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AULA 2 ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO E COMÉRCIO EXTERIOR Prof. Cesar Alberto Sinnecker 2 INTRODUÇÃO Esta aula tem por objetivo apresentar ao aluno fatores de internacionalização do mercado nas relações comerciais internacionais. Os temas se dividem nos seguintes tópicos: Tema 1: internacionalização; Tema 2: teorias da internacionalização; Tema 3: por que internacionalizar é importante? Tema 4: modos de entrada e operação em mercados internacionais; Tema 5: a busca por oportunidades para internacionalizar e os projetos internacionais. TEMA 1 – INTERNACIONALIZAÇÃO Uma empresa inicia suas atividades no mercado local e só se expande após obter recursos e know-how mais sofisticados. A partir do momento que uma empresa realiza uma exportação, ela está se expandindo fora do seu mercado nacional. Atuando no mercado internacional, a empresa está se internacionalizando. Figura 1 – Internacionalização Créditos: Travelmania/Shutterstock. Para internacionalizar produtos e serviços, é fundamental que o profissional do comércio exterior tenha uma visão multifacetária, conhecimento de valores, línguas e culturas diversas. Além dessas qualidades externas, existem as qualidades internas do profissional, que deve ser resiliente às adversidades, entender as diferenças culturais, ser despido de preconceitos e capaz de aceitar diferentes hábitos e comportamentos que são alheios aos seus. 3 Ao oferecer um produto ou serviço, o profissional deve entender que o mesmo produto não tem a mesma aceitação em diversas nações do mundo. Três são as principais providências a serem tomadas antes de sair do país de origem: 1. A pesquisa do interesse local; 2. O desenvolvimento da rede de networking; 3. A compreensão das leis locais. A decisão para introduzir de uma empresa no mercado internacional é um divisor de água em seus negócios, uma vez que seus representantes corporativos deverão adotar uma estratégia robusta para que desenvolva uma governança corporativa capaz de garantir que sua cadeia de valor atenda às exigências do mercado internacional (Stern; Elansary, 1982, citado por Melsohn, 2006). Figura 2 – Internacionalização Crédito: Cybrain/Shutterstock. Furrier (2008, citado por Machado, 2013) sugere uma série de medidas a serem tomadas por uma empresa antes de iniciar o processo de internacionalização: 1. Definir objetivos para a marca nos países nos quais se pretende entrar com a marca; 2. Avaliar se a marca e os produtos são adequados aos mercados de entrada; 3. Assegurar-se de que a posição no mercado interno é satisfatória a ponto de a empresa poder dar a devida atenção ao processo de internacionalização; 4. Definir uma estratégia competitiva para a entrada no mercado externo; 5. Fazer uma avaliação e alocação dos recursos humanos, financeiros e produtivos para que se possa dar atenção à atuação internacional; 4 6. Fazer um levantamento de oportunidades e ameaças do plano de internacionalização. Veja, a seguir, os erros mais comuns na internacionalização de produtos: 1. Achar que todos os mercados são iguais: os ambientes de mercado são diferentes, a aceitação ao produto é diferente; 2. Pensar que o produto fala por si só: o produto não é garantia de venda. O produto depende de uma série de fatores para conseguir ser aceito pelo consumidor de outros países: embalagem, garantia, validade e componentes do produto; 3. Não informar sobre a empresa: não adianta apenas colocar o produto em um mercado no exterior. É necessário fazer ser visto com propagandas, networking, participação em feiras, fóruns etc.; 4. Economizar em consultoria: é importante, ao entrar em outro mercado, buscar uma empresa especializada de consultoria no ramo. A empresa não pode fazer tudo sozinha. É uma economia que não vale a pena. A edição da pesquisa Trajetórias de Internacionalização das Empresas Brasileiras pela Fundação Dom Cabral (2018) apresenta os seguintes resultados: Quadro 1 – Resultados da pesquisa Os países da América do Norte e América Latina continuam concentrando grande parte das empresas brasileiras que internacionalizaram suas atividades. Na Europa, a maioria das empresas brasileira se concentra no Reino Unido, França, Espanha e Itália. Dentre os países asiáticos, a China é o principal destino de empresas brasileiras. 58,7% das empresas expandiram em 2015 nos países que já atuavam. 6,5% das empresas no exterior planejam expansão. Alemanha, Colômbia, Emirados Árabes Unidos, Holanda, Panamá e Paraguai apresentam mais entrada de empresas brasileiras. 