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O CONTADOR E A ÉTICA PROFISSIONAL AULA 3 Profª Daiane Lolatto CONVERSA INICIAL Nesta aula, será estudada a NBC PG 200 (R1) (CFC, 2019b), que trata dos contadores empregados (contadores internos). Assim como a NBC PG 100 (R1) (CFC, 2019a), ela também entrou em vigor em 1º de janeiro de 2020. Antes, esse assunto era tratado pela NBC PG 300 (CFC, 2019c), que foi revogada. A norma apresenta condições importantes para o exercício da profissão contábil, como requisitos e material de aplicação, fatos e circunstâncias que geram ou podem gerar ameaças ao cumprimento dos princípios fundamentais, conflitos de interesses existentes, elaboração e divulgação das informações, interesses financeiros, remuneração e incentivo relativo ao relatório financeiro e à tomada de decisões. Destaca-se a confiança que investidores, credores, organizações empregadoras, governos e público em geral podem ter em relação ao trabalho dos contadores internos. Esses profissionais da contabilidade, por sua vez, podem ser empregados, contratados, parceiros, diretores, proprietários ou voluntários. A denominação profissional da contabilidade refere o profissional de contabilidade em empresas e a pessoa física em si que atua na área contábil. É nesse contexto que serão abordados alguns temas específicos da norma em questão. CONTEXTUALIZANDO O contador pode ser o único responsável ou também ter a responsabilidade compartilhada pela elaboração e divulgação das demonstrações contábeis e demais informações econômico-financeiras necessárias aos investidores, credores, clientes, empregadores etc. Ele deve auxiliar a organização empregadora e se comprometer eticamente dentro da entidade. Nesse sentido, pode-se dizer que quanto mais alto o cargo do profissional contábil, maior será a capacidade de obter informações e de influenciar na tomada de decisões? 3 TEMA 1 – NBC PG 200 (R1): CONFLITO DE INTERESSES O conflito de interesses refere-se aos interesses divergentes entre profissional contábil e empresa. Por exemplo: a empresa solicita ao contador que altere os dados contábeis com o objetivo de conseguir um empréstimo junto ao banco; o interesse da empresa conflita com o interesse do contador, pois este deve evidenciar as informações de forma objetiva e, por isso, não deve atender à solicitação da empresa, havendo um conflito de interesses. O contador, no desenvolvimento de suas atividades, deve respeitar ou cumprir os princípios dispostos na NBC PG 100 (R1) (CFC, 2019a), que são: integridade, objetividade, competência profissional e devido zelo, confidencialidade e comportamento profissional. No entanto, a atuação do profissional pode sofrer ameaças que, se não forem devidamente identificadas e tratadas, talvez influenciem a observância desses princípios. Essas ameaças estão reunidas na Figura 1: Figura 1 – Ameaças aos princípios fundamentais a. Ameaça de interesse próprio: a norma descreve que esse tipo de ameaça ocorre quando o contador interno tem interesse financeiro na entidade que o contratou (por exemplo, se a empresa fornece empréstimo para o contador durante sua atividade profissional), quando há participação de acordos de remuneração com base em incentivos (isto é, o contador está presente na tomada de decisões quanto à remuneração variável dos colaboradores), quando o profissional contábil usa os ativos da empresa a seu favor (o contador faz uso do notebook Ameças aos princípios fundamentais Interesse próprio Autorrevisão Defesa do interesse do cliente Familiaridade Intimidação 4 da empresa para suas atividades pessoais), quando o contador interno recebe presentes ou tratamento especial dos fornecedores com o intuito de garantir que a empresa continue operando-os. Também é possível que a empresa, por exemplo, solicite ao contador que sejam realizadas manobras fiscais para reduzir a carga tributária e, em razão do risco de ser desligado, ele execute o trabalho. b. Ameaça de autorrevisão: ameaça que pode ser verificada, por exemplo, quando o contador interno define o tratamento contábil referente à compra de outra