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TEORIA DA COR AULA 6 Prof. Ed Marcos Sarro CONVERSA INICIAL Neste tema, veremos basicamente como se dá a dinâmica da cor dentro de projetos. Veremos como a temática da cor está no cerne de atividades como o projeto de produtos, a produção de peças gráficas e embalagens, a teledramaturgia, o cinema e o universo web, agora também via dispositivos móveis. Também ampliaremos um pouco o que já conhecemos sobre as funções da cor na Arquitetura e o Design de interiores. CONTEXTUALIZANDO Uma definição possível para Design é a de ser a atividade de solucionar problemas e atender necessidades inerentes à vida humana por meio da integração de materiais, formas e sistemas (mecânicos, elétricos, eletrônicos, digitais etc.) de modo a proporcionar satisfação e conforto (Rabaça; Barbosa, 2002). O Design faz parte da cultura (Figura 1) e dialoga com a estética do momento, incorporando seus aspectos simbólicos, dentre eles, a cor. Figura 1 – Chapéus coloridos em feira Crédito: Allen.G/Shutterstock. Inserido na cultura industrial (ou mesmo “pós-industrial”), com forte influência do marketing e das novas mídias, cada vez mais o Design se volta ao mercado e às demandas comerciais das marcas e dos grandes conglomerados de negócios. Como vimos até aqui, a cor está profundamente inserida em diversos níveis de influência do Design em diferentes frentes. Figura 2 – Canecas coloridas Crédito: Giorgio Rossi/Shutterstock. No Design, a cor é elemento estratégico tanto no que diz respeito ao projeto em si quanto aos processos que relacionam o produto a valores utilitários ou simbólicos (Figura 2) e que dialoga com os usuários de acordo com suas demandas objetivas e subjetivas (Tai, 2018). TEMA 1 – COR E PRINCÍPIOS DE DESIGN Além dos aspectos subjetivos, a cor no projeto de design leva em conta também as questões ligadas ao uso prático. Figura 3 – Cores em uma cozinha moderna Crédito: Archideaphoto/Shutterstock. Um designer que vá realizar a alocação de cores em objetos e espaços (físicos e virtuais) deve ter responsabilidade profissional e maturidade nesse trabalho, porque, em última instância, vai interferir na forma como outras pessoas se sentirão em contato com esses objetos e espaços (Figura 3), como também serão influenciadas ou afetadas na sua percepção cromática. Quanto ao trato da cor, o designer não pode se basear apenas em sua intuição ou no seu gosto pessoal, mas armar-se de informação objetiva sobre o assunto. Nesse aspecto, é importante separar a cor enquanto “construção individual” da “construção cultural coletiva” dos significados das cores (Silveira, 2015). 1.1 COR E EXPERIÊNCIA DE USUÁRIO O designer deve considerar o uso da cor em projetos com base na maneira como as outras pessoas reagem a diferentes estímulos. A cor é um elemento visual básico que é capaz de gerar efeitos em diversos níveis, envolvendo aspectos psicológicos e emocionais do usuário (Figura 4). Figura 4 – Cores, espaço e sentidos Crédito: Masson/Shutterstock. A cor está em praticamente tudo o que nos cerca e na maioria das tarefas que realizamos e dos ambientes que ocupamos. Os efeitos da cor sobre as pessoas podem ser diferentes devido a particularidades de cada indivíduo quanto à percepção, cognição, memória, associação, gosto, emoção e sentimentos (Tai, 2018). 1.2 DESIGN E COR Em cada segmento do Design, dos objetos e artefatos, passando pelo vestuário, pelas peças gráficas e pelos ambientes físicos e virtuais, com o advento da internet e da interação homem- máquina (via realidade virtual ou aumentada), a impressão 3D e novos arranjos produtivos, as possibilidades quanto ao manuseio da cor de acordo com as expectativas, desejos e necessidades do usuário final são praticamente ilimitadas (Figura 5). Figura 5 – Violões coloridos Crédito: Mila Zed/Shutterstock. Apesar disso, a cor nunca deve ser usada sem um motivo claro e funcional em um projeto (Tai, 2018). A rigor, são princípios de uso da cor em projetos: a quantidade controlada, a qualidade, a extensão (abrangência da cor no espaço), o efeito de proximidade ou distanciamento proporcionado, a repetição (redundância), a sobreposição de cores (contraste) e a gradação da cor (Tai, 2018). 