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TEORIA DA COR AULA 5 Prof. Ed Marcos Sarro CONVERSA INICIAL Nesta aula, trabalharemos aspectos que dizem respeito à mecânica da cor do ponto de vista fisiológico e de como a luz se transforma em cor dentro de nosso cérebro. Também trabalharemos questões de referencial e relatividade, posto que, ainda que o ser humano seja o mesmo em todo lugar, as cores podem não significar a mesma coisa em diferentes culturas e contextos. Essa relatividade também pode estar ligada a questões de gosto e preferência pessoal, ou mesmo étnica, que podem ter maior ou menor valor expressivo. Ou ainda, pode estar delimitada pelos limites da deficiência visual, o que requer um olhar diferenciado. CONTEXTUALIZANDO O trabalho com a cor requer, entre outras coisas, a compreensão do seu uso como símbolo. Para isso, o designer precisa desenvolver repertório cultural mínimo de modo que conheça as nuances e as particularidades de significado que uma cor ganha em diferentes contextos. Com a globalização e a diversidade que caracteriza o nosso tempo, não só as demandas de mercado têm se tornado técnica e culturalmente mais complexas, como também tem sido mais frequente profissionais criativos de origens muito diferentes trabalharem em projetos comuns. De certa forma, isso desafiará a competência técnica e o potencial expressivo de um designer. Cabe a ele se preparar com conhecimento. TEMA 1 – O SIMBOLISMO DAS CORES 1.1 COR COMO ÍNDICE Como vimos em aulas anteriores, a cor é, entre outras coisas, informação, podendo conter em si mensagens cujo significado pode ser objetivo ou arbitrário. Se olharmos uma fruta como a banana (Figura 1), por exemplo, a aparência esverdeada pode significar que ela ainda não esteja de fato madura e adequada para o consumo. Figura 1 – Banana verde Créditos: Kaband/Shutterstock. A essa potencialidade de lermos uma mensagem na qual não há de fato uma vontade, chamamos de comunicação visual não intencional (Munari, 2005). O verde, aqui, ao contrário do que vimos no caso do sinal verde de trânsito, conota uma proibição. Não no sentido de lei ou de regra moral, mas sinalizando para o fato de que a fruta não está boa para se comer. Aqui dizemos que a cor tem uma função indicial, ou seja, ela aponta para alguma característica que é tomada como uma mensagem. 1.2 COR E SIMBOLISMO O verde pode ter outras conotações e significados de acordo com o contexto, a cultura, a época e os usos e costumes. Na cultura popular, o verde é associado à esperança, possivelmente devido a algo que Jung chamava de arquétipo: um objeto ou personagem usado para representar um conceito universal. São ideias que acabam se tornando parte do inconsciente coletivo após sua repetição de geração em geração (Jung, 2008). Talvez o verde esteja relacionado à ideia de chegada da primavera, estação das flores, das frutas e do ressurgimento das folhas nas árvores e da vegetação verde após os rigores do inverno, principalmente no hemisfério Norte. O verde representaria, assim, a esperança de que, após uma estação cinzenta de frio, chegará a primavera com o sol e o colorido das flores (Figura 2). Figura 2 – Campo de tulipas Créditos: Odd-Add/Shutterstock. No mundo islâmico, o verde é considerado uma cor importante e visto por alguns como um símbolo da religião (Figura 3). Figura 3 – Bandeira da Arábia Saudita Créditos: Loveshop/Shutterstock. O verde é citado várias vezes no Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, como a cor das vestimentas que são usadas no Paraíso Islâmico. Já no futebol, o verde pode ser a cor do gramado ou a cor principal ou uma das cores de um time: Palmeiras, Coritiba, Chapecoense (Figura 4), Guarani e Goiás, por exemplo, são times do futebol brasileiro que têm o verde como cor-símbolo em seus brasões, bandeiras e uniformes. Figura 4 – Bandeira do Chapecoense Créditos: CP DC Press/Shutterstock. Complementar ao verde, o vermelho tem sido uma cor muito popular ao longo da história e plena de significados e simbolismo. Vermelho é a cor da parte interna do útero (Figura 5) na qual ficamos submersos por aproximadamente nove meses da gestação. Figura 5 – Ilustração de feto no útero Créditos: Adike/Shutterstock. É a cor do sangue e do planeta Marte, coincidentemente o deus da guerra dos antigos romanos. Cor associada à luta, à violência e ao impacto. Tradicionalmente, tem sido usada como a cor símbolo dos partidos mais à esquerda do espectro político, aludindo às lutas históricas e revoluções (Guimarães, 2001). Mas é também a cor do Partido Republicano, a direita conservadora norte- americana, que tem por mascote um elefante (Figura 6). Figura 6 – O burro Democrata e o elefante Republicano Créditos: Handies Peak/Shutterstock. Também era, junto com o preto e o branco, uma das cores do Nazismo na Alemanha, durante a Segunda Guerra Mundial (Figura 7). Figura 7 – Desfile na Alemanha nazista Créditos: Everett Historical/Shutterstock. Ficamos vermelhos de vergonha ou de raiva (Guimarães, 2001) quando nossa conta fica no “vermelho”, ou seja, sem dinheiro ou no cheque especial. Vermelho é a cor do cartão que expulsa o jogador do campo de futebol, mas o amarelo é para as faltas menos graves. O amarelo pode ser indicador de fraqueza física, fome ou doença (como a hepatite ou a icterícia) ou de desnutrição. Mas pode ser também a cor do ouro, da riqueza (Petit, 2003), da realeza e do papado (Figura 8). Figura 8 – Bandeira do Estado do Vaticano Créditos: Millenius/Shutterstock. Por falar em papado, a cor complementar do amarelo, o roxo, está associada à espiritualidade e, no caso do carmim, sua variante, é a cor do episcopado na Igreja Católica (Figura 9), na Igreja Anglicana e na Igreja Metodista, por exemplo. Figura 9 – Bispo católico Créditos: Alexandros Michailidis/Shutterstock. O azul é a cor do dito “sangue nobre”, do céu e das águas, e, como já citamos, a cor do planeta Terra quando visto do espaço. É a cor do Partido Democrata nos Estados Unidos da América. E de marcas ligadas à Tecnologia (Petit, 2003), como a Microsoft. O preto conota sobriedade, descrição e, em alguns casos, elegância (Negrão; Camargo, 2008). Cor muito usada em trajes de gala de algumas celebridades no Oscar. É a cor de forças de elite, dos carros oficiais e de uniformes de algumas empresas de segurança privada. Mas também é a cor do luto, associada à morte no Ocidente (Petit, 2003). Já no Extremo Oriente, em países como a China, por exemplo, é o branco que tem esse significado (Schmid, 2005). O branco é reconhecido universalmente como a cor da paz e da pureza (Petit, 2003). Até a Era Vitoriana, não era costume as noivas usarem vestidos brancos no casamento (Figura 10), mas a cor que quisessem. Figura 10 – Noiva em vestido branco Créditos: ATeam/Shutterstock. Como parte do ambiente moral da Inglaterra sob os 64 anos do reinado da Rainha Vitória, o branco passou a ser a cor dos vestidos de casamento, possivelmente por aludir à virgindade. A rainha inaugurou o hábito ao se casar ela própria de branco, numa atitude inovadora para a época (Malva, 2018). 1.3 COR E INDIVIDUALIDADE As cores são associadas à faixa etária, estilo de vida e ao gosto individual. Eventualmente, têm a ver com percepções internas, repertório pessoal e a maneira de cada um sentir o mundo e a realidade. Em artigo do jornal A Folha de São Paulo, o publicitário Lincoln Seragini, citando Rainer der Schulenberg, conta uma lenda segundo a qual Santa Rosa de Lima (Figura 11), numa tarde com um pôr-do-sol muito bonito, teria encontrado pelo caminho uma mulher cega. Figura 11 – Imagem de Santa Rosa de Lima Créditos: Jairo Rosales/Shutterstock. Condoída pela situação, a santa teria curado a mulher da cegueira para que ela pudesse contemplar a luz e as cores daquele dia. No entanto, insatisfeita com o milagre, a mulher lhe teria retrucado que, se aquelas eram as cores que Santa Rosa tanto prezava, então que lhe devolvesse aquelas que ela, comocega, podia “enxergar” dentro de sua mente (O lado..., 1988). TEMA 2 – A COR NA COMPOSIÇÃO Como veremos mais à frente nesta aula, compor e combinar cores é uma tarefa que deve estar de acordo com