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ANATOMIA DO ÚTERO O útero localiza-se na pelve, e seu tamanho varia durante a vida reprodutiva; em média, mede 8 cm de comprimento, 6 cm de largura e 4 cm de espessura e pesa aproximadamente 70 g FUNÇÕES Sustentar, nutrir e proteger o concepto durante a gestação e, por isso mesmo, apresenta forma, volume, localização e estrutura variáveis conforme a idade da mulher, o período do ciclo menstrual e a gravidez. Após a menopausa, o útero sofre hipotrofia, ficando reduzido até metade do seu tamanho original. A principal sustentação do útero na pelve é feita pelo ligamento largo, que é formado pela fusão dos folhetos do peritônio que se refletem sobre o reto e a bexiga DIVISÃO CORPO 2/3 superiores, onde se localiza o fundo e a cavidade endometrial COLO UTERINO Terço Inferior, onde se localiza a endocérvice e a ectocérvice ISTMO Porção que conecta o corpo ao colo uterino COLO UTERINO O colo uterino ou cérvice, que representa a porção inferior do órgão, tem forma cilíndrica. O canal endocervical comunica a cavidade uterina (através do orifício interno) com a luz vaginal (através do orifício externo). MULTIPARA E NULIPARA Em uma mulher multípara, as quais já engravidaram, o orifício externo (OE) é alongado ou em fenda e delimita os chamados lábios cervicais, um anterior e outro posterior; na nulípara, as quais nunca passaram pelo processo de gestação, o orifício externo é circular e uniforme PATOLOGIA DO COLO UTERINO HISTOLOGIA DO COLO UTERINO HISTOLOGIA DA ECTOCÉRVICE A superfície mucosa cervical voltada para a vagina, externamente ao OE e denominada ectocérvice, é revestida por epitélio estratificado escamoso não ceratinizado (1) HISTOLOGIA DA ENDOCÉRVICE A superfície mucosa do canal endocervical, chamada endocérvice, é recoberta por epitélio colunar simples de revestimento (2) e por epitélio glandular mucosecretor (3) O epitélio colunar endocervical penetra profundamente na lâmina própria e ramifica-se, dando origem às glândulas endocervicais HISTOLOGIA DA ZONA DE TRANSIÇÃO ENTRE A ECTOCÉRVICE E A ENDOCÉRVICE O local de encontro do epitélio colunar com o epitélio escamoso é abrupto e denominado junção escamocolunar (JEC) (4). A localização da JEC é variável e sofre influência de estímulos hormonais, variando com a idade da mulher e o período do ciclo menstrual EXERÍCIO 1 PERGUNTAS Você é o legista de sua cidade e, em uma das necropsias, observa a seguinte peça 1- Classifique a peça cirúrgica observada e justifique. 2- Você vê algo de alterado nesta peça? 3- Observando-se a macroscopia, qual seria a idade esperada para a paciente em questão? Justifique RESPOSTAS 1: Útero e anexos bilaterais, cujo conjunto é denominado pan histerectomia (histerectomia e anexectomia bilateral) OBS: Histerectomia total refere-se à retirada do corpo e colo uterino OBS: Salpingectomia é a retirada da tuba e a ooforectomia é a retirada do ovário 2: O da esquerda é maior do que o da direita, o que indica que o primeiro é o normal e o segundo é diminuído e hipotrófico. Nestes, é comum se observar uma relação de 1:1 entre o tamanho do corpo e do colo (padrão: 2:1), a exemplo do mostrado na imagem 3. O da esquerda é de uma mulher em vida adulta e o da direita é um útero hipotrófico, com volume diminuído, característico de uma mulher em idade mais avançada ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS E ADAPTATIVAS DO COLO UTERINO ECTRÓPIO Especialmente no período pós- puberal, a junção escamo-colunar (JEC), que tende a ficar dentro do canal endocervical, exterioriza ou everte, constituindo o chamado ectrópio. Isso ocorre com a idade e sob estímulos hormonais O epitélio evertido, mais delgado, é menos resistente às adversidades existentes na luz vaginal, como pH ácido, microbiota residente e traumatismos aos quais o colo fica exposto durante as relações sexuais. Esses fatores são os responsáveis pela ocorrência de um outro fenômeno fisiológico e adaptativo: nas áreas de epitélio evertido, surge metaplasia escamosa, que se caracteriza pela substituição do epitélio colunar endocervical por epitélio escamoso, mais resistente. Ao final do processo, a ectopia cervical é totalmente substituída por esse novo epitélio, que é muito semelhante ao