1.3 CÍRCULOS CROMÁTICOS Para não se perder, pode ser útil ao designer criar um círculo cromático (como aqueles que vimos anteriormente, feitos por Newton, Goethe e Cheuvreul) ou mesmo um painel semântico de cores, que servirá como um guia ou uma espécie de dicionário para organizar o uso da cor em cada aplicação (Figura 6). Figura 6 – Círculo cromático feito com catálogo Crédito: Bokeh Art Photo/Shutterstock. Os círculos cromáticos são instrumentos dotados de informação objetiva sobre as cores que ajudam a balizar a sensibilidade, a intuição e a subjetividade do designer, evitando problemas na alocação de cores em projetos. No caso de um website, por exemplo, pode ser um círculo cromático de cores luz-primárias (Silveira, 2015). Figura 7 – Designer de moda trabalhando a cor Crédito: Fizkes/Shutterstock. Os círculos podem estar associados também às práticas de determinada indústria quanto à cor (Figura 7). Isso pode ser útil ao designer no projeto de um móvel, por exemplo: saber qual o Sistema Cromático Ordenado que certo fabricante de insumos (tintas, vernizes, tecidos, acessórios etc.) utiliza pode ajudar a economizar tempo e recursos (Silveira, 2015). Isso vale para outras áreas do Design. 1.4 COR E MERCADO Seja no projeto de objetos, na comunicação visual e nos ambientes físicos ou virtuais, a cor contribui para criar valor por meio da estética e atrair a atenção das pessoas por meio de suas propriedades percebidas (Tai, 2018). No entanto, apesar da pretensa liberdade proporcionada pela cultura e pela tecnologia, a influência de fatores de mercado sobre a maneira como a cor se apresenta no Design pode se tornar uma “ditadura” estética e empobrecer a experiência criativa: nos anos 1990 e 2000, o mercado brasileiro tornou a paleta de cores da indústria automobilística limitada aos tons de cinza, prata, preto e branco. Figura 8 – Exposição de carros antigos Crédito: Luiz Maffei/Shutterstock. Se olharmos fotos antigas de grandes cidades brasileiras nos anos 1970 e 1980 ou se observarmos carros remanescentes dessa época (Figura 8), veremos que a variedade de cores disponíveis era maior. TEMA 2 – APLICAÇÃO DA COR EM PRODUTOS No design de objetos, as cores tendem a suavizar ou enfatizar aspectos da forma, devendo essa relação ser utilizada estrategicamente. Quando se trata de trabalhar a cor colocada sobre a superfície de um objeto físico, seja um móvel ou um item de decoração, há de se levar em conta que há diferenças entre um objeto colorido e a percepção da sua cor isoladamente (Figura 9). Figura 9 – Opções de escolha quanto à cor Crédito: Sergey Ryzhov/Shutterstock. Via de regra, é muito difícil separar a cor do seu objeto-suporte; a tendência é confundirmos as duas coisas. Dada a sua natureza abstrata, é natural ligarmos a cor à forma do objeto sobre o qual ela está colocada (Silveira, 2015). Figura 10 – Cesta Crédito: Mrs. Sucharut Chounyoo/Shutterstock. O uso de materiais naturais (madeira, palha, junco, ratan etc.) em projetos de produtos como móveis e utensílios domésticos (Figura 10) pode envolver o aproveitamento das cores originais (Tai, 2018). 