Prévia do material em texto
PUBERDADE PRECOCE PUBERDADE • Fase de transição, entre a infância e a vida adulta, em que se completam o crescimento somático e o desenvolvimento sexual, com consequente aquisição da capacidade reprodutiva. • É constituída por processos fisiológicos distintos: a adrenarca (maioria dos caracteres secundários) e a gonadarca. • Limites da normalidade: ® Meninas: 8 a 13 anos → Início: telarca > pubarca > menarca (após 2 anos da pubarca). ® Meninos: 9 a 14 anos → Início: aumento do volume dos testículos (4 cm3), através do orquidômetro. • Ativação do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal > aumento da secreção pulsátil de GnRH > estimulação da produção de LH e FSH (gonadarca) > transformações físicas: estatura e caracteres sexuais secundários. ® LH nas meninas: estimula ovários a secretar estradiol → telarca, estirão de crescimento e ↑ idade óssea. ® LH nos meninos: estimula testículos a secretar testosterona → aumento peniano, de pelos pubianos, alteração da voz, desenvolvimento da musculatura, estirão de crescimento (pela conversão em estradiol). ® FSH: estimula o desenvolvimento de espermatozoides e óvulos e aumenta o tamanho das gônadas. • A gonadarca inclui eventos previsíveis quanto ao início, sequência e ritmo. CARACTERES SEXUAIS SECUNDÁRIOS • Telarca • Pubarca • Axilarca • Acne • Mudança do timbre de voz • Crescimento acelerado • Aumento dos testículos • Aumento peniano ESTÁGIOS DE TANNER Lara Mattar | Ginecologia | Medicina UFR • Em média, o intervalo entre dois estágios puberais é de 1 ano (<6 meses, considera-se anormal). • O processo de puberdade se completa em torno de 4 anos. • O estirão de crescimento ocorre entre os estágios 2 e 3 no sexo feminino e 3 e 4 no sexo masculino. • É precedido por um período de velocidade de crescimento (VC) mínima (desaceleração pré-puberal) e seguido por uma fase de desaceleração progressiva até o fechamento completo das epífises. • Tanto o estirão quanto o fechamento epifisário são regulados pela ação dos esteroides sexuais. • O estirão de peso, nas meninas, ocorre após a menarca e é caracterizado por aumento de massa gorda. Já nos meninos ocorre concomitantemente ao estirão de crescimento e é caracterizado por aumento de massa muscular. • Adenohipófise: prolactina, FSH e LH, TSH, ACTH e somatrofina. • O início da puberdade é determinado pelo aumento, em amplitude e frequência, da secreção pulsátil do GnRH. • Ligação ao receptor específico nos gonadotrofos da hipófise anterior, promovendo aumento da secreção das gonadotrofinas (LH e FSH) e consequente reativação da função gonadal (produção de estradiol e testosterona). • A secreção de GnRH é coordenada por uma rede neuronal: ® Estimulatórios: Kisspeptina, neuroquinina b, glutamato, glicina, norepinefrina, dopamina, serotonina, leptina. ® Inibitórios: opióides endógenos (dinorfina A), GABA, neuropeptídeo Y, peptídeo vasoativo, hormônio corticotrófico, melatonina (excesso de telas inibem a melatonina, acelerando puberdade). • A reativação do eixo HHG é influenciada pela interação de fatores genéticos, nutricionais, ambientais e socioeconômicos, que reduzem tônus inibitório e elevam o tônus estimulatório sobre a secreção pulsátil de GnRH. PUBERDADE PRECOCE • Definida como o surgimento de caracteres sexuais secundários < 8 anos nas meninas e < 9 anos nos meninos. • Pode ser dividida em dependente ou independente de GnRH. PUBERDADE PRECOCE CENTRAL • Também conhecida por puberdade precoce dependente de GnRH ou verdadeira. • Ativação precoce do eixo HHG. • Sempre isossexual (características concordantes com o gênero acometido). • É uma condição rara, mais frequente no sexo feminino (90% dos casos são idiopáticos) • CAUSAS: idiopáticas (causa mais comum em meninas), adoção internacional, doenças do SNC, hamartoma hipotalâmica (causa mais comum nos meninos). • FATORES DE RISCO: sobrepeso e obesidade, exposição a disruptores endócrinos (cosméticos com parabenos e triclosano, plástico aquecido, agrotóxicos), história familiar, exposição excessiva a telas. • DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: • Concentrações puberais de LH basal (padrão ouro, idealmente por IQMA, > 0,3 mUI/ml ou UI/L indica puberdade). • FSH e relação LH/FSH não tem boa acurácia e sensibilidade. • Estradiol não é bom parâmetro, mas E2 > 20 pg/ml é