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Pediatria Medicina Anhembi Morumbi 1 Diarreia Alteração do hábito intestinal relacionada aumento da frequência e do volume das evacuações, com diminuição da consistência fecal. • DIARREIA AGUDA: Diarreia com duração igual ou inferior a 14 dias. Na maioria das vezes a etiologia é infecciosa. Autolimitada. • DIARREIA PERSISTENTE: Diarreia protraída. É a diarreia que se perpetua além de 14 dias, porém menor que 30 dias. • DIARREIA CRÔNICA: Diarreia de duração superior a 30 dias e decorre, geralmente, de problemas de má absorção intestinal. • DISENTERIA: Eliminação de fezes sanguinolentas e com muco, volume variável, associada a tenesmo e urgência para defecar. Traduz clinicamente inflamação do cólon. ➔ DOENÇA DIARRÉICA AGUDA Uma das principais causas de mortalidade e morbidade nos países em desenvolvimento, especialmente entre as crianças < 6 meses e que não estão em aleitamento materno. Mortalidade por desidratação e causa morbidade por desnutrição. Pode ser de etiologia bacteriana, viral ou parasitária. • VIRAIS Rotavírus, adenovírus entéricos, astrovirus, calcivirus. Levam à diarréia por mecanismo de invasão e lesão do enterócito, levando à má absorção de dissacarídeos em graus variados. ROTAVÍRUS É o maior causador de diarréia aguda em crianças < 2 anos. Período de incubação: 48-72 h. Transmissão: fecal-oral. É excretado nas fezes 2 a 3 dias antes e até 2 semanas após o término da doença clínica (sintomas). Clínica: vômitos, febre seguidos de diarréia líquida e volumosa. Duração: 2-8 dias. Diagnóstico: Elisa de amostras fecais e Aglutinação em látex (menos sensível). Pediatria Medicina Anhembi Morumbi 2 • BACTERIANAS E. coli Principal agente causador é a Escherichia coli. E. coli = enterotoxigênica (ETEC), entero-hemorrágica (EHEC), enteropatogênica (EPEC), enteroinvasiva (EIEC). ENTEROPATOGÊNICAS -> aderência. ENTEROPATOGÊNICAS: Não há lesão do enterócito, só há aderência da bactéria com produção de enterotoxinas. Por isto não existem pródromos. Vômito e febre são secundários à desidratação pela diarréia líquida e volumosa. Maior incidência em lactentes. Afeta diretamente o intestino delgado – aderência e apagamento da borda em escova das microvilosidades. Diarréia com fezes aquosas pode produzir DDC. ENTEROINVASIVAS: Quanto mais profunda a invasão da mucosa pelo patógeno, mais intensos serão os sinais anteriores à diarréia (com febre antes da desidratação). Como sinal dessa invasão aparecem sangue nas fezes e piócitos. Invasão da mucosa intestinal (cólon). Diarréia aquosa até disenteria. ENTEROTOXIGÊNICS (ETEC): Viajantes, lactente com desmame precoce. Intestino delgado, com liberação enterotoxinas secretoras. Fezes liquidas, duração < 5 dias, sem febre. ENTEROHEMORRÁGICAS (EHEC): Aderência e apagamento das vilosidades mucosa intestinal (cólon)e liberação de toxinas shiga com lesão mucosa. Fortes Pediatria Medicina Anhembi Morumbi 3 dores abdominais, DDA com fezes aquosas até colite hemorrágica. SHU (anemia hemolítica, plaquetopenia e insuficiência renal), colite hemorrágica. Shigelose Cólon distal, diarréia aquosa até disenteria com tenesmo. Febre, convulsões. Liberação toxina – shiga SHU. • PARASITÁRIA Diarreia aguda causada por parasitas, sendo os principais: E. hystolítica, Criptosporidium, G. Lamblia, Dientamoeba fragilis, Balantidium coli, Isospora beli, Microsporidium, Ciclosporidium, Blastocystis hominis, Tricocefalíase, Ascaris, Ancylostoma, Tenia, Estrongilóise. • DIAGNÓSTICO Toda criança com diarréia deve ser classificada de acordo com o seu estado de hidratação, em: 1) Sem desidratação; Aspecto: alerta Circulação < 3 segundos Pulso: cheio Elasticidade da pele: normal Olhos: normais Fontanela: normal Mucosas: úmidas 2) com algum grau de desidratação; Aspecto: irritada, com sede Circulação : 3-10 segundos Pulso: Fino Elasticidade da pele: diminuída Olhos: fundos Pediatria Medicina Anhembi Morumbi 4 Fontanela: deprimida Mucosas: secas 3) com desidratação grave; Aspecto: deprimida, comatosa Circulação (TEC): > 10 segundos Pulso: impalpável Elasticidade da pele: diminuída Olhos: fundos Fontanela: deprimida Mucosas: secas • TRATAMENTO Prevenção e/ou tratamento da desidratação. Nesse caso, pode-se usar a terapia de reidratação oral (TRO), terapia de reidratação gavagem (sonda nasogástrica), terapia de reidratação endovenosa. Prevenção e/ou tratamento da desnutrição. Probiótico ( inibem a adesividade dos enteropatógenos e melhoram digestão da lactose ). Antibioticoterapia quando necessário. • PREVENÇÃO Programas de educação materna. Incentivo ao aleitamento materno. Melhoria das condições de saneamento básico. Programas de imunização (Rotavírus). Pediatria Medicina Anhembi Morumbi 5 ➔ DOENÇA CELÍACA Intolerância permanente induzida pelo glúten que se expressa por enteropatia mediada por linfócitos T, em indivíduos geneticamente susceptíveis. O glúten está presente nos cereais amplamente utilizados (trigo, cevada, centeio, aveia). • FISIOPATOLOGIA Glúten: complexo protéico com duas frações . Glutenina (insolúvel): inócua . Gliadina (solúvel): fração tóxica. Absorção do glúten: Resposta imune celular e humoral; Gliadina – deaminada pela transglutaminase reconhecida pelas células apresentadoras de antígenos reação auto-imune; Lesão – atrofia da mucosa do intestino delgado, com alteração da absorção de nutrientes. • MANIFESTAÇÕES TÍPICAS Diarréia crônica; Desnutrição; Distensão abdominal; Dor abdominal; Anemia; Anorexia; Vômitos; Emagrecimento ou baixo ganho pondero-estatural; Irritabilidade. • MANIFESTAÇÕES ATÍPICAS EXTRA DIGESTIVAS Baixa estatura; Perda de peso; Déficit do crescimento; Anemia por déficit de ferro/ ácido fólico; Anemia hemolítica; Trombocitopenia/ Trombocitose; Artrite/Tetania; Dermatite herpetiforme. • DOENÇAS ASSOCIADAS Diabetes mellitus tipo I; Tireoidite auto-imune; Artrite reumatóide; Deficiência seletiva IgA; Linfoma; Câncer do ID, esôfago, faringe; Epilepsia com calcificações; Esquizofrenia; Síndrome de Down; Nefropatia por IgA; Fibrose cística; Cirrose biliar primária; Infertilidade/ Aborto. • DIAGNÓSTICO Testes sorológicos: Identificar indivíduos sintomáticos que necessitem de biópsia; Screening de indivíduos assintomáticos de risco; Monitoramento da adesão a dieta. Antigliadina (IgA e IgG): baixa sensibilidade e especificidade. Antiendomísio (EmA IgA): contra a reticulina do tecido conectivo ao redor das fibras musculares lisa; alta sensibilidade e especificidade. Pediatria Medicina Anhembi Morumbi 6 Antitransglutaminase tecidual (IgA tTG): contra a transgutaminase tecidual; alta sensibilidade e especificidade. Biópsia intestinal – histopatologia (vilosidades normal ou atrofia vilositária). • TRATAMENTO O tratamento tem como principais objetivos: 1. Eliminar as alterações fisiopatológicas intestinais. 2. Facilitar e favorecer a absorção de nutrientes. 3. Normalizar o trânsito intestinal. 4. Recuperar o estado nutricional do paciente. 