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DIMENSÕES 
HISTÓRICO-
FILOSÓFICAS DA 
EDUCAÇÃO FÍSICA 
E DO ESPORTE 
Renan Costa Valle Scarano 
Os pré-socráticos e Sócrates
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Discutir os fundamentos filosóficos que pautavam os pensadores 
pré-socráticos.
 � Descrever a importância de Platão para a evolução da filosofia.
 � Identificar as ideias apresentadas e defendidas por Sócrates.
Introdução
A atitude filosófica começa quando as certezas passam a ser questiona-
das. A condição filosófica surge quando se olha o mundo com espanto, 
suspeita, estranhamento, surpresa e questionamento. Nesse sentido, o 
pensamento filosófico questiona a realidade a partir da razão crítica e da 
reflexão para chegar a uma explicação sobre as coisas.
Neste capítulo, você vai estudar o surgimento da filosofia na Grécia e 
a evolução do pensamento filosófico. Vai ver também como os filósofos 
pré-socráticos distanciaram-se do mito e inauguraram uma nova forma 
de pensar o princípio constituidor das coisas, instaurando a ideia de 
physis. Por fim, você vai ver como a filosofia mudou de paradigma com 
os sofistas e com Sócrates.
O surgimento da filosofia e os pré-socráticos
Segundo a tradição, o criador do termo “filosofia” foi Pitágoras. Etimologi-
camente, essa palavra vem dos termos gregos philo, que quer dizer amor ou 
amizade, e sophia, que significa sabedoria. Portanto, filosofia significa amor 
ou amizade à sabedoria.
Como você pode imaginar, a filosofia surgiu com um conteúdo, um método 
e um objetivo. Em relação ao conteúdo, a filosofia busca, desde seu início, 
investigar e explicar a totalidade das coisas, ou seja, toda a realidade. “Qual 
é o princípio de todas as coisas?” é uma questão que os primeiros filósofos 
já formulavam. Enquanto método, a filosofia visa a ser uma explicação 
puramente racional da totalidade. Ou seja, a racionalidade é o método de 
investigação que os primeiros pensadores imprimiram em suas pesquisas. 
Em relação ao objetivo, a filosofia deseja conhecer a verdade (REALE; 
ANTISERI, 1990).
Como você pode notar, filosofar não é uma atividade vazia, mas uma 
reflexão racional sobre o princípio das coisas a fim de desvelar a sua verdade. 
Os primeiros pensadores da Grécia Antiga foram identificados como filósofos 
pré-socráticos.
Chauí (2013) considera que na filosofia grega há quatro momentos:
 � o primeiro momento, caracterizado como período pré-socrático ou 
cosmológico, pode ser localizado entre o final do século VII e o final 
do século V a.C., “[...] quando a Filosofia se ocupa fundamentalmente 
com a origem do mundo e as causas das transformações na Natureza” 
(CHAUÍ, 2013, documento on-line); 
 � o segundo momento é o período socrático ou antropológico, “[...] do 
final do século V e todo o século IV a.C., quando a Filosofia investiga 
as questões humanas, isto é, a ética, a política e as técnicas” (CHAUÍ, 
2013, documento on-line); 
 � o terceiro período é chamado de sistemático e vai do final do século 
IV ao final do século III a.C.:
[...] quando a Filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado 
sobre a cosmologia e a antropologia, interessando-se sobretudo em mostrar 
que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico, desde que as leis do 
pensamento e de suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas 
para oferecer os critérios da verdade e da ciência (CHAUÍ, 2013, docu-
mento on-line);
 � o último período é denominado helenístico ou greco-romano e vai do 
final do século III a.C. até o século VI d.C. Nesse longo período, “[...] 
que já alcança Roma e o pensamento dos primeiros padres da Igreja, a 
Filosofia se ocupa sobretudo com as questões da ética, do conhecimento 
humano e das relações entre o homem e a natureza e de ambos com 
Deus” (CHAUÍ, 2013, documento on-line).
Os primeiros filósofos gregos dedicaram-se a investigar a physis, a origem 
das coisas e a sua constituição. De acordo com Bornheim (1999), o termo 
physis não pode ser traduzido por “natureza”, tampouco deve ser entendido 
Os pré-socráticos e Sócrates2
por “física”, conotação que adquire relevância a partir da Modernidade. 
De modo geral, physis designa o conjunto de todas as coisas naturais que 
existem. Os pensadores pré-socráticos são caracterizados por desenvolver 
uma filosofia de investigação do princípio natural que origina e constitui 
todas as coisas.
Bornheim (1999) aponta que physis é o conceito fundamental de todo o 
pensamento pré-socrático. Trata-se de um conceito complexo, pois indica “[...] 
aquilo que brota por si, se abre, emerge, o desabrochar que surge de si próprio 
e se manifesta neste desdobramento, pondo-se no manifesto” (BORNHEIM, 
1999, p. 10). Nesse sentido, a physis encontra em si mesma a gênese, ela é 
arché, o princípio de tudo aquilo que vem a ser, inclusive a psiquê. Outro 
sentido conferido à physis é o da totalidade de tudo o que é. “Ela pode ser 
aprendida em tudo o que acontece: na aurora, no crescimento das plantas, 
no nascimento de animais e homens” (BORNHEIM, 1999, p. 13). Bornheim 
(1999, p. 14) conclui que, para os pré-socráticos, o conceito de “[...] physis 
é o mais amplo e radical possível, compreendendo em si tudo o que existe”. 
Ou seja, a noção contemporânea sobre a natureza não se aplica ao conceito 
grego de physis.