empresa depois de ter participado do estudo de viabilidade econômica que contribuiu para a decisão de compra. Nesse caso, o ideal é que o cálculo de viabilidade econômica e contabilização da operação seja realizado por profissionais distintos para que não haja viés no registro, pois, se o cálculo e a contabilização forem realizados pelo mesmo profissional, a tendência é que qualquer inconformidade no processo seja desconsiderada. Essa operação tende a ser complexa em virtude da avaliação de ativos e passivos. c. Ameaça de defesa do interesse do cliente: segundo a norma contábil, os princípios fundamentais podem ser ameaçados quando o contador decidir manipular informações contábeis para a obtenção de um financiamento para o cliente, por exemplo. d. Ameaça de familiaridade: os princípios estarão ameaçados se houver proximidade familiar ou amigável entre contador e entidade empregadora, pois os relatórios podem conter informações tendenciosas, uma vez que o contador tende a atender às exigências da empresa. Essa proximidade pode ser decorrente de vínculo familiar ou resultado de vínculo prolongado com a empresa. e. Ameaça de intimidação: a intimidação pode existir quando uma pessoa influente tenta burlar a aplicação dos princípios contábeis ou quando o profissional contábil estiver sujeito à demissão ou substituição em decorrência de desentendimento sobre algum registro contábil. Após identificar as ameaças ao exercício da profissão do contador interno, é necessário avaliar seu nível e tratá-las. A NBC PG 200 (R1) determina que: Em situações extremas, se as circunstâncias que criaram as ameaças não podem ser eliminadas e as salvaguardas não estão disponíveis 5 ou não podem ser aplicadas para reduzir a ameaça a nível aceitável, o profissional da contabilidade pode considerar apropriado o seu desligamento da organização empregadora. (CFC, 2019b) Em consonância com a NBC PG 100 (R1) (CFC, 2019a), o contador deve realizar o exercício de julgamento profissional. 1.1 Conflito de interesse Um conflito de interesse gera ameaças ao cumprimento dos princípios, sobretudo ao princípio da objetividade. Pode acontecer, por exemplo, quando o contador interno realiza uma atividade específica em que há duas ou mais partes interessadas, ou quando o próprio contador tem interesse no assunto. Conforme disposto na NBC 200 (R1), “o profissional da contabilidade não deve permitir que conflito de interesses comprometa o julgamento profissional ou comercial” (CFC, 2019b). As circunstâncias que podem causar conflitos de interesse para o contador interno são: exercer a função de administração ou governança para duas ou mais instituições empregadoras usufruindo de informações sigilosas para beneficiar uma instituição em detrimento de outra; realizar a atividade profissional para ambas as partes da dissolução de uma sociedade; elaborar informações financeiras para membros da administração que estão tentando obter o controle da sociedade; selecionar fornecedor para a empresa que o contratou quando um familiar pode se beneficiar financeiramente da situação; atuar como membro de governança de uma instituição em que tenha investimentos ou que tenha familiar investindo. O profissional contábil deve estar atento a qualquer conflito de interesse, pois, conforme ilustrado na Figura 2, “[...] quanto mais direta for a conexão entre a atividade profissional e o assunto sobre o qual os interesses das partes estejam em conflito, maior é a probabilidade de que o nível da ameaça não seja aceitável” (CFC, 2019b). 