32,6% das empresas brasileiras no exterior pretendem manter as operações estáveis. 2,2% das empresas avaliam reduzir operações internacionais. A margem de lucro no exterior subiu de 8,7% para 10,5% em um ano. 5 Os relatórios de pesquisa da FDC reforçam a tendência da expansão comercial através da internacionalização das relações comerciais. TEMA 2 – TEORIAS DA INTERNACIONALIZAÇÃO Figura 3 – Teorias da internacionalização Créditos: Metamorworks/Shutterstock. A seguir apresentamos várias teorias que tentam explicar, sob critério econômico e evolução comportamental, a internacionalização de produtos e empresas. No mundo globalizado de hoje, internacionalizar significa ficar conhecido em outros mercados, tornando-se mais competitivo no mercado interno. Quadro 2 – Teorias da internacionalização Teoria do Ciclo Produtivo (Vernon 1966) Defende que à medida que a indústria tenha maturidade, esta vai aperfeiçoando seu produto, tornando a exportação mais dinâmica em escala global. Teoria das Operações Internacionais Buckley e Casson (1998) Nesse caso, são definidas dimensões necessárias ao reconhecimento de cada mercado: a) localização das plantas produtivas; e b) a propriedade da produção. Considera-se o local de produção como estático, assim os insumos são internacionalizados e incorporados à sua cadeia de produção. Dessa maneira, existe uma tendência perene de empresas buscarem sempre mercados que possam ofertar insumos a preços mais competitivos. Teoria do Paradigma Eclético (Dunning 1988) Aponta alguns objetivos principais para a busca de mercados estrangeiros: busca de mercado, eficiência, ativos estratégicos e busca de melhoria fora do país de origem. O processo de Internacionalização da Escola Nórdica de Uppsala (Johanson e Vahlne (1977) A internacionalização é um fenômeno gradual, que assume basicamente quatro estágios: exportação indireta, exportação direta, joint venture internacional e investimento direto no país estrangeiro. Modelo de Inovação Toma por base o executivo chefe da empresa, seus ideais, modo de gestão. 6 A distância psíquica e a interação comprador vendedor Pregam a distância geográfica e psíquica nos negócios internacionais entre vendedor e comprador. Modos de Entrada São dois: fatores internos (referentes à própria empresa) e fatores externos (referentes ao mercado de entrada, ambiente de negócio). Uma mesma empresa pode entrar de diversas formas dependendo do país. Ex.: MarcoPolo. The Born Global Firm A empresa já nasce com elevada atividade internacional desde a sua criação. As teorias sobre comércio internacional apresentam diversas razões para o investimento externo. À primeira vista, parece que todas falam sobre a mesma coisa, mas na verdade, elas possuem abordagens diferenciadas: 1. Teórica comportamental (Johanson; Vahlne, 1977); 2. Abordagem econômica (Vernon, 1966; Hymer, 1976; Buckley; Casson, 1976; Dunning, 1979). A abordagem comportamental leva em conta o ser humano, suas atitudes, cultura e espaço em que ele vive, e a abordagem econômica analisa taxas de câmbio, mercados, estuda crescimento de empresas individuais, legislação econômica e gestão situacional de macro e micro finanças. Embora possam ser vistas como complementares, cada abordagemconsidera algumas variáveis e alguns parâmetros para o estudo do processo de internacionalização. Esse estudo é importantíssimo, pois as empresas transacionais são responsáveis pela maior quota da produção da terra, funcionando como os principais atores de internacionalização, expansão e concentração do capital. A internacionalização, apesar de já existir há bastante tempo, foi iniciada posteriormente no Brasil. Só a partir da 1990 houve a possibilidade de expansão, com a abertura do mercado interno às importações. Antes disso, o mercado brasileiro era interno, com altíssimas taxas de importação e exportação, fato que dificultava sobremaneira a interação entre países. Sendo assim, os produtos nacionais eram de péssima qualidade, não havia concorrência com produtos de empresas estrangeiras e o brasileiro, quando viajava ao exterior, aproveitava para trazer ao Brasil produtos mais baratos e de muito mais qualidade que os nacionais. Atuar no mercado internacional requer um esforço conjugado entre as empresas, que devem ter uma estratégia consistente com as exigências do mercado e os respectivos governos, através de uma análise racional preliminar, que deve contemplar, no mínimo, todos os tipos de política econômica nacionais, 7 políticas monetárias, fiscais e de comércio, ou qualquer outra área econômica que seja requerida. Muitas das teorias mencionadas