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As etiologias da perda auditiva geralmente são divididas em congênitas e adquiridas. Entretanto, muitas das causas congênitas foram “adquiridas” intraútero, como as infecções pré-natais conhecidas como “STORCH” (sífilis, toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus e herpes). De outro modo, internação prolongada em UTI e necessidade de exsanguíneotransfusão por icterícia neonatal, são fatores relativos ao período pós-natal que também podem gerar alterações auditivas. O acrônimo STORCH representa os tipos de infecção em que a exposição ao patógeno ocorre tipicamente no período pré-natal, mas também pode ocorrer no perinatal. Infecções virais e bacterianas adquiridas no período pós-natal, como meningite, caxumba, sarampo e doença de Lyme, também podem apresentar alterações auditivas como sequelas. MALFORMAÇÕES DE ORELHA INTERNA A prevalência de malformação de orelha interna em pacientes com perda auditiva congênita varia de 8 a 20%. O diagnóstico dessas malformações é realizado através de exames de imagem, como tomografia computadorizada (TC) e ressonância nuclear magnética (RNM). Enquanto a TC permite a visualização detalhada de estruturas ósseas, a RNM possibilita uma melhor avaliação do labirinto membranoso, do conduto auditivo interno e do nervo vestibulococlear. O aqueduto vestibular alargado (AVA) é considerado a malformação de orelha interna mais comum. É definido como aqueduto vestibular > 1,5 mm de diâmetro, medida no nível entre sua abertura externa e a crura comum. Em 84% dos casos está associado a outras malformações de orelha interna, como a partição incompleta do tipo II (Mondini), e pode ocorrer na síndrome de Pendred e na síndrome braquio-oto-renal. Malformações que afetam a cápsula ótica resultam em anormalidades tanto do labirinto ósseo quanto membranoso. O labirinto ósseo se desenvolve entre a quarta e oitava semana de gestação e, a partir da oitava semana, cresce e ossifica. O tipo de malformação coclear depende da fase do desenvolvimento da cápsula ótica em que ocorre a injúria. Quanto mais precoce a injúria, mais grave a malformação. As malformações cocleares, da mais severa a mais leve, são as seguintes: aplasia de Michel, aplasia coclear, cavidade comum, partição incompleta tipo I (malformação cocleovestibular cística), hipoplasia cocleovestibular e partição incompleta tipo II (malformação de Mondini). As aplasias são as malformações mais severas e raras, responsáveis por cerca de 3% de todas as malformações cocleares. Nesses casos, não há presença de cóclea, o vestíbulo e os canais semicirculares com frequência estão malformados e dilatados, e o nervo coclear e seu conduto estão ausentes. Na malformação cavidade comum, a cóclea e o vestíbulo formam uma cavidade única, sem suas estruturas internas, e os canais semicirculares geralmente são malformados. Pode estar associada à história de meningite recorrente, devido à presença de fístula perilinfática. A partição incompleta tipo I é conhecida como malformação cocleovestibular cística, em que a cóclea e o vestíbulo tem formato cístico, e a área cribiforme entre o conduto auditivo interno e a cóclea é defeituosa. Na hipoplasia coclear se observa uma cóclea pequena, de 1 a 3 mm, com uma espira única e primitiva. O vestíbulo e os canais semicirculares podem ser normais ou estarem malformados. Cerca de 15% das malformações cocleares são hipoplasias. A partição incompleta tipo II, conhecida como malformação de Mondini, é uma das malformações mais comuns. Neste caso, ocorre falha do desenvolvimento coclear e, radiologicamente, é identificada como uma cóclea com apenas um giro, o basal, e um saco distal. Assim como no AVA, pode estar associada à síndrome de Pendred e, menos comumente, à síndrome braquio-oto-renal. Também pode-se encontrar malformações