6 Figura 2 – Conflito de interesse O contador pode eliminar o conflito de interesse afastando-se do processo de tomadade decisões ou proteger-se das ameaças de conflito reestruturando as funções ou subordinando-se a uma supervisão apropriada. Quanto à divulgação e ao consentimento das ameaças, é necessário divulgar a natureza do conflito e obter o consentimento das partes envolvidas no exercício da profissão. O contador deve documentar a natureza do fato que gerou o conflito, as prevenções aplicadas para tratar as ameaças e o consentimento obtido. TEMA 2 – NBC PG 200 (R1): ELABORAÇÃO E COMUNICAÇÃO DE INFORMAÇÕES Os contadores empregados ou internos estão constantemente comprometidos com a elaboração e a comunicação de informações aos usuários internos e externos das empresas. Essas informações devem ser apresentadas conforme as normas profissionais gerais de contabilidade. A NBC PG 200 (R1) (CFC, 2019b) pressupõe que as informações auxiliam os usuários a compreenderem e avaliarem a situação da empresa, bem como a tomarem decisões a respeito dela. As informações podem ser apresentadas por meio de: relatórios operacionais e de desempenho; análises de apoio a decisões; orçamentos e projeções; quanto mais direta a conexão entre a atividade profissional e o assunto sobre o qual os interesses das partes estejam em conflito maior o nível de ameaça. C o n ta d o r x I n te re s s e d a s p a rt e s N ív e l d e a m e a ç a 7 informações fornecidas para os auditores internos e externos; análises de risco; demonstrações contábeis para fins gerais e para propósitos específicos; declarações de impostos; relatórios protocolados junto a órgãos reguladores para fins legais e de conformidade. (CFC, 2019b) Os contadores internos devem considerar os seguintes aspectos ao elaborar e comunicar as informações: a. as informações precisam ser estruturadas de modo que sejam relevantes, isto é, a organização dos dados de acordo com as normas é primordial para a compreensão; b. as informações não podem ser tendenciosas; c. o julgamento profissional deve ser fundamentado em informações precisas, íntegras, descritas de forma clara e verdadeira e registradas tempestivamente; d. nenhuma informação pode ser omitida a fim de tornar o resultado enganoso (por exemplo, utilizando estimativas irreais para avaliar os ativos). O profissional contábil não deve utilizar procedimentos que distorçam o resultado, como aplicar o valor justo inadequadamente, alterar a política de avaliação contábil para forjar lucros, manipular as vendas, divulgar apenas informações que beneficiem a empresa, entre outros. Quando não houver uma estrutura predefinida para apresentação das informações, o contador deverá considerar a finalidade do relatório, o contexto para seu fornecimento e a quem ele será destinado. Sendo assim, quando for solicitada a elaboração de um relatório que contenha a projeção financeira da empresa para os próximos dez anos, ele poderá utilizar estimativas com base em suas experiências. O contador pode confiar no trabalho de terceiros, de dentro ou fora da empresa, mas terá que analisar a reputação, a competência e se a outra pessoa também está submetida às normas profissionais e éticas. Nesse caso, quando solicitar a um outro profissional a revisão dos relatórios, como a conciliação das contas contábeis com o sistema financeiro da empresa, é necessário que esse profissional também atenda aos princípios éticos de forma íntegra. Caso contrário, o trabalho não será confiável. 8 2.1 Informações enganosas e o devido tratamento O contador interno, ao tomar conhecimento de que está envolvido em informações enganosas, inicialmente deverá tentar solucionar o caso. Não havendo consenso, pode desassociar-se das informações ou até mesmo desligar-se da organização empregadora. Para tentar solucionar o caso de informações fraudulentas, o profissional terá que: discutir com as esferas superiores da organização empregadora a correção das informações, que, caso tenham sido divulgadas, deverão ter suas correções comunicadas; verificar a política de ética da empresa sobre como tratar o assunto. Em caso de desligamento da organização empregadora, o contador deve avaliar se é prudente manter o sigilo da informação ou se deve consultar os órgãos competentes, como a auditoria ou a assessoria, ou ainda comunicar terceiros e autoridades. Uma das situações que o leva a responder criminalmente com a empresa quando da ocultação de informações é a lavagem de dinheiro. TEMA 3 – NBC PG 200 (R1): ATUAÇÃO COM COMPETÊNCIA SUFICIENTE A atuação com competência suficiente vai ao encontro do princípio da competência profissional e o devido zelo. Logo, para que o contador