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Logística e gerenciamento de risco APRESENTAÇÃO Você já parou para pensar na quantidade de riscos e problemas que podem acontecer entre a saída de uma carga do remetente até chegar ao destinatário? O transporte de carga é uma atividade complexa que oferece vários riscos. É necessário desenvolver ações para garantir que a carga chegue ao destino final em perfeitas condições e dentro do prazo. Nesta Unidade de Aprendizagem, você identificará como as transportadoras gerenciam riscos. Além disso, explicará a relevância do seguro de carga para o gerenciamento de riscos. Por fim, reconhecerá as boas práticas do gerenciamento de riscos eficiente. Bons estudos. Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar como as transportadoras gerenciam riscos.• Explicar a relevância do seguro de carga para o gerenciamento de riscos.• Reconhecer as boas práticas do gerenciamento de riscos eficiente.• DESAFIO O gerenciamento de risco consiste em identificá-lo, analisar de forma qualitativa e quantitativa, estimar a probabilidade de ocorrência, avaliar o impacto causado, criar o plano de ação para cada item e monitorar os riscos apontados. Imagine que você é o gerenciador de risco de uma transportadora de médio porte que atua na região Sudeste. No último ano, houve três ocorrências de acidentes envolvendo a frota da sua transportadora. As investigações apontaram que um acidente foi ocasionado por imprudência do motorista, o qual estava trafegando com excesso de velocidade; outro ocorreu devido a uma falha nos freios do veículo; e um terceiro acidente aconteceu porque um motorista dormiu ao volante. Sendo assim, responda: quais são as estratégias que você irá implantar para reduzir o índice de acidentes com a frota da sua empresa, sabendo que a empresa não conta com sistemas tecnológicos para monitoramento do motorista? INFOGRÁFICO Cerca de 60% dos transportes de carga no Brasil são realizados por meio do modal rodoviário. Os acidentes envolvendo veículos de carga são, na maioria das vezes, de grande proporção, causando danos na carga, além de prejuízo para a transportadora e para os clientes, assim como danos a terceiros e impacto no trânsito. Neste Infográfico, você vai ver as principais causas de acidentes envolvendo veículos de carga. CONTEÚDO DO LIVRO Chegar com carga ao destino final tem sido um grande desafio devido a fatores internos e externos. Como se não bastassem os altos índices de acidentes, principalmente no modal rodoviário, a criminalidade tem dado muita dor de cabeça para gestores e empresários. Nos últimos anos, o índice de roubos de carga cresceu assustadoramente, obrigando as empresas a investirem em tecnologia para coibir essas ações. No capítulo Logística e gerenciamento de risco, da obra Gestão de custos, riscos e perdas, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai ver como as transportadoras gerenciam os riscos no transporte de cargas. Além disso, vai aprender a importância da contratação de um seguro de cargas. Por fim, vai conhecer boas práticas para se ter um gerenciamento de riscos eficiente. Boa leitura. GESTÃO DE CUSTOS, RISCOS E PERDAS Isis Boostel Logística e gerenciamento de riscos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Identificar como as transportadoras gerenciam riscos. Explicar a relevância do seguro de carga para o gerenciamento de riscos. Reconhecer as boas práticas do gerenciamento de riscos eficiente. Introdução O gerenciamento de riscos no transporte de produtos é fundamental, pois os veículos de carga estão expostos constantemente a riscos que podem ser controlados ou, até mesmo, a riscos imprevisíveis — nesse caso, deve ser adotado um plano de ação para minimizar o impacto. Neste capítulo, você vai estudar como as transportadoras gerenciam riscos, verificando alguns seguros obrigatórios e facultativos nos trans- portes de cargas e identificando algumas ferramentas utilizadas para gerenciar riscos. Como as transportadoras gerenciam riscos? A distribuição de