Para sustenta essa tese, Brun (1991) argumenta que os filósofos pré-so-
cráticos consideravam physis como “uma força em crescimento e não esse 
reservatório de materiais e de energias que o homem tende a dominar, para ele 
se tornar mestre e possuidor” (BRUN, 1991, p. 9). O mesmo autor destaca que 
foi Aristóteles o primeiro a realizar uma história dos filósofos, denominando-
-os fisiólogos ou físicos, pois se dedicavam a investigar a physis. O grande 
problema em relação aos pré-socráticos é que suas obras não existem mais, 
restam apenas fragmentos delas.
Os filósofos pré-socráticos foram pensadores que investigaram a origem das coisas 
e a sua constituição a partir de reflexões acerca da natureza (MARCONDES, 2007). Em 
contraposição ao pensamento mitológico, que oferecia uma explicação sobre a origem 
a partir do mito, os filósofos pré-socráticos buscavam a origem natural do cosmos, 
que alguns chamaram de physis. Qual é o princípio primordial? Qual é a origem natural 
do cosmos? Qual é o princípio que dá fundamento às coisas? Essas são as questões 
levantadas pelos filósofos pré-socráticos. Assim “[...] pensar o todo do real a partir da 
physis é pensar a partir daquilo que determina a realidade e a totalidade do ente” 
(BORNHEIM, 1999, p. 14).
3Os pré-socráticos e Sócrates
Tales de Mileto foi o iniciador da filosofia da physis. Ele foi o primeiro 
a afirmar a existência de um princípio originário único, causa de todas as 
coisas que existem (REALE; ANTISERI, 1990). É considerado um dos sete 
sábios da Grécia Antiga. Aristóteles o chama de fundador da filosofia. De 
suas ideias, lembra Bornheim (1999), quase nada é conhecido. Sua doutrina 
defende que “[...] a água é o elemento primordial de todas as coisas e que 
a terra flutua sobre a água” (BORNHEIM, 1999, p. 22). Além disso, é 
atribuída à Tales a ideia de que “[...] todas as coisas estão cheias de deuses” 
(BORNHEIM, 1999, p. 23).
Mileto foi uma cidade da Ásia Menor, berço de uma grande escola de filo-
sofia. Além de Tales, mais dois filósofos marcaram essa escola, Anaximandro 
e Anaxímenes. Anaximandro foi um dos primeiros filósofos. Discípulo de 
Tales, desenvolveu a seu modo as doutrinas do mestre. Supõe-se que tenha 
vivido entre os anos 610 e 547 a.C. Bornheim (1999) diz que Anaximandro 
parece ter sido o primeiro a publicar escritos de ordem filosófica. Ele teria 
escrito uma obra sobre a Physis em prosa.
Para Anaximandro, o princípio de todas as coisas é o ilimitado (apeiron). 
“Seu fragmento refere-se a uma unidade de todas as coisas e à qual retornam 
todas as coisas” (BORNHEIM, 1999, p. 24). Ele não concebe um elemento 
específico como primordial para explicar o princípio.Mas é do apeiron, 
do ilimitado, que surgem todas as coisas. “Do ilimitado surgem inúmeros 
mundos, e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir do 
ilimitado é explicada através da separação dos contrários (como quente, 
frio, seco e úmido) em consequência do movimento eterno” (BORNHEIM, 
1999, p. 24). Anaximandro pensava que tudo possuía um princípio, ou era 
um princípio; somente o ilimitado não teria princípio, pois, se tivesse, seria 
limitado.
Anaxímenes nasceu provavelmente no ano 585 a.C., em Mileto. Para esse 
filósofo, o ar é o elemento que dá origem a todas as coisas vivas. O único 
fragmento existente de Anaxímenes diz que: “Como nossa alma, que é ar, 
nos governa e sustém, assim também o sopro e o ar abraçam todo o cosmos” 
(BORNHEIM, 1999, p. 28).
Heráclito de Éfeso foi um filósofo cujas datas de nascimento e morte são 
desconhecidas. Sabe-se que viveu na época da 69º Olimpíada, que ocorreu 
entre os anos 504 e 500 a.C. Alguns aspectos fundamentais de sua doutrina 
que Borheim (1999, p. 35) aponta são: 
A afirmação da unidade fundamental de todas as coisas; todas as coisas estão 
em movimento; o movimento se processa através de contrários; o fogo é gerador 
Os pré-socráticos e Sócrates4
do princípio cósmico; o Logos é compreendido como inteligência divina que 
governa o real; a sabedoria humana liga-se ao Logos; o conhecimento sensível 
é enganador e deve ser superado pela razão.
O aspecto fundamental salientado na filosofia de Heráclito é a defesa do 
movimento, da mudança, que é chamada de “devir”. Tudo está destinado ao 
devir, a uma passagem de um contrário ao outro. Assim, a guerra revela-se 
essencial na filosofia de Heráclito, pois, para ele, todas as coisas só possuem 
realidade no devir (REALE; ANTISERI, 1990).
O fogo é o elemento primordial de Heráclito: “Tudo foi feito pelo fogo e tudo 
se dissipa no fogo. Tudo está submetido ao destino e o movimento determina 
toda a harmonia do mundo” (BORNHEIM, 1999, p. 43). Heráclito defende 
que há uma tensão entre os opostos, que ele chama de guerra. Trata-se de um 
ponto essencial de sua filosofia. Os contrários vivem em conflito, mas desse 
combate surge a harmonia. No fragmento 8, Heráclito diz: “[...] o contrário é 
convergente e dos divergentes nasce a mais bela harmonia, e tudo segundo a 
discórdia” (BRUN, 1991, p. 43).
Outro elemento-chave na filosofia de Heráclito é o logos, que transmite 
sentido. O fragmento 92 afirma: “Como o oráculo que fala sem dizer isto ou 
aquilo, o logos transmite-nos o sentido, competindo-nos decifrá-lo na medida 
de nossas forças [...]” (BRUN, 1991, p. 43).
