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Como promover autonomia alimentar nos dias atuais? ➔ INTRODUÇÃO Por milhares de anos, acreditou-se que a perda de peso envolvia comer menos e se exercitar mais, conforme defendido por Hipócrates, conceito esse que permanece amplamente divulgado nos dias atuais. No entanto, pesquisas de longo prazo mostram que a recuperação de peso é comum, com cerca de dois terços do peso perdido sendo reganho em um ano. Isso levanta preocupações sobre a eficácia a longo prazo da perda de peso e seus benefícios para a saúde. Atualmente, há crescente preocupação de que o foco no peso possa ser prejudicial, contribuindo para preocupação excessiva com alimentação e corpo, ciclos repetidos de perda e ganho de peso, distorção da saúde e autoestima, aumento de distúrbios alimentares e estigmatização associada ao excesso de peso. O comportamento humano é complexo e multifacetado, e pode variar de uma pessoa para outra. Ele é moldado por uma combinação de fatores genéticos, experiências de vida, aprendizado, o comer vai além das necessidades biológicas, envolvendo prazer, família, religiosidade, identidade como cultura, valores pessoais e influências sociais. O estudo do comportamento humano envolve várias disciplinas, como a psicologia, a sociologia e a antropologia. Compreender os comportamentos individuais e coletivos é essencial para entender como as pessoas interagem, se adaptam e se desenvolvem em diferentes contextos. Ao considerar o comportamento humano, é importante lembrar que ele é influenciado por uma ampla gama de fatores e pode variar de acordo com as circunstâncias e as características individuais. O comportamento é observável e pode ser analisado para compreender as motivações, os padrões de interação e as respostas das pessoas diante das situações em que estão inseridas. ➔ DETERMINANTES DE ESCOLHAS E CONSUMO Comportamento alimentar é uma variedade de construtos teóricos relacionados à alimentação. Ele engloba não apenas o ato de consumir alimentos, mas também aspectos relacionados ao modo de comer, preferências alimentares, interações sociais em torno da comida, escolhas dietéticas e comportamentos relacionados à alimentação. Estudar o comportamento alimentar é importante para entender as escolhas alimentares das pessoas, os padrões de consumo, os fatores que influenciam a adesão a dietas saudáveis, bem como as possíveis relações entre alimentação e saúde. Compreender esses aspectos pode auxiliar no desenvolvimento de estratégias de promoção de uma alimentação adequada, incentivar mudanças positivas nos padrões alimentares e lidar com questões relacionadas à alimentação, como transtornos alimentares e obesidade. Reconhecer e valorizar essas múltiplas dimensões da comida é fundamental para uma abordagem holística em relação à alimentação. ➔ AUTONOMIA ALIMENTAR NOS DIAS ATUAIS O excesso de informações, as dietas da moda, as restrições alimentares e a categorização de alimentos podem realmente causar incertezas e estresse relacionados ao ato de comer. Isso é muitas vezes referido como "terrorismo nutricional". Uma abordagem mais holística da alimentação considera a importância do prazer, é essencial reconhecer que a alimentação vai além da mera ingestão de nutrientes isolados os alimentos são uma combinação única de substâncias que fornecem nutrientes, visando uma abordagem mais holística da alimentação considerada uma importância do prazer. Além disso, muitas pessoas estão acostumadas a seguir regras externas sobre alimentação, como dietas restritivas ou modismos alimentares, que podem limitar a autonomia e o prazer relacionados ao ato de comer. A sociedade moderna valoriza a praticidade e a conveniência, o que muitas vezes leva ao consumo de alimentos industrializados, que nem sempre são a opção mais saudável. A alta carga de trabalho, a pressão por produtividade e o estilo de vida acelerado podem dificultar a busca por uma alimentação saudável e a prática de hábitos autônomos em relação à alimentação. ➔ A IMPORTÂNCIA DAS ABORDAGENS COMPORTAMENTAIS NA BUSCA PELA AUTONOMIA ALIMENTAR A abordagem tradicional da nutrição é centrada no controle alimentar, com prescrições restritivas e padronizadas. Isso resulta em falta de autonomia e controle excessivo dos indivíduos em relação às suas escolhas alimentares. Essa abordagem ignora os sinais de fome e saciedade, determina listas de alimentos a serem consumidos, mesmo que não sejam considerados saborosos, e proíbe o consumo de alimentos específicos, mesmo que haja desejo de consumi-los. Essa abordagem não leva em consideração os aspectos fisiológicos, emocionais e sociais da relação com a comida. Portanto, uma abordagem nutricional baseada apenas na prescrição e controle não é eficaz para promover mudanças no comportamento alimentar. A relação disfuncional entre comportamento alimentar e dieta, marcada por restrição, privação e desejo por alimentos proibidos, aumenta o risco de transtornos alimentares e ganho de peso. Para promover práticas alimentares saudáveis, é necessário buscar a autonomia alimentar. O Aconselhamento Nutricional e o Mindful Eating são técnicas utilizadas para compreender e modificar o comportamento alimentar. O