produtos é um dos processos logísticos mais delicados, e isso explica por que essa etapa é uma das mais terceirizadas em uma empresa. Além do alto investimento em veículos de transportes, muitas empresas não possuem know-how quando o assunto é transportar mercadorias, daí a razão de repassarem essa responsabilidade para uma transportadora. Um bom prestador de serviços consegue aumentar a efi ciência da distribuição, reduzir falhas e melhorar o atendimento ao cliente. Segundo Ballou (2006, p. 82): As características de risco do produto são, entre outras, perecibilidade, infla- mabilidade, valor, tendência a explodir e facilidade de ser roubado. Quando qualquer produto mostra alto risco em um ou mais desses itens, é natural que se imponham determinadas restrições sobre o sistema de distribuição. Os custos de transporte e os de armazenagem tornam-se logicamente mais altos tanto em termos financeiros absolutos quanto como percentagem do preço de venda. Nesse sentido, segundo Minetto Junior e Castiglioni (2014, p. 14): É crescente a procura das empresas por parceiros que ofereçam serviços logísticos de qualidade, com bom atendimento e custos competitivos. Pouquís- simas empresas mantêm o serviço de entrega com frota própria, pois tentar atingir regiões cada vez maiores implica possuir muitos veículos o que, além de manter o custo de manutenção e mão de obra (motoristas e mecânicos), significa correr o risco de deixar esses recursos ociosos por algum tempo, aumentando os custos. Embora seja o mais comum e abundante dos modais de transporte, o modal rodoviário é um dos que oferecem maior risco quando se trata de segurança de carga; afinal, há elevados índices de acidentes, além da facilidade de desvios e roubos. Por conta disso, existem muitos métodos para prever e impedir esses eventos de risco, como escoltas e monitoramento via satélite, ou mesmo o planejamento do menor trajeto ou daquele que ofereça menos riscos (MINETTO JUNIOR; CASTIGLIONI, 2014). Assim, um programa de gestão de riscos no transporte consiste em adotar estratégias para minimizar possíveis prejuízos durante a movimentação de carga. Tratando-se de gerenciamento de riscos, podemos apontar os principais riscos no transporte por rodovias, conforme apresentado a seguir. Acidentes de trânsito Há vários fatores que contribuem para o grande número de acidentes envol- vendo veículos de carga nas estradas brasileiras: grande distância percorrida — o Brasil é um país de dimensão continen- tal, e a carga geralmente percorre grandes distâncias até o seu destino; descumprimento da lei — a Lei nº. 13.103, de 2 de março de 2015, regulamenta principalmente aspectos relacionados à jornada de trabalho e ao descanso do motorista; Logística e gerenciamento de riscos2 excesso de carga; imprudência do motorista; condições das estradas; condições dos veículos; uso de drogas. Para saber mais sobre a Lei nº. 13.103/2015, acesse o link a seguir. https://goo.gl/bmTT8r Roubos de cargas e veículos Os dados sobre roubos de carga no Brasil são alarmantes. Segundo dados da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC), em 2017, o País teve um prejuízo de cerca de R$ 1,574 bilhões considerando apenas a carga roubada. Cerca de 20% dos veículos não são recuperados, elevando o valor para a casa dos R$ 2,5 bilhões. Os Quadros 1 e 2 trazem dados de 2014 a 2017 relacionados ao roubo de carga (ROUBO..., 2018). Fonte: Adaptado de Roubo... (2018). Regiões 2014 2015 2016 2017 Valores (R$ milhões) Valores (R$ milhões) Valores (R$ milhões) Valores (R$ milhões) Norte 9,65 14,68 23,19 34,51 Nordeste 61,81 87,76 143,99 202,72 Centro-Oeste 38,06 44,09 49,08 66,10 Sudeste 759,30 775,19 942,98 1.118,03 Sul 135,87 198,60 205,02 152,66 Total 1.004,69 1.120,32 1.364,26 1.574,02 Quadro1. Valores de cargas roubadas por região 3Logística e gerenciamento de riscos Fonte: Adaptado de Roubo... (2018). Regiões 2014 2015 2016 2017 Ocorrências Ocorrências Ocorrências Ocorrências Norte 120 178 237 164 Nordeste 1.111 1.129 1.371 1.514 Centro-Oeste 404 578 795 640 