Os pitagóricos compreendem uma escola filosófica e também político-
-religiosa. O problema que envolve essa escola é que há uma dificuldade em 
saber quais pitagóricos realmente existiram e quais são lendas. Sabe-se que 
Pitágoras fundou uma escola filosófica para iniciadores e que defendia uma 
doutrina religiosa. Contudo, ele não deixou nenhuma obra escrita e sua dou-
trina foi conhecida somente mais tarde, já no tempo de Platão (BORNHEIM, 
1999). A escola dos pitagóricos influenciou muitos filósofos da Antiguidade, 
entre eles Sócrates e Platão.
De acordo com Bornheim (1999, p. 47), o ponto central da doutrina pitagó-
rica religiosa “[...] é a crença na transmigração das almas, aliada a uma forma 
de vida altamente ascética”. No entanto, o mesmo autor salienta que há outros 
aspectos fundamentais da filosofia pitagórica. Um deles é a ideia de que os 
números e as suas harmonias são os elementos de todas as coisas. Pitágoras 
também é autor da teoria dualista dos opostos e descobriu verdades de ordem 
matemática, sobretudo o famoso teorema de Pitágoras.
5Os pré-socráticos e Sócrates
Para Pitágoras, o que determina a estrutura básica do mundo é o número; ele é o 
princípio universal. De acordo com esse filósofo, os números são entidades reais 
com natureza própria. Assim, estudando os números, os seres humanos podem 
com preen der o universo, pois tudo no universo tem medidas ou altura, tudo é 
quantificado. Os números se manifestam na geometria, na música, na astrologia e 
na astronomia, por exemplo. Nesse sentido, a geometria desenvolvida pelos homens 
oferece a possibilidade de medir as coisas externas. 
Outra importante escola de filosofia do período dos pré-socráticos é a 
dos eleatas. Eleia era uma cidade ao sul da atual Salerno. Um dos filósofos 
importantes dessa escola é Xenófanes de Cólofon. Ele nasceu em 570 a.C. e 
“[...] opõe o saber à aparência, atribuindo aos deuses o conhecimento verda-
deiro e aos homens a conjectura” (BRUN, 1991, p. 58). Brun (1991) salienta 
que não há dúvida entre os críticos de que Xenófanes foi o primeiro a tentar a 
desmitologização. Além disso, ele denunciou as concepções antropomórficas 
e caricaturais que os homens fazem dos deuses. Ele dizia que, se os animais 
tivessem mãos e pudessem fazer imagens de deuses, as fariam em forma de 
animal (REALE; ANTISERI, 1990). 
A tentativa de desmitologização de Xenófanes é acompanhada de uma 
concepção positiva acerca de Deus. Ou seja, esse pensador não excluiu de sua 
filosofia a questão dos deuses. Para Xenófanes, a terra é o elemento primordial 
do qual se originam todas as coisas. No entanto, o ponto mais importante 
da escola dos eleatas é a questão do ser. “Xenófanes afirmou a unidade de 
todas as coisas, a Unidade e unicidade do Ser” (BRUN, 1991, p. 59). Porém, 
o principal filósofo dessa escola que pensa a questão do ser é Parmênides.
Parmênides nasceu por volta do ano 515. Esse filósofo teve conhecimento 
da doutrina de Heráclito sobre a mudança das coisas, à qual se contrapôs. Ele 
escreveu um famoso poema chamado Sobre a Natureza, que contém a essência 
de sua filosofia. Ao lado dos fragmentos de Heráclito, o poema de Parmênides 
compreende a doutrina mais profunda de todo o pensamento pré-socrático. 
A discussão sobre o que é o ser e sobre o movimento das coisas (devir) teve 
seu ponto culminante em Platão e Aristóteles, que desenvolveram a síntese 
filosófica e uma tentativa de superação da filosofia pré-socrática construindo o 
pensamento metafísico. A metafísica ou filosofia primeira tem como pretensão 
explicar a origem e o fundamento das coisas por meio da linguagem racional, 
não recorrendo ao mito para explicar a realidade.
Os pré-socráticos e Sócrates6
De acordo com Bornheim (1999), o poema divide-se em três partes: o pró-
logo, o caminho da verdade e o caminho da opinião. No prólogo, o filósofo é 
conduzido à presença da deusa que promete revelar-lhe a verdade, a sabedoria e 
o conhecimento. No fragmento 2, lê-se: “[...] o filósofo distingue dois caminhos 
de investigação, o do ser e o do não ser, sendo que o primeiro é o caminho da 
certeza, pois conduz à verdade, e o segundo permanece imperscrutável para 
o homem. Trata-se pois de pensar o ser” (BORNHEIM, 1999, p. 53). O ser, no 
poema, é pensado por meio do princípio da identidade e da não contradição, 
que ressalta que o ser é e por isso ele não pode não ser.
O caminho que conduz à verdade é o caminho da razão, que oferece a 
possibilidade de conhecimento verdadeiro. O caminho da verdade diz que o 
ser é e o não ser não é. Portanto, o núcleo da doutrina de Parmênides afirma 
que pensar e ser significam o mesmo. A filosofia do ser e a do devir são dois 
pontos de vista opostos que os pré-socráticos inauguram no pensamento 
ocidental e que vários filósofos tentam conciliar.
Zenon de Eleia é o terceiro filósofo dessa escola. Para ele, a realidade 
é formada por dois princípios: a matéria e a forma. Ele seguia as ideias de 
Parmênides, portanto negava o movimento. Melisso de Samos, filósofo do 
fim do século VI a.C., afirmava que o ser deve ser infinito, “[...] porque não 
tem limites temporais nem espaciais e também porque, se fosse finito, deveria 
se limitar com um vazio e, portanto, com um Não-ser, o que é impossível” 
(REALE; ANTISERI, 1990, p. 58). 
