-ha, Prince e George Michael.
E o mundo fosse nosso de vez
O Rock in Rio ainda não possuía uma continuidade: a primeira em 1985, outra em 1991 e a terceira só ocorreu 10 anos depois, em 2001. Repaginado, contou com figuras do heavy metal e do pop, como Britney Spears e a boyband 'N Sync. Mas um dos grandes acontecimentos desse ano foi o boicote de seis grupos brasileiros que iriam tocar no palco principal. Divergências com relação a horários e valores de cachê fizeram Skank, O Rappa, Raimundos, Cidade Negra, Jota Quest e Charlie Brown Jr desistirem de se apresentar. Foi em meio a essa confusão que O Surto chegou ao palco Mundo.
Formada no Ceará, a banda alcançou sucesso com o hit “A Cera”, e assim se tornou uma das atrações do palco Tenda Brasil. Com a desistência, foram escalados para tocar no principal. A notícia pegou os músicos de surpresa, mas foi recebida com muita alegria. Sentimento que trouxe gratidão, proporcionando uma experiência única. A infraestrutura do palco era composta por três partes de um todo, que ao girar alternavam a entrada das próximas exibições. As 250 mil pessoas
ampliaram a energia do ambiente.
O último dia de Rock in Rio contou com O Surto e, na sequência, três grupos internacionais. Aproveitando que Red Hot Chilli Peppers encerraria a noite, Franklin, o baixista, cantou uma paródia escrita por ele, como forma de descontração, da canção Californication que em português virou Triste, mas não me queixo.
Outras situações curiosas envolvendo os integrantes aconteceram durante e depois do show. Logo na primeira música, o técnico de som da banda, apelidado de Garrafa, achou que o microfone estava desligado.Então, saiu correndo para verificar se estava funcionando. O problema é que os seguranças do Rock in Rio não sabiam disso e ao ver o rapaz indo em direção ao palco, acreditaram que se tratava de um invasor e imobilizaram Garrafa. Tudo isso enquanto a performance rolava.
Em outro momento, o vocalista Reges Bolo queria dar uma pausa e disse que iriam tocar I wanna be sedated do Ramones, a qual Franklin cantava. Mas a música não estava no setlist e ele não queria arriscar uma improvisação. Para contornar, o baixista emendou uma canção da banda Plebe Rude e mandou de volta para Reges, que ficou possesso com a situação.
Franklin também conta que, depois de terminarem a apresentação, foram passear com um carrinho de golfe nos bastidores. No caminho, encontraram o líder da banda australiana Silverchair. Mesmo não sabendo muito de inglês, decidiu ir cumprimentar o cantor Daniel Johns. A barreira do idioma e a estranheza do australiano com relação aos brasileiros marcou o encontro.
E a gente não parasse mais de cantar, de sonhar
No Brasil, o Rock in Rio deu novamente uma pausa de 10 anos e voltou a ocorrer somente em 2011. Mas enquanto isso, foi expandido para outros países. Portugal recebeu edições em 2004, 2006 e 2008, mesmo ano que ocorreu na Espanha.Os dois ainda foram sedes do festival em 2010. Em 2014, iria ser realizado em Buenos Aires, mas foi cancelado. Em 2015, chegou a Las Vegas.
No retorno ao Rio de Janeiro, trouxe uma mistura de pop e rock. Foi de Metallica à Rihanna e marcou uma nova era do festival que passou a ser realizado de dois em dois anos. Em 2013 a variedade de gêneros foi ainda maior, tendo apresentações de Beyoncé, Metallica, Justin Timberlake, Bon Jovi, David Guetta e outros. 
Um dos maiores espetáculos dessa edição foi justamente a da diva pop Beyoncé. Entre os clássicos de sua carreira, levou o público ao delírio quando dançou o funk carioca Ah Lelek junto dos bailarinos Les Twins.Rafael Corriça, 30 anos, esteve presente em 2013 e diz sem dúvida alguma que foi o melhor show das duas edições que teve a oportunidade de ir. E completa: "Toda vez que vejo no YouTube é como se eu revivesse o show, eu fiquei lá na frente. Foi sensacional! "
Essa diversificação dos gêneros musicais se tornou algo recorrente. A organização do festival buscou mesclar estilos.Em 2015, na comemoração dos 30 anos, reuniu Elton John , Rod Stewart , Katy Perry e Rihanna. Dois anos depois, misturaram experiência com juventude ao trazer 5 Seconds of Summer, Shawn Mendes, Aerosmith e Guns N’ Roses. Na de 2019, o cenário se repetiu: participaram o rapper Drake, Ivete Sangalo, Bon Jovi, Iron Maiden, Anitta e Imagine Dragons.
O jornalista Bernardo Araújo esteve em onze edições do Rock In Rio, todas no Brasil e três lá fora. Segundo ele, o que ocorre aqui é muitomais completo do que as versões internacionais. Bernardo tem uma longa história com o evento já que esteve em 1985 quando tinha apenas 13 anos. Grande fã de rock n’ roll, passou a cobrir profissionalmente. Esse fato virou um dos pontos altos do ano. Em um dia de cobertura, chega antes do primeiro show do palco Sunset, às 15h, e sai depois do último show do Palco Mundo, às 3h da manhã.
Muitos frequentadores que estiveram no início do Rock in Rio não aprovam essa variação de artistas. Já Bernardo acredita que é uma mudança positiva e diz que porque o nome do festival tem a palavra "rock" não quer dizer que só deva ter atrações desse gênero. 
“Acho uma bobagem quem reclama de pouco rock, até parece que o público brasileiro (e especialmente carioca) é roqueiro assim. O festival tem que ser diverso mesmo.”
Todos numa direção, todos num só coração
O Rock in Rio se tornou algo muito maior do que só um acontecimento musical. Com a influência e visibilidade, os organizadores aproveitaram para criar projetos. Um deles é o programa socioambiental que garantiu a restauração de mais de 30 mil hectares da Amazônia. O Amazonia Live é uma iniciativa em parceria com o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade que busca plantar mais de três milhões de árvores na região da floresta.
O prestígio dessa celebração também proporciona oportunidades a novos artistas. Em 2019, a dupla carioca ABRONCA, com origem no morro do Vidigal, participou do estreante Espaço Favela. Jennifer Loiola, com nome artístico Jay, contou um pouco sobre a experiência e relatou que o Favela foi o palco mais brasileiro e original de todos. Um dos momentos marcantes, foi durante a canção 174 onde elas levantaram uma bandeira do Brasil manchada de vermelho, como uma forma de protesto, e ganharam diversos aplausos.
O Espaço Favela representa a expansão da infraestrutura do festival no Brasil, que além deste, conta com a Rock District, Rock Street Asia, Gourmet Square, Gameplay Arena e Área Vip, New Dance Order, NAVE – Nosso Futuro é Agora, Fuerza Bruta, Rota 85 e Palco Supernova. A Cidade do Rock ainda possui uma montanha russa, roda gigante, tirolesa e o megadrop - um brinquedo que despenca de 30 metros de altura.

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