no conduto auditivo interno e no nervo coclear, que pode estar hipoplásico ou aplásico. Perda auditiva genética sindrômica A perda auditiva associada a outras anomalias faz pensar a respeito da possibilidade de síndromes genéticas como etiologias da deficiência auditiva. Dentre as causas de surdez congênita. Entretanto, a contribuição desta causa no total de perda auditiva é muito menor, devido a ocorrência de diagnóstico de perdas auditivas pós-linguais. Audiologia II 01 – Identificar as possíveis patologias na infância que podem acarretar perda auditiva (mapear as principais da perda auditiva, doenças virais e relacionar com mal formação embrionária) As síndromes relacionadas à perda auditiva mais prevalentes são Usher, Waardenburg e Pendred. Diversos genes associados às perdas auditivas sindrômicas também estão relacionados às não sindrômicas, como no caso da mutação do gene SLC26A4, que causa síndrome de Pendred e surdez não sindrômica DFNB4. A criança com suspeita de diagnóstico sindrômico deve ser avaliada por uma equipe com experiência em avaliações de surdez infantil, constituída por geneticista, otorrinolaringologista e pediatra. Essa avaliação se faz importante, uma vez que o diagnóstico etiológico precoce auxilia no conhecimento do prognóstico da perda auditiva em cada paciente, da resposta aos tratamentos a se indicar e de futuras anomalias, potencialmente fatais ou não. Atualmente, diversas mutações relacionadas à perda auditiva sindrômica são conhecidas, mas estas descobertas ocorreram em sua maioria nas últimas duas décadas. Apesar desse progresso, centenas de síndromes herdadas ainda têm sua causa genética subjacente desconhecida. Síndrome de Usher→ É uma condição que afeta a visão e a audição simultaneamente. Às vezes chega a afetar até mesmo o equilíbrio. Isso acontece quando afeta as células que detectam a gravidade e o movimento da cabeça. A perda de audição é causada pelo desenvolvimento anormal de células do ouvido, ocorrendo normalmente mais em crianças do que adolescentes. TIPOS Eles se diferenciam entre si pela gravidade da perda auditiva, problemas de equilíbrio e pela idade em que os sintomas aparecem. São eles: -Síndrome de Usher tipo 1: surdez de nascimento ou perda auditiva profunda em crianças e problemas graves de equilíbrio. Tem também RP (retinose pigmentar) com perda progressiva de visão. -Síndrome de Usher tipo 2: perda auditiva leve a moderada não progressiva na infância e perda progressiva da visão na adolescência e cegueira noturna. Já na fase adulta ocorre a perda de equilíbrio. -Síndrome de Usher tipo 3: perda de audição progressiva na infância, RP e cegueira noturna na infância e adolescência, além de desequilíbrio. SÍNDROME DE PENDRED→ É um transtorno genético pouco comum, caracterizado por uma incapacidade auditiva neurosensorial profunda e uma deformação de certos ossos no ouvido interno Os sintomas da Síndrome de Pendred são: •Perda de audição neurosensorial presente no nascimento •Trasformação do ouvido interno e aumento da tireóide •Problemas de equilibrio por alterações da função vestibular S→ índrome de Jervell e Lange-Nielsen consiste em uma desordem genética, de caráter autossômico recessivo, caracterizada pela perda profunda de audição e pela presença da síndrome do QT longo, que pode levar a taquicardia e fibrilação ventricular, podendo resultar em síncope ou morte súbita. Sabe-se que mutações nos genes KCNE1 e KCNQ1 são responsáveis por esta desordem. Esses genes são responsáveis pela produção de proteínas que atuam na formação dos canais celulares encontrados na membrana plasmática das células, por onde há o transporte de íons de potássio para fora da célula, fator essencial para a manutenção das funções normais do ouvido. Síndrome branquio-oto-renal A síndrome branquio-oto-renal (BOR)é o segundo tipo mais comum de