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Letícia Andréa 105 – 3O Conceito: termo usado para descrever os resultados (sinais e sintomas) de uma dissolução química da superfície dentária causada por eventos metabólicos que ocorrem no biofilme (placa bacteriana) que recobre a área afetada. Latim: material podre Grego: cavidade Lesão: termo usado para designar a destruição de um tecido duro Doença exclusiva dos dentes Tão antiga quanto a própria humanidade Natural e democrática Doença onipresente – está em todas as populações Incidência variável Com o aumento da idade, os sinais e sintomas da cárie se acumulam Prevalência de quase 100% – casos novos e cumulativos Sua prevenção e o tratamento ocupa a maior parte da prática odontológica Seu custo representa um importante ônus para a sociedade É uma das principais causas de restaurações e perda dentária A patologia pode afetar: esmalte, dentina e cemento Suas lesões podem se manifestar clinicamente de formas variadas Doença Podem se desenvolver em qualquer local da cavidade bucal que se desenvolva um biofilme por tempo suficiente Não há superfície mais ou menos susceptíveis, mas há uma diferença de velocidade e locais de limpeza mais difícil Locais onde o desenvolvimento da lesão é mais provável, porque o biofilme pode ficar estagnado ali por longos períodos Os locais que mais ocorrem são fóssulas, sulcos e fissuras nas superfícies oclusais, principalmente durante a erupção Também muito presente nas superfícies cervicais proximais à área de contato e ao longo da margem gengival A inserção de corpos estranhos à dentição (restaurações com margens inadequadas, próteses e bandas ortodônticas) pode resultar na formação de locais “protegidos” Áreas protegidas da influência da língua, bochechas, alimentos abrasivos e escovação dos dentes são mais susceptíveis – o biofilme pode ficar estagnado por muito tempo Não se desenvolve na mesma velocidade em todas as partes da boca Áreas próximas a saída de saliva, há um acúmulo dessa e uma maior proteção *Biofilme* Cresce em todas as superfícies sólidas da boca e é um pré-requisito para a lesão de cárie É caracterizado por atividade microbiana continua que causa eventos metabólicos na forma de flutuações contínuas e diminutas no pH Qualquer desvio no pH influencia a composição química e no grau de saturação relativo do fluido do biofilme com relação aos minerais de manutenção da composição química da superfície dentária Sua presença não leva necessariamente ao desenvolvimento de lesões de cárie clinicamente visíveis A superfície dentária está sempre submetida a modificações químicas, a maioria incrivelmente sutil e microscópica A superfície coberta pelo biofilme acumula fluoreto de forma gradual e em todas as camadas O acumulo de flutuações do pH, com o passar do tempo, leva a uma perda líquida do cálcio e do fosfato que deixa o esmalte poroso e forma uma lesão do tipo “mancha branca” Seus eventos metabólicos são intrínsecos à fisiologia do biofilme e muitos tendem a se cancelar mutuamente e a lesão ocorre com o desvio dos eventos metabólicos que resultam em perda mineral do esmalte A perda total do conteúdo mineral causa uma lesão de cárie Letícia Silva ! Letícia Silva ! Letícia Andréa 105 – 3O Durante o dia, várias vezes há queda do pH e desmineralização dentária e a subida do pH com remineralização dentária, na interface biofilme e superfície do dente Quando o biofilme é parcial ou totalmente removido, a perda mineral pode ser interrompida, ou mesmo revertida, levando a um ganho mineral, já que a saliva está supersaturada em relação à apatita do esmalte A composição e espessura do biofilme, velocidade e composição da saliva, dieta e a concentração de íons de flúor nos fluidos da boca influenciam no metabolismo e na probabilidade de perda mineral e velocidade que essa ocorre O comportamento, a instrução, o