Como você viu, os filósofos pré-socráticos foram reunidos pela história 
tradicional da filosofianum grupo. Esses filósofos pensavam sobre a physis 
e desejavam entender como as coisas funcionavam, qual era o princípio origi-
nário da vida. No entanto, após Sócrates e os sofistas, há um deslocamento no 
pensamento grego — da physis para o homem. Isso significa que a filosofia 
se volta para o mundo das relações entre os homens na pólis (cidade-estado), 
ou seja, para a ética e para a política.
Em contraposição à filosofia da escola dos eleatas, há os filósofos plura-
listas e ecléticos, que se caracterizam por não determinar apenas um elemento 
como primordial. Por exemplo, enquanto Tales dizia que a água era o elemento 
primordial e Heráclito dizia que esse elemento era o fogo, os pluralistas de-
fendiam que não havia só um elemento, mas vários. Portanto, os pluralistas 
e ecléticos explicavam a realidade a partir do múltiplo e não do uno: não 
de uma única origem, mas de vários elementos que originam e compõem a 
realidade. Entre os filósofos pluralistas e ecléticos, destacam-se: Empédocles, 
Anaxágoras de Clazomena, Leucipo e Demócrito.
7Os pré-socráticos e Sócrates
Empédocles escreveu dois poemas: Sobre a Natureza e Purificações. Para 
ele, existiriam quatro elementos primordiais e originais que “[...] compõem a 
formação de todos os entes: fogo, terra, água e ar. Estes elementos e todo o 
processo do real são determinados pelas forças do amor e do ódio que regem 
ciclicamente o cosmos” (BORNHEIM, 1999, p. 67).
Como você pode notar, Empédocles faz uma espécie de síntese dos ele-
mentos que até então alguns filósofos defendiam. Para ele, é a integração dos 
elementos e não um único elemento (como pensaram Tales, Anaximandro, 
Anaxímenes e Heráclito) que dá origem às coisas.
Para Empédocles, os quatro princípios são elementos que não são gerados 
e que são postos em movimento pelo amor ou pelo ódio. O mesmo filósofo 
sugere que os seres humanos também são formados por esses elementos, “[...] de 
maneira misturada, mas em pequenas partículas contíguas que se friccionam” 
(BORNHEIM, 1999, p. 82). Para Empédocles, portanto, são quatro elementos 
materiais que formam a realidade.
Anaxágoras de Clazomena provavelmenteste tenha nascido no ano 
500 a.C. “Contra os que afirmavam a impossibilidade de pensar o múltiplo, 
Anaxágoras faz da multiplicidade o objeto privilegiado de seu pensamento, 
embora o ilimitado que caracteriza o múltiplo não possa ser representado” 
(BORNHEIM, 1999, p. 93).
Em seus fragmentos, percebe-se uma filosofia que visa a explicar a na-
tureza do múltiplo dizendo que em cada coisa há uma porção de cada coisa. 
A exceção é o espírito, ilimitado e autônomo; ao contrário das coisas, não 
é misturado com nada (BORNHEIM, 1999). Contrariamente aos atomistas, 
Anaxágoras pensava que não existiam elementos que podiam somar-se pelos 
mínimos possíveis. Para ele, o mínimo não existia e a substância era divisível 
até o infinito (BRUN, 1991).
Sua teoria diz que não há origem geradora: “Porque nada se cria ou se 
destrói, mas, a partir de fluidos-qualidades preexistentes, produzem-se mis-
turas que se diferenciam de novo” (BRUN, 1991, p. 88). Para Anaxágoras, há 
associação e desagregação, e estas foram organizadas pelo espírito (nous). 
O espírito é o ilimitado e eterno, “[...] não obedece além de suas leis, não se 
mistura com nada”, como diz o fragmento 12 (BORHEIM, 1999, p. 93). Em 
seu fragmento 1, está escrito: “Todas as coisas estavam juntas, ilimitadas em 
número e em pequenez, pois a pequenez é ilimitada” (BORHEIM, 1999, p. 93).
Leucipo de Abdera foi professor de Demócrito, que desenvolveu a teoria 
dos átomos de seu mestre. Leucipo conheceu a doutrina eleática na Itália e de 
lá foi para Abdera, onde fundou sua escola, que seria elevada com Demócrito. 
Leucipo (apud BORNHEIM, 1999, p. 104) foi o primeiro a afirmar “[...] os 
Os pré-socráticos e Sócrates8
átomos como princípio de todas as coisas”. Com isso, contrariou os filósofos 
que afirmavam que a origem das coisas deveria ser buscada em elementos 
da natureza como o fogo, a terra e a água, portanto elementos que podem ser 
vistos ou tocados. Leucipo e Demócrito afirmavam que tudo era composto 
de átomos, que não podiam ser vistos ou tocados. 
Demócrito de Abdera nasceu provavelmente em 460 a.C. Para ele, a 
realidade era composta de átomos e de vazio (BORNHEIM, 1999). O vazio 
existiria para os átomos se chocarem uns contra os outros e, assim, produzi-
rem a energia geradora da vida. Os átomos seriam ilimitados em grandeza e 
número, arrastados com o todo em um turbilhão. Dessa forma, surgiriam todos 
os compostos: o fogo, o ar, a água e a terra, “[...] pois são conjuntos de átomos, 
incorruptíveis e fixos devido a sua firmeza” (BORNHEIM, 1999, p. 124).
Para Demócrito, o átomo era a matéria das coisas, e todo o resto derivava de 
suas diferenças. Outro ponto interessante da doutrina de Demócrito é que as dife-
renças existem em três âmbitos: forma, movimento e ordem (BORHEIM, 1999). 