o impacto emocional, psicológico e simbólico que se pretende que as cores tenham sobre as pessoas que interagem com elas. É algo que está além do gosto pessoal tanto do designer quanto do usuário final e envolve responsabilidade e profissionalismo (Figura 12), por se tratar de um assunto que diz respeito ao bem-estar de outras pessoas. Figura 12 – Designers trabalhando com cores Créditos: Rawpixel.com/Shutterstock. Em projetos de design (ou outro tipo de trabalho criativo que implique o uso da cor) dizemos que a aplicação da cor tem de ser feita com base em um objetivo claro e definido. A isso, damos o nome de composição (Tai, 2018). Nesse processo, a cor deve se harmonizar não só com cores entre si, mas também com os outros elementos visuais (Figura 13). Figura 13 – Composição com tons de azul Créditos: Africa Studio/Shutterstock. Em geral, as formas de composição envolvendo a cor dizem respeito à adequação ao uso, à sua atratividade ao olhar do usuário, ao seu grau de visibilidade (por contraste) e à ilusão que ela proporciona em termos de sensações: distância ou proximidade, extensão de área, temperatura (já vimos), peso, consistência e expressões subjetivas de alegria, leveza etc. (Tai, 2018). Na aula 4, comentamos sobre eventuais conflitos no uso da cor em combinação com fontes inadequadas ou em situações em que a relação da figura com o fundo não é favorável em termos de cores. Além das questões sensoriais em si, que estão relegadas ao nível mais objetivo da percepção [1] humana (com pequenas variações de pessoa para pessoa), há também os impactos subjetivos da cor no âmbito das emoções e da mente. E, à vezes, até sobre a saúde física e emocional. 2.1 EFEITOS PSICOLÓGICOS DA COR Diz-se que a cor preta em roupas tende a afinar a silhueta de quem a veste, talvez porque o preto absorva a energia luminosa em vez de expandi-la. É divulgado também que o vermelho excita (Silveira, 2015) e que tons pastéis tendem a acalmar. Tons pouco saturados de azul, amarelo, verde e rosa são associados a bebês e tendem a ser usados em artigos infantis (Figura 14). Figura 14 – Tons pastéis para bebês Créditos: FamVeld/Shutterstock. Os uniformes de profissionais da saúde já foram em sua maioria brancos e, há alguns anos, foram substituídos por outros em um tom de azul ou verde azulado (Figura 15). Figura 15 – O azul no jaleco acalma o paciente Créditos: Pressmaster/Shutterstock. Isso, segundo alguns, teria diminuído a incidência do efeito “jaleco branco”, no qual uma pessoa tende a ter sua pressão arterial aumentada pela simples visão de um médico ou enfermeiro vestido de branco. Como parte de um esforço de humanizar a medicina pela cor, hoje já se permitem tocas coloridas e com desenhos em pediatrias, na obstetrícia e nas salas de parto de hospitais e maternidades. Mesmo assim, os tons de cinza, bege e alguns tons de azul são as cores mais comuns em paredes de hospitais (Figura 16). Figura 16 – Projeto de sala de espera de consultório Créditos: Alhim/Shutterstock. As relações entre cor e saúde não são novas. A cromoterapia (Figura 17) é uma prática que não tem reconhecimento científico, mas que desde a Antiguidade é cultivada como recurso terapêutico Figura 17 – A cor em terapias alternativas Créditos: Kzenon/Shutterstock. Acredita-se, em alguns círculos alternativos, que dados os supostos efeitos benéficos da cor sobre o corpo e a mente (O lado..., 1988) a exposição a luzes coloridas poderia trazer equilíbrio e harmonia ao organismo como um todo. 2.2 AS PALETAS DE CORES Um conceito importante quando se considera o uso da cor numa composição (dados os impactos psicológicos ou emocionais) é o de que as cores devem representar uma unidade com os demais elementos visuais da composição. Essa unidade deve transmitir uma mensagem não verbal, uma narrativa em termos de tema geral, ao qual damos o nome de paleta. O termo paleta faz referência direta à peça de madeira fina e chata, geralmente semicircular, em que artistas colocam pequenas porções de tinta nas cores escolhidas e que vão misturar ou usar puras na tela que