interno assuma responsabilidades profissionais, é necessário que tenha a devida experiência e que a educação continuada esteja presente no exercício da profissão. O profissional contábil não pode fazer uso da sua expertise na área para enganar o contratante. A busca por conhecimento precisa ser constante e em alguns casos a assessoria de especialistas será imprescindível. Alguns fatores podem ameaçar a atuação competente do contador interno, conforme prevê o princípio da competência profissional e o devido zelo, a saber: Fazer as atividades em tempo reduzido quando demandam maior tempo para sua realização. Nesse caso, sua produtividade será prejudicada, assim como quando o contador precisa entregar as declarações ao fisco no prazo determinado e executa a tarefa apenas para cumprir a 9 obrigação. A entrega da declaração com informações erradas pode ameaçar sua profissão. Executar as atividades com informações incompletas, limitadas ou inadequadas. Desenvolver as tarefas mesmo que tenha pouca experiência ou nenhum treinamento. Efetuar as tarefas com recursos insuficientes. Também é necessário avaliar o nível dessas ameaças, que resultam de fatores como o número de pessoas envolvidas no trabalho, o tempo de vínculo do profissional da contabilidade com a empresa e o nível de acompanhamento e revisão do trabalho. De acordo com a NBC PG 200 (R1) (CFC, 2019b), o contador interno, visando reduzir a níveis aceitáveis ou eliminar as ameaças, pode obter assessoria ou capacitação de profissionais com a competência necessária, bem como garantir que há tempo suficiente para executar as devidas tarefas. Quando o contador constata sua falta de experiência em determinado assunto (na avaliação para aquisição de uma nova empresa, por exemplo), ele deve procurar um profissional que conheça o tema para evitar que ocorram erros no processo. Se o tratamento da ameaça em conformidade com o princípio da competência profissional e o devido zelo não for possível, o profissional da contabilidade deve recusar o trabalho, comunicando os motivos. TEMA 4 – NBC PG 200 (R1): INTERESSES FINANCEIROS, REMUNERAÇÃO, INCENTIVOS ASSOCIADOS AOS RELATÓRIOS FINANCEIROS E TOMADA DE DECISÃO Os princípios éticos da objetividade e confidencialidade podem ser ameaçados caso os contadores empregados ou familiares próximos tenham interesses financeiros decorrentes de acordos de remuneração ou incentivos associados aos relatórios financeiros e à tomada de decisões. A NBC PG 200 (R1) (CFC, 2019b) apresenta alguns exemplos de ameaça relacionados aos interesses financeiros: 10 O profissional contábil tem motivo ou oportunidade para manipular os resultados econômico-financeiros da empresa para benefício próprio ou de seus familiares. O contador interno participa de decisões que afetam o seu interesse financeiro, como no caso da sua remuneração. O contador empregado tem um bônus associado aos lucros e o valor desse bônus depende das decisões tomadas por ele mesmo. Nesse caso, o profissional poderia aumentar o lucro reconhecendo valores inferiores de despesas para receber um bônus maior. O profissional contábil tem açõesna organização empregadora e toma decisões que afetam o seu valor. O contador empregado participa de acordos de remuneração que serão mensurados com base em metas. Enfim, o contador não pode manipular informações ou utilizar informações sigilosas para seu benefício próprio ou ganho financeiro de terceiros. Quanto mais alto o cargo que o profissional da contabilidade exerce, maior será seu poder de manipular as informações e maior a pressão que sofrerá de colegas e supervisores. Segundo a NBC PG 200 (R1) (CFC, 2019b), para eliminar as ameaças ou reduzi-las a um nível adequado, é necessário avaliar: a relevância do interesse financeiro, ou seja, as circunstâncias pessoais e a materialidade do interesse financeiro para a pessoa; as políticas e os procedimentos de remuneração da alta administração por meio do comitê independente dela; a divulgação aos responsáveis pela governança de todos os interesses relevantes; os processos internos e externos de auditoria que tratam