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FÍSICA – TERMODINÂMICA E ONDAS AULA 1 Prof. Cristiano Cruz 2 CONVERSA INICIAL A invenção da máquina a vapor alavancou a evolução humana e mudou drasticamente a maneira de viver do ser humano. Dando grande contribuição à Revolução Industrial, a máquina a vapor foi o início da indústria como a conhecemos hoje. As leis físicas que permitem o seu funcionamento, aliadas a expertises de cientistas e engenheiros, foi e é utilizada até hoje, sendo aplicada no funcionamento de máquinas térmicas que produzem novas máquinas – e todas funcionam com os mesmos princípios: as leis da termodinâmica. Hoje são muitas as áreas de aplicação da termodinâmica na engenharia. Suas leis podem ser aplicadas aos motores a combustão em geral, seja de automóveis, caminhões, trens e, por que não dizer, aviões, visto que no funcionamento de suas turbinas a termodinâmica também é aplicada. Estamos presenciando a corrida espacial da era moderna, em que empresas privadas estão desenvolvendo os melhores foguetes para missões espaciais com destinos como a Lua e o planeta Marte. No sistema de propulsão desses foguetes também temos a aplicação da termodinâmica. Deve-se, também, conhecer a termodinâmica para desenvolvimento, construção e operação de usinas térmicas, independentemente de qual seja o tipo da fonte de calor – combustível fóssil, nuclear, biomassa ou solar. Da mesma maneira, a termodinâmica também deve ser conhecida em sistemas que operam em baixíssimas temperaturas, criados para congelar, resfriar ou controlar a temperatura, como é o caso dos sistemas criogênicos aplicados em ensaios, linhas de produção, refrigeração complementar, transportes frigoríficos, separação de gases e liquefação. Como você pode ver, a lista de sistemas que empregam a termodinâmica é grande; ainda podemos citar os sistemas de ventilação, sistemas de ar- condicionado, bombas de calor, dispositivos termoelétricos e termiônicos. Além desses, em sistemas de produção de energia como os sistemas geotérmicos, energia das ondas e marés nos oceanos, energia eólica, entre outras. Independentemente da área da engenharia, os conhecimentos envolvidos nas leis da termodinâmica são essenciais para desenvolvimento, criação, manutenção, operação, segurança e controle do funcionamento dos sistemas termodinâmicos. São necessários circuitos e dispositivos elétricos eficientes, com sensores termoelétricos, sensores de pressão, entre outros. Muitas vezes 3 também são necessários sistemas computacionais que permitam a interface entre os sinais elétricos emitidos pelos sensores, o computador e o operador da máquina térmica. Nesta disciplina, além de estudar as leis da termodinâmica, iremos relacionar o funcionamento de uma máquina térmica com temas específicos da física. Iniciaremos com movimento de vai e vem dos pistões de uma máquina térmica relacionando com a teoria descrita no movimento periódico, especificamente o movimento harmônico simples. Depois, ainda tomando como base as oscilações produzidas pelos pistões, descreveremos um dos efeitos desse tipo de movimento: a produção de ondas mecânicas. Mais uma vez em referência às máquinas térmicas, continuaremos estudando o movimento dos fluidos envolvidos em seu funcionamento, chamados fluidos de trabalho, com o tema mecânica dos fluidos. Agora, cada vez mais perto de nossos objetivos, veremos a teoria envolvida na relação entre temperatura e calor, passando na sequência ao estudo das propriedades térmicas da matéria, para, por fim, concluir com as definições e aplicações da primeira e segunda leis da termodinâmica. Bons estudos e boa aula! TEMA 1 – BREVE HISTÓRIA DA TERMODINÂMICA No século XVIII, a Europa teve oportunidade de conhecer a mais nova e maravilhosa invenção, que revolucionou o modo de vida do ser humano em diversos aspectos. Com as primeiras máquinas surgindo na Inglaterra, ela transformou o trabalho artesanal de pequenas manufaturas em modernas fábricas industriais; estamos falando da máquina de vapor. Com o passar do tempo, engenheiros desenvolveram e construíram máquinas cada vez mais potentes. Apesar de sua funcionalidade, inicialmente não se conhecia detalhadamente a ciência envolvida na máquina a vapor, que na verdade é uma máquina de calor. Porém, com a evolução da ciência e ascensão de novos cientistas, em meados do século XIX