estão pintando (Figura 18). Figura 18 – Artista com sua paleta Créditos: Kuznetcov_Konstantin/Shutterstock. Normalmente, essas cores são coerentes com a temática da composição na qual o artista trabalha. No caso do design, a paleta é o conjunto de cores que, quando colocadas lado a lado na composição, de modo estratégico, expressam estímulos visuais de acordo com o discurso que se espera ser percebido ou recebido pelo observador (Figura 19). Figura 19 – A “paleta” do designer Créditos: Indypendenz/Shutterstock. Podemos atribuir características a cada paleta: uma paleta de cores frias (um arranjo de azuis, violetas e verdes) ou uma paleta de cores quentes, com tons de amarelo, laranja e vermelho. Uma paleta de tons terra, com variações de marrom, laranja e ocre. A isso chamamos também de esquemas de cores, e eles podem contemplar também temas: “chamativo”, “tranquilidade”, “jovial” etc. (Tai, 2018). No design de moda, as coleções de cada estação (primavera, verão, outono e inverno) tendem a se organizar com base em paletas de cores da estação (Figura 20) do ano ou a seguir as tendências da moda, da cultura, dos movimentos culturais e das preferências estéticas de uma época ou simplesmente do marketing. Figura 20 – Coleção outonal Créditos: Indigo Photo Club/Shutterstock. Em épocas da Copa do Mundo da FIFA, é esperado que as confecções lancem coleções que aludam às cores da Seleção Brasileira (Figura 21). Figura 21 – Mochila do torcedor Créditos: Reel2Reel/Shutterstock. Isso vale para outros setores que têm a cor como elemento de trabalho. Uma novela de televisão que tenha grande audiência pode lançar tendência quanto a determinada paleta de cores. Nas empresas aéreas, por exemplo, desde os uniformes dos mecânicos, passando pelo balcão de embarque e pelos crachás dos comissários de bordo, até a pintura da fuselagem das aeronaves, tudo deve seguir a paleta de cores escolhida para transmitir o conceito da marca (Figura 22) além da mensagem comercial que a companhia quer passar aos clientes (Petit, 2003) e aos concorrentes, claro. Figura 22 – Cores da tripulação Créditos: Mascha Tace/Shutterstock. TEMA 3 – ASPECTOS FISIOLÓGICOS DA COR Compreender os aspectos fisiológicos da cor é importante para o designer porque, em última instância, ele projeta para outras pessoas que não são ele próprio (apesar de supostamente ele também compartilhar das mesmas características anatômicas e biológicas de outros seres humanos). Aqui são levadas em conta as questões de experiência do usuário, uma vez que há uma diferença entre a cor do objeto em si (quando é uma fonte primária da cor) e a percepção da cor refletida pelo objeto. Considera-se, aqui, que aspectos fisiológicos inerentes à sensação das cores influenciam a construção de sua percepção cultural, como veremos mais adiante quando tratarmos de deficiência visual e cor. 3.1 A DINÂMICA DA FISIOLOGIA DA VISÃO CROMÁTICA A dinâmica da visão das cores está intimamente ligada ao funcionamento de células dos olhos (Figura 23) altamente especializadas e que, em conjunto com o nervo ótico, transmitem para o cérebro a sensação e a percepção das cores (Guimarães, 2001). Figura 23 – Corte do olho humano Créditos: ilusmedical/Shutterstock. A rigor a luz entra pela córnea e é captada pela retina, uma película que envolve todo o globo ocular e em cujo fundo estão complexas terminações nervosas que se conectam ao nervo ótico (Guimarães, 2001). No fundo da retina, encontram-se dois tipos básicos de células: os cones e os bastonetes (Figura 24). Os cones são responsáveis pela percepção das cores primárias, no caso, o verde, o vermelho e o azul. Já os bastonetes são célulasque captam variações de claro e escuro (Silveira, 2015). Figura 24 – Detalhe dos cones e bastonetes Para você entender melhor o funcionamento do olho humano, tire um tempinho para ver o seguinte vídeo: <https://www.youtube.com/watch?v=IDgPSd2OjJ8>. Na história recente da pesquisa no campo da óptica, alguns pesquisadores foram particularmente importantes na descoberta dos mecanismos que produzem a percepção da cor pelos órgãos da visão, como veremos. 