Sudeste 15.002 16.508 20.800 22.212 Sul 795 855 1.360 1.440 Total 17.432 19.248 24.563 25.970 Quadro 2. Número de ocorrências de roubos de carga por região O prejuízo para a indústria não para por aí. Uma vez que a carga roubada é comercializada, as empresas deixam de fazer vendas legais. Ainda, o alto índice de roubo de cargas roubadas impacta diretamente nos custos logísticos, principalmente no frete. Segundo Barros (2017, documento on-line): O aumento do roubo de cargas, no final das contas, impacta no frete. Em rotas de até 100 km, o custo com seguro é em torno de 4%, já em rotas supe- riores a 1.000 km, é de 2%. O problema é que esse custo pode dobrar se as cargas passam por trechos perigosos. E em casos mais extremos, quando há necessidade de contratar escolta armada, o custo com segurança pode chegar a 1/3 do custo de transporte. Avarias e atrasos As avarias durante o transporte de produtos também devem ser apontadas no gerenciamento de riscos. Carga mal acondicionada e desrespeito às informações das embalagens são os principais motivos para danos aos produtos transportados. Outro item que deve ser contemplado no gerenciamento de riscos é o atraso nas entregas, pois pode comprometer contratos e resultar em perda de clientes. As causas de atrasos na entrega dos produtos são inúmeras, e algumas estão listadas a seguir. Trânsito: monitorar o trânsito é importante para a definição da rota, pois há locais onde o trânsito é mais intenso em determinados períodos. Logística e gerenciamento de riscos4 Esse monitoramento reduz o risco de atraso nas entregas, além de reduzir e aumentar a eficiência do transporte. Mudança de rota: isso não significa dizer que uma rota preestabelecida não pode ser alterada, pois existem fatores como acidentes, por exemplo, que podem comprometer a entrega de produtos. Danos ao veículo: além de comprometerem os prazos de entrega, pos- síveis danos aos veículos podem aumentar o risco de acidentes. Apreensão de mercadorias: trafegar com mercadorias acima do peso permitido ou divergentes dos documentos fiscais oferece risco de apre- ensão da carga ou, até mesmo, do veículo. Além de comprometer a entrega, gera custos para a empresa. Demora do cliente em receber uma determinada carga: existe o risco de atraso de entregas quando vários clientes são atendidos em um mesmo frete. Avaliar a burocracia que algumas empresas oferecem para descarregamento de carga é fundamental para traçar uma determinada rota. Deve-se ficar atento também aos horários de funcionamento da empresa, para que o veículo possa chegar em tempo hábil para descar- regar e seguir viagem até um próximo cliente. Relevância do seguro de carga para o gerenciamento de riscos O seguro de transporte de cargas tem a fi nalidade de indenizar o segurado caso ocorram avarias, perdas ou roubo de produtos durante o transporte, em viagens rodoviárias, marítimas ou aéreas. O seguro pode contemplar também a etapa de armazenamento desses produtos. Tudo depende da modalidade de seguro contratada. Segundo Caixeta Filho e Martins (2014, p. 96), “O seguro de transporte assume importante papel, visto que, diante de tantas perdas potenciais, o prêmio com seguro passa a apresentar valores elevados”. Algumas das modalidades de seguro para o transporte de cargas estão listadas a seguir. Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Cargas (RCTR–C): toda empresa transportadora registrada na Agência Na- cional de Transportes Terrestres é obrigada a manter esse seguro, que garante indenização devido a acidentes como colisão, tombamento, capotagem, abalroamento e incêndio ou explosão. 5Logística e gerenciamento de riscos Responsabilidade Civil Facultativa do Transportador Rodoviário por Desaparecimento de Carga (RCF-DC): não é um seguro obri- gatório; garante indenização em caso de roubos ou desaparecimento de carga. Seguro de Transporte Nacional: a contratação desse seguro é de responsabilidade do dono da carga e é obrigatória. Garante indenização por danos a cargas transportadas no território nacional. Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário em Viagem Internacional (RCT-VI): é um seguro contratado pela transportadora em casos de viagens internacionais e garante indenização em caso de dano à carga transportada em casos de colisão, tombamento, capotagem, abalroamento e incêndio ou explosão. Risco Rodoviário (RR): oferece cobertura da carga em caso de colisões ou furtos Responsabilidade Civil do Transportador Aéreo de Cargas (RCTA-C): cobre danos causados pelos transportadores de modais aéreos. Responsabilidade Civil do Armador de Cargas (RCA-C): seguro obrigatório para transportadores de modais aquaviários; cobre danos a cargas transportadas. Seguro do caminhão: existe o seguro obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) e os seguros referentes à indenização do bem em caso de acidentes ou furtos. Chamamos de colisão quando dois corpos em movimento se chocam. Já abalroamento é o choque de um corpo em movimento contra um corpo estático. As companhias seguradoras, baseadas nas análises de riscos de cada operação, orientam quais procedimentos deverão ser seguidos durante o transporte de cargas. O não cumprimento dessas instruções pode resultar em não pagamento do prêmio do seguro. Alguns fatores são levados em consideração na formatação do preço do seguro de cargas. Logística e gerenciamento de riscos6 O Decreto-Lei nº. 73, de 21 de novembro de 1966, o Decreto nº. 61.867, de 11 de dezembro de 1967, e a Lei nº. 8.374, de 30 de dezembro de 1991, regulamentam o seguro obrigatório para transportadores de carga. Cargas refrigeradas, frágeis e explosivas, por exemplo, aumentam o preço do seguro. Além da característica da carga, o valor da carga, o modal de transporte e a rota de transporte influenciam no valor do seguro. As principais coberturas contratadas são de roubo, furtos e danos à carga; nesse caso, o tipo de embalagem também refletirá no valor do seguro. A Figura 1 traz um ranking das mercadorias mais roubadas em São Paulo em 2015. Figura 1. Valores em milhões de reais dos produtos mais roubados em São Paulo em 2015. Fonte: Quais... (2016, documento on-line). 7Logística e gerenciamento de riscos A Figura 1 demonstra quais são os principais tipos de carga que despertam a atenção de bandidos. Esses tipos de produtos exigem mais cuidados por parte das transportadoras para prevenção do risco de roubo de carga. Nesses casos, para aceitar a transferência de risco por meio do seguro, as seguradoras fazem exigências referente ao método de monitoramento e rastreamento das cargas. Apesar do alto risco de abordagem de veículos de transporte de carga, o roubo é estimulado pelo alto valor de alguns tipos de cargas. Produtos eletrônicos, por exemplo, podem render milhões aos assaltantes, e comercializar esse tipo de produto de forma ilegal é relativamente simples, uma vez que sempre há con- sumidores interessados em pagar menos por itens muitas vezes bastante caros. Em algumas regiões do Brasil onde há maior risco de roubo de cargas, o custo do seguro é, por consequência, maior (Figura 2). Figura 2. Regiões com maior incidência de roubos de cargas em 2015. Fonte: Quais... (2016, documento on-line). Logística e gerenciamento de riscos8 Transportadoras que operam no estado do Rio de Janeiro, por exemplo, passaram a cobrar uma taxa extra das empresas que contratam os seus serviços: a Taxa de Emergência Excepcional (Emex). Segundo o vice- -presidente da NTC, Urubatan Hellou, “[...] a Emex aumenta, em média, cerca de 1,5% o valor de cada produto transportado”(SILVEIRA, 2017, documento on-line). Estima-se que as grandes transportadoras que atuam no estado sofram entre cinco e 10 tentativas de roubo de carga diariamente no Rio de Janeiro e que cerca de 40% das tentativas sejam bem-sucedidas. A Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (FIRJAN, [2017] apud SILVEIRA, 2017) indica que a cada uma hora e dez minutos um roubo de cargas é registrado no estado. Assim, muitas empresas já estão se recusando a transportar cargas para o estado do Rio de Janeiro, de forma que existe a probabilidade de haver um desabastecimento de produtos essenciais, como medicamentos, por exemplo. Mas, obviamente, não se trata de um problema exclusivo do estado. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, nos cinco primeiros meses de 2018 um veículo de carga era roubado a cada hora. Portanto, devido ao aumento de casos de roubos de cargas no estado, seguradoras já estão recusando a renovação de apólices de seguros e, quando aceitam, aumentam o valor da franquia em 50%, tornando a transferência de risco inviável para a empresa (TAVARES, 2018). Enfim, quanto maiores forem os riscos no transporte de cargas, maior será o valor do seguro. É importante ressaltar que uma transportadora não pode usar o seguro para obter lucro; ou seja, o transportador rodoviário de cargas não pode cobrar custos de seguros dos seus clientes maiores do que os efetivamente pagos para a seguradora. Boas práticas do gerenciamento de riscos eficiente Segundo Moura (2005, p. 28): O Gerenciamento de Risco consiste no planejamento das ações de prevenção de riscos operacionais relacionados à segurança das cargas transportadas, objetivando reduzir e minimizar o índice de sinistros, garantir a qualidade dos serviços prestados e o cumprimento dos prazos de entrega contratados. 9Logística e gerenciamento de riscos Nesse sentido, de acordo com Castiglioni e Pigozzo (2014), o gerenciamento de risco é efetuado por meio de procedimentos administrativos, operacionais e, principalmente, de sigilo das informações. Para tanto, as empresas têm, à sua disposição, sistemas que permitem rastreamento/monitoramento, comu- nicações rápidas e eficazes, pronto-atendimento, além de recursos humanos especializados que buscam, por meio de serviços de inteligência e tecnologia, antecipar-se aos fatos. A transportadora deve avaliar criteriosamente cada possível falha, esti- mando a probabilidade de ocorrência e qual será a gravidade caso a falha ocorra, para, então, determinar o nível de ação para cada risco identificado. A primeira boa prática para se obter um gerenciamento de riscos eficiente é antecipar os riscos. Nesse momento, o histórico de falhas (lições aprendidas/ estoque de conhecimento) que aconteceram pode fornecer informações va- liosas para não haver incidências que resultem na ruptura da cadeia logística. Observar as falhas que ocorreram com empresas do mesmo setor também oferece um direcionamento para antecipar e controlar os riscos. Como vimos, os riscos de maior impacto para as transportadoras são os rou- bos e furtos de carga e os acidentes. Por se tratar de riscos externos, comuns a todas as empresas, que ocorrem com muita frequência e são de grande impacto, as transportadoras passaram a investir pesado em tecnologia e na restruturação dos seus processos para a redução desses riscos. Cyro Buonavoglia, presidente da GRISTEC afirma que “[...] as tecnologias e os serviços de rastreamento e gerenciamento de riscos são vitais para que as cadeias logísticas não sejam completamente destruídas pela ação de criminosos” (GERENCIAMENTO..., 2014, documento on-line). Preocupadas com esse alto índice de ocorrência de roubos de cargas e o elevado índice de acidentes nas estradas brasileiras, as empresas têm investido em tecnologia para rastreamento de carga e para monitoramento das ações dos motoristas na condução dos meios de transportes. Veja a seguir quais são as principais ferramentas tecnológicas do mercado no que tange aos transportes. Sistema de rastreamento por Sistema de Posicionamento Global (GPS): esse sistema permite acompanhar a localização geográfica do meio de transporte em tempo real. O uso de GPS reduz o valor do seguro e aumenta a probabilidade de encontrar uma carga extraviada, além de permitir monitorar se o motorista realmente está seguindo a rota. Monitoramento por meio de câmeras ou Digital Video Recorder (DVR) veicular: as câmeras enviam imagens internas da cabine em Logística e gerenciamento de riscos10 tempo real; já o DVR veicular, além de monitorar a