2.1 COR COMO RENOVAÇÃO No universo dos eletrodomésticos, o caminho que se fez foi na direção contrária do que vimos sobre o mercado automotivo: a chamada linha branca deu lugar a diferentes possibilidades de cores para geladeiras, fogões, liquidificadores e batedeiras, além do todo-poderoso micro-ondas (Figura 11). Figura 11 – Aparelhos domésticos coloridos Crédito: AlexLMX/Shutterstock. O segmento dos computadores pessoais, até então restrito ao tom austero de âmbar criado pela IBM, viu surgir pelas mãos de Steve Jobs (1955-2011), da Apple, uma infinidade de aparelhos de cores que flertavam coma transparência (Figura 12) e que combinavam bem com a proposta de produtos lúdicos, divertidos e que convidavam ao consumo. Figura 12 – iMac G3 Crédito: Anton_Ivanov/Shutterstock. Nos anos 1980, o mundo viu surgir o estilo New Wave, que investiu no uso de cores cítricas, como o verde limão e tons de azul, magenta e laranja, com conotação alegre e irreverente (Figura 13). Figura 13 – Estilo New Wave Crédito: TierneyMJ/Shutterstock. No Brasil, a nova onda coincidiu com o fim do período militar na política e a redemocratização do país. Também marca o surgimento de bandas de rock nacional como Paralamas do Sucesso, Legião Urbana, Capital Inicial, Kid Abelha, que ajudaram a popularizar a estética por meio de roupas, maquiagem e a arte de capas e encartes de discos LP e fitas-cassete, além das publicações e outros produtos gráficos alusivos. TEMA 3 – APLICAÇÃO DE COR NA TELA DIGITAL No Design para a internet, a percepção da cor é menos tangível do que quando é manifesta em um objeto ou ambiente físico (Silveira, 2015). No caso de ambientes virtuais, por exemplo, a cor tem um caráter abstrato e imaterial, ao passo que no espaço construído ela tende a apelar mais ao concreto, pelo sentido do tato. No entanto, é possível criar simulacros por meio da cor que façam a aproximação dos dois mundos na tela do computador. 3.1 COR COMO “TRADUÇÃO” Se o designer estiver trabalhando no cenário de um jogo de computador, há a necessidade da “tradução” da cor-pigmento da representação do que seria o espaço físico de cena (em cor- pigmento) para a cor-luz da tela do computador (Silveira, 2015). Figura 14 – Contraste de cores figura-fundo Crédito: Francesco83/Shutterstock. No projeto de um website sobre gastronomia, é recomendado usar estrategicamente cores que valorizem aspectos formais dos ingredientes na imagem de um prato (Figura 14) em contraste com as cores de fundo, que devem ser mais suaves (Silveira, 2015). 3.2 A MÃO É MAIS RÁPIDA QUE O OLHO? Uma questão importante no projeto para a web é o tempo de visualização: por conta da rapidez com que o usuário movimenta os olhos na tela, as cores têm de ser pensadas para proporcionar fluidez. Entretanto, como a tendência do usuário é pular rapidamente de um site de para outro, a cor pode ter o papel de “fisgar” o olhar do observador e aumentar o tempo de permanência naquela tela. Daí advém uma série de possibilidades para influenciar a experiência do usuário. Figura 15 – Cor em dispositivos móveis Crédito: Nong Mars/Shutterstock. Nesse aspecto, as dimensões das telas de dispositivos móveis e sua influência na visualização da cor se tornaram um requisito importante de projeto, por conta do advento dos tablets e do aumento do uso dos smartphones (Figura 15). TEMA 4 – APLICAÇÃO DA COR NA IMPRESSÃO Há três sistemas de cor no universo da indústria gráfica (Figura 16) e que estão presentes no segmento de livros, jornais e revistas (editorial), na comunicação visual e nas embalagens, sendo essas duas últimas áreas afins com a Publicidade e a Propaganda. Figura 16 – Impressora offset Crédito: Fun Photo/Shutterstock. Um dos sistemas nós já conhecemos é o CMYK, que dispensa maior aprofundamento. O outro é o Pantone, reconhecido internacionalmente. Em ambos os sistemas, as tabelas de referência (Figura 17) são impressas em papel couchê fosco e brilhante e em papel offset (Silva, 2008). Esses catálogos precisam ser trocados com frequência, pois as cores esmaecem com o passar do tempo (por ação da luz, principalmente), deixando de ser precisas. Figura 17 – Tabelas Pantone Crédito: Stepan Bormotov/Shutterstock. O terceiro sistema de cores utilizado na produção gráfica é o Hexachrome, menos comum no Brasil. 