conhecimento e as atitudes individuais influenciam dos fatores biológicos – qualidade da higiene bucal, escolha dos alimentos, uso de produtos fluoretados, fluxo salivar pelo consumo de gomas de mascar A ausência de uma lesão de cárie clínica não necessariamente significa que não ocorreu qualquer perda mineral, mas que não há uma lesão discernível clinicamente O diagnóstico dos vários estágios de progressão da lesão é uma questão de definir certos pontos de “corte” Fisiopatologia Nos estágios iniciais, a cárie é lesões brancas localizadas Pela sua maior porosidade, é comum a penetração de pigmentos dos alimentos no esmalte Com o passar do tempo, a lesão é marrom ou até quase preto O formato da lesão reflete o lugar em que o biofilme cresce e permanece, se permanecer por períodos prolongados Crianças com higiene bucal deficitária apresentavam lesões “em formato de rim” abaixo das facetas de contato proximal, estendendo-se para as superfícies vestibulares e linguais O esmalte apresenta uma banda branca opaca, com aspecto de giz ao longo da margem gengival Seu formato pode refletir a forma específica da área de estagnação 1908: G. V. Black publicou um compêndio sobre diagnóstico clínico e decisões terapêuticas que deveriam ter uma justificativa biológica racional A tríade de Keyes via como determinantes para a formação da cárie: o dente, a dieta e os microrganismos/microbiota Dente: relaciona-se a resistência do dente, com um enorme interesse de estudo do papel do fluoreto e da fluoretação da água no controle e prevenção da cárie. Dieta: desde o século 20, já se sabe do papel do açúcar para no desenvolvimento de cáries. Microbiota: em 1960, percebeu-se que a cárie é “uma doença infecciosa e transmissível” e que precisava identificar seu patógeno. O Lactobacillus acidophilus era visto como a principal bactéria que causava cáries, mas o foco mudou para o Estreptococus mutans, e até numa busco por vacinas contra essa bactéria, mas se compreendeu que essas fazem parte de toda uma ecologia bucal que cria uma complexa microbiota. Para Newbrum, a cárie é resultado de um processo crônico que aparece após algum tempo da presença e da interação desses três fatores, julgou-se conveniente incluir o tempo como outro fator etiológico Todavia, todas as estratégias criadas até o momento, baseadas no controle desses 4 fatores, apenas diminuíam a incidência da cárie sem erradicá-la Letícia Silva ! Letícia Andréa 105 – 3O Tempo: é importante quando se tem a placa bacteriana dentária e o indivíduo tem uma dieta cariogênica, o tempo necessário para iniciar a lesão de cárie é inversamente proporcional a essa frequência. Quanto maior o tempo, maior será a lesão causada pelo biofilme. Com o passar do tempo, compreendeu-se como a etiopatogenias da cárie é complexa e como envolve fatores variáveis Fejerskov e Maji, 1990: é o esquema mais complexo leva em consideração fatores que não eram contemplados pelos esquemas anteriores e como o depósito de microrganismos e o pH são fatores reversíveis Fatores como classe social, renda e grau de instrução são fatores que interferem na formação de cáries no indivíduo Fatores individuais como o comportamento, conhecimento e as atitudes também influenciam no número de cáries e o estágio em que essas alcançam Estágios Perda acumulativa de substância mineral do dente O esmalte se tornar poroso e perde sua translucidez – lesão de mancha branca Nos estágios iniciais, a cárie se manifesta como lesões brancas localizadas A mancha branca também pode ser chamada de lesão precoce, inicial ou incipiente A lesão de mancha branca pode permanecer por muitos anos em um estágio paralisado Pela sua maior porosidade, é comum a penetração de pigmentos dos alimentos no esmalte Com o passar do tempo,a lesão de mancha branca se torna marrom ou até quase preto Ativa: em que se prevê que a lesão se