foram descritas há décadas e ainda hoje são estudadas como forma de base experimental estrutural de empresas que visam ampliar seus mercados. TEMA 3 – POR QUE INTERNACIONALIZAR É IMPORTANTE? Internacionalizar, mais que um sonho, tornou-se uma realidade ao alcance de qualquer empresa e pode, em tempos de crise, salvá-la de fechar suas portas. O avanço dos modelos de inovação e a globalização dos meios de comunicação em massa facilita conhecer o mercado estrangeiro, e a busca por parcerias torna- se cada vez mais facilitada. Figura 4 – Internacionalização Créditos: ESB Professional/Shutterstock. Faz parte da natureza humana acomodar-se e vivenciar uma experiência do costume prático. No entanto, ao se expandir, o empresário não consegue mais retornar ao seu status quo, pois os benefícios são muitos. 3.1 A exportação para novos mercados Exportar significa conquista de novos mercados, levando seu produto para o exterior. Através do reconhecimento de sua marca, sua empresa garante um ponto de equilíbrio mais sólido que as demais, melhorando, aprimorando produtos e serviços, ampliando a margem de lucro e proporcionando novos postos de trabalho. 8 3.2 Por que você deve internacionalizar sua empresa? Em meio às vantagens de uma empresa estar inserida no contexto do comércio internacional, está a oportunidade de diversificar e ampliar seu portfólio de produtos para diferentes países, o que traz aumento da sua carteira de negócios. No entanto, é importante atentar para as restrições existentes para cada negócio. Uma das perguntas mais frequentes nos escritórios de serviços comerciais reside sobre a necessidade de uma licença. Muitos itens exportados para um comprador estrangeiro não exigem uma licença de exportação, embora estejam sujeitos às leis e regulamentos de controle de exportação do governo local. Essas leis e regulamentos determinam se uma empresa pode vender seu produto a um comprador internacional, para quais países ela pode exportá-lo e para quais compradores ela pode vender. No entanto, se o produto está entre os que não requerem uma licença, não significa que a empresa pode vendê-lo em qualquer lugar e para qualquer pessoa. 3.3 Mercado interno saturado O mercado interno há tempos vem sofrendo com a migração de muitas indústrias, principalmente o seguimento químico, manufatura, siderurgia etc. para a China, impactando drasticamente a indústria nacional no que tange custo e preços dos produtos fabricados naquele país. Por efeito, as inovações tecnológicas nesses setores também sofrem com uma falta de recursos em potencial, embora haja talentos no mercado. As empresas que mais apresentam inovação no mercado interno são aquelas que possuem subsidiárias em vários locais do mundo, investem em tecnologia e capital humano, realizando intercâmbios entre suas unidades. 3.4 Tornar sua marca internacional Ao decidir abrir uma subsidiária no mercado internacional, uma empresa deverá considerar em sua decisão a customização de quais produtos pretende oferecer no mercado, e quais devem ser padronizados. A direção da empresa deverá identificar quais fatores influenciam as decisões de customização de produtos industriais e de consumo para um determinado país. A Ford Motor Co. e a BMW são exemplos de empresas que buscam sempre estratégias de internacionalização. 9 A Ford, por exemplo, se concentra no “carro internacional”, construindo um carro-modelo que será vendido globalmente. Essa estratégia reduz os custos de desenvolvimento da Ford porque, em vez de desenvolver carros diferentes para países ou regiões diferentes, venderá o mesmo carro para todos os mercados, sendo assim, usa marketing de rede, expõe os carros em mostras e feiras, revistas e propagandas com atores consagrados. 3.5 Incentivos fiscais Incentivos fiscais são uma prática comum em muitos países como forma de atrair investimentos estrangeiros. No Brasil, há dois exemplos emblemáticos, sendo o primeiro referente à instalação da montadora da Fiat no município de Betim/MG, onde a empresa logrou um extenso período de redução da carga tributária. Outro exemplo mais recente foi o caso da Ford no Polo de Camaçari/BA, que, além de incentivos fiscais, teve o uso do porto da região facilitado por um período de cerca de cinco anos. Contudo, esse fator, embora necessário para uma maior atratividade, pode não ser suficiente para atrair e/ou manter uma empresa atuando no país, como é o caso mais recente da própria Ford e algumas da área de Óleo & Gás, como a norte americana do Texas, El Paso, que vendeu seus ativos no Brasil em 2008. 