5. Melhorar a qualidade de vida dos pacientes. PRIMEIRA FASE = Dieta isenta de glúten (trigo,centeio, aveia, cevadamalte); Dieta isenta de lactose (leite e derivados); Dieta pobre em sacarose; Gorduras vegetais; Proteínas vegetais e animais; Legumes e frutas de poucos resíduos. Utilização de fubá, amido de milho, creme de arroz, fécula de batata, araruta, polvilho, farinhas de mandioca e de milho; Utilizar leite de vaca sem lactose, hidrolisado protéico, fórmula de aminoácidos; Substituindo a sacarose por dextrino-maltose. ➔ CONSTIPAÇÃO INTESTINAL CRÔNICA O padrão de evacuação habitual é de 2 a 7 vezes ao dia em RN; 1 a 3 vezes ao dia em crianças até 6 meses; 1 vez ao dia em crianças maiores de 2 anos. Em casos de 2 ou mais evacuações, observar: Eliminação de fezes endurecidas, ressecadas ou em cíbalas; sensação de esvaziamento retal incompleto; Freqüência evacuatória < que 3 x por semana; Dor e/ou esforço evacuatório; Escape fecal. ESCAPE FECAL: perda involuntária de parcela do conteúdo fecal. ENCOPRESE: ato completo da evacuação em local e/ou momento inadequado. INCONTINENCIA FECAL: falta de controle do esfíncter por causas orgânicas. • EPIDEMIOLOGIA Problema frequente em pediatria; 3% dos atendimentos em ambulatório de pediatria; 25% dos atendimentos em ambulatório de gastroenterologia pediátrica; 90-95% de origem funcional. Pediatria Medicina Anhembi Morumbi 7 Alterações na dinâmica da evacuação pode desencadear retenção fecal, que tem como aspectos contribuintes os fatores emocionais e psicológicos; fatores individuais e hereditários; dieta pobre em fibras. A constipação intestinal pode ser classificada em aguda ou crônica (funcional ou orgânica). • DIAGNÓSTICO A abordagem diagnostica se passa pela anamnese (inicio, dieta, doenças orgânicas, medicamentos); exame físico (distensão abdominal, massas fecais, inspeção perianal, fissuras, estenoses, toque retal); exames complementares (enema opaco, manometria anorretal, tempo de transito colonico). ➔ DOENÇA DE HIRSCHSPRUNG (MEGACÓLON CONGÊNITO) A doença de Hirschsprung é uma anomalia congênita que tem como característica intrínseca a ausência dos neurônios intramurais dos plexos nervosos parassimpáticos (Meissner e Auerbach). Afeta o intestino grosso, em geral, nos seus segmentos mais distais, como o reto e o cólon sigmóide. Os principais sinais e sintomas da doença são a distensão abdominal que ocorre logo após o nascimento, com presença de vômitos e retardo de mais de 48 horas na passagem do mecônio, sem que haja um fator mecânico obstrutivo reconhecido de imediato. Os exames complementares a serem realizados em casos de constipação intestinal são: enema opaco; manometria anorretal (avalia a presença do reflexo retoanal); tempo de trânsito colonico; biopsia retal. • TRATAMENTO O tratamento pode ser realizado por: esvaziamento ampola retal; manutenção; reeducação; dietético. Adequar ingestão hídrica = a água deve ser ingerida fora do horário das refeições. Adequar ingestão de fibras, alimentando-se mais com vegetais, cereais, frutas. Deve-se utilizar o vaso sanitário por 5-10 minutos após as refeições. Pediatria Medicina Anhembi Morumbi 8 ➔ ALERGIA ALIMENTAR ALERGIA AO LEITE DE VACA A alergia ao leite de vaca (ALV) é definida como uma reação adversa mediada imunologicamente contra antígenos do leite de vaca. Idade = 3 – 6 meses da vida. Em lactentes recebendo aleitamento artificial. β-lactoglobulina, a principal proteína alergênica do leite de vaca. α e β caseína. Mediadas por IgE - 60% - envolve mais a pele. Não mediadas por IgE – 40% - envolve o trato gastrointestinal. • DIAGNÓSTICO 1- Clínica: presença de sangramento retal e cólica em lactente sem agravo nutricional de maior intensidade; 2- Laboratorial: exclusão de causas infecciosas de colite; 3- Procedimento: endoscopia e/ou biópsia retal com características típicas de colite; 4- Prova terapêutica: desaparecimento dos sintomas após a eliminação do suposto alérgeno da dieta do lactente ou da dieta da mãe (no caso de aleitamento natural); 5- Desencadeamento- não são necessários antes dos 9 a 12 meses de idade; 6- Procedimento: realização ou não de nova biópsia retal para caracterizar regressão das lesões na