epitélio escamoso primitivo TESTE DE SCHILLER Método utilizado pelo ginecologista, em que ele aplica uma solução à base de Iodo ou à base de Schiller, com tentativa de identificar áreas de epitélio alterada no colo uterino Quando positivo, há uma coloração marrom em todo o epitélio normal (escamoso) e, a região alterada, não a capta, tornando-se uma área mais amarelada. Esta não é marcada pela coloração, pois as células glandulares que, agora, ali estão pelo ectrópio possuem quantidade pequena ou ausência de glicogênio OBS: A imagem à direita (marrom) ainda está em ectrópio e, portanto, com epitélio glandular, cujas células possuem pouco glicogênio e, assim, não se coram, tornando o teste de Schiller positivo. Caso a fase de metaplasia escamosa já estivesse sido atingida, todo o epitélio estaria corado em marrom, pela presença de células com muito glicogênio (células escamosas) OBS: A área circulada é a região não corada e, portanto, atípica TESTE DO ÁCIDO ACÉTICO O ácido acético também pode ser utilizado ao teste, porém ele torna a área, ao invés de amarelada, esbranquiçada OBS: O teste de Schiller e do ácido acético podem estar falsamente positivos nas mulheres na menopausa ou nos casos de cervicite (inflamações/infecções do colo uterino). O papanicolau é o exame mais confiável e com menores taxas de falsos positivos e falsos negativos. Apesar de não serem mais utilizados como exame de rastreio, o teste de Schiller ou do ácido acético ainda são úteis para o ginecologista. CISTO DE NABOTH Quando grupos de ramificações endocervicais são obliterados pelo epitélio escamoso metaplásico, que prolifera na superfície e bloqueia o fluxo de muco, os produtos de secreção se acumulam, provocam dilatação das glândulas e formam os cistos de Naboth. O aumento da glândula, a irregularidade de seu contorno e o lúmen mais arredondado evidenciam esse processo EXERCÍCIO 2 PERGUNTAS Você está no ambulatório de saúde da mulher, no sexto período do curso e atende uma paciente de 32 anos, que comparece à consulta para exame de rotina. No exame colposcópico, você observa o achado ilustrado nas figuras 1: Descreva qual achado você observou. 2: Dê o diagnóstico. 3: Explique qual é a patogênese da condição observada. RESPOSTAS 1: Superfície perolada/brilhante, com elevação em forma de “bolinha”, preenchida por muco (habitualmente, vê-se líquido) 2. Cisto de Naboth 3. Metaplasia Escamosa bloqueia a saída glandular NEOPLASIA CERVICAL É o terceiro tumor mais incidente em mulheres (INCA) O diagnóstico precoce e a prevenção do tumor são ideais Há grande impacto populacional, principalmente em mulheres jovens, em idade fértil e profissionalmente produtivas Comporta-se como infecção sexualmente transmissível FATORES DE RISCO I: HPV II: História Sexual Início cedo, múltiplos parceiros e sem métodos de barreira III: História Reprodutiva IV: IST V: Tabagismo VI: Estados de Imunodepressão PAPILOMAVÍRUS HUMANO (HPV) Vírus de DNA da família Papovavírus, que estimula a multiplicação celular HPV de baixo grau Relacionada à probabilidade baixa da infecção por HPV evoluir ao carcinoma, já que é um tipo de vírus que não faz a integração ao DNA da célula e que permanece na forma epissomal Eles induzem Condilomas, Neoplasia Intraepitelial Cervical (NIC) e, raramente, lesão de alto grau Tipos: 6, 11, 42 e 44 HPV de alto grau Relacionada à alta probabilidadeda infecção por HPV evoluir ao carcinoma, já que este se integra ao DNA Eles induzem lesões de alto grau e ao carcinoma invasor Tipos: 16, 18, 31 e 33 PATOGÊNESE A proteína E2 inibe a expressão dos genes E6 e E7, que são oncogenes Quando o DNA viral se integra ao DNA da célula, interrompe-se a transcrição ou deleta a sequência E2.. A falta desta aumenta as oncoproteínas E6 e E7 E6 A proteína E6 do HPV se liga à p53 degradação da p53 inibição da apoptose e redução do reparo ao DNA E7 A proteína E7 do HPV se liga à pRb estímulo à síntese de DNA e à proliferação celular Assim, há instabilidade genômica das células epiteliais, aumento da replicação, acúmulo de danos no DNA e de outras mutações, com transformação celular OBS: Esta sequência demora, aproximadamente, de 10 a 20 anos para progredir EXERCÍCIO 3 Paciente mulher, 38 anos, sem queixas. Comparece à consulta ginecológica para exame de rotina. Ao realizar o exame clínico, você observa 4 lesões na região do períneo. As figuras abaixo ilustram a macroscopia de uma das lesões. PERGUNTAS 1: Diante de lesões com este aspecto macroscópico e na localização observada, qual hipótese diagnóstica precisa ser considerada? 