3.6 Por que contratar uma empresa de tradução? Buscar novos mercados costuma assustar o empresário justamente na questão da língua local e rótulo dos produtos. Um intérprete especializado ou uma empresa que auxilie na condução da tradução específica ao público-alvo ajuda a impulsionar o contato entre empresa e consumidor. Existem códigos, gírias, maneirismos que só quem vive no lugar sabe o que significa. Não adianta traduzir literalmente um rótulo, bula, adesivo, o que muitas vezes pode confundir o consumidor. A tradução, algumas vezes, pode causar constrangimentos, pois uma palavra em seu país, ao ser traduzida para outro, pode ser um palavrão, uma ofensa ou levar a situações vexatórias. TEMA 4 – MODOS DE ENTRADA E OPERAÇÃO EM MERCADOS INTERNACIONAIS 10 Para uma empresa atender às condições comerciais em outros países, há quatro estratégias básicas de negócios globais: exportação, licenciamento, abertura de filiais e franquias. 4.1 Exportação Exportar consiste em enviar bens ou serviços, de procedência nacional, a outros países, seja de forma gratuita ou onerosa. Exportações são bens e serviços produzidos em um país e vendidos a compradores em outro. As exportações, junto com as importações, constituem o comércio internacional. A exportação direta é aquela em que o próprio produtor se encarrega de enviar o produto e fazer todos os trâmites legais, com as devidas liberações para chegar no mercado consumidor de outro país. Ele organiza a produção, faz o contato com o mercado consumidor, planeja o embarque, consegue a liberação, embarca, libera no país que comprou o produto e entrega ao consumidor. Na exportação indireta, o vendedor repassa todo o trabalho de movimentação do produto ou serviço para uma empresa especializada que vai agenciar a entrega do produto denominada trading company, que faz o deslocamento,desembaraço aduaneiro até chegar no consumidor. É um método indicado para quem está começando, pois alguns produtos necessitam de licenças especiais e formulários específicos em cada país de entrada, como é o caso de bebidas alcoólicas e produtos farmacêuticos controlados. Figura 5 – Exportação Créditos: Aurelioaphoto/Shutterstock. 4.2 Licenciamento O licenciamento é um acordo comercial no qual uma empresa dá permissão para outra empresa fabricar seu produto por um pagamento específico (por exemplo, royalties). O licenciamento é definido como a concessão de permissão 11 do licenciador ao licenciado para usar direitos de propriedade intelectual, como marcas registradas, patentes, nomes de marcas ou tecnologia, sob condições definidas. A possibilidade de licenciamento torna o mundo mais plano, pois cria um veículo legal para pegar um produto ou serviço entregue em um país e fornece uma versão quase idêntica desse produto ou serviço em outro país. Sob um acordo de licenciamento, a empresa multinacional concede direitos sobre sua propriedade intangível a uma empresa estrangeira por um período de tempo especificado. O licenciador normalmente recebe royalties sobre cada unidade produzida e vendida. Embora a empresa multinacional geralmente não tenha participação acionária, ela geralmente fornece suporte e consultoria contínuos. A maioria das empresas considera essa opção de licenciamento de entrada no mercado como uma opção de baixo risco, porque normalmente não há investimento inicial. Figura 6 – Termos e condições Créditos: Aurelioaphoto/Shutterstock. 4.3 Filial Uma filial estrangeira é uma empresa que opera no exterior e que faz parte de uma corporação maior com sede em outro país, geralmente conhecida como empresa-mãe ou holding. As empresas abrem principalmente filiais estrangeiras para estabelecer uma base corporativa em uma economia estrangeira específica, principalmente para aumentar as receitas, gerar benefícios fiscais e diversificar os ativos da empresa para melhor gerenciar o risco. A designação de filial estrangeira depende de quanto da empresa pertence à controladora. Estruturalmente, uma filial estrangeira opera independentemente de sua controladora, é responsável por seus próprios ativos e passivos e é considerada uma entidade legal separada para tributação e supervisão regulatória pela filial 12 onde a empresa está estabelecida. O que uma matriz pode controlar é a composição geral da filial estrangeira. 4.4 Franquias Uma franquia é um tipo de licença que concede a um franqueado acesso ao conhecimento comercial, processos e marcas registradas de propriedade de um franqueador, permitindo que o franqueado venda um produto ou serviço sob o nome comercial do franqueador. Em troca da aquisição de uma franquia, o franqueado geralmente paga ao franqueador uma taxa inicial de instalação e taxas anuais de licenciamento. Assim, uma empresa pode ser franqueadora de franqueados internacionais, por exemplo. Figura 7 – Franquia Créditos: Sira Anamwong/Shutterstock. 