4.1 SISTEMA PANTONE Conhecida também como Escala de Cores Especiais, a Escala Pantone é um sistema de referência de cores utilizado internacionalmente e adotado por praticamente qualquer gráfica do mundo (Figura 18). É também o padrão empregado pela indústria de tintas mundialmente (Silva, 2008). Pode ser chamado ainda de Pantone Matching System. Figura 18 – Entintamento de impressora offset Crédito: Giocalde/Shutterstock. A partir de 14 cores básicas, a Pantone desenvolveu um catálogo de 1.114 cores diferentes, incluindo tons de prata e dourado, todas devidamente codificadas. Esse código se compõe de porcentagens de cada cor CMYK que, apesar de poderem variar um pouco de região para região do mundo, são padronizadas. Tanto que manuais de identidade visual de empresas e marcas têm suas cores codificadas de acordo com a Escala Pantone (Silva, 2008). Alguns países (como o Canadá, a Coreia do Sul e mesmo o Brasil) têm as cores de suas bandeiras padronizadas pelo sistema Pantone (Figura 19). Figura 19 – Bandeira do Canadá Crédito: Krisy/Shutterstock. Os catálogos de cores Pantone são propriedade da Pantone Inc., empresa sediada em Carlstadt, Nova Jersey, Estados Unidos, e seu uso gratuito é vetado. Por isso, alguns softwares livres não trazem as cores Pantone. 4.2 SISTEMA HEXACHROME Criado em 1994 pela própria Pantone, utiliza seis canais de cores: ciano, magenta, amarelo, preto, verde e laranja (hexa – seis em grego). A maior quantidade de canais permite uma gama mais ampla de cores e com maior expressividade. O sistema Hexachrome se popularizou em projetos de publicações de moda, revistas, catálogos coloridos, cartazes, peças de ponto de venda, edições especiais e livros que trazem reproduções de obras de arte, aplicações que requerem mais precisão na representação da cor (Silva, 2008). 4.3 CORES NA COMUNICAÇÃO VISUAL COMERCIAL Independentemente do sistema utilizado, ao designer é recomendável compreender o papel representado pelas cores no universo da comunicação visual comercial, especificamente nas embalagens (Figura 20). Normalmente, o que vale para a cor em embalagens vale para a maioria das peças gráficas. Figura 20 – A cor em embalagens Crédito: Ecco/Shutterstock. A maioria esmagadora dos produtos vendidos nas gôndolas de supermercados (Figura 21) não tem outra mídia a não ser a própria embalagem. É o chamado vendedor silencioso, daí a sua importância (Mestriner, 2002). Figura 21 – Produtos em gôndola de supermercado Crédito: Junpinzon/Shutterstock. Por isso, investir no design da embalagem pode ser uma questão de sobrevivência para um sem número de produtos e empresas, e a cor é um fator estratégico que vai além da questão estética e da atratividade. O uso da cor na embalagem segue um código de relações entre o produto e o matiz que melhor expressa a marca, o conceito e as características do produto. Apesar dessa simbologia variar de tempos em tempos e também de cultura para cultura, no geral elas seguem certo senso comum que se perpetua ao longo dos anos. Mexer nesses padrões pode ser arriscado para as marcas, e alterações devem ser feitas com critério e pesquisa. 4.4 FUNÇÕES DA COR NA EMBALAGEM A cor no design de embalagens tem basicamente duas funções: uma prática e outra simbólica. A primeira é de caráter operacional, para que produto que ela contém e a sua marca sejam rapidamente reconhecíveis entre tantos outros (Figura 22). A segunda trata de estimular no consumidor sensações de caráter mais subjetivo (Negrão; Cardoso, 2008). Figura 22 – Consumidora encontra sua marca preferida Crédito: Rido/Shutterstock. Por ser um código fácil de assimilar, a cor tornou-se um aliado importante, principalmente no varejo, dada a sua compreensão mais ou menos universal e pela variedade de marcas e produtos disponíveis (Figura 23). De qualquer modo, apesar do seu aspecto intuitivo, o uso da cor