perda auditiva autossômica dominante e decorre de anormalidades otológicas e no segundo arco branquial, assim como de malformações renais. As principais características clínicas da síndrome são cistos, fendas e fístulas branquiais, fossetas pré- auriculares, malformações da orelha externa, anormalidades dos ossículos, perdas auditivas e malformações renais. Quanto às perdas auditivas, podem ser condutivas, sensorioneurais ou mistas, dependendo da área da orelha que está afetada, podem variar o grau, de leve à profundo. Quanto às malformações auriculares, pode haver comprometimento do conduto auditivo externo (estenose de variados graus ou atresia), da orelha média (malformações, mal posicionamento ou fixação dos ossículos, tamanho e/ou formato irregular da cavidade timpânica) e da orelha interna (hipoplasia da cóclea, aqueduto vestibular alargado, hipoplasia do canal semicircular lateral) Síndrome de CHARGE O nome da síndrome, na língua inglesa, é um acrônimo com as características da doença, que são a presença de coloboma (coloboma), anomalias https://www.infoescola.com/cardiologia/taquicardia/ https://www.infoescola.com/citologia/membrana-plasmatica/ https://www.infoescola.com/citologia/membrana-plasmatica/ https://www.infoescola.com/genetica/mutacoes-cromossomicas/ https://www.infoescola.com/medicina/morte-subita/ https://www.infoescola.com/medicina/morte-subita/ https://www.infoescola.com/medicina/desmaio-sincope/ cardíacas (heart anomalies), atresia de coana (atresia choanae), atraso de crescimento e de desenvolvimento (retarded growth and development), hipoplasia genital (genital hypoplasia) e malformações auriculares (ear anomalies). Tanto a orelha externa, quanto a média e a interna, podem ser acometidas por malformações. O lóbulo do pavilhão auricular geralmente apresenta implantação baixa e o conduto auditivo externo é estenótico. Pode haver secreção na cavidade timpânica associada à displasia de Mondini, hipoplasia ou agenesia do nervo auditivo, assim como anomalias nos canais semicirculares. Alterações nos ossículos e ausência da janela oval ou do músculo estapédio também podem estar presentes. A perda auditiva, consequente destas malformações, geralmente é assimétrica, mista e de grau severo à profundo. Pode haver perda auditiva condutiva assimétrica e flutuante com rebaixamento das frequências baixas, mas na presença de malformações cocleares, ocorre rebaixamento nas frequências altas. Síndrome de Waardenburg é causada por anormalidade na proliferação, na migração ou na diferenciação da crista neural durante o desenvolvimento embriológico. As células pluripotentes da crista neural dão origem a diferentes tipos de células, como melanócitos da pele e da orelha interna, glia, neurônios do sistema nervoso periférico e central e alguns tipos de tecidos esqueléticos. Relacionados, portanto, a alterações nas células originadas da crista neural, os sintomas da doença são anormalidades na pigmentação do cabelo, da íris, da pele e da estria vascular da cóclea, com surdez sensorioneural. Síndrome de Treacher-Collins As malformações auriculares variam de discretas anomalias no lóbulo da orelha ou nos ossículos a atresias de conduto auditivo externo ou microtia. Tipicamente, ocorre perda auditiva condutiva, devido às malformações da orelha externa e média. Apesar de raro, pode ocorrer perda auditiva mista ou sensorioneural. A fáscies característica da síndrome é causada pelo subdesenvolvimento dos ossos da face (hipoplasia do malar e do zigomático e mandíbula pequena), fenda palatina, coloboma palpebral, micrognatia Perda Auditiva Genética não Sindrômica A PA genética não-sindrômica é classificada em autossômica dominante e autossômica recessiva e internacionalmente é referida como DFNA e DFNB, respectivamente. Pelo menos 41 loci relacionados a perdas auditivas genéticas