se encontram as leis físicas, válidas até a atualidade, que permitem entender e projetar máquinas com maior rendimento. Cientistas como James Prescott Joule e William Thomson, tiveram participação decisiva nessa questão com o descobrimento da energia. Há muito tempo, a ciência busca definição para o que é o calor. Inicialmente por meio de observações de fenômenos térmicos, ela procura explicar com teorias qualitativas e dedutivas essa definição. Em analogia com as 4 ideias da eletricidade na época, século XVIII, onde a corrente elétrica é definida como o fluxo de pequenas partículas, supõe-se que o calor também tenha relação com o movimento dessas partículas, gerando fluxos de calor. Com o surgimento de novas ideias e experimentos, pesquisadores puderam dar sentido às grandezas termodinâmicas que podem ser medidas, conhecidas com grandezas macroscópicas. Como exemplo, podemos citar o cientista escocês Joseph Black, que ao derreter gelo descobre, utilizando um termômetro, que a medida da temperatura de um corpo durante o processo de mudança de fase; no caso, a fusão da água, não tem relação com calor fornecido ao corpo. Ao fornecer calor ao gelo ele derrete aumentando a quantidade de água na mistura, porém, sem variar sua temperatura, que se mantém a zero grau Celsius. Em 1780, os cientistas franceses Antoine-Laurent de Lavoisier e Pierre- Simon, Marquês de Laplace, desenvolvem o calorímetro e com ele conseguem medir o calor fornecido a um corpo. Descobrem também que o cobre e a madeira com mesma massa e mesma temperatura ao serem misturadas ao gelo, derretem quantidades diferentes de gelo. Nesta época, o americano Benjamin Thompson, conde de Rumford, que trabalha no sul da Alemanha, crê que o calor não é consequência do movimento de partículas minúsculas, refutando a teoria que o calor seja algum tipo de fluido. Ele chegou a essa conclusão no período em que serviu ao exército, pois, durante a fabricação de canhões, observou que o latão utilizado sofria aquecimento ao ser perfurado por brocas. Ele constatou que tanto a broca quanto o latão sofriam aquecimento, mas não observou o fluxo de partículas entre um e outro. Em experimentos mais elaborados, Thompson chegou à conclusão de que se o calor fosse um fluido não haveria como explicar o fenômeno observado. No entanto, se o calor fosse tratado como energia, tudo faria sentido, pois em sua explicação, a energia que aquecia os materiais provinha da energia mecânica de rotação das brocas. Essa relação entre calor e energia, mais tarde, ficou conhecida como equivalente mecânico do calor. Em 24 de dezembro de 1818, nasceu na cidade de Salford James Prescott Joule, filho de um fabricante de cervejas. Ele recebeu ótima educação, frequentando os melhores colégios. Na escola, conheceu o cientista mais famoso de Manchester, chamado John Dalton, professor de aritmética, geometria e química, que despertou em Joule sua vocação de investigação, paixão que levou seu pai a presenteá-lo com um laboratório. 5 A presença das primeiras máquinas e locomotivas a vapor na cidade industrial de Manchester permite a Joule observar seu funcionamento, estudando a máquina a vapor utilizada na cervejaria de sua família. Porém, inicialmente ele é atraído por outro tema, a produção de trabalho mecânico por meio da eletricidade e magnetismo. O famoso cientista inglês Michael Faraday inventou, em 1821, o primeiro motor elétrico sendo precursor e abrindo caminhoa se seguir. Desde então, muitos cientistas procuraram desenvolver um verdadeiro motor elétrico, os motores dessa época tinham poucas possibilidades de competir economicamente com a máquina a vapor devido ao consumo elevado de zinco e líquido utilizados na bateria. No entanto, um fenômeno que chamou a atenção de Joule durante o funcionamento da bateria e do motor é que os condutores elétricos sofrem aquecimento, sendo a causa do baixo rendimento do motor elétrico. Durante meses, ele realizou uma série de experimentos, fazendo passar corrente elétrica por arames metálicos de diferentes materiais, de diversos comprimentos e espessuras, medindo simultaneamente a variação de temperatura devido ao calor. Em 1841, seus estudos resultam em uma lei física que leva seu nome, a lei de Joule: “o calor produzido aumenta com a resistência elétrica do condutor multiplicada pelo quadrado da intensidade de corrente e o tempo de circulação da corrente elétrica”, ou seja, a energia elétrica Eel transformada em energia térmica, ao fim de um intervalo de tempo ∆t, é dada por: 𝐸𝑒𝑙 = 𝑅. 