não prescinde de pesquisas para entender como ela é percebida pelo público-alvo (Negrão; Cardoso, 2008). Além de variáveis que abrangem preferências pessoais e regionais, entram nessa análise aspectos culturais, a época do ano (festas, férias, datas comemorativas etc.) e questões climáticas. Normalmente, é preferível utilizar cores sólidas, bem definidas, sem grandesvariações de tonalidade. Tons escuros são mais adequados para períodos mais frios do ano, enquanto as estações ensolaradas e iluminadas pedem matizes mais claros (Negrão; Cardoso, 2008). Figura 23 – Universo do varejo Crédito: Gts/Shutterstock. No caso de produtos alimentícios, especificamente, o uso de determinadas cores pode ter um efeito negativo para a percepção do produto pelo consumidor. Embalagens para produtos à base de carne ou trigo (como pães) dificilmente são bem recebidas, ainda que inconscientemente, quando apresentadas em tons de azul. Ainda que o azul remeta à tranquilidade e à paz, quando relacionado à carne tende a conotar putrefação; da mesma forma, o verde, o preto e o roxo, por associação direta ou indireta (Negrão; Cardoso, 2008). 4.5 RELAÇÕES ENTRE CORES DE EMBALAGENS E OS PRODUTOS QUE CONTÉM As associações mais comuns entre produtos e as embalagens que os contêm, por meio da cor, seguem parâmetros da psicodinâmica das cores levantados com base em pesquisas feitas ao longo dos anos e são válidos na maior parte do mundo. Essas pesquisas são parte de um esforço fragmentado de consultorias de marketing, associações de consumidores, entidades de classe, sindicatos e instituições de ensino (Negrão; Cardoso, 2008). Eventualmente, uma marca pode querer inovar lançando produtos com embalagens em cores não convencionais. A rigor, são iniciativas baseadas em alguma percepção específica de mercado e adotadas com muito critério, como a marca que resolvesse colocar água mineral em garrafas pretas (Figura 24). Figura 24 – Garrafa preta de água mineral? Crédito: HP Productions/Shutterstock. No geral, as marcas são conservadoras (assim como os consumidores) e tendem a seguir os seguintes padrões de associação entre produto e cor: café – marrom-escuro com detalhes em laranja, verde ou vermelho e tons de amarelo (Figura 25); Figura 25 – Embalagem de café solúvel Crédito: Lenorko/Shutterstock. chocolate – marrom-claro (ou escuro, dependendo da concentração de cacau) tendendo ao vermelho e ao laranja, com toques de ocre e mesmo de rosa (Figura 26); Figura 26 – Embalagens de chocolate Crédito: Oksancia/Shutterstock. leite – azul ou verde em várias tonalidades, às vezes com algum detalhe em vermelho (Figura 27). Não há regra quanto ao ser leite integral, desnatado ou semidesnatado. Cada marca parece seguir uma lógica própria; Figura 27 – Embalagem de leite Crédito: Smalvik/Shutterstock. carnes industrializadas – a própria cor do produto colocada sobre um fundo vermelho; leite em pó – azul e vermelho, amarelo e verde com detalhes de vermelho; queijos – azul claro e amarelo claro, com detalhes em vermelho e branco; óleos vegetais – verde, vermelho e detalhes em azul; iogurtes – azul e branco (Figura 28); Figura 28 – Embalagem de iogurte Crédito: HstrongART/Shutterstock. cerveja – amarelo ou amarelo tendendo para o dourado, vermelho e branco (Figura 29); Figura 29 – Garrafa e rótulo de cerveja Crédito: Foodonwhite/Shutterstock. desodorantes – branco, azul e verde com detalhes em vermelho ou violeta. Versões masculinas eventualmente usam o preto; perfumes – violeta, dourado e prata e normalmente algo rosado para fragrâncias femininas (Figura 30). Para o projeto de uma embalagem de perfume, é mais adequado trabalhar com contrastes extremos de cores (Silveira, 2015); Figura 30 – Caixa e frasco de perfume variado Crédito: Pangpleiades/Shutterstock. pasta de dente – azul e branco, verde com branco e toques de vermelho. TEMA 5 – APLICAÇÃO DA