posição do veículo, também permite parar o funcionamento do motor, aumentando a segu- rança e o controle sobre as frotas. Rotograma falado: trata-se de um aparelho que se comunica com o motorista por meio de comando de voz, alertando-o quanto ao risco de trajetos, como uma curva perigosa à frente, ou até mesmo sugerindo uma velocidade ideal para realizar manobras. Computador de bordo: oferece informações importantes sobre o de- sempenho do veículo, como consumo médio e instantâneo de combus- tível, alerta sonoro de limite de velocidade e dados sobre a manutenção do veículo. Telemetria: informa à central de monitoramento como o veículo está sendo conduzido, aumentando a eficiência dos serviços e reduzindo custos. Bloqueadores: Conforme Moura (2005, p. 28): Os bloqueadores são dispositivos de segurança que permitem o bloqueio do veículo à distância, utilizando um pager embarcado no veículo. Trata-se de equipamentos simples, que têm, normalmente, funções antifurto como sen- sores de abertura de porta e bloqueio automático a partir de um determinado tempo após o desligamento do veículo ou por meio de um botão ativado pelo motorista no veículo. Outra boa prática consiste no uso de escolta armada, muito utilizado com o intuito de redução de roubos de cargas. O investimento no recrutamento e na seleção de trabalhadores envolvidos no transporte de carga também é uma boa prática e reduz o risco decorrente de má conduta ou não cumprimento das normas e procedimentos operacionais da empresa. É importante, também, capacitar periodicamente os profissionais envolvidos na distribuição e no transporte de produtos, em um movimento de melhoria contínua. Veja, a seguir, em que consiste o processo de seleção dos motoristas. Avaliações psicológicas: esse tipo de avaliação é muito importante para determinar possíveis falhas de conduta ou problemas psíquicos que o motorista possa ter, como déficit de atenção ou alterações de humor. Uma boa avaliação psicológica permite avaliar o comportamento do motorista e contribui para a redução de acidentes no trânsito. Exames: todo trabalhador deve passar por exames para atestar sua saúde. O exame toxicológico permite avaliar se o motorista usou ou faz uso de substâncias ilícitas, como maconha, cocaína, etc. O uso dessas substâncias aumenta consideravelmente o risco de acidentes. 11Logística e gerenciamento de riscos Avaliações práticas: avalia os conhecimentos técnicos sobre condução do veículo e também reduz a probabilidade de acidentes. Treinamentos: é importante realizar treinamento periódicos, como de direção defensiva, para reduzir o risco de acidentes. Outros treinamentos sobre uso correto e manutenção do veículo reduzem o risco de danos ao mesmo. Monitoramento das viagens: é de extrema importância para acompa- nhar a maneira de condução do motorista e para verificar se ele respeita a legislação e os procedimentos da empresa. Esse monitoramento reduz os riscos de acidentes, roubos de carga e danos ao veículo. É importante pontuar que os sistemas de monitoramento não são utilizados apenas para minimizar os riscos durante o transporte de carga. Os sistemas mais avançados contam com uma série de ferramentas que ajudam na redução dos custos com o transporte. Capacitação continuada: a cada ano, surgem no mercado veículos com maior tecnologia. A capacitação contínua,além de treinar o colaborador no uso das novas tecnologias, traz informações sobre mudanças na legislação, diminuindo, assim, riscos de infrações e danos aos veículos. A capacitação dos motoristas é uma boa prática para um gerenciamento de riscos eficiente. Com treinamento, um motorista consegue identificar e agir em situações de perigo com maior facilidade. É importante ressaltar que a capacitação do colaborador, além de reduzir riscos, reduz custos de transporte de carga. O mais importante, sem dúvidas, é definir e utilizar procedimentos compro- vadamente eficientes de gerenciamento de riscos, contemplando o planejamento de como será realizado, de como os riscos serão identificados e