Prévia do material em texto
DAC e SAC 1 � DAC e SAC DAC A DAC é uma doença ateroesclerotica de natureza inflamatória, manifestado por angina estável, angina instável, infarto do miocárdio (IM) ou morte cardíaca. A doença arterial coronariana estável (DAC) pode ser caracterizada como uma alteração anatômica e/ou funcional, levando à isquemia do músculo cardíaco, quase sempre reversível e, muitas vezes, relacionadas aos esforços – aumento da demanda de oxigênio e/ou diminuição da oferta, seja acompanhada de sintomas ou não. São diversas as situações clínicas que podem levar ao distúrbio entre a oferta e a demanda de oxigênio, sendo a aterosclerose com subsequente diminuição da luz coronariana a mais comum. Outros mecanismos incluem: (a) o vasoespasmo de artérias, seja com ou sem a presença de placas ateroscleróticas; (b) a disfunção microvascular; e (c) a insuficiência ventricular esquerda causada por infarto prévio ou pelo fenômeno de hibernação do miocárdio (cardiomiopatia isquêmica), podendo, estas condições serem agravadas por outras doenças clínicas sistêmicas (ex.: sepse, anemia etc.). Estes mecanismos podem também estar presentes ao mesmo tempo. Fisiopatologia A DAC é um distúrbio cardiovascular que ocorre devido à aterosclerose ou oclusões ateroscleróticas das artérias coronárias. Quando a função endotelial da parede arterial é interrompida, aterosclerose começa devido ao acúmulo de gotículas de lipoproteína na parede íntima dos vasos coronários. Na corrente sanguínea, os lipídios insolúveis em água circulam ligando-se a lipoproteínas solúveis em água chamadas apolipoproteínas. As lipoproteínas de baixa densidade (LDL) em alta concentração possuem a capacidade de permear o endotélio rompido e sofrer oxidação. Esse LDL oxidado ou modificado atrai os leucócitos para a íntima dos vasos coronários, que podem ser eliminados por macrófagos, levando à formação de células espumosas. Estas células de textura espumosa replicam e formam lesões, que são denominadas de estrias gordurosas. Esse é a forma mais precoce de lesões visualizadas na aterosclerose. DAC e SAC 2 A formação de tais lesões desencadeia sinais que atraem células musculares (SMCs) para o local da estria gordurosa. As SMCs então iniciam a proliferação e produção de matriz extracelular, principalmente colágeno e proteoglicanos. A placa aterosclerótica começa desenvolvendo e acumulando um grande volume de matriz extracelular produzidos pelas SMCs, levando à progressão da lesão para placa fibrosa. A placa fibrosa invade o lúmen do vaso coronário e pequenos vasos sanguíneos são formados que subsequentemente podem calcificar as placas. A lesão final formada é uma lesão avançada e complicada composta por uma capa fibrosa com um núcleo rico em lipídios sobrejacente contendo material necrótico, que pode ser altamente trombogênico. Os proteoglicanos produzidos pelas SMCs podem se ligar às lipoproteínas e prolongar sua existência na íntima, tornando assim susceptíveis a modificações oxidativas e não enzimáticas conjugação com açúcares, também chamada de glicação. As lipoproteínas modificadas, ou seja, fosfolipídios oxidados e produtos finais de glicação avançada podem propagar respostas. As metaloproteinases de matriz (MMPs) são secretadas pelas células endoteliais em resposta a processos oxidativos, hemodinâmicos, inflamatórios e sinais autoimunes. Esses MMPs, juntamente com um equilíbrio de seus inibidores teciduais endógenos, modulam vários funções das células vasculares, como ativação, migração, proliferação, morte celular, remodelação geométrica, formação de novos vasos, destruição da matriz extracelular das artérias e miocárdio e cura. A morte celular ou apoptose ocorre comumente nas lesões ateroscleróticas, o que eventualmente leva a a deposição de fator tecidual em forma particulada. Como resultado da formação da placa aterosclerótica na artéria coronária, ocorre obstrução do fluxo sanguíneo, o que leva a uma incompatibilidade entre a demanda e o suprimento de oxigênio do miocárdio. Essa obstrução manifesta a sintomas de DAC, como desconforto subesternal, sensação de peso, sensação de pressão, que pode irradiar para a mandíbula, ombro, costas, ou braço. Esses sintomas geralmente duram vários minutos e geralmente são provocados por uma refeição pesada, estresse emocional, esforço ou frio. Em minutos, esses sintomas podem ser aliviados com repouso ou nitroglicerina. Fatores de risco para doença arterial coronariana Idade Diabetes melito Hipertensão arterial Dislipidemia DAC e SAC 3 Obesidade Sedentarismo