𝑖 2. ∆𝑡 A partir disso, Joule segue trabalhando na medição da formação de calor diante de diversos processos. Um experimento famoso é descrito como um agitador, no formato de uma roda da água, em dimensões menores, é claro, que gira dentro de um recipiente, semelhante a um liquidificador, onde encontra-se submersa na água. Para girar essa roda utiliza-se um fio em que uma de suas extremidades se encontra presa e é enrolada no eixo principal por meio de uma polia; a outra extremidade do fio passa por outra polia e é presa em um peso que fica suspenso. Veja a Figura 1. 6 Figura 1 – Esquema experimental do equivalente mecânico de Joule Fonte: Cruz, 2021. No momento em que o peso é liberado, ele movimenta-se em queda livre fazendo girar a roda de pás, a qual, por sua vez, agita a água. Para calcular o trabalho fornecido pela queda do peso, de massa conhecida e com a medida da altura de queda, Joule pôde determinar o trabalho mecânico exercido pela gravidade e relacionou esse valor ao calor fornecido à água pelo trabalho mecânico realizado ao agitá-la, medindo apenas a variação de sua temperatura. Um trabalho difícil, pois a tarefa de medir uma variação de temperatura muito pequena requer muita precisão. Foram necessários termômetros de boa qualidade e boa exatidão, que lhe permitiram determinar a relação do trabalho mecânico realizado com a quantidade de calor fornecida a água. Esse feito é conhecido como equivalente mecânico de calor. Em homenagem a James P. Joule, em 1976 a unidade de calor no sistema internacional de unidades foi modificada para Joule, símbolo J. Apesar de divulgar seus conhecimentos na comunidade cientifica da época, poucos se interessaram, entre eles estava William Thomson, Lord Kelvin, que durante seus estudos já havia se dedicado ao tema calor, buscando 7 informações nos apontamentos de Nicolas Léonard Sadi Carnot, o qual, em 1824, elaborou o segundo princípio da termodinâmica: o calor sempre flui de um corpo de maior temperatura para outro corpo de menor temperatura; durante esse fluxo natural de calor pode-se aproveitar parte dessa energia e convertê-la em trabalho mecânico. Sua teoria estava baseada em um circuito térmico fechado e possuía contradições em relação à teoria de Joule. William Thomson, ao investigar, concluiu que ambas estavam corretas e que uma teoria complementava a outra. Com essas ideias, esses cientistas foram os precursores no estudo das relações de calor e temperatura, tema que passou a ser conhecido como termodinâmica. A termodinâmica é, portanto, baseada em duas leis fundamentais. A primeira, apresentada na teoria de Joule, em que o calor é uma forma de energia que pode ser gerada mediante trabalho mecânico. Se o sistema se encontra fechado, o calor pode passar de uma forma para outra, porém, na sua totalidade, não pode aumentar ou diminuir, é a lei de conservação da energia. A segunda lei tem base nos estudos de Sadi Carnot, em que o calor nunca pode ser transformado totalmente em trabalho mecânico. Uma parte sempre será desperdiçada. Para que o calor fornecido à máquina térmica seja convertido em trabalho de forma contínua, o sistema termodinâmico deve realizar ciclos entre duas fontes: uma fonte quente, que fornece calor, e a outra fria, que recebe o calor que será desperdiçado. Em cada ciclo, uma parte do calor fornecido à máquina é convertido em trabalho; o restante é desperdiçado na fonte fria. Outros estudiosos chegaram às mesmas conclusões. Rudolf Julius Emanuel Clausius, físico alemão, também realizou publicações relacionadas às leis da termodinâmica, introduzindo o conceito de entropia. Além dele, temos o cientista e médico alemão Julius Robert von Mayer, que utilizava experimentos meticulosos para comprovar suas teorias. Em 1842, um ano antes de Joule, ele enunciou a primeira lei da termodinâmica pela famosa frase, “a energia não pode ser criada e nem destruída, apenas transformada de uma forma em outra”. Apesar de bem consolidada até então, a teoria da termodinâmica ainda não conseguia responder à pergunta em relação a natureza do calor, pois o estudo inicial da termodinâmica só se dedicava a grandezas que se pode medir, grandezas macroscópicas, e as relações entre