desenvolveria mais em um exame subsequente se não fosse a interferência do profissional Inativa: aquelas que pararam de evoluir A lesão quando não paralisada, levará para uma cavitação que progressivamente desfaz toda superfície do dente A dissolução cariosa, que segue do esmalte para dentina e posteriormente para a polpa, podendo formar um abcesso Classificação As lesões de cárie podem ser classificadas de diversas maneiras Pode ser: cavitada ou não cavitada Podem estar: ativas e inativas Pode ser classificada de acordo com a localização anatômica: Podem estar em fóssulas e fissuras ou nas superfícies lisas (esmalte, dentina e cemento) As lesões de superfícies lisas podem começar no esmalte (cáries de esmalte) ou na dentina e no cemento radicular, quando expostos (cáries radiculares) De acordo com o estágio/localidade em que se encontra: Cárie primária Cárie recorrente Carie residual Cárie rampante Cárie oculta Letícia Silva ! Letícia Andréa 105 – 3O *Cárie Primária* Lesões em superfícies dentárias naturais intactas *Cárie Recorrente* Também pode ser chamada de cárie secundária Desenvolvem-se ao redor das restaurações Etiologia similar a das primárias Em alguns casos, é deixada propositalmente, como durante uma escavação escalonada São mais frequentemente localizadas nas margens gengivais das restaurações, tanto na face proximal quanto, algumas vezes, nas superfícies lisas livres, pois é nessas regiões que o biofilme pode estagnar As lesões recorrentes ativas não cavitadas nas quais é mais fácil realizar a remoção da placa devem ser manejadas principalmente por procedimentos não operatório As lesões recorrentes inativas não cavitadas não precisam de outro tratamento além da escovação dentária diária Não se desenvolve como resultado da microinfiltração ao longo da interface dente- restauração As bactérias podem invadir a dentina por meio de espaços maiores entre uma restauração e um dente *Cárie Residual* Ocorre pelo fato de tecido desmineralizado ser mantido antes da colocação da restauração *Cárie Rampante* Múltiplas lesões de cárie ativa que ocorrem em um mesmo paciente Envolve as superfícies dos dentes, que, em geral, não apresentariam cáries dentárias Os pacientes podem classificados de acordo com a causa presumida Crianças: cárie de mamadeira, cárie precoce (ECC, do inglês early childhood caries) Adultos: cárie de confeiteiro, cárie de radiação, cárie induzida por medicamentos As ECC são simplesmente as cáries nos dentes que não estão limpos, que são expostos a carboidratos e se localizam numa área da boca na qual a limpeza bucal é insuficiente A cárie rampante é muito danosa em qualquer grupo etário, mas pode ser devastadora para indivíduos debilitados e que lutam para estabilizar seu bem-estar físico e cognitivo *Cárie Oculta* Lesões na dentina não detectadas pelo exame visual, mas grandes e suficientemente desmineralizadas para serem detectadas por radiografias Detectá-la dependerá de quão cuidadosamente a área foi limpa e seca e se foi realizado um exame clínico adequado A radiografia pode revelar um alto número de lesões de cárie oclusais e proximais que permanecem não detectadas ao exame clínico tradicional Letícia Andréa 105 – 3O Aspectos Histopatológicos *Cárie de esmalte e dentina em superfície lisa* As cáries de esmalte são visíveis somente quando os cortes por desgaste são examinados embebidos em um agente clareador, como bálsamo do Canadá ou quinolina A lesão de cárie de esmalte não cavitada ativa típica é uma opacidade esbranquiçada/amarelada com perda de brilho, que exibe uma aparência “porosa” ou “leitosa” A superfície tem uma textura rugosa quando a ponta de uma sonda afiada é movimentada suavemente sobre a superfície As lesões de cárie de esmalte não cavitadas inativas são geralmente brilhantes e têm uma textura lisa quando de uma s ondagem suave A cor de uma lesão inativa