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primeira aula missional


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Newbigin foi missionário na Índia, campo majoritariamente pagão. Ao voltar pra Inglaterra e encontrar grande ceticismo nos seminários dali, começa a falar da secularização e paganização do Ocidente e da importância de alcançar esse contexto. Começa a destacar que é um erro ver a Índia como “campo missionário” e a Inglaterra não. A Inglaterra se secularizou, mas as igrejas não percebiam e nem reagiam a isso, não se preocupavam em viver pela ótica diária da missão. 
Ele diz algumas coisas:
• As igrejas de “campo missionário” (como na Índia) viviam debaixo de uma profunda e densa consciência de missão, mas as “daqui” não; 
• as igrejas “de lá” acreditavam que seus visitantes não possuíssem qualquer conhecimento do Evangelho (e por isso, tinham grande preocupação em cantar, ensinar e pregar de forma que fizesse sentido na cultura), mas as “daqui” não se dava conta de que ao seu redor ninguém mais entendia o Evangelho 
• nas igrejas “de lá” os crentes vivem em uma sociedade com valores radicalmente diferentes dos que aprendiam na igreja 
• nas igrejas “de lá” não havia departamento de missões, porque toda a igreja girava ao redor de missões. Não havia “compartimentalização”. Cultos, ações, estrutura, objetivos, orçamento anual e etc, era pensado a partir da missão 
AS MUDANÇAS DE PARADIGMA 
Perspectiva de David Bosch
 
O que é um paradigma? É como uma moldura: ao mesmo tempo em que delimita o campo visual, atribui valor ao que está dentro do seu perímetro (o que olhar e o que não olhar). 
Paradigma cultural é um conjunto de crenças, valores e comportamentos (muitos deles inconscientes) através dos quais vemos a vida. 
Nessa visão, em cada etapa da história há uma visão majoritária/hegemônica, até que alguns poucos começam a pensar de forma qualitativamente diferente (revolução) e isso inicia uma nova hegemonia. Há uma nova percepção de mundo, vida, cultura, sexo, ciência e outros (ex: revolução cultural-comportamental dos anos 60, que se espalharam pras artes, política, religião e etc). Para interpretar o mundo dos anos 70, por exemplo, você tem que usar uma “moldura” (paradigma) bem diferente daquela usada nos anos 50
Aplicação do conceito à relação entre igreja e missão. 
Alguns paradigmas de igreja e missão ao longo da História 
- paradigma primitivo (quase não há divisão entre igreja e missão. A própria palavra “igreja” surge depois do estabelecimento da missão. A Igreja nasce como uma forma de cumprir a missão. Tudo que a igreja faz tem a ver com missão, porque a Igreja NASCE para cumpri-la) 
paradigma medieval (por decreto, todos debaixo do Império Romano se tornam cristãos. Com milhões de cristãos nominais, a missão se torna a função de alguns poucos que vão “lá para fora” alcançar os “não-alcançados” (já que teoricamente todos “aqui dentro” já eram cristãos). 
- paradigma protestante (mais ocupados com o confronto doutrinário com o catolicismo, os reformadores não percebem com profundidade a importância do conceito de “missão” para a igreja. Muito do que conhecemos como “igreja 
protestante” até hoje se baseia na ideia de manutenção individual da fé. Para muitos reformados veem a missão como uma tarefa específica de alguns poucos. Os pastores enviados para regiões distantes não iam com o propósito de evangelizar os povos, mas sim cuidar dos crentes que moravam naquelas regiões 
- paradigma moderno (a ação missionária é resgatada, mas dentro de um paradigma ainda muito medieval: “missionários” são os poucos que vão pra algum lugar distante (China, Japão, Índia) converter os pagãos. Ex: Adoniram Judson, Hudson Taylor e outros
paradigma pós-moderno (com a paganização e secularização dos “daqui” (sociedade ocidental) e emergência das igrejas “de lá” (sociedades orientais e do terceiro mundo), a missão começa a ser entendida como uma tarefa a ser feita por todos em todos os lugares. Tentativa de resgatar paradigma primitivo: missão é a essência do que a Igreja é.