Você sabe apontar a diferença entre mito e filosofia? Sabe o que favoreceu o surgimento 
da filosofia? 
O mito é uma forma de explicar como as coisas eram num passado imemorial, 
longínquo e fabuloso. A filosofia parte de outro ponto de vista: a origem não está 
somente no passado, mas na totalidade do tempo. Então, a filosofia busca explicar 
como e por que as coisas são o que são.
Ferry (2007, p. 35) sugere que:
[...] em todas as civilizações que conhecemos, sem contar a Antiguidade 
grega e antes dela, as religiões ocupavam o lugar da filosofia. Elas 
detinham o monopólio das respostas para a pergunta da salvação, dos 
discursos destinados a acalmar as angústias provenientes do sentimento 
da mortalidade.
Para Ferry (2007), a natureza democrática da organização política da cidade e, por-
tanto, o cultivo da autonomia da razão nos debates facilitou e estimulou o aparecimento 
de um pensamento livre, “[...] emancipado das imposições associadas aos diferentes 
cultos religiosos” (FERRY, 2007, p. 36). Afinal, “[...] na assembleia os cidadãos gregos 
habituaram-se a discutir, deliberar e argumentar permanentemente e em público” 
(FERRY, 2007, p. 36). Portanto, o surgimento da filosofia na Grécia representa uma 
quebra em relação às civilizações que utilizaram a religião para responder às questões 
existenciais do ser humano.
9Os pré-socráticos e Sócrates
Da physis ao anthropos
A história da Grécia costuma ser dividida pelos historiadores em quatro grandes 
fases ou épocas, segundo Chauí (2013, documento on-line):
 � o período da Grécia homérica, “[...] correspondente aos 400 anos narra-
dos pelo poeta Homero em seus dois grandes poemas, Ilíada e Odisseia”; 
 � o período da Grécia arcaica ou dos sete sábios, que compreende do 
século VII ao século V a.C., “[...] quando os gregos criam cidades como 
Atenas, Esparta, Tebas, Megara, Samos, etc., e predomina a economia 
urbana, baseada no artesanato e no comércio”;
 � o período da Grécia Clássica, “[...] nos séculos V e IV antes de Cristo, 
quando a democracia se desenvolve, a vida intelectual e artística entra 
no apogeu e Atenas domina a Grécia com seu império comercial e 
militar”; 
 � a época helenística, “[...] a partir do final do século IV antes de Cristo, 
quando a Grécia passa para o poderio do império de Alexandre da 
Macedônia e, depois, para as mãos do Império Romano, terminando 
a história de sua existência independente” (CHAUÍ, 2013, documento 
on-line).
A filosofia surgiu na Grécia como tentativa de se encontrar um princípio 
único e último de todos os entes. Como você viu, os pré-socráticos defen-
diam que o princípio das coisas era a physis. No entanto, Platão escreve 
que houve uma mudança no pensamento filosófico grego. Ele cita Sócrates 
e os sofistas como dois paradigmas do novo pensamento filosófico grego 
do século V a.C.
Platão foi o único filósofo da Antiguidade cujas obras completas per-
maneceram intactas por mais de 2400 anos. Ele recebeu “[...] uma educação 
completa, inclusive ginástica e pintura, e [...] se interessou por toda atividadeintelectual de seu tempo” (TRUC, 1968, p. 44). Durante sua vida, viajou, 
visitou o Egito e esteve seguramente três vezes na Sicília, onde discutiu sobre 
política com o tirano Dionísio, episódio que quase lhe custou a vida. Platão 
viveu em Atenas e lá fundou uma escola. Sabe-se que ensinava nos jardins 
de Academo, um parque às margens do Cefiso (TRUC, 1968).
Na academia em Atenas, Platão discutia com seus discípulos sobre as 
ideias filosóficas, comentava os ensinamentos dos pré-socráticos, a tradição 
grega dos mitos, das tragédias e dos heróis e abordava conceitos como o 
Os pré-socráticos e Sócrates10
bem, a justiça e a política. Portanto, Platão produziu um vasto conhecimento 
sobre filosofia, que influenciou a história dessa disciplina. É por meio dele 
que se tem conhecimento sobre os sofistas e sobre Sócrates, seu mestre. 
Além disso, foi Platão que orientou Aristóteles, seu discípulo, a reunir as 
ideias dos filósofos cosmologistas (que mais tarde foram designados como 
pré-socráticos). 
De maneira geral, você pode considerar que Platão buscou legar à filosofia uma síntese 
sobre as principais ideias dos pré-socráticos. De Heráclito e de Parmênides, Platão toma 
a ideia de que as coisas mudam, ou seja, se vale da ideia do devir de Heráclito e da 
ideia de ser de Parmênides. Ele desenvolve ainda sua teoria do mundo das ideias. 
De acordo com essa teoria, no mundo sensível, as coisas existem apenas enquanto 
cópias, pois a verdadeira realidade está no mundo das ideias, em que as ideias existem 
enquanto essências. 
Alguns filósofos, como Nietzsche e Heidegger, consideram que a filosofia 
sofreu uma ruptura a partir de Sócrates. Por isso, tradicionalmente se divide 
a filosofia em pré-socrática e pós-socrática. Mas você sabe por que Sócrates 
foi tão importante?
Sabe-se que Sócrates não escreveu nada; suas ideias foram difundidas 
por seu discípulo Platão. Chauí (2013) conta que, no período em que Platão 
viveu, as cidades gregas estavam em desenvolvimento — tanto com relação ao 
comércio quanto ao artesanato e às artes militares. A cidade de Atenas havia 
se tornado o centro da vida social, política e cultural da Grécia, vivendo seu 
período de esplendor, conhecido como o Século de Péricles. 
