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DISFUNÇÃO ERÉTIL APG 34: 1. Revisar a fisiologia da ereção 2. Compreender a epidemiologia, etiologia, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento da disfunção erétil 3. Entender o preconceito em relação à sexualidade do idoso Fisiologia da ereção Após a estimulação sexual (visual, tátil, auditiva, olfatória ou imaginada), fibras parassimpáticas da porção sacral da medula espinal iniciam e mantêm uma ereção, o alargamento e o enrijecimento do pênis. As fibras parassimpáticas produzem e liberam óxido nítrico (NO). O NO faz com que o músculo liso das paredes das arteríolas que irrigam o tecido erétil relaxe, o que possibilita que estes vasos sanguíneos se dilatem. Isso, por sua vez, faz com que grandes volumes de sangue entrem no tecido erétil do pênis. O NO também faz com que o músculo liso do tecido erétil relaxe, resultando em dilatação dos seios sanguíneos. A combinação de fluxo sanguíneo aumentado e dilatação dos seios sanguíneos resulta em uma ereção. A expansão dos seios sanguíneos também comprime as veias que drenam o pênis; a desaceleração do fluxo de saída do sangue ajuda a manter a ereção. Quando a estimulação sexual do pênis termina, as arteríolas que irrigam o tecido erétil do pênis se estreitam e a musculatura lisa no interior do tecido erétil se contrai, tornando os seios sanguíneos menores. Isso alivia a pressão sobre as veias que irrigam o pênis e possibilita que elas drenem o sangue. Consequentemente, o pênis volta ao seu estado flácido. As fases do processo de ereção peniana são: fase flácida, fase latente (de enchimento), fase tumescente, fase de ereção completa, fase de ereção rígida, fase de detumescência. Disfunção erétil A disfunção erétil é definida como a incapacidade persistente de alcançar e manter uma ereção suficiente para possibilitar uma relação sexual satisfatória. Epidemiologia De acordo com dados dos EUA, a DE afeta aproximadamente 30 milhões de homens norte-americanos na faixa etária de 40 a 70 anos. No passado, acreditava-se que a DE fosse unicamente uma condição psicológica, com frequência sendo relacionada à saúde mental. Atualmente, sabe-se que a DE apresenta uma etiologia física na maior parte dos homens, que em geral envolve o fluxo sanguíneo peniano. Estima-se que 10,9 milhões de homens nos EUA sofram de diabetes, dos quais 35 a 50% apresentam DE. Etiologia Causas psicogênicas: Incluem ansiedade com o desempenho, problemas na relação com a parceira sexual, depressão e transtornos psicóticos manifestos. Os fatores psicogênicos podem ser ainda mais exacerbados pelos efeitos colaterais de muitas das terapias utilizadas para o tratamento desses distúrbios, as quais por si próprias podem causar DE. Causas orgânicas: Abrangem uma ampla gama de processos patológicos que incluem etiologias neurogênicas, hormonais, vasculares, induzidas por medicamentos ou drogas, e relacionadas ao pênis. A causa mais comum de DE, especialmente em idosos, é de natureza vascular e envolve as artérias penianas, as veias penianas ou ambas. As questões arteriais normalmente são causadas pela arteriosclerose ou pelo enrijecimento das artérias, ainda que algumas vezes ocorram em consequência de traumatismos nas artérias. Os fatores de risco que predispõem as pessoas à arteriosclerose e que podem ser prevenidos incluem obesidade, inatividade física, níveis altos de colesterol, pressão arterial alta e tabagismo. Esses fatores de risco podem resultar em DE antes que o coração seja afetado. Outra causa vascular proposta para a afecção é a atrofia parcial ou completa dos músculos lisos do pênis (músculos lisos cavernosos) ou o crescimento excessivo do tecido muscular liso (fibrose). Essa atrofia ou fibrose pode contribuir para o comprometimento da capacidade de manter a ereção. A DE pode ser ocasionada por muitas causas neurológicas. Doença de Parkinson, esclerose múltipla, intoxicação por metais pesados, acidente vascular encefálico, traumatismo cerebral e lesões da medula espinal ou dos nervos podem levar a esse quadro. Na lesão medular, a extensão do comprometimento neural depende do nível, da localização e da extensão da lesão. Também é comum haver DE em diabéticos. O processo envolve o enrijecimento prematuro e incomumente grave das artérias. Neuropatia periférica, com envolvimento dos nervos que controlam a ereção, também é observada muitas vezes em pessoas com diabetes. Histórico de cirurgia pélvica de grande porte, em especial de prostatectomia radical, é uma causa comum de DE, em consequência tanto da lesão direta quanto da lesão indireta dos nervos. Os distúrbios