elas mesmas. Mais tarde, Julius von Mayer, seguiu sugestões do professor de física Johann Gottlieb Nörremberg sobre a ideia 8 de examinar experimentalmente se a energia cinética se transforma em energia térmica, observando se a água pode ser aquecida por vibração. Com esse objetivo e baseado nas ideias do átomo de Ernest Rutherford, ele propôs que o calor é consequência do movimento das partículas que compõem a matéria. A proposta de Julius, na época, ainda era um pouco vaga, mas com base nas leis da termodinâmica a ciência tem rápida evolução e algumas décadas depois conseguiu comprovar que realmente o calor está relacionado ao movimento das partículas internas na matéria, os átomos e as moléculas. TEMA 2 – OSCILAÇÕES O funcionamento de uma máquina térmica tem base na transformação da energia interna de um fluido de trabalho em energia mecânica. Nos motores a combustão, o fluido de trabalho é o combustível e a energia liberada na queima deste combustível gera o calor que é convertido em trabalho ao movimentar um pistão. As máquinas térmicas funcionam em ciclos alternando entre duas fontes de calor em temperaturas diferentes, a de maior temperatura é a fonte quente e a de menor temperatura é a fonte fria. De forma simplificada, e de acordo com a segunda lei da termodinâmica, a máquina térmica funciona com o calor fluindo da fonte quente para a fonte fria e desse fluxo de calor, parte dele é transformado em trabalho. Quanto maior a quantidade de calor que é transformada em trabalho e menor a quantidade de calor que é rejeitada para fonte fria, maior será a eficiência dessa máquina. Para transformar calor em trabalho, as máquinas térmicas fazem uso da expansão térmica de um gás ou vapor que movimenta um pistão realizando um trabalho mecânico. O cilindro com pistão móvel é um dos principais componentes de uma máquina térmica. O gás preso do cilindro sob pressão, quando aquecido, se expande, deslocando o pistão e realizando trabalho mecânico. Há diferentes tipos de máquinas térmicas, mas todas elas funcionam em ciclos, fato que pode ser observado pelo movimento de vai e vem repetitivo do pistão – com certeza um movimento cíclico ou oscilatório. Quando o movimento de determinado objeto se repete indefinidamente, independente da trajetória, este movimento é chamado de movimento periódico ou oscilação. Mas, não é apenas o movimento dos pistões que é caracterizado como oscilação, estamos cercados deste tipo de movimento. Pistões dos motores a combustão, cordas doviolão, vibração das moléculas do ar durante a 9 propagação do som, movimento dos elétrons em um fio condutor metálico sujeito a uma corrente alternada, vibrações de um cristal de quartzo em um relógio eletrônico são classificados como oscilações. Para entender o movimento oscilatório dos pistões de uma máquina térmica, iremos fazer analogia com o mais simples movimento de oscilação conhecido, o movimento harmônico simples (MHS). Vamos conhecer e entender as principais grandezas físicas envolvidas nesse tipo de movimento e aplicá-las em alguns modelos de osciladores, como o sistema massa mola e o pêndulo simples. 2.1 Amplitude, período, frequência e frequência angular De maneira simplificada, o movimento oscilatório é todo movimento em que um objeto material se move sujeito a forças restauradoras em dois sentidos, de forma alternada em torno de uma posição de equilíbrio estável. Com esaas características, encontramos o sistema massa-mola, uma espécie de oscilador que realiza movimento periódico. Como o próprio nome sugere, o oscilador massa-mola é composto por um bloco da massa m preso a uma mola. O bloco pode deslizar em uma única direção sobre um plano horizontal sem atrito; a outra extremidade da mola é fixa em um suporte vertical como mostra a Figura 2. Figura 2 – Oscilador massa-mola Fonte: Cruz, 2021. Apesar de o sistema massa-mola real funcionar muito bem, o sistema que consideraremos nessa demonstração será idealizado, pois além da ausência de atrito entre o bloco e o plano horizontal durante seu deslizamento, iremos considerar também que a massa da mola é desprezível e durante o movimento do bloco ela pode ser comprimida ou esticada. Com a deformação da mola, ela 10 irá aplicar no bloco uma força horizontal, que será a força resultante, visto que a força vertical, força peso, é anulada pela força normal do plano sobre