4.5 Qual lei é válida para um contrato de compra e venda internacional? A diferença fundamental entre os contratos nacionais, regidos pelo Código Civil Brasileiro, Lei n. 10.406 de 2002, nos arts. 421 e seguintes, é que no contrato internacional, as cláusulas concernentes à conclusão, capacidade das partes e o objeto se relacionam a mais de um sistema jurídico vigente. A Lex Mercatória, um sistema legal de princípios e regras mercantis desenvolvido na Europa para regular o comércio internacional aos comerciantes e marinheiros da Idade Média, institui usos e costumes do comércio internacional, no entanto, regra muito importante ao fechar um negócio é estipular em contrato a lei que irá reger aquele acordo internacional. As partes escolhem com base no brocardo latino pacta sunt servanda, o contrato faz lei entre as partes. 13 Caso o contrato não determine qual a legislação será responsável por dirimir os conflitos de interesse advindo entre as partes, deve-se verificar se as nações envolvidas ratificaram a Convenção de Viena sobre a Venda de Bens Móveis de 1980 (CISG), sistematizada pela United Nations Commission on International Trade Law. Em caso negativo, em que os países envolvidos não ratificaram a Convenção de Viena, como é o caso do Brasil, busca-se o documento do International Institute for the Unification of Private Law, Undroit. Esse comitê de direito internacional privado estabeleceu um conjunto de regras de contratos internacionais político-econômicos. Não é um tratado de direito internacional, mas cria princípios que os países incorporam a seus ordenamentos jurídicos. TEMA 5 – A BUSCA POR OPORTUNIDADES PARA INTERNACIONALIZAR E OS PROJETOS INTERNACIONAIS A busca por oportunidades além do mercado doméstico deve focar em vários pontos que levam à conclusão se há possibilidade ou não do produto ser bem recebido em outros mercados. 5.1 Segmentação de consumidores A pesquisa deve iniciar com o número de pessoas em cada segmento de idade, nível educacional, sexo, estilo de renda, nível de vida, valores locais e motivação de compra. Caso sua empresa seja de fralda geriátrica, importante saber a quantidade de idosos que vivem no local, bem como a idade estimada. Outro exemplo é o mercado de água flavorizada – água com adição de aromas de frutas. Após identificar a necessidade e gostos do mercado argentino, a Danone tornou-se líder, ultrapassando gigantes como Coca-Cola e Nestlé. Em 2016, a Águas Danone tinha 57% de participação de mercado na categoria mencionada. A segmentação de clientes é uma forma de dividir os clientes em grupos com base em certas características que esses clientes compartilham. Todos os clientes compartilham a necessidade comum de seu produto ou serviço, mas além disso, existem diferenças demográficas distintas e eles tendem a ter diferenças socioeconômicas, de estilo de vida ou outras diferenças comportamentais adicionais que podem ser úteis para a organização. 14 Para que o produto de uma empresa atinja maiores fatias do mercado, é necessário descobrir as variáveis mensuráveis para segmentar os potenciais consumidores do seu produto. As empresas podem optar por coletar mais informações como parte do processo de venda ou checkout, podendo aumentar seus dados de clientes, como motivos para comprar, qual canal de marketing usado, qual o uso ou finalidade para o produto, idade, gênero etc. 5.2 Análise das situações de compra Avaliar e analisar detalhadamente situações de compra é crucial para a expansão e sucesso sustentável de uma empresa para entender as diversas formas de interação. Assim como os mercados, é importante entender também as dimensões de um processo de compra: • Quais as características do produto? • Quais as características do mercado de interesse? • Quais as características dos fornecedores? • Qual a dimensão das relações comerciais com o mercado? • Quais os produtos críticos? • Quais os produtos-chave? • Quais os produtos alavancadores de negócio? • Quais os produtos não críticos? 5.3 Análise dos concorrentes diretos A pesquisa competitiva (ou inteligência competitiva) é um campo de pesquisa estratégica especializado na coleta e análise de informações sobre empresas rivais. É uma tática essencial para descobrir o que seus concorrentes estão fazendo e que tipo de ameaça eles representam para o sucesso de sua empresa. O que quer que uma empresa faça, há outras empresas oferecendo um produto ou serviço semelhante. Simplesmente saber o que é oferecido não é suficiente. É extremamente importante conduzir regularmente uma análise competitiva completa para estar um passo à frente. 