de padrão dominante (DFNA 1-41) e 30 de padrão recessivo (DFNB 1-30) estão relacionados na Hereditary Hearing Loss Homepage9. O fenótipo das DFNB é caracterizado por perda auditiva pré-lingual severa ou profunda, enquanto que a DFNA é usualmente pós-lingual e progressiva. Os genes envolvidos nas PANS codificam uma variedade de proteínas tais como: canais de íons, componentes da matriz extra-celular e proteínas de vesículas sinápticas essenciais para o tráfego de informação inter-celular. Perda Auditiva de Origem Mitocondrial A mitocôndria contém sua própria molécula de DNA (mtDNA) disposta em forma circular, e responsável pela codificação de 37 genes.18 Esses genes estão envolvidos no complexo processo de fosforilação oxidativa e produção de ATP. O DNA mitocondrial é herdado exclusivamente através da mãe e tem um índice de mutação dez vezes maior que o DNA genômico. Os órgãos e tecidos que necessitam de elevado suprimento energético, tais como nervos e músculos, são os mais afetados pelas mutações do DNA mitocondrial. Isto também explica o acometimento da audição como uma conseqüência das doenças mitocondriais. A associação entre diabete melito e PA tem sido relacionada com a mutação mitocondrial A3243G.19 A PA não se manifesta até que a pessoa desenvolva diabetes. Também é muito provável que as mutações mitocondriais estejam relacionadas com a presbiacusia. Pacientes com presbiacusia demonstram um número elevado de mutações do mtDNA nos tecidos auditivos, como exemplo, as mutações nos genes 12S Rrna e Trna PERDA AUDITIVA ADQUIRIDA A sífilis congênita é causada pela transmissão transplacentária do Treponema pallidum, uma bactéria gram-negativa do tipo espiroqueta. É caracterizada, inicialmente, por meningoneurite e labirintite, que pode progredir para ceratite intersticial, perda auditiva sensorioneural e alterações dentárias (tríade de Hutchinson). A tríade de Hutchinson costuma se manifestar após os cinco anos de idade. A perda auditiva geralmente inicia nas frequências altas quando a criança tem entre oito e dez ano. O número de sobreviventes com sífilis congênita é muito baixo. A maioria dos nascidos vivos com a doença morrem nas primeiras semanas de vida. Portanto, a sífilis congênita tardia, diagnosticada com dois ou mais anos de vida, é raríssima. Dois milhões de mulheres em todo o mundo tem o teste para T. pallidum positivo durante a gestação, o que corresponde a 1,5% de todas as gestantes. Entretanto, o número de casos de sífilis congênita vem diminuindo bastante nos últimos anos, em função dos programas de prevenção da doença, via triagem materna pré- natal para T. pallidum e tratamento das gestantes com confirmação sorológica da doença. A detecção precoce das gestantes com sífilis e o adequado tratamento com penicilina são altamente efetivos na redução dessa doença infecciosa, evitando significativa morbidade no futuro. A rotina de diagnóstico pré-natal envolve teste sorológico na gestante na primeira consulta de pré-natal e no início do terceiro trimestre. Se a mãe com a doença for tratada antes das 24 semanas de gestação, elimina-se o risco de complicações graves para o RN. A ocorrência da doença reflete falha no sistema de pré-natal e nos programas de controle da sífilis. No Brasil, foi descrito um caso de sífilis tardia em 2011, o que está associado à precária condição socioeconômica e ao baixo nível de educação da população. Toda criança com sorologia confirmada para sífilis ao nascimento deve receber tratamento antibiótico com penicilina G. Quanto à triagem auditiva neonatal, deve ser realizada conforme a rotina e repetida, pelo menos uma vez, após 24-30 meses de idade. As crianças com sífilis confirmadanos testes sorológicos e que não receberam tratamento antibiótico adequado, devem ter acompanhamento audiológico anual. A influência do tratamento parcial ou