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DISCIPLINA NOÇÕES DE ATUÁRIA UNIDADE 1 OS RISCOS E SEGUROS: HISTÓRIA, ESTRUTURA E CONCEITOS FUNDAMENTAIS. UNIDADE 2 PREVIDÊNCIA PRIVADA E A CAPITALIZAÇÃO. UNIDADE 3 A FORMAÇÃO DO PREÇO NOS SEGUROS DE PESSOAS E PREVIDÊNCIA. UNIDADE 3 TÓPICO 1 – PRINCÍPIOS DE ATUÁRIA TÓPICO 2 – A FORMAÇÃO DO PREÇO NOS SEGUROS GERAIS TÓPICO 3 – A FORMAÇÃO DO PREÇO NOS SEGUROS DE PESSOAS E PREVIDÊNCIA TÓPICO 4 – SOLVÊNCIA DAS SEGURADORAS E DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS TÓPICO 1 – PRINCÍPIOS DE ATUÁRIA INTRODUÇÃO Essa ciência surgiu há cerca de 150 anos na Inglaterra, estudando basicamente a mortalidade da população. Portanto, na sua origem, ela voltava-se para o cálculo da expectativa de vida, com interesse nas questões de aposentadoria e pensão. No século XX, a área de seguros ampliou o estudo atuarial, e a presença cada vez mais frequente das empresas de seguro e pensão no mercado financeiro fez com que a ciência atuarial se especializasse cada vez mais em campos econômicos e financeiros. Acompanhando a nova dinâmica dos mercados, as empresas seguradoras passaram a oferecer programas de seguro de vida e outras especializações, o que gerou cada vez maior necessidade do desenvolvimento das ciências atuariais. INTRODUÇÃO Desse modo, os estudos da atuária dividem-se em dois principais ramos: Vida e Não Vida. O primeiro trata de questões de longo prazo, como aposentadoria, pensões, seguros de vida e saúde. O segundo está mais relacionado com características de curto prazo, como os seguros de automóveis e responsabilidade civil (FEAUSP, 2016). Os cursos de formação em Ciências Atuariais, embora não sejam muito comuns, existem em vários locais do país e capacitam tecnicamente os profissionais que irão atuar nas áreas de avaliação de riscos, cálculos de prêmios de seguros, pecúlios, planos de aposentadorias e pensões, bem como de planos de financiamento e capitalização. Outra área que tem utilizado cada vez mais o profissional de atuária é o ramo de operadoras de saúde suplementar. NOÇÕES DE PROBABILIDADE Os conceitos de incerteza e chance (ou probabilidade) são tão antigos como as civilizações e encontram aplicações em diversas áreas, como a medicina, loterias e jogos, previsão do clima, finanças. Nesta unidade vamos usar vários conceitos importantes da Teoria dos Conjuntos (conjunto, elemento, subconjunto, conjunto vazio) para compreender o significado de espaço amostral e evento, além da definição de probabilidade. ESPAÇO AMOSTRAL O espaço amostral (Ω: ômega) é o conjunto formado por todos os resultados possíveis de um experimento aleatório. Em outras palavras, é o conjunto formado por todos os pontos amostrais de um experimento. Veja exemplos: a) O espaço amostral do experimento “cara ou coroa” é o conjunto S = {Cara, Coroa}. Os pontos amostrais desse experimento são os mesmos elementos desse conjunto. b) O espaço amostral do experimento “lançamento de um dado” é o conjunto S = {1, 2, 3, 4, 5, 6}. Os pontos amostrais desse experimento são 1, 2, 3, 4, 5 e 6. ESPAÇO AMOSTRAL EVENTO Pela teoria das probabilidades, um evento é um subconjunto do espaço amostral ao qual é associado um valor de probabilidade. Habitualmente, quando o espaço amostral é finito, qualquer subconjunto é um evento. Como todos os eventos são conjuntos, habitualmente são escritos entre chaves (exemplo: {1, 2, 3}), e representados graficamente usando Diagramas de Venn. Estes diagramas são particularmente úteis na representação de eventos, pois a probabilidade dos eventos pode ser identificada pela razão entre áreas de eventos e do espaço de probabilidade. EVENTO Observe-se na figura a seguir que B é o espaço amostral e A é um evento. EVENTO Peres (2016) traz que o evento pode ser um único ponto amostral ou uma reunião deles. Apresenta como exemplo o lançamento de dois dados e propõe o exercício de se enumerar os seguintes eventos: a) Saída de faces iguais. b) Saída de faces cuja soma seja igual a 10. c) Saída de faces cuja soma seja menor que 2. d) Saída de faces cuja soma seja menor que 15. e) Saída de faces das quais uma é o dobro da outra. EVENTO O espaço amostral no caso é: S = {(1, 1), (1, 2), (1, 3), (1, 4), (1, 5), (1, 6), (2, 