endócrinos – como hipogonadismo, hiperprolactinemia e tireoideopatia – desempenham um papel significativo na fisiologia da DE. A testosterona regula a estrutura e a função dos nervos cavernosos, a síntese de óxido nítrico e o crescimento e a diferenciação celular dos músculos lisos corporais. A prolactina atua inibindo a secreção do hormônio de liberação de gonadotrofina (GnRH) pelo hipotálamo no cérebro. Para os hipertensos, o comprometimento da função erétil ocorre não tanto pelo aumento da pressão arterial, mas pelas lesões arteriais correlatas causadas pela pressão alta, as quais diminuem o lúmen dos vasos (condição denominada estenose). A estenose focal da artéria peniana comum se dá com mais frequência em homens que sofreram um traumatismo fechado pélvico ou perineal (p. ex., acidentes de bicicleta). Pode haver insuficiência no fechamento completo das veias durante a ereção (disfunção venoclusiva) em homens com grandes canais venosos que drenam os corpos cavernosos. Existem relatos de que muitos medicamentos causam DE, incluindo antidepressivos, antipsicóticos, antiandrogênios, colírios contra o glaucoma, quimioterápicos e anti-hipertensivos. O tabagismo pode induzir a vasoconstrição e o extravasamento venoso peniano, devido aos seus efeitos sobre os músculos lisos cavernosos, e também pode duplicar o risco de DE. O consumo de álcool em pequenas quantidades pode aumentar a libido e melhorar a ereção; contudo, em grandes quantidades, pode causar sedação central, diminuição da libido e DE transitória. Sabidamente o envelhecimento aumenta o risco de DE. Muitos processos patológicos que contribuem para a DE, incluindo diabetes, hiperlipidemia, doença vascular e efeitos do tabagismo a longo prazo, são mais comuns em homens idosos. Os declínios nos níveis de testosterona relacionados à idade também podem desempenhar um papel (andropausa). Fisiopatologia A DE pode advir de três mecanismos básicos: ● dificuldade de iniciação (psicogênica, endócrina ou neurogênica); ● dificuldade de enchimento (arteriogênica); ● dificuldade de manutenção de um volume sanguíneo adequado dentro da rede lacunar (disfunção venoclusiva). Diagnóstico O diagnóstico de DE exige a obtenção do histórico (clínico, sexual e psicossocial) completo e a realização de um exame físico cuidadoso, além de exames laboratoriais para afastar causas orgânicas do distúrbio. Como muitas substâncias – incluindo medicamentos prescritos, medicamentos de venda livre e drogas ilícitas – podem causar DE, também é necessária a obtenção de um histórico preciso a respeito de medicamentos e abuso de substâncias. Atualmente, há o entendimento de que a síndrome metabólica pode apresentar uma importante associação com a DE. Quando uma pessoa apresenta diversas dessas condições simultaneamente, a probabilidade de desenvolver doença cardiovascular é maior do que se apresentasse um único distúrbio desse tipo. Uma pessoa com DE deve ser avaliada quanto à coexistência de doença vascular e diabetes melito tipo 2. Quaisquer fatores de risco cardiovasculares devem ser modificados ou tratados (p. ex., tabagismo, diabetes, hipertensão, inatividade física e hiperlipidemia). Em grande parte das pessoas afetadas, está presente uma combinação de DE psicogênica e orgânica. A DE orgânica pode estar associada ao agravamento progressivo da ansiedade com o desempenho, que impacta ainda mais a disfunção erétil. Tratamento Para o tratamento holístico desses homens, o profissional desaúde e o psicoterapeuta podem precisar colaborar entre si e combinar o aconselhamento com uma ou mais dessas opções de tratamento. A modalidade de tratamento selecionada depende de diversos fatores, como gravidade da DE, causa de base e escolha do paciente e da parceira. Até o momento, evidências sugerem que a única modificação no estilo de vida capaz de promover alguma diferença na incidência de DE é manter ou iniciar a prática de exercícios físicos. Alguns medicamentos anti-hipertensivos e hipolipemiantes de fato podem agravar a DE. Cada vez mais, evidências mostram que a DE é um indicador da saúde cardiovascular. Qualquer regime de tratamento deve sempre levar em consideração a atitude da parceira a respeito do problema e a provável resposta ao tratamento efetivo. Os métodos de tratamento incluem aconselhamento psicossexual, terapia de reposição de androgênios, terapia medicamentosa oral e intracavernosa, dispositivos de constrição a vácuo e tratamento cirúrgico. A terapia psicossexual para a DE é instituída de acordo com a pessoa, uma vez que as fontes de ansiedade são variáveis. Podem incluir educação sexual, estratégias para