tardio com antibiótico no desenvolvimento da perda auditiva é desconhecida. Rubéola A perda auditiva associada à síndrome da rubéola congênita pode não ocorrer imediatamente após o nascimento. O mecanismo pelo qual o vírus da rubéola induz a perda auditiva ainda não foi totalmente esclarecido, embora saiba-se que o vírus pode causar dano coclear direto, com morte de células no órgão de corti e na estria vascular, além de alterações na composição do líquido endolinfático, como consequência do dano na estria vascular. Citomegalovírus A perda de audição relacionada ao CMV pode ocorrer tanto se a mãe for infectada pelo vírus pela primeira vez durante a gravidez (infecção primária), quanto se ela já for soroimune (presença de IgG) anteriormente à gestação. A chance de 69 ocorrer infecção vertical pelo CMV é maior em casos de infecção primária (cerca de 40%) do que em casos de reativação do vírus. Outra característica importante é a flutuação da audição, que pode ocorrer em apenas uma orelha ou em apenas algumas frequências. Herpes Vírus Simples A infecção neonatal pelo herpes-vírus simples (HVS) é, geralmente, transmitida durante o parto. Um sinal típico é erupção vesicular, que pode acompanhar ou progredir para doença disseminada. As manifestações geralmente ocorrem entre a 1ª e a 3ª semana de vida, mas raramente também podem só aparecer após a 4ª semana. Os neonatos podem manifestar doença local ou disseminada. As vesículas da pele são comuns nos diferentes tipos da doença e aparecem em aproximadamente 70% dos casos. Neonatos sem vesículas na pele geralmente se apresentam com doença no sistema nervoso central localizada. Vírus da Imunodeficiência Humana As crianças infectadas podem apresentar tanto alterações auditivas quanto vestibulares: perda auditiva sensorioneural ou condutiva (geralmente por otite média), zumbido, vertigem e ataxia. A otite média é uma das mais frequentes infecções oportunistas em crianças com síndrome da imunodeficiência adquirida. A perda auditiva pode ocorrer por infecção direta da orelha interna pelo HIV, por patógenos oportunistas (CMV, sífilis, tuberculose, criptococo) ou pelas drogas ototóxicas utilizadas na terapia antiretroviral. Vírus Zika A perda auditiva secundária à infecção congênita pelo Zika vem sendo descrita. Leal et al, acompanhou e avaliou 70 crianças com microcefalia e evidências laboratoriais de infecção congênita pelo vírus Zika, por exames audiológicos. Cinco crianças (7,1%) apresentaram perda auditiva com variações quanto à lateralidade e à severidade da perda auditiva. Todas essas crianças apresentaram encefalopatia severa e mães com rash no primeiro trimestre de gestação. Meningite A perda auditiva é uma das complicações mais comuns da meningite bacteriana. Tipo da perda auditiva sensorioneural e quanto ao grau, pode variar de leve a profundo. A bactéria mais prevalente é Haemophilus influenzae tipo B, mas a que mais causa perdas auditivas é Streptococcus pneumoniae. A perda de audição secundária à meningite bacteriana pode ocorrer por ossificação coclear, um processo inflamatório que oblitera as estruturas da cóclea, principalmente a rampa timpânica. NEUROPATIA AUDITIVA A neuropatia auditiva ou dissincronia auditiva é caracterizada por disfunção do processamento neural do estímulo auditivo e função normal das células ciliadas externas. Mutações no gene OTOF, que codifica a proteína otoferlina, têm sido sugeridas como a principal causa de neuropatia auditiva A perda de audição relacionada a essa mutação é pré-lingual, de grau profundo e envolve frequências altas. Existem outras causas, não genéticas, de neuropatia auditiva, que incluem fatores de risco como prematuridade, hipóxia e hiperbilirrubinemia. HIPERBILLIRUBINA Icterícia é a cor amarelada da pele e dos olhos causada por hiperbilirrubinemia (concentração elevada de