pode variar de esbranquiçada até acastanhada ou preta Algumas lesões ativas exibem defeitos superficiais rasos localizados na superfície de esmalte que não apresenta cavidades além dessas alterações As microcavidades podem surgir como resultado do desgaste e da abrasão na cavidade bucal, em estágio ativo têm bordos afiados e por alterações locais podem se tornar lisos As lesões de esmalte com uma topografia geral lisa devem ser registradas como lesões inativas, apesar da presença de uma microcavidades As lesões cavitadas ativas são amarelas, amolecidas ou com textura de couro As lesões cavitadas inativas são brilhantes e de textura dura durante a sondagem suave, também possuindo uma cor que varia de acastanhada a preta A opacidade porosa de uma lesão de cárie de esmalte ativa está relacionada com dois fenômenos independentes A opacidade é devido ao aumento na porosidade interna da lesão em decorrência da desmineralização subsuperficial A porosidade é causada pela dissolução dos espaços de esmalte intercristalinos na zona mais superficial da lesão que ocorre após um período de perda líquida de mineral (erosão superficial Quando a superfície é erodida, o esmalte perde sua aparência brilhante em virtude da retrodifusão difusa da luz, razão pela qual uma lesão de cárie de esmalte ativa pode parecer mais branca e mais opaca do que uma lesão de esmalte inativa *Cárie em superfícies irregulares* O esmalte perde sua aparência brilhante porque a superfície irregular, gerada pela erosão da superfície mais externa, dá origem a uma reflexão difusa da luz *Cárie de dentina* Seu mecanismo de ação leva em conta enzimas da família das metaloproteinases (MMPs) - MMP-2, MMP-8, MMP-9 e a MMP-20 As MMP destroem o colágeno, causando destruição da matriz dentinária, após a parte mineral ser removida pelos ácidos bacterianos Letícia Silva ! Letícia Silva ! Letícia Silva ! Letícia Silva ! Letícia Silva ! Letícia Andréa 105 – 3O A desmineralização e degradação da matriz orgânica se dá em momentos diferentes, com ações de estimulação e neutralização entre eles É necessário a tanto a degradação mineral quanto a orgânica para se formar Depende da lesão de esmalte e o envolvimento dentinário é um ato contínuo Também pode sofrer um processo de paralização e reversibilidade, através da reestruturação deste tecido, no momento em que se consegue um reequilíbrio Observa-se material necrótico e colonização de bactérias acidogênicas e acidúricas Gram-positivas Contém ácidos orgânico *Cárie de Raiz* As superfícies radiculares (cemento exposto/dentina) parecem ser mais suscetíveis aos ataques de cáries do que as superfícies de esmalte É uma lesão mole e progressiva da superfície radicular que envolve biofilme e invasão microbiana As lesões ativas são amolecidas ou com textura de couro e, geralmente, encontradas em sítios de retenção de placa próximos da margem gengival ou ao longo da junção amelocementária As lesões inativas são localizadas a certa distância da margem gengival, com consistência dura à sondagem suave e comumente se apresentavam com uma aparência brilhante Referências: FEJERSKOV, Ole; NYVAD, Bente; KIDD, Edwina. Cárie dentária fisiopatologia e tratamento. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Santos, 2017. LIMA, José Eduardo de Oliveira. Cárie dentária: um novo conceito. Rev. Dent. Press Ortodon. Ortop. Facial , Maringá, v. 12, n. 6, pág. 119-130, dezembro de 2007. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-54192007000600012&lng=en&nrm=iso>. acesso em 07 de abril de 2021. https://doi.org/10.1590/S1415-54192007000600012.LEITES, Antonio Cesar Bortowiski Rosa; PINTO, Marcia Bueno; SOUSA, Ezilmara Rolim de Sousa. Aspectos microbiológicos da cárie dental. Salusvita, Bauru, v. 25, n. 2, p. 239- 252, 2006. https://doi.org/10.1590/S1415-54192007000600012 Letícia Silva ! Letícia Silva ! Letícia Silva !