priorizados, de como serão definidas respostas a eles, e de como serão monitorados. A transportadora deve avaliar criteriosamente cada possível falha, estimando a sua probabilidade de ocorrência e o seu impacto caso ocorra (exposição ao risco), para, então, determinar as ações para cada risco identificado. Logística e gerenciamento de riscos12 BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. BARROS, M. O roubo de carga e o impacto no custo de transporte. ILOS, São Paulo, 2017. Disponível em: http://www.ilos.com.br/web/roubo-de-carga-e-o-impacto-no- -custo-de-transporte. Acesso em: 1 abr. 2019. CAIXETA FILHO, J. V.; MARTINS, R. S. (org.). Gestão logística do transporte de cargas. 1. ed. São Paulo: Atlas, 2014. CASTIGLIONI, J. A. M.; PIGOZZO, L. Transporte e distribuição. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014. GERENCIAMENTO de riscos evitou perda de R$ 26 bi em cargas roubadas entre 2005 e 2013. Agência Transporta Brasil, [s. l.], 2014. Disponível em http://www.transportabrasil. com.br/2014/03/gerenciamento-de-riscos-evitou-perda-de-r-26-bi-em-cargas-rouba- das-entre-2005-e-2013. Acesso em: 1 abr. 2019. MINETTO JUNIOR, R. F.; CASTIGLIONI, J. A. M. Processos logísticos. 1. ed. São Paulo: É rica, 2014. MOURA, L. C. B. Avaliação do impacto dos sistemas de rastreamento de veículos na logís- tica. 2005. Dissertação (Mestrado em Engenharia Industrial) — Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005. QUAIS as cargas preferidas e onde há mais roubo de cargas no Brasil. Guia do TRC, [s. l.], 2016. Disponível em: http://www.guiadotrc.com.br/noticiaid2.asp?id=32292. Acesso em: 1 abr. 2019. ROUBO de carga dá prejuízo de R$ 2,5 bilhões, mas está em queda. Portal NTC, [s. l.], 2018. Disponível em: https://www.portalntc.org.br/publicacoes/blog/noticias/ outros/roubo-de-carga-d%C3%A1-preju%C3%ADzo-de-r$-2,5-bilh%C3%B5es,-mas- est%C3%A1-em-queda. Acesso em: 14 mar. 2019. SILVEIRA, D. Aumento de roubo de cargas leva transportadoras a cobrarem “taxa de emergência” no Rio. G1, Rio de Janeiro, 2017. Disponível em: https://g1.globo.com/rio- -de-janeiro/noticia/aumento-de-roubo-de-cargas-leva-transportadoras-a-cobrarem- -taxa-de-emergencia-no-rio.ghtml. Acesso em: 1 abr. 2019. TAVARES, B. SP registra média de um roubo de carga por hora nos primeiros cinco meses de 2018. G1, Rio de Janeiro, 2018. Disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/ noticia/sp-tem-um-roubo-de-carga-por-hora-nos-primeiros-cinco-meses-de-2018. ghtml. Acesso em: 1 abr. 2019. 13Logística e gerenciamento de riscos Leituras recomendadas CNT. Rodoviário. Brasília: CNT, [2018]. Disponível em: http://www.cnt.org.br/Modal/ modal-rodoviario-cnt. Acesso em: 14 mar. 2019. IDADE média da frota de caminhões é de 12 anos. ABTC, Brasília, DF, 2018. Disponível em: http://www.abtc.org.br/index.php/noticias/noticias-do-setor/item/4982-idade- -media-da-frota-de-caminhoes-e-de-12-anos. Acesso em: 14 mar. 2019. MARTINS, R. O seguro de frete rodoviário é obrigatório? Cargox, [s. l.], 2018. Disponível em: https://cargox.com.br/blog/o-seguro-de-frete-rodoviario-e-obrigatorio. Acesso em: 14 mar. 2019. Logística e gerenciamento de riscos14 DICA DO PROFESSOR Toda carga transportada, seja em modal rodoviário, ferroviário, aéreo ou aquaviário, precisa estar segurada, independentemente do transporte ser realizada por uma empresa ou por um profissional autônomo. É importante frisar que existem seguros obrigatórios e facultativos, e cada um deles oferece uma determinada cobertura. Nesta Dica do Professor, você vai ver um pouco mais sobre o seguro Responsabilidade Civil Transportador Rodoviário de Cargas (RCTR-C), o seguro de Transporte Nacional (TN) e a Responsabilidade Civil Facultativa do Transportador Rodoviário por Desaparecimento de Carga (RCF-DC). Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! EXERCÍCIOS 1) O roubo de cargas é um dos principais problemas enfrentados no transporte de produtos. Muitas empresas investem pesado em pesquisa e tecnologia para coibir essa ação. Em 2014, foram registrados cerca de 17.432 ocorrências no Brasil. Em 2015, esse número subiu para 18.248 casos. Já em 2016, foram registrados 24.563 roubos de carga e, em 2017, esse número saltou para 25.970 ocorrências. Sendo assim, assinale a alternativa correta. A) Houve um aumento de aproximadamente 30% de carga roubada entre os anos de 2014 e 2017. B) O maior percentual no aumento de carga roubada ocorreu entre os anos de 2016 e 2017. C) Houve um aumento de aproximadamente 10% de carga roubada entre os anos de 2014 e 2015. D) O maior percentual no aumento de carga roubada ocorreu entre os anos de 2014 e 2015. E) O aumento do percentual de carga roubada em 2017 comparado com o de 2016 foi maior que o aumento em 2015, comparando com o de 2014. 2) Atualmente, existe uma grande variedade de seguros no mercado, sendo alguns obrigatórios e outros, facultativos. Assinale a alternativa que indica apenas seguros obrigatórios. A) RCTR-C , RCF-DC e Transporte Nacional. B) RR, DPVAT e Transporte Nacional. C) RCTR-C, Transporte Nacional e DPVAT. D) RR, RCF-DC e DPVAT. E) RCTR-C, RR e RCF-DC. 3) O seguro de transporte de cargas tem a finalidade de indenizar o segurado caso ocorram avarias, perdas ou roubo de produtos durante o transporte em viagens rodoviárias, marítimas ou aéreas. Assinale a alternativa correta referente aos principais seguros. A) O RCTR-C é um seguro obrigatório e de responsabilidade do embarcador. B) O RCF-DC é um seguro facultativo que garante indenização em caso de acidentes com cargas. C) O RCTA-C cobre danos causados pelos transportadores de modais aquaviários. D) O RCA-C é um seguro obrigatório para transportadores de modais aquaviários, cobrindo danos a cargas transportadas. E) RCTA-C, cobre danos causados pelos transportadores de modais rodoviários. 4) Os principais riscos do transporte de carga são: acidentes, roubos de cargas, avarias e atraso na entrega. Das alternativas a seguir, qual delas indica uma ferramenta que auxilia o condutor quanto às condições da via e da velocidade de manobra? A) Rotograma falado. B) GPS. C) Computador de bordo. D) Telemetria. E) DVR veicular. 5) O atraso na entrega é um dos riscos no transporte de produtos e pode comprometer os lucros da empresa, além de gerar insatisfação por parte dos clientes. Sobre as boas práticas no processo de entrega, é possível afirmar que: A) a rota traçada sempre deverá ser seguida. carregar o veículo com excesso de carga aumenta a eficiência do transporte e a agilidade B) na entrega. C) deve-se exceder a velocidade em alguns casos para compensar o tempo perdido no trânsito. D) a roteirização deve ser realizada com base no horário de funcionamento dos clientes. E) danos nos veículos proporcionam apenas risco de acidentes. NA PRÁTICA O uso de tecnologia é fundamental para o aumento da segurança nas rodovias brasileiras. Graças a sistemas de monitoramento, é possível acompanhar a movimentação do meio de transporte e, assim, obter o controle absoluto da forma de condução do motorista, além de rastrear o caminhão durante toda a rota. Neste Na Prática, você vai quais são os meios que a transportadoraPatrus utiliza para monitorar o transporte de cargas. SAIBA MAIS Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor: Como é feito o cálculo do prêmio do seguro de cargas? Você sabe o que é o prêmio do seguro? O prêmio, ao contrário do que muitos pensam, não é o valor que você recebe da seguradora. No vídeo a seguir, você vai ver como a Insert Seguros calcula o prêmio do seguro de cargas. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Você sabe o que é telemetria? Conheça um pouco mais sobre a telemetria e como ela pode auxiliar o gestor de frotas a alcançar uma gestão mais segura e econômica. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino! Boletim estatístico Veja o último boletim estatístico da Confederação Nacional de Transportes (CNT). Esse boletim traz informações sobre a infraestrutura dos principais modais de transportes utilizados no Brasil. Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!