bilirrubina no soro). Os níveis séricos de bilirrubina que causam icterícia variam com a cor da pele e a região do corpo, porém a icterícia é visível na esclerótica com um nível de 2 a 3 mg/dL (34 a 51 micromol/L) e na face com 4 a 5 mg/dL (68 a 86 micromol/L). Com o aumento dos níveis da bilirrubina, a icterícia avança na direção da cabeça para os pés, aparecendo no umbigo com 15 mg/dL (257 mcmol/L) e nos pés com 20 mg/dL (342 micromol/L). Pouco mais da metade dos recém-nascidos apresenta icterícia visível na primeira semana de vida. Quase toda a hiperbilirrubinemia no período neonatal imediato é não conjugada, o que é chamado bilirrubina indireta, com base em métodos de medição laboratoriais mais antigos; bilirrubina conjugada é denominada bilirrubina direta. Para discussões adicionais sobre colestase e doenças da excreção de bilirrubina no período neonatal. Bilirrubina, substância produzida pelo metabolismo da hemoglobina, encontra-se na circulação, em condições fisiológicas e sem afetar, na maioria das vezes, o sistema auditivo. Em algumas condições, esta substância encontra- se em elevado nível sérico, às vezes maior que 10 mg/dl. O "Joint Commitee on Infant Hearing", em 1994, cita que a hiperbilirrubinemia, nos níveis que requeiram a exsanguinitransfusão, é fator de risco, devendo o recém-nascido ser avaliado. Uma vez a bilirrubina penetrando na barreira hematoencefálica pode produzir lesões no sistema nervoso central, o "kernicterus", e acometer também os nervos periféricos. Esta afecção apresenta como principal seqüela o comprometimento da audição, podendo afetar as seguintes regiões anatômicas: cóclea, tronco cerebral e córtex cerebral. Esta alteração da audição pode ser temporária ou permanente. Em recém-nascido ictérico pode ocorrer o depósito de bilirrubina em diferentes órgãos do organismo, e em especial no tronco cerebral, no cerebelo e no córtex. Classificação de Apgar Utiliza-se o índice de Apgar para descrever a condição cardiorrespiratória e neurológica do recém-nascido. O índice não é uma ferramenta para orientar a reanimação ou o tratamento subsequente e não determina o prognóstico de um dado paciente. A classificação de Apgar atribui pontos de 0 a 2 a cada uma das 5 medidas da saúde neonatal (Aspecto, Pulso, Grimace Careta], Atividade, Respiração. A pontuação depende da maturidade fisiológica e peso ao nascimento, terapia materno perinatal e das condições cardiorrespiratórias e neurológicas fetais. A nota de 7 a 10 aos 5 minutos é considerada normal; 4 a 6, intermediária; e 0 a 3, baixa. Ototoxidade Fármacos ototóxicos não devem ser utilizados para aplicação tópica quando a membrana timpânica tiver perfuração, pois os fármacos podem se difundir para a orelha interna. - Aminoglicosídeos, incluindo o seguinte, podem afetar a audição: - A estreptomicina tende a causar mais danos à porção vestibular do que à porção auditiva da orelha interna. Apesar da vertigem e da dificuldade em manter o equilíbrio, geralmente, serem temporárias, grave hiporreflexia vestibular pode persistir, às vezes permanentemente. A hiporreflexia vestibular provoca dificuldade para caminhar, especialmente no escuro, e oscilopsia (sensação de movimento do ambiente a cada passo). Cerca de 4 a 15% dos pacientes que recebem 1 g/dia durante > 1 semana desenvolvem perda de audição mensurável, o que geralmente acontece após período de curta latência (7 a 10 dias) e lentamente piora caso o tratamento seja continuado. Surdez completa e permanente pode acontecer. - A neomicina tem o maior efeito cocleotóxico de todosos antibióticos. Quando grandes doses são dadas por via oral ou por irrigação do cólon para a esterilização intestinal, dose suficiente pode ser absorvida a ponto de afetar a audição, particularmente se há lesões da mucosa difusas do cólon. Neomicina não deve ser usada para a irrigação de