O século V a.C. assistiu ao maior florescimento cultural de Atenas. Nessa 
época, a economia agrícola feudal já havia se transformado em economia 
comercial. Dessa forma, outros grupos sociais surgiram, como os mercadores, 
os artesãos e os marinheiros. Esses grupos passaram a participar do governo 
da pólis. Com isso, os poderes do areópago, a aristocracia grega, diminuíram, 
e aumentou o poder das assembleias das demos (povo) (MONDOLFO, 1972). 
Esse período também foi o de maior florescimento da democracia. A demo-
cracia grega possuía, entre outras, duas características de grande importância 
para o futuro da filosofia:
11Os pré-socráticos e Sócrates
Em primeiro lugar, a democracia afirmava a igualdade de todos os homens 
adultos perante as leis e o direito de todos de participar diretamente do governo 
da cidade, da pólis; Em segundo lugar, e como consequência, a democracia, 
sendo direta e não por eleição de representantes, garantia a todos a partici-
pação no governo, e os que dele participavam tinham o direito de exprimir, 
discutir e defender em público suas opiniões sobre as decisões que a cidade 
deveria tomar. Surgia, assim, a figura política do cidadão (CHAUÍ, 2013, 
documento on-line).
Para garantir sua palavra na assembleia dos cidadãos, o homem grego 
precisava saber falar e persuadir; esse era o objetivo da educação. A cidadania, 
tão importante para o funcionamento da pólis grega, dependia de que o cidadão 
se expressasse, opinasse, deliberasse e votasse nas assembleias: “Assim, a nova 
educação estabelece como padrão ideal a formação do bom orador, isto é, 
aquele que saiba falar em público e persuadir os outros na política” (CHAUÍ, 
2013, documento on-line).
Como o povo participava de modo influente do governo, formando a 
democracia, “[...] sentiu-se a necessidade de formar novas elites dando-lhes 
uma cultura político-jurídica baseada no conhecimento dos problemas inte-
lectuais e morais e assistida por uma dialética, capaz de impor-se e triunfar 
nas assembleias e nos tribunais” (MONDOLFO, 1972, p. 13). 
Para isso, eram necessários novos educadores, pois os cosmologistas en-
cerravam-se em suas filosofias e não acompanhavam as mudanças sociais, 
políticas e econômicas que aconteciam nas cidades gregas. É nesse contexto 
que aparecem os sofistas (MONDOLFO, 1972).
De acordo com Mondolfo (1972), os sofistas não se comunicavam com 
o povo, mas dirigiam-se a uma esfera estrita dos ricos. Eles viviam de seu 
magistério e exigiam remuneração, o que não era tradição entre os gregos. 
Os principais sofistas foram Protágoras de Abdera, Górgias de Leontium, na 
Sicília, Pródico de Ceos, Hípias de Élis e Antifonte. Os sofistas chegaram a 
Atenas vindos de outras regiões, como da Ásia e do Norte. Em Atenas, eles cri-
ticavam os valores culturais defendidos pela sociedade grega, relativizando-os.
Em Atenas nem todas as pessoas eram consideradas cidadãos. As mulheres, os escravos 
e os estrangeiros não o eram. Além disso, a educação ateniense não era voltada para 
todos os cidadãos, mas reservada apenas a pequenos grupos da aristocracia.
Os pré-socráticos e Sócrates12
A diferença entre os sofistas e Sócrates é descrita por Mondolfo (1972, 
p. 15) da seguinte forma: 
A educação e a formação de elites para o governo do Estado efetuada pelos 
sofistas obedece às ambições e aos interesses políticos de jovens ricos; a que 
Sócrates quer realizar, em compensação, obedece às exigências do bem geral, 
a que indivíduos devem consagrar a sua capacidade e não sobrepor-lhe as 
suas aspirações pessoais. A educação sofística é formação de habilidades; a 
socrática, formação de consciências [...].
Os sofistas criticavam o ensinamento dos cosmologistas dizendo que 
estava cheio de erros e contradições e que era um saber sem utilidade para a 
pólis. “Apresentavam-se como mestres de oratória ou de retórica, afirmando 
ser possível ensinar aos jovens tal arte para que fossem bons cidadãos” 
(CHAUÍ, 2013, documento on-line). Jaeger (1995, p. 339) defende que, desde 
o início, a educação dos sofistas não era voltada para o povo, mas para as 
elites, tratava-se de “[...] uma nova forma de educação dos nobres”. A im-
portância dos sofistas se dá para Jaeger (1995) na infinidade de problemas 
novos que eles levantam. “Estão tão profundamente influenciados, nos 
problemas morais e políticos, pelo pensamento racional do seu tempo e pelas 
doutrinas dos fisiólogos que criam uma atmosfera de educação multifacetada” 
(JAEGER, 1995, p. 346).
A marca que os sofistas deixaram é a crítica relacionada às ideias tradi-
cionais dos gregos. A verdade, valor tão caro à cultura grega, é relativizada 
pelos sofistas, que dizem que tanto verdade quanto falsidade dependem da 
circunstância. Reale e Antiseri (1990) destacam que a crise da aristocracia 
grega, acompanhada pelo poder do povo e pelo afluxo maciço de estrangeiros 
às cidades gregas, especialmente a Atenas, com a ampliação do comércio, 
levava as cidades a um contato mais amplo. 
Assim: 
A ruptura do círculo restrito da pólis e o conhecimento de costumes, usos e leis 
opostos deveriam constituir a premissa do relativismo, gerando a convicção de 
que aquilo que era considerado eternamente válido, na verdade, não tinha valor 
em outros meios e em outras circunstâncias (REALE; ANTISERI, 1990, p. 74).