COR EM AMBIENTES Quando se projeta uma loja dentro de um centro comercial (Figura 31) ou mesmo um estabelecimento de rua, é importante considerar que o tempo de permanência no espaço e a exposição à cor escolhida para o interior da loja pode ter efeitos diferentes para um vendedor ou gerente que trabalham naquele lugar por horas e para um cliente que passa alguns minutos ali (Silveira, 2015). Figura 31 – Interior de loja Crédito: Monkey Business Images/Shutterstock. Dependendo da cor, a sensação para os primeiros pode ser de fadiga visual enquanto que, para o cliente talvez isso não faça tanta diferença. Ou talvez as cores possam mais repelir do que atrair a clientela para aquele espaço. Já no projeto de um espaço privado, é necessário evidenciar a cor mais com base no gosto particular da pessoa que vai usar o ambiente como morada ou lugar de sua intimidade. Como já sinalizamos, o designer deve se abster de grandes interferências autorais e de impor preferências pessoas (Silveira, 2015). 5.1 ESPAÇO SATURADO COM COR Isso não anula, claro, o bom senso e a sua competência profissional enquanto fornecedor de soluções: a exposição demasiada de uma criança a uma determinada cor pode influenciar o desenvolvimento emocional e psicológico dela. Figura 32 – Projeto de quarto de menina Crédito: Natalia Kashina/Shutterstock. Por exemplo: ainda que isso seja desejado pelos pais, uma menina cujas paredes e a decoração interna do quarto forem predominantemente em tons de rosa (Figura 32) tenderá a ter sua sensibilidade muito estimulada e terá dificuldade em ser assertiva quando for mais velha (Silveira, 2015). O designer deve alertar a família para isso. 5.2 COR E ERGONOMIA Aplicada com base em regras de ergonomia, a cor ambiental pode servir para melhor adequar o espaço ao uso. Por meio da aplicação de certas cores em paredes e chão, podemos criar efeitos de aquecimento ou esfriamento, sensações ou estados de espírito, passar a impressão de limpeza (Figura 33) e diminuir a fadiga mental e visual, aumentando assim a sensação de conforto, além de combater o estresse e o cansaço físico. Figura 33 – Projeto de banheiro coletivo Crédito: Vorclub/Shutterstock. Pode-se ainda aumentar a atenção e o sentimento de alerta ao se usar a combinação de preto e amarelo (Tai, 2018), como vimos quanto às placas de trânsito. Figura 34 – Pintura de faixa de chão Crédito: Everything is stock/Shutterstock. A cor nos espaços e no mobiliário pode ter um aspecto funcional ao regular o fluxo de pessoas (Figura 34), organizar processos de trabalho e estimular a produtividade ou fazer parte de sistemas de segurança (Tai, 2018). Figura 35 – Ponte marítima em Hangzhou Crédito: HelloRF Zcool/Shutterstock. Soluções de engenharia e arquitetura envolvendo a cor podem ser usadas para quebrar a sensação de tédio em certas situações que envolvem algum risco: na baía de Hangzhou, na China, há uma ponte marítima com 36 km; para evitar a distração dos motoristas pela monotonia do trajeto, o guarda-corpos da ponte foi pintado de uma cor diferente a cada 5 km (Tai, 2018). 5.3 COR NOS ESPAÇOS CENOGRÁFICOS Um segmento que também tem uma grande demanda pela cor é o da cenografia para entretenimento, cultura, informação e inspiração, especificamente presente em peças de teatro e shows, e nos programas TV de auditório, de variedades, novelas, jornalismo (Figura 35) e religiosos. Figura 36 – Projeto de cenário para telejornal Crédito: Architect9/Shutterstock. A composição de cenários de teatro e programas de TV tem por objetivo criar um clima adequado ao espectador (Rabaça; Barbosa, 2002). Quanto à cor, esse trabalho obedece critérios como temática, faixa etária do telespectador, relação com as cores dos anunciantes, horário etc. Nos últimos anos, tem crescido também a produção de programas transmitidos pela internet. O cinema é outro universo em que a cor é