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TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM
Os designativos dificuldade, problema, distúrbio ou transtorno de aprendizagem envolvem diferentes ênfases teóricas e conceituais para o entendimento do que prejudica o desenvolvimento acadêmico dos alunos.
Este tema é interessante e, ao mesmo tempo, desperta discussões sobre a adequação da terminologia. Em primeiro lugar, existem conflitos de autores ao debaterem a nomenclatura adequada para um problema/dificuldade ou um distúrbio/transtorno de aprendizagem.
De modo geral, há uma caracterização de que problema ou dificuldade sejam entendidos como processos relacionados à dimensão das relações entre ensino e aprendizagem, em que se identificam os procedimentos pedagógicos como essenciais para o domínio do conhecimento.
Por outro lado, os autores argumentam que, nos “transtornos/distúrbios de aprendizagem, a origem do fenômeno é neurobiológica e é preciso a avaliação de uma equipe multidisciplinar para o fechamento do diagnóstico”. Ou seja, os termos “distúrbio” e “transtorno” estão associados a alterações nos processos neurológicos dos indivíduos, sendo necessário um programa qualitativo de estimulação que gere plasticidade neuronal e possibilite a aprendizagem e a autonomia do aluno.
Tanto a expressão “distúrbio” quanto a expressão “transtorno” designam alterações fisiológicas e, especialmente, cognitivas no indivíduo. O distúrbio é considerado uma alteração que afeta a estrutura neurológica, os hábitos de vida diária e os vínculos sociais, gerando perdas na aprendizagem.
Já o transtorno é entendido como uma perturbação da estrutura mental que pode implicar desequilíbrio psiquiátrico, relacionado às falhas na organização neuroquímica cerebral, implicando comportamentos confusos ou incapacitantes. Contudo, apesar de especificidades, os termos trazem como núcleo comum aspectos relacionados ao funcionamento cerebral.
O termo “dificuldades de aprendizagem” caracteriza-se como déficits que a criança venha a apresentar em situações que envolvem escrita, leitura, matemática, raciocínio lógico ou relacionamentos sociais. Considera-se que não há alteração na estrutura neurocortical do indivíduo. Os problemas de aprendizagem estão relacionados aos processos educativos e também não implicam desestruturação do sistema nervoso central. A criança pode apresentar limitações iniciais no processo mnemônico, o que leva ao não domínio da leitura, da escrita ou da matemática. Apesar do uso das duas terminologias, elas são entendidas como relacionadas a um mesmo processo, com necessidade de orientações e estratégias de aprendizagem para o bom domínio do conhecimento.
Quando estudantes e professores se deparam com situações que envolvem a falta de compreensão dos conteúdos escolares, eles se veem diante das dificuldades de aprendizagem. Muitas vezes se entende que o aluno é responsável por tal situação, considerando-o como disperso, ineficiente e pouco dedicado aos estudos. Entretanto, não se deve atribuir culpas. A finalidade do trabalho escolar é buscar soluções para evitar que as dificuldades sejam atribuídas à “falta de esforço” ou à “preguiça” dos alunos. É errôneo e equivocado pensar que alguns alunos estão “destinados” a destacar-se, enquanto outros não conseguem ter sucesso na aprendizagem escolar. O problema não é hereditário, é social e envolve o acesso às oportunidades. A escola deve apresentar alternativas que não sugiram que o aluno seja rotulado como inepto, pois é falso pensar que alguns estudantes nascem para ter sucesso escolar enquanto outros não.
É importante salientar que a genética não é determinante absoluto das capacidades afetivas, cognitivas e de aprendizagem. As pessoas são diferentes em sua estrutura genética, porém a plasticidade cerebral é decisiva para o domínio de habilidades, sejam elas afetivas ou cognitivas, que ocorrem especialmente por meio da aprendizagem.
Já o ambiente sociocultural desempenha um papel importante tanto na superação quanto na produção de dificuldades de aprendizagem. Se as pessoas crescerem em locais com pouco acesso às boas condições de vida e tiverem recursos educacionais limitados, a qualidade de ensino será inferior às suas potencialidades, implicando maiores dificuldades na aprendizagem e no desenvolvimento de habilidades afetivas e cognitivas. Viver em ambientes em que 3 predominam a pobreza, a falta de apoio familiar e a violência podem afetar negativamente as possibilidades de aprendizagem e o desempenho escolar adequado do indivíduo.
Os educadores devem ter ciência do modo como as dificuldades afetivas e emocionais afetam a aprendizagem, agindo no sentido de desenvolver 4 abordagens e métodos de ensino para atender às necessidades do aprendiz. Um ambiente seguro e acolhedor para todos os alunos e a implementação de atividades que valorizem o bem-estar emocional podem auxiliar na redução da ansiedade e potencializar a aprendizagem da criança.
A criança rotulada tem um desempenho acadêmico baixo, pois os educadores e os próprios pais têm expectativas negativas em relação às possibilidades de aprendizagem. Quando um professor considera que o aluno “é fraco”, ele não age de modo regular para que as atividades apresentadas sejam desafiadoras, o que prejudica ainda mais o vínculo do aluno com as atividades escolares.
A formação de professores comprometidos com os processos de aprendizagem propicia uma forma adequada para se lidar de maneira eficaz com as dificuldades de aprendizagem dos alunos. O conhecimento sobre os métodos de intervenção adequados, bem como o conhecimento sobre as características 5 que envolvem as dificuldades de aprendizagem podem melhorar as práticas acadêmicas, auxiliando os alunos no domínio do conteúdo escolar.
A década de 1960 deu início aos temas que envolvem as dificuldades de aprendizagem, especialmente com a promulgação da Lei de Educação para Pessoas com Deficiência nos Estados Unidos, em 1966. A Lei procurou garantir direitos e procurou valorizar o ensino a todas as crianças, com ou sem limitações físicas ou intelectuais.
Termos como “dislexia”, “discalculia” ou “déficit de atenção” começaram a ser investigados como de origem neurológica, bem como outros estudos começaram a relacionar os problemas às questões afetivas/emocionais, como também aos fenômenos sociais.
A compreensão sobre as dificuldades de aprendizagem avançou muito na atualidade e há uma ampla variedade de recursos e intervenções disponíveis para ajudar as pessoas com dificuldades de aprendizagem a superar seus desafios e alcançar seu potencial máximo.
Entre esses recursos e intervenções, podem ser destacadas as intervenções educacionais (uso de estratégias de ensino diferenciadas para cada criança, feedbacks construtivos e tempo extra para testes e tarefas); apoio para a comunicação verbal e escrita (compreensão e expressão verbal, além de habilidades de leitura e escrita); atividades voltadas para a estimulação de habilidades de coordenação motoras finas e grossas (escrita e destreza manual); desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais para lidar de modo adequado com o estresse e a ansiedade; e a utilização de tecnologia assistiva, com o uso de dispositivos adaptados para a comunicação, como software e instrumentos para leitura, escrita e armazenamento de informações.