Aconselhamento Nutricional incentiva a reconexão com os desejos e escolhas alimentares, sem restrições, por meio de escuta atenta e apoio incondicional. Além de considerar o "o que" e "quanto" a pessoa come, o foco é entender o "porquê", "como", "onde", "em que situação" e "o que se sente" em relação à alimentação. Ao considerar aspectos biológicos, culturais, sociais e simbólicos, podemos compreender melhor nossas necessidades físicas, desejos e preferências, e fazer escolhas alimentares mais adequadas. A abordagem profissional e embasada é essencial para entendermos melhor nossos padrões alimentares. O Mindful Eating, ou "Comer com atenção plena", baseado no Mindfulness, promove uma relação saudável com a comida ao trazer consciência aos sinais de fome e saciedade, cultivando uma relação harmoniosa com o corpo e a comida, e desenvolvendo habilidades para lidar com o comer emocional. O cuidado com a alimentação requer autoconsciência, aceitação de valores e necessidades pessoais, e autocompaixão. É uma jornada que exige abertura, paciência, determinação e coragem para explorar nossa história, percepções, desejos e crenças. ➔ PROMOVER AUTONOMIA ALIMENTAR NOS DIAS ATUAIS PODE SER ALCANÇADO ATRAVÉS DE VÁRIAS ESTRATÉGIAS. Cultive seu próprio alimento: Se você tiver espaço suficiente, pode criar uma horta em casa para cultivar vegetais, ervas e até mesmo algumas frutas. Isso permite que você tenha controle sobre o processo de cultivo e colheita, garantindo a qualidade dos alimentos que consome. Compre alimentos locais e sazonais: Opte por comprar alimentos produzidos localmente e de acordo com a estação do ano. Os alimentos locais são mais frescos, têm menos impacto ambiental devido ao transporte e apoiam os produtores locais. Além disso, os alimentos sazonais geralmente são mais nutritivos e saborosos. Aprenda a cozinhar: Desenvolver habilidades culinárias é uma ótima maneira de se tornar mais autônomo na alimentação. Aprenda receitas básicas, experimente ingredientes diferentes e descubra seu estilo culinário. Cozinhar em casa permite que você tenha controle total sobre os ingredientes que usa e a forma de preparo dos alimentos. Evite alimentos processados: Reduza o consumo de alimentos altamente processados, como refeições prontas, fast food e alimentos industrializados. Esses produtos tendem a ser ricos em aditivos, conservantes, açúcar e gorduras pouco saudáveis. Dê preferência a alimentos frescos e naturais, que são mais nutritivos e contribuem para uma dieta equilibrada. Faça escolhas conscientes: Informe-se sobre os alimentos que você consome, leia os rótulos dos produtos e entenda os ingredientes listados. Escolha alimentos que sejam nutritivos e que contribuam para uma alimentação saudável. Fique atento a práticas de agricultura sustentávele apoie marcas que valorizem a qualidade dos alimentos. Planeje suas refeições: Dedique um tempo para planejar suas refeições semanalmente. Isso ajuda a evitar o desperdício de alimentos, permite que você escolha opções saudáveis e evita a dependência de refeições prontas ou delivery. Eduque-se sobre nutrição: Busque conhecimento sobre nutrição e alimentação saudável. Compreender os princípios básicos da nutrição ajudará você a tomar decisões mais conscientes em relação à sua dieta. Consultar um nutricionista também pode ser uma boa opção para obter orientações personalizadas. Lembre-se de que promover a autonomia alimentar é um processo gradual. Comece implementando pequenas mudanças em sua rotina e vá progredindo ao longo do tempo. O importante é buscar um estilo de vida saudável e sustentável, levando em consideração suas necessidades e preferências individuais. Por fim, após esse momento de aprendizado, esperamos que vocês, futuros nutricionistas, se engajem em abordagens que verdadeiramente promovam a autonomia alimentar. É fundamental compreender que, apesar dos apelos estéticos e midiáticos aos quais nós, e futuros pacientes, estamos expostos, existem abordagens mais eficazes, gratificantes e leves no cuidado nutricional. Recordem-se de que vocês possuem uma missão significativa, que é cuidar do outro com carinho, atenção, prática de escuta ativa e acolhimento. Portanto, cuidem de si mesmos para cuidarem bem dos outros! ➔ REFERÊNCIAS REZENDE, F. A. C.; Penaforte, F. R. O.; Martins, P. C. Comida, Corpo e Comportamento Humano. São Paulo: IACI Editora, 2020. 238p. FREITAS, M.C.S., FONTES, G.A.V., and OLIVEIRA, N, orgs. Escritas e narrativas sobre alimentação e cultura [online]. Salvador: EDUFBA, 2008. 422 p. Disponível em SciELO Books < http://books.scielo.org/id/9q >. ALVARENGA, M.; Antonaccio, C.; Timerman, F.; Figueiredo, M. Nutrição Comportamental. 2. ed. Barueri, SP: Manole, 2019. 595p. VILLELA, M. C. E. AZEVEDO, E. Controle de Si e Cuidado de Si: uma reflexão sobre a ciência da nutrição. Demetra: Alimentação, Nutrição e Saúde. 2021. MOTTA, D.G; MOTTA, C. G; FERRETTI, M. G. Aspectos Psicológicos do Aconselhamento Dietético. In: DIEZ-GARCIA, R.W; MANCUSO, A.M.C. Mudanças Alimentares e Educação Alimentar e Nutricional. RJ: Guanabara Koogan; 2017. 174-180. POLLAN, M. Em defesa da comida: um manifesto. Editora Intrínseca Ltda.2008.
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