melhorar a comunicação com a parceira e/ou terapia comportamental cognitiva. Esses tratamentos com frequência são combinados à farmacoterapia para a DE. Em termos de farmacoterapia, a maior parte das pessoas com DE responderá às intervenções farmacológicas orais. Inibidores da fosfodiesterase-5 (i. e., inibidores da PDE5) são uma terapia comum no tratamento da DE. Esses medicamentos inibem seletivamente a PDE5 e aumentam a quantidade de cGMP disponível para o relaxamento dos músculos lisos, induzindo vasodilatação, aumento do fluxo sanguíneo corporal e ereção. Exemplos de inibidores da PDE5 comumente prescritos incluem a sildenafila, tadalafila e vardenafila. O uso concomitante de inibidores da PDE5 e de nitratos (utilizados na cardiopatia isquêmica) é contraindicado devido ao risco de hipotensão profunda. Os inibidores da PDE5 são administrados por via oral. Outro tratamento efetivo para a DE é o uso da terapia com injeção intracavernosa (IIC). O tratamento com a terapia IIC administrada pelo paciente envolve o uso de medicamentos vasodilatadores, como alprostadil. Esse análogo da prostaglandina E1 relaxa os músculos lisos arteriais e trabeculares e é um tratamento eficaz para a DE. A administração ocorre por meio da injeção direta em um corpo cavernoso (com a difusão para o corpo cavernoso oposto) ou da inserção de um minissupositório na uretra. A fentolamina (um antagonista dos receptores alfa2-adrenérgicos) e a papaverina (um relaxante dos músculos lisos) também são administradas por meio de injeção intracavernosa. A terapia IIC pode ser utilizada na maior parte dos homens com DE, mas é especialmente útil naqueles que não respondem aos agentes farmacológicos orais. O dispositivo de constrição a vácuo envolve a aplicação de vácuo no pênis por meio de um cilindro, causando tumescência e rigidez, que é mantida com o uso de um anel constritor na base do pênis. As alterações fisiológicas penianas diferem da ereção normal no sentido em que não ocorre o relaxamento dos músculos lisos trabeculares, e o sangue simplesmente fica aprisionado nos compartimentos intracorporal e extracorporal do pênis, distais ao anel constritor. Os dispositivos de constrição a vácuo requerem um paciente motivado e uma parceira colaborativa. São mais populares nos casais de meia-idade e idosos e são opções de tratamento incomuns em homens mais jovens e solteiros. O tratamento cirúrgico da DE normalmente é reservado aos pacientes que apresentaram insucesso com as terapias mais conservadoras e nos quais essas são contraindicadas. A maior parte dos pacientes cirúrgicos apresenta doença arterial ou venosa significativa, fibrose dos corpos cavernosos penianos ou doença de Peyronie. Ainda que o resultado da intervenção cirúrgica possa ser mais confiável em casos selecionados, a incidência de morbidade e complicações é significativamente maior do que com outras opções de tratamento. Implantes penianos infláveis maleáveis ou multicomponentes normalmente são reservados para os pacientes nos quais a terapia mais conservadora fracassou, e estão associados a altas taxas de satisfação. Raramente ocorre falha do dispositivo e infecção da prótese. Sexualidade do idoso Na civilização moderna, diversos mitos e atitudes sociais são atribuídos às pessoas com idade avançada, principalmente os relacionados com a sexualidade, resultando na concepção de que os idosos são pessoas assexuadas e dificultando a discussão sobre a sexualidade nas idades mais avançadas. Um grupo especial de idosos, os residentes em instituições de longa permanência, tende a enfrentar ainda mais barreiras no que diz respeito à sexualidade, quando comparados aos idosos da população geral. Essas barreiras incluem pobre qualidade de saúde, maior índice de disfunção sexual, perda do interesse no assunto, ausência de parceiros, ausência de privacidade e repreensão dos profissionais que trabalham nessas instituições. A compreensão da sexualidade do idoso e do princípio de que ela é um componente da totalidade desse indivíduo não se restringe ao fator biológico, sendo, na verdade, biopsicossociocultural. Por isso, acaba por constituir um relevante indicador de saúde na terceira idade. A proporção de idosos com vida sexual ativa vem aumentando, o que reforça a necessidade de preparo dos profissionais e a importância da abordagem ativa do assunto. Referências NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia . [Digite o Local da Editora]: Grupo GEN, 2021. E-book. ISBN 9788527737876. Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/ #/books/9788527737876/.
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