Tabagismo História familiar positiva Entre os exames que podem ajudar na avaliação inicial do paciente com suspeita de DAC, destacam-se: (a) testes bioquímicos, (b) eletrocardiograma em repouso (holter); (c) ecocardiograma transtorácico em repouso, (d) teste ergométrico, (e) ecocardiograma de estresse, (f) cintilografia. Estraficação de risco baseada em testes não invasivos Alto risco (> 3% morte/ano) Disfunção do ventrículo esquerdo (VE) em repouso grave, FE < 0,35. Escore de risco elevado ao teste ergométrico, escore de Duke < -10. Disfunção do VE grave ao teste de imagem com estresse, FE < 0,35. Grandes defeitos de perfusão durante teste de imagem com estresse Múltiplos defeitos de perfusão de tamanho moderado durante teste de imagem com estresse. Defeitos em mais de dois segmentos com baixa frequência cardíaca (< 120 bpm) ou com baixa dose de dobutamina (10 μg/kg/min) durante teste de ecocardiograma com estresse. Evidência de isquemia extensa durante ecocardiograma com estresse. Moderado risco (1 a 3% morte/ano) Leve a moderada disfunção do VE em repouso, FE entre 0,49 e 0,35. Risco intermediário no teste ergométrico, escore de Duke entre 4 e -10. Moderados defeitos de perfusão sem dilatação do VE ou captação pulmonar durante teste de imagem com estresse. Defeitos de perfusão limitados, envolvendo dois segmentos e com dose de dobutamina maiores que 10 μg/kg/min durante o ecocardiograma com estresse. SAC Apresentações clínicas de IM O início de isquemia miocárdica é o primeiro passo no desenvolvimento de IM e DAC e SAC 4 resulta de um desbalanço entre a oferta e a demanda de oxigênio no miocárdio. Isquemia miocárdica em um contexto clínico pode, com maior frequência, ser identificado pela anamnese e por alterações no eletrocardiograma (ECG). Sintomas isquêmicos incluem várias combinações de desconforto torácico, de extremidade superiores, mandibular, epigástrico ou um equivalente isquêmico, como dispneia ou astenia. O termo síndrome coronariana aguda (SCA) é usado para pacientes em que há suspeita de isquemia miocárdica aguda ou infarto do miocárdio (IM). São classificadas em três apresentações: angina instável (AI), IM sem supradesnivelamento do segmento ST (IMsST) e IM com supradesnivelamento do segmento ST (IMcST). O discernimento entre IM e AI em geral é feito ao comparar as curvas de marcadores de necrose miocárdica. Características patológicas da isquemia e infarto miocárdico A definição de IM é a morte celular de miócitos devido a isquemia prolongada. Redução celular de glicogênio, relaxamento de miofibrilas e disrupção do sarcolema são as primeiras mudanças e já são vistas nos primeiros 10-15 minutos. Anormalidades mitocondriais são observadas tão cedo quanto 10 minutos de oclusão coronária e são progressivas. Biomarcadores Troponina I e troponina T são os biomarcadores preferenciais para avaliar lesão miocárdica e os ensaios de troponina ultrassensível são recomendados para prática clínica rotineira. Outros marcadores como CKMB são menos sensíveis e menos específicos. A lesão pode ser aguda, caracterizada por um aumento e/ou queda dinâmica de troponina acima do percentil 99 do LSR, ou crônico, caracterizado por uma elevação persistente dos níveis de troponina. Se a isquemia miocárdica está presente clinicamente ou detectada por mudanças no ECG associadas a lesão miocárdica, manifestada por uma curva de marcadores de necrose miocárdica,o diagnóstico de IM está fechado. Classificação do IM IM tipo 1 pode acontecer por rotura clássica da placa ateromatosa ou por erosão da placa mais modernamente, associada a um quadro clínico compatível com SCA e curva de troponina. IM tipo 2 acontece em um contexto clínico em que há desbalanço oferta- demanda da perfusão do miocárdio – levando a quadro clínico de SCA e curva enzimática compatível com IM, a rotura da placa aterotrombótica não é um DAC e SAC 5 característica do IM2. A distinção de IM tipo 1 e tipo 2 é um desafio clínico que deve ser enfrentado, avaliando o contexto de fatores de risco do paciente, a situação clínica da apresentação e lesões coronárias fixas. IM tipo 3 é definido como morte súbita com sintomas sugestivos de isquemia miocárdica acompanhada por mudanças presumidas nos ECG em um contexto em que não é possível colher biomarcadores antes do desfecho. IM tipo 4 é definido como associado a procedimentos percutâneos, sendo dividido em 4a: associado a angioplastia; 4b: trombose de stent; 4c: reestenose pós-angioplastia (quando não há outra explicação angiográfica plausível). IM tipo 5 se associa a RVM.