o bloco. Quando o sistema se encontra na posição de equilíbrio, ou seja, quando a mola está relaxada, não está nem comprimida nem esticada, o bloco está localizado na posição 0 do sistema de referência identificado pelo eixo x, posicionado ao longo da trajetória do bloco; veja detalhes na Figura 3(a). O eixo coordenado x fornece o componente do vetor deslocamento a partir da posição de equilíbrio, x = 0, indicando a variação do comprimento da mola. Quando o bloco é deslocado da posição de equilíbrio por uma força externa F, a força da mola Fmola, chamada de força restauradora, tende a trazer o bloco novamente para posição de equilíbrio. Figura 3 – Sistema massa-mola em (a) equilíbrio e (b) deformada com aplicação de força externa Fonte: Cruz, 2021. Nessa situação, ao deslocar o bloco para a direita do ponto 0 até a posição x = +A – veja na Figura 3(b) –, e então o liberarmos, a única força, a força da 11 mola, considerada a força restauradora do sistema, atua para a esquerda, produzindo aceleração ao longo do eixo x também para esquerda, que iremos identificar por ax. Como o movimento é acelerado, a velocidade do bloco irá aumentar e isso ocorrerá até o bloco retornar ao ponto 0, momento em que ele atinge sua velocidade máxima. Quando o bloco chega no ponto de equilíbrio, a força restauradora é igual a zero Fmola = 0; neste momento ele não possui aceleração, porém, como o bloco possui velocidade e o movimento ocorre sem atrito, ele continua o movimento e ultrapassa essa posição deslocando-se para o lado esquerdo do ponto 0. A partir daí a mola começa a sofrer compressão, invertendo o sentido da força restauradora, que agora atua para direita e, portanto, contrária ao movimento, desacelerando o bloco até o repouso, que acontece no ponto x = - A; veja a Figura 4. Figura 4 – Sistema massa-mola, Fmola = força restauradora Fonte: Cruz, 2021. A mola agora está sofrendo compressão; a seguir, ela acelera o bloco da esquerda para a direita, sua velocidade aumenta enquanto a mola estica até atingir o ponto x = 0, ultrapassando novamente esse ponto de equilíbrio e projetando o bloco para o lado direito. Isso inverte o sentido da força restauradora, que agora desacelera o bloco até retornar ao ponto x = +A, em que ele atinge o repouso e a mola encontra-se novamente esticada, reiniciando o ciclo. Durante todo o movimento descrito pelo sistema massa-mola, há algumas grandezas físicas envolvidas, que diferenciam um movimento oscilatório de outro. São elas: amplitude, período, frequência e frequência angular. 12 Toda vez que o oscilador realiza um ciclo completo, por exemplo, quando ele inicia na posição x = +A e depois volta a essa posição, o intervalo de tempo gasto para realizar esse ciclo é chamado de período T. Sua unidade no sistema internacional de unidades é o segundo (s). O inverso do período é chamado de frequência f, definida como o número de ciclos realizados pelo oscilador no intervalo de tempo, normalmente um segundo. Com essa definição, podemos escrever: 𝑻 = 𝟏 𝒇 𝐨𝐮 𝒇 = 𝟏 𝑻 Em homenagem ao físico Heinrich Hertz, que muito contribuiu no estudo das ondas eletromagnéticas, a unidade de frequência é o Hertz (Hz), sendo: 𝟏 𝑯𝒆𝒓𝒕𝒛 = 𝟏 𝑯𝒛 = 𝟏 𝒄𝒊𝒄𝒍𝒐/𝒔 = 𝟏 𝒔−𝟏 A frequência angular 𝝎, corresponde à variação da posição angular, medida em radianos (rad), pelo tempo. Portanto, a unidade de frequência angular é radiano por segundo ( 𝑟𝑎𝑑 𝑠 ). Como a frequência é dada em ciclos por segundo ( 𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜𝑠 𝑠 ) e uma oscilação completa resulta em 𝟐𝝅 𝒓𝒂𝒅 por ciclo, podemos relacionar as grandezas de frequência e frequência angular e período pela equação: 𝝎 = 𝟐𝝅𝒇 = 𝟐𝝅 𝑻 A amplitude A do movimento oscilatório corresponde ao módulo máximo do vetor deslocamento do oscilador em relação à posição de equilíbrio 0. A unidade de amplitude é o metro (m). TEMA 3 – MOVIMENTO HARMÔNICO SIMPLES Movimentos oscilatórios em que a força restauradora é proporcional ao deslocamento do oscilador em relação à posição de equilíbrio x = 0 são chamados de Movimento Harmônico Simples (MHS). No sistema massa-mola descrito, a força restauradora do movimento será proporcional ao deslocamento do oscilador se a mola utilizada estiver de acordo com a lei de Hooke, ou seja, quando a força restauradora Fmola for dada por: 𝐅𝐦𝐨𝐥𝐚 = − 𝒌 . 