15 5.4 Análise dos concorrentes indiretos Concorrência indireta se refere às empresas que não vendem ou comercializam osmesmos produtos, mas estão competindo digitalmente com outra empresa. Em suma, eles estão competindo pela atenção de seus clientes. Seus concorrentes indiretos têm tanta influência em seu processo de vendas quanto seus concorrentes diretos. Na verdade, como seus concorrentes indiretos muitas vezes escrevem conteúdo que compete com o seu, eles têm um efeito ainda maior sobre os clientes em potencial nos estágios iniciais da jornada do comprador. A competição indireta está diretamente ligada às decisões das pessoas todos os dias. “Pedir delivery no almoço ou sair para almoçar?” ou “dirigir o próprio carro para o trabalho ou pegar um Uber?”. Tudo o que os clientes precisam fazer é simplesmente uma escolha, e é especialmente poderoso para as empresas compreenderem os motivos por trás dessas decisões. 5.5 Análise dos produtos e serviços complementares A importância da análise de desempenho do produto e serviços complementares é fundamental para entender as tendências de mercado para esses produtos, e subsidiar decisões de investimento. A coleta e a análise estratégica de pontos de dados (métricas) relacionadas a um processo compra, como quantas vezes os visitantes visualizam a página de um produto, quantas vezes um produto é abandonado em um carrinho, quantas vezes determinado produto chega a checkout, compras exclusivas e muito mais, são práticas atualmente empregadas para gerar um histórico mais amplo sobre todo o portfólio de produtos de uma empresa. 5.6 Análise de outros setores O que impede uma empresa de entrar em um mercado e ficar com 50% da fatia de mercado de outra empresa? O que a faz pensar que terá sucesso ao tentar entrar neste mercado? Como esperado, as barreiras de entrada são grandes, dentre as quais podemos destacar: • Investimento: projeto que requer um investimento substancial; • Tecnologia: tecnologia sofisticada requerida; 16 • Marca: elevados custos de marketing necessários para atingir o mercado- alvo; • Regulamento: licenças e concessões específicas; • Acesso a recursos: exclusividade com fornecedores, recursos proprietários; • Acesso aos canais de distribuição: exclusividade com distribuidores, rede própria; • Localização: custo imobiliário elevado. A resposta a essas perguntas dependerá muito do tipo de negócio de uma empresa, da sua equipe de gerenciamento e de quaisquer relações que ela possa ter. 5.7 Análise do ambiente Ao analisar o ambiente externo, uma empresa deve considerar o estado atual e as perspectivas de desenvolvimento dos fatores e objetos ambientais mais importantes para a organização, dentre os quais: • Indústrias; • Mercados; • Fornecedores; • Concorrentes; • Ambiente político. A análise do ambiente externo visa identificar mudanças, tendências, oportunidades e ameaças. Algumas dessas tendências de negócios são fontes de boas oportunidades de negócios; outras são tendências que precisamos incorporar a nossas práticas de pequenas empresas para nos mantermos competitivos e manter ou aumentar nossa participação no mercado. Entre as tendências que podem ser observadas no mercado, citamos alguns exemplos: • Tecnologia de dados em nuvem; • Inteligência artificial; • 5G; • Veículos autônomos; • Tecnologia de venda no varejo. 17 REFERÊNCIAS DUNNING, J. Capital movements in the twentieth century. In: DUNNING, J. (Org.). International investment – selected readings. London: Penguin, 1972, p. 59-91. FLEURY, A.; FLEURY, M. T. L. Aprendizagem e inovação organizacional: as experiências de Japão, Coréia e Brasil. 2. ed. São Paulo: Athes,1997. JOHANSON, J.; VAHLNE, J. E. The internationalization process of the firm: a model of knowledge development and increasing foreign market commitments. Journal of International Business Studies, v. 8, p. 23-32, 1977. MAZZAFERRO MELSOHN, M. C. O processo de internacionalização de pequenas e médias empresas brasileiras. São Paulo: Fundação Getúlio Vargas, 2006. STERN, L. W.; EL-ANSARY, A. Marketing Channels. Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1982. VERNON, R. Comprehensive Model-Building in the Planning Process: The Case of the Less-Developed Economies. The Economic Journal, v. 76, n. 301, p. 57- 69, mar. 1966.
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