3.2 YOUNG, HELMHOLTZ E KÖNIG, PIONEIROS DA ÓPTICA FISIOLÓGICA Em 1801, o médico inglês Thomas Young (1773-1829) concluiu que a visão da luz colorida é baseada em três órgãos humanos fotossensíveis diferentes. Sua teoria foi batizada de Teoria Tricromática da Visão das Cores e deu início aos estudos da Óptica Fisiológica moderna (Silveira, 2015). Sua teoria foi posteriormente retomada pelos alemães Hermann Ludwig Ferdinand von Helmholtz (1821 – 1894) e Arthur König (1856 – 1901) seu colaborador. Helmholtz e König concluíram que, de fato, três tipos de células da retina (as fibrilas nervosas, também chamadas de cones, que veremos mais à frente) eram responsáveis pela percepção das cores vermelha, verde e azul, consideradas aqui como cores primárias e que dariam origem a todas as demais (Silveira, 2015). 3.3 HERING E A PERCEPÇÃO PSICOLÓGICA DA COR As teorias da Óptica Fisiológica sofreram oposição de estudiosos que entendiam o fenômeno da percepção da cor como também um fenômeno psicológico, como Karl Ewald Konstantin Hering (1834 – 1918). Hering afirmava haver uma diferença entre as cores-luz percebidas e as cores- pigmento opacas primárias que estimulam a percepção cromática. Enquanto as cores-luz seriam de fato o vermelho, o verde e o azul, seus equivalentes pigmentos seriam o vermelho, o azul e o amarelo, traduzido para o verde na retina (Silveira, 2015). Com o passar do tempo, as teorias de Helmholtz e Hering passaram a ser vistas como duas facetas da mesma realidade: enquanto o primeiro trabalhava a percepção da cor, o segundo se ateve mais a aspectos da sensação cromática, ambos com base na fisiologia da visão da cor (Silveira, 2015). 3.4 MAXWELL E A JUNÇÃO DE TEORIAS Em 1859, o escocês James Clerk Maxwell (1831-1879) demonstrou algo nessa linha ao obter uma imagem em cores por síntese aditiva, ou seja, a partir de cor-luz. O processo tricromático de https://www.youtube.com/watch?v=IDgPSd2OjJ8 Highlight percepção/sensação das cores pela visão se dá pela seleção das cores percebidas por meio de sua decomposição em cores primárias (Silveira, 2015). 3.5 COR E VISÃO: INSEPARÁVEIS? Como vimos até aqui (salvo alguns casos em que supostamente a percepção sensorial da cor tenha se dado por outros sentidos adaptados), os órgãos humanos responsáveis pelo registro da cor são os olhos e o nervo ótico. Isso implica dizer que, geralmente, os seres humanos (e alguns animais) precisam da visão (Figura 25) para incorporarem a informação de cor ao seu repertório funcional. Figura 25 – A cor “está” nos olhos Créditos: Kuttelvaserova Stuchelova/Shutterstock. Como veremos adiante, ainda nesta aula, em anos recentes ocorreram iniciativas por parte de designers no sentido de proporcionar meios de inclusão e acessibilidade para que pessoas com deficiência visual experimentem a sensação de cor, por meio do tato e de sistemas de codificação que utilizem outros recursos que não a visão. TEMA 4 – CONFORTO VISUAL A aplicação adequada de um arranjo cromático em determinado suporte ou no espaço também diz respeito ao nível de conforto visual que ela pode trazer ao observador (Figura 26). Figura 26 – Conforto também no que e como se vê Créditos: Fizkes/Shutterstock. Além dos aspectos relativos à cor que dizem respeito ao funcionamento explícito dos órgãos da visão, há também questões práticas e funcionais no uso das cores quanto aos efeitos que a organização ou o posicionamento de cores entre si e destas em relação ao contexto que incidem sobre o observador (Schmid, 2005). 