𝒙 Nessa equação, k é uma constante de proporcionalidade, denominada constante elástica da mola, sua unidade é o Newton por metro, abreviadamente 13 𝑁 𝑚 . Já x é a variável da equação e representa o deslocamento do bloco em relação a posição de equilíbrio 0, sua unidade é o metro. Essa relação matemática determina o módulo e a direção da força restauradora da mola, independente de x ser positivo, negativo ou nulo. De acordo com a segunda lei de Newton, 𝐅𝐑 = 𝒎. 𝒂 A aceleração do bloco preso a mola será dada pela relação: 𝒂 = 𝐅𝐑 𝒎 Como a força resultante FR atuante no bloco é a força da mola Fmola = − k . x, a aceleração será dada por: 𝒂 = − 𝒌 𝒎 𝒙 Repare que a aceleração depende do valor de x e esse varia a todo momento, portanto a aceleração do movimento do bloco não será constante. Repare também que devido ao sinal negativo a aceleração sempre terá sentido contrário ao deslocamento x. Podemos relacionar a frequência angular de um bloco de massa m que executa o movimento harmônico simples sob a ação de uma força restauradora de uma mola de constante da mola k, pela seguinte relação: 𝝎 = √ 𝒌 𝒎 Essa relação mostra que a frequência de oscilação de um oscilador harmônico simples no sistema massa-mola depende do próprio oscilador com suas características massa do bloco e constante da mola. Se substituirmos essa relação nas equações de frequência e período, 𝒇 = 𝝎 𝟐𝝅 Obteremos a frequência do oscilador, dada por: 𝒇 = 𝟏 𝟐𝝅 √ 𝒌 𝒎 14 E o período: 𝑻 =𝟐𝝅√ 𝒎 𝒌 Repare que nessas equações não há relação alguma com a amplitude A do movimento, portanto, em um oscilador harmônico simples o período e a frequência de oscilação não dependem da amplitude. Para iniciar o movimento, você poderia produzir um pequeno deslocamento em relação à posição de equilíbrio, ou um grande deslocamento, mas independentemente do valor desse deslocamento, as grandezas frequência e período do oscilador seriam sempre as mesmas. 3.1 Deslocamento, velocidade e aceleração no MHS O gráfico a seguir mostra o deslocamento x do bloco oscilante em função do tempo no movimento harmônico simples. Figura 5 – Gráfico do deslocamento (x) em função do tempo (t) para o oscilador harmônico simples Fonte: Cruz, 2021. Queremos determinar a equação que descreve o comportamento da coordenada x em função do tempo para o MHS. De acordo com o gráfico da Figura 5, percebe-se que o deslocamento x é uma função do tempo senoidal periódica. Sem entrar em detalhes, iremos omitir alguns passos, a equação que descreve a variação da coordenada x em função do tempo é dada por: 𝒙 = 𝑨 𝐜𝐨𝐬(𝝎𝒕 + 𝛟) Sendo: • A = amplitude; 15 • 𝝎 = frequência angular; • t = tempo; • 𝛟 = ângulo de fase. A constante 𝛟, ângulo de fase, indica em que ponto do ciclo de movimento o bloco oscilante se encontrava no início do movimento quanto t = 0. Vamos supor que quando o movimento do oscilador iniciou t = 0 a coordenada x = xo, substituindo esses valores na equação, obtemos: 𝒙𝒐 = 𝑨 𝐜𝐨𝐬(𝝎. 𝟎 + 𝛟) Logo: 𝒙𝒐 = 𝑨 𝐜𝐨𝐬 𝛟 Se 𝛟 = 𝟎, então: 𝒙𝒐 = 𝑨 𝐜𝐨𝐬 𝟎 = 𝑨 Ou seja, o oscilador começa seu movimento no deslocamento máximo positivo. Se 𝛟 = 𝝅, então: 𝒙𝒐 = 𝑨 𝐜𝐨𝐬 𝝅 = −𝑨 O movimento começa no deslocamento máximo negativo. Se 𝛟 = 𝝅 𝟐 , então: 𝒙𝒐 = 𝑨 𝐜𝐨𝐬 𝝅 𝟐 = 𝟎 O movimento inicia-se na origem. Sabendo a equação do deslocamento em função do tempo para o oscilador, podemos, por meio da derivada primeira, determinar a equação que descreve o comportamento da velocidade do bloco oscilante em função do tempo. Lembrando que: 𝒗𝒙 = 𝒅𝒙 𝒅𝒕 Então: 𝒅𝒙 𝒅𝒕 = 𝒅 𝒅𝒕 [𝑨 𝐜𝐨𝐬(𝝎𝒕 + 𝛟)] Resolvendo a derivada obtemos a equação da velocidade do bloco oscilante no MHS, dada por: 𝒗𝒙 = − 𝝎𝑨 𝐬𝐞𝐧(𝝎𝒕 + 𝛟) 16 Da mesma maneira, pela derivada segunda da posição em função do tempo do oscilador podemos obter a equação que descreve o comportamento da aceleração em função do tempo para MHS. Sendo: 𝒂𝒙 = 𝒅𝟐𝒙 𝒅𝒕𝟐 = 𝒅𝒗𝒙 𝒅𝒕 𝒅𝒗𝒙 𝒅𝒕 = 𝒅 𝒅𝒕 [− 𝝎𝑨 𝐬𝐞𝐧(𝝎𝒕 + 𝛟)] Logo, resolvendo a derivada obtemos a equação da aceleração para o MHS: 𝒂𝒙 = − 𝝎 𝟐𝑨 𝐜𝐨𝐬(𝝎𝒕 + 𝛟) TEMA 4 – ENERGIA ENVOLVIDA NO MHS Até agora estudamos o MHS no ponto de vista cinemático, relacionando posição, velocidade, aceleração e tempo. No entanto, podemos obter outras informações se observarmos e levarmos em conta os tipos de energia envolvidas no movimento. No modelo de oscilador massa-mola horizontal descrito na aula foi possível verificar que a força resultante é determinada por uma única força envolvida no movimento, a força da mola. Destacamos aqui que essa força é conservativa, sendo então a energia mecânica total do sistema constante. Considerando que a massa da mola é desprezível podemos determinar a energia cinética do bloco oscilante pela relação: 𝑲 = 𝒎. 