especificamente de questões que dão origem ao interesse financeiro. As ameaças de remunerações e incentivos podem ser constituídas de pressões explícitas ou implícitas. TEMA 5 – NBC PG 200 (R1): INCENTIVO A oferta ou a aceitação de incentivos pode gerar uma ameaça, especialmente aos princípios fundamentais de integridade, objetividade e 11 comportamento profissional. Segundo a NBC 200 (R1), o incentivo “[...] é o objeto, a situação ou a ação que é utilizada como meio de influenciar o comportamento de outra pessoa, mas não necessariamente com a intenção de influenciar o comportamento desse indivíduo de maneira inadequada” (CFC, 2019b). Sendo assim, observa-se que o incentivo nem sempre tem sentido negativo de infringir as leis e os regulamentos de ética. De acordo com as normas, os incentivos podem ter várias formas: presentes; afins; entretenimento; doações políticas ou beneficentes; apelos à amizade ou à lealdade; oportunidades de emprego ou outras oportunidades comerciais; tratamento preferencial, direitos ou privilégios. (CFC, 2019b) Diversas leis e regulamentos tratam os incentivos como atitudes de suborno e corrupção, logo, proíbem a oferta ou a aceitação em determinadas situações. Entretanto, em outras circunstâncias, mesmo que os incentivos não sejam proibidos por lei, podem ameaçar o cumprimento dos princípios fundamentais. Saiba mais Para entender mais sobre corrupção percebida, leia o artigo de Botinha e Lemes (2019) disponível em: <http://asaa.anpcont.org.br/index.php/asaa/article/view/476>. 5.1 Incentivo com o intuito de influenciar o comportamento de maneira inadequada Se um terceiro informado e competente possivelmente concluiria que o comportamento é inapropriado, o profissional da contabilidade não deve oferecer, aceitar ou encorajar os interessados na informação a oferecerem ou aceitarem qualquer incentivo. Suponha-se que um familiar imediato do contador interno dê uma bonificação ao proprietário da empresa para garantir que ele continue prestando serviços para a organização empregadora. O propósito da bonificação do familiar à empresa é conseguir informações privilegiadas por intermédio do contador. Um terceiro profissional contábil com expertise 12 suficiente detectaria esse comportamento inapropriado. Há, então, uma ameaça ao cumprimento do princípio da confidencialidade. Todo incentivo que influencia o comportamento antiético do profissional da contabilidade é considerado inadequado. A norma define que os princípios serão referência para identificar se um incentivo é ou pode ser uma ameaça, e caberá ao profissional da contabilidade exercer seu julgamento. Nesse sentido, os fatores importantes a serem compreendidos com relação aos incentivos, conforme a NBC 200 (R1) (CFC, 2019b), requerem avaliar: a essência, a periodicidade, o valor e o resultado cumulativo do incentivo; a circunstância em que o incentivo é ofertado em relação a qualquer atitude ou decisão que possa interferir; se o incentivo é uma prática comum ou cultural em datas comemorativas; se o incentivo está associado a uma atividade profissional – por exemplo, oferecer ou aceitar almoço durante reuniões de negócios; se o incentivo é ofertado para uma determinada pessoa ou para um grupo de pessoas, seja de dentro ou de fora da organização empregadora. as funções e as posições das pessoas que ofertam ou recebem o incentivo; se o contador interno sabe ou tem motivo para achar que a aceitação do incentivo infringiria as políticas e os procedimentos da empresa empregadora; o nível de transparência da oferta do incentivo; se houve exigência do incentivo por parte do receptor; o conhecimento prévio da conduta ou da reputação do ofertante. As ameaças relacionadas aos incentivos seguem a mesma lógica de tratamento das demais, o que significa que o contador interno deve informar a alta administração ou os responsáveis pela governança ou alterar e encerrar o contrato com o ofertante. 