4.1 CONFORTO VISUAL E A COR NO AMBIENTE FÍSICO Conforto visual aqui diz respeito, na maior parte das vezes, à escolha e à combinação de cores no ambiente físico, desde as cores de paredes e outros elementos arquitetônicos, de portas, vidros de janelas e da iluminação, além da textura e da superfície de móveis e objetos: “[...] uma cor quente como o laranja, aplicada em mais de uma parede, pode tornar-se sufocante. O couro e madeira, nos seus tons naturais, reforçam a sensação tátil e calor visual” (Schmid, 2005, p. 311). A iluminação do espaço pode tanto valorizar quanto prejudicar a percepção das cores de objetos e do ambiente, tornando-os cansativos ao olhar e pouco atraentes (Idem, 2005). A cor das coisas e dos espaços pode ser manipulada pelo manejo proposital da luz ambiental de modo a criar sensações nos usuários (Tai, 2018), como na iluminação de centros culturais, exposições, eventos e espetáculos. Sobre isso falaremos mais na aula 6, especificamente na aplicação da cor em ambientes construídos, atividade afim ao Design de Interiores. 4.2 CONFORTO VISUAL E A COR NO AMBIENTE VIRTUAL Acreditamos que, no que diz respeito ao conforto visual, normalmente o que vale para o espaço físico, também vale para o ambiente virtual, o ciberespaço. Talvez com mais severidade posto que a tela do computador, tablet ou smartphone esteja mais próximo do usuário do que o ambiente circundante, aumentando sua exposição ao que de bom ou ruim certa paleta de cores pode trazer (Figura 27). Figura 27 – A tela como desconforto Créditos: Leszek Glasner/Shutterstock. Além disso, a temperatura da cor pode ter efeitos de maior ou menor conforto (ou até mesmo desconforto) para os olhos do observador e isso está ligado, em última instância, a questões de Ergonomia (Tai, 2018). Falaremos mais sobre esse assunto na aula 6. Como auxílio ao processo de escolher cores que se harmonizem de forma integrada e tornem confortável a experiência do usuário, existe um site chamado Coolors (<https://coolors.co/>) no qual você pode gerar suas paletas de acordo com o projeto. 4.3 CONFORTO VISUAL E ESCOLHAS Como complemento a tudo o que vimos até aqui, inclusive quanto aos impactos da cor sobre o usuário final, entendemos que o conforto visual proporcionado por determinado arranjo de cores pode influenciar as suas decisões de compra e de uso (Figura 28) . Figura 28 – Escolha de cores “confortáveis” https://coolors.co/ Créditos: Leszek Glasner/Shutterstock. Aqui nos referimos não só a questões de gosto ou preferência pessoal, mas como a cor influencia a decisão de compra por conta do nível de conforto visual que ela proporciona ao usuário ou consumidor. No caso do projeto gráfico, isso envolve a compreensão e a aplicação coordenada dos contrastes simultâneos e consecutivos (Tai, 2018). É o caso, por exemplo, de quando se usa o preto com 100% das outras cores CMYK na composição de um texto impresso. As outras cores tendem a se sobressair criando ruído na leitura, principalmente se o texto for em fonte pequena. O ideal é zerar as outras cores e deixar o preto puro. Você poderá entender isso melhor vendo este vídeo: <https://ww w.youtube.com/watch?v=IR854y9U88c>. A questão não se restringe às fontes e outros elementos gráficos, mas também à própria cor do papel, sua textura ou se ele tem brilho ou é fosco, influenciando o impacto da cor impressa. Em embalagens, por exemplo, isso é particularmente importante por conta da concorrência com outros produtos na gôndola (Negrão; Camargo, 2008) e também por causa de estímulos advindos da comunicação visual ambiental e das cores internas da loja. TEMA 5 – ACESSIBILIDADE, INCLUSÃO E COR Nos últimos anos, tem aumentado no mundo e no Brasil o nível de atenção para com as questõe envolvendo a acessibilidade e a inclusão de pessoas com deficiência a produtos e serviços (públicos e privados) por meio do design inclusivo ou de acessibilidade (Figura 29). Figura 29 – Símbolo internacional de acessibilidadehttps://www.youtube.com/watch?v=IR854y9U88c Créditos: Ivsanmas/Shutterstock. A partir da assinatura da Lei Nacional da Inclusão, em 16 de julho de 2005 e apoiadas nas Normas 9050 da ABNT, que tratam da acessibilidade, intensificaram-se ações e iniciativas no sentido de usar o design como ferramenta para a inclusão de pessoas com deficiência a processos, espaços e eventos antes restritos a pessoas sem deficiência. Essas ações contemplam indivíduos com dificiências diversas: motoras, visuais, auditivas, intelectuais; permanentes ou momentâneas (ABNT, 2015). Em alguns casos, acreditamos que isso possa abranger também o analfabetismo funcional, que apesar de não ser uma deficiência de fato, é um fator de exclusão porque limita a pessoa ao acesso de importantes aspectos do mundo letrado por conta do não domínio pleno do sistema de leitura e escrita. 