𝒗𝟐 𝟐 Já a energia potencial elástica da mola poderá ser determinada por: 𝑼 = 𝒌. 𝒙𝟐 𝟐 Como não existe nenhuma força dissipando energia no movimento a energia mecânica total (E) será conservada e será dada pelo somatório da energia cinética com a energia potencial elástica, matematicamente: 𝑬 = 𝒎. 𝒗𝟐 𝟐 + 𝒌. 𝒙𝟐 𝟐 A Figura 6 mostra alguns deslocamentos característicos do oscilador para as posições quando x = + A, x = + A/2, x = 0, x = - A/2 e x = - A. Ao lado de cada desenho encontram-se os gráficos de energia mecânica Emec, coluna verde, com 17 as parcelas de energia cinética K, coluna azul, e energia potencial U, coluna vermelha, para cada uma dessas posições. Figura 6 – Gráficos da energia mecânica Emec , energia cinética K e energia potencial U para o MHS Fonte: Cruz, 2021. 18 Repare que nos extremos do movimento, quando x = + A, ou x = - A, a energia cinética é nula. Isso se deve ao fato que nestes pontos a velocidade do bloco é igual a zero. Por outro lado, nesses extremos a mola ou está sofrendo compressão máxima (ponto x = - A) ou está sofrendo elongação máxima (ponto x = + A), devido à deformação máxima nestes pontos a energia potencial elástica será máxima e a aceleração do bloco também será máxima. Já quando o oscilador encontra-se passando pela origem, ponto de equilíbrio x = 0, seja para direita ou para esquerda, a velocidade do bloco oscilante é máxima e, portanto, neste ponto a energia cinética também é máxima, por outro lado, como mola está relaxada, não está sofrendo deformação alguma (ponto de equilíbrio), a energia potencial nesse ponto será igual a zero e consequentemente a aceleração também é zero. Em qualquer outra posição entre o ponto e equilíbrio x = 0 e as amplitudes máximas x = ±𝐴, o oscilador irá possuir energia cinética, pois tem velocidade, como também energia potencial elástica, devido à deformação da mola. Isso acontece, por exemplo, nos pontos médios x = ± 𝐴 2 , mostrados na Figura 6. TEMA 5 – PÊNDULO SIMPLES O sistema massa-mola não é o único modelo de oscilador que descreve o movimento harmônico simples. Com essa característica existe também o sistema harmônico chamado de pêndulo simples. Ele é constituído por um objeto, geralmente uma esfera, mas pode ser qualquer objeto semelhante, até mesmo uma pedra, a qual é presa em uma das extremidades de um fio que não estica e que possui massa desprezível; a outra extremidade do fio é fixa em um suporte superior. Quando a esfera presa ao fio está em repouso, o sistema se posiciona na vertical, é sua posição de equilíbrio, veja a figura 7(a). Ao deslocar a esfera da sua posição de equilíbrio, o movimento dela descreve um arco de circunferência, em que o raio é o comprimento do fio L e o deslocamento pode ser medido pelo ângulo 𝛉, veja figura 7(b). Se em seguida a esfera é liberada, ela oscila em torno da posição de equilíbrio como um balanço. 19 Figura 7 – Pêndulo simples Fonte: Cruz, 2021. Uma limitação para que o pêndulo simples comporte-se promovendo movimento harmônico simples é que o ângulo seja pequeno, como vimos no estudo do sistema massa-mola, o movimento harmônico simples exige que a força restauradora seja proporcional à distância x. No movimento do pêndulo, a distância x é o deslocamento linear medido pelo arco de circunferência que é dependente do ângulo. A força restauradora no pêndulo simples é a força gravitacional, mostrada na Figura 7 como o vetor peso, sendo P = m.g. Feitas as devidas considerações, a força restauradora em função do deslocamento linear x é dada por: 𝑭𝜽 = − 𝒎𝒈 𝑳 𝒙 Dessa forma, a força restauradora é proporcional à coordenada x, porém, só é verdadeira para pequenos deslocamentos. O valor 𝑚𝑔 𝐿 é a constante de proporcionalidade da força, representado por 𝑘 = 𝑚𝑔 𝐿 . Substituindo a constante de proporcionalidade na equação da frequência angular 𝜔 = √ 𝑘 𝑚 vista no estudo do sistema massa-mola, podemos escrever: 20 𝝎 = √ 𝒎𝒈 𝑳 𝒎 = √ 𝒈 𝑳 Logo, a frequência e o período do movimento do pêndulo simples podem ser escritos por: Frequência 𝒇 = 𝟏 𝟐𝝅 √ 𝒈 𝑳 Período 𝑻 = 𝟐𝝅√ 𝑳 𝒈 Vale lembrar que as relações anteriores são válidas somente para pequenas amplitudes, quando for pequeno. Neste caso, repare que grandezas, frequência angular, frequência e período do pêndulo simples não dependem damassa da esfera posta a oscilar, mas dependem do comprimento L do fio e também da aceleração da gravidade local. 