2: Descreva a macroscopia observada. 3: Qual microscopia confirmaria sua hipótese diagnóstica? 4: Quais são os fatores de risco/patogênese da lesão observada? RESPOSTAS 1: Vê-se uma estrutura com uma porção central e estruturas vegetantes, como se fosse uma couve flor. É uma lesão com superfície verrucosa e vegetante, o que se refere ao condiloma acuminado, verruga genital causada pelo HPV 2: Lesão com superfície verrucosa e vegetante, de coloração esbranquiçada. 3: A microscopia tem a proliferação do epitélio, a acantose e a coilocitose, que é o efeito citopático viral referente à vacuolização perinuclear em células escamosas, à binucleação e à irregularidade da membrana, associada às alterações nucleares. Ainda, há a projeção digitiforme denominada papila, que possui um eixo fibrovascular conjuntivo de sustentação, provocando a elevação epitelial. 4. Descrito logo acima EXERCÍCIO 4 PERGUNTAS 1: Descreva a lesão macroscópica observada. 2: Você está com esta paciente em seu consultório. Qual seria o diagnóstico? (pense epidemiologicamente) Highlight 3: Descreva a microscopia esperada/ condizente com seu diagnóstico. 4: Quais estruturas são importantes para se avaliar o grau de diferenciação da lesão? 5: Mas do ponto de vista prático, qual seria a importância de se avaliar o grau de diferenciação de uma lesão desta natureza? 6: Especifique em qual localização é esperada que a lesão inicie e justifique 7. Qual a clínica esperada para o paciente? RESPOSTAS 1: Há uma obstrução do colo uterino em seu canal endocervical por uma massa com aspecto tumoral, exofítica (crescendo para o meio externo), irregular, esbranquiçada e acinzentada. Provavelmente, é um carcinoma invasor. As áreas enegrecidas são, provavelmente, necrose e hemorragia 2: Carcinoma Escamoso é o mais provável, já que se imagina que seu início é na JEC/Ectocérvice, cujo epitélio é escamoso (região circulada) e, epidemiologicamente, ele é o mais comum 3. A presença de pérolas córneas facilita o diagnóstico. Vê-se o tecido conjuntivo infiltrado (1) e blocos/ninhos irregulares de células escamosas (2). Alguns desses ninhos possui estruturas arredondadas (bulbo de cebola), que são as pérolas córneas (3) 4: O grau de diferenciação da lesão se refere ao grau de semelhança que ela tem com as células que a ela originaram. Assim, quanto mais pérola córnea ela tiver, mais bem diferenciado ela será 5: A importância desta avaliação é prever o prognóstico. A neoplasia bem diferenciada, que pode de certa forma manter a função da célula normal, tende a ser um tumor menos agressivo, com melhor prognóstico. A célula pouco diferenciada, muito atípica, tende a ser mais agressiva, com pior prognóstico 6. Junção Escamo-Colunar, já que é uma zona de transição, em que há maior atividade de proliferação do epitélio do que, por exemplo, a ectocérvice, mesmo que esta tenha, também, epitélio escamoso 7: Espera-se Corrimento (infecção de repetição do trato urinário), Sangramento e Dispareunia OBS: Um tumor bem diferenciado (o quanto ele é especializado) é o tumor que possui células neoplásicas muito parecidas com as células que a ele deram origem CARCINOMA DE CÉLULAS ESCAMOSAS Neoplasia epitelial maligna de células escamosas Espera-se que surja na ectocérvice ADENOCARCINOMA Neoplasia epitelial maligna glandular Espera-se que surja na endocérvice DESAFIO PERGUNTAS 1: Será que todos os infectados pelo HPV apresentam lesão? 2: Como é feita a vacina? 3: Será que as mulheres vacinadas não necessitam mais de realização de colpocitologia, como exame preventivo? RESPOSTAS 1: Não necessariamente. Isto depende do tipo do HPV, da carga viral e da pessoa 2: Utiliza-se proteínas semelhantes ao vírus. Ela pode cobrir 4 subtipos (6,11,16 e 18) ou 2 subtipos (cobre 16 e 18, principais de alto grau) 3: A vacina não cobre todos os subtipos virais e nem uma vacina tem 100% de eficácia e, portanto, necessita-se da realização da colpocitologia como exame preventivo EXERCÍCIO 5 PERGUNTAS Você está fazendo internato de cirurgia e acompanhando a rotina de um bloco cirúrgico. Um dos cirurgiões pede que você o auxilie em um dos procedimentos. A peça que ele retirou é semelhante a que está representada na figura. Ele pede que você preencha o pedido de requisição de exame anatomopatológico para essa peça. Um dos itens que precisam ser preenchidos no pedido de exame é a hipótese diagnóstica. 