1), (2, 2), (2, 3), (2, 4), (2, 5), (2, 6), (3, 1), (3, 2), (3, 3), (3,4), (3, 5), (3, 6), (4, 1), (4, 2), (4, 3), (4, 4), (4, 5), (4, 6), (5, 1), (5, 2), (5, 3), (5, 4), (5, 5), (5, 6), (6, 1), (6, 2), (6, 3), (6, 4), (6, 5), (6, 6)} Logo, os eventos pedidos são: A = {(1, 1), (2, 2), (3, 3), (4, 4), (5, 5), (6, 6)}; B = {(4, 6), (5, 5), (6, 4)}; C = Ø (evento impossível); D = S (evento certo); E = {(1, 2), (2, 1), (2, 4), (3, 6), (4, 2), (6, 3)}. PROBABILIDADE O estudo da probabilidade é de grande importância para a tomada de decisões em nossa sociedade. Conhecemos como probabilidade a área da matemática que estuda a chance de um determinado evento acontecer. A probabilidade conta com conceitos importantes, como experimento aleatório, evento, espaço amostral, e eventos equiprováveis. O valor da probabilidade é sempre um número entre 0 e 1 ou uma porcentagem entre 0% e 100%, e é calculado com base na razão entre os casos favoráveis e os casos possíveis. PROBABILIDADE Matematicamente, a probabilidade é calculada através da seguinte relação: P = Número de casos favoráveis Número de casos possíveis PROBABILIDADE Imagine que você recém se mudou para um edifício com 20 apartamentos e que cada um deles possui duas vagas de garagem. Se você ainda não sabe quais são as suas vagas e resolver colocar em qualquer uma delas, quais serão as suas chances (ou qual a probabilidade) de acertar? O número de casos favoráveis corresponde as duas vagas de garagem que lhe pertencem. Já o número de casos possíveis corresponde ao total de vagas, ou seja 40 (20 apartamentos x 2 vagas). Logo: P = 2/40 = 0,05 = 5% ESPERANÇA MATEMÁTICA A esperança matemática também é conhecida por valor esperado. Trata-se de um conceito estatístico que caracteriza a soma das probabilidades de cada possibilidade de saída de um experimento aleatório multiplicada pelo seu valor. Isto é, representa o valor médio esperado de uma experiência se ela for repetida muitas vezes. ESPERANÇA MATEMÁTICA Segundo Peres (2016), a esperança matemática (E) representa o preço matemático, que, em seguro, chamamos de prêmio de risco ou prêmio estatístico. A esperança matemática é um componente importante na obtenção do valor da prestação que o segurado paga ao segurador para que este assuma a responsabilidade pelo risco de perdas. Seu valor é dado pela multiplicação do ganho esperado pela probabilidade de ganho e pelo fator de desconto financeiro (vn). E = Q × p × vn Onde: E = esperança matemática Q = ganho esperado p = probabilidade vn = fator de desconto financeiro TÓPICO 2 – A FORMAÇÃO DO PREÇO NOS SEGUROS GERAIS VALOR MATEMÁTICO DOS RISCOS E CUSTO MÉDIO DOS SINISTROS A primeira e principal preocupação de uma seguradora deve ser com a conta dos sinistros. A parte do prêmio destinada ao pagamento das indenizações é o maior e principal componente do custo. VALOR MATEMÁTICO DOS RISCOS E CUSTO MÉDIO DOS SINISTROS O Valor Matemático do Risco é, portanto, uma medida de frequência relativa de sinistros, obtida pela relação entre o número de sinistros ocorridos e o número de riscos pesquisados (este também denominado número de seguros da amostra ou número de objetos expostos ao risco). Normalmente, este valor é expresso percentualmente, razão pela qual se multiplica por 100 a relação a seguir: VMR = Nº de Sinistros Ocorridos Nº de Seguros VALOR MATEMÁTICO DOS RISCOS E CUSTO MÉDIO DOS SINISTROS Exemplo: Qual o Valor Matemático do Risco ou Frequência Relativa de uma amostra com 750 mil veículos segurados considerando que, entre colisões e roubos, ocorreram 82.500 sinistros? VMR = 82.500 = 0,11 ou 0,11 x 100 = 11% 750.000 VALOR MATEMÁTICO DOS RISCOS E CUSTO MÉDIO DOS SINISTROS O Custo Médio dos Sinistros é outra variável importante para a precificação dos seguros. Ele correspondeà média aritmética das indenizações pagas pela seguradora, sendo, portanto, obtido a partir da relação: CMS = Total Indenizado Nº de Sinistros Ocorridos VALOR MATEMÁTICO DOS RISCOS E CUSTO MÉDIO DOS SINISTROS Exemplo: Qual o custo médio dos sinistros em uma carteira de seguros de automóveis em que foram gastos R$ 495 milhões para indenizar 82.500 ocorrências de sinistros? CMS = 495.000.000,00 = R$ 6.000,00 82.500 PRÊMIOS ESTATÍSTICO, COMERCIAL E BRUTO Sabemos