5.1 Oscilações amortecidas Os sistemas oscilantes descritos até aqui, sistema massa-mola e pêndulo simples, são considerados sistemas ideais, pois não possuem forças resistivas (atrito) e, dessa forma, quando postos para oscilar mantêm o movimento infinitamente sem diminuir a amplitude. Mas em sistemas reais isso não acontece, pois neles a força de atrito está presente, dissipando a energia do movimento e reduzindo a amplitude gradativamente até atingir o repouso. A diminuição da amplitude é chamada de amortecimento, por isso o nome, oscilações amortecidas. O gráfico a seguir mostra a posição x em função do tempo para um sistema de oscilações amortecidas. 21 Figura 8 – Gráfico do deslocamento em função do tempo de um oscilador amortecido Fonte: Cruz, 2021. Veja que a cada período de oscilação a amplitude do movimento do oscilador diminui, quanto maior for a força de amortecimento, mais rapidamente a amplitude será reduzida. Quando a força de amortecimento for suficientemente grande, ao ser deslocado da posição de equilíbrio e posto para oscilar, o oscilador retorna para posição de equilíbrio sem oscilar, ocorrendo o amortecimento crítico. Quando, além de não oscilar, o oscilador voltar para a posição de equilíbrio lentamente temos o superamortecimento. 5.2 Oscilações forçadas e ressonância Naturalmente, se um oscilador amortecido é deixado para oscilar livremente, seu movimento tende a cessar atingindo o repouso. No entanto, se a cada movimento de ir e vir uma força externa atuar no oscilador o movimento tende a continuar mantendo a amplitude máxima constante e isso, é claro, enquanto a força externa atuar. Isso fica evidente quando observamos um adulto empurrar uma criança em um balanço, o amortecimento tende a fazer o balanço parar, porém, para alegria da criança, a cada movimento é aplicada uma força pelo adulto mantendo o movimento do balanço constante. Esse tipo de oscilação é denominado de oscilação forçada. 22 Um relógio de pêndulo mantém seu movimento por oscilação forçada através de uma força promovida por uma mola de corda, ou por pesos suspensos fornecendo energia para suprir a dissipação da energia mecânica devido ao atrito nas engrenagens e no pivô do pêndulo. Um ponto de vista interessante em relação à oscilação forçada ocorre quando a frequência com que a força propulsora atua no sistema é igual à frequência natural das oscilações do sistema oscilante. Quando isso ocorre, dizemos que o sistema está em ressonância. FINALIZANDO Além das evidências da aplicação da termodinâmica nas mais diversas áreas da engenharia e a descrição de uma breve história da termodinâmica, nesta aula relacionamos o movimento de vai e vem dos pistões de uma máquina térmica, com o movimento oscilatório conhecido como movimento harmônico simples. Estudamos grandezas físicas características desse tipo de movimento, como a amplitude, período, frequência e frequência angular. Como o movimento dos pistões sofre amortecimento devido ao atrito, para manter o movimento a cada ciclo, eles recebem um impulso provocado pela força produzida pela expansão do fluido de trabalho da máquina térmica, caracterizando um movimento de oscilação forçada em ressonância. 23 REFERÊNCIAS CANEVA, K. L. Robert Mayer and the Conservation of Energy. 1993. [S.l.]: Princeton University Press. CARABETT, V. K. Carnot, Nicolas Leonard Sadi (1796-1832). Disponível em: <http://www.fem.unicamp.br/~em313/paginas/person/carnot.htm>. Acesso em: 9 set. 2021. DAVID, H.; ROBERT, R.; JEARL, W. Fundamentos de Física – Gravitação, Ondas e Termodinâmica. 10. ed., v. 2.SEARS; ZEMANSKI. Física II – Termodinâmica e Ondas. 12. ed. Pearson. FAMOUS SCIENTISTS. Benjamin Thompson. Disponível em: <https://www.famousscientists.org/benjamin-thompson/>. Acesso em: 9 set. 2021. SÓ FÍSICA. James Prescott Joule. 2008. Disponível em: <http://www.sofisica.com.br/conteudos/Biografias/james_joule.php>. Acesso em: 9 set. 2021. THOUGHTCO. History of the Thermometer. Disponível em: <https://www.thoughtco.com/history-of-the-thermometer-p2-1992034>. Acesso em: 9 set. 2021.
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