13 5.2 Incentivo sem o intuito de influenciar o comportamento de maneira inadequada Apesar de existirem inúmeros motivos para que o incentivo influencie no comportamento de forma inadequada, também há situações em que não influenciará negativamente. Segundo a NBC PG 200 (R1), “Se esse incentivo é trivial e inconsequente, quaisquer ameaças criadas estarão em nível aceitável” (CFC, 2019b). Mesmo que o profissional da contabilidade conclua que não há nenhum propósito de influenciar o comportamento de maneira inadequada, existem situações em que a oferta ou a aceitação pode gerar ameaças, como: Ameaças de interesse próprio: o contador interno recebe uma proposta de emprego do fornecedor. Ameaças de familiaridade: o contador interno acompanha frequentemente o cliente ou fornecedor a eventos desportivos. Ameaças de intimidação: o contador interno aceita incentivos que poderiam ser inapropriados se fossem divulgados publicamente. As atitudes tomadas para eliminar as ameaças incluem recusar ou não oferecer o incentivo ou ainda transferir a responsabilidade do trabalho a outra pessoa para não configurar ação antiética. A NBC PG 200 (R1) (CFC, 2019b) apresenta algumas ações que podem assegurar o tratamento das ameaças geradas pela oferta ou pela aceitação: Ser transparente com todos os envolvidos. Registrar o incentivo em documento da organização empregadora, do contador interno ou de um terceiro. Atribuir a tarefa de revisar o trabalho a um profissional competente que não tenha relação com o incentivo. Doar o incentivo recebido para uma instituição beneficente e divulgar a doação de maneira apropriada – por exemplo, utilizando o nome da organização empregadora que ofereceu o incentivo. Reaver o custo do incentivo recebido. Devolver o incentivo em forma de presente assim que possível. 14 5.3 Resposta ao descumprimento de leis e regulamentos O descumprimento de leis e regulamentos diz respeito a ações de omissão ou de tentativas, intencionais ou não, que são divergentes de leis ou regulamentos vigentes, exercidas pelas partes descritas a seguir, conforme normatiza a NBC PG 200 (R1): (a) a organização empregadora do profissional da contabilidade; (b) os responsáveis pela governança da organização empregadora; (c) a administração da organização empregadora; ou (d) outras pessoas que trabalham para a organização empregadora ou sob sua direção. (CFC, 2019b) A norma prevê como resposta ao descumprimento “[...] multas, litígio ou outras consequências para a organização empregadora que podem afetar suas demonstrações contábeis de forma relevante” (CFC, 2019b). No entanto, o efeito é mais abrangente, resultando em prejuízos significativos para investidores, credores, empregados e público em geral. 5.4 Pressão para violar os princípios fundamentaisA pressão sofrida pelo profissional da contabilidade para violar os princípios fundamentais pode gerar uma ameaça de intimidação. O contador interno não deve permitir que isso interfira no seu trabalho. Essa pressão pode ser tanto explícita quanto implícita, partindo de dentro da organização empregadora (colegas ou supervisores), de fora dela (fornecedores, clientes, investidores) ou das metas estabelecidas para o negócio. Consequentemente, pode ainda ameaçar os princípios, seja, por exemplo, por: Pressão relativa a conflito de interesses: pressão de familiar que está participando de um processo licitatório para fornecer produtos para a organização empregadora em que o profissional contábil está trabalhando. Pressão para interferir na preparação ou divulgação das informações contábeis: comunicar resultados financeiros fraudulentos, distorcer receitas e despesas, omitir relatórios de auditoria que contenham opinião adversa. 