Para os sofistas, a virtude não dependia da nobreza do sangue e da nascença, 
mas do saber. Eles exigiam compensação pecuniária por seus ensinamentos e 
faziam do saber uma profissão, o que escandalizava os antigos gregos. Entre 
os sofistas, destacam-se: Protágoras, Górgias, Pródico, Hípias e Antifonte. 
13Os pré-socráticos e Sócrates
Protágoras foi o mais famoso dos sofistas. Nasceu em Abdera entre 491 e 
481 a.C. Sua célebre frase “O homem é amedida de todas as coisas, daquelas que 
são por aquilo que são e daquelas que não são por aquilo que não são” aponta 
para o aspecto antropológico de sua filosofia. Segundo essa ideia, a ética e os 
costumes deveriam basear-se nas normas de juízo construídas pelo homem. O 
homem é o critério para a política e para a educação, e não um critério absoluto 
que discrimina ser e não ser ou falso e verdadeiro. Em sua educação, Protágoras 
buscava fazer com que o jovem aprendesse a criticar e a discutir, pois entendia 
que em cada coisa havia a possibilidade de dois raciocínios: em cada coisa seria 
possível dizer e contradizer (REALE; ANTISERI, 1990).
Para Reale e Antiseri (1990, p. 77), “A virtude que Protágoras ensinava 
era exatamente essa habilidade de saber fazer prevalecer qualquer ponto de 
vista sobre a opinião oposta”. Portanto, para Protágoras não há uma verdade 
absoluta, pois as verdades são relativas. Da mesma forma, não existem valores 
morais absolutos, mas relativos. 
Górgias nasceu na Sicília por volta de 485 a.C. Ele escreveu um tratado 
chamado Sobre a natureza ou sobre o não ser, em que acentua o pensamento 
niilista baseado em três premissas: “O ser não existe, ou seja, existe o nada [...] 
se o ser existisse, ele não poderia ser cognoscível [...] mesmo se fosse pensável, 
o ser permaneceria inexprimível” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 78–79). Se 
existe uma verdade absoluta, ela é inalcançável, afirmava Górgias. Mas a 
doxa (opinião) também não era uma via que Górgias seguia. Ao contrário: 
ele a considerava a mais pérfida das coisas. “Ele procura então um terceiro 
caminho, o da razão que se limita a iluminar circunstâncias e situações de 
vida dos homens e das cidades” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 79).
Como você viu, os sofistas deslocaram o eixo filosófico do cosmos para o 
homem. Eles negavam os deuses, rejeitavam a ideia de princípio, criticavam 
valores e virtudes dos gregos antigos. Mas, ao voltar suas críticas para a filo-
sofia prática, abriram campo para que se estabelecesse um pensamento sobre 
a moral. As bases da filosofia grega antiga foram abaladas com os sofistas por 
meio do relativismo, da crítica à verdade e ao não ser. Em síntese, Sócrates 
é a tentativa de recuperar as bases sólidas do homem em que a cultura grega 
apostava. Com os sofistas, essas bases são sacudidas.
Sócrates: um retorno ao ideal de homem grego
Sócrates nasceu em um bairro suburbano de Atenas no ano 470 a.C. Era 
de uma família pobre, filho de um escultor chamado Sofronisco e de uma 
Os pré-socráticos e Sócrates14
parteira chamada Fenareta. Como jovem grego, cumpriu suas obrigações e 
participou de várias batalhas militares. Além disso, teve modestos recursos 
de sua família, mas que lhe permitiram adquirir a cultura tradicional dos 
jovens atenienses (MONDOLFO, 1972). Sócrates foi contemporâneo dos 
sofistas e contrapôs-se a eles. Antes dos 40 anos, dedicou-se ao ensino da 
filosofia nas praças e nas ruas, mas, ao contrário dos sofistas, ele não cobrava 
por seus ensinamentos.
Sócrates não deixou nenhum escrito. Tudo o que se sabe dele é devido 
aos seus ensinamentos e aos depoimentos de seus discípulos. Os principais 
testemunhos são de Platão, Xenofonte e Aristófanes. Assim como os sofistas, 
Sócrates (apud MONDOLFO, 1972, p. 21) diz:
 [...] não ter encontrado em nenhum naturalista [cosmologista] uma explicação 
satisfatória, e não conseguindo também encontrá-la por si mesmo tomou outro 
caminho pensando que a solução dos problemas não deveria procurar-se nos 
objetos do conhecimento sensível, mas nos conceitos.
Para Sócrates, a filosofia deveria ser prática, algo que guiaria o homem em 
sua vida. Ela deveria ensinar o homem a viver, a conhecer o bem e o mal e a 
ter consciência sobre o seu destino. Nos diálogos de Platão, aparece a figura de 
Sócrates discutindo conceitos com os sofistas, a quem tanto Sócrates quanto 
Platão combateram. Esses diálogos estão escritos na forma de perguntas e 
respostas. Alguns dos principais diálogos em que Platão apresenta Sócrates 
ensinando são: Fédon, Sofista, O Banquete, Alcibíades e Fedro.
Sócrates abordava as pessoas nas praças e nas ruas exortando-as a melho-
rarem a alma, a cuidarem de si e a aprimorarem a cidade. De acordo com a 
obra Apologia de Sócrates, em que Platão trata da condenação e da defesa de 
seu mestre, ao abordar as pessoas nas ruas e nas praças, Sócrates realizava 
uma missão conferida pelos deuses.
O método que Sócrates utilizava para abordar as pessoas era a maiêutica. 
Esse método era indutivo-dialético e utilizado para fazer com que o interlo-
cutor questionasse seu saber, considerado superficial pelo filósofo. Sócrates 
buscava um conhecimento crítico. Assim, a maiêutica seria a arte de fazer 
com que nascessem ideias. 