feridas, irrigação intrapleural ou intraperitoneal, pois grandes quantidades do fármaco podem ser retidas e absorvidas, causando surdez. - A canamicina e a amicacina são semelhantes à neomicina em potencial cocleotóxico e ambas são capazes de ocasionar perda de audição profunda permanente, poupando o equilíbrio. - Gentamicina e tobramicina causam toxicidade vestibular e coclear, provocando prejuízo no equilíbrio e na audição. - A vancomicina pode causar perda de audição, especialmente na presença de insuficiência renal. Algumas mutações no DNA mitocondrial predispõem à ototoxicidade dos aminoglicosídeos. - Azitromicina, um macrolídeo, também demonstrou em casos raros que causa perda auditiva reversível e irreversível. - A viomicina, um peptídeo básico com propriedades antituberculosa tem tanto toxicidade coclear como vestibular. - Quimioterápicos (antineoplásicos), em particular aqueles contendo platina (cisplatina e carboplatina), podem produzir zumbido e perda auditiva. A perda auditiva pode ser profunda e permanente, ocorrendo imediatamente após a primeira dose, ou pode ocorrer até meses após a conclusão do tratamento. A perda auditiva neurossensorial ocorre bilateralmente, progride de modo gradual e é permanente. - Ácido etacrínico e furosemida administrados via intravenosa podem causar perda auditiva permanente, em pacientes com insuficiência renal que estavam recebendo antibióticos aminoglicosídios. - Salicilatos em altas doses (> 12 comprimidos de 325 mg de ácido acetilsalicílico/dia) ocasionam perda temporária da audição e zumbido. - Quinina e seus substitutos sintéticos também podem provocar perda auditiva temporária. OTITE MÉDIA AGUDA Processo inflamatório da mucosa da orelha média, com presença de secreção, de início agudo ou repentino, acompanhado de sinais e sintomas de inflamação. Toda OMA é uma otomastoidite aguda em potencial - com maior ou menor grau de comprometimento das células mastóideas. O processo inflamatório inicia-se, geralmente, nas vias aéreas superiores, (rinofaringe principalmente) devido a íntima relação entre a fenda auditiva e a via aérea superior. A tuba auditiva é a interface entre o sistema pneumatizado do osso temporal e a rinofaringe. A tuba auditiva é crucial nos mecanismos de proteção, ventilação e drenagem de secreções da orelha média. *Nas crianças, com tubas ainda pouco desenvolvidas, curtas, horizontalizadas e associadas a infecções frequentes das vias aéreas superiores, justifica a alta prevalência de OMA. Mais ainda: é desse mecanismo frágil que depende a resolução completa do quadro infeccioso agudo, ou sua recorrência ou cronificação, com possíveis sequelas funcionais, especialmente relacionadas à audição. O mecanismo de abertura periódica da tuba auditiva, com consequente entrada de ar nos espaços da fenda auditiva, pode ser altamente comprometido por diversos fatores. O mais 03 – OTITES E SEUS TIPOS comum é o edema da mucosa da rinofaringe e tuba auditiva ao longo de um quadro de infecção viral das vias aéreas superiores. A contaminação por ascensão de vírus e bactérias da rinofaringe até a orelha média é o fator determinante na fisiopatologia da OMA. A inflamação acompanhada de transudações da mucosa da orelha média dará origem à efusão, que, ao aumentar progressivamente de volume, provocará otalgia e abaulamento da membrana timpânica. Os vasos submucosos da orelha média e da própria membrana timpânica ficam ingurgitados e tornam-se visíveis a otoscopia. A pressão exercida pelas secreções projeta lateralmente de tal forma a membrana timpânica que pode haver ruptura espontânea dela, com drenagem para a orelha externa. Caracteristicamente a dor diminui no momento em que há saída de secreções pelo conduto auditivo externo (CAE). A fase de recuperação ou convalescença da OMA caracteriza-se pela gradativa diminuição do edema e