que prêmio de seguro significa preço de seguro, ou seja, é aquilo que o segurado paga para adquirir garantias. Em contrapartida, em caso de sinistro, o valor que receberá da seguradora denomina-se indenização. PRÊMIO ESTATÍSTICO Conceitualmente, o Prêmio Estatístico (PE) corresponde ao valor que deve ser cobrado de cada segurado para que possam ser pagas todas as indenizações. Desta forma, o Prêmio Estatístico pode ser obtido pela seguinte relação: Prêmio estatístico (PE) = Total Indenizado Nº de Seguros Outra maneira de obtermos o prêmio estatístico é multiplicando o Valor Matemático do Risco (VMR) pelo Custo Médio dos Sinistros (CM), ou seja: PE = VMR x CMS. TAXA ESTATÍSTICA A taxa estatística pode ser obtida a partir do Prêmio Estatístico. Ela representa o percentual a ser usado como base de cálculo a ser utilizada em todos os negócios que se enquadrem nas características de uma determinada amostra. Assim, a Taxa Estatística corresponde à relação entre o Prêmio Estatístico e a Importância Segurada Individual de cada amostra. Geralmente, as taxas estatísticas são expressas em percentagem. PRÊMIO COMERCIAL O prêmio comercial corresponde ao valor que realmente será apresentado à pessoa interessada em contratar um seguro. Já sabemos que o prêmio estatístico representa a parcela destinada a pagar a conta dos sinistros, mas as seguradoras possuem outras despesas a serem pagas, e é claro que elas precisarão entrar no preço. TÓPICO 3 – A FORMAÇÃO DO PREÇO NOS SEGUROS DE PESSOAS E PREVIDÊNCIA TÁBUAS DE MORTALIDADE Conforme Peres (2016), as tábuas de mortalidade são instrumentos destinados a medir as probabilidades de sobrevivência e de morte. São construídas a partir de um instrumental técnico e científico e refletem as mudanças que a sociedade vem sofrendo, com o aumento da expectativa de vida, melhorias sanitárias e o avanço da medicina. Elas apresentam o número de pessoas vivas e de pessoas mortas, em ordem crescente de idade, desde a origem até a extinção do grupo. TÁBUAS DE MORTALIDADE Peres (2016) acrescenta que existem várias tábuas de mortalidade para medir a sobrevida, ou seja, quanto uma pessoa de determinada idade provavelmente ainda vai viver. As tábuas têm denominações usando abreviatura, como AT (Annuity Table), acrescentando-se o ano em que foi finalizada. Pode também haver alguma outra diferenciação no nome da tábua, por exemplo, o sexo do segurado ou se ele é ou não fumante. No Brasil, as mais utilizadas são as tábuas AT-83 Male (para mortalidade masculina) ou AT-83 Female (para mortalidade feminina) e AT- 2000 Male (vide Anexo 3) ou AT-2000 Female. ELEMENTOS DE UMA TÁBUA DE MORTALIDADE A construção de uma tábua de mortalidade parte do conhecimento da taxa de mortalidade (qx) para cada idade do grupo em estudo. As tábuas de mortalidade se compõem, basicamente, de duas colunas: idade e probabilidade de morte, mas podem, também, apresentar mais três elementos: número de mortos, número de sobreviventes e probabilidade de sobrevivência. Conforme Peres (2016), os símbolos (abaixo) utilizados nas tábuas para representar tais elementos são universais: x = idade; lx = número de pessoas vivas ou pessoas sobreviventes com idade x; dx = número de pessoas mortas com idade x, ou seja, número de pessoas que alcançaram a idade x, mas morreram antes de atingir a idade x + 1; qx = probabilidade de uma pessoa com idade x morrer, obrigatoriamente, antes de atingir a idade x + 1; px = probabilidade de uma pessoa com idade x sobreviver à idade x + 1, ou seja, é a probabilidade de uma pessoa de idade x sobreviver, pelo menos, mais um ano (chegar vivo, obrigatoriamente, à idade x + 1). ELEMENTOS DE UMA TÁBUA DE MORTALIDADE Existem várias tábuas de mortalidade ainda em uso no mercado brasileiro, entretanto, as que foram desenvolvidas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), chamadas de Experiência do Mercado Segurador Brasileiro (BR- EMS), tendem a predominar, pois refletem melhor a realidade nacional. ELEMENTOS DE UMA TÁBUA DE MORTALIDADE As tábuas de mortalidade possuem duas colunas: idade e probabilidade de morte, mas também podem apresentar outros três elementos: número de mortos, número de sobreviventes e probabilidade de sobrevivência. REGIMES