5.1 DEFICIÊNCIA VISUAL E A COR No caso das pessoas que têm distúrbios de visão das cores, a construção de mundo subjetiva relativa às cores está baseada na maneira como fisiologicametne elas apreendem a informação cromática e a processam em seus cérebros. Na verdade, não se trata de de uma questão de inferioridade, mas de uma forma diferente de ver as cores do mundo (Silveira, 2015). Numa cultura ou em um contexto em que o azul hipoteticamente fosse a cor para o sinal de “Pare” (ou por conta das dificuldades com visão da cor vermelha, em certos tipos de daltonismo) toda a construção simbólica relativa à associação do vermelho com o conceito de proibição deveria ser repensada por alguém vindo de outro princípio normativo (Silveira, 2015). O design inclusivo, no que diz respeito à deficiência visual, tem buscado incluir a pessoa cega, com baixa visão ou com daltonismo no universo da cor, por meio de soluções que envolvem a sinestesia entre visão e tato ou, no caso da não visão ou visão parcial de cores, o uso de códigos de equivalência. 5.2 A COR PERCEBIDA POR OUTROS SENTIDOS Em alguns museus e espaços culturais do Brasil, o Museu Oscar Niemeyer (MON) em Curitiba (Figura 30), como a Pinacoteca do Estado de São Paulo (Figura 31) ou o Museu da UFRGS, em Porto Alegre, existe a preocupação de tornar os acervos tão acessíveis quanto possível à pessoa com deficiência. Figura 30 – Museu Oscar Niemeyer, Curitiba-PR Créditos: R.M. Nunes/Shutterstock. No caso dos deficientes visuais, isso se dá por meio de soluções que envolvem áudio descrição, as legendas em Braille e os objetos didáticos acessíveis em que, por exemplo, são reproduzidas em escala reduzida obras de arte de escultura para serem tateadas com a mão e os dedos. Figura 31 – Pinacoteca do Estado de SP Créditos: Cifotart/Shutterstock. As pinturas são reproduzidas por meio de texturas tridimensionais que tentam se aproximar do efeito e da expressão que o artista queria originalmente criar pela combinação dos elementos pictóricos, inclusive a cor. 5.3 A COR CODIFICADA Uma maneira de tornar a percepção de cores acessível à pessoa com deficiência visual é associar cada cor ao toque da textura (Figura 32) de objetos ou materiais que são de uma cor específica (entender a cor marrom, por exemplo, ao tocar a terra ou o tronco de uma árvore) ou relacionar cada cor com uma sensação física ou emocional (Wikihow, s/d). Figura 32 – Cascas de árvores são rústicas e marrons Créditos: Sutham/Shutterstock. Recentemente, professores e alunos do curso de Engenharia Mecânica da UFPR (Universidade Federal do Paraná) desenvolveram um sistema baseado no Braille que ajuda cegos a identificar cores (UFPR, 2017). Ele é complementado por um “relógio” triangular que relaciona as cores do círculo cromático com a posição das horas no sistema analógico. Veja mais em: <https://www.ufpr.br/portalu fpr/eventos/pesquisadoras-da-ufpr-criadoras-de-codigos-de-cores-para-deficientes-visuais-palestra m-na-bpp-18-de-maio/>. Para os daltônicos (pessoas que não veem cores ou que as veem alteradas), o sistema ColorADD, criado pelo designer português Miguel Neiva (Costa, 2016) se baseia nas cores primárias (azul, vermelho e amarelo): cada cor tem seu símbolo gráfico específico e por meio de combinações dos símbolos entre si se faz a indicação de diferentes cores. Veja mais em: <http://www.coloradd.net/>. Ambos os sistemas podem ser úteis em situações do dia a dia, como comprar uma roupa numa loja, por exemplo, uma vez que tornam a pessoa com deficiência visual menos dependente da ajuda de um vidente. Também é uma maneira de tornar mais eficaz a ajuda que se venha a dar ao deficiente. TROCANDO IDEIAS Neste Trocando Ideias, você usará o fórum on-line para discutir com os seus colegas os resultados obtidos nas atividades do Na Prática desta aula sobre as cores dos times de futebol, sobre o uso da cor nos sites e sobre o livro Flicts do Ziraldo. NA PRÁTICA Vamos fazer alguns exercícios para fixar os conteúdos vistos nesta aula: 1. Você sabe o significado da cor do seu time do coração? Pesquise na internet ou converse com amigos e descubra mais sobre isso. 2. Visite pelo menos três websites de internet diferentes e avalie o uso da cor em cada um deles. Faça uma comparação, analisando aspectos positivos e negativos quanto ao conforto visual. 