ingurgitamento vascular, bem como a reabsorção e drenagem, através da tuba auditiva, das secreções acumuladas. Essa fase é chamada de otite com efusão pós-OMA e pode durar de uma semana até três meses. Os sinais típicos de OMA à otoscopia são: → 1. Presença de líquido ou efusão na orelha média; 2. Hipervascularização da membrana timpânica com hiperemia 3. Abaulamento da membrana timpânica, demonstrando o aumento de volume da orelha média devido à presença de secreção inflamatória sob pressão; e 4. Presença de otorreia de início recente não causada por otite externa. A secreção de uma OMA supurada é tipicamente mucopurulenta, eventualmente sanguinolenta. A presença do componente mucoide diferencia com boa precisão otite externa de otite média, visto que as células produtoras de muco não estão presentes na orelha externa. A secreção da otite externa tem características mais descamativas e não apresenta muco. Otite Média Secretora A cultura de secreção de orelha média de pacientes com OMS é positiva entre 30 a 50 % dos casos. Estudos mais recentes, usando PCR para identificar patógenos presentes em secreção de OMS, demonstraram uma positividade de 77 %. Os agentes mais encontrados em OMS são também os mais encontrados em OMA. 12 12 Tipos de Secreção da Orelha Média → As secreções presentes na orelha média por ocasião das otites média podem ser classificadas em: 1) Purulenta: pus no orelha média, sendo indicativo de infecção aguda presente. É o tipo de efusão associada a OMA e OMA de repetição. 2) Serosa: tem por característica ser aquosa, clara e é resultante de transudato dos capilares da mucosa da orelha média. É um dos tipos de efusão presente na OMS. 3) Mucosa: é mais espessa que a secreção serosa e se origina da secreção ativa de células secretoras (células caliciformes) e glândulas submucosas. Também é um tipo de secreção presente na OMS. É importante ressaltar que essas várias formas de efusão estão dinamicamente interrelacionadas no que se refere a causa e patogênese, NÃO sendo entidades independentes. Ao contrário, representam o mesmo processo mórbido que progride na evolução da doença. Assim, OMA pode evoluir para OMS (serosa, mucosa ou intermediária). OMS pode apresentar remissão espontânea, remissão com tratamento ou mesmo apresentar agudização (OMA). Quando não adequadamente tratada OMS pode evoluir para otite média crônica (OMC), nas suas mais variadas apresentações. OTITE EXTERNA Otite externa é uma infecção grave da pele do canal auditivo, geralmente causada por bactérias (Pseudomonas é mais comum). Os sintomas incluem dor, secreção e perda auditiva se o canal auditivo inchou e se fechou; manipulação da aurícula provoca dor. OTITE EXTERNA DIFUSA A otite externa difusa (ou “orelha de nadador”) é uma celulite da pele e do tecido subcutâneo do Conduto Auditivo Externo ocasionada por uma quebra na barreira protetora natural do conduto e facilitada pela presença de umidade no seu interior. Está frequentemente associada a traumatismo local com hastes de algodão ou outra forma de manipulação do conduto. Otite média crônica A otite média crônica, diferentemente das outras otites, não causa dor de ouvido. Está, normalmente, relacionada a perfurações do tímpano e a infecções de longa data. Apresenta risco de complicações graves, como surdez, paralisia facial, tontura e meningite. Os principais sintomas são secreção no ouvido, muitas vezes com odor ruim, e perda de audição. A otite média crônicadecorre, na maioria das vezes, de alterações de ventilação da orelha média por problemas de funcionamento da tuba auditiva. Processos mecânicos e inflamatórios de longa data que podem resultar em retrações timpânicas, perfurações do tímpano ou infecções que avançam para mastóide, osso localizado atrás do ouvido. → Síndrome de Usher
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