A finalidade dos diálogos socráticos era chegar até a verdade por meio do 
diálogo. Isso envolvia dois passos: a ironia e a refutação. Ou seja, Sócrates 
interpelava pessoas comuns e questionava o que elas entendiam sobre deter-
minada ideia. Logo após, ele ironizava tal compreensão, inserindo perguntas 
para que o sujeito se complicasse em sua resposta. Depois, Sócrates fazia com 
15Os pré-socráticos e Sócrates
que a pessoa refutasse o entendimento e construísse uma nova ideia sobre 
aquilo que era posto em discussão.
Sócrates fazia perguntas sobre as ideias, sobre os valores nos quais os gregos 
acreditavam e que julgavam conhecer. Suas perguntas deixavam os interlocu-
tores embaraçados, irritados, curiosos, pois, quando tentavam responder ao 
célebre “o que é?”, descobriam, surpresos, que não sabiam responder e que 
nunca tinham pensado em suas crenças, seus valores e suas ideias (CHAUÍ, 
2013, documento on-line).
O que Sócrates procurava com seus diálogos? De acordo com Chauí (2013), 
ele buscava a verdade, a essência das coisas, o valor. Ele procurava o conceito 
e não a mera opinião. A opinião varia de acordo com a pessoa, o lugar e a 
situação. Em contraponto, o conceito é imutável, universal e necessário. As 
questões de Sócrates diziam respeito àquilo que as pessoas pensavam sobre 
si mesmas, mas também àquilo que pensavam sobre a pólis e os valores, que 
eram tidos como tradicionais e certos.
A forma própria do ensino socrático é o diálogo onde o mestre pergunta 
mais do que responde, excita a reflexão ativa do discípulo e provoca a sua 
resposta obrigando-o a procurar para descobrir; ou seja: é um despertador 
de consciências e inteligências, não um provedor de conhecimento (MON-
DOLFO, 1972, p. 37–38).
Portanto, o ensino socrático ocorria por meio de diálogos, de forma viva 
e livre. Por isso, não poderia dar-se mediante obras escritas (MONDOLFO, 
1972). 
O fato de Sócrates realizar uma educação crítica e tratar de assuntos que iam desde 
a moral até a política de Atenas incomodou alguns personagens atenienses. No 
ano 399 a.C., Sócrates foi condenado à pena de morte por corromper a juventude e 
fazer com que ela questionasse a sua época e os valores que vigoravam. Também foi 
condenado por não respeitar os deuses ancestrais da cidade e fazer com que seus 
discípulos desacreditassem nesses deuses. Por último, foi condenado por contrariar 
a democracia ao criticar alguns políticos e dizer que eles não tinham compromisso 
com a verdade, mas apenas com a vitória em discussões na ágora (espécie de praça 
central da pólis onde ocorriam as discussões sobre a política).
Os pré-socráticos e Sócrates16
Sócrates iniciou um novo momento na filosofia, pois a direcionou para a 
existência humana e a vida política na pólis. Na filosofia de Sócrates, há um 
deslocamento na pesquisa do mundo natural para o mundo humano, o que 
também estava sendo realizado pelos sofistas. Sócrates desejava, num primeiro 
momento, chegar ao conceito universal de algo, por exemplo, a ideia de justiça. 
Essa ideia geraria um conceito sobre a verdade. Num segundo momento, a 
verdade deveria gerar a ética dos indivíduos, que, após conhecerem o con-
ceito, agiriam de acordo com ele na pólis. O terceiro momento dafilosofia 
socrática se daria na ação ética dos cidadãos, que manifestariam uma ética 
baseada na verdade.
Reale e Antiseri (1990) afirmam que Sócrates centralizou sua filosofia na 
problemática do homem, procurou resolver os problemas do princípio e da 
physis. Antes de persuadir os outros como faziam os sofistas, Sócrates pensava 
que era preciso conhecer-se a si mesmo para obter a felicidade, que deveria ser 
o fim da vida. E você sabe o que Sócrates dizia da felicidade? Para ele, “[...] a
felicidade não podia vir das coisas exteriores, do corpo, mas somente da alma,
porque esta, e só esta, é a sua essência” (REALE; ANTISERI, 1990, p. 92).
A alma seria feliz quando virtuosa e ordenada, e o homem era o encarregado 
de ser o artífice de sua felicidade ou infelicidade. Para Sócrates, o objeto da 
filosofia não era conhecer o exterior, o mundo, mas investigar a própria alma.
17Os pré-socráticos e Sócrates
BORNHEIM, G. (Org). Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1999.
BRUN, J. Os pré-socráticos. Rio de Janeiro: Edições 70, 1991.
CHAUÍ, M. Síntese sobre os períodos da filosofia grega: os filósofos da natureza, Sócrates e 
Platão: os períodos da filosofia grega. 2013. Disponível em: <https://territoriosdefilosofia.
wordpress.com/2013/07/14/sintese-sobre-os-periodos-da-filosofia-grega-os-filosofos- 
da-natureza-socrates-e-platao/>. Acesso em: 19 ago. 2018.
FERRY, L. Aprender a viver: filosofia para os novos tempos. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
JAEGER, W. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 6. ed. Rio 
de Janeiro: Zahar, 2007.
MONDOLFO, R. Sócrates. São Paulo: Metre Jou, 1972.
REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia: antiguidade e idade média. São Paulo: 
Paulus, 1990.
TRUC, G. História da filosofia. Porto Alegre: Globo, 1968.
Leituras recomendadas
ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: 
Moderna, 2009.
RODRIGUES, R. As origens egípcias das doutrinas não escritas de Platão. In: Segundas 
Filosóficas. 2014. Disponível em: <http://segundasfilosoficas.org/as-origens-egipcias- 
das-doutrinas-nao-escritas-de-platao/>. Acesso em: 19 ago. 2018.
VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2002.
18Os pré-socráticos e Sócrates

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