muito importante e que está intimamente ligado ao desenvolvimento técnico da fotografia. No início, em 1895, o cinema era em preto e branco e sem som. O som foi introduzido em 1927. O cinema viria a ser colorido em 1935 e, hoje, com a tecnologia digital, as projeções ganham cada vez mais possibilidades em termos de cores e de experiência para o espectador (Rabaça; Barbosa, 2002). Cada diretor trabalha com a sua paleta preferida, mas também estabelece uma escolha de cores de acordo com a temática, a narrativa e o clima psicológico que desejapassar. Figura 37 – Gravação de cena de filme Crédito: Olha Kho/Shutterstock. O cenário, a iluminação, a maquiagem dos atores, as roupas dos personagens, os objetos em cena, todos esses elementos são pensados com base em um conceito de cores para aquele filme (Figura 36). TROCANDO IDEIAS Um exemplo bem interessante do uso da cor no cinema é o trabalho do diretor estadunidense Wes Anderson, que dirigiu Grande Hotel Budapeste (2013), A Vida Aquática com Steve Zissou (2003) e Os excêntricos Tanembaums (2001), entre outros. Vídeo Assista ao vídeo “Entenda a psicologia das cores no cinema” por meio do link a seguir. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=_fUtXW79BOk>. Acesso em: 4 abr. 2020. Assista ao vídeo “Wes Anderson's Colour Palettes” por meio do link a seguir. Disponível em: <htt ps://www.youtube.com/watch?v=UMxTOoCQGzM> . Acesso em: 4 abr. 2020. Você imaginava que um diretor de cinema tivesse esse nível de cuidado e preocupação com as cores em um filme? NA PRÁTICA https://www.youtube.com/watch?v=_fUtXW79BOk https://www.youtube.com/watch?v=UMxTOoCQGzM Faça os exercícios a seguir para fixar os conceitos aprendidos. 1. Assista a dois programas de TV diferentes: pode ser um programa de variedades e um reality- show, por exemplo, ou um telejornal e um programa religioso. Anote o que lhe chamar a atenção quanto à cor: tipos de contrastes, simbologia das cores, saturação ou não de cores, cores primárias ou secundárias etc. Compare as cores de cenários e das roupas dos apresentadores, dos âncoras, de elementos de cena nos dois programas e o que mais você observar entre um e outro. 2. Entre em um supermercado e observe a gôndola de determinado produto (massas alimentícias, por exemplo). Há algum padrão relacionando à cor da embalagem com o tipo de alimento? Anote quais as cores são recorrentes e ocorrências de cores improváveis. 3. No desenho a seguir, pinte uma proposta de cores para esse quarto, sabendo-se que é para um casal de meia idade, sem filhos, que acabou de se mudar do Sul para o Nordeste. Considere variáveis culturais, climáticas e regionais. Figura 38 – Exercício 3 Crédito: Chocmoka/Shutterstock. FINALIZANDO Em linhas gerais, podemos concluir que o uso das cores em projetos de Design implica harmonizar informações objetivas sobre requisitos de projeto disponíveis referentes à cor, de acordo com o uso. Devem ser considerados aqui também a intuição pessoal do designer, seu expertise, experiência e responsabilidade profissional. Isso vale para projetos de produto, peças gráficas (como as embalagens) e para os ambientes físicos e virtuais, como websites e games e os cenários de teatro, de shows, de programas de TV e de filmes. REFERÊNCIAS MESTRINER, F. Design de embalagem. Curso Básico. 2. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002. NEGRÃO, C.; CAMARGO, E. Design de embalagem: do marketing à produção. São Paulo: Novatec, 2008. RABAÇA, C. A.; BARBOSA, G. G. Dicionário de comunicação. Rio de Janeiro: Campus, 2002. SILVA, C. Produção gráfica: novas tecnologias. São Paulo: Pancrom, 2008. SILVEIRA, L. M. Introdução à Teoria da Cor. Curitiba: UTFPR, 2015. TAI, H.-A. Design: conceitos e métodos. São Paulo: Blücher, 2018. WILLIAMS, R. Design para quem não é designer. São Paulo: Callis, 2013.
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