15 Pressão para agir sem competência ou devido zelo: supervisores pressionam para executar uma tarefa sem ter a devida competência ou treinamentos suficientes. Pressão relativa a interesses financeiros: pressão de supervisores para manipular indicadores de desempenho visando a acordos de remuneração. Pressão relativa a incentivos: pressão de colegas para aceitar presentes de fornecedores que estão participando de um processo licitatório. Pressão relativa a não conformidade com leis e regulamentos: pressão para sonegar tributos. Avaliar o nível de ameaças geradas pela pressão requer considerar: o propósito da pessoa que realiza a pressão; a execução de leis, regulamentos e normas profissionais nas diversas situações; a cultura e a direção da organização empregadora; as políticas e os procedimentos adotados pela organização empregadora. Discutir as situações que criam pressão pode ajudar o profissional da contabilidade. No entanto, deve-se observar o princípio da confidencialidade. Vale pontuar que todos os princípios fundamentais estão interligados e que toda atitude profissional deve ser bastante estudada. TROCANDO IDEIAS Segundo a NBC 200 (R1), o incentivo “[...] é o objeto, a situação ou a ação que é utilizada como meio de influenciar o comportamento de outra pessoa, mas não necessariamente com a intenção de influenciar o comportamento desse indivíduo de maneira inadequada” (CFC, 2019b). Quando o profissional contábil recebe um presente de aniversário, pode-se afirmar que o nível da ameaça é significativo para o exercício de sua profissão? 16 NA PRÁTICA1 Considere um profissional da contabilidade recém-formado, com pouca experiência de mercado, mas com inúmeros treinamentos realizados na área tributária. Esse profissional é contratado por uma organização empregadora que lhe atribui a tarefa de realizar um estudo tributário sobre a reorganização societária da empresa. A administração induz o contador a realizar o estudo mesmo com informações superficiais. Nesse contexto, ao assumir a responsabilidade, o contador interno agiu em conformidade com os princípios fundamentais sem que haja nenhuma ameaça a eles? FINALIZANDO De acordo com a NBC PG 200 (R1), “quanto mais alto o cargo do profissional da contabilidade, maior será a capacidade e a oportunidade de obter as informações e de influenciar as políticas, as decisões e ações tomadas pelos outros envolvidos com a organização empregadora” (CFC, 2019b). Essa norma estabelece vários critérios a serem considerados no exercício da profissão contábil, como aplicação da estrutura conceitual, conflitos de interesse, elaboração e apresentação das demonstrações contábeis, atuação com competência suficiente, interesse financeiro, incentivos, resposta ao descumprimento das leis e pressão na execução do trabalho. As ameaças podem ser associadas a cada um desses critérios e devem ser analisadas para que sejam eliminadas. O principal objetivo é cumprir os princípios fundamentais de integridade, objetividade, competência profissional e devido zelo, confidencialidade e comportamento profissional. 1 A resposta esperada para essa questão pode ser encontrada ao final deste material, logo após a seção Referências. REFERÊNCIAS BOTINHA, R. A.; LEMES, S. Corrupção percebida: uma análise da associação com o ambiente contábil dos países do G20. ASAA Journal – Advances in Scientific and Applied Accounting, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 120-139, 2019. Disponível em: <ttp://asaa.anpcont.org.br/index.php/asaa/article/view/476>. Acesso em: 9 abr. 2020. CFC – Conselho Federal de Contabilidade. NBC PG 100 (R1): Cumprimento do Código, dos Princípios Fundamentais e da Estrutura Conceitual. 2019a. Disponível em: <https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de- contabilidade/nbc-pg-geral/>. Acesso em: 9 abr. 2020. _____. NBC PG 200 (R1): Contadores Empregados (Contadores Internos). 2019b. Disponível em: <https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de- contabilidade/nbc-pg-geral/>. Acesso em: 9 abr. 2020. _____. NBC PG 300 (R1): Contadores que Prestam Serviços (Contadores Externos). 2019c. Disponível em: <https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras- de-contabilidade/nbc-pg-geral/>. Acesso em: 9 abr. 2020. 18 GABARITO O contador interno, visando reduzir a níveis aceitáveis ou eliminar as ameaças, pode obter assessoria para auxiliá-lo no desenvolvimento da tarefa. Entretanto, assumir a responsabilidade mesmo com informações superficiais para o estudo tributário pode ameaçar sua atuação competente, assim como prevê o princípio da competência profissional e o devido zelo.
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