1: Como você preencheria, corretamente, este item da requisição de exame? 2: Justifique a resposta acima baseando-se na macroscopia da lesão 3: Qual histologia confirmaria sua hipótese? RESPOSTAS 1 e 2: Observa-se uma massa de área irregular, com vários buraquinhos, que ocupa toda a parede do colo uterino, que obstrui o canal endocervical e que atinge o istmo. Sua superfície mais porosa difere-se do CCE, cuja superfície é mais homogênea e lisa, e sugere, portanto, a presença de um Adenocarcinoma Ainda, como se tem o epicentro da lesão na endocérvice, fortalece-se a hipótese diagnóstica OBS: Os buraquinhos podem ser os ductos glandulares 3: Presença de glândulas atípicas em proliferação que invadem o estroma adjacente ADENOCARCINOMA Cerca de 15% das neoplasias malignas cervicais são representadas por outros tumores além do CCE. Desses, a maioria é representada pelo adenocarcinoma, puro ou associado ao CCE (carcinoma adenoescamoso). Adenocarcinoma do colo uterino também se associa ao HPV, em especial o HPV 18. Muitos dos fatores epidemiológicos de risco para o CCE são aplicáveis também ao adenocarcinoma. É levantada ainda a hipótese de associação entre adenocarcinoma e anticoncepcionais orais como terapia de reposição hormonal. OBS: Há diferença histológica quando há ou quando não há associação com HPV Clinicamente, o adenocarcinoma comporta-se como o CCE, razão pela qual é tratado de forma semelhante; sangramento vaginal é referido por 75% das pacientes, além de corrimento. O adenocarcinoma parece originar-se das células de reserva do epitélio glandular, responsáveis pela sua renovação. A maioria das lesões surge na zona de transformação e apenas 10 a 15% delas se inicia em regiões mais altas no canal endocervical, não sendo reconhecíveis à colposcopia. As lesões precursoras endocervicais são a displasia endocervical (também conhecida como hiperplasia atípica/lesão intraepitelial glandular de baixo e alto grau) e adenocarcinoma in situ. A maioria das pacientesapresenta alterações citológicas ao exame de Papanicolaou MACROSCOPIA Macroscopicamente, o tumor é geralmente exofítico, polipoide ou papilífero (50%), podendo ter também crescimento infiltrativo difuso (15%); pode haver ulceração. Em 15% dos casos, a lesão não é visível macroscopicamente, sendo diagnosticada apenas em estádio mais avançado. MICROSCOPIA No adeno-carcinoma do tipo endocervical (70%), o tumor é constituído por células similares às do epitélio da endocérvice, as quais formam estruturas glandulares com ramificações complexas ou papilas PROGNÓSTICO I: Estadiamento TNM: Tamanho; Linfonodos Acometidos e Metástases II: Tamanho Tumoral Sobrevida de 95% quando <2cm; de 79% entre 2 e 3cm e de 47% quando maior de 4cm III: Tipo Histopatológico Tumores não epidermoides com pior prognóstico em relação ao CCE IV: Invasão do Corpo Uterino V: Profundidade de Invasão Estromal VI: Invasão Linfovascular VII: Metástases Linfonodais VIII: Margens Cirúrgicas Quando livres, são de bom prognóstico OBS: Profundidade da invasão é mais relevante do que seu comprimento EXERCÍCIO 6 Paciente de 30 anos recebeu laudo do exame de Papanicolau cujo resultado foi lesão intraepitelial de alto grau (HSIL), Candida sp e componente inflamatório moderado. Qual a orientação correta nesta situação? (TEP MINAS 2014) A: Tratar a candidíase e orientar a repetição do preventivo anualmente. B: Indicar colposcopia e biópsia dirigida. C: Indicar conização sem a necessidade de biópsia. D: Solicitar captura híbrida para HPV para confirmação diagnóstica RESPOSTA Letra B, já que, como se tem uma lesão de alto grau, sabe-se de sua associação com o HPV e, portanto, a colposcopia e a biópsia são necessárias OBS: Em lesão de baixo grau, a idade é importante à definição da conduta
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