FINANCEIROS Os regimes financeiros são modelos que possibilitam estabelecer o equilíbrio entre as receitas (prêmios) e despesas (sinistros pagos) de um plano de seguro ao longo de um determinado período de cobertura. Em outras palavras, pode-se dizer que regime financeiro é a maneira pela qual o seguro será financiado. Dependendo do regime financeiro adotado, o valor do prêmio cobrado pela seguradora poderá financiar os sinistros ocorridos durante o período de competência do prêmio pago ou ser suficiente para cobrir um período maior. Enquanto no primeiro caso não há acúmulo de recursos, no segundo caso a seguradora deve provisionar uma parcela do prêmio pago para ser utilizada no futuro. De acordo com Peres (2016, p. 30-31, grifos do original), existem três regimes financeiros: repartição simples, repartição de capitais de cobertura e capitalização. REGIMES FINANCEIROS TÓPICO 4 – SOLVÊNCIA DAS SEGURADORAS E DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS PROVISÕES TÉCNICAS Como as seguradoras assumem riscos que podem ocorrer ao longo de determinado período, normalmente um ano, evidentemente elas não podem gastar de imediato (e sem qualquer critério) os valores (prêmios) que recebem de seus segurados, pois isso implicaria na possibilidade de faltar recursos para honrar com os compromissos assumidos. Segundo Arruda (2005), “as provisões técnicas têm por finalidade garantir o pagamento de ocorrências futuras, não permitindo que a parcela destinada a cobrir os riscos assumidos (prêmio puro) seja consumida antes do final de vigência do seguro”. PROVISÃO DE PRÊMIOS NÃO GANHOS (PPNG) Segundo Arruda (2005), representa a parcela de prêmio relativa ao período do risco ainda não decorrido. Ela é apurada mensalmente, em cada ramo de seguro, através de cálculos individuais por apólice ou por endossos representativos de todos os contratos em vigor no mês de sua constituição. Sua apuração é feita da seguinte forma: PPNG = Período de risco a decorrer x Prêmio comercial Período total de cobertura do risco PROVISÃO DE PRÊMIOS NÃO GANHOS (PPNG) Exemplo: A seguradora Y aceitou o risco e emitiu uma apólice de seguro de automóvel com vigência anual e prêmio líquido (ou comercial) de R$ 3.650,00. Qual a provisão que precisa constituir ao final dos primeiros 30 dias de vigência? Período decorrido = 30 dias Período a decorrer = 365 – 30 = 335 dias Prêmio comercial = 3.650,00 PROVISÃO DE PRÊMIOS NÃO GANHOS (PPNG) PPNG = Período de risco a decorrer x Prêmio comercial Período total de cobertura do risco PPNG = 335 x 3.650,00 = 3.350,00 365 Isto significa que, independentemente de haver recebido prêmio suficiente ou não (ele pode ter sido parcelado para o cliente em 10 vezes), ao final do primeiro mês de vigência a seguradora terá que ter uma provisão (ou reserva) no valor de R$ 3.350,00 para fazer frente ao risco que assumiu. PROVISÃO DE SINISTROS A LIQUIDAR (PSL) Deve ser constituída para a cobertura dos valores a pagar por sinistros avisados até a data-base de cálculo. Conforme Arruda (2005), é calculada com base na metodologia constante da Nota Técnica Atuária do produto ou em metodologia estabelecida pela SUSEP. O seu dimensionamento afeta diretamente o resultado e o capital de giro da seguradora. Uma vez avisado o sinistro pelo segurado, a provisãoé feita com base em estimativa de indenização que poderá ser ajustada (para mais ou para menos) na medida em que se avançam nas apurações. De qualquer forma, uma vez aberto o processo de sinistro, a seguradora é obrigada a constituir uma reserva ou provisão para o seu pagamento. PROVISÃO DE SINISTROS OCORRIDOS E NÃO AVISADOS (IBNR) A sigla IBNR tem origem na expressão em inglês “Incurred But Not Reported”. Ela deve ser calculada atuarialmente em função do montante esperado de sinistros que já ocorreram, mas que ainda não foram avisados até a data-base das demonstrações financeiras. Deve-se considerar aqui que, pelas mais diversas razões, muitas pessoas (físicas ou jurídicas) demoram para comunicar a ocorrência de sinistros (podendo fazê-lo, com regra geral, pois existem exceções na legislação, no prazo de até um ano). Sua apuração considera a sinistralidade de períodos anteriores.
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