CONCLUSÃO 
• A missiologia nas igrejas hoje ainda é muito baseado no paradigma moderno (alguns em alguns lugares distantes) 
• A eclesiologia nas igrejas hoje ainda é muito pautada no paradigma reformado (o papel da comunidade é fazer manutenção dos crentes. Seu papel na missão é orar e apoiar financeiramente os que estão distantes em missão) 
• A eclesiologia missional nasce no desafio de construir uma comunidade local consciente de sua razão de ser em seu próprio contexto 
A leitura complementar desta aula é: Capítulo 2: “Deus forma Israel como um povo missional” do livro: A Igreja missional na Bíblia de Michael Goheen. 
O chamado de Abraão 
é a resposta de Deus para o problema descrito em Gn 3-11. Deus não quer abençoar UMA família, mas todas elas 
• A família de Abraão provavelmente era uma das dispersas após a confusão das línguas em Babel. Família de Abraão era politeísta (Js 24.2) 
• Um dos grandes erros cometidos por Israel é ver o chamado de Abraão
e da nação como sendo privilégio, ao invés de ser como responsabilidade e missão. Isso cria neles um etnocentrismo, ao invés de missão entre os povos. O chamado e a identidade do povo de Deus JAMAIS deve ser motivo de orgulho e senso de superioridade em relação aos demais 
O chamado de Abraão 
O povo de Deus é formado por aqueles que foram chamados por graça para serem benção aos de fora. Ou seja: a própria razão de ser e existir desse povo é sua missão. O povo de Deus não existe para si mesmo e nem para servir aos de dentro, mas existe para os outros. A igreja só é de fato Igreja quando ela o é para os de fora, senão perdeu sua identidade básica .
No Êxodo+Aliança Deus está fazendo com Israel 
(redenção + relacionamento + Lei + Presença) o que Ele queria fazer com todo o mundo 
Como Israel deveria ter cumprido sua missão no AT: 
1. Obedecendo à Lei (estilo de vida), como visto em Dt 4.6. O padrão estipulado pela Lei era extremamente superior à dos vizinhos. Seguir a Lei faria a nação ser admirada e seguida por sua justiça, prosperidade, saneamento público (limpeza de dejetos), meio ambiente (descanso da terra), forma de lidar com estrangeiros e outros tipos de lei. Israel seria uma “maquete do Reino de Deus para as nações”. 
2. Sendo o cenário dos atos e sinais poderosos de Deus (ex: Ex 9.16, Js 4.24 e Dn 6.26). Esses atos revelavam quem Deus é. Israel era o ambiente onde Deus estava se revelando. Os atos poderosos eram como “fogos de artifício” para chamar as demais nações à Israel, e ali veriam YHWH, seu Deus. 
Muitas igrejas hoje falam do cuidado de Deus e dos sinais poderosos de Deus para Seu povo dizendo que isso acontece porque Seu povo é especial e superior. Na verdade não: eles são como os demais, mas foram salvos por graça e tudo que recebem é, de certa forma, um sinal missional para as demais pessoas e povos
3. Adorando de forma inclusiva (Sl 67.3-4, 96.1-10, 100.1-3). Há uma quantidade enorme de convites nos Salmos para que os povos distantes venham adorar ao Senhor. Aparentemente não havia nenhuma restrição à entrada de gentios no Templo (ele tinha que ser feito israelita antes, é claro)
Como essa realidade deve mudar nossa liturgia? Nosso momento de culto faz sentido e é belo também para os de fora? Precisamos ser missionais nisso também. Eles devem ter a chance de compreender o que está se passando, ainda que isso não tenha a ver com ser “atrativo” 
Afinal, assim como Israel adorava “em meio” às nações, hoje a Igreja deve adorar pressupondo que em seu meio haverá muitos que ainda não pertencem ao povo de Deus. E se a Igreja existe em prol deles, para eles, isso significa que nossa liturgia, culto e estilo de comunicação nas reuniões deve levá-los em consideração. Afinal, a ordem de “irmos” por todo o mundo não exclui nossa responsabilidade de “vivermos” de forma missional