dependência do critério do médico. O diagnóstico de ALV é baseado numa história clínica e numa definitiva ausência de sintomas após eliminação do leite de vaca da dieta da criança e da mãe que amamenta, e a sinalização de recorrência de sintomas durante a reintrodução do leite de vaca. Na dieta de exclusão, faz-se a ingesta de leite materno exclusivo; fórmulas semidesnatadas; formulas elementares. • EVOLUÇÃO Alergia ao leite de vaca: 45 a 56 % - remissão até 1 ano; 60 a 77 % - remissão até 2 anos; 84 a 87 % remissão até 3 anos; 90 a 95 % remissão até 5 a 10 anos. • PREVENÇÃO Leite materno exclusivo até os 6 meses; Não é aconselhável dieta restrita durante a gestação; Retardar a entrada de alimentos sólidos; Desconhece-se o valor da dieta restrita durante a amamentação. Pediatria Medicina Anhembi Morumbi 9 INTOLERÂNCIA A LACTOSE Intolerâncias alimentares qualquer resposta diferente a um aditivo ou alimento, sem que haja as intervenções imunológicas. Podem ser ativadas por ação de toxinas produzidas por bactérias e fungos, agentes farmacológicos ou erros metabólicos por deficiência enzimática. Caracteriza pela falta da ação da enzima lactase, que é responsável por hidrolisar a lactose em glicose e galactose. CONGÊNITA: rara, sintomas aparecem nas primeiras semanas de vida com distensão abdominal, diarreia aquosa e desidratação. PRIMÁRIA: níveis de lactase intestinal começam a cair entre 3 e 5 anos, dor abdominal, náuseas, diarreia e borborismos. ADQUIRIDA: lesão das microvilosidades (rotavírus, doença celíaca etc.), transitória. • DIAGNÓSTICO O diagnostico é realizado por meio da anamnese, Ph reduzido (menor que 5,5), presença de substancias redutoras, teste do hidrogênio expirado positivo. • TRATAMENTO Fórmulas lácteas com baixo teor de lactose ou isentas de lactose. Exclusão da lactose da dieta. Tratamento da doença de base. Pediatria Medicina Anhembi Morumbi 10 ➔ DOENÇA DO REFLUXO GASTROESOFÁGICO Refluxo gastroesofágico (RGE) = passagem involuntária do conteúdo gástrico para o esôfago. Doença do refluxo gastroesofágico = RGE patológico, ou seja, quando o refluxo leva à sintomas e/ou alterações relacionadas à nutrição, ao esôfago, ao trato respiratório ou ao aparecimento de sintomas neurocomportamentais. • FISIOPATOLOGIA Relaxamentos transitórios do EEI; esvaziamento gástrico retardado; refluxo duodenogastroesofagico. Todos esses fatores acima se desencadeiam em distúrbio de motilidade. • QUADRO CLÍNICO Pediatria Medicina Anhembi Morumbi 11 • DIAGNÓSTICO O diagnostico é realizado por meio de anamnese detalhada, exame físico completo e exames complementares que auxiliam na confirmação da hipótese diagnostica. A Phmetria permite quantificar o RGE e correlacionar sintomas e episódios de RGE. O EED (estudo radiológico contrastado do esôfago-estomago-duodeno) pode demonstrar ou não a presença de refluxos, no entanto ele não diferencia o RGE da DRGE. É importante para demonstrar se existe alguma malformação congênita desta região que possa estar produzindo o refluxo. A cintilografia esofágicatem como indicações o esvaziamento gástrico e aspiração pulmonar; tem sensibilidade 15 a 59% e especificidade de 83 a 100%. • TRATAMENTO Deve ser realizado medidas dietéticas, por meio do aleitamento materno, lactentes com fórmulas (dieta fracionada, sem espessantes ou com espessantes). MEDIDAS POSTURAIS = é importante para demonstrar se existe alguma malformação congênita desta região que possa estar produzindo o refluxo. Embora os decúbitos laterais possam ser úteis no tratamento do DRGE, é importante verificar que são posições instáveis para um lactente, já que facilitam seu movimento para a posição prona.
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