3. Você conhece o livro Flicts, de Ziraldo? Juntamente com O Menino Maluquinho (também de autoria de Ziraldo) ele já se tornou um clássico da literatura infantil no Brasil, tendo várias edições. https://www.ufpr.br/portalufpr/eventos/pesquisadoras-da-ufpr-criadoras-de-codigos-de-cores-para-deficientes-visuais-palestram-na-bpp-18-de-maio/ http://www.coloradd.net/ Procure na biblioteca da universidade ou mesmo na biblioteca pública de seu bairro ou de sua cidade um exemplar de Flicts e leia a história da cor que não tinha um lugar no mundo. O que será que Ziraldo quis dizer com essa metáfora? FINALIZANDO Concluímos mais esta aula esperando que você tenha aproveitado bem o conteúdo apresentado quanto à simbologia da cor do ponto de vista subjetivo e a importância de compor as cores de uma maneira objetiva, de acordo com os requisitos de um projeto. Também vimos um pouco sobre como se processa a percepção da cor por meio de nossos olhos e do nosso cérebro e como a cor pode influenciar nossa sensação de conforto visual e afetar nosso bem-estar como um todo. Por fim, aprendemos que mesmo quem não vê de forma plena pode ter acesso à cor por meio de outros sentidos e que o design tem um papel importante nesse processo de inclusão. REFERÊNCIAS ABNT. NBR 9050. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. 3. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. CANAL DO VERONESE. Olho humano, a super máquina. Disponível em: <https://www.youtube. com/watch?v=IDgPSd2OjJ8>. Acesso em: 23 jan. 2020. COLORADD. Color identification system. Disponível em: <http://www.coloradd.net/>. Acesso em: 23 jan. 2020. COOLORS. The super fast color schemes generator. Disponível em: <https://coolors.co/>. Acesso em: 23 jan. 2020. COSTA, I. C. Miguel Neiva: mundo colorido. Disponível em: <https://www.forbespt.com/lideres/ miguel-neiva-mundo-colorido/?geo=pt>. Acesso em: 23 jan. 2020. DS TUTORIAIS. Cuidados no uso das cores em impressos/produção gráfica. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=IR854y9U88c>. Acesso em: 23 jan. 2020. https://www.youtube.com/watch?v=IDgPSd2OjJ8 http://www.coloradd.net/ https://coolors.co/ https://www.forbespt.com/lideres/miguel-neiva-mundo-colorido/?geo=pt GUIMARÃES, L. A cor como informação: a construção biofísica, linguística e cultural da simbologia das cores. São Paulo: Annablume, 2000. IQARAISLAM. Símbolos do islamismo. Disponível em: <https://iqaraislam.com/simbolos-do- islamismo/>. Acesso em: 23 jan. 2020. JUNG, C. G. O homem e seus símbolos. São Paulo: Nova Fronteira, 2008. MALVA, P. Como a Rainha Victoria influencia os casamentos até hoje. Disponível em: <https://claudia.abril.com.br/famosos/influencia-rainha-victoria-casamentos/>. Acesso em: 23 jan. 2020. MUNARI, B. Design e comunicaçãovisual. 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Acesso em: 23 jan. 2020. UFPR. Pesquisadores da UFPR criam código de cores para pessoas cegas e com baixa visão. Disponível em: <https://www.ufpr.br/portalufpr/noticias/pesquisadores-da-ufpr-criam-codigo-de-cor es-para-pessoas-cegas-e-com-baixa-visao/>. Acesso em: 23 jan. 2020. https://pt.wikihow.com/Descrever-Cores-Para-uma-Pessoa-Cega https://www.ufpr.br/portalufpr/eventos/pesquisadoras-da-ufpr-criadoras-de-codigos-de-cores-para-deficientes-visuais-palestram-na-bpp-18-de-maio/ https://www.ufpr.br/portalufpr/noticias/pesquisadores-da-ufpr-criam-codigo-de-cores-para-pessoas-cegas-e-com-baixa-visao/ Nós já trabalhamos um pouco isso quando tratamos da harmonização de cores por meio de contrastes. [1]
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