compatível com puberdade precoce. • Elevação persistente de testosterona nos meninos é dado importante e tem relação com volume testicular. Concentrações plasmáticas de testosterona > 100 ng/dL são encontrados em meninos com puberdade precoce. • Teste de estímulo com GnRH: progressão do desenvolvimento puberal for discordante da primeira dosagem de LH. LH estimulado (pico) > 5 UI/L confirmam PPC. Serve para diferenciar puberdade central e periférica. • DIAGNÓSTICO RADIOLÓGICO: • RX de idade óssea: mão e punho esquerdos, mostra avanço com relação a idade cronológica • US pélvica com útero, endométrio e ovários aumentados para a idade. • RNM de encéfalo deve ser sempre solicitado para determinação etiológica. • TRATAMENTO: • Os objetivos principais são: preservar o potencial de estatura na idade adulta, proporções corporais adequadas, prevenção dos problemas psicossociais, desajuste ambiental, risco de abuso sexual e gravidez precoce. • Em relação a ganho final de estatura, os resultados melhores são vistos em meninas com inicio de puberdade antes dos 6 anos de idade. • Análogos de GnRH com ação prolongada. Mensal, trimestral ou semestral. • GnRH ligam-se de forma competitiva aos receptores de GnRH nos gonadotrofoos e levam à redução do número (down regulation) e dessensibilizacao dos mesmos. • Inicialmente causam um estímulo à síntese de LH e FSH (podem causar sangramento nas primeiras doses), porem sua administração crônica inibe o eixo de forma constante e completa. • CONTROLE DE TRATAMENTO: regressão ou estabilização dos caracteres sexuais secundários, redução da VC a níveis pré-puberais, estabilização da idade óssea, redução do LH. • Interrupção do tratamento é feita, em geral, entre 12 e 12,5 anos de IO nas meninas e 13 a 13,5 nos meninos. • O bloqueio puberal com GnRH é totalmente reversível e parece não ter efeitos negativos sobre função terapêutica, massa óssea e o IMC. • Indivíduos com PPC não tratados, apesar de terem estatura mais elevada no momento do diagnostico, geralmente terão baixa estatura na vida adulta. Não é raro a ocorrência de distúrbios psicológicos e comportamentais. • Estudos sugerem risco mais elevado de obesidade, DM2, HAS, doenças cardiovasculares e câncer na vida adulta. • Em alguns centros, meninas que entram na puberdade com menos de 1,40 m e meninos com menos de 1,50 m já se inicia o tratamento com GnRH e GH. PUBERDADE PRECOCE PERIFÉRICA • Puberdade precoce independente de GnRH. • Causada por excesso de esteróides sexuais. • Pode haver produção pelas gônadas, adrenais ou por exposição a hormônios sintéticos (exógena). • Sinais puberais desordenados e incompletos. • PP isosexual ou PP heterosexual (sinais não esperados para o sexo). • Exposição prolongada a esteróides sexuais pode desencadear PPC. • Condição mais rara e tem causas diferentes entre os sexos. • PRINCIPAIS CAUSAS DE PPP EM MENINOS: ® Tumor adrenal secretor de androgênios ® Hiperplasia adrenal congênita ® Testoxicose familial ou esporádica ® Tumor das céls de Leydig ® Tumor secretor de hCG ® Sd. de resistência ao cortisol ® Sd. de McCune Albright • DIAGNÓSTICO: • Níveis supressos de LH e FSH- basais e/ou estimulados. • Elevação dos esteróides sexuais (testosterona e estradiol). • 17-OHP, Androstenediona, SDHEA devem ser solicitados para as meninas com quadro de virilização e para todos os meninos com suspeita de PPP. • TRATAMENTO: • Depende da causa. Não se baseia no bloqueio da secreção de gonadotrofinas. VARIAÇÕES BENIGNAS DO DESENVOLVIMENTO PUBERAL TELARCA PRECOCE ISOLADA • Desenvolvimento mamário uni ou bilateral em meninascom < 8 anos. • Sem outros achados puberais • Sem consequências sobre o crescimento (VC adequada e IO compatível com a idade cronológica). • Exames laboratoriais revelam valores pré-púberes de LH, FSH e estradiol. Porém com aumento do FSH em relação ao LH. PUBARCA PRECOCE ISOLADA • Pelos pubianos antes dos 8 anos em meninas e antes dos 9 anos em meninos. • Pode ser acompanhada de discreto avanço de IO e aumento da estatura para a idade cronológica, sem comprometimento da estatura final. • Progressão lenta. • Correlação entre RCIU, adrenarca precoce e síndrome metabólica na adolescência e vida adulta • Crianças prematuras